A inovação se tornou um diferencial competitivo para empresas de
todos os portes. Mas, a capacidade de inovar exige que o empreendedor
saia da zona de conforto, aproveite os interesses do público-alvo e crie
tendências ou soluções que sejam capazes de mudar a vida dos clientes
completamente.
Na prática, os profissionais que desejam se diferenciar e
atrair clientes, precisam adotar uma cultura de empreendedorismo e
inovação nos negócios.
Nos últimos anos, temos visto diversas empresas surgindo e ganhando mercado por conta do maior diferencial: a capacidade de inovar. No entanto, é necessário lembrar que a inovação não está presente em todos os negócios e perfis profissionais, pelo contrário, é uma habilidade que precisa ser desenvolvida com capacitação, informação e muita criatividade. Neste artigo, você vai entender melhor sobre esse conceito e descobrir como inovar no seu negócio. Confira!
O que é inovação?
Inovação é criar algo que tenha utilidade, que seja diferente
do que já existe e tenha mercado, pois a inovação precisa gerar
lucros.
A inovação também está relacionada com a criação de soluções ou
quebra de padrões. Significa dizer que a inovação pode representar tanto
a elaboração de um modelo de negócio e serviços, como também o desenvolvimento de novos produtos e serviços para problemas recorrentes do público-alvo.
Com os avanços tecnológicos registrados nos últimos anos, algumas
tendências se inserem no cenário mundial de inovação, tal qual a criação
e o uso de softwares em nuvem para o gerenciamento de equipes e
atendimento ao público.
Pode-se considerar nestas condições, também, a criação de novos
espaços de trabalho em grupo (que incentivam a criatividade e contato
com outros profissionais), como os coworkings; ou, ainda, a produção de
soluções para o desenvolvimento de cidades inteligentes.
Por que inovar é importante?
A palavra empreendedorismo se refere à um comportamento de liderança, iniciativa e descobertas.
Essas habilidades são fundamentais não apenas para os gestores,
empresários ou donos de um negócio. Colaboradores com perfil
empreendedor podem aperfeiçoar serviços e desenvolver soluções para
problemas ou novas formas de executar alguma atividade. Não por acaso, a
busca por trabalhadores-empreendedores têm crescido muito no mercado.
O que é criatividade e qual a importância nos negócios?
A criatividade é a capacidade de imaginar algo que ainda não existe, o
potencial que a mente humana tem em conceber novas ideias. Ser criativo
é ser inovador, diferente, ter ideias revolucionárias.
Empreendedores sempre
buscam formas de melhorar o negócio, esperando um melhor desempenho e
resultado. Em negócios dos mais diferentes portes, a criatividade é
essencial para a manutenção destes empreendimentos já existentes
(especialmente em momentos de crise), para o engajamento e valorização
da equipe, para encontrar novas maneiras de resolver problemas ou novas
formas de aumentar a produtividade, bem como estar à frente da concorrência.
Qual a relação entre empreendedorismo e inovação?
Empreendedorismo e inovação são como dois lados de uma mesma moeda, que se estiver parada não tem valor algum. Para empreender é preciso ter espaço para criar, colocar ideias em prática e de fato inovar. Nenhuma empresa que fique “engessada no tempo” poderá se sustentar a longo prazo e continuar crescendo no mercado.
Basta observar alguns empreendimentos que foram atingidos por novas
tecnologias, como as locadoras de filmes, que foram altamente impactadas
com os serviços de streaming e assinaturas online. Muitos estabelecimentos fecharam e estão em extinção. No entanto, aqueles
que resolveram inovar, oferecendo novas experiências aos clientes, com
espaços diferenciados ou investindo em nichos específicos, como de filmes clássicos ou de outras nacionalidades, têm sobrevivido.
De fato, é provável que se as empresas não investirem em inovação,
estarão fora do mercado nos próximos anos. Quem fez essa previsão foi
Carlos Faccina, Chanceler das Universidades Anhembi Morumbi e BSP, que
integram a rede Laureate International, durante o Fórum de Administração 2018.
Para o Chanceler, as habilidades necessárias para uma boa gestão no
passado não são mais suficientes para garantir que as empresas vão
sobreviver. “A inovação exige o cumprimento de determinados
pré-requisitos nas empresas, entre os quais a compreensão de que as
pessoas são diferentes e são talentosas à sua maneira, cabendo à empresa
conciliar as diferenças”, explicou Faccina.
O representante também criticou o modelo convencional das estruturas
organizacionais que ainda é muito comum nas empresas e isso se reflete
no desenvolvimento dos produtos e soluções. Para ele, a criatividade e a
inovação exigem a quebra dos modelos convencionais de gestão. “Basta
observar que dos 100 produtos lançados nos últimos cinco anos, apenas
cinco podem ser classificados como sucessos e os demais seguem para o
esquecimento”, destacou.
Investir em inovação é caro!
Esse tem sido o argumento adotado por muitos empreendedores
brasileiros. Porém, para inovar não significa, necessariamente, gastar
muitos recursos. Alguns empreendedores inovam sem gastar nada.
É importante saber que a inovação não depende necessariamente de
grandes investimentos ou de tecnologia de ponta. Seria mais uma mudança
de atitude ou de hábitos.
Segundo um estudo realizado pela ACE Cortex, sobre Corporate Venture
Building com o objetivo de mapear a transformação de novos negócios e
serviços, o problema é que o brasileiro, apesar de ser um empreendedor
nato, não tem tanta iniciativa para inovar. Os dados revelam que apenas
23,2% das organizações brasileiras contam com líderes que admitem
praticar a inovação. O medo de arriscar e de perder dinheiro podem ser
dois dos principais limitadores. Afinal, mesmo que não invista dinheiro,
o empreendedor corre o risco de não agradar o cliente.
Na contramão desse cenário, estão as fintechs – startups do setor
financeiro, que já somam mais de 1.289 iniciativas no país, segundo
dados do estudo Inside Fintech, da consultoria de inovação aberta
Distrito. As startups brasileiras receberam um total de US$ 9,4 bilhões
em investimentos ao longo de 2021.
A chegada de fintechs balançou
o mercado e assustou os grandes e tradicionais bancos. Dessa forma, as
próprias instituições financeiras entenderam que teriam que mudar sua forma de atuação e passaram a desenvolver alguns serviços com os mesmos princípios das startups.
Isso mostra que: observar o comportamento do consumidor é o primeiro
passo para quem quer inovar. O empreendedor precisa estar antenado sobre
quais são as necessidades e os interesses do seu público.
Com o reconhecimento de demandas antigas do mercado e dos clientes, a
empresa pode inovar com um atendimento diferenciado ou o apoio à alguma
causa social, por exemplo. As soluções vão desde o espaço ou vitrine da
empresa – que podem ser online ou offline – até o produto em si.
Para inovar não são necessários grandes investimentos, mas é
importante despertar a criatividade, ouvir os clientes e a sua equipe.
Como inovar em tempos de crise?
Inovação e criatividade andam
juntas e em tempos de crise, é importante saber como solucionar
problemas por meio de novas visões para os desafios. A criatividade está
muito relacionada com esforço de enxergar oportunidades, de ser
questionador e observador do cenário atual.
Criar uma rede de relacionamento com outros empreendedores ou com
outras pessoas que entendam de empreendedorismo, pode ser uma boa opção
para conseguir inovar e superar problemas através da troca de experiências.
Usar tecnologia a seu favor, reforçar a presença digital, incentivar
que o cliente procure por seus canais digitais, avaliar ações de sucesso
para aprimorá-las e de fracasso para descartá-las, são algumas das
dicas que podem ajudar a driblar a crise. Lembre-se
que a chave para a sobrevivência de pequenos negócios em qualquer
situação econômica, é flexibilidade e adaptabilidade! Vivemos isso
recentemente com a pandemia da Covid-2019, onde quem não se reinventou e
mudou as formas de pensar e operar, acabou sofrendo as consequências.
Não basta apenas ter uma ideia boa, é preciso planejamento, visão e
flexibilidade para executar as mudanças necessárias. Saber acompanhar
essas mudanças e encontrar oportunidades entre elas faz toda a diferença
quando o assunto é garantir longevidade.
Empreendedorismo e inovação: 7 dicas para ter uma empresa inovadora
Alguns processos como o Design Thinking, que ajudam a aumentar as chances de sucesso no processo de inovação,
podem auxiliar os empreendedores a reconhecer problemas e desenvolver
soluções criativas para a empresa. Outro caminho é avaliar a situação do
negócio e observar quais são os principais desafios enfrentados pela
equipe:
concorrência?
engajamento?
divulgação da marca?
qualidade dos serviços?
Com soluções, empreendedorismo e inovação, tais situações podem ser
transformadas em oportunidades para o crescimento e sucesso da empresa.
Veja, a seguir, outras dicas para aplicar no seu negócio:
1. Observe os seus concorrentes
Uma forma de obter ideias de soluções criativas é observar iniciativas de concorrentes, empresas de outros segmentos e nacionalidades. Por meio da internet, torna-se cada vez mais fácil encontrar exemplos de sucesso ou fracasso nos negócios.
Além disso, quando seu concorrente dá o primeiro passo, você pode
aprender com os erros dele e aplicar o aprendizado na criação das suas
ações.
2. Alinhe os objetivos da empresa
Saber onde você quer chegar com o seu negócio te ajudará a definir os
caminhos que vai percorrer. Isso quer dizer que você não tomará
atitudes, nem dedicar tempo e esforço da sua equipe em ações que não te
ajudarão a conquistar seus objetivos.
Defina os seus objetivos e alinhe com as expectativas de seus colaboradores.
3. Consuma conteúdo
Buscar inspiração é fundamental para quem quer inovar. Fique atento
às exposições de arte, música, teatro, leia artigos, converse com as
pessoas, observe os locais que os seus clientes gostam de frequentar e
fique atento a tudo que está ao seu redor.
Também se atente a filmes, documentários, séries, vídeos, revistas,
livros e outros materiais, visto que é possível descobrir novas formas
de empreender em seu próprio negócio. Toda e qualquer fonte de
informação é conteúdo e pode gerar “insights” para promover a inovação
no seu negócio.
4. Estimule a criatividade da sua equipe
A inovação não precisa partir só do dono da empresa. Todos os
profissionais da empresa podem contribuir com suas ideias, mas para isso
é importante que eles se sintam confortáveis em apresentá-las.
Desenvolva atividades de estímulo à criatividade e estimule os
profissionais a apresentarem soluções para os problemas da empresa.
Quanto mais ideias forem apresentadas, mais chances de acertar em uma
nova solução ou na criação de um novo produto.
5. Ofereça recompensas para a equipe
As recompensas, como premiações, benefícios ou até aumento de salário
ajudam a estimular o colaborador a buscar soluções para o negócio. Mas
fique atento! O colaborador não pode ser estimulado a apenas contribuir
se ganhar algo em troca. A sua empresa deve promover uma cultura de inovação e colaboração. As recompensas devem ser oferecidas quando a empresa tem ganhos significativos.
6. Foque no seu cliente
De nada vai adiantar você investir em inovação, buscar soluções ou
criar produtos que não atendam às necessidades do seu cliente. Muitas
empresas erram por tentar inovar para ganhar destaque na mídia e acabam
esquecendo que o verdadeiro valor para o seu negócio são seus clientes.
Se você desenvolver uma solução ou um produto que seja inovador para
eles, que atraia a atenção de mais pessoas com o perfil do seu cliente e
faça diferença em suas vidas, conseguirá alcançar o sucesso que deseja.
Por isso, foque nos seus clientes. Estude o seu público. Saiba o que ele está consumindo, quais são seus problemas e desejos.
7. Busque capacitação e capacite a sua equipe
O desenvolvimento de novas habilidades, o conhecimento e a informação
são fundamentais para quem quer inovar. E você não precisa investir
muito dinheiro nisso. Existem diversas plataformas que oferecem cursos e
treinamentos gratuitos ou conteúdos básicos para quem quer aprender uma
nova habilidade.
Outra fonte essencial de ideias são as consultorias e o contato direto com profissionais de diferentes segmentos em feiras, eventos e cursos de empreendedorismo e inovação.
Aqui no blog do Sebrae,
buscamos compartilhar histórias e conhecimentos básicos para que
gestores, jovens empreendedores e profissionais do mercado possam, cada
vez mais, desenvolver habilidades, inovando em seus negócios e obtendo
sucesso no mercado.
A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma
Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço
que tem um forte relacionamento com a tecnologia.
Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito
inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades
do mercado.
Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até
no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o
mercado já oferece para se destacar ainda mais.
Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda
uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito,
pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como
a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas
funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até
mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo
ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.
A inovação é
a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções
criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas
pelo mercado.
Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela
em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o
consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita
que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu
consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Advogado de Jair Bolsonaro (PL), Paulo
Cunha Bueno disse nesta segunda-feira (26) que a fala do ex-presidente
durante ato na avenida Paulista em que indicou saber da existência de
minutas de texto que buscavam anular a eleição se referia a um texto
recebido por ele em 2023. Portanto, depois que deixou o governo.
Na avaliação da Polícia Federal, o discurso de Bolsonaro reforçou a
linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de
Estado. Bueno nega essa possibilidade.
“Declaração do presidente foi em cima da minuta que ele só teve
conhecimento em outubro de 2023. Não reforça em nada a investigação,
porque foi a primeira minuta que ele viu. Não tinha visto antes”, disse
Bueno à Folha de S.Paulo.
A minuta a que Bolsonaro se referia na avenida Paulista faz parte de
autos aos quais a defesa teve acesso em 18 de outubro do ano passado.
Segundo o advogado, o presidente pediu para que ele encaminhasse por
telefone o texto para que ele pudesse imprimir e ler fisicamente.
Foi esse o documento encontrado pela PF, no início de fevereiro, na
sala do ex-presidente na sede do PL em Brasília. O documento previa
declaração de estado de sítio e decretação de uma operação de GLO
(Garantia da Lei e da Ordem) após a derrota nas eleições.
“Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de
defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Golpe
usando a Constituição. Deixo claro que estado de sítio começa com o
presidente da República convocando os conselhos da República e da
Defesa. Isso foi feito? Não”, disse Bolsonaro na avenida Paulista.
Interlocutores de Bolsonaro dizem que, se houve até uma prisão por
conta de minuta de decreto —no caso o ex-ministro Anderson Torres—, não
há o que se negar sobre a existência do texto. E a própria PF encontrou o
documento no gabinete do presidente.
O que não há, alegam, é como encontrar paralelo na fala do Bolsonaro
no domingo com reconhecimento de que ele teve acesso a essas minutas
durante sua gestão.
O raciocínio do ex-presidente reverbera entre seus aliados: eles
acreditam que escrever, discutir ou até sonhar com uma eventual
decretação de estado de sítio não é ilegal. Defendem que a abolição do
Estado democrático de Direito prevê uso da violência e que isso não fica
representado com o 8 de janeiro. Portanto, dizem que não haveria crime
comprovado com os documentos encontrados.
Para investigadores da PF, é possível deduzir das declarações do
ex-presidente que ele sabia da existência das minutas e estava ciente de
tratativas para tentar impedir a posse de Lula. O ato entrará no
contexto de toda a investigação sobre a trama.
Chamado para depor na semana passada na investigação que apura
tentativa de golpe, Bolsonaro se silenciou. Sua defesa justificou a
medida por não ter acesso aos autos.
Para os investigadores, o ex-presidente não só participou da
elaboração como chegou a fazer alterações em uma minuta para legitimar
um golpe de estado.
Neste domingo, além de tentar se defender das acusações da PF,
Bolsonaro diminuiu o tom da agressividade contra o STF (Supremo Tribunal
Federal), disse buscar a pacificação do país e pediu anistia aos presos
pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023.
Aliados do ex-presidente celebraram a alta adesão à manifestação da
Paulista e o fato de que não saiu nada do script: não havia cartazes
golpistas, violência e, sobretudo, ataques ao STF ou a Alexandre de
Moraes.
Para eles, o ato demonstrou capital político de Bolsonaro, ainda que, juridicamente, reconheçam não ter efeito nos processos.
Antes da manifestação, diferente das anteriores, interlocutores do
ex-presidente estavam mais temerosos do que otimistas, apesar de
insistirem que ao menos Bolsonaro não faria uma fala incendiária —o que,
de fato, ocorreu.
História de RENATO MACHADO, JULIA CHAIB E MARIANNA HOLANDA • Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do governo Lula (PT)
reconhecem nos bastidores que Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu ao
mobilizar aliados, como governadores e prefeitos, durante o ato que
reuniu milhares de pessoas na avenida Paulista, em São Paulo.
Alguns auxiliares de Lula afirmam terem ficado surpresos com a
presença de políticos que vinham apresentando sinais de moderação ou que
vinham mantendo um canal de diálogo com o Palácio do Planalto.
Diante desse diagnóstico, a equipe de Lula adotou a estratégia de ignorar ou pelo menos minimizar os impactos da manifestação.
Nesta segunda-feira (26), um dia após o ato na capital paulista,
integrantes do governo Lula desviaram do tema. A intenção é não dar mais
visibilidade para a manifestação bolsonarista.
O presidente Lula evitou responder uma pergunta de jornalista sobre o
assunto. Já o ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social
da Presidência) buscou minimizar a situação, afirmando que esteve mais
preocupado com a rodada do futebol no domingo do que com o protesto.
“Só sei que os vermelhos ganharam tudo ontem. O Liverpool ganhou, o
Inter ganhou, o Flamengo ganhou. Só deu vermelho ontem”, afirmou.
Rui Costa (Casa Civil) apenas disse que a mobilização esteve aquém do
que era esperado pelos organizadores e que grande parte das pessoas que
estavam lá seguiu o chamado de pastores religiosos. Ele também ironizou
que a maior surpresa foi um suposto reconhecimento de cometimento de
crime por Bolsonaro durante seu discurso.
Interlocutores de Lula dizem que era natural uma reação de Jair
Bolsonaro diante das investigações da Polícia Federal. Eles também
destacam que o ex-presidente ainda detém um considerável capital
político. Mas ponderam que desde o início estava claro que essa
demonstração de força não teria o poder de mudar o curso das apurações
em curso contra o ex-presidente.
Por outro lado, pessoas próximas a Lula manifestaram contrariedade
com alguns integrantes da classe política que marcaram presença na
manifestação. A principal preocupação foi com lideranças políticas que
eram consideradas, pelo Planalto, mais pragmáticas e distantes do
bolsonarismo mais ideológico. Um conselheiro do presidente afirmou que
alguns “optaram por estar em um lado” e esse lado é o “dessa organização
criminosa”.
A fala reflete um sentimento de que havia esperança de que o ato
fosse mais esvaziado de nomes políticos de peso. Uma das surpresas
negativas para a equipe de Lula foi a presença do governador de Goiás,
Ronaldo Caiado (União Brasil), que nos últimos meses manteve diálogo com
o governo federal para avançar projetos de interesse de seu estado.
Também chamou a atenção a postura de Tarcísio de Freitas
(Republicanos). Por um lado, a sua participação era esperada,
considerando que ele foi eleito com o apoio de Bolsonaro e a
manifestação ocorreu em São Paulo. Por outro, auxiliares do petista não
contavam com uma posição de destaque para Tarcísio e muito menos um
discurso lembrando o “legado” de Bolsonaro e com críticas indiretas a
Lula.
“Um presidente que sempre respeitou Israel e a luta de seu povo”,
afirmou o governador, numa fala que foi lida como uma estocada em Lula.
O Brasil vive atualmente uma crise diplomática com Israel, após Lula
ter comparado a ação militar israelense na Faixa de Gaza com o
Holocausto.
Além de Tarcísio e Caiado, participaram os governadores de Minas
Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL),
além da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). Outro
participante foi o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que busca
a reeleição.
O Palácio do Planalto afirma nos bastidores que não pretende mudar a
relação que mantém com esses governadores, mesmo após a participação na
manifestação.
Assessores de Lula buscam novamente minimizar a questão, lembrando
que Jair Bolsonaro fez um grande esforço no segundo semestre do ano
passado, mas não conseguiu barrar a tramitação e aprovação da reforma
tributária. Segundo esses auxiliares de Lula, fatos como esse mostram a
real força do bolsonarismo, e não uma foto com aliados em uma
manifestação.
Bolsonaro reuniu governadores, parlamentares e milhares de apoiadores
em um ato na avenida Paulista, no domingo (25). A manifestação de força
acontece justamente no momento em que avançam as investigações contra
Bolsonaro e seus aliados a respeito de uma trama golpista para mantê-lo
no poder.
Acuado pelas investigações, Bolsonaro buscou maneirar um pouco no tom
de sua fala. Não desferiu a sua tradicional agressividade contra o STF,
falou em pacificação, disse que as eleições presidenciais de 2022 eram
“página virada da nossa história” e pediu anistia aos presos pelo ataque
golpista de 8 de janeiro de 2023.
O ex-presidente também negou a existência de uma trama golpista.
“O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi
feito no Brasil”, disse. “Agora o golpe é porque tem uma minuta do
decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha
paciência”, afirmou o ex-presidente diante de seus apoiadores.
As críticas à manifestação foram verbalizadas sobretudo por membros
do PT, que rebateram a defesa feita por Bolsonaro de que o Parlamento
aprove um projeto para anistiar condenados por participação no 8 de
janeiro. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), rechaçou essa
hipótese, assim como o líder do governo na Câmara, José Guimarães
(PT-CE).
“Não pode ter anistia. Não vamos dar anistia para quem cometeu crime contra a democracia”, disse Guimarães.
O deputado também reclamou da participação de governadores no ato na
avenida Paulista e disse que eles são “cúmplices de uma tentativa de
golpe”.
O governo Lula oficializou nesta segunda-feira, 26, os detalhes do
programa voltado a encontrar destinações para imóveis da União, batizado
de “Imóveis da Gente”. Em cerimônia no Palácio do Planalto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Gestão, Esther
Dweck, assinaram os decretos de criação da política, com a definição de
prioridades e a instituição de um Comitê Interministerial que dará os
principais comandos do programa. Embora o Ministério da Fazenda, de
Fernando Haddad, esteja na empreitada de elevar a arrecadação do governo
para zerar o déficit das contas públicas, os ministros da Gestão e da
Casa Civil, Rui Costa, descartaram que o “Imóveis da Gente” tenha
qualquer viés de elevar a entrada de receita nos cofres da União.
Esse potencial já foi o grande foco do ex-ministro da Economia, Paulo
Guedes, que, durante o governo Bolsonaro, chegou a propagar que a venda
de imóveis do governo poderia render R$ 1 trilhão ao Tesouro. A agenda
de leilão desses ativos, no entanto, caminhou longe desse alvo. A
própria ministra da Gestão relembrou nesta segunda de casos em que
ofertas acabaram frustradas, sem interesse do setor privado. Ela ainda
pontuou que o valor levantado pelo ex-ministro envolvia desde prédios da
Esplanada a terrenos de Marinha, sendo, por isso, superestimado no
potencial de arrecadação. “Simplesmente alienar o patrimônio era um
certo mantra do governo anterior, sem nenhuma preocupação de melhorar e
valorizar o patrimônio brasileiro”, disse Esther Dweck.
O governo Lula acredita que terá sucesso com o novo desenho porque o
foco não está mais na alienação simples dos imóveis – apesar de não
descartar essa modalidade em áreas muito valorizadas. No “Imóveis da
Gente”, a ideia é usar quatro instrumentos de destinação patrimonial. O
primeiro, de cessões, que podem ser gratuitas, onerosas ou feitas em
condições especiais, que vinculem o tipo de uso do imóvel. Doação com
encargos é outro instrumento previsto, que deve ser utilizado
principalmente para unidades habitacionais, regularização fundiária e
empreendimentos sociais, como escolas, UPAS e UBS. A entrega de ativos
para Estados e municípios é uma terceira opção, na qual o ente
subnacional passa a ser responsável pela manutenção do imóvel, o que
desonera o governo federal desse custo. Por fim, está a alienação
(venda) com permuta.
Nesse caso, o governo poderá fazer o leilão de venda de imóvel, cujo
pagamento pelo ativo será feito pela iniciativa privada via oferta de
outros serviços, como a construção de obras de habitação ou de
empreendimentos sociais. Dessa forma, a compensação ao governo não
entraria pelo caixa da União.
Para a ministra da Gestão, a lógica da gestão anterior, de simples
alienação, não promovia a valorização do ativo público. “A nossa lógica
de alienação será prioritariamente de alienação por construção, não pelo
dinheiro, mas trocar patrimônio por patrimônio”, disse Dweck, endossada
por Rui Costa, da Casa Civil, para quem alguns episódios de venda se
deram com preços “questionáveis” durante o governo passado.
O plano, de acordo com Costa, é chamar a iniciativa privada a
apresentar ideias e projetos. Por exemplo, no caso de grandes
empreendimentos, com áreas de múltiplos usos, o governo quer receber
proposta de Manifestação de Interesse (PMI). Uma vez que a União planeja
recepcionar planos do setor privado, de Estados e também de municípios
sobre o que fazer com os ativos, o foco do Ministério da Gestão também
está em atualizar o catálogo de patrimônio da União.
“Estamos fortalecendo a área de transformação digital para ter um
catálogo correto. Em algumas áreas, a melhor destinação não é
necessariamente para habitação, para empreendimento social. Pode estar
em local extremamente valorizado, com valor de mercado gigantesco. Assim
chamamos o setor privado para participar”, disse Dweck, citando o uso
do leilão com permuta ou a possibilidade de destinar imóveis para casos
de aluguel social. Atualmente, mais de 500 imóveis da União estão em
estudo para possível destinação (entre as quatro modalidades),
distribuídos em cerca de 200 municípios.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após sofrer uma derrota no Senado com a
aprovação do fim das saídas temporária de presos em datas comemorativas,
o governo Lula (PT) teme que outros temas ligados à segurança pública
isolem partidos de esquerda no Legislativo e deixem o presidente entre a
pressão do Congresso e a de sua base eleitoral mais fiel.
O debate na votação que restringiu as saidinhas expôs a dificuldade
da base do governo em lidar com propostas sobre combate à criminalidade
historicamente mais vinculadas à direita.
Integrantes da bancada da bala no Congresso dizem que projetos
similares também entrarão em pauta neste ano por terem apelo popular e
serem vistos como pauta positiva pelos presidentes das duas Casas.
O aumento de pena para roubo de celular, as restrições à progressão
de pena, o endurecimento do Código de Processo Penal e a determinação
para presos arcarem com custos de tornozeleira eletrônica são alguns
exemplos nesse sentido.
O Palácio do Planalto atua para que o Legislativo foque apenas nas
propostas econômicas, e teme a imposição de derrotas em série ao
Executivo caso os parlamentares se debrucem sobre temas vinculados à
segurança pública.
Apenas os senadores Cid Gomes (PDT-CE) e Rogério Carvalho (PT-SE)
votaram contra o projeto das saidinhas, contra 62 votos favoráveis.
Durante a sessão, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA),
deixou claro o desconforto com a matéria.
“Ficou claro nesse debate, até quando se olha para o painel, o grande
número de partidos que são da base do governo e orientaram voto ‘sim’.
Não adianta aqui eu confrontar lideranças partidárias”, afirmou.
“Entendi todas as razões, matéria apaixonante, fui governador por oito
anos, sei o que está acontecendo na segurança”, disse Wagner.
O projeto voltou para a Câmara e a tendência é que seja aprovado em
breve. Depois disso, a matéria seguirá para sanção de Lula. Ele já sofre
pressão de aliados mais à esquerda para vetar a proposta.
O argumento dos que defendem o veto é que a ampliação do
encarceramento não é a solução para o problema do país e que o governo
tem que investir em medidas de ressocialização para recuperar jovens
presos.
No entanto, a articulação política do governo recomendou ao
mandatário que não derrube a proposta porque a chance de o veto ser
revertido é grande.
A Câmara aprovou a extinção das saidinhas em 2022 com 311 votos
favoráveis e 98 contrários. O Senado suavizou o texto em busca de
maioria e manteve a previsão de liberação temporária de presos para
estudar e fazer cursos profissionalizantes.
Agora, a tendência é que os deputados mantenham o texto da Casa
vizinha. Depois disso, o texto será encaminhado para o presidente.
Outro projeto que pode chegar à mesa de Lula neste ano diz respeito
ao aumento de penas para quem comete furto, furto qualificado, roubo,
roubo com lesão corporal grave, latrocínio (roubo seguido de morte) e
receptação.
Entre as mudanças aprovadas pela Câmara estão a elevação das sanções
mínimas de furto (de um para dois anos de reclusão), de roubo com lesão
corporal grave (de 7 anos para 16 anos de reclusão) e de latrocínio (de
20 para 24 anos de reclusão).
A previsão é que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado
aprove a matéria em março e há uma pressão para que o presidente da
Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não demore a levar o caso ao plenário.
Há uma articulação para que o texto da Câmara não seja alterado, o
que representaria a conclusão do debate no Congresso e a ida imediata da
matéria para sanção presidencial.
Os deputados aprovaram o texto com 269 votos a favor e 87 contrários e
o comportamento dos partidos deixou clara a derrota do governo.
Parlamentares governistas apresentaram requerimentos que retiravam o
projeto da pauta, que adiavam a discussão da matéria e que adiavam a
votação, mas não tiveram sucesso.
No Senado, a aprovação é dada como certa. Depois disso, Lula deverá
enfrentar um dilema similar ao caso das saidinhas, com pressão para
sancionar a fim de não contrariar a maioria da Câmara e também para
vetar para se manter próximo à sua base de esquerda mais fiel.
O autor da proposta, Kim Kataguiri (União Brasil-SP), é pré-candidato
a prefeito de São Paulo e afirma que a postura de seus dois
concorrentes à esquerda na disputa municipal indicam a dificuldade do
campo progressista com temas de combate à violência.
“Nem [os deputados] Guilherme Boulos [PSOL-SP] e Tabata Amaral
[PSB-SP] votaram, porque na realidade são contra, mas sabem que a
posição deles de desencarceramento e afrouxamento da lei penal é
impopular, ainda mais diante do fato de que a principal pauta da eleição
em São Paulo é a segurança pública”, diz.
Outros projetos desta natureza também estão em curso no Legislativo.
Um deles visa tornar obrigatória a decretação de prisão preventiva na
audiência de custódia em casos de crimes hediondo, roubo e associação
criminosa qualificada quando for configurada reincidência.
O autor, deputado Coronel Ulysses (União Brasil-AC), conseguiu a
assinatura de líderes da Casa que representam 13 partidos que pedem a
instituição de urgência para o texto, o que dispensa a tramitação em
comissões e remete a matéria direto para análise do plenário.
A percepção entre parlamentares é que os projetos ligados à segurança
pública têm apoio popular e, por isso, a chance de aprovação é sempre
alta. Nesses casos, os parlamentares mais à direita conseguem o apoio
das siglas de centro e conquistam maioria em favor das propostas.
Pesquisa Datafolha de setembro do ano passado apontou que seis em
cada dez brasileiros sentem insegurança ao caminhar pelas ruas das
cidades onde moram.
Os deputados do campo progressista, por sua vez, afirmam que
endurecer as penas e aumentar a população carcerária não é o caminho
para resolver os problemas do país.
As saídas temporárias, por exemplo, foram defendidas pela rede
Justiça Criminal, que considera a medida um importante instrumento para
manutenção de laços familiares, inserção e permanência no mercado de
trabalho e para o acesso a outras oportunidades.
Por mais de uma década, os Estados Unidos
cultivaram uma parceria secreta de inteligência com a Ucrânia que agora é
fundamental para ambos os países no combate à Rússia
Por Adam Entous e Michael Schwirtz – Jornal Estadão
THE NEW YORK TIMES – Aninhada em uma floresta densa, a base militar
ucraniana parece abandonada e destruída, seu centro de comando é uma
casca queimada, vítima de uma barragem de mísseis russos no início da
guerra
Não muito longe dali, uma passagem discreta leva até um bunker
subterrâneo onde equipes de soldados ucranianos rastreiam satélites
espiões russos e escutam conversas entre comandantes russos. Em uma
tela, uma linha vermelha segue a rota de um drone explosivo que
atravessa as defesas aéreas russas de um ponto na Ucrânia central até um alvo na cidade russa de Rostov.
O bunker subterrâneo, construído para substituir o centro de comando destruído nos meses após a invasão russa, é um centro secreto agitado das forças armadas da Ucrânia.
Soldado
do exército ucraniano numa floresta perto das linhas russas na Ucrânia,
em imagem de 7 de fevereiro. Durante mais de uma década, os EUA
cultivaram uma parceria secreta da CIA com os ucranianos Foto: Tyler Hicks/NYT
“Cento e dez por cento”, disse o general Serhii Dvoretski, um dos
principais comandantes da inteligência, em uma entrevista na base.
Agora, entrando no terceiro ano de uma guerra que já ceifou centenas
de milhares de vidas, a parceria de inteligência entre Washington e Kiev
é um elemento fundamental da capacidade da Ucrânia de se defender. A
CIA e outras agências de inteligência americanas fornecem informações
para ataques de mísseis direcionados, rastreiam os movimentos das tropas
russas e ajudam a apoiar as redes de espionagem.
Mas a parceria não foi criada em tempos de guerra e a Ucrânia não é a única beneficiária.
Ela se enraizou há uma década, sendo formada aos poucos sob o comando
de três presidentes americanos muito diferentes, impulsionada por
indivíduos importantes que muitas vezes assumiram riscos ousados. Ela
transformou a Ucrânia, cujas agências de inteligência eram vistas há
muito tempo como totalmente comprometidas pela Rússia, em um dos mais importantes parceiros de inteligência de Washington contra o Kremlin atualmente.
O posto de escuta na floresta ucraniana faz parte de uma rede de
bases de espionagem apoiada pela CIA, construída nos últimos oito anos,
que inclui 12 locais secretos ao longo da fronteira russa. Antes da
guerra, os ucranianos se mostraram aos americanos ao coletar
interceptações que ajudaram a provar o envolvimento da Rússia na
derrubada de um jato comercial em 2014, o voo 17 da Malaysia Airlines.
Os ucranianos também ajudaram os americanos a perseguir os agentes
russos que se intrometeram na eleição presidencial dos EUA de 2016.
Por volta de 2016, a CIA começou a treinar uma força de comando de
elite ucraniana – conhecida como Unidade 2245 – que capturou drones e
equipamentos de comunicação russos para que os técnicos da CIA pudessem
fazer engenharia reversa e decifrar os sistemas de criptografia de
Moscou. (Um oficial da unidade era Kirilo Budanov, atualmente o general
que lidera a inteligência militar da Ucrânia).
A CIA também ajudou a treinar uma nova geração de espiões ucranianos
que operavam dentro da Rússia, em toda a Europa, em Cuba e em outros
lugares onde os russos têm grande presença.
O relacionamento está tão arraigado que os oficiais da CIA permaneceram em um local remoto no oeste da Ucrânia quando o governo Biden retirou o pessoal dos EUA nas
semanas anteriores à invasão da Rússia em fevereiro de 2022. Durante a
invasão, os oficiais transmitiram informações essenciais, incluindo onde
a Rússia estava planejando ataques e quais sistemas de armas seriam
usados.
Destroços
do voo 17 da Malaysian Airlines em um campo em Grabovo, na Ucrânia, em
imagem de 24 de julho de 2014. Avião foi abatido na Ucrânia em 2014, com
mais de 300 mortes causadas Foto: Mauricio Lima / NYT
“Sem eles, não teríamos como resistir aos russos ou derrotá-los”,
disse Ivan Bakanov, que na época era chefe da agência de inteligência
doméstica da Ucrânia, a SBU.
Os detalhes dessa parceria de inteligência, muitos dos quais estão sendo revelados pelo The New York Times pela primeira vez, têm sido um segredo bem guardado há uma década.
Em mais de 200 entrevistas, funcionários atuais e antigos da Ucrânia,
dos Estados Unidos e da Europa descreveram uma parceria que quase
naufragou devido à desconfiança mútua, antes de se expandir
constantemente, transformando a Ucrânia em um centro de coleta de
informações que interceptava mais comunicações russas do que a estação
da CIA. em Kiev poderia inicialmente lidar. Muitas das autoridades
falaram sob condição de anonimato para discutir questões de inteligência
e diplomacia sensível.
Agora, essas redes de inteligência são mais importantes do que nunca,
já que a Rússia está na ofensiva e a Ucrânia está mais dependente de
sabotagem e ataques com mísseis de longo alcance que exigem espiões
muito atrás das linhas inimigas. E elas estão cada vez mais em risco: Se
os republicanos no Congresso acabarem com o financiamento militar para
Kiev, a CIA pode ter que reduzir o número de operações.
Imagem
de 2016 mostra debate entre democrata Hillary Clinton e republicano
Donald Trump na eleição presidencial. Ucranianos ajudaram autoridades
americanas a perseguir agentes russos que se intrometeram na disputa Foto: Damon Winter / NYT
Para tentar tranquilizar os líderes ucranianos, William Burns,
diretor da CIA, fez uma visita secreta à Ucrânia no dia 22, sua décima
visita desde a invasão.
Desde o início, um adversário em comum – o presidente Vladimir Putin da
Rússia – uniu a CIA e seus parceiros ucranianos. Obcecado em “perder” a
Ucrânia para o Ocidente, Putin interferiu regularmente no sistema
político ucraniano, escolhendo a dedo os líderes que, segundo ele,
manteriam a Ucrânia na órbita da Rússia, mas o tiro sempre saiu pela
culatra, levando os manifestantes às ruas.
Putin há muito tempo culpa as agências de inteligência ocidentais por
manipular Kiev e semear o sentimento antirrusso na Ucrânia.
No final de 2021, de acordo com um alto funcionário europeu, Putin
estava avaliando se lançaria sua invasão em grande escala quando se
reuniu com o chefe de um dos principais serviços de espionagem da
Rússia, que lhe disse que a CIA, juntamente com o M-I6 do Reino Unido,
estava controlando a Ucrânia e transformando-a em uma cabeça de ponte
para operações contra Moscou.
Mas a investigação do NYT descobriu que Putin e seus
assessores interpretaram mal uma dinâmica crítica. A CIA não forçou sua
entrada na Ucrânia. As autoridades dos EUA muitas vezes relutavam em se
envolver totalmente, temendo que as autoridades ucranianas não fossem
confiáveis e preocupadas em provocar o Kremlin.
Destroços de um prédio de
apartamentos após um ataque com mísseis russos no sul de Kiev, em imagem
do dia 25. EUA nutriram parceria secreta de inteligência com a Ucrânia
por mais de uma década Foto: Lynsey Addario / NYT
No entanto, um círculo restrito de funcionários da inteligência
ucraniana cortejou assiduamente a CIA e gradualmente se tornou vital
para os americanos. Em 2015, o general Valeri Kondratiuk, então chefe da
inteligência militar da Ucrânia, chegou a uma reunião com o vice-chefe
da estação da CIA e, sem aviso prévio, entregou uma pilha de arquivos
ultrassecretos.
Esse pacote inicial continha segredos sobre a Frota do Norte da
Marinha Russa, incluindo informações detalhadas sobre os mais recentes
projetos de submarinos nucleares russos. Em pouco tempo, equipes de
oficiais da CIA. saíam regularmente de seu escritório com mochilas
cheias de documentos.
“Entendemos que precisávamos criar as condições de confiança”, disse o general Kondratiuk.
À medida que a parceria se aprofundou depois de 2016, os ucranianos
ficaram impacientes com o que consideravam ser a cautela indevida de
Washington e começaram a encenar assassinatos e outras operações letais,
o que violava os termos que a Casa Branca acreditava que os ucranianos
haviam concordado. Enfurecidas, as autoridades de Washington ameaçaram
cortar o apoio, mas nunca o fizeram.
“As relações foram ficando cada vez mais fortes porque ambos os lados
viam valor nisso, e a Embaixada dos EUA em Kiev – nossa estação lá, a
operação fora da Ucrânia – tornou-se a melhor fonte de informações,
sinais e tudo o mais sobre a Rússia”, disse um ex-funcionário americano
sênior. “Não conseguíamos nos cansar dela.”
Um início cauteloso
A parceria da CIA na Ucrânia pode ser rastreada até dois telefonemas
na noite de 24 de fevereiro de 2014, oito anos antes da invasão em
grande escala da Rússia.
Milhões de ucranianos tinham acabado de invadir o governo pró-Kremlin
do país e o presidente, Viktor Yanukovych, e seus chefes de espionagem
tinham fugido para a Rússia. No tumulto, um frágil governo pró-ocidental
rapidamente assumiu o poder.
O novo chefe de espionagem do governo, Valentin Nalivaichenko, chegou
à sede da agência de inteligência doméstica e encontrou uma pilha de
documentos em chamas no pátio. No interior, muitos dos computadores
haviam sido apagados ou estavam infectados com malware russo.
“Estava vazio. Sem luzes. Nenhuma liderança. Não havia ninguém lá”, disse Nalivaichenko em uma entrevista.
Ele foi a um escritório e ligou para o chefe da estação da CIA e para
o chefe local do MI6. Era quase meia-noite, mas ele os chamou ao
prédio, pediu ajuda para reconstruir a agência do zero e propôs uma
parceria tripartite. “Foi assim que tudo começou”, disse Nalivaichenko.
Imagem de 2014 mostra praça da Independência, em Kiev, durante o levante popular contra o governo apoiado pela Rússia Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times
A situação rapidamente se tornou mais perigosa. Putin tomou a
Crimeia. Seus agentes fomentaram rebeliões separatistas que se tornariam
uma guerra no leste do país. A Ucrânia estava em pé de guerra, e
Nalivaichenko pediu à CIA imagens aéreas e outras informações de
inteligência para ajudar a defender seu território.
Com a escalada da violência, um avião não identificado do governo dos
EUA aterrissou em um aeroporto em Kiev com John Brennan, então diretor
da CIA. Ele disse a Nalivaichenko que a CIA estava interessada em
desenvolver um relacionamento, mas somente em um ritmo com o qual a
agência se sentisse confortável, de acordo com autoridades
norte-americanas e ucranianas.
Para a CIA, a incógnita era saber por quanto tempo Nalivaichenko e o
governo pró-ocidental permaneceriam no país. A CIA já havia se queimado
antes na Ucrânia.
Após a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia conquistou a
independência e, em seguida, oscilou entre forças políticas
concorrentes: aquelas que queriam permanecer próximas a Moscou e aquelas
que queriam se alinhar com o Ocidente. Durante um período anterior como
chefe de espionagem, Nalivaichenko iniciou uma parceria semelhante com a
CIA, que foi dissolvida quando o país se voltou para a Rússia.
Agora, Brennan explicou que, para liberar a assistência da CIA, os
ucranianos precisavam provar que poderiam fornecer informações de valor
para os americanos. Eles também precisavam eliminar os espiões russos; a
agência de espionagem doméstica, a S.B.U., estava repleta deles. (Caso
em questão: Os russos ficaram sabendo rapidamente sobre a visita
supostamente secreta de Brennan. Os veículos de propaganda do Kremlin
publicaram uma imagem com photoshop do diretor da CIA. usando uma peruca
de palhaço e maquiagem).
Velório de um manifestante ucraniano na Praça da Independência, em Kiev, em imagem de 2014 Foto: Sergey Ponomarev / NYT
Brennan retornou a Washington, onde os assessores do presidente
Barack Obama estavam profundamente preocupados em provocar Moscou. A
Casa Branca elaborou regras secretas que enfureceram os ucranianos e que
alguns dentro da CIA. consideraram como algemas. As regras impediam que
as agências de inteligência fornecessem qualquer apoio à Ucrânia que
pudesse ser “razoavelmente esperado” para ter consequências letais.
O resultado foi um delicado ato de equilíbrio. A CIA. deveria
fortalecer as agências de inteligência da Ucrânia sem provocar os
russos. As linhas vermelhas nunca foram exatamente claras, o que criou
uma tensão persistente na parceria.
Em Kiev, Nalivaichenko escolheu um assessor de longa data, o general
Kondratiuk, para ser o chefe da contra inteligência, e eles criaram uma
nova unidade paramilitar que foi implantada atrás das linhas inimigas
para conduzir operações e coletar informações que a CIA. ou o MI6 não
lhes forneceriam.
Conhecida como Quinta Diretoria, essa unidade seria preenchida com oficiais nascidos após a independência da Ucrânia.
“Eles não tinham nenhuma ligação com a Rússia”, disse o general
Kondratiuk. “Eles nem sequer sabiam o que era a União Soviética.”
Naquele verão, o voo 17 da Malaysia Airlines, que ia de Amsterdã para
Kuala Lumpur, explodiu no ar e caiu no leste da Ucrânia, matando quase
300 passageiros e tripulantes. O Quinto Diretório produziu
interceptações telefônicas e outras informações de inteligência poucas
horas após o acidente que rapidamente atribuíram a responsabilidade aos
separatistas apoiados pela Rússia.
A CIA. ficou impressionada e assumiu seu primeiro compromisso
significativo, fornecendo equipamentos de comunicação seguros e
treinamento especializado aos membros do Quinto Diretório e a duas
outras unidades de elite.
“Os ucranianos queriam peixe e nós, por motivos políticos, não
podíamos entregar esse peixe”, disse um ex-funcionário dos EUA,
referindo-se à inteligência que poderia ajudá-los a combater os russos.
“Mas ficamos felizes em ensiná-los a pescar e entregar equipamentos de
pesca com mosca.”
Um Papai Noel secreto
No verão de 2015, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, deu uma
sacudida no serviço interno e nomeou um aliado para substituir
Nalyvaichenko, o parceiro de confiança da CIA. Mas a mudança criou uma
oportunidade em outro lugar.
Na remodelação, o general Kondratiuk foi nomeado chefe da agência de
inteligência militar do país, conhecida como HUR, onde anos antes ele
havia começado sua carreira. Esse seria um dos primeiros exemplos de
como os laços pessoais, mais do que as mudanças de política,
aprofundariam o envolvimento da CIA na Ucrânia.
Diferentemente da agência doméstica, a HUR tinha autoridade para
coletar informações de inteligência fora do país, inclusive na Rússia.
Mas os norte-americanos viram pouco valor em cultivar a agência porque
ela não estava produzindo nenhuma inteligência de valor sobre os russos –
e porque era vista como um bastião de simpatizantes russos.
Imagem
de maio de 2022 mostra tropas ucranianas carregando uma peça de
artilharia Howitzer M777 na região de Donetsk, no leste da Ucrânia País é
dependente de sabotagem e ataques com mísseis de longo alcance que
exigem espiões atrás de linhas inimigas Foto: Ivor Prickett/NYT
Tentando criar confiança, o general Kondratiuk marcou uma reunião com
seu colega americano na Defense Intelligence Agency e entregou uma
pilha de documentos secretos russos. Mas os altos funcionários da D.I.A.
estavam desconfiados e desencorajaram a criação de laços mais
estreitos.
O general precisava encontrar um parceiro mais disposto.
Meses antes, quando ainda estava na agência doméstica, o general
Kondratiuk visitou a sede da CIA em Langley, Virgínia. Nessas reuniões,
ele conheceu um oficial da CIA. com um comportamento alegre e uma barba
espessa que havia sido escolhido para ser o próximo chefe da estação em
Kiev.
Depois de um longo dia de reuniões, a CIA. levou o general Kondratiuk
a um jogo de hóquei do Washington Capitals, onde ele e o novo chefe da
estação sentaram-se em um camarote de luxo e vaiaram Alex Ovechkin, o
principal jogador do time da Rússia.
Corpo de soldado russo perto de
Kharkiv, na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Rede de bases de espionagem
apoiada pela CIA foi construída nos últimos oito anos, incluindo 12
bases secretas ao longo da fronteira da Ucrânia com a Rússia Foto: Tyler Hicks/NYT
O chefe da estação ainda não havia chegado quando o general
Kondratiuk entregou à CIA os documentos secretos sobre a Marinha russa.
“Há mais de onde esse veio”, prometeu ele, e os documentos foram
enviados para analistas em Langley.
Os analistas concluíram que os documentos eram autênticos e, depois
que o chefe da estação chegou a Kiev, a C.I.A. tornou-se a principal
parceira do general Kondratiuk.
O general Kondratiuk sabia que precisava da CIA. para fortalecer sua
própria agência. A CIA. achava que o general também poderia ajudar
Langley. A CIA tinha dificuldades para recrutar espiões dentro da Rússia
porque seus oficiais de caso estavam sob forte vigilância.
“Para um russo, permitir-se ser recrutado por um americano é cometer a
traição e a traição absolutas”, disse o general Kondratiuk. “Mas para
um russo ser recrutado por um ucraniano, são apenas amigos conversando
durante uma cerveja.”
O novo chefe da estação começou a visitar regularmente o general
Kondratiuk, cujo escritório era decorado com um aquário onde peixes
amarelos e azuis – as cores nacionais da Ucrânia – nadavam em círculos
ao redor de um modelo de submarino russo afundado. Os dois homens se
tornaram próximos, o que impulsionou o relacionamento entre as duas
agências, e os ucranianos deram ao novo chefe da estação um apelido
carinhoso: Papai Noel.
Em janeiro de 2016, o general Kondratiuk viajou para Washington para
reuniões em Scattergood, uma propriedade no campus da CIA. na Virgínia,
onde a agência frequentemente recebe dignitários visitantes. A agência
concordou em ajudar a HUR a se modernizar e a melhorar sua capacidade de
interceptar comunicações militares russas. Em troca, o general
Kondratiuk concordou em compartilhar toda a inteligência bruta com os
americanos.
Agora a parceria era real.
Operação Goldfish
Hoje, a estrada estreita que leva à base secreta é cercada por campos
minados, semeados como uma linha de defesa nas semanas após a invasão
da Rússia. Os mísseis russos que atingiram a base aparentemente a
fecharam, mas apenas algumas semanas depois os ucranianos retornaram.
Com dinheiro e equipamentos fornecidos pela CIA., as equipes sob o
comando do general Dvoretski começaram a reconstruir, mas de forma
subterrânea. Para evitar a detecção, eles só trabalhavam à noite e
quando os satélites espiões russos não estavam sobrevoando o local. Os
trabalhadores também estacionavam seus carros a uma certa distância do
local da construção.
No bunker, o general Dvoretski apontou para equipamentos de
comunicação e grandes servidores de computador, alguns dos quais
financiados pela CIA. Ele disse que suas equipes estavam usando a base
para invadir as redes de comunicação seguras dos militares russos.
Posto
de controle militar na região de Kharkiv, na Ucrânia, indica minas
terrestres ao longo da estrada, em imagem de dezembro de 2023 Foto: David Guttenfelder / NYT
“Esta é a coisa que invade satélites e decodifica conversas
secretas”, disse o general Dvoretski a um jornalista do Times durante
uma visita, acrescentando que eles também estavam invadindo satélites
espiões da China e de Belarus.
Outro oficial colocou dois mapas produzidos recentemente sobre uma
mesa, como prova de como a Ucrânia está rastreando a atividade russa em
todo o mundo.
O primeiro mostrava as rotas aéreas dos satélites espiões russos que
estavam sobrevoando a Ucrânia central. O segundo mostrava como os
satélites espiões russos estão passando por cima de instalações
militares estratégicas – incluindo uma instalação de armas nucleares –
no leste e no centro dos Estados Unidos.
A CIA começou a enviar equipamentos em 2016, após a reunião crucial
em Scattergood, disse o general Dvoretski, fornecendo rádios
criptografados e dispositivos para interceptar comunicações secretas do
inimigo.
Policiais
ucranianos em posto de controle móvel na região de Kharkiv, perto da
fronteira com a Rússia, em 18 de dezembro de 2023 Foto: David Guttenfelder/NYT
Além da base, a CIA. também supervisionou um programa de treinamento,
realizado em duas cidades europeias, para ensinar aos oficiais de
inteligência ucranianos como assumir de forma convincente personas
falsas e roubar segredos na Rússia e em outros países que são adeptos da
caça aos espiões. O programa foi chamado de Operação Peixe Dourado,
derivado de uma piada sobre um peixe dourado que fala russo e oferece a
dois estonianos desejos em troca de sua liberdade.
A piada era que um dos estonianos batia na cabeça do peixe com uma
pedra, explicando que não se podia confiar em nada que falasse russo.
Os oficiais da Operação Goldfish logo foram enviados para 12 bases
operacionais avançadas recém-construídas ao longo da fronteira russa. De
cada base, disse o general Kondratiuk, os oficiais ucranianos dirigiam
redes de agentes que coletavam informações de inteligência dentro da
Rússia.
Os oficiais da CIA instalaram equipamentos nas bases para ajudar na
coleta de informações e também identificaram alguns dos mais habilidosos
graduados ucranianos do programa Operation Goldfish, trabalhando com
eles para abordar possíveis fontes russas. Em seguida, esses graduados
treinaram agentes adormecidos no território ucraniano para lançar
operações de guerrilha em caso de ocupação.
Muitas vezes, pode levar anos para que a CIA. desenvolva confiança
suficiente em uma agência estrangeira para começar a realizar operações
conjuntas. Com os ucranianos, isso levou menos de seis meses. A nova
parceria começou a produzir tanta inteligência bruta sobre a Rússia que
ela teve de ser enviada para Langley para processamento.
Mas a CIA tinha linhas vermelhas. Ela não ajudaria os ucranianos a conduzir operações letais ofensivas.
“Fizemos uma distinção entre operações de coleta de inteligência e coisas que explodem”, disse um ex-funcionário sênior dos EUA.
‘Este é o nosso país’
Foi uma distinção que incomodou os ucranianos.
Primeiro, o general Kondratiuk ficou irritado quando os americanos se
recusaram a fornecer imagens de satélite de dentro da Rússia. Logo
depois, ele solicitou a ajuda da CIA. para planejar uma missão
clandestina para enviar comandos da HUR para a Rússia a fim de plantar
dispositivos explosivos em depósitos de trens usados pelos militares
russos. Se o exército russo tentasse tomar mais território ucraniano, os
ucranianos poderiam detonar os explosivos para retardar o avanço russo.
Quando o chefe da estação informou seus superiores, eles “perderam a
cabeça”, como disse um ex-funcionário. Brennan, diretor da CIA, ligou
para o general Kondratiuk para certificar-se de que a missão fosse
cancelada e que a Ucrânia respeitasse as linhas vermelhas que proíbem
operações letais.
O general Kondratiuk cancelou a missão, mas também aprendeu uma lição
diferente. “Daqui para a frente, trabalhamos para não ter discussões
sobre essas coisas com seus homens”, disse ele.
Encontro do então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e do então presidente da Ucrania, Petro Poroshenko, em imagem de 2017 Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
No final daquele verão, espiões ucranianos descobriram que as forças
russas estavam posicionando helicópteros de ataque em um campo de
aviação na Península da Crimeia, ocupada pela Rússia, possivelmente para
realizar um ataque surpresa.
O General Kondratiuk decidiu enviar uma equipe para a Crimeia para
colocar explosivos no campo de aviação, para que pudessem ser detonados
se a Rússia atacasse.
Dessa vez, ele não pediu permissão à CIA. Ele recorreu à Unidade
2245, a força de comando que recebeu treinamento militar especializado
do grupo paramilitar de elite da CIA, conhecido como Ground Department. A
intenção do treinamento era ensinar técnicas defensivas, mas os
oficiais da CIA. entenderam que, sem o conhecimento deles, os ucranianos
poderiam usar as mesmas técnicas em operações ofensivas letais.
Naquela época, o futuro chefe da agência de inteligência militar da
Ucrânia, general Budanov, era uma estrela em ascensão na Unidade 2245.
Ele era conhecido por operações ousadas atrás das linhas inimigas e
tinha laços profundos com a CIA. A agência o treinou e também tomou a
medida extraordinária de enviá-lo para reabilitação no Walter Reed
National Military Medical Center, em Maryland, depois que ele foi
baleado no braço direito durante os combates em Donbas.
Disfarçado com uniformes russos, o então tenente-coronel Budanov
liderou comandos através de um estreito golfo em lanchas infláveis,
desembarcando à noite na Crimeia.
Mas uma unidade de comando de elite russa estava esperando por eles.
Os ucranianos revidaram, matando vários combatentes russos, inclusive o
filho de um general, antes de se retirarem para a costa, mergulharem no
mar e nadarem por horas até o território controlado pelos ucranianos.
Foi um desastre. Em um discurso público, o presidente Putin acusou os
ucranianos de planejarem um ataque terrorista e prometeu vingar as
mortes dos combatentes russos.
Comandante
do batalhão da autoproclamada República Popular de Donetsk, Arseny
Pavlov, em um veículo blindado no Dia da Vitória, em Donetsk, em 9 de
maio de 2016. Pavlov é um dos símbolos do separatismo ucraniano Foto: ALEXANDER ERMOCHENKO / REUTERS
“Não há dúvida de que não deixaremos essas coisas passarem”, disse ele.
Em Washington, a Casa Branca de Obama ficou furiosa. Joseph Biden, na
época vice-presidente e defensor da assistência à Ucrânia, ligou para o
presidente ucraniano para reclamar com raiva.
“Isso causa um problema gigantesco”, disse Biden na ligação, cuja
gravação vazou e foi publicada on-line. “Tudo o que estou lhe dizendo,
como amigo, é que minha argumentação aqui é muito mais difícil agora.”
Alguns dos assessores de Obama queriam encerrar o programa da CIA.,
mas Brennan os persuadiu de que isso seria contraproducente, já que o
relacionamento estava começando a produzir informações sobre os russos
enquanto a CIA investigava a interferência russa nas eleições.
Brennan pegou o telefone com o General Kondratiuk para enfatizar novamente as linhas vermelhas.
O general ficou chateado. “Este é o nosso país”, respondeu ele, de acordo com um colega. “É a nossa guerra, e temos que lutar”.
A reação negativa de Washington custou o cargo do general Kondratiuk. Mas a Ucrânia não recuou.
Um dia após a remoção do general Kondratiuk, uma misteriosa explosão
na cidade de Donetsk, no leste da Ucrânia, ocupada pela Rússia, destruiu
um elevador que transportava um comandante separatista russo sênior
chamado Arsen Pavlov, conhecido por seu nome de guerra, Motorola.
A CIA. logo soube que os assassinos eram membros do Quinto Diretório,
o grupo de espionagem que recebeu treinamento da CIA.. A agência de
inteligência doméstica da Ucrânia chegou a distribuir adesivos
comemorativos para os envolvidos, cada um deles com a palavra “Lift”, o
termo britânico para elevador.
Mais uma vez, alguns dos assessores de Obama ficaram furiosos, mas
eles eram ‘patos mancos’ – faltavam três semanas para a eleição
presidencial que colocaria Donald Trump contra Hillary Clinton – e os
assassinatos continuaram.
Uma equipe de agentes ucranianos montou um lançador de foguetes não
tripulado, disparado pelo ombro, em um prédio nos territórios ocupados. O
prédio ficava em frente ao escritório de um comandante rebelde chamado
Mikhail Tolstikh, mais conhecido como Givi. Usando um gatilho remoto,
eles dispararam o lançador assim que Givi entrou em seu escritório,
matando-o, de acordo com autoridades norte-americanas e ucranianas.
Uma guerra sombria estava agora em pleno andamento. Os russos usaram
um carro-bomba para assassinar o chefe da Unidade 2245, a força de
comando de elite ucraniana. O comandante, coronel Maksim Shapoval,
estava a caminho de uma reunião com oficiais da CIA em Kiev quando seu
carro explodiu.
No velório do coronel, a embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie
Iovanovitch, ficou de luto ao lado do chefe da estação da CIA . Mais
tarde, os oficiais da CIA e seus colegas ucranianos brindaram ao coronel
Shapoval com doses de uísque.
“Para todos nós”, disse o general Kondratiuk, “foi um golpe”.
Na ponta dos pés em torno de Trump
A eleição de Trump em novembro de 2016 deixou os ucranianos e seus parceiros da CIA nervosos.
Trump elogiou Putin e descartou o papel da Rússia na interferência
eleitoral. Ele desconfiava da Ucrânia e mais tarde tentou pressionar seu
presidente, Volodmir Zelenski, a investigar seu rival democrata, Biden,
o que resultou no primeiro impeachment de Trump.
No entanto, independentemente do que Trump dissesse e fizesse, seu
governo frequentemente seguia na direção oposta. Isso se deve ao fato de
Trump ter colocado falcões russos em posições-chave, incluindo Mike
Pompeo como diretor da CIA e John Bolton como assessor de segurança
nacional. Eles visitaram Kiev para enfatizar seu total apoio à parceria
secreta, que se expandiu para incluir programas de treinamento mais
especializados e a construção de outras bases secretas.
A base na floresta cresceu e passou a incluir um novo centro de
comando e quartéis, e aumentou de 80 para 800 oficiais de inteligência
ucranianos. Impedir que a Rússia interferisse em futuras eleições nos
EUA foi uma das principais prioridades da CIA. durante esse período, e
os oficiais de inteligência ucranianos e americanos uniram forças para
sondar os sistemas de computador das agências de inteligência da Rússia
para identificar agentes que tentavam manipular os eleitores.
Imagem de 2017 mostra encontro entre presidente da Rússia, Vladimir Putin, e presidente dos EUA, Donald Trump, no G-20 Foto: Stephen Crowley / NYT
Em uma operação conjunta, uma equipe da HUR enganou um oficial do
serviço de inteligência militar da Rússia para que ele fornecesse
informações que permitiram à CIA conectar o governo russo ao chamado
grupo de hackers Fancy Bear, que estava ligado a esforços de
interferência eleitoral em vários países.
O general Budanov, que Zelenski escolheu para liderar o HUR em 2020,
falou sobre a parceria: “Ela só se fortaleceu. Cresceu sistematicamente.
A cooperação se expandiu para outras esferas e se tornou mais ampla”.
O relacionamento foi tão bem-sucedido que a CIA quis replicá-lo com
outros serviços de inteligência europeus que compartilhavam o foco no
combate à Rússia.
O chefe da Russia House, o departamento da CIA. que supervisiona as
operações contra a Rússia, organizou uma reunião secreta em Haia. Lá,
representantes da CIA., do MI6 da Grã-Bretanha, do HUR, do serviço
holandês (um aliado importante da inteligência) e de outras agências
concordaram em começar a reunir mais informações sobre a Rússia.
O resultado foi uma coalizão secreta contra a Rússia, da qual os ucranianos eram membros vitais.
Marcha para a guerra
Em março de 2021, os militares russos começaram a reunir tropas ao
longo da fronteira com a Ucrânia. Com o passar dos meses e mais tropas
cercando o país, a questão era se Putin estava fingindo ou se preparando
para a guerra.
Em novembro daquele ano e nas semanas seguintes, a CIA e o MI6
transmitiram uma mensagem unificada aos seus parceiros ucranianos: A
Rússia estava se preparando para uma invasão em grande escala para
decapitar o governo e instalar um fantoche em Kiev que cumpriria as
ordens do Kremlin.
As agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido tinham
interceptações às quais as agências de inteligência ucranianas não
tinham acesso, de acordo com autoridades dos EUA. A nova inteligência
listou os nomes das autoridades ucranianas que os russos estavam
planejando matar ou capturar, bem como os ucranianos que o Kremlin
esperava instalar no poder.
Obuseiros russos carregados em vagões de trem em uma estação fora de Taganrog, na Rússia, em 22 de fevereiro de 2022 Foto: NYT
O presidente Zelenski e alguns de seus principais assessores pareciam
não estar convencidos, mesmo depois que o Burns, diretor da CIA, correu
para Kiev em janeiro de 2022 para informá-los.
À medida que a invasão russa se aproximava, os oficiais da CIA. e do
MI6 fizeram as últimas visitas a Kiev com seus colegas ucranianos. Um
dos oficiais do M16 chorou na frente dos ucranianos, preocupado com a
possibilidade de os russos os matarem.
A pedido do Sr. Burns, um pequeno grupo de oficiais da CIA, foi
dispensado da evacuação mais ampla dos EUA e foi transferido para um
complexo hoteleiro no oeste da Ucrânia. Eles não queriam abandonar seus
parceiros.
Sem final de jogo
Depois que Putin lançou a invasão em 24 de fevereiro de 2022, os
oficiais da CIA no hotel eram a única presença do governo dos EUA no
local. Todos os dias, no hotel, eles se reuniam com seus contatos
ucranianos para passar informações. As velhas algemas foram retiradas, e
a Casa Branca de Biden autorizou as agências de espionagem a fornecer
apoio de inteligência para operações letais contra as forças russas em
solo ucraniano.
Muitas vezes, as instruções da CIA continham detalhes chocantemente específicos.
Em 3 de março de 2022 – o oitavo dia da guerra – a equipe da CIA.
apresentou uma visão geral precisa dos planos russos para as próximas
duas semanas. Os russos abririam um corredor humanitário para fora da
cidade sitiada de Mariupol naquele mesmo dia e, em seguida, abririam
fogo contra os ucranianos que o utilizassem.
Os russos planejavam cercar a cidade portuária estratégica de Odessa,
de acordo com a CIA, mas uma tempestade atrasou o ataque e os russos
nunca tomaram a cidade. Em seguida, em 10 de março, os russos pretendiam
bombardear seis cidades ucranianas e já haviam inserido as coordenadas
dos mísseis de cruzeiro para esses ataques.
Os russos também estavam tentando assassinar as principais
autoridades ucranianas, inclusive Zelenski. Em pelo menos um caso, a CIA
compartilhou informações de inteligência com a agência doméstica da
Ucrânia, o que ajudou a desarticular um plano contra o presidente, de
acordo com uma autoridade ucraniana sênior.
Soldado do Exército Ucraniano prepara defesas em uma posição à beira-mar em Odesa, na Ucrânia, em 16 de março de 2022 Foto: Tyler Hicks / NYT
Quando o ataque russo a Kiev foi interrompido, o chefe da estação da
CIA se alegrou e disse a seus colegas ucranianos que eles estavam “dando
um soco na cara dos russos”, de acordo com um oficial ucraniano que
estava na sala.
Em poucas semanas, a CIA retornou a Kiev, e a agência enviou dezenas
de novos oficiais para ajudar os ucranianos. Uma autoridade sênior dos
EUA disse sobre a presença considerável da CIA.: “Eles estão apertando
gatilhos? Não. Eles estão ajudando na definição de alvos? Com certeza”.
Alguns dos oficiais da CIA foram enviados para bases ucranianas. Eles
revisaram as listas de possíveis alvos russos que os ucranianos estavam
preparando para atacar, comparando as informações que os ucranianos
tinham com as informações de inteligência dos EUA para garantir que
fossem precisas.
Antes da invasão, a CIA e o MI6 haviam treinado seus colegas
ucranianos no recrutamento de fontes e na criação de redes clandestinas e
partidárias. Na região sul de Kherson, que foi ocupada pela Rússia nas
primeiras semanas da guerra, essas redes partidárias entraram em ação,
de acordo com o general Kondratiuk, assassinando colaboradores locais e
ajudando as forças ucranianas a atacar as posições russas.
Em julho de 2022, espiões ucranianos viram comboios russos se
preparando para cruzar uma ponte estratégica sobre o rio Dnipro e
notificaram o MI6. Oficiais de inteligência britânicos e americanos
verificaram rapidamente a inteligência ucraniana, usando imagens de
satélite em tempo real. O MI6 transmitiu a confirmação, e os militares
ucranianos abriram fogo com foguetes, destruindo os comboios.
No bunker subterrâneo, o general Dvoretski disse que um sistema
antiaéreo alemão agora defende contra ataques russos. Um sistema de
filtragem de ar protege contra armas químicas e um sistema de energia
dedicado está disponível, caso a rede elétrica caia.
A pergunta que alguns oficiais de inteligência ucranianos estão
fazendo agora a seus colegas americanos – enquanto os republicanos na
Câmara avaliam se devem cortar bilhões de dólares em ajuda – é se a CIA
os abandonará. “Isso já aconteceu no Afeganistão e agora vai acontecer
na Ucrânia”, disse um oficial ucraniano sênior.
Referindo-se à visita de Burns a Kiev na semana passada, um
funcionário da CIA disse: “Demonstramos um claro compromisso com a
Ucrânia ao longo de muitos anos e essa visita foi outro forte sinal de
que o compromisso dos EUA continuará”.
A CIA. e o HUR construíram duas outras bases secretas para
interceptar as comunicações russas e, combinadas com as 12 bases
operacionais avançadas, que, segundo o general Kondratiuk, ainda estão
operacionais, o HUR agora coleta e produz mais informações do que em
qualquer outro momento da guerra – muitas das quais são compartilhadas
com a CIA.
“Não é possível obter informações como essas em nenhum outro lugar, exceto aqui e agora”, disse o general Dvoretski.