sábado, 26 de fevereiro de 2022

QUAL É O LADO CERTO DESSA GUERRA?

Por
Guilherme de Carvalho – Gazeta do Povo

| Foto: EFE

“O leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da cobra, e a desmamada porá a mão na cova da víbora.” (Isaías 11.7-8)

A jurista de Harvard Mary Ann Glendon abre seu indispensável livro “A World Made New” (2002), sobre Eleanor Roosevelt e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, lembrando a história da invasão de Melos em 418 A.C. pelos Atenienses. Os habitantes de Melos tentaram inutilmente persuadir os agressores pela diplomacia, recebendo a exasperadora resposta de que “o direito vale apenas para aqueles iguais em poder”. Manda quem pode, e obedece quem tem juízo, em outras palavras.

Os atenienses assassinaram todos os homens adultos de Melos e escravizaram as mulheres e as crianças.

O abuso dos poderosos contra os fracos é uma regra na história, mas isso passou por uma grande mudança depois da Segunda Grande Guerra, com a criação da ONU e a DUDH de 1948. Cito as palavras da jurista:

“Séculos depois, em uma onda de atrocidades além da imaginação dos gregos, as mais poderosas nações da terra se ajoelharam diante das demandas de países menores pelo reconhecimento de um padrão comum a todos pelo qual os direitos e erros no comportamento de cada nação poderiam ser medidos. O terreno moral das relações internacionais foi para sempre alterado numa noite em Paris, em 10 de dezembro de 1948, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos sem nenhum mesmo um voto contrário.” (Mary Ann Glendon)


A Revolução Afetiva e a substituição do racional pelo emocional
Como já foi tantas vezes destacado, a declaração de 1948 requalificou severamente o sistema de estado-nação soberano sacramentado na Paz de Westfália em 1648, 300 anos antes, e introduziu uma verdadeira novidade política no mundo, com estados nacionais se comprometendo a seguir uma lógica de regras moralmente fundamentadas, tanto na sua relação mútua quanto no trato da pessoa humana. Era como se de repente a possibilidade de existir em um mundo moralmente ordenado se tornasse possível.

Mas aqui estamos nós: 73 anos depois, Putin, após garantir que não invadiria a Ucrânia, atacou o país com o claro propósito de derrubar o governo e substituí-lo por um fantoche pró-Rússia. Alegou até mesmo que o atual regime ucraniano teria se nazificado – ao que o presidente Zelenskiy, que é judeu, retrucou: “como eu poderia ser nazista?”

Autocracia, mentiras, invasão militar, reticência das potencias ocidentais; como vários analistas notaram, a receita lembra Hitler em 1939. Não é que Putin seja mau como Hitler foi, mas o ex-membro da KGB segue a cartilha dos antepassados. Não é também que a OTAN seja uma virgem pura e incompreendida; poderia haver certa plausibilidade no argumento de expansão injustificada rumo às fronteiras russas. Mas os fatos das últimas horas berram em uníssono: autocratas tem mesmo que ser vigiados, e de perto.

Autocracia, mentiras, invasão militar, reticência das potencias ocidentais; como vários analistas notaram, a receita lembra Hitler em 1939

E assim voltamos aos anos 1930; ou a um estado de coisas similar, ao menos em alguns aspectos. Não apenas o sistema unipolar pós 1989 se desfez, como observou Oliver Stuenkel, mas a ideia de uma ordem moral e legal internacional sofreu um abalo histórico. Não foi demais a declaração do secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg, de que “será uma nova realidade, uma nova Europa, após a invasão”. Alguma coisa se quebrou de fato na ordem internacional. Na mesma toada, Os líderes do G7 emitiram uma declaração eloquente a esse respeito ontem (24/02) mencionando o problema explicitamente:

“Esta crise é uma séria ameaça à ordem internacional baseada em regras, com ramificações muito além da Europa. Não há justificativa para alterar fronteiras internacionalmente reconhecidas pela força. Isso mudou fundamentalmente a situação da segurança Euro-Atlântica. O Presidente Putin reintroduziu a guerra no continente Europeu. Ele se colocou do lado errado da história.”

Mas existe mesmo um “lugar certo da história”? Historicistas, se forem honestos, cederão esse assento aos vitoriosos, inevitavelmente. Os realistas políticos com ânimos niilistas também. Mas para os Cristãos existe algo maior que a história, naturalmente. Não é a própria história quem define qual seria o seu “lado certo”, o que seria uma pura e simples tautologia. O lado certo da história se define extra-historicamente.

A metafísica de armário do G7 nos ajuda a pôr em contexto a leitura cristã dessa crise internacional. Cristãos acreditam mesmo – sem esconder suas bases metafísicas – em ordens baseada em regras justas e compassivas. A expectativa de uma ordem social na qual a justiça e a misericórdia prevaleçam sobre o poder está no coração da Esperança Bíblica.

Não se trata, aqui, de nenhuma flutuação ingênua sobre uma boa vontade natural dos poderosos para respeitar e acolher os mais fracos, mas da crença de que o reino Messiânico colocará todos os poderes nos seus lugares. O livro do profeta Isaías anuncia que o Messias “julgará os pobres com justiça e defenderá os humildes da terra sem parcialidade; ferirá a terra com palavras de juízo e matará o ímpio com o seu sopro”; e, então, “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leão e o animal de engorda viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá… Naquele dia a raiz de Jessé será como uma bandeira aos povos, para onde as nações recorrerão; o seu descanso será glorioso.” (Isaías 11.4,5,10).

O que o trecho bíblico quer comunicar é a ideia hebraica de Shalom, que significa paz, segurança e justiça. Em tal situação a criança não precisa temer as feras. Trata-se de um texto apocalíptico, que não deve ser interpretado literalmente; o ponto não é imaginar o fim da agressividade animal, mas a submissão definitiva da força bruta à justiça moral. O reino messiânico será um tempo em que crianças não precisa temer adultos, mulheres não precisam temer homens, minorias étnicas não precisam temer maiorias nacionais, e países pequenos não precisam temer países grandes; Melos não precisaria temer Atenas, nem a Kiev temer Moscou.

Alguém poderia pensar que essa fala não passa de utopia piedosa, de um inexistente mundo herbívoro e sem dentes; mas quero insistir no meu ponto, pois os judeus e cristãos nunca foram ingênuos a esse respeito. Como indica o trecho de Isaías, é claro que a justiça será estabelecida por meio de um rei poderoso, levantado por Deus, e que “matará o ímpio”. Não há nenhuma clivagem entre poder e justiça aqui. A questão é a ordem das coisas: não é que o poder instaure a justiça por seu arbítrio, mas é governado pela justiça e a representa.

O Cristianismo nasce da crucificação de um homem desamparado pelos amigos e entregue nas mãos do poder absoluto do Império Romano. Os cristãos sabem o que é enfrentar o poder puro e amoral, que o livro de Apocalipse chama de “A Besta”, e ser esmagado por ele. A razão por que os cristãos seguem, assim mesmo, perseverando na esperança é que os selos romanos não foram capazes de prender o Jesus morto e sepultado. Deus tornou o poder imperial uma força inferior ao bem e à justiça.

Os cristãos sabem o que é enfrentar o poder puro e amoral, que o livro de Apocalipse chama de “A Besta”, e ser esmagado por ele

O leitor pode não crer na ressurreição de Cristo, mas os cristãos primitivos, que dela testemunharam em primeira mão, de algum modo perderam o medo da Besta. Perderam a fé no poder puro e na ultimidade de suas determinações. Descreram do poder e passaram a crer no amor. Morreram os inimigos de Cristo; morreu Nero; e a ideia de que amar e fazer justiça vale mais a pena que ganhar o jogo nunca mais deixou a face da terra. Milhões a desprezam; mas milhões vivem por ela.

Foi assim que se constituiu a tarefa cristã: não temos o poder do Messias, de introduzir essa nova ordem; mas em Esperança, devemos nos alimentar dela e viver por ela. E isso sinaliza o futuro divino no presente humano. Cristo disse a seus discípulos que eles deveriam ser o “sal da terra”. Nem progressistas utópicos, pretendendo um mundo perfeito, nem conservadores cínicos, mais comprometidos com a prudência do que com a justiça.

E isso nos leva à outra razão por que essa esperança não é utópica: é que, de fato, já vimos emergir historicamente uma ordem internacional que, com todas as suas imperfeições, iniciou uma jornada em direção a um mundo moral, no qual os pequenos não precisem temer os grandes. E uma das fontes dessa ordem foi visão cristã da pessoa e do poder, como, por exemplo, mostrou recentemente o historiador Tom Holland em seu livro Dominion.

Isso foi observado pela Dra Mary Ann Glendon e por muitos outros antes dela, como o filósofo e teólogo cristão Charles Habib Malik, primeiro Presidente da Comissão de Direitos Humanos da recém-fundada ONU e um dos compositores da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o filósofo católico Jacques Maritain, que contribuiu decisivamente com sua visão elevada da pessoa humana, ou o advogado judeu René Cassin, seu organizador final.

É triste ver essa ordem entrar em colapso. Os Atenienses massacraram Melos. Hitler produziu o Holocausto. Mas diferentemente daqueles tempos, o Ocidente provou algo de uma ordem baseada na consciência, especialmente a partir de 1948. Nesse sentido, se a situação sair do controle na Europa, é possível que a nossa perda seja muito maior e mais dolorosa.

Mas não precisamos nos tornar cínicos. A história já nos ensinou que o poder com consciência moral não é só uma utopia. Pode ser algo difícil e instável, mas é algo possível; algo que se pode experimentar na história e por meio de nossas imperfeitas instituições, mesmo que a pedagogia para nos levar até lá seja o sofrimento da guerra.

Mas para os que compartilham da Esperança Cristã, que aprenderam a desacreditar do poder e a acreditar no bem, há razões ainda maiores para não desanimar e não entregar os pontos, na luta em defesa da pessoa humana e da justiça internacional. A ressurreição nos diz que os atos e sistemas perversos que os homens constroem finalmente se espatifarão no muro de pedra da lei moral universal, e que o poder político não terá a última palavra.

Existe um lado certo da história, e ele já está ocupado.


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ILUSÃO DE GRANDEZA DE PUTIN CONTRA A UCRÂNIA

 

  1. Internacional 

O presidente russo acusou falsamente o governo eleito democraticamente da Ucrânia de ‘genocídio’

Eugene Robinson, O Estado de S.Paulo

O brutal e trágico ataque de Vladimir Putin contra a Ucrânia expressa mais que suas ilusões de grandeza. É também uma lição para o povo russo a respeito do que acontece com aqueles que insistem em buscar a democracia em estilo ocidental.

Putin realmente pareceu um doido esta semana, passando sermão em seu time de segurança nacional como um capitão Queeg em busca de seus morangos e dirigindo-se ao mundo num digressivo solilóquio de uma hora repleto de invenções históricas e autocomiseração paranóica. Ele acusou falsamente e absurdamente o governo eleito democraticamente da Ucrânia de “genocídio”, usando essa falácia como justificativa para o maior ataque militar na Europa desde a Segunda Guerra.

Da perspectiva distorcida de Putin, o ataque não ocorreu sem provocação. Duas vezes desde a virada deste século, o povo ucraniano teve a ousadia de se levantar contra e depor lideranças que desejaram a Ucrânia pós-soviética como vassala permanente da Rússia de Putin. A última coisa que Putin quer é que os russos percebam que tal heresia — que poderia ameaçar seu próprio poder — possa passar impune.

Rússia - Vladimir Putin
Presidente Vladimir Putin concede entrevista coletiva no Kremlin, em 22 de fevereiro  Foto: Mikhail Klimentyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Então, Putin tem motivos tanto racionais quanto irracionais para o abominável crime que está cometendo. No curto prazo, é quase certo que ele “vença” sua guerra. No longo prazo, porém, sua aventura na Ucrânia poderá se provar nem “inteligente” nem “astuta”, apesar do que possa pensar o ex-presidente Donald Trump.

Acredito que Putin quer que as futuras gerações o vejam como uma das grandes figuras da história russa, juntamente com Ivan, o Terrível; Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Lênin; e Stálin. Até 2005, ele afirmava que “o fim da União Soviética foi a maior catástrofe    geopolítica do século”. Ele descreveu como tragédia o fato de “dezenas de milhões de nossos cidadãos e compatriotas terem se visto excluídos além dos limites do território russo”.

Segundo tudo indica, o líder russo quer ser lembrado como Putin, o Grande, o que reverteu a “catástrofe” e restaurou o Império Russo — primeiramente czarista, depois soviético e depois desmembrado — à glória que lhe é de direito. E na visão de Putin, a joia mais preciosa, arrancada injustamente da coroa imperial, é a Ucrânia.

Sanções econômicas, como as que estão sendo aplicadas pelos Estados Unidos e nossos aliados, são eficazes para fazer líderes recalcularem custos e benefícios de suas ações. Mas podem surtir pouco ou nenhum efeito sobre fantasias messiânicas ou cruzadas megalomaníacas.

O fato de haver método na loucura de Putin pode tornar as sanções ainda menos capazes de mudar seu comportamento, especialmente porque ele buscou fortalecer a economia russa contra tais punições. Uma ameaça à posição do líder russo em relação à história é uma coisa; uma ameaça à sua contínua permanência no poder é coisa bem diferente.

Em 2004, milhões de ucranianos tomaram as russas no levante que ficou conhecido como Revolução Laranja e evitaram a presidência de Viktor Yanukovich, o candidato apoiado pela Rússia eleito numa votação repleta de fraudes. Yanukovich tornou-se presidente posteriormente em 2010, mas acabou deposto do cargo por protestos massivos, em 2014, em razão de sua recusa em assinar um acordo que forjava laços políticos e econômicos mais próximos com a União Europeia.

Essas demonstrações do poder popular impressionaram Putin — e não de maneira positiva. Ele assumiu a posição de que a Revolução da Dignidade em 2014 na Ucrânia não passou de um golpe ilegal. Como sinal concreto de seu descontentamento, ele tomou a Crimeia à força e ajudou separatistas russófonos a estabelecer dois enclaves —  Donetsk e Luhansk — no leste da Ucrânia, que na segunda-feira ele reconheceu como repúblicas independentes.

A bizarra e falsa alegação de Putin de que o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, está repleto de “nazistas” parece uma justificativa inventada para enviar tropas a Kiev, onde ele sem dúvida tenciona dissolver o governo eleito democraticamente e instaurar autoridades leais à Mãe Rússia. Imagens transmitidas pela CNN na manhã da quinta-feira mostraram um aeroporto militar a 32 quilômetros de Kiev já tomado pelos russos.

Mas meios de comunicação internacionais também transmitiram imagens de manifestantes em Moscou e outras cidades russas sendo presos e repelidos. Ver soldados russos travando guerra contra ucranianos, com quem os russos possuem laços históricos e com frequência familiares, é um tipo de choque que tende a levantar dúvidas entre os russos a respeito do juízo de Putin. E, talvez, sobre seu futuro.

Em vez de confundir e enfraquecer a Otan, Putin parece ter unido seus membros. Em vez de apagar a noção do estatuto nacional da Ucrânia independente, ele parece tê-lo reforçado.

E ainda que cerca de 200 mil soldados equipados com armamentos modernos possam ser suficientes para derrotar o Exército ucraniano, não são suficientes para conquistar permanentemente um país com mais de 43 milhões de pessoas que não querem ser objeto de uma ocupação. Putin não fez uma jogada corajosa de xadrez, ele virou o tabuleiro. E não pode estar certo de onde as peças irão cair. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

*Eugene Robinson escreve uma coluna bissemanal sobre política e cultura e participa de um chat semanal com leitores. Em três décadas de carreira no Washington Post, Robinson cobriu o governo municipal como repórter, foi editor de cidades, correspondente estrangeiro em Buenos Aires e Londres, editor de internacional e secretário-assistente de redação encarregado da seção Style do jornal.

VALE DO SILÍCIO EUA NÃO TEM PRODUZIDO INOVAÇÃO

 

A indústria de tecnologia ganha cada vez mais dinheiro com ideias que surgiram há mais de uma década, e novidades, como computação quântica e carros autônomos, podem demorar a se tornar realidade

 Por Cade Metz – The New York Times

Computador quântico do Google apresentado em 2019 

Computador quântico do Google apresentado em 2019 

No outono de 2019, o Google disse ao mundo que tinha alcançado “supremacia quântica”. Foi um marco científico importante que alguns compararam com o primeiro voo controlado na cidade de Kitty Hawk. Aproveitando os misteriosos poderes da mecânica quântica, o Google construiu um computador que precisou de apenas três minutos e 20 segundos para realizar um cálculo que computadores normais não conseguiriam concluir em 10 mil anos.

No entanto, mais de dois anos após o anúncio do Google, o mundo ainda está à espera de um computador quântico que faça algo útil de verdade. E é provável que seja preciso esperar muito mais tempo. O mundo também está aguardando os carros autônomoscarros voadores, a inteligência artificial avançada e os implantes cerebrais que permitirão controlar dispositivos usando nada além de seus pensamentos.

As empresas do Vale do Silício gostam de fazer alarde e há muito são acusadas de causar agitação antes de algo se tornar realidade. Mas, nos últimos anos, os críticos da indústria de tecnologia notaram que suas maiores promessas – as ideias que realmente poderiam mudar o mundo – parecem cada vez mais distantes de se tornarem realidade. A grande fortuna gerada pelo setor nos últimos anos costuma ser fruto de ideias que surgiram há alguns anos, como o iPhone e os aplicativos para celulares.

Os grandes pensadores da tecnologia perderam seus superpoderes de encantar as pessoas?

Eles são rápidos em responder que “de jeito nenhum”. Mas os projetos com os quais estão trabalhando são muito mais difíceis do que desenvolver um novo aplicativo ou prejudicar outras empresas com irregularidades. E se você olhar em volta, as ferramentas que lhe ajudaram a lidar com quase dois anos de pandemia – os computadores pessoais, os serviços de videoconferência, o Wi-Fi e até mesmo a tecnologia que auxiliou os pesquisadores no desenvolvimento de vacinas – provam que a indústria não perdeu mesmo seu encanto.

“Imagine o impacto econômico causado pela pandemia se não houvesse a infraestrutura – o hardware e o software – que permitiu tantos funcionários de escritório trabalharem de casa e que tantas outras partes da economia fossem conduzidas por meios digitais”, disse Margaret O’Mara, professora da Universidade de Washington especializada na história do Vale do Silício.

Quanto à próxima grande novidade, os criadores dizem para darmos tempo ao tempo. Pense na computação quântica, por exemplo. Jake Taylor, que supervisionou as iniciativas de computação quântica para a Casa Branca e é o atual diretor de ciências na startup de tecnologia quântica Riverdale, disse que construir um computador quântico talvez seja a tarefa mais difícil já realizada. Esta é uma máquina que desafia a física da vida cotidiana.

Um computador quântico depende das maneiras estranhas como alguns objetos se comportam no nível subatômico ou quando expostos ao frio extremo, como metal resfriado a quase 460 graus abaixo de zero. Se os cientistas apenas tentarem ler as informações desses sistemas quânticos, eles tendem a parar de funcionar.

Segundo Taylor, enquanto se constrói um computador quântico, “você está constantemente trabalhando contra a tendência fundamental da natureza”.

Os avanços tecnológicos mais importantes das últimas décadas – o microchip, a internet, o computador que recebe instruções do mouse, o smartphone – não desafiavam a física. E eles tiveram permissão para serem desenvolvidos durante anos, até mesmo décadas, dentro das agências governamentais e dos laboratórios de pesquisa das empresas antes de finalmente serem usados em massa.

“A era da computação móvel e em nuvem criou muitas novas oportunidades de negócios”, disse Margaret. “Mas atualmente há problemas mais complicados.”

Mesmo assim, as vozes mais influentes do Vale do Silício costumam discutir a respeito desses problemas mais complicados como se eles fossem apenas mais um aplicativo de smartphone. Isso pode aumentar as expectativas.

Pessoas que não são especialistas a par dos desafios “podem ter sido enganadas pela propaganda exagerada”, disse Raquel Urtasun, professora da Universidade de Toronto que ajudou a supervisionar o desenvolvimento de carros autônomos no Uber e agora é CEO da empresa de veículos autônomos Waabi.

Tecnologias como carros autônomos e inteligência artificial não enfrentam os mesmos obstáculos físicos que a computação quântica. Mas, assim como os pesquisadores ainda não sabem como construir um computador quântico viável, eles ainda não sabem como criar um carro que possa dirigir sozinho com segurança em qualquer situação ou uma máquina que possa fazer qualquer coisa que o cérebro humano possa fazer.

Mesmo uma tecnologia como a realidade aumentada – óculos que podem sobrepor imagens digitais ao que você visualiza no mundo real – precisará de anos de pesquisa e engenharia adicionais antes de ser aperfeiçoada.

Andrew Bosworth, vice-presidente da Meta, holding do Facebook, disse que desenvolver tais óculos com menor peso era uma tarefa semelhante à criação dos primeiros computadores pessoais controlados por mouse na década de 1970 (o próprio mouse foi inventado em 1964).

Empresas como a Meta devem criar uma maneira completamente nova de usar computadores, antes de colocar todas as suas peças em um pacote minúsculo.

Nas últimas duas décadas, empresas como o Facebook desenvolveram e implantaram novas tecnologias em uma velocidade que não parecia ser possível antes. Mas, como disse Bosworth, essas eram predominantemente tecnologias de software construídas apenas com “bits” – pedaços de informação digital.

Construir novos tipos de hardware – trabalhando com átomos físicos – é uma tarefa muito mais difícil. “Como indústria, nós quase esquecemos como é isso”, disse Bosworth, chamando a criação de óculos de realidade aumentada de um projeto “único na vida”.

Especialistas em tecnologia como Bosworth acreditam que superarão esses obstáculos em algum momento e estão mais abertos em relação à dificuldade disso tudo. Mas nem sempre é assim. E quando uma indústria passou a gradualmente fazer parte de tudo na nossa vida cotidiana, pode ser difícil separar um passo em direção ao desenvolvimento de uma tecnologia da realidade – sobretudo quando grandes empresas como o Google e personalidades conhecidas como Elon Musk ficam chamando atenção para isso.

Muitos no Vale do Silício acreditam que fazer esse alarde é uma parte importante de levar as tecnologias para o público em geral. A divulgação exagerada ajuda a atrair o dinheiro, o talento e a crença necessários para desenvolver a tecnologia.

“Se o resultado é o almejado – além de tecnicamente possível –, então tudo bem se estivermos atrasados em três ou cinco anos ou o tanto que for”, disse Aaron Levie, CEO da empresa Box, empresa do Vale do Silício. “Você quer que os empreendedores sejam otimistas – que tenham um pouco daquela distorção da realidade de Steve Jobs”, que ajudou a convencer as pessoas a comprarem suas grandes ideias.

A propaganda exagerada também é uma forma de os empreendedores gerarem interesse no público. Mesmo que novas tecnologias possam ser desenvolvidas, não há garantias de que as pessoas e as empresas irão querê-las, adotá-las e pagar por elas. Eles precisam convencê-las. E talvez de mais paciência do que a maioria das pessoas dentro e fora da indústria de tecnologia admitirá.

“Quando ouvimos falar de uma nova tecnologia, leva menos de 10 minutos para nossos cérebros imaginarem o que ela pode fazer. Nós instantaneamente compactamos toda a infraestrutura e inovação reunidas e necessárias para chegar a aquele resultado”, disse Levie. “É com essa dissonância cognitiva que estamos lidando.”

METAVERSO UTOPIA FUTURISTA QUE BUSCA UNIR OS MUNDOS REAL E VIRTUAL

 

Guias InfoMoney

Após o Facebook mudar o nome para “Meta” em 2021, muitas empresas passaram a investir e querer saber mais sobre o assunto

O metaverso, utopia futurista que busca unir os mundos real e virtual, saiu das páginas dos livros de ficção científica e foi parar nas mesas dos investidores e das grandes empresas. O potencial que cerca essa ideia é tão grande que fez até o Facebook trocar seu nome para “Meta”.

Neste guia, o InfoMoney explica o que é o metaverso, quando ele surgiu e por que os grandes conglomerados querem surfar nessa onda. Revela também como investir nesse novo mercado e qual a relação desse universo com as criptomoedas.

• O que é metaverso

• Quando surgiu o metaverso

• Empresas que apostam no metaverso

• Tecnologias envolvidas

• Relação com o mercado de criptos

• Como investir no metaverso

• Criptomoedas do metaverso

• Críticas ao metaverso

O que é metaverso

Metaverso é uma espécie de nova camada da realidade que integra os mundos real e virtual. Na prática, é um ambiente virtual imersivo construído por meio de diversas tecnologias, como Realidade Virtual, Realidade Aumentada e hologramas.

Para visualizar o conceito, pense no filme Matrix, dirigido por Lilly e Lana Wachowski. No longa, as pessoas vivem em uma realidade virtual arquitetada por uma inteligência artificial assassina que usa seus corpos para produzir energia. O metaverso é mais ou menos por aí, mas sem as máquinas vilãs – pelo menos por ora.

Nesse universo, que ainda não é real em sua totalidade, as pessoas poderiam interagir umas com as outras, trabalhar, estudar e ter uma vida social por meio de seus avatares (bonecos virtuais customizados) 3D. Ou seja, o objetivo é que pessoas não sejam apenas observadores do virtual, mas façam parte dele.

Entusiastas veem no metaverso a evolução da internet. Outros enxergam nele um risco para a privacidade, e uma “droga” viciante. A implantação dessa utopia, no entanto, ainda depende do amadurecimento de algumas tecnologias, como o próprio 5G.

Como (e quando) surgiu o metaverso

Apesar de ter virado pop recentemente, o termo metaverso é antigo. Ele foi cunhado pelo escritor Neal Stephenson em seu livro de ficção científica “Snow Crash”, publicado em 1992. A obra conta a história de “Hiro Protagonist”, personagem que na “vida real” é um entregador de pizza, mas no mundo virtual – chamado na história de metaverso – é um samurai.

Em 2011, o escritor Ernest Cline também tratou do tema em seu romance futurista “Ready Player One” (Jogador Número 1 no Brasil)”, que em 2018 ganhou as telas do cinema pelas mãos de Steven Spielberg. Na obra, os personagens vivem em um mundo distópico e, para fugir da realidade, costumam passar horas e horas no OASIS, um simulador virtual que dá a eles a possibilidade de serem o que bem entenderem.

Primeiras tentativas de metaverso

Alguns projetos tentaram criar algo semelhante a um metaverso. Um dos principais exemplos é o jogo Second Life, lançado em 2003 pela empresa Liden Lab, baseada nos Estados Unidos. O game é um ambiente virtual 3D que simula a vida real. Ao entrar, os usuários podem criar avatares e socializar uns com os outros.

O jogo atraiu milhares de gamers, mas não conseguiu unir completamente os mundos real e virtual. Um dos motivos é que o projeto não foi capaz de criar uma economia digital, na qual as pessoas pudessem ganhar dinheiro ou mesmo ter uma propriedade virtual, algo que hoje em dia é possível.

Games como Roblox, Fortnite e Minecraft também bebem do conceito do metaverso, e apresentam alguns elementos desse novo universo. Nesses jogos, as pessoas têm seus próprios personagens, participam de missões, se relacionam uns com os outros e vão a eventos. A cantora norte-americana Ariana Grande fez um show dentro do Fortnite, por exemplo.

Vale lembrar, no entanto, que a proposta do metaverso vai além dos jogos online. A ideia é que todos os aspectos da “vida real” da pessoa – lazer, trabalho, relacionamentos, estudo e outros – sejam permeados de forma imersiva pelo digital, e vice-versa.

Mudança do nome do Facebook Inc para Meta

No meio do burburinho ao redor do termo, o Facebook Inc. anunciou em outubro de 2021 que a organização passaria a se chamar Meta (as redes sociais continuam com o mesmo nome). No anúncio, o fundador e presidente da companhia, Mark Zuckerberg, disse que a mudança se deve ao novo posicionamento do grupo:

“Hoje somos vistos como uma empresa de mídia social, mas em nosso DNA somos uma empresa que constrói tecnologia para conectar pessoas, e o metaverso é a próxima fronteira, assim como a rede social foi quando começamos”.

Em carta divulgada ao público, Zuckerberg detalhou o mundo virtual que a empresa, que está na mira da autoridade antitruste nos Estados Unidos, espera construir:

“No metaverso, você será capaz de fazer quase tudo que você possa imaginar – reunir-se com amigos e família, trabalhar, aprender, brincar, fazer compras, criar – bem como ter experiências completamente novas que realmente não se encaixam em como pensamos sobre computadores ou telefones hoje”.

O “namoro” do Facebook pelo metaverso é antigo, e o interesse comercial não é novidade. Em 2014, o grupo comprou a Oculus, empresa que fabrica headsets de realidade virtual. São equipamentos necessários para acessar essa nova realidade ainda em construção.

Em agosto de 2021, a empresa também lançou o Horizon Workrooms, uma ferramenta que dá aos usuários a possibilidade de criarem avatares e participarem de reuniões virtuais. Vale lembrar, também, que o Facebook trabalha no desenvolvimento da Diem (antiga Libra), sua própria criptomoeda – outra tecnologia necessária para o metaverso.

Empresas que apostam no metaverso

Não é só o Facebook que entrou de cabeça nessa nova onda. A Nvidia, por exemplo, anunciou em agosto o NVIDIA Omniverse, uma plataforma colaborativa de simulação. Nela, designers, artistas e outros profissionais podem trabalhar juntos na construção de metaversos.

Já a Microsoft colocou no mercado, no início de 2021, o Mesh, uma plataforma que permite a realização de reuniões com hologramas. Também criou avatares 3D para o Teams, sua ferramenta de comunicação.

Em novembro, em um aceno à utopia, a Nike criou a Nikeland, uma plataforma dentro do game Roblox. Já em dezembro, a multinacional americana adquiriu uma startup especializada em NFTs de moda.

E não são apenas empresas estrangeiras que apostam nesse mercado. O Banco do Brasil também entrou na “brincadeira”, e lançou no final de 2021 uma experiência virtual dentro do servidor do game GTA. No jogo, o gamer pode abrir na instituição bancária uma conta para seu personagem – é possível até trabalhar como abastecedor de caixa.

Metaverso é oportunidade de vários trilhões, diz CEO da Epic Games

Futuro da internet

Muitos entusiastas enxergam no metaverso um componente-chave da web 3.0. Esse termo é usado para se referir a uma internet mais imersiva, descentralizada e aberta.

No momento, pode-se dizer que o mundo está na web 2.0, cuja principal característica é ser um ambiente de iteração mediado por redes sociais.

Já a web 1.0, que ocorreu entre 1999 e 2004, é aquela “primitiva”, marcada por páginas estáticas. Foi por meio dela que as pessoas passaram a ter contato com o ambiente online.

O mercado bilionário do metaverso

A Bloomberg Intelligence estima que esse mercado deve chegar a US$ 800 bilhões (R$ 4,5 trilhões) em 2024, puxado principalmente pelos games de metaverso e por eventos realizados nessa nova camada de realidade.

A gestora Grayscale é um pouco mais otimista na previsão, e diz que o metaverso é um mercado com potencial para gerar US$ 1 trilhão (R$ 5,5 trilhões) em receita anual.

“O metaverso é um universo digital que vai além da internet que conhecemos hoje. Essa visão para o estado futuro da web tem o potencial de transformar nossas interações sociais, negociações comerciais e a economia da Internet em geral”, citou a empresa em relatório divulgado em novembro de 2021. 

Quais tecnologias estão envolvidas

Para dar vida ao metaverso, uma série de tecnologias precisam ser empregadas.

Realidade Virtual

A “VR”, sigla em inglês para Realidade Virtual, se refere a um ambiente tridimensional construído por meio de softwares. Para ter acesso a essa simulação da realidade, os usuários precisam de computadores, óculos de realidade virtual, fones de ouvido e outros equipamentos. Há consoles e games que usam essa tecnologia.

Realidade Aumentada

Diferente da VR, que leva o usuário para dentro do mundo virtual, a AR (sigla em inglês para Realidade Aumentada) faz o oposto, e insere dados virtuais no mundo real. Há vários games para smartphones que usam a tecnologia, como o Pokémon Go. Há também óculos de AR que mostram em suas lentes informações sobre o ambiente.

Blockchain e criptos

A blockchain (banco de dados público e descentralizado), as criptomoedas e os NFTs (sigla em inglês para tokens não fungíveis) também dão suporte para o metaverso. Por meio delas, é possível movimentar valores e realizar o registro de propriedades virtuais.

Qual a relação do metaverso com o mercado de criptos

A ideia é que o metaverso tenha uma economia virtual própria, e que as pessoas possam trabalhar, adquirir casas, comprar roupas, ir a festas, fazer reuniões e ter de fato uma vida online. A blockchain e as tecnologias que “rodam” nela – criptos, NFTs e outros – são essenciais para essa nova realidade.

A blockchain, por exemplo, pode ser a base da economia do metaverso. Essa tecnologia, que nasceu com o Bitcoin (BTC) no final de 2008, permite a criação de registros imutáveis sem a necessidade de uma terceira parte, e é uma ferramenta e tanto para governança. 

Já as criptomoedas seriam os meios de troca dessas plataformas. Há inclusive alguns projetos em andamento que utilizam cripto, como os games Decentraland (MANA), Sandbox (SAND) e Axie Infinity (AXS).

Os NFTs, por fim, servem para registrar e negociar propriedades e itens virtuais. Os tokens não fungíveis são certificados digitais que qualquer um pode ver e confirmar a autenticidade, mas ninguém pode alterar.

A economia cripto do metaverso

Já existe uma economia do metaverso construída em blockchain, com produtos e serviços. Veja alguns dos exemplos citados em relatório da Grayscale.

Música – Cantores e DJ’s já estão realizando eventos em ambientes digitais, e recebendo por isso. O show feito pela cantora Ariana Grande é um exemplo.

Publicidade – Proprietários de imóveis construíram outdoors, e passaram a vender esses espaços para jogadores que querem fazer algum tipo de anúncio.

Cassino – Existem cassinos em plataformas de metaverso, onde os gamers podem apostar em jogos de azar e levar – ou perder – algumas criptomoedas.

Arte – Artistas virtuais também comercializam suas obras de arte registradas em NFTs nesses ambientes digitais. Casas físicas de renome, como Sotheby’s, se renderam a esse tipo de negócio.

Como investir no Metaverso

Há diversas formas de investir no metaverso.

Criptomoedas – Uma das maneiras de participar dessa utopia futurista é comprando as criptomoedas associadas a ela. Decentreland (MANA), Sandbox (SAND) e Enjin Coin (ENJ) são algumas delas. Essas moedas digitais podem ser adquiridas por meio de exchanges. Geralmente há taxas de saques e transferências.

Fundos de investimentos – É possível também aplicar em fundos voltados ao metaverso. Em dezembro de 2021, a gestora brasileira Vitreo lançou o produto “Vitreo Metaverso”, que investe apenas em ações ligadas ao setor. O aporte mínimo é R$ 1.000. A empresa cobra 0,9% ao ano de taxa de administração e 10% de taxa de performance sobre o que exceder o índice S&P500 Total Return.

Terrenos virtuais – Outra forma de investir é adquirir terras virtuais no metaverso em plataformas e vendê-las no futuro. Em novembro, um terreno virtual de 566 metros quadrados de um game do metaverso foi vendido por US$ 2,4 milhões em criptomoedas.

Quais são as criptomoedas impulsionadas pelo metaverso

Há diversas criptomoedas associadas à utopia. Algumas delas são as seguintes:

Descentraland (MANA)

É um ambiente virtual construído na blockchain do Ethereum (ETH). A MANA é a criptomoeda nativa da plataforma. O projeto tem atraído marcas e empresários interessados em criar negócios digitais. É um dos principais representantes do metaverso.

Enjin Coin (ENJ)

Essa plataforma disponibiliza ferramentas para criação de produtos em blockchain e NFTs sem taxas. O ENJ é seu token nativo. Em 2021, o projeto criou um fundo de US$ 100 milhões para apoiar iniciativas do metaverso, como jogos que mesclam as realidades física e virtual.

Sandbox (SAND)

Nasceu como um rival do Minecraft, mas depois passou por uma reformulação e mergulhou no universo da blockchain e das criptomoedas. É um ambiente virtual onde as pessoas podem jogar, construir casas e ter uma vida virtual.

Gala (GALA)

É um ecossistema de jogos play-to-earn (jogue para ganhar) para blockchains. O GALA é seu token nativo. O primeiro título lançado pela plataforma foi o Town Star, um simulador de ambiente rural. Outros games são Echoes of Empire, Mirandus, Spider Tanks e Fortified.

Axie Infinity (AXS)

É um jogo em blockchain que ajudou a popularizar o conceito de play-to-earn. Funciona de forma semelhante ao Pokémon. Os players criam personagens e batalham com monstros ou outros jogadores. O AXS é o token de governança do jogo, e dá para os detentores poderes de decisão dentro do ecossistema.

MyNeighborAlice (ALICE)

É um game em blockchain em que os jogadores podem construir ilhas virtuais, bem como coletar e construir itens. O ALICE é seu token nativo. Com o ativo, os usuários podem comprar objetos virtuais do ecossistema, fazer staking (emprestar as criptomoedas para a rede em troca de lucro) ou participar de decisões do jogo.

Críticas ao metaverso

Um futuro meio real e meio virtual não agrada a todo mundo. Centralização, privacidade e vício são alguns dos receios levantados por especialistas.

Centralização – O conceito do metaverso ainda está em construção, mas a ideia por trás da utopia, em especial aquela defendida por entusiastas do mercado de criptomoeda, é que ele seja descentralizado e aberto a todos. No entanto, a entrada de empresas como Facebook e Microsoft na jogada sugerem que as big techs vão fazer de tudo para controlar de alguma forma parte desse mercado.

Privacidade – Por causa da possível centralização do metaverso, a questão da privacidade também veio à tona. Se empresas como Facebook, Google e outras já detêm um mundaréu de dados dos usuários de seus produtos e serviços, imagine quando as pessoas passarem a viver 24 horas por dia conectadas.

Vício – Outro ponto que tem gerado críticas é o fato de o metaverso ser um tipo de tecnologia que vicia e faz as pessoas se desconectarem da realidade. No filme Jogador Nº1, o personagem James Donovan Halliday (Mark Rylance), criador do metaverso OASIS, disse no final do longa que se deu conta que criou uma realidade virtual porque tinha medo de se relacionar com as pessoas:

“Eu criei o OASIS porque nunca me senti à vontade no mundo real. Eu não sabia como me conectar às pessoas lá. Eu tive medo durante toda minha vida. Até o dia que soube que ela (vida) estava no fim. Foi quando eu dei conta de que por mais aterrorizante e dolorosa que a vida possa ser, é também o único lugar para se fazer uma refeição decente”.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O ELEVADO GASTO COM O CONGRESSO E O STF PARA A PRESERVAÇÃO DA DEMOCRACIA

 

O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Por
Lúcio Vaz

Foto externa do Congresso Nacional. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Prédio do Congresso Nacional (ao fundo) visto a partir da sede do Supremo Tribunal Federal. PEC da Bengala 2.0 eleva a idade máxima para ingresso no STJ e STF| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Cada um dos 513 deputados federais custa R$ 11,3 milhões por ano, considerando o orçamento executado pela Câmara em 2021. Pode parecer muito, mas a despesa é ainda mais pesada no Senado Federal – 54 milhões por senador. No Supremo Tribunal Federal (STF), cada ministro custa R$ 60 milhões por ano ao contribuinte. Os valores incluem salários e aposentadorias de servidores, benefícios sociais, medidas de segurança, viagens, atividades legislativas e jurisdicionais e as mordomias de sempre.

O que mais pesa no orçamento das três casas é a despesa com pessoal. No STF, com orçamento de R$ 668 milhões, esse gasto representa 74% do total. Com orçamento de R$ 4,4 bilhões, o Senado gasta R$ 84% com servidores. Na Câmara, que consome R$ 5,8 bilhões por ano, a despesa com pessoal bate em 84,5%. Mas tem uma notícia boa: o orçamento das três casas caiu nos últimos 10 anos, em valores atualizados pela inflação. Em 2013, a Câmara gastou R$ 7,4 bilhões; o Senado, R$ 5,6 bilhões; e o Supremo, R$ 787 milhões.

Mas o STF é uma parte pequena da Justiça, apesar de ser a mais visível e polêmica. O ramo da Justiça mais dispendioso é Justiça dos Estados, com R$ 57,7 bilhões, sendo R$ 12 bilhões apenas para o Tribunal de Justiça de São Paulo, que conta com 65 mil servidores. Em seguida vem o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que custa R$ 6,4 bilhões por ano.

Desembargadores milionários
Reportagem recente do blog mostrou que desembargadores dos pequenos tribunais de Justiça receberam rendas acumuladas de até R$ 5 milhões nos últimos quatro anos, incluindo os penduricalhos. As sete maiores rendas ocorreram no Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO). Os pagamentos retroativos somaram R$ 3 bilhões em todos os tribunais. As indenizações de férias, mais R$ 2,2 bilhões. Todos os penduricalhos totalizaram R$ 8,3 bilhões.

Na Justiça da União, a maior despesa total é da Justiça do Trabalho, com R$ 19,9 bilhões por ano. São 24 tribunais regionais mais os juízes do trabalho. São Paulo conta com dois tribunais, um na capital (TRT-2) e outro em Campinas (TRT-15). Juntos, consomem R$ 4,6 bilhões por ano.

A Justiça Federal custa R$ 12 bilhões, sendo R$ 2,5 bilhões com os tribunais regionais. A Justiça Eleitoral, mais R$ 6,3 bilhões; os Tribunais Superiores, R$ 3,9 bilhões. A Justiça Militar da União tem orçamento de R$ 571 milhões; a Justiça Militar dos Estados, maia R$ 163 milhões. Ao todo, são R$ 100 bilhões – 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou 11% dos gastos totais da União, estados e municípios. Os dados são relativos a 2020 e estão registrados na publicação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) “Justiça em Números”.

Com tanto dinheiro disponível, o STF vive um mundo paralelo, como mostrou o blog, com milhões de reais investidos em segurança armada, carros blindados, sala vip no aeroporto e jantares nababescos, com direito a bacalhau, lagosta, camarão, vinhos e espumantes com pelo menos quatro premiações internacionais, servidos em taças de cristal. As mordomias se estendem ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e até mesmo a pequenos tribunais dos sertões do país.


O peso das aposentadorias
As aposentadorias pesam nos orçamentos da Câmara e do Senado. Na Câmara, as aposentadorias e pensões custaram R$ 1,9 bilhão em 2021. A maior parte é de servidores efetivos aposentados – R$ 1,43 bilhão. Os pensionistas de servidores receberam mais R$ 346 milhões. Mas também foram pagos R$ 81 milhões a deputados aposentados e R$ 49 milhões a pensionistas de deputados. O antigo Instituto de Previdência dos Congressistas foi extinto em 1999 porque era deficitário. Mas a conta das pensões é paga pela Câmara, com dinheiro da União, ou seja, do pagador de impostos.

Mas tem mais. A Câmara paga R$ 2,4 bilhões por ano para servidores ativos, sendo R$ 1,3 bilhão para efetivos e R$ 1,1 bilhão para comissionados. Nessa última categoria estão 10,2 mil secretários parlamentares – os assessores que trabalham nos gabinetes dos deputados em Brasília e nos escritórios de apoio nos estados. Há ainda assessores das lideranças dos partidos, cargos da diretoria, comissões – são os cargos de natureza especial (CNEs), que chegam a R$ 20 mil.

O programa Siga Brasil, que informa a execução orçamentária dos órgãos públicos da União, mostra o peso das aposentadorias no orçamento do Senado. O valor total pago em 2021 foi de R$ 4,4 bilhões. O Orçamento fiscal ficou em R$ 2,1 bilhões, enquanto o orçamento da seguridade chegou a R$ 2,3 bilhões.


Cabide de empregos

O maior cabide de empregos no Senado está nos gabinetes dos senadores. Os 3,2 mil assessores – metade em Brasília e metade nos estados – receberam dos cofres públicos um total de R$ 418 milhões em 2021, como mostrou o blog. Em apenas um gabinete, com 83 assessores, os salários somaram R$ 9,25 milhões.

Na divisão por área de atuação (subfunção), os gastos do Senado com administração totalizaram R$ 1,5 bilhão, enquanto as despesas com previdência social alcançaram R$ 2 bilhões. A “ação legislativa”, que é a atividade fim do Senado, consumiu apenas R$ 353 milhões, muito próximo dos gastos com atenção à saúde dos servidores – R$ 329 milhões. Teve ainda a “previdência especial”, no valor de R$ 21 milhões. Trata-se, uma vez mais, das aposentadorias e pensões dos senadores. Parte do Legislativo, o Tribunal de Contas da União (TCU) consumiu mais R$ 2,1 bilhões no ano passado.

Assim como ocorre com o Judiciário, há também os legislativos dos estados. A Assembleia Legislativa de São Paulo teve despesas de R$ 1,27 bilhão em 2021. O Tribunal de Contas do Estado, mais R$ 1 bilhão. A Assembleia de Minas Gerais gastou R$ 1,5 milhão, enquanto o TCE de Minas consumiu mais R$ 866 mil. As 10 maiores assembleias e TCEs gastaram juntos um total de R$ 13,5 bilhões no ano passado. Um pouco mais da execução orçamentária da Câmara, do Senado e do TCU juntos – R$ 12,3 bilhões.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/quando-custa-ao-contribuinte-cada-deputado-senador-e-ministro-do-stf/
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