domingo, 30 de janeiro de 2022

INDÍGENAS PODEM AJUDAR EVITAR A INTERCIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

 

Defesa

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A internacionalização de partes da Amazônia é uma das maiores preocupações estratégicas de muitos membros das Forças Armadas. O temor é que uma etnia indígena, habitante da região da fronteira, se autodeclare nação independente e passe a ser reconhecida por outros países. Ao se opor a isso, o Brasil poderia receber sanções internacionais e, eventualmente, até ser alvo de uma ação militar.

Mas uma análise alinhada com os conceitos mais recentes da guerra do século XXI têm identificado os povos indígenas não como um problema militar, mas sim como uma parte fundamental da defesa da Amazônia.

Desde a aproximação entre Brasil e Argentina nos anos 1980, a prioridade estratégica de defesa do país se voltou para a Amazônia. Diversas unidades militares do sul e do sudeste foram transferidas para a região de selva e pelotões especiais foram criados ao longo da fronteira.

A ideia era prevenir dois cenários: a perda de território para nações ou agentes externos interessados em recursos naturais e o surgimento das chamadas “manchas negras” (black spots, em inglês), partes do país onde o Estado não consegue exercer sua autoridade frente a narcotraficantes, garimpeiros ilegais, grileiros, entre outros criminosos.

O Brasil vem então apostando em estratégias militares de dissuasão. Primeiro, o país tenta se equipar com armamentos que tornem uma invasão estrangeira muito dispendiosa. Em um cenário onde o adversário seja uma grande potência militar, o Brasil travaria uma guerra de resistência, de guerrilha, como ocorreu no Vietnã (1955-1975). Aqui, a ideia seria mostrar ao inimigo os custos políticos de se entrar em uma “guerra infinita”.

Se o oponente fosse uma nação vizinha, de poder militar comparável ao do Brasil, travaria-se uma guerra convencional, com artilharia, aviação, navios e outras armas pesadas.

Para se preparar para esses cenários, o país mantém o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGs), unidade que realiza um dos treinamentos de guerra na selva mais conceituados do mundo. A coluna já tratou desse aspecto da defesa da Amazônia.

Mas, para defender a Amazônia, não basta flexionar os músculos. Apesar de serem importantes, por si só esses recursos seriam pouco eficazes se estivessem desvinculados de ações de inclusão social, econômica e de entendimento das culturas das populações indígenas e ribeirinhas, segundo análises militares mais contemporâneas.

Especialmente em um contexto chamado de “guerra de quarta geração”, onde atores não estatais, como agências civis e organizações da sociedade ocupam papel importante na estratégia militar.

Ou seja, diversos analistas militares que pesquisam as guerras do século XXI não levam mais em conta apenas os exércitos regulares dos Estados. Eles admitem no cenário estratégico ações de guerrilheiros ou rebeldes, de forças especiais, manipulação de informações nas mídias, apoio a manifestantes e ONGs, além de ações cibernéticas, jurídicas e econômicas.

Assim, a defesa da Amazônia também precisa ser arquitetada nesse contexto. E a questão indígena, embora ainda divida opiniões no meio militar, é um elemento que não pode ser deixado de lado, segundo analistas.

Em diversas partes da selva, especialmente nas fronteiras com a Guiana e com a Bolívia, há tribos indígenas inteiras vivendo em território brasileiro, mas que falam línguas próprias, inglês ou castelhano. Lá, a comunicação em português não é possível.

Isso ocorre por vários motivos: há etnias pré-colombianas espalhadas por regiões anteriores às atuais fronteiras dos países. Em outros pontos, apesar de estarem em território brasileiro, as aldeias estão mais próximas de cidades estrangeiras. Segundo a Funai, há 305 diferentes etnias indígenas no país e 17,5% dos cerca de 817 mil indígenas brasileiros não falam português.

Um temor comum em grande parcela dos militares é que uma nação estrangeira use ONGs e operadores de forças especiais para convencer comunidades com essas características a tentar se separar do Brasil.

Para se ter ideia, há tribos em áreas tão remotas na selva aonde apenas as Forças Armadas e agências como a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) conseguem chegar, mas com uma frequência inferior à ideal. Já ONGs internacionais pagam por voos de helicóptero (que chegam a custar mais de R$ 150 mil por viagem) para levar mantimentos e insumos para essas regiões.

Um eventual adversário geopolítico do Brasil também poderia usar recursos para aprofundar fraturas na sociedade, financiando lideranças ou entidades para explorar divergências políticas. A ideia seria acirrar as disputas já existentes entre atores locais, como movimentos sociais que defendem causas indígenas ou de conservação ambiental, fazendeiros, garimpeiros e agentes do Estado.

Porém, um cenário como esse, de tentativa externa de internacionalização parcial ou total da Amazônia, não é uma possibilidade iminente, segundo analistas. Mas é uma hipótese que não pode ser descartada a longo prazo se as condições sociais da região se deteriorarem.

Relação com os povos indígenas
As forças armadas não estão alheias a todos esses fatores, mas uma estratégia multidimensional de defesa da Amazônia ainda não foi implantada completamente.

Ao menos desde meados de 2007, forças especiais do Exército vêm aumentando a integração com os povos indígenas no nível tático. A ideia é incorporar no treinamento dos militares a “inteligência cultural”, ou seja, conhecer as peculiaridades de cada comunidade indígena para obter apoio e multiplicar as forças.

Para atingir esse objetivo, o primeiro desafio é livrar o militar “da visão estereotipada que caracteriza o indígena como um ser exótico, que anda nu, utiliza arco e flecha e mora na floresta”, segundo o analista militar Alessandro Visacro, autor dos livros “Guerra Irregular” e “A Guerra na Era da Informação” (Editora Contexto).

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“Usar roupas, assistir televisão, acessar a rede mundial de computadores, conduzir um automóvel ou mesmo prestar o serviço militar, como faz um grande número de jovens indígenas nos pelotões especiais de fronteira e nas brigadas de infantaria de selva, não caracteriza o rompimento do cidadão indígena com sua cultura ancestral”, escreveu Visacro em artigo sobre o tema.

Segundo ele, o esforço das Forças Armadas tem sido deixar para trás a ideia de que o índio tem que ser assimilado e integrado (ou ainda deixado à própria sorte em uma região isolada) e desenvolver conceitos previstos na Constituição de 1988, como, por exemplo, cooperação, interação e respeito ao multiculturalismo em relação aos índios que já tiveram contato com a sociedade.

Em outras palavras, a ideia é que o Estado entenda e respeite a cultura indígena, mas ao mesmo tempo leve desenvolvimento sustentável para as suas comunidades. Isso envolve a disponibilização de recursos como energia elétrica, saúde e educação.

No ano passado, por exemplo, o Exército instalou mais de 600 quilômetros de cabos de fibra ótica para levar pela primeira vez internet para comunidades que habitam a calha do Rio Negro.

Em paralelo, os militares mapeiam ONGs idôneas para estabelecer parcerias, aumentar a integração com as comunidades e diminuir o distanciamento ideológico entre ativistas e militares.

A ideia geral é que quanto mais os povos indígenas se sentirem amparados e parte essencial da sociedade, menor será a chance de cooperarem com agentes externos. Isso sem mencionar o alto valor que os indígenas agregam ao Exército ao servir em suas fileiras com o conhecimento da selva e suas nuances.

Mas um dos problemas é que no nível político e estratégico, o entendimento entre Estado e movimento indígena ainda tem muito para avançar. Questões fundiárias e de demarcação de terras pendentes desde a Constituição de 1988 ainda são alvo de debates, por exemplo.

E em paralelo, ainda há a questão do combate a ilícitos na Amazônia, como garimpeiros, madeireiros ilegais e grileiros. Uma das principais rotas de tráfico internacional de drogas do país passa atualmente pela calha do rio Solimões, já caracterizando uma “mancha negra”, uma região do país onde o Estado não consegue exercer sua autoridade.

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Outra possível ameaça não convencional à Amazônia é que eventuais rivais geopolíticos internacionais tentem usar a temática da mudança climática em fóruns internacionais para advogar pelo conceito da “Nova Antártida”. Isto é, criar uma governança global sobre a Amazônia para impedir que países da região explorem seus recursos, a fim de preservar a área para gerações futuras.

No fim do ano passado, diplomatas do Níger e da Irlanda organizaram uma votação para decidir se temas de segurança internacional relacionados a mudanças climáticas deveriam ser decididos no Conselho de Segurança da ONU. O foco deles era o continente africano, não o Brasil, mas a Rússia vetou a proposta.

Segundo o coronel do Exército Oscar Medeiros Filho, uma das formas que o Brasil tem de se contrapor a esse tipo de movimento é apostar em uma parceria com países vizinhos em políticas regionais de defesa e segurança por meio da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca). Ela foi criada em 1978 por tratado e transformada em organização em 1995.

“A Otca continua sendo o melhor antídoto para coibir uma espécie de ‘manobra da internacionalização’, na medida em que reserva aos países ‘condôminos’ a responsabilidade exclusiva pelo destino da região”, escreveu ele no e-blog do Exército.
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MILITARES E AS URNAS ELETRÔNICAS E OUTRAS NOTÍCIAS

Aperfeiçoamento

PorRodolfo Costa
Brasília

Nova urna eletrônica para as eleições de 2022: militares reforçaram pedido de explicações ao TSE| Foto: Abdias Pinheiro/TSE

Uma equipe especializada das Forças Armadas na área cibernética reforçou na sexta-feira (28) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de esclarecimentos sobre os processos que envolvem os procedimentos técnicos, a transparência e a segurança das urnas eletrônicas.

Em 2 de dezembro, integrantes de uma equipe especializada das Forças Armadas se reuniram com membros do TSE para debater o processo de votação eletrônica e a segurança das urnas eletrônicas no país. Em 14 de dezembro, essa equipe entregou um documento sigiloso ao TSE com o pedido de aperfeiçoamento das urnas eletrônicas para as eleições de 2022.

Contudo, militares da área cibernética apontam que, até o momento, a equipe técnica do TSE não respondeu suas dúvidas e sugestões, e também não disponibilizou a documentação solicitada pela equipe. Por isso, o pedido foi reforçado na sexta. Defensor do voto impresso auditável, o presidente Jair Bolsonaro (PL) também cobrou o TSE por uma resposta às Forças Armadas em duas ocasiões este mês.

Em nota à imprensa, o TSE informa permanecer em recesso, mas destaca que o assunto será levado ao presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, na retomada das atividades do Judiciário. A Corte eleitoral pondera, no entanto, que os questionamentos apresentados pela equipe de Defesa Cibernética das Forças Armadas “tramitam de forma sigilosa a pedido do próprio Exército”.

“Reforçamos que as Forças Armadas, assim como as demais entidades que participam da Comissão, têm prerrogativa para solicitar ao TSE mais esclarecimentos sobre o processo eleitoral e agendar reuniões técnicas ao Tribunal”, comunica, em nota, a Corte eleitoral.

  • em Breves
    29/01/2022 21:30
    “Liturgia Do Cargo”
    Carmen Lúcia é criticada por aliado de Bolsonaro após participar de reunião política
    PorGazeta do Povo

A ministra Cármen Lúcia, do STF, participou de um encontro político organizado pela ex-senadora Marta Suplicy (Sem partido) | Foto: STF

A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi criticada pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), por sua participação em um encontro político organizado pela ex-senadora e ex-prefeita paulistana Marta Suplicy (Sem partido).

O encontro, que ocorreu na sexta-feira (28), reuniu cerca de 34 mulheres líderes políticas, ativistas e intelectuais, além da ministra Carmen Lúcia. Entre as presentes estavam a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata de seu partido à Presidência da República.


Vacinação
Lula defende imunização opcional, mas diz que não vacinados devem ficar em casa
Por Gazeta do Povo

Ex-presidente Lula se diz contra a obrigatoriedade da vacinação, mas defende que não vacinados fiquem em casa | Foto: Joédson Alves/EFE

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicionou contrário à vacinação obrigatória, mas defende que não imunizados contra a Covid-19 devem ficar em casa. Para ele, filhos de pessoas que não foram vacinadas também não deveriam ir à escola.

“Eu sou contra a obrigatoriedade da vacina”, declarou Lula neste sábado (29), em cerimônia de posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Se o Moisés não quiser tomar vacina, não vai tomar, ninguém vai te obrigar a tomar vacina. Mas também você não vai poder ir para lugares públicos”, acrescentou o petista.


Líder Religioso
Moro se reúne com Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo
PorGazeta do Povo

O ex-juiz e pré-candidato à Presidência da República, Sergio Moro (Podemos). | Foto: Isaac Amorim/Ministério da Justiça.

O ex-juiz Sergio Moro se reuniu nesta sexta-feira (28) com o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. O encontro, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, é parte de um esforço que o ex-juiz tem empreendido para ganhar apoio de lideranças religiosas. Ele é pré-candidato do Podemos à Presidência da República.

Moro e Scherer falaram sobre o combate à fome. O ex-juiz disse que pretende, se eleito presidente, criar uma “força tarefa” para erradicar a pobreza.


Aperfeiçoamento
Militares reforçam ao TSE pedido de explicação sobre urnas eletrônicas

Por Rodolfo Costa
Brasília

Nova urna eletrônica para as eleições de 2022: militares reforçaram pedido de explicações ao TSE | Foto: Abdias Pinheiro/TSE

Uma equipe especializada das Forças Armadas na área cibernética reforçou na sexta-feira (28) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de esclarecimentos sobre os processos que envolvem os procedimentos técnicos, a transparência e a segurança das urnas eletrônicas.

Em 2 de dezembro, integrantes de uma equipe especializada das Forças Armadas se reuniram com membros do TSE para debater o processo de votação eletrônica e a segurança das urnas eletrônicas no país. Em 14 de dezembro, essa equipe entregou um documento sigiloso ao TSE com o pedido de aperfeiçoamento das urnas eletrônicas para as eleições de 2022.


Após Revelar Salário
Moro lança “campanha” e desafia Bolsonaro e Lula a também prestarem contas

Por Rodolfo Costa
Brasília

Ex-juiz Sergio Moro divulgou os detalhes de seu contrato com a consultoria Alvarez & Marsal e provocou Lula e Bolsonaro a prestarem contas | Foto: Reprodução/Facebook

O ex-juiz Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência da República, lançou uma “campanha” nas redes sociais em desafio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após revelar detalhes de seu contrato com a empresa de consultoria Alvarez & Marsal e torná-lo público em seu canal no Telegram, ele provocou os dois adversários a também prestarem contas.

A campanha #AbreAsContasBolsoLula quer pressionar Bolsonaro a abrir a planilha de gastos com seu gabinete. De Lula, Moro provocou o ex-presidente a dizer o quanto recebeu por palestras bancadas por empresas. “Inclusive da Lava Jato”, comentou o ex-juiz.

Principais Manchetes

Do otimismo à dúvida: cinco fatores que complicam a economia neste começo de ano

Internacionalização da Amazônia: indígenas podem ser solução e não problema

Militares reforçam ao TSE pedido de explicação sobre urnas eletrônicas

O Papo É #61: Um Brasil sem Olavo de Carvalho e com Moro unido ao MBL

Vazamento
PF diz que Bolsonaro cometeu crime ao divulgar inquérito, mas não indicia presidente
PorGazeta do Povo

O presidente Jair Bolsonaro | Foto: Alan Santos/PR.

Em relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a delegada da Polícia Federal Denisse Ribeiro imputou ao presidente Jair Bolsonaro a prática de dois crimes: divulgação de segredo (“divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento […] quando resultar prejuízo para a Administração Pública”, com pena de 1 a 6 meses de detenção) e violação de sigilo funcional (“revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação”, com pena de reclusão de 2 a 6 anos).

O documento faz parte do inquérito aberto pelo ministro para apurar o vazamento da investigação da Polícia Federal sobre o ataque hacker a sistemas internos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018. Em agosto do ano passado, Bolsonaro revelou detalhes da investigação numa entrevista e depois divulgou os documentos em suas redes sociais. A Advocacia-Geral da União (AGU), que faz a defesa de Bolsonaro no caso, alega que o inquérito não era sigiloso e que, portanto, não houve o cometimento de crime.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/pf-diz-que-bolsonaro-cometeu-crime-mas-nao-indicia-presidente/
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TAXA DE DESEMPREGO CONTINUA A CAIR

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Setor de alojamento e alimentação registou aumento de quase 10% no número de empregados no trimestre encerrado em novembro de 2021.| Foto: Bigstock

Enquanto o país espera os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de dezembro de 2021, e que também mostrarão como foi o desempenho do mercado de trabalho formal no ano passado – a previsão para dezembro é de fechamento de vagas, o que é tradicional no último mês do ano, com saldo acumulado de 2021 na casa dos 2,8 milhões de novos postos de trabalho –, o IBGE divulgou novos números do desemprego e que, felizmente, trazem uma nova queda no indicador. No trimestre móvel formado por setembro, outubro e novembro de 2021, a taxa de desemprego ficou em 11,6%. A última vez que o desemprego havia ficado abaixo de 12% foi no trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2020, portanto antes que a pandemia de Covid devastasse os negócios.

Os números da Pnad Contínua refletem uma recuperação constante do mercado de trabalho: esta é a sexta queda seguida de pelo menos meio ponto porcentual na taxa de desemprego, que era de 14,4% um ano atrás, e de 13,1% no trimestre anterior (junho/julho/agosto de 2021). Em números absolutos, o país ainda tem 12,4 milhões de desempregados, contra 14,5 milhões há um ano e 13,9 milhões no trimestre anterior. Outro dado positivo é a queda no número de desalentados, aqueles que nem chegam a buscar um trabalho: este grupo já chegou a beirar os 6 milhões de brasileiros, e agora é de 4,9 milhões. Um número ainda muito expressivo, mas que pode seguir caindo se o mercado de trabalho demonstrar mais vitalidade nos próximos meses e seguir contratando.

O caminho até a superação do grande mal socioeconômico do desemprego é longo e árduo. Há populações especialmente vulneráveis e as perspectivas de crescimento da economia em 2022 são pouco animadoras

Destrinchando os números por tipo e setor de ocupação, ainda é possível observar algumas tendências, algumas animadoras e outras preocupantes. O setor de alojamento e alimentação, um dos mais atingidos pelas medidas restritivas adotadas para conter a pandemia, aumentou o número de empregados em 10% no trimestre móvel encerrado em novembro, em comparação com o período de junho a agosto, demonstrando que vinha em recuperação – os dados, é preciso lembrar, ainda não contemplam o período da nova onda da pandemia, causada pela variante ômicron, que trouxe consigo novas rodadas de restrições, ainda que não tão severas quanto as anteriores. A taxa de informalidade também ficou estável, em 40,6%: na comparação com o trimestre anterior, o número de empregados no setor privado sem carteira assinada ainda subiu mais que o daqueles formalmente contratados: 7,4% contra 4%, mas, para o IBGE, “a participação do trabalho formal no setor privado vem aumentando e contribuindo também para a recuperação da ocupação no país”, segundo nota assinada pela coordenadora de Trabalho e Rendimento do órgão, Adriana Beringuy.

Um aspecto interessante a ressaltar é o fato de este ser o primeiro trimestre completo em que não esteve em vigor o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitia acordos de redução proporcional de jornada e salário, ou suspensão temporária de contratos de trabalho, como forma de evitar demissões. Setembro, outubro e novembro foram os primeiros meses em que não foi mais possível celebrar novos acordos, mas nos quais vários trabalhadores já perderam a estabilidade prevista em acordos assinados anteriormente; este movimento deve continuar nos próximos meses até que termine a estabilidade garantida nos 158 mil acordos feitos em agosto de 2021. Se o mercado de trabalho seguir evoluindo sem o amparo do BEm, estaremos diante de um ótimo sinal de resiliência.


Por outro lado, motivo de contínua preocupação é a nova queda no rendimento médio do trabalhador. Nos últimos 14 meses, apenas em um deles houve aumento neste indicador, que agora é de R$ 2.444, ou R$ 32 a menos que no período de agosto a outubro. Como na divulgação dos dados feita um mês atrás, o IBGE atribui a redução à inflação e ao fato de as novas vagas oferecerem menor remuneração.

Como já foi dito, será natural que em dezembro haja um recuo no nível de emprego, seja o medido pelo Caged, seja o da Pnad Contínua; e pode, ainda, haver um efeito negativo da nova onda de Covid-19 neste início de 2022, ainda que a resposta de estados e municípios não tenha sido tão drástica quanto o “fecha tudo” de 2020 e 2021. Mesmo superados estes obstáculos, o caminho até a superação deste grande mal socioeconômico é longo e árduo. Há populações especialmente vulneráveis – o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é o dobro da média nacional; o governo federal acaba de lançar um programa de qualificação que tem essa faixa etária como um de seus públicos-alvo. As perspectivas de crescimento da economia em 2022 são pouco animadoras. Mesmo que o desemprego não volte a subir, ele ainda está em patamares inaceitáveis, e uma estagnação em 2022 significaria prolongar o sofrimento de muitos milhões de brasileiros e suas famílias.


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PUTIN PRETENDE INVADIR A UCRÂNIA PARA ANEXAR À RÚSSIA

 

Guerra iminente
Por
Victor Davis Hanson, para o The Daily Signal – Gazeta do Povo

O presidente da Rússia, Vladmir Putin| Foto: EFE/EPA/EVGENY ODINOKOV/SPUTNIK/KREMLIN

Os americanos querem que uma Ucrânia autônoma sobreviva. Eles esperam que o Ocidente impeça o estrangulamento da Ucrânia e da OTAN pelo presidente russo Vladimir Putin.

No entanto, os Estados Unidos não querem que suas tropas se aventurem pelo mundo até o quintal da Europa para combater a Rússia nuclear e garantir que a Ucrânia permaneça independente.

A maioria dos americanos se opõe à noção de que a Rússia pode simplesmente ditar o futuro da Ucrânia.

No entanto, eles também aceitam com relutância que a Ucrânia foi, muitas vezes, parte da Rússia historicamente. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi o cenário sangrento do sacrifício simultâneo de russos e ucranianos – mais de 5 milhões de mortos – para derrotar a invasão alemã nazista.

Os americanos apoiam publicamente a OTAN.

No entanto, a maioria teme que a OTAN tenha se tornado diplomaticamente impotente e uma ilusão militar, uma Liga das Nações moderna.

Os membros da OTAN têm um produto interno bruto coletivo sete vezes maior que o da Rússia. Sua população agregada é de 1 bilhão. No entanto, a maioria não gastará o suficiente em defesa para deter seus inimigos mais fracos.

O segundo maior membro da OTAN, a Turquia, está mais próximo da Rússia do que dos Estados Unidos. Seu povo vota contra os americanos.

A Alemanha é o membro europeu mais rico da OTAN e o poder por trás da União Europeia. No entanto, a Alemanha em breve dependerá da importação de gás natural russo para suprir grande parte de suas necessidades energéticas.

Em uma recente pesquisa do Pew Research Center, 70% dos alemães expressaram o desejo de mais cooperação com a Rússia. A maioria dos americanos pensa exatamente o oposto.

Pior, 60% dos alemães se opõem a ir ao socorro de qualquer país da OTAN em tempos de guerra. Mais de 70% dos alemães classificam seu relacionamento com os Estados Unidos como “ruim”.

Podemos traduzir todos esses resultados perturbadores da seguinte maneira: o povo alemão e turco gosta ou confia mais na Rússia do que em seu próprio padrinho na OTAN, os Estados Unidos.

Eles não apoiariam a participação em qualquer esforço militar conjunto da OTAN nem mesmo contra uma Rússia invasora – mesmo, ou especialmente, se liderada pelos impopulares Estados Unidos.

Então, suponha que os dois membros-chave da OTAN sejam indiferentes ao destino da vizinha Ucrânia ou simpatizem com as queixas declaradas da Rússia – ou ambos.

De fato, a maioria dos americanos teme que, se a Ucrânia se tornar membro da OTAN, Putin possa estar ainda mais ansioso para testar sua soberania.

Putin assume que nem todos os membros da OTAN interviriam para ajudar uma Ucrânia atacada, conforme exigido por suas obrigações de defesa mútua nos termos do Artigo 5.

Se não o fizessem, Putin poderia absorver a Ucrânia e desfazer a aliança da OTAN de uma só vez.

Há mais complicações na bagunça ucraniana.

O presidente Joe Biden, em declarações malucas, confirmou a aposta de Putin de que os Estados Unidos estão atualmente divididos, confusos, enfraquecidos e mal liderados

Putin sabe que o secretário de Defesa e presidente do Estado-Maior Conjunto parecem mais preocupados com o “privilégio branco” e as mudanças climáticas do que com o aumento da prontidão militar para deter inimigos como ele.

Putin vê nas pesquisas que apenas 45% dos americanos confiam em seus novos militares politizados.

A fuga do Afeganistão, Putin ainda conjectura, tornou os Estados Unidos menos temidos pelos inimigos e menos confiáveis pelos aliados.

A política americana anterior fracassada de “reinicialização” russa, o apaziguamento das agressões de Putin durante os anos de Obama, juntamente com a farsa inventada de “conluio russo”, todos encorajaram – e irritaram – Putin.

Ele sabe que Donald Trump deixou o cargo impopular. Então, ele supõe que com a saída de Trump, a dissuasão americana contra a Rússia também tenha desaparecido.

A agenda agora rejeitada de Trump era aumentar as defesas americanas e da OTAN e bombear petróleo e gás para derrubar o preço global da principal fonte de divisas da Rússia.

Putin já ficou furioso por Trump ter deixado unilateralmente um acordo assimétrico de mísseis EUA-Rússia. Trump ordenou o uso de força letal contra um grande número de mercenários russos que atacaram uma instalação dos EUA na Síria. Ele vendeu armas ofensivas para a Ucrânia. Ele agiu à força ao eliminar inimigos terroristas como o general iraniano Qassem Soleimani, o islamista Abu al-Baghdadi e o próprio ISIS.

Com a morte do inimigo de Putin, Trump, a Rússia assume que os anos de apaziguamento do governo Obama-Biden estão de volta. Como em 2014, mais uma vez Putin está se movendo contra seus vizinhos.

Finalmente, há o infeliz papel de recentes funcionários do governo ucraniano. Alguns estavam profundamente envolvidos em dar luz verde à fraude e especulação da família Biden para garantir ajuda externa americana maciça.

Alguns expatriados ucranianos e atuais membros do governo trabalharam com a esquerda americana para garantir o primeiro impeachment de Trump.

Agora, os ucranianos estão exasperados porque suas intromissões anteriores na política doméstica americana saíram pela culatra com a desastrosa presidência de Biden – e sua aparente aceitação de fato de uma inevitável anexação russa.

Onde toda essa bagunça deixa os Estados Unidos?

Em apuros.

Putin está minando uma nação soberana, rachando a OTAN e, se for bem-sucedido, pode continuar o modelo de compressão lenta da Ucrânia nos Estados Bálticos e em outros lugares.

Enquanto isso, a China sorri, esperando que o plano da Ucrânia possa ser usado contra Taiwan.

Americanos exasperados temem que Putin não seja dissuadido nem por sanções, nem por vendas de armas, mas segue apenas seu próprio senso de interesse próprio de custo-benefício.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/por-que-putin-nao-foi-dissuadido-da-invasao-a-ucrania/
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CÂMARA DOS DEPUTADOS APROVEITA O COVID E FICAM EM TRABALHOS REMOTOS

 

Legislativo

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), terá um grande protagonismo no retorno das atividades legislativas com a volta das sessões pelo sistema remoto até o Carnaval| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados começa o ano legislativo na próxima quarta-feira (2) com a volta do sistema remoto de trabalho e de votações, por causa da onda infecções pela variante ômicron do coronavírus. E esse modelo de interação online entre parlamentares pode ter uma série de efeitos neste começo de ano: concentração de poderes nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e dos líderes partidários; prejuízo para integrantes da base ideológica de Jair Bolsonaro que querem ocupar postos-chave na Casa; paralisia das atividades das comissões permanentes (com efeito na análise de projetos); dificuldades para tirar do papel a CPI do Moro; e até mesmo a facilitação da campanha eleitoral antecipada nas bases dos parlamentares.

Um dos principais efeitos da volta dos trabalhos remotos é a concentração de poderes nas mãos de Lira e dos líderes partidários. Isso ocorreu durante o período da pandemia na gestão do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (sem partido-RJ). Por causa dos trabalhos remotos, muitas comissões não funcionaram. E Maia, em acordo com líderes do partido, decidia o que seria levado diretamente a plenário (sem passar por comissões) e designava relatores para essas matérias sem enfrentar a pressão e cobranças típicas do modelo de trabalho presencial.

Isso pode voltar a ocorrer com Lira, que teria seu poder de agenda realçado para decidir que projetos podem ser acelerados ou postergados. O atual presidente da Casa venceu, em 2021, a eleição para comandar a Câmara justamente com a promessa de que desconcentraria os poderes. E, de certa forma, ao determinar a volta ao trabalho presencial quando a pandemia arrefeceu, cumpriu essa promessa. Mas com a onda da variante ômicron, ele decidiu voltar ao modelo online – que abre brechas para a concentração de poderes. O modelo presencial, em princípio, só deve voltar após o carnaval, no começo de março.

Que projetos podem entrar na pauta da Câmara
Apesar do maior poder que Lira terá, e ainda que deputados não prevejam votações impopulares ou de grande relevância no plenário em fevereiro, o governo espera que ele paute as medidas provisórias (MPs) mais urgentes.

Ao todo, há 32 MPs em tramitação no Congresso, das quais 16 foram encaminhadas durante o atual recesso parlamentar. Do total, seis caducam na Câmara em fevereiro, das quais há algumas com previsão para perder sua validade, a exemplo das medidas provisórias 1065/2021, a MP 1069/21 e a 1066/2021.

A MP 1065 permite a exploração privada de ferrovias por meio de autorização. O texto foi apresentado com o acordo de que caducaria se o Congresso aprovasse o marco legal das ferrovias, o PLS 261/18, aprovado em dezembro e transformado na Lei 14.273/21.

A MP 1069/21, que trata da comercialização de combustíveis por revendedor varejista, teve parte de seus trechos incorporados à MP 1063/21, já aprovada e transformada na Lei 14.292/22, que autorizou postos de combustíveis a comprar etanol diretamente de produtores e importadores.

A MP 1066/21, por sua vez, trouxe estímulos ao setor elétrico de modo a permitir o recolhimento de impostos e contribuições previdenciárias referentes aos meses de agosto, setembro e outubro serem feitos em dezembro, sem multa por atraso.

Das outras três MPs que caducam na Câmara em fevereiro, a prioritária do governo é a 1070/21, que institui o Programa Habite Seguro. A proposta possibilita que policiais, bombeiros, agentes penitenciários e guardas municipais financiem até 100% do valor de um imóvel. Após ter recuado no reajuste a policiais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não planeja abrir mão dessa medida.

Lira não tem confirmado aos deputados qual será sua agenda na retomada dos trabalhos, mas existe a expectativa de que ele cumpra a promessa de avançar com a pauta sobre a criação de um fundo permanente para catástrofes no Brasil, segundo o que ele afiançou ao fim de dezembro.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) prevê para fevereiro votações de pautas consensuais. O parlamentar reconhece que o começo dos trabalhos pelo sistema remoto favorece a Lira aprovar pautas de maior interesse próprio, mas não acredita que o presidente da Câmara optaria por esse caminho.

“Eu, conhecendo o presidente Arthur Lira, tenho a convicção de que ele só trará matérias consensuais e mais pacíficas, e deixará as matérias mais polêmicas quando o sistema voltar a ser presencial, após o carnaval. A discussão pelo modelo remoto é muito dificultada e deficitária”, pondera Cavalcante.

O analista político Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados, concorda que o trabalho remoto privilegia lideranças e reforça, sobretudo, os poderes de Lira. Ele também acredita que as atividades nesse modelo em fevereiro devem privilegiar votações consensuais, mas entende que as pautas que forem votadas não serão insignificantes.

“Tem projetos importantes, como o que regulamenta o mercado de compra e venda de créditos de carbono [PL 528/2021] no Brasil. Deve ser uma das primeiras coisas que o Lira vai movimentar”, diz Fernandes. O governo tem interesse na redação, de relatoria da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), por entender que seria uma resposta à pauta ambiental de Bolsonaro em 2022.

O que mais o trabalho remoto pode trazer de positivo e negativo
Além da concentração de poderes, o trabalho remoto também motiva outras discussões entre deputados. Para alguns, abre-se um leque de oportunidades para avançar em articulações eleitorais nas bases, já que eles não terão de ficar em Brasília para votações.

Especialmente os líderes e dirigentes partidários terão mais facilidades para articular alianças nos estados e a entrada de novos integrantes em seus partidos na janela partidária, que se abre em 1.º de março. Mas outros parlamentares simplesmente vão antecipar suas campanhas. “Já que a Câmara vai voltar com o sistema remoto, eu vejo que os parlamentares vão aproveitar isso para fazer suas campanhas antecipadas”, admite um parlamentar da base do governo.

Para outros, o trabalho remoto é negativo. Deputados da base mais ideológica de Bolsonaro vinham articulando a manutenção de um alegado acordo para manterem o comando de comissões permanentes – a exemplo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal da Casa, cobiçada pelo atual líder do PSL, Vitor Hugo (GO).

Antes da definição de Lira pelo trabalho remoto, os deputados mais ligados a Bolsonaro do PSL almejavam avançar em articulações presenciais para assegurar o apoio pelas presidências de quatro colegiados. Agora, temem os impactos do sistema remoto podem causar. “Vai prejudicar. Quando estamos à distância, não conseguimos o mesmo poder de mobilização e convencimento. É mais difícil obter votos”, diz um aliado de Bolsonaro.

Nos bastidores, o Centrão se aproveita desse cenário do trabalho remoto para avançar com um movimento organizado por algumas lideranças para que as comissões permanentes voltem a funcionar somente a partir de abril, após a janela partidária.

Deputados explicam que o objetivo é buscar uma composição mais clara do futuro partidário dos parlamentares a fim de prestigiar alianças e os integrantes que assumiriam os colegiados. Com as trocas de partidos, o jogo de forças na Casa vai mudar. E, como as indicações para as comissões tradicionalmente depende do tamanho da bancada, a atual situação pode mudar até abril.

O PSL hoje tem a maior bancada, mas deve perder deputados. Com isso, pode ser uma das siglas prejudicadas. Embora o movimento organizado pelo Centrão não tenha o intuito de atingir os deputados da base ideológica de Bolsonaro, seria um efeito colateral inevitável. Outro efeito seria a paralisia dos trabalhos dessas comissões, com prejuízo para a tramitação de projetos importantes.

Mas, mesmo que não haja esse adiamento do funcionamento das comissões até abril, desde já há divergência sobre quem vai comandá-las. O deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), vice-presidente nacional do partido, desmente que exista um acordo para que a ala mais ideológica do partido mantenha as presidências dos colegiados e acha que é indiferente o trabalho remoto para as discussões do futuro das comissões. “Isso é papo furado, não tem acordo nenhum. Já estou te afiançando, não tem palavra nenhuma empenhada”, sustenta Bozzella, que se distanciou do governo Bolsonaro.

Segundo ele, o acordo firmado em 2021 após a vitória de Lira na eleição para a presidência da Câmara prevê que os deputados da base ideológica de Bolsonaro ficariam com a liderança do PSL e, consequentemente, as presidências de comissões, mas que em 2022 o cenário se inverteria. “O Vitor Hugo tem total clareza desse acordo, ele falta com a verdade e está sendo dissimulado. A liderança é nossa a partir deste ano e, consequentemente, o comando das comissões”, avisa.

Outro impacto que o trabalho remoto pode trazer em fevereiro é o esvaziamento da coleta de assinaturas pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP) para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar um suposto “conflito de interesses” no período em que o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) trabalhou na empresa de consultoria Alvarez & Marsal.

Para ser protocolado, o pedido de instalação da CPI do Moro precisa de ao menos 171 assinaturas dos 513 deputados. Com o trabalho remoto, deputados acreditam que o petista terá dificuldades e ainda se verá pressionado pelo seu próprio partido a desistir da ideia. O próprio autor da ideia, contudo, deu sinais de que vai segurar as articulações para emplacar a comissão.

Bozzella, que tenta filiar Moro ao União Brasil – partido que surge da fusão entre PSL e DEM – acha a decisão de Teixeira coerente, uma vez que entende como desconexa a ideia de uma CPI. “Isso é um descalabro, daria até espaço para o Moro ser enxergado como vítima pela sociedade e falar de escândalos reais do PT e das rachadinhas do Bolsonaro, e não escândalos inexistentes”, analisa.

O que esperar da agenda prioritária da Câmara após o carnaval
Em março, com a janela partidária em curso para a troca de legendas, deputados preveem um ritmo tímido de produtividade na Câmara. Por ser um período em que parlamentares terão para se desfiliar e se filiar em outro partido, as atenções políticas costumam estar voltadas para o futuro partidário e eleitoral dos congressistas.

A expectativa é de que os trabalhos presenciais ganhem mais ritmo na Câmara a partir de abril, sobretudo se a articulação do Centrão de iniciar os trabalhos nas comissões permanentes tenha resultados.

De toda a forma, uma avaliação feita entre parlamentares é de que os debates legislativos ganharão maior corpo só após o carnaval. Isso vale, por exemplo, para a proposta de emenda à Constituição (PEC) que o governo vai enviar com o objetivo de reduzir o valor dos combustíveis e da energia elétrica, itens que ajudaram a impulsionar a inflação em 2021.

A meta do governo é apresentar o texto na primeira semana de fevereiro, mas a tramitação da pauta pode levar tempo para amadurecer. Por se tratar de um assunto politicamente polêmico, a própria liderança do governo precisaria trabalhar os votos para aprovar a matéria. E Lira ainda teria que avaliar junto aos líderes partidários se seria possível levar o texto diretamente ao plenário ou aguardar a tramitação formal – a aprovação da admissibilidade na CCJ e do mérito em uma comissão especial.

A PEC defendida pelo governo vem em contraposição ao debate que será iniciado no Senado em fevereiro. A possibilidade de aprovação de dois projetos com o mesmo intuito de reduzir o custo dos combustíveis pelos senadores levaria Lira a ter que articular até três projetos sobre o mesmo assunto.

Outro projeto a ser analisado por Lira é o Projeto de Lei (PL) 414/21, que trata do Marco do Setor Elétrico. Desde o fim do ano passado, a Câmara e o Senado concentraram esforços para aprovar marcos regulatórios como resposta à ausência de aprovação de reformas estruturantes.

Existe, contudo, uma expectativa do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) de instalação da comissão especial da PEC 7/2020, que propõe uma reforma tributária de sua autoria. O texto teve sua admissibilidade aprovada na CCJ em dezembro e Lira criou o colegiado especial para discutir o mérito, mas ainda não a instalou – processo que envolve a escolha de membros, relator e presidente.


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LULA ESQUECE A DILMA E O PAÍIS LEMBRA

 

  1. Opinião 

O governo de Dilma Rousseff foi a gestão dos sonhos dos petistas, com a aplicação de teorias equivocadas que o PT sempre defendeu. É isso o que Lula deseja esconder

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff 03/10/2014 REUTERS/Nacho Doce

A história do PT produziu muitos fatos que jogam contra o partido e seus candidatos. Em toda eleição, há muita coisa a esconder e a tergiversar. Mas seria empequenecer a trajetória petista pensar que, na categoria de temas a serem evitados, estariam “apenas” os escândalos de corrupção do mensalão e do petrolão. Há também aparelhamento do Estado, apoio entusiasmado a ditaduras e governos que violam direitos humanos, tolerância a corporativismos e privilégios, confusão entre o público e o privado, sabotagem de políticas públicas responsáveis (apenas porque outros as propuseram), negligência com malfeitos internos do partido, campanhas de difamação contra adversários políticos, abundante difusão de desinformação e várias outras práticas que contrariam o discurso original da legenda, em defesa da ética e da renovação da política.

Trata-se de um longo passivo, que não surgiu agora e não está apenas relacionado à Lava Jato. Mas há um item, em toda essa longa lista, que se sobressai. É um assunto que Luiz Inácio Lula da Silva tem especial dificuldade de lidar. O líder petista pode até falar do apartamento triplex no Guarujá ou do sítio de Atibaia – temas naturalmente desconfortáveis, que escancararam ao País o modo como o ex-sindicalista, que sempre bradou contra os patrões, lida de fato com os empreiteiros camaradas –, mas não faz ideia de como abordar este assunto: Dilma Rousseff e seu trevoso governo.

É um tema difícil, tanto pela evidência do desastre que foi o período de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto como pela responsabilidade direta de Lula no caso. O líder petista decidiu que Dilma Rousseff seria a candidata do PT à Presidência da República em 2010. Afinal, esta é a divisão de tarefas na legenda que se diz democrática: Lula decide, os outros obedecem. Segundo palavras do próprio Lula, a relação entre os dois é de criador e criatura.

O líder petista pode não ter nenhum interesse em lembrar, mas ainda estão frescos na memória do País os resultados produzidos pela criatura lulista: recessão econômica, crise social, inflação, desemprego, desorganização da economia, manipulação de preços e irresponsabilidade fiscal, que incluiu, entre outras manobras, as famosas “pedaladas”. Tudo isso não se deu ao acaso. Foi obra do voluntarismo de Dilma Rousseff, mas foi muito mais do que simples equívoco individual. Sem nenhum exagero, o governo de Dilma foi a gestão dos sonhos dos petistas, com a aplicação – sem freios, sem limites e sem diálogo – de todas as teorias, ultrapassadas e equivocadas, que o PT sempre defendeu e, pasmem, ainda defende.

O resultado ficou evidente para o País. Tão presente nas eleições de 2018, o sentimento antipetista não foi mera consequência de decisões da Justiça Federal de Curitiba. O problema foi muito mais profundo. Com Dilma Rousseff, a população experimentou o que é um governo com o PT pondo em prática suas teses e ideias. Pouquíssima gente quer isso de volta e, por saber bem a dimensão dessa rejeição, Lula deseja de todas as formas esconder Dilma Rousseff e seu governo.

A quem queira diminuir ou relativizar a ojeriza do eleitorado com a gestão de Dilma no Palácio do Planalto, basta lembrar o resultado das eleições de 2018 para o Senado em Minas Gerais. Mesmo com toda a militância do PT dizendo que Dilma Rousseff tinha sofrido um golpe – assim os petistas qualificam atos constitucionais do Congresso, quando não lhes agradam – e com a legenda investindo muitos recursos financeiros na campanha, a ex-presidente obteve dos mineiros um humilhante quarto lugar. Portanto, Dilma é um óbvio fardo eleitoral, mesmo para um veterano prestidigitador como Lula.

Questionado nessa semana sobre o papel de Dilma em um eventual novo governo do PT, Lula não teve dó de sua criatura, atribuindo-lhe a mais cabal irrelevância. “O tempo passou. Tem muita gente nova no pedaço”, disse, em entrevista à Rádio CBN Vale. Se o tempo passou para Dilma, passou também para Lula. O País precisa de gente com outra estatura moral, que não tenha de esconder seu passado nem suas criaturas.

DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA É DE US$ 355,733 BILHÕES DE DÓLARES

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