domingo, 28 de fevereiro de 2021

EMPRENDEDORISMO - ONLINE TO OFFLINE

 

DESCUBRA A FORÇA DA INTEGRAÇÃO ONLINE TO OFFLINE NO MARKETING!

Maria Teresa Lopes

Mas, o que significa a integração online to offline? Em poucas palavras, se você se interessou, pesquisou e comprou algum produto pela internet e foi retirar na loja, fez parte dessa estratégia. Assim, o O2O – ou online to offline – serve para identificar compras que mesclam tanto o meio digital quanto o físico.

O que algumas empresas não sabem, no entanto, é que essa integração é mais do que positiva para as vendas. Isso porque, devido a forte presença do online no dia a dia das pessoas, é possível que toda a relação com a marca seja desenvolvida antes mesmo delas pensarem em adquirir um produto.

Então, se você deseja entender mais sobre todo o funcionamento da estratégia online to offline, acompanhe o artigo abaixo!

Online to offline: como aumentar as vendas?

A união do online to offline pode ser muito válida, influenciando os usuários à compra pela internet e efetivando essa ação na loja. Mas, o que isso quer dizer? O cliente terá contato com o seu e-commerce e poderá acompanhar de perto os seus produtos, além disso, poderá ir até a loja e buscar por outras opções.

Oferecemos aos lojistas do Vale do Aço o nosso Marketplace e E-Commerce para divulgar a sua empresa, seus produtos e promoções na nossa Plataforma Comercial Valeon que está preparada para promover as suas empresas na internet através das mídias sociais existentes.

Para que você compreenda melhor como aumentar as vendas através do online to offline, selecionamos as principais ações para ter sucesso nessa estratégia:

Entenda o seu consumidor

Hoje em dia, com estudos e dados assertivos, é possível entender exatamente quem é o seu consumidor. Essa ação, no entanto, não é exclusiva do online to offline.

O seu negócio, provavelmente, tem um público específico e você deve entender as suas dores e desejos. É muito importante mapear as ações dos seus usuários e otimizar pontos de interesse dos seus clientes que sua empresa ainda não atende. É necessário fugir do comum e evitar mapear os usuários pelos mesmos padrões de sempre: gênero, idade, ocupação. Procure entender o que o seu cliente precisa que você ainda não faz.

O foco está no cliente, não na venda

O cliente só comprará se estiver satisfeito com a sua empresa, caso tenha se sentido bem no ambiente da sua loja ou se teve uma boa experiência no seu e-commerce. Então, antes de voltar seus esforços totalmente para a conversão, foque antes em quem vai realizá-la.

Sua empresa está oferecendo o que seu cliente realmente quer? Use os dados para mapear a trajetória do cliente e as demandas recorrentes. Retire o máximo de obstáculos do caminho do usuário, deixe-o livre para fazer as suas escolhas, seja online ou pela loja física. O objetivo aqui é eliminar qualquer empecilho que torne a experiência de compra fadada ao fracasso.

Para o online to offline, é fundamental que não haja discrepância entre a facilidade de compra online e na loja física e, muito menos, que haja uma comunicação diferente.

Use múltiplos canais

Se você analisou bem a sua buyer persona, provavelmente sabe em qual rede ela mais se encontra. Então, você utilizará essa mesma rede para chegar até ela, seja através de anúncios ou posts orgânicos. Dê prioridade para as estratégias focadas no tempo ocioso do seu público, como no caso das redes sociais.

Ofereça opções

É importante que você indique diversas opções para o seu cliente. Na estratégia online to offline, o cliente escolhe o que mais convém a ele, seja comprar virtualmente ou não. Assim, ofereça opções para facilitar que o usuário faça aquilo que ele deseja. Utilize da isenção de frete, oportunidade de testar na loja, compra pelo aplicativo e recebimento em casa, etc.

Acompanhe toda a jornada

A jornada do cliente é individual e sabemos que cada usuário toma a sua decisão no momento em que mais lhe convém. No entanto, é possível que você ajude o consumidor a realizar a compra, mesmo que ela já tenha se decidido antes de chegar à sua loja.

Os clientes que fazem parte da estratégia online to offline já pesquisaram em casa e, por isso, têm noções abrangentes sobre o produto e sobre o que desejam. Dessa forma, é importante que o consumidor tenha acesso a informações relevantes e de qualidade.

Devidamente nutrido, ele poderá ser encaminhado para a próxima etapa da jornada e, assim, realizar a compra de forma muito mais agradável.

Organize sua loja física

omnichannel veio para ficar e sabemos disso! No entanto, abandonar a sua loja física pode ser um grande erro e a estratégia online to offline está aqui para mostrar isso.

A sua loja física deve estar preparada para atrair os clientes e otimizar os processos, e isso tudo deve ser integrado aos canais online. Dessa forma, unifique a comunicação e a experiência do usuário.

O atendimento e a sua loja devem ser um cartão de visita e mostrar aos clientes que a experiência presencial também é muito válida. Além disso, é importante evidenciar ao cliente que ele tem total liberdade para a compra tanto online quanto offline.

E então? Entendeu melhor como funciona toda a integração online to offline? Se ficou alguma dúvida, nos contate!

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BOLSONARO INTERFERE NA ECONOMIA BRASILEIRA

 

‘Velho’ Bolsonaro ‘renasce’ com intervenção na economia

 José Fucs – Jornal Estadão

Desde a sua posse, em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro deixou para trás em várias ocasiões o receituário liberal pregado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que ele procurou capitalizar em seu favor na campanha eleitoral. Confira a seguir uma série de posições antiliberais adotadas por Bolsonaro em seus 26 meses no governo, que deixam à mostra a velha mentalidade nacional-desenvolvimentista e corporativista que marcou a sua trajetória política.

Abertura econômica

Em vez de promover a abertura ampla e irrestrita prometida por Guedes, Bolsonaro cedeu ao lobby das entidades ligadas à indústria, adiando por prazo indeterminado o corte generalizado de tarifas de importação. Nos últimos meses, passou a cogitar a recriação do antigo Ministério do Desenvolvimento (MDIC) – cuja incorporação ao Ministério da Economia pra considerada essencial por Guedes para viabilizar a abertura longe da pressão dos empresários – com o objetivo de atender a interesses políticos e corporativos.

Preços dos combustíveis

Irritado com os aumentos nos preços dos combustíveis, Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, gerando muita desconfiança no mercado sobre interferências na companhia. Além disso, defendeu uma suposta “função social” das estatais, em vez de apoiar uma gestão profissional, que possa gerar mais dividendos para o governo aplicar em saúde, educação e segurança.

Banco do Brasil

Incomodado com a decisão da instituição de fechar agências e abrir um programa de demissão voluntária para reduzir custos, Bolsonaro ameaçou demitir seu presidente, André Brandão. Embora a ameaça não se tenha concretizado, Brandão acabou colocando o cargo à disposição na sexta-feira, 25, e deverá deixar o governo.

Ceagesp

Apesar de a privatização da Ceagesp (Cia. de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) ter sido incluída no PND (Plano Nacional de Desestatização)em seu governo, Bolsonaro disse recentemente, numa visita à empresa, que, enquanto for presidente, “nenhum rato vai sucatear isso aqui para privatizar para os seus amigos”.

Reforma administrativa

Por decisão de Bolsonaro, a proposta enviada pelo governo ao Congresso para mudar o RH do Estado, excluiu os atuais servidores. Também ficaram de fora militares, parlamentares, magistrados, promotores e procuradores.

Supermercados

Numa reação que fez lembrar os tempos do Plano Cruzado, em 1986, alvo de duras críticas de Paulo Guedes na época, Bolsonaro apelou ao patriotismo dos donos de supermercados para conter a inflação nos alimentos, dando a entender que os preços cobrados nas gôndolas dependem do altruísmo alheio e não das forças de mercado.

Energia solar

Em oposição ao que defendia a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Bolsonaro impediu a revisão dos subsídios concedidos a quem produz energia solar para uso próprio, uma benesse cujo custo alcançará R$ 34 bilhões até 2035, segundo o Ministério da Economia.

Banana do Equador

A pedido de Bolsonaro, o Ministério da Agricultura restringiu a importação de banana do Equador para proteger produtores nacionais, ao revogar duas Instruções Normativas que definiam regras fitossanitárias para importação do produto.

Leite em pó

Atendendo a lobby do agronegócio, Bolsonaro anunciou o aumento do imposto sobre importações de leite em pó, para compensar o corte do imposto antidumping, de até 14,8%, promovido pelo Ministério da Economia.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS INTERFEREM NOS SERVIÇOS PÚBLICOS NO BRASIL

Como as eleições municipais afetam os serviços públicos no Brasil

 BBCNEWS

O que acontece com os serviços públicos no Brasil alguns meses antes e pouco depois das eleições municipais?

O acesso à saúde pública piora – e fica ainda mais precário caso o candidato à reeleição perca a disputa -, incumbentes tentam contornar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Lei das Eleições para empregar possíveis aliados, e demissões e contratações em massa provocam caos na prestação de serviços, além de servirem para “ajustar” as contas dos municípios.

Essas foram algumas das descobertas apresentadas pelo pesquisador Guillermo Toral em sua tese de doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, na qual o acadêmico espanhol analisou, entre outros temas, como políticas dinâmicas em quatro eleições municipais afetaram serviços públicos, em especial a saúde, entre 2002 e 2016.

“Estamos acostumados com a dinâmica de que na campanha o político fica mais responsável. Então, a minha premissa era de que antes e durante a eleição a prestação de serviços de saúde melhoraria. Na verdade, os dados mostram que ela piora”, diz à BBC News Brasil Toral, atualmente professor assistente na Universidade Vanderbilt (EUA).

Pela Constituição de 1988, compete aos municípios oferecer (com a ajuda dos Estados e da União) saúde básica e educação a seus habitantes. As prefeituras devem gastar no mínimo 40% de seus recursos nestes dois setores (15% para saúde e 25% na educação), que costumam figurar entre os mais importantes para a população nas eleições municipais.

Ainda assim, o pesquisador identificou que durante o período eleitoral o número de consultas de pré-natal diminuiu, em média, 2,6% em setembro e 10% em dezembro, por exemplo.

Quando o prefeito perdeu, a situação piorou: consultas de pré-natal caíram 13,7% no último trimestre do mandato (e seguiram em queda de 14,7% no primeiro trimestre da nova administração); exames de pré-natal diminuíram 13,7% no período; e consultas médicas com bebês e crianças despencaram 19,3% e 23,3%, respectivamente, assim como visitas de enfermeiros (queda de 24,9%) e médicos (-39%). Essas baixas não foram compensadas no início da gestão seguinte.

Toral optou por dados de saúde materna e da criança porque eles envolvem consultas não eletivas, sendo assim mais simples estabelecer uma relação entre oferta e acesso a serviços. O Ministério da Saúde recomenda ao menos sete consultas de rotina no primeiro ano de vida da criança – e outras duas no segundo ano – para avaliar o seu desenvolvimento.

Caso o número de consultas caia, argumenta Toral, não se trata de as crianças estarem “mais saudáveis ou porque os pais resolveram não levá-las à Unidade Básica de Saúde” (UBS). “Há um calendário de consultas para acompanhá-las. Essas quedas falam sim de um efeito negativo na prestação de serviço de saúde.”

Para chegar a essas conclusões, Toral analisou dados do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema de Informação da Atenção Básica à Saúde (SIAB) entre 2004 e 2015, e informações anuais sobre contratações/demissões de milhões de funcionários públicos municipais (apenas em 2016, por exemplo, foram quase 6 milhões de contratos) em 4.909 municípios (661 foram descartados por falta de dados) pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia.

Empregadores de todo o país, incluindo governos municipais, precisam inserir os dados de seus funcionários nesta plataforma, como o tipo de contrato e nível de educação.

O pesquisador ainda se baseou em mais de 120 entrevistas em profundidade com promotores, juízes, secretários municipais de Educação, Saúde, Assistência Social, gestores de UBS, entre outros atores, em sete Estados durante 18 meses de trabalho de campo.

Então porque o sistema de saúde sofre durante as eleições?

Há uma série de fatores envolvidos, mas utilizando métodos estatísticos avançados que buscam estabelecer conexões causais entre diversas variáveis (por exemplo, derrota nas eleições com o aumento de demissões de servidores), o acadêmico identificou uma relação forte com a rotatividade de funcionários públicos durante o período eleitoral, uma vez que prefeitos possuem liberdade significativa para definir contratações e demissões de empregados, incluindo professores e médicos.

Vai e vem de servidores

A tese mostra que pouco antes do período eleitoral, entre junho e julho, há “ciclos significativos” na contratação e demissão de funcionários municipais. Essa seria uma estratégia dos prefeitos para contornar restrições legais aplicadas nos últimos dois trimestres do mandato para coibir o uso político de cargos públicos durante o pleito.

A Lei das Eleições proíbe a contratação, nomeação, demissão sem justa causa e a transferência e exoneração de servidores do município nos três meses anteriores à data da eleição. Já a LRF veda o aumento da despesa com pessoal entre 5 de julho e 31 de dezembro do último ano da gestão.

A rotatividade de empregos é mais presente em contratos temporários – que representam um terço do funcionalismo público municipal, segundo Toral -, porque são mais simples de manipular do que acordos de servidores concursados. Essa movimentação, diz a tese, aparenta ser “muito mais forte” quando os prefeitos “estão expostos a níveis mais elevados de competição eleitoral”.

As contratações aumentam 20,8% em junho em um ano eleitoral na comparação com o mesmo período de um ano sem eleições (alta de 15,1% entre não concursados e 8,6% para concursados). Por outro lado, há uma queda de 34,8% nas contratações em agosto e 12,6% em dezembro.

Em janeiro, já na nova gestão e sem congelamento de pessoal, as admissões sobem 143% comparadas ao mesmo período sem eleição. Essa trajetória se mantém em fevereiro (22,1%) e março (27,6%).

Os dados sugerem que essa rotatividade é “de natureza clientelística”, uma vez que trabalhadores “de baixa escolaridade” (e menor renda) “têm maior probabilidade de serem contratados e demitidos na época das eleições” do que no mesmo período não eleitoral.

Durante o congelamento, entre agosto e novembro, as contratações tendem a ser de níveis mais elevados de instrução – que seriam mais fáceis de se justificar -, e novamente mais baixos em janeiro e fevereiro.

“Não é segredo que o emprego público é um recurso político importante. Quando você vai ao interior, ouve-se muito essa ideia de que ‘aqui a política é bem intensa’ e ‘a gestão não pode ser separada da política’. Há a ideia de que o emprego público é um recurso político que de algum jeito está muito polarizado”, explica Toral.

As demissões seguem um padrão semelhante ao das contratações. As saídas diminuem na fase eleitoral e sobem após o pleito, “sugerindo que os prefeitos tentam compensar a inflação pré-eleitoral com demissões” para “ajustar” as finanças do ano fiscal.

Em agosto de um ano eleitoral, por exemplo, há 14,3% menos demissões. Mas as saídas aumentam 44,4% em outubro e 90,9% em dezembro. As demissões no fim do mandato afetam mais os funcionários com menor escolaridade.

O pesquisador ressalva que cargos de confiança não estão sujeitos ao congelamento de pessoal e que algumas saídas são de servidores aposentados ou falecidos e de funcionários que foram candidatos nas eleições e precisam deixar suas vagas, mas as saídas “devem-se principalmente às ações dos empregadores”.

Rotatividade de funcionários causa caos no sistema de saúde

Quando o candidato à reeleição perdeu a disputa, a situação na saúde se deteriorou. Aqui também aumentaram as demissões e contratações, levando a interrupções na entrega de serviços públicos “devido a essas mudanças burocráticas e ao enfraquecimento da responsabilidade intra-governo nos meses após a eleição”.Pesquisa mostra que quando o candidato à reeleição perde a disputa, a situação na saúde se deteriora© Getty Images Pesquisa mostra que quando o candidato à reeleição perde a disputa, a situação na saúde se deteriora

A dispensa de temporários subiu 42% no último trimestre do ano eleitoral quando o prefeito perdeu, contra 26,2% quando ganhou.

As contratações de temporários nos primeiros três meses da gestão do novo prefeito subiram, em média, 99,2% comparadas às daqueles municípios onde o titular foi reeleito.

“Esses resultados estão de acordo com pesquisas anteriores que mostram que, no Brasil, os vencedores das eleições usam nomeações burocráticas para recompensar seus apoiadores”, diz a tese.

De acordo com Toral, o declínio na oferta de serviços de saúde pode ser provocado por diversos fatores, incluindo a rotatividade de funcionários especializados (médicos e enfermeiros, por exemplo), a menor responsabilização/monitoramento de servidores após a derrota do prefeito, e outras medidas que afetam o trabalho dos profissionais nestes cerca de três meses em que o derrotado ainda tem poder de decisão e a posse do novo governo.

“[Os prefeitos] podem mexer com a contratação de insumos importantes à prestação de serviços. Por exemplo, um entrevistado me falou que se o prefeito perde, eles cancelam os contratos de transporte e a gente não tem como ir para zona rural”, explica.

Para chegar às conclusões de como o acesso à saúde piorou quando o prefeito foi vencido nas urnas, o pesquisador comparou os municípios nos quais o incumbente é reeleito por uma pequena margem e aqueles onde o prefeito perde por pouco.

Essa escolha metodológica, explica Toral, ocorreu porque uma comparação simples entre todos os candidatos seria “tendenciosa”, pois prefeitos reeleitos facilmente tendem a gerir melhor a cidade. E aqueles que antecipam uma derrota ampla poderiam realizar uma rotatividade de servidores maior e a prestação de serviços públicos poderia ser menor antes da eleição.

Derrotados nas urnas se “vingam” dos vencedores

Quando perdem, os prefeitos ainda têm poder para afetar a gestão do candidato vencedor. E para isso podem utilizar os contratos de concursados, que apesar de estarem mais isolados de elementos políticos não estão imunes a eles. Geralmente, os prefeitos decidem quantos servidores efetivos aprovados em concursos serão convocados e quando.

Toral argumenta que os prefeitos derrotados “fazem uso estratégico de seu arbítrio nas nomeações burocráticas, em resposta a seus incentivos políticos únicos”. Ou seja, costumam contratar concursados no fim do mandato para limitar a capacidade fiscal da nova gestão de empregar seus próprios apoiadores em cargos temporários.

As análises das entrevistas qualitativas, diz o pesquisador, sugerem que os derrotados usam demissões de temporários no fim do mandato para “limpar as contas” e reduzir as chances de processos sobre possíveis atos ilícitos quando o novo titular tiver acesso aos dados da administração anterior.Segundo pesquisadores, candidato que perde a reeleição se "vinga" do adversário, reduzindo o caixa na nova gestão© Rovena Rosa/Agência Brasil Segundo pesquisadores, candidato que perde a reeleição se “vinga” do adversário, reduzindo o caixa na nova gestão

Limitar o impacto negativo das eleições municipais na oferta de serviços públicos à população exige abordagens mais criativas, como encurtar o tempo entre a data do pleito e a posse do vencedor. “Não se justifica ter um período tão longo. Para a imensa maioria dos municípios há quase três meses onde uma pessoa que está de saída segue tomando decisões”, diz Toral.

“E isso pode ferir tanto por ação quanto por omissão porque parte do trabalho dos secretários e do prefeito é de supervisão do serviço público. Mesmo se eles não fazem nada, isso pode ferir a saúde, a educação, etc”, completa.

 

SATÉLITE BRASILEIRO SERÁ LANÇADO HOJE PARA VIGIAR A AMAZÔNIA

 

Satélite brasileiro Amazonia 1 será lançado na madrugada deste domingo

 Da Redação – VEJA

O foguete que colocará em órbita o Amazonia 1, primeiro satélite de observação da Terra totalmente projetado e operado pelo Brasil, será lançado na madrugada deste domingo, 28, à 1h54 (horário de Brasília). O lançamento, a partir do Satish Dhawan Space Centre (Shar), em Sriharikota, na Índia, está previsto para ocorrer à 1h54, horário de Brasília. A transmissão ao vivo terá início às 23h50, no canal do Inpe no Youtube e no canal do MCTI na mesma plataforma, com a participação de especialistas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Agência Espacial Brasileira (AEB). Os vídeos serão gravados e ficarão disponíveis para o público após o evento. O Amazonia 1 será colocado em órbita pela missão PSLV-C51, da agência espacial indiana Indian Space Research Organisation (ISRO). Com seis quilômetros de fios e 14 mil conexões elétricas, o satélite integra a Missão Amazonia 1, que tem como meta fornecer dados para observar e monitorar o desmatamento, especialmente na região amazônica, além de monitorar a agricultura no país. De acordo com o instituto, o novo satélite observará também  região costeira,  reservatórios de água e florestas (naturais e cultivadas), além de possíveis desastres ambientais.

BRASILEIROS IMIGRANTES NOS EUA PODEM SE BENEFICAR DE NOVA LEI DE IMIGRAÇÃO

 

Reforma de Biden pode beneficiar milhares de imigrantes brasileiros

Com proposta elaborada pelo presidente americano, maioria dos 11 milhões de indocumentados que vive nos EUA ganharia um caminho para cidadania; obtenção de visto de trabalho e de green card também poderia ser facilitada

Thaís Ferraz, Beatriz Bulla e João Paulo dos Santos, especial para o Estadão

Apresentada ao Congresso na semana passada, a ambiciosa proposta de reforma migratória do presidente Joe Biden pode beneficiar milhares de imigrantes brasileiros, legais ou indocumentados, que já estão nos EUA ou ainda pretendem ir. A nova legislação, chamada de “Ato de Cidadania dos EUA de 2021”, propõe um caminho de oito anos para a legalização de imigrantes que vivem no país.

A proposta também facilitaria a obtenção de green card e reduziria o caminho para a cidadania para os “dreamers”, como são chamados os imigrantes sem documentos que chegaram aos EUA ainda crianças, acompanhando os pais.

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Solicitante de asilo abraça voluntária de igreja ao chegar a Brownsville, no Texas; muitos imigrantes aguardavam no México para pode entrar Foto: John Moore/Getty Images/AFP

O governo americano estima que ao menos 11 milhões de pessoas vivam ilegalmente no país. Dados mais recentes do Pew Research Center indicam que, em 2017, pelo menos 160 mil brasileiros estavam ilegais. Gabriela Ribeiro, de 28 anos, chegou a Newark, em New Jersey, em 2019. Formada em administração, vendeu a empresa que tinha com o marido e viajou para os EUA. “Não viemos para cá pensando em ficar ilegalmente. Queríamos ficar seis meses, estender nosso visto por mais seis meses e ver como seria”, conta. Mas, uma vez no país, o casal avaliou que não era vantajoso voltar.

Moradores de uma “cidade-santuário”, onde a legislação local protege a comunidade de imigrantes ao bloquear o repasse de informações de agências locais ao ICE, o serviço de imigração federal, Gabriela e o marido levam uma vida normal, trabalham e pagam impostos. Ainda assim, ela vê uma mudança significativa. 

“Com Trump, não havia esperança de legalização, pois não existia nenhuma medida a ser votada que fosse a favor dos imigrantes. E era difícil conviver com isso, porque tenho família no Brasil que desejo muito rever”, conta. 

Embora os critérios de elegibilidade para o processo de legalização ainda não estejam claros, ela pretende se candidatar. “Desde que Biden assumiu a presidência, já venho me preparando para tentar a legalização assim que a reforma for aprovada”, diz. “Minha documentação está toda atualizada, as taxas estão em dia e já tenho uma reserva financeira para este fim, como me orientou um advogado de imigração.”

Heloísa Pereira, que também vive em New Jersey, tinha 42 anos quando foi demitida de um cargo administrativo na Fiat, em 2002, e se mudou para os EUA. “A única forma de me legalizar seria através de um casamento com um cidadão americano. Mas não aconteceu de eu me casar de verdade e não me caso se for de mentira. Em New Jersey, se paga US$ 20 mil por um casamento falso. Eu não tenho coragem de mentir para o juiz”, diz.

Em Newark, onde vive, e em Nova York, onde trabalha, ambas cidades-santuário, Heloísa diz que a rotina de imigrante indocumentada é como qualquer outra. Trabalha de baby-sitter de famílias ricas, paga impostos, tem crédito no banco e vai ao hospital quando precisa sem medo de deportação. 

A maior mudança que a legalização de status deve trazer será a chance de sair e entrar nos EUA livremente. Há 18 anos, desde que chegou, ela nunca mais voltou a Minas Gerais para visitar a família. “A legalização será nosso passaporte para a liberdade de ir e vir para outros países. Minha situação é privilegiada, porque tenho irmãs e sobrinhos que têm visto americano e podem me visitar. Mas a maioria dos imigrantes deixou filho, pai e mãe para trás, de famílias mais pobres, e não podem nunca mais ver a família. Para eles, é um desespero.” 

Desde que chegou, Heloísa disse já ter visto outros governos, como o do republicano George W. Bush, tentarem reformar o sistema de imigração e legalizar a vida dos imigrantes. Por isso, tem um otimismo moderado com a proposta de Biden. 

“Honestamente? Acredito que alguma coisa vai ser feita, mas a proposta é muito ambiciosa. É preciso de apoio no Congresso. Sei que ele tem de propor um plano bem ambicioso para aprovar algo menor, porque é assim a política. Mas acho difícil que seja uma anistia tão ampla quanto prometem.”

Se a reforma for aprovada, imigrantes na situação de Gabriela e Heloísa poderão receber um green card após cinco anos, se cumprirem alguns requisitos, como verificação de antecedentes. Após esta etapa, terão direito a solicitar a cidadania em três anos.

Beneficiários do Daca participam de evento no Congresso dos EUA para pedir a aprovação de lei para evitar a deportação de cerca de 800 mil jovens beneficiados pelo programa
Beneficiários do Daca participam de evento no Congresso dos EUA para pedir a aprovação de lei para evitar a deportação de cerca de 800 mil jovens beneficiados pelo programa Foto: EFE/SHAWN THEW

Imigrantes sob a proteção do Daca (Ação Adiada para Chegadas na Infância) também seriam beneficiados com a reforma. Implementado em 2012 pelo então presidente Barack Obama, o programa regulariza temporariamente imigrantes em situação ilegal que chegaram aos EUA quando eram menores, concedendo vistos de estadia e trabalho por dois anos, que podem ser renovados. De acordo com o governo americano, 5.780 brasileiros estão sob status de proteção Daca.

João Paulo Machado Silva, de 25 anos, é um deles. Ele chegou aos EUA quando tinha 8 anos. “Ser dreamer me ajudou muito, porque me permitiu estudar no país e dirigir, mas há um lado negativo: não posso trabalhar em cargos públicos nem viajar para fora dos EUA”, disse.

Se a reforma for aprovada, João Paulo e outros dreamers serão imediatamente elegíveis para solicitar um green card e terão um caminho de três anos para a cidadania.

Estudante de direito, João Paulo está otimista com a perspectiva. “Muitas pessoas, como meus pais, estão aqui há muitos anos e não conseguem nem ver a família há muito tempo”, conta. “Todos os imigrantes estão contando (com o novo governo) para se tornarem cidadãos do país”.

Especialistas ouvidos pelo Estadão dizem acreditar que a reforma também possa facilitar a obtenção de vistos de trabalho e de investidor. “Mesmo as pessoas que são reconhecidas como portadoras de alto conhecimento técnico vinham encontrando muitas dificuldades para imigrar nos últimos quatro anos”, afirma Carolina Carnaúba, diretora da PwC Brasil, acrescentando que a pandemia tornou o processo ainda mais difícil.

Hoje, o número de vistos de imigração com base em emprego é limitado a 140 mil por ano. A proposta de Biden, que havia sinalizado durante a campanha o desejo de expandir o número de vistos de alta qualificação e acabar com os limites vigentes no país, abre caminho para recuperar vistos não utilizados, reduzir longas filas de espera e eliminar limites de visto por país.

Biden também indicou a possibilidade de facilitar o caminho de recém-formados em programas de doutorado STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) nos EUA, e de fornecer autorização de trabalho para os dependentes de portadores de vistos H-1B, que permite que empregadores americanos contratem temporariamente trabalhadores estrangeiros em ocupações especializadas.

“Ainda não sabemos se existirão outras regras que facilitam investimentos estrangeiros nos EUA ou um status diferencial para mão de obra qualificada, mas há uma predisposição mais favorável ao imigrante do que nos últimos quatro anos”, afirma Carnaúba.

Longo caminho

Com a proposta, Biden dá um passo em direção a uma de suas promessas mais importantes, a modernização do sistema de imigração americano. Se aprovado, o projeto fará a maior mudança na lei de imigração em mais de três décadas – a última, que beneficiou 3 milhões de imigrantes ilegais, aconteceu em 1986, durante o mandato de Ronald Reagan.

A proposta sinaliza uma mudança radical em relação a Trump – que, em quatro anos de mandato, assinou mais de 400 ações executivas que endureceram as regras de imigração.  Também é um contraste significativo com o governo Obama, do qual Biden foi vice, duramente criticado por deportar mais de 3 milhões de imigrantes e não abordar a imigração quando os democratas controlavam a Câmara dos Deputados, o Senado e a Casa Branca.

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Criança em centro de detenção de imigrantes em Tucson, Arizona  Foto: Mandel Ngan/AFP

“Os governos Obama e Trump não foram governos de extrema ruptura, como muita gente pensa”, explica o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Arthur Murta. “Com Trump vimos recrudescimento, mas a administração de Obama não foi pró-imigração. Nunca tantas deportações foram feitas como naquele período”, afirma.

Para Murta,  uma das principais diferenças entre Obama e Trump era o discurso. “Obama não tinha retórica anti-imigração, mas tinha políticas anti-imigração. Já Trump tinha os dois”, afirma. Nesse sentido, a mensagem de Biden é clara. “Com as medidas tomadas até agora, Biden quer mostrar que sua retórica – 100% a favor da imigração – terá lastro”, afirma. “Se essa mensagem vai se converter em uma política de fato, ainda é cedo para dizer”.

A reforma não tem um caminho tão fácil pela frente. Embora os democratas tenham maioria na Câmara e o Senado esteja dividido em 50-50 com desempate nas mãos da vice-presidente, Kamala Harris, a aprovação do projeto exige a conversão de 10 republicanos.

Para Carolina Carnaúba, diretora da PwC Brasil, medidas focadas em vistos de emprego podem dar aos democratas poder de barganha no Congresso. “O Senado tem uma posição diferente da Câmara, onde Biden tem uma maioria ampla. Se por um lado a Câmara tem uma visão mais humanitária, por outro o Senado deve trazer a questão de reconhecimento de obra qualificada”, afirma. “Os senadores devem olhar com perspectiva mais favorável às políticas migratórias que visam vistos de trabalho”

Para o advogado Felipe Alexandre, fundador da AG Immigration, alguns pontos são mais complexos. “Hoje, se um imigrante tem registro criminal, mesmo que ele tenha feito tudo para se reabilitar, isso continua constando na ficha e pode resultar em deportação”, explica. “A proposta de lei, por outro lado, prevê que se a pessoa é condenada, mas passa por um programa de reabilitação, esse registro seria anulado. É uma medida política, e com certeza a oposição vai lutar contra ela”.

Outra medida que pode gerar polêmica, acredita Felipe Alexandre, diz respeito à ampliação de fatores que serão analisados na hora de uma decisão. “A proposta quer dar mais discrição para que oficiais e juízes de imigração considerem mais circunstâncias”, explica. “Se aprovada, eles devem considerar fatores como a ausência de registro criminal ou a gravidade do crime cometido, quais são os laços do imigrante com a comunidade, se ele trabalha e paga impostos, se tem família nos EUA”.

Para o advogado, o tempo necessário para a aprovação da reforma vai depender “do espírito de cooperação”. “Têm sido quatro anos bem polarizados. Se esse espírito continuar, nada passará”, afirma. “Os dois lados terão de conversar e perceber que a reforma vai beneficiar tanto democratas quanto republicanos. Não é impossível, não é super difícil – se formos analisar, o impeachment, que era muito mais polêmico, mostrou que é possível ter diálogo – mas é um desafio”.

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Homem cruza o Rio Suchiate, que divide México e Guatemala. Foto: Isaac Guzman/ AFP

Três perguntas para…

Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP

1. Qual foi o tamanho do impacto da transição do governo Obama para o governo Trump, em termos de políticas migratórias? E qual está deve ser o impacto dessa transição entre Trump e Biden?

A transição entre os governos Obama e Trump não foi de extrema ruptura, como muita gente pensa. Durante o governo Trump, é claro, houve recrudescimento de políticas contra imigração, muitas violações de direitos humanos, mas o governo de Obama também não foi um governo pró-imigração. Nunca tantas deportações foram feitas como durante o governo Obama.

Com a repercussão negativa, Obama iniciou uma política de ajuda internacional para os países da América Central, com foco nos países do triângulo norte, Honduras, Guatemala e El Salvador, depois de muito tempo sem nenhuma política voltada às causas raízes da imigarção, como a violência, a desigualdade e a corrupção que levam as pessoas a saírem desses países. E é importante lembrar que é desses países do triângulo norte, que foram profundamente explorados pelas empresas norte-americanas no início do século XX, que saem a maioria dos imigrantes para os EUA. Essa estrutura toda é derivada de outras ações históricas dos EUA na região.

2. A administração Obama, com Biden como vice, adotou algumas medidas duras – como a deportação de 3 milhões de pessoas, a abertura de processos contra milhares de imigrantes e o aumento no número de detenções de famílias na fronteira sul. Como presidente, Biden conseguirá se livrar desse legado?

A política do governo Obama era também uma política de deportação, que ele tentou reverter com o pacote de ajuda externa. O governo Trump endureceu o que já vinha acontecendo, principalmente porque adotou uma retórica anti-imigração. A retórica de Obama não era anti-imigração, mas as políticas eram. Trump tinha as duas.

O governo Biden, por sua vez, já apresentou uma mudança: a retórica, que agora é 100% pró-migrante. No entanto, ainda é muito cedo para falar sobre mudança de política.

As políticas de Trump também deixaram um legado muito negativo. Biden já reverteu as medidas mais duras, mas muitos imigrantes ficarão num limbo jurídico. Biden terá trabalho para resolver todos os problemas que foram criados pela administração Trump.

3. Quais mensagens passam as primeiras decisões de Biden sobre a imigração – principalmente a assinatura das ações executivas em janeiro e a proposta apresentada ao Congresso na semana passada?

Vejo o governo Biden como um governo que teve uma mudança retórica importante, positiva, porque hoje o discurso é muito mais pró-imigração. Mas ainda não podemos chamar o governo Biden de pró-imigração. É cedo. 

Algo que Biden ainda não deixou claro é qual será o papel do México nisso. O governo Trump teve uma postura devastadora em relação ao México, ameaçando aumentar tarifas se o país não freasse caravanas de migrantes antes da fronteira com os EUA. Era quase um sistema de retaliação cruzada, e o México se tornou um país-chave durante toda essa crise migratória, principalmente em 2019. É importante esperar para ver qual será a posição do governo Biden em relação ao México. São muitas questões em aberto.

INFRAESTRUTURA NÃO TEM AS VERBAS QUE PRECISA TER PARA TOCAR AS OBRAS

 

‘Prestígio’ de Tarcísio de Freitas não leva verba à infraestrutura

Ministro costuma ciceronear o presidente Jair Bolsonaro em agendas de obras de rodovias, mas montante para investimentos da pasta segue estagnado

André Shalders, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é figura frequente ao lado do presidente Jair Bolsonaro em eventos presenciais e lives nas redes sociais. Com a fama de “rei do asfalto”, costuma ciceronear o chefe em inaugurações de obras de rodovias. Em janeiro, no interior da Bahia, Bolsonaro disse que Tarcísio era “a figura mais importante” da administração. As contas da pasta, no entanto, mostram que a Infraestrutura não é a prioridade na hora de liberar verbas do Orçamento e o ministro se sobressai na equipe de governo pelas obras de pavimentação de estradas.

O montante disponível para investimentos no Ministério da Infraestrutura segue estagnado desde o começo da gestão Bolsonaro. Tanto em comparação com o disponível para a área no governo anterior, de Michel Temer (MDB), quanto em proporção do total investido pelo Executivo. Enquanto bilhões de reais de fundos ligados ao ministério são retidos (contingenciados) para diminuir o déficit da União, áreas como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), autarquia ligada ao ministério, reclamam de falta de verbas para pagar fornecedores.

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Tarcísio de Freitas, da Infraestrurtura; a ‘figura mais importante’ da administração, segundo Bolsonaro Foto: Ricardo Botelho/MInfra

Desde que Tarcísio de Freitas assumiu a Infraestrutura, a pasta nunca recuperou completamente o volume de recursos que teve durante as gestões de seus antecessores, Maurício Quintella Lessa (2016-2018) e Valter Casimiro Silveira (2018-2019), quando o órgão se chamava Ministério dos Transportes.

Em 2020, a pasta empenhou R$ 8,1 bilhões em investimentos. A despeito da pandemia do novo coronavírus, é um valor maior que o empenhado em 2019 (R$ 7,8 bilhões). É menos, porém, do que os valores empenhados antes da chegada de Jair Bolsonaro ao poder: em 2018, foram R$ 10,6 bilhões em investimentos; e R$ 13,1 bilhões em 2017. Em 2016, ano marcado pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e pela troca de comando no governo, o montante fechou em R$ 9,9 bilhões.

Os valores foram levantados pela reportagem usando a ferramenta Siga Brasil, do Senado, e corrigidos pela inflação. Esses índices e valores foram apresentados ao ministério para comentários. A pasta não questionou os dados e destacou que tem buscado “otimizar” o uso dos recursos públicos.

Assim como no Ministério da Infraestrutura, o total destinado aos investimentos no Executivo como um todo vem caindo desde 2016 em valores reais. Mesmo assim, sob Bolsonaro, a pasta foi responsável por uma fatia menor desse dinheiro. Em 2017 e 2018, o orçamento autorizado para investimentos no antigo Ministério dos Transportes correspondeu a 19% do total do Poder Executivo. Já na gestão atual, em 2019 e 2020, o porcentual ficou em 17,5% e 18,1%, respectivamente.

O Ministério da Infraestrutura só assumiu este nome em 2019 – antes, era chamado de Ministério dos Transportes. A configuração atual da pasta surgiu em 2016, já sob Temer, quando ela absorveu as antigas secretarias de Portos e de Aviação Civil (a reportagem analisou números a partir daquele ano, quando estava consolidada a estrutura atual da pasta). No governo Dilma, as duas secretarias tinham status de ministério.

Na hora de usar os recursos disponíveis, Tarcísio de Freitas se sai bem: em 2020, a pasta empenhou 96,5% da verba disponível para investimentos. No ano anterior, foi de 96%. A marca, entretanto, não difere tanto daquela dos antecessores, que poderiam reivindicar o título de “rei do asfalto”. Em 2018, foram empenhados 96% do total disponível. Em 2017 e 2016, o porcentual ficou em 91,9% e 83,5%, respectivamente.

O índice que o ministério costuma apresentar é de 99,8% de execução em 2020. A diferença de números se deve ao fato de a pasta considerar todas as verbas discricionárias, enquanto a reportagem levou em conta apenas as verbas discricionárias de investimentos, que são identificadas com o código GND 4.

Pavimentação

Em tom de brincadeira e elogio, Bolsonaro disse, em lives, que, se deixar, Tarcísio asfalta até o gramado do Palácio da Alvorada. A capacidade de “tocador de obras” e a fama de “entregar muito” se limitam a obras de pavimentação. Além da estagnação nas verbas, a pasta da Infraestrutura viu fundos públicos ligados ao órgão sofrerem uma grande redução nos recursos aplicados em 2020 – caso do Fundo Nacional de Aviação Civil e do Fundo da Marinha Mercante. A redução ocorreu por causa da decisão da equipe comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de reter o dinheiro para a chamada “reserva de contingência”, isto é, para amenizar o rombo nas contas públicas.

Em 2020, o Fundo Nacional da Aviação Civil teve uma queda de 93% no volume empenhado, em relação a 2019. O valor caiu de R$ 1,85 bilhão para R$ 126 milhões, 93% a menos. O mesmo aconteceu com o Fundo da Marinha Mercante, que financia projetos da indústria naval. No FMM, a redução foi de 71% em relação a 2019. No Fundo da Aviação Civil, ficaram “guardados” R$ 5,24 bilhões em 2020, ante R$ 1,9 bilhão em 2019. Ainda no FMM, R$ 1,3 bilhão foi para a reserva de contingência em 2020. O dinheiro ajudou a amenizar o déficit de R$ 702 bilhões do governo do ano passado (esses recursos dos fundos não estão nos porcentuais acima).

O Fundo da Aviação Civil, especialmente, é alvo de reclamações constantes de Guedes, que o considera “engessado”. A reportagem do Estadão apurou que o próprio Tarcísio se queixa de não poder usar os recursos do fundo para outras áreas, como reparos em estradas. A limitação é determinada em lei.

Recursos

Ao mesmo tempo em que há dinheiro represado nos fundos, outras áreas do ministério reclamam de falta de recursos. No dia 3 de fevereiro, a diretora substituta de administração de finanças do Dnit, Fernanda Gimenez Machado Faé, enviou ofício ao ministério alertando sobre a “situação constrangedora de inadimplência” da autarquia.

Naquele momento, a dívida acumulada pelo órgão com empresas somava R$ 499 milhões, segundo um ofício publicado pela agência Infra cuja autenticidade foi confirmada pelo Estadão. Embora esta parcela tenha sido paga, o risco de paralisação nas obras não foi afastado totalmente: no documento, a diretora do Dnit estima que precisará de R$ 1,5 bilhão até março “para que se evitem paralisações de obras e futuras ações judiciais”.

Cenário é de restrição orçamentária, diz pasta 

O Ministério da Infraestrutura afirmou em nota que o País vive um “cenário de restrições orçamentárias” e, por isso, tem tentado otimizar o uso do dinheiro público. Segundo a pasta, isto é feito priorizando obras consideradas estratégicas, a conclusão de projetos inacabados e aquelas que precisam de manutenção para que o patrimônio público seja preservado.

A pasta ressaltou que o ministro Tarcísio de Freitas tem se reunido com congressistas para direcionar emendas às obras tocadas pelo ministério – o que significou R$ 2,3 bilhões no ano passado, e o dinheiro, segundo a pasta, ajudou a viabilizar “a entrega de 92 obras, incluindo 1.430 km de rodovias recuperadas nas cinco regiões do País”.

O ministério afirmou ainda que o objetivo do governo é “transferir o máximo de ativos para a iniciativa privada, para que os investimentos aconteçam de forma mais rápida”. “De 2019 até aqui, foram concedidos 40 ativos, que estão resultando em R$ 44,33 bilhões em investimentos privados para qualificar os aeroportos, ferrovias, portos e rodovias brasileiros.” Segundo a pasta, a meta é fechar mais de R$ 250 bilhões em contratos para investimentos privados até 2022.

Sobre o Dnit, o ministério destacou a liberação de R$ 538 milhões para a autarquia em fevereiro, o que evitou a paralisação de obras e serviços. “Com a aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual, em discussão no Congresso), o Dnit poderá realizar novos empenhos. Cabe ressaltar que a Infraestrutura mantém diálogo permanente com o Ministério da Economia para a liberação de recursos para garantir a execução dos cronogramas planejados.”