sexta-feira, 2 de outubro de 2020

MINAS GERAIS TEM QUASE TODAS AS SUAS BARRAGENS DE MINERAÇÃO INTERDITADAS

 

Minas Gerais tem 42 das 45 barragens de mineração interditadas no país

Estado tem quatro barragens com risco iminente de ruptura, segundo relatório da Agência Nacional de Mineração

Por AGÊNCIA BRASIL

 

 

Barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, está em nível 3 de alerta

 

A Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão que fiscaliza o setor no país, divulgou nessa quinta-feira (1º) a lista das barragens que não tiveram sua declaração de estabilidade atestada e que, por isso, estão interditadas. Ao todo, 45 estruturas estão impedidas de operar, sendo 42 delas localizadas em Minas Gerais. As outras estão nos estados de Amapá, Pará e Rio Grande do Sul.

A declaração de estabilidade da barragem deve ser entregue obrigatoriamente duas vezes ao ano: a primeira em março e a segunda em setembro. O documento é emitido por uma auditoria terceirizada que deve ser contratada pelas mineradoras. Caso ele não seja entregue ou a avaliação conclua que a estrutura não tem estabilidade, a ANM determina a paralisação das operações.

A nova lista reúne as barragens que não foram aprovadas nas análises que deveriam ser apresentadas em setembro. De acordo com o órgão, das 45 estruturas listadas, 36 já estavam paralisadas porque não haviam tido a estabilidade atestada em março. Com as novas avaliações, 391 barragens no país têm autorização para operar.

A mineradora com o maior número de estruturas interditadas é a Vale. São 31 ao todo, todas em Minas Gerais. Nos últimos anos, a mineradora tem se envolvidos em grandes tragédias ambientais no estado. Em novembro de 2015, uma barragem da Samarco, joint-venture da Vale e da BHP Billiton, se rompeu em Mariana (MG) matando 19 pessoas e causando danos ao longo de dezenas de municípios da Bacia do Rio Doce. Em janeiro de 2019, outro desastre causou 270 mortes: a ruptura de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG).

Após essa segunda tragédia, um pente-fino levou à interdição de diversas barragens da mineradora. As paralisações foram determinadas não apenas pela ANM, mas também pela Justiça mineira, que atendeu a diversos pedidos formulados em ações movidas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para paralisar outras barragens e exigir a contratação de novas auditorias externas a fim de verificar a segurança das estruturas. Há casos em que a própria Vale se antecipou e interrompeu as operações.

Uma vez que a estabilidade não é atestada, automaticamente é acionado o nível 1 de emergência. Nos casos em que a gravidade da estrutura atinge nível de emergência 2 ou 3, é obrigatória a evacuação de todo o perímetro que seria alagado em caso de um rompimento. Atualmente, a Vale tem quatro barragens em nível 3, que significa risco iminente de ruptura. Muitos moradores permanecem fora de suas casas.

A tragédia de Brumadinho também colocou em discussão a confiabilidade da declaração de estabilidade. A estrutura que se rompeu tinha uma declaração válida, emitida pela alemã Tüv Süd. O engenheiro da empresa, Makoto Namba, em depoimento no curso da investigação, disse ter se sentido pressionado por um executivo da Vale para conceder o documento. A Tüv Süd foi apontada pelo MPMG como uma das responsáveis pelo desastre e foi denunciada junto com a Vale. Na Câmara dos Deputados tramitam projetos que propõem mudanças no processo de avaliação das barragens e na emissão das declarações de estabilidade.

Barragens a montante

O maior grupo entre as 45 barragens interditadas, conforme a nova lista da ANM, é o das estruturas a montante. São 16 ao todo. Essas barragens demandam maior nível de atenção, pois têm o mesmo método utilizado nas estruturas que se romperam em Brumadinho e Mariana.

Após a segunda tragédia, foi sancionada pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, a Lei Estadual 23.291/2019. Ela instituiu a Política Estadual de Segurança de Barragens, estabelecendo prazos para que o empreendedor responsável por barragem alteada a montante promova a descaracterização. Em âmbito nacional, a ANM editou uma resolução com determinação similar.

Só a Vale prometeu descaracterizar nove barragens. A conclusão de uma delas já foi anunciada. No entanto, esse não é um trabalho que tem se mostrado simples: evacuações têm sido determinadas em áreas no entorno de barragens que já estão inclusive inativas.

Um exemplo é a barragem de Doutor, pertencente ao complexo da Mina de Timbopeba, em Ouro Preto. O início de sua descaracterização foi anunciado em fevereiro desse ano. Em abril, diante do agravamento das condições da estrutura, 61 famílias que moram no entorno foram surpreendidas com uma ordem de remoção compulsória. Como responsável pelas evacuações, é obrigação da mineradora assegurar aos atingidos hospedagem, alimentação, transporte e itens de necessidade básica.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

COLUNA ESPLANADA DO DIA 01/10/2020

 

Vá entender

Coluna Esplanada

 


Um movimento eleitoral curioso acontece na campanha no Recife. Bolsonaristas que não querem eleger João Campos (PSB) no Recife – a prefeitura e o governo de Pernambuco são controlados há anos pelos socialistas – anunciam aos poucos apoio à petista Marília Arraes. A novata também busca o voto da direita. Ela peitou o senador Humberto Costa, que comanda o PT local, e sua articulação forte obrigou o ex-presidente Lula da Silva a reconhecer sua candidatura. Marília foi rifada pelo PT em 2018, quando aparecia com chances para o governo. Ela e João são netos do saudoso ex-governador Miguel Arraes.

Covid eleitoral
O coronavírus voltou a crescer em casos nas capitais e interior. Informes que chegam à Coluna indicam que prefeituras, por motivações eleitorais, escondem os altos números.

Favelinha
Lembram dos barracos que apareceram em área nobre de Taguatinga (DF), atrás do shopping? Eram 25. Em uma semana subiram para 46. Cinco deles têm carros.

Atrás de caixa
Alguns estados, como Rio de Janeiro e Piauí, voltaram a artilharia contra a União pelo direito de promover loterias. Pela Lei de 1967, só o governo federal pode explorar. 

Michecou..
Neologismo que viralizou nas redes sociais de uma semana para cá, a palavra “Micheque” já tem mais de 400 mil citações na busca do Google. Vem a ser o título da música do Detonautas que ironiza o mistério dos cheques de Fabrício Queiroz para a primeira-dama do Brasil, Michele Bolsonaro. Ela, aliás, quer processar a banda.


Olho neles
Os desembargadores do TJ do Rio de Janeiro que vão compor a comissão mista da Alerj no processo de impeachment de Wilson Witzel, já afastado, estão com olhos virados – um no governador afastado, e outro em todos os atos e nomeações do vice Cláudio Castro, que assumiu. Qualquer deslize, o atual também se complica.

Dona de casa
A Conab realiza hoje leilão para compra de alimentos a fim de atender demanda do Ministério dos Direitos Humanos, que pretende adquirir 757 toneladas de alimentos. É para doação de 44 mil cestas básicas a mulheres em situação de vulnerabilidade.

Kiara
O ministro Eduardo Pazuello, da Saúde, negou remédio para Kyara Lis, bebê de 1 ano, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME). Para a advogada Daniela Tamanini, condenou a menina à morte. Agora, a sociedade que se mobiliza para a Saúde bancar a dose única de R$ 12 milhões ( que elimina efeitos futuros da doença ) tem esperança de que o ministro Napoleão Nunes Maia, do STJ, determine o fornecimento da medicação. O MS já bancou essa dose há dias para outra criança de Brasília.

Agora...
.. É de uma maldade tremenda contra o ser humano um laboratório cravar um preço inalcançável deste para salvar uma vida. 

Cabou o gás
A Cosan S.A. não enxergou o óbvio e desistiu de fazer o IPO da sua Compass Gás e Energia S.A. A pandemia travou os investimentos do ano, e ninguém vai investir no setor enquanto a Nova Lei do Gás não passar no Congresso e for sancionada.

Armário digital
As plataformas digitais deram uma aquecida nos cabides da rede de lavanderias 5àsec nesta pandemia. De março a julho, a marca registrou crescimento de 335% no faturamento, com os serviços pelo e-commerce, aplicativo, WhatsApp e ‘armários digitais’ em condomínios estratégicos. A rede soma 442 lojas no Brasil.

Toada triste
Morreu vítima do Covid-19 em Manaus o conhecido toadeiro Klinger Araújo, um dos ícones da festa de Parintins e aclamado pela turma do Boi Caprichoso. Fez história.

 

INDICAÇÃO DE DESEMBARGADOR AO STF DESAGRADA FUX

 

Fux fica contrariado com participação de Gilmar Mendes em indicação de desembargador ao STF

 

Jussara Soares

 

BRASÍLIA – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, reagiu negativamente à indicação do desembargador Kassio Nunes Marques à Corte. Fux, segundo relatos feitos ao Estadão, se irritou principalmente por ter visto uma interferência direta do ministro Gilmar Mendes na escolha do indicado do presidente Jair Bolsonaro. O ministro Dias Toffoli também participou da reunião na casa de Mendes que selou o favoritismo do desembargador do Piauí.

O presidente da Corte só soube da escolha do desembargador do Piauí pela imprensa na manhã desta quarta-feira, 30. Fux nunca escondeu a preferência pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Luis Felipe Salomão. A vaga da Corte se abre no dia 13 de outubro com a aposentadoria do decano Celso de Mello.


© Gabriela Biló/Estadão - 6/8/2019 O ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal.

A escolha de Bolsonaro por Marques foi definida em um encontro nesta terça-feira, 29, na casa de Gilmar Mendes. Na tentativa de se aproximar do STF e da classe política, o presidente Jair Bolsonaro pediu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que fizesse a intermediação para o encontro.

Como mostrou o Estadão, Alcolumbre ligou, então, para Gilmar, que logo providenciou uma reunião em sua casa. O ministro Dias Toffoli, que deixou a presidência do Supremo no último dia 10, também foi convidado para a conversa, que durou de 19h às 21h. Com Marques a tiracolo, Bolsonaro fez elogios à Corte e afirmou estar confiante na independência e harmonia entre os Poderes. Ministros dizem, porém, que o STF não se envolveu em nenhum momento nas articulações para emplacar Marques.

O favoritismo do desembargador na corrida ao Supremo pegou boa parte do governo de surpresa na manhã desta quarta-feira, 30. O Estadão apurou que o seu bom trânsito, tanto no Congresso quanto no Judiciário, pesaram a favor da indicação. O desembargador já tinha bom relacionamento com Gilmar e com Toffoli.

Outro ponto a favor foi o fato de ele ser do Piauí. A possível indicação de Marques é um gesto de Bolsonaro ao Nordeste, região da qual o presidente busca se aproximar, já de olho nas eleições de 2022. Nas redes sociais, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, comemorou o favoritismo do conterrâneo.

Segundo integrantes do governo, o nome do desembargador surgiu e se apresentou como uma solução para os problemas de Bolsonaro, que tinha como opções os ministros da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e da Justiça, André Mendonça.

A avaliação é a de que os dois ministros ocupam cargos-chave e a indicação de qualquer um deles implicaria em uma obrigatória mexida no governo.

Apesar do favoritismo de Marques, integrantes do governo tratam a indicação dele com cautela. Eles veem no vazamento do nome do desembargador como mais uma estratégia de Bolsonaro para sentir a recepção do possível indicado, assim como ocorreu em outras ocasiões. A avaliação é que o desembargador ainda precisa passar pela “fritura” da base bolsonarista nas redes sociais e, portanto, Bolsonaro ainda pode mudar de ideia.