segunda-feira, 30 de novembro de 2020

OS ALGARÍSMOS ARÁBICOS NOS LIVROU DA MULTIPLICAÇÃO DOS ALGARÍSMOS ROMANOS

 

O sábio que introduziu algarismos arábicos no Ocidente e nos salvou de multiplicar CXXIII por XI

 

BBCNEWS

Galileu, Newton, Einstein... são três grandes nomes da ciência ocidental.

 


© Getty Images Al-Khwarizmi nos deixou como legado a álgebra e a palavra algoritmo

Mas, como o próprio Newton escreveu, citando o filósofo do século 12 Bernardo de Chartres:

"Se eu vi mais longe, foi por estar sentado sobre os ombros de gigantes."

Vários desses gigantes nos quais cientistas ilustres se apoiaram e continuam a se apoiar, foram relativamente esquecidos... mas, se olharmos com atenção, podemos encontrá-los.

Segundo historiadores, o principal legado do grande matemático italiano Leonardo Pisano, mais conhecido como Fibonacci, foi ajudar a Europa a abandonar o antigo sistema de algarismos romanos e adotar os numerais indo-arábicos.

Eles constam em seu Liber Abaci ("Livro de Cálculo"), que escreveu em 1202 após estudar com um professor árabe.

Na mesma obra, há uma referência a um texto anterior chamado Modum algebre et almuchabale, e na margem está escrito Maumeht, que é a versão em latim do nome Mohamed.

 


© Getty Images Assim como Fibonacci, estudiosos europeus dos séculos 12 a 17 se referem com frequência a textos islâmicos e nomes árabes em manuscritos sobre diversos temas, da medicina à cartografia

No caso, a referência é especificamente para Abu Ja'far Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, conhecido como Al-Khuarismi, que viveu aproximadamente entre os anos 780 e 850.

Foi graças a ele que os intelectuais europeus souberam da existência dos numerais indo-arábicos.

Dos hindus ao Oriente Médio, de Bagdá à Europa

A obra de Al-Khuarismi aborda um aspecto crucial de toda nossa vida.

Por causa dela, o mundo europeu percebeu que sua maneira de fazer conta — ainda essencialmente baseada em algarismos romanos — era irremediavelmente ineficiente e atrapalhada.

Se eu pedir para você multiplicar 123 por 11, você consegue calcular até de cabeça. A resposta é 1.353.

Agora tente fazer isso com algarismos romanos: você tem que multiplicar CXXIII por XI. Pode ser feito, claro. Mas não é nem um pouco fácil.

 


© Getty Images Fazer conta com algarismos romanos não era nada simples

Em seu Livro de adição e subtração, de acordo com o cálculo hindu, Al-Khuarismi descreveu uma ideia revolucionária: a possibilidade de representar qualquer número com apenas 10 símbolos simples.

Essa ideia de usar apenas dez símbolos — os dígitos de 1 a 9, além do símbolo 0 — para representar todos os números de um ao infinito, foi desenvolvida por matemáticos hindus por volta do século 6, e sua importância é inestimável.

 

© Science Photo Library E assim os algarismos foram evoluindo, da direita para a esquerda

Ponto decimal

Al-Khuarismi e seus colegas fizeram mais do que traduzir o sistema hindu para o árabe: eles criaram o ponto decimal.

Sabemos disso graças à obra do matemático Abu'l Hasan Ahmad ibn Ibrahim Al-Uqlidisi.

O livro Kitab al-fusul fi al-hisab al-Hindi, dos anos 952-3 — o manuscrito mais antigo em que é proposto um tratamento de frações decimais, escrito apenas um século depois de Al-Khwarizmi — mostra que o mesmo sistema decimal pode ser ampliado para descrever não apenas números inteiros, mas também frações.

A ideia do ponto decimal é tão familiar para nós que é difícil entender como vivíamos antes dele — parece incrivelmente óbvio depois de ser descoberto.

 

© Science Photo Library O zero e o ponto decimal nos levaram ao infinito. Um ótimo exemplo é a constante de Euler, um dos números mais importantes da matemática

Quem foi Al-Khwarizmi?

Al-Khwarizmi, o grande matemático que deu ao Ocidente os números e o sistema decimal, também era astrônomo — e levou seu conhecimento para a corte do califa al-Mam'un, em Bagdá.

Ele era um emigrante da Pérsia oriental e um homem do seu tempo, a Idade de Ouro Islâmica.

Sua forma de pensar era ousada, e ele gozava de um grande luxo: vivia rodeado por livros.

 

© Pixabay Al-Khwarizmi é um dos grandes ícones do Império Islâmico

Graças ao Movimento das Traduções, que reuniu trabalhos científicos de todo o mundo conhecido até então, no fim do século 9, um importante corpus matemático grego — que incluía obras de Euclides, Arquimedes, Apolônio de Perga, Ptolomeu e Diofanto — foi traduzido para o árabe.

Da mesma forma, a matemática babilônica e hindu antigas, assim como as contribuições mais recentes de sábios judeus, estavam disponíveis para estudiosos islâmicos.

Al-Khwarizmi estava na posição privilegiada de ter acesso a diferentes tradições matemáticas.

A grega abordava principalmente a geometria, ciência de formas como triângulos, círculos e polígonos, que ensina a calcular área e volume.

A hindu havia inventado o sistema decimal de dez símbolos que tornava as contas muito mais simples.

Ao combinar a intuição geométrica com a precisão aritmética, imagens gregas e símbolos hindus, ele inspirou uma nova forma de pensamento matemático que hoje chamamos de álgebra.

 

© Getty Images Al-Khwarizmi é considerado o pai da álgebra

Al-Jabr

No livro Al-Jabr w'al-Muqabala, de autoria de Al-Khuarismi, é a primeira vez que a palavra Al-Jabr ("álgebra") aparece.

Ele começa dizendo: "Descobri que as pessoas necessitam de três tipos de números: unidades, raízes e quadrados."

E mostra a seguir como resolver equações usando métodos algébricos.

Equações quadráticas (ou de segundo grau) já eram resolvidas nos tempos da Babilônia. A diferença é que não havia fórmulas, e cada problema era resolvido individualmente:

"Pegue a metade de 10, que é 5, e o quadrado, que é 25"; e mais tarde, outro diria: "Pegue a metade de 12, que é 6, e o quadrado, que é 36."

E assim sucessivamente, eles passavam pelo mesmo processo repetidas vezes com números diferentes, conforme o caso.

 

© Getty Images As fórmulas são libertadoras porque permitem resolver os mesmos tipos de problemas sem ter que começar do zero toda vez

Para Al-Khuarismi,, a solução não estava nos números que precisávamos descobrir, mas em um processo que pudéssemos aplicar.

Ou seja: o quadrado significa fazer a raiz quadrada e multiplicá-la por ela mesma. E essa fórmula é verdadeira qualquer que seja a raiz quadrada. Se for 5, é 5 vezes 5, que é 25; se for 3, é 3 vezes 3...

Não usar números, mas símbolos, acabou sendo uma ideia incrivelmente libertadora, permitindo que você resolva problemas sem se prender a cálculos numéricos bagunçados.

'Algoritmi de numero Indorum'

Ao abandonar temporariamente a relação com números específicos, você manipula os novos elementos (x, y, z) de acordo com as regras que explica em seu livro: uma série de fórmulas.

Os números que os símbolos representam em seu problema específico aparecerão milagrosamente no final.

Pense em algo simples e cotidiano, era o que Al-Khuarismi queria ajudar a resolver:

Ahmed morre e deixa 80 moedas de herança. Para um amigo, ele destina um quarto delas; para sua viúva, um oitavo; o resto é para seus três filhos. Cada fração corresponde a quanto?

Al-Khwarizmi fez com que a incógnita fosse parte da equação: o que chamamos de X em álgebra.

 


© BBC

O tratado escrito por Al-Khuarismi por volta de 825 sobre o sistema numérico indo-arábico foi traduzido no século 12 com o nome Algoritmi de numero Indorum, que significa "Algoritmi sobre os números hindu"; "Algoritmi" foi a tradução para o latim do nome Al-Khuarismi.

Na obra, ele nos apresenta a essas fórmulas que, devido à tradução do seu nome, acabaram sendo chamadas de algoritmos.

Al-Khwarizmi permitiu que a álgebra existisse como uma área da matemática por mérito próprio, e se tornasse um fio condutor para quase todas as outras. A álgebra nada mais é do que uma série geral de princípios e, se você os compreender, a entenderá.

Qual é a verdadeira importância da álgebra?

 

Ela foi usada ao longo do tempo para resolver todos os tipos de problemas.

Se a massa de uma bala de canhão for 'm' e a distância que tem que percorrer, 'd', você usa a álgebra para calcular o ângulo ideal para apontar o canhão.

É o tipo de conhecimento que vence guerras.

Ou podemos chamar a velocidade da luz de 'c', a mudança na massa de um núcleo atômico de 'm', e assim calcular a energia liberada com esta simples fórmula:

 

© Getty Images A famosa equação de de Einstein determina a equivalência entre massa e energia

Esse tipo de conhecimento é poderoso. Os números arábicos e a álgebra foram uma contribuição inestimátivel para a ciência ocidental, que permitiu desde a ida do homem à lua ao desenvolvimento do dispositivo com o qual você está lendo esta reportagem.

 

 

CHINA DEPENDE DOS ESTADOS UNIDOS PARA VIGIAR OS SEUS CIDADÃOS

 

A China vigia seus cidadãos, mas depende de tecnologia dos EUA para isso

 

Paul Mozur e Don Clark – Jornal Estadão

 

 


No fim de uma estrada deserta e cercada por prisões, no fundo de um complexo repleto de câmeras, a tecnologia dos Estados Unidos está alimentando uma das partes mais invasivas do estado de vigilância da China. Os computadores do complexo, conhecido como Centro de Computação em Nuvem Urumqi, estão entre os mais poderosos do mundo. Eles podem assistir a mais imagens de vigilância em um dia do que uma pessoa em um ano. Eles procuram rostos e padrões de comportamento humanos. Rastreiam carros. Monitoram telefones.

O governo chinês usa esses computadores para vigiar um número incalculável de pessoas em Xinjiang, região ocidental da China onde Pequim desencadeou uma campanha de vigilância e repressão em nome do combate ao terrorismo. Chips fabricados pela Intel e Nvidia, empresas americanas de semicondutores, alimentam o complexo desde sua inauguração em 2016.

Em 2019, uma época em que relatórios diziam que Pequim estava usando tecnologia avançada para rastrear e aprisionar as minorias predominantemente muçulmanas de Xinjiang, novos chips americanos ajudaram esses supercomputadores a entrar na lista dos mais rápidos do mundo. Tanto a Intel quanto a Nvidia dizem que desconhecem o que chamam de uso indevido de sua tecnologia.

Tecnologia poderosa e seu potencial uso indevido atingem o cerne das decisões que o governo Biden deve enfrentar. O governo Trump proibiu a venda de semicondutores avançados e outras tecnologias para empresas chinesas envolvidas em questões de segurança nacional ou direitos humanos. Uma questão crucial para o presidente eleito Joe Biden será: apertar, afrouxar ou repensar essas restrições?

Algumas figuras da indústria de tecnologia argumentam que a proibição foi longe demais, cortando vendas valiosas de produtos americanos em muitos usos inofensivos e estimulando a China a criar seus próprios semicondutores avançados. De fato, a China está gastando bilhões de dólares para desenvolver chips de ponta.

Por outro lado, os críticos ao uso da tecnologia americana em sistemas repressivos dizem que os compradores exploram lacunas nos produtos e que a indústria e as autoridades devem acompanhar mais de perto as vendas e o uso.

Empresas afirmam que têm pouco controle do uso de seus dispositivos

As empresas costumam comentar que têm pouco a dizer sobre a destino de seus produtos. Os chips do complexo Urumqi, por exemplo, foram vendidos pela Intel e Nvidia para a Sugon, empresa chinesa que está por trás do centro. A Sugon é uma fornecedora importante das forças militares e de segurança chinesas, mas também fabrica computadores para empresas comuns.

Esse argumento já não é suficiente, disse Jason Matheny, diretor fundador do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown e ex-funcionário da inteligência dos Estados Unidos. “O governo e a indústria precisam ser mais cuidadosos agora que as tecnologias estão avançando a um ponto em que você consegue fazer vigilância em tempo real, usando um único supercomputador para vigiar milhões de pessoas, potencialmente”, diz.

Não há evidências de que a venda de chips Nvidia ou Intel, que antecederam a ordem de Trump, violou quaisquer leis. A Intel disse que não vende mais semicondutores de supercomputadores para a Sugon. Mesmo assim, ambas continuam vendendo chips para a empresa chinesa.

A existência do complexo Urumqi e o uso de chips americanos não são segredo, e não faltavam pistas de que Pequim estava usando o centro para vigilância. Em 2015, quando o complexo começou a ser desenvolvido, a mídia estatal e a Sugon já se gabavam de seus laços com a polícia. Em materiais de marketing distribuídos na China cinco anos atrás, a Nvidia promoveu as instalações do complexo Urumqi e se gabou de que o “aplicativo de vigilância por vídeo de alta potência” conquistara o cliente.

A Nvidia disse que os materiais se referiam a versões mais antigas de seus produtos e que, na época, a vigilância por vídeo fazia parte da discussão em torno das “cidades inteligentes”, um esforço chinês para usar tecnologia para resolver problemas urbanos como poluição, tráfego e crime. Um porta-voz da Nvidia disse que a empresa não tinha motivos para acreditar que seus produtos seriam usados “para qualquer propósito impróprio”.

O porta-voz acrescentou que a Sugon “não é um cliente significativo da Nvidia” desde a proibição do ano passado. Ele também disse que desde então a Nvidia não forneceu assistência técnica para a Sugon. Um porta-voz da Intel, que ainda vende chips de menor tecnologia para a Sugon, disse que iria restringir ou interromper negócios com qualquer cliente que descobrisse ter usado seus produtos para violar os direitos humanos.

Aparelhos são usados para vigiar minoria muçulmana

Os avanços na tecnologia deram às autoridades de todo o mundo poder substancial para vigiar e classificar as pessoas. Na China, os líderes levaram a tecnologia a um extremo ainda mais distante. Inteligência artificial e testes genéticos são usados para examinar as pessoas para ver se são uigures, um dos grupos minoritários de Xinjiang. As empresas e autoridades chinesas afirmam que seus sistemas conseguem detectar extremismo religioso ou oposição ao Partido Comunista.

O Centro de Computação em Nuvem Urumqi – também chamado de Centro de Supercomputação de Xinjiang – entrou na lista dos computadores mais rápidos do mundo em 2018, ocupando a 221ª posição. Em novembro de 2019, novos chips ajudaram a empurrar seu computador para a 135ª posição.

Dois centros de dados operados por forças de segurança chinesas ficam ao lado, uma forma de reduzir potencialmente o tempo de espera, de acordo com especialistas. Nas proximidades também se encontram seis prisões e centros de reeducação. Quando um repórter do New York Times tentou visitar o centro em 2019, foi seguido por policiais à paisana. Um guarda o mandou embora.

A mídia oficial chinesa e as declarações anteriores da Sugon descrevem o complexo como um centro de vigilância. Em agosto de 2017, as autoridades locais disseram que o centro apoiaria um projeto de vigilância da polícia chinesa chamado Olhos Afiados e que poderia pesquisar 100 milhões de fotos por segundo. Em 2018, de acordo com divulgações da empresa, seus computadores poderiam se conectar a 10 mil feeds de vídeo e analisar 1 mil simultaneamente, usando inteligência artificial.

Em Xinjiang, o policiamento preventivo geralmente serve como abreviatura para prisões preventivas por comportamentos considerados desleais ao partido. Isto pode incluir uma demonstração de devoção muçulmana, laços com famílias que vivem no exterior, possuir dois telefones ou não possuir telefone nenhum, de acordo com depoimentos uigures e documentos oficiais da política chinesa.

A tecnologia ajuda a analisar grandes quantidades de dados que os humanos não conseguiriam processar, disse Jack Poulson, ex-engenheiro do Google e fundador do grupo de defesa Tech Inquiry. “Quando você tem algo parecido com um estado de vigilância, sua principal limitação é a capacidade de identificar eventos de interesse em seus feeds”, disse ele. “A maneira como você amplia sua vigilância é por meio de aprendizado de máquina e inteligência artificial em grande escala”.

O complexo Urumqi começou a ser desenvolvido antes que os relatos de abusos em Xinjiang se generalizassem. Em 2019, governos de todo o mundo protestavam contra a conduta da China em Xinjiang. Naquele ano, o computador da Sugon apareceu no ranking internacional de supercomputação, usando processadores Intel Xeon Gold 5118 e chips de inteligência artificial avançados Nvidia Tesla V100.

Não está claro como ou se a Sugon obterá chips poderosos o suficiente para manter o complexo de Urumqi nessa lista. Mas tecnologias menos avançadas e geralmente usadas para executar tarefas inofensivas também podem ser empregadas em vigilância e supressão. Os clientes também podem se valer de revendedores de outros países ou chips feitos por empresas americanas no exterior.

No ano passado, a polícia de dois condados de Xinjiang, Yanqi e Qitai, comprou sistemas de vigilância que rodavam com chips Intel de nível inferior, de acordo com documentos de compras governamentais. O bureau de segurança pública da prefeitura autônoma de Kizilsu Kyrgyz comprou em abril uma plataforma de computação que usava servidores com chips Intel menos potentes, de acordo com os documentos, embora a agência tenha sido colocada em uma lista proibida do governo Trump no ano passado por seu envolvimento com vigilância.

Por enquanto, a dependência chinesa dos chips americanos ajudou o mundo a recuar, disse Maya Wang, pesquisadora chinesa da Human Rights Watch. “Temo que, em alguns anos, as empresas chinesas e o governo encontrem sua própria maneira de desenvolver chips e essas capacidades”, disse Wang. “Então, não haverá como tentar impedir esses abusos”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

 

GOVERNO DEMITE O PRESIDENTE DA PETROBRAS JEAN PAUL PRATES

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