Projeto da Epamig mostra
que é viável cultivar alimentos até no apartamento
Renata Galdino
Hoje em Dia - Belo
Horizonte
REAPROVEITAMENTO – Cultivo pode ser feito em recipientes encontrados
facilmente, como garrafas pet
A vida corrida pode parecer um argumento propício para justificar o
consumo, por exemplo, de produtos industrializados. Produzir seus próprios
alimentos e cuidar de hortas, então, quase nem passa pela cabeça das pessoas,
que consideram os espaços cada vez menores dos apartamentos inapropriados ou
insuficientes para cultivar alimentos saudáveis e orgânicos. Mas isso não passa
de um engano.
Na realidade, cultivar em pequenos espaços é possível e uma alternativa
viável para hortas de várias formas e tamanhos. É o que afirma a pesquisadora
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) em Viçosa, na Zona
da Mata, Wânia dos Santos Neves.
“A implantação de hortas vem ganhando espaço devido ao interesse da
população na busca de alimentos mais saudáveis. Outros benefícios que buscamos
com a atividade são: promover geração de renda complementar, promover a
inclusão social, aumentar a diversidade de verduras no cardápio e estimular a
convivência com vizinhos e familiares”, sinaliza.
Projeto
Para mostrar como um cantinho esquecido em casa e uma varanda de
apartamento podem ganhar um destino saudável e sustentável, a equipe coordenada
por Wânia trabalhou na implantação de hortas agroecológicas. Tudo feito numa
área de 30 metros quadrados, utilizando diferentes recipientes, para mostrar a
possibilidade de plantio em vasos e embalagens recicladas, como garrafas pet.
Na horta agroecológica implantada foram cultivadas pimentas, berinjela,
jiló, espinafre, alface, agrião, couve, cenoura; ervas medicinais e aromáticas,
além de hortaliças não convencionais, como taioba, capuchinha, jequeri e
ora-pro-nobis.
Durante todo o ano de 2017, ressalta Wânia, serão programadas visitas de
escolas do ensino fundamental e médio do município para apresentar o modelo e
incentivar o cultivo. “Com o retorno das aulas, vamos divulgar o trabalho nas
escolas e ver quais terão interesse de participar”, explica.
Uma outra ação já realizada nesse contexto foi a montagem de uma horta
no Centro Social Dra. Zilda Arns (Pastoral do Menor), no bairro Santa Clara,
com a ajuda de alunas do curso de Licenciatura em Educação do Campo da
Universidade Federal de Viçosa. A pesquisadora revela que, no centro de
recreação e educação, as próprias crianças cuidam das plantas e acompanham o
crescimento da horta, estimulando o consumo de alimentos saudáveis desde a
infância.
“Também estabelecemos contato com adultos da terceira idade para
construção de uma horta vertical com plantas medicinais, oferecendo cursos
sobre a prática de cultivo agroecológica e plantas medicinais que serão
ministrados por pesquisadores da Epamig”, complementa Wânia.
Entre os objetivos do projeto estão promover a geração de renda e a
inclusão social, aumentar a diversidade de verduras no cardápio e estimular a
convivência com vizinhos e familiares
Hábitos familiares influenciam na escolha de espécies
Para a escolha das espécies ou variedades a serem cultivadas, é
importante levar em consideração o clima da região. “Hábitos alimentares
pessoais também devem ser levados em consideração, já que determinadas espécies
são muito consumidas por algumas pessoas e outras nem tanto”, comenta Wânia.
São diversas as opções para os interessados em montar as hortas em
pequenos espaços, como hortaliças (pimenta malagueta, pimenta dedo de moça,
pimenta biquinho, berinjela, jiló, espinafre, alface, agrião, couve, cenoura,
tomate), plantas medicinais (hortelã, manjericão, camomila, arruda, boldo,
melissa) e ervas condimentares (salsinha, cebolinha, coentro, orégano).
“O local escolhido deve ser de fácil acesso, receber de quatro a cinco
horas de sol por dia para um melhor desenvolvimento das plantas, ter
disponibilidade de água de qualidade para irrigação e ser protegido contra
ventos fortes, evitando a quebra de galhos, folhas ou de plantas jovens”
orienta a pesquisadora.
Quanto aos custos, Wânia aponta como muito baixos. “Somente as sementes
ou mudas devem ser adquiridas no comércio. As embalagens (garrafas pet, latas e
caixas de leite, etc.) e suportes (pallets, caixotes, telas etc.) podem ser
conseguidos gratuitamente”, detalha.
Importante é saber que uma horta pode ser construída de vários formatos
e de tamanhos diferentes. “É possível cultivar algumas hortaliças em
recipientes (vasos, caixas, etc.) de diferentes tamanhos no chão ou fazer o
plantio no modelo de jardim suspenso (horta vertical)”, observa a pesquisadora.
Início
O trabalho com hortas no sistema agroecológico teve início com
atividades no Norte de Minas Gerais, em 2009. Primeiro com um projeto
financiado pelo CNPq e outro, de sequência, financiado pela Fapemig. A partir
da captação de água de chuva, foram construídas hortas em diferentes
localidades da região, associações e nos campos experimentais da Epamig Norte.
As hortas agroecológicas, inclusive, contribuíram para melhorar a alimentação
dos moradores do Vale do Jequitinhonha e do Norte de Minas.
“O resultado foi maravilhoso. Todos os anos montamos uma horta para
exposição de Janaúba e em alguns anos na exposição de Montes Claros também.
Atendemos mais de 700 crianças por ano, que iam ao parque de exposições com auxílio
da prefeitura. É um grande sucesso”, completa a pesquisadora.
Em janeiro de 2016, após ser transferida para a Epamig Sudeste (Viçosa),
Wânia ministrou alguns cursos na Semana do Fazendeiro. Foi nesta experiência
que lhe pediram para oferecer um curso sobre hortas domésticas no ano seguinte.
“Eu já havia comentado com os participantes sobre as hortas montadas
durante a execução dos projetos no Norte de Minas. A pesquisadora Cleide Maria
Ferreira, sabendo da minha experiência na área, teve a ideia de utilizar uma
área no prédio da Epamig e me fez a proposta de construir uma horta para
demonstração”, destaca.
A pesquisadora Cleide forneceu, inclusive, o apoio financeiro para
reparos na estrutura física para que se chegasse ao formato da unidade
demonstrativa, que hoje serve de modelo para escolas e instituições.