quarta-feira, 30 de setembro de 2020

PRIMEIRO DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS AMERICANOS ACONTECEU ONTEM NOS EUA

 

Em debate confuso, Trump e Biden trocam acusações pessoais e expõem discordâncias

 

Chamado de palhaço e acusando o adversário de não ser esperto, Trump interrompeu Biden e o moderador Chris Wallace, da Fox News, diversas vezes. Candidatos se enfrentaram diretamente pela primeira vez em Cleveland, Ohio.

Por G1

 


Veja os destaques do primero debate entre Donald Trump e Joe Biden

Faltando 35 dias para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, Donald Trump e Joe Biden discutiram acaloradamente nesta terça-feira (29) no primeiro debate.

Falando muito, Trump quase não deu espaço para o adversário, interrompendo inclusive o moderador e tornando difícil a distribuição do tempo. O presidente foi o primeiro a ser questionado, tendo que responder por que indicou Amy Coney Barrett para a Suprema Corte a pouco mais de um mês para a eleição presidencial.

"Não fui eleito para três anos, fui eleito para quatro", justificou Trump, embora em 2016 seu próprio partido tenha barrado uma indicação de um juiz feita em março por Barack Obama - sob a alegação de que ela não poderia ser feita em ano de eleição presidencial.

Biden afirmou que a nomeação não deveria ser feita neste momento porque a eleição já está em andamento, uma vez que a votação por correio já foi iniciada em alguns estados.

 

Observados pelo moderador Chris Wallace, Donald Trump e Joe Biden participam de debate presidencial em Cleveland, Ohio, na terça-feira (29) — Foto: Jim Watson/AFP

Saúde

A conversa então foi direcionada para a área de saúde e a promessa de Trump de encerrar o Obamacare, lei que estabelece uma ampliação do acesso ao serviço de saúde, mas que é contestada pelos republicanos. Biden disse que Barrett acredita que o Obamacare "não é constitucional”. Segundo o democrata, colocar a juíza na Suprema Corte é a forma de Trump entregar sua promessa de campanha.

Foi então que Trump acusou o candidato democrata de ser aliado da esquerda radical, uma estratégia antecipada por sua equipe. "Seu partido quer adotar a medicina socialista", acusou, sendo rebatido pelo adversário.

·         Conheça os candidatos à Casa Branca

A troca de farpas aumentou quando o o coronavírus foi discutido, com Trump insistindo que a imprensa quer prejudicá-lo com uma imagem negativa, embora até mesmo governadores democratas elogiem suas iniciativas no combate à pandemia. Biden chegou a rir da afirmação.

Com mais de 7 milhões de casos e 200 mil mortes, os Estados Unidos são o país com o maior número de infecções e óbitos por Covid-19 em todo o mundo.

Ainda assim, o presidente tentou comparar a crise com a epidemia de gripe suína de 2009, que, segundo ele, foi enfrentada de forma desastrosa por Obama. Em resposta, seu adversário lembrou que a gripe suína matou 14 mil americanos, em comparação com as 200 mil mortes da Covid-19.

Em determinado momento, Biden se irritou e chegou a pedir para que Trump se calasse para que ele pudesse falar: 'Você vai calar a boca, homem?'. Este, porém, não foi seu primeiro momento de irritação.

Quando ainda discutiam planos de saúde, Biden chegou a chamar o presidente de palhaço: "Tudo que ele está dizendo até agora é simplesmente mentira. Todo mundo sabe que ele é um mentiroso... você tem alguma ideia do que este palhaço está fazendo?"

 

Donald Trump e Joe Biden em primeiro debate nos Estados Unidos — Foto: Reprodução/GloboNews

Trump também não ficou atrás e lançou provocações, respondendo às críticas sobre sua atuação em relação à pandemia de coronavírus dizendo que "você não deveria falar em esperteza comigo, não há nada de esperto em você, Joe".

Trump acusou Biden de querer manter os EUA fechados, e disse que isso iria destruir o país, enquanto o democrata afirmou que era a favor de manter medidas de segurança necessárias para evitar o aumento do número de casos e mortes causadas pelo Covid-19.

O presidente chegou a ironizar o uso de máscaras, dizendo que muitos especialistas não recomendam a prática: “Eu não uso uma máscara como (Biden), toda vez que você o vê, ele tem uma máscara. Ele pode estar falando a 200 metros de distância e aparece com a maior máscara que eu já vi.”

Impostos

Ao falar sobre economia, o presidente foi questionado sobre seus impostos, após uma matéria do "New York Times" mostrar que ele pagou apenas U$ 750 em 2016, e Biden - que divulgou nesta terça seus impostos do ano passado - voltou a pedir que Trump faça o mesmo.

"Eu paguei milhões de dólares em imposto de renda", disse Trump, que desmentiu o jornal, mas voltou a repetir o mesmo que diz desde 2015 - que mostrará os documentos quando "eles estiverem prontos".

Biden disse que eliminaria os cortes de impostos feitos por Trump como estratégia para reaquecer as atividades econômicas do país e chamou o adversário de "o pior presidente que os Estados Unidos já teve".

'Lei e ordem'

Ao falar sobre os protestos ao redor do país e violência, Trump voltou a associar Biden à esquerda radical, dizendo que o democrata não afirmaria ser a favor da lei e da ordem, porque isso o faria perder os votos dessa ala de eleitores.

Ele também o acusou de querer tirar fundos da polícia, o que foi negado. O presidente também reafirmou que cidades governadas por democratas são mais violentas

"A violência em resposta nunca é apropriada. Nunca é apropriada. O protesto pacífico é. A violência nunca é apropriada”, afirmou Biden, que negou categoricamente que pretenda retirar financiamento de forças policiais.

A conversa foi levada a uma discussão sobre racismo, e o moderador lembrou que, durante protestos contra supremacistas brancos em Charlottesville, em 2017, Trump afirmou que havia "boas pessoas dos dois lados". Wallace pediu então, que o presidente condenasse os grupos de extrema-direita e supremacistas brancos, como já fez com a extrema-esquerda e o movimento Antifa em várias oportunidades.

Trump não condenou diretamente, apenas disse: "Proud Boys (grupo de supremacistas), recuem e fiquem na sua". E prosseguiu: "Mas, vou lhe dizer uma coisa, alguém tem que fazer algo sobre a Antifa e a esquerda porque isso não é um problema de direita, é um problema de esquerda".

Em uma última tentativa de ligar Biden à esquerda radical, Trump disse que o plano ambiental do democrata era o "Green New Deal", apoiado por políticos como Bernie Sanders, mas Biden respondeu que “Não apoio o Green New Deal. Apoio o plano Biden que apresentei.”

Ele citou ainda o Brasil: "As florestas tropicais no Brasil estão sendo destruídas", disse, e sugeriu "consequências econômicas" ao país caso este não cumpra com metas de preservação das florestas.

 

As florestas tropicais no Brasil estão sendo destruídas, diz Biden

Ao final do debate, os dois mais uma vez discordaram, desta vez sobre a segurança da votação e do resultado nas eleições. Novamente Trump sugeriu que possa haver fraude, especialmente nos votos pelos correios, uma teoria que apresenta há meses, sem comprovação.

Biden o acusou de "assustar" os eleitores para tentar convencê-los a desistir de votar e pediu que todos votem. Ele garantiu que é impossível que exista uma manipulação dos resultados e disse que irá aceitar o resultado oficial, aguardando a contagem total. Enquanto isso, Trump disse que acredita ser possível que a Suprema Corte tenha que intervir.

 

Sem cumprimento

O primeiro dos três debates entre os dois candidatos aconteceu na Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio, e foi moderado por Chris Wallace, da Fox News.

O estado de Ohio é importante para os dois candidatos por ser um dos swing states, aqueles em que os eleitores não se comprometem tradicionalmente com um partido. Em 2016, Trump venceu ali, mas este ano, segundo média de pesquisas compiladas pelo site RealClearPolitics, Biden lidera, com 49% a 45,7% das intenções de voto.

O debate teve duração de 90 minutos, sem intervalos. Foram seis blocos de 15 minutos cada, divididos por assuntos, selecionados por Wallace. Não houve checagem de fatos pelo moderador.

Seguindo um acordo entre os dois partidos, devido à pandemia de coronavírus, os candidatos e o apresentador não trocaram apertos de mão, uma tradição de mais de 50 anos durante debates presidenciais, quebrada apenas por Trump e Hillary Clinton no último debate de 2016.

Eles também concordaram que Trump e Biden não precisariam usar máscaras no palco, por estarem distantes um do outro e das demais pessoas presentes no estúdio.

  

Próximos debates

Antes das eleições, Trump e Biden têm ainda mais dois debates: em 15 de outubro, em Miami, na Flórida, mediado por Steve Scully, do canal C-SPAN, e incluindo perguntas de eleitores que estarão na audiência; e em 22 de outubro, em Nashville, Tennessee, com mediação de Kristen Welker, da NBC News, em formato semelhante ao desta terça-feira.

Já os candidatos a vice se enfrentarão apenas uma vez. Mike Pence e Kamala Harris irão debater no dia 7 de outubro em Salt Lake City, Utah, mediados por Susan Page, do USA Today, em nove segmentos de dez minutos cada.



 

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ENVOLVIMENTO RUSSO NA SÍRIA NÃO DEU NADA AO POVO RUSSO

 

Opinião: Envolvimento russo na Síria expõe miopia estratégica de Putin

 

Konstantin Eggert

 

Quando Putin enviou tropas para ajudar Assad há cinco anos, pegou os EUA de surpresa. Mas o Oriente Médio muda rapidamente, e o que parecia um sucesso do Kremlin pode se revelar um fracasso, opina Konstantin Eggert.

 


© Reuters/O. Sanadiki Imagens de Putin e Assad em Damasco: prestígio do chefe do Kremlin se distanciou dos interesses nacionais da Rússia

No final de setembro de 2015, a Guarda Revolucionária Iraniana e seus aliados, os combatentes libaneses do Hisbolá, estavam no final de seu fôlego no apoio ao regime de Assad e suas forças, que travavam uma batalha cada vez mais perdida contra islâmicos de todos os tipos, apoiados por várias potências regionais – Turquia, Arábia Saudita, Catar – e também contra combatentes curdos sírios. O Kremlin deu a Assad e aos iranianos o que lhes faltava: cobertura aérea maciça. Os pilotos russos foram logo seguidos por fuzileiros navais, conselheiros militares e mercenários da chamada empresa privada militar Wagner.

Hoje, parece que ninguém mais pode desalojar Assad. Vladimir Putin expandiu e modernizou as estações navais russas da era soviética nas cidades mediterrâneas de Latakia e Tartus, transformando-as em bases. Mas para a Rússia, que não foi, não é e não será uma potência naval global, esta provavelmente não é a aquisição mais importante. Não está totalmente claro quais benefícios o regime russo obteve com a exploração dos recursos naturais da Síria, mas a proteção do grupo Wagner supostamente se estende aos recursos naturais e às refinarias de petróleo, o que diz muito.

No entanto, a principal razão para o envolvimento do Kremlin na Síria tem sido a mesma de sempre – continuar uma resistência global contra os Estados Unidos, a qual Putin lançou com seu discurso beligerante na Conferência de Segurança de Munique de 2007. O pesadelo recorrente da elite russa é que os EUA, com seu zelo missionário em democratizar o mundo (um tanto enfraquecido pelas políticas de desligamento, primeiro de Barack Obama e depois de Donald Trump), ainda sejam vistos como a principal ameaça pelo Kremlin. Manter os EUA à distância do espaço pós-soviético e apoiar regimes antiocidentais em todo o mundo são os pilares do que se passa por política externa e de segurança russa sob Putin.

Nisso, a Síria em 2015 é a continuação da Geórgia em 2008, Ucrânia em 2014, Montenegro em 2016 (onde Moscou tentou organizar um golpe de Estado para impedir o país de aderir à Otan) e Venezuela em 2019 (onde o Kremlin está firmemente apoiando Nicolás Maduro). Belarus em 2020, onde o Kremlin se aliou ao presidente Alexander Lukashenko contra seu próprio povo, agora está na mesma categoria. Putin leva muito a sério seu papel de defensor das ditaduras em todo o mundo. Em sua opinião, isso faz com que os EUA o respeitem, ou mesmo o temam.

Mas para os interesses nacionais de longo prazo da Rússia, assegurar o poder de Assad é um ganho duvidoso, se é que é um ganho. Moscou agora está firmemente ligada ao destino do regime sírio e, de forma ainda mais precária, dos patronos iranianos de Assad. Isso está acontecendo em uma era de mudanças dramáticas na região. A normalização das relações de Israel com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, alcançada com a mediação de Washington, marca uma mudança histórica na política regional. Esta é uma surpresa extremamente desagradável não apenas para os mulás em Teerã, mas também para o Kremlin. A crença prematura no declínio da influência americana no Oriente Médio e na inevitabilidade da hegemonia iraniana pregou uma peça em ambos.

Se Sudão, Omã e Arábia Saudita seguirem o exemplo dos Emirados Árabes Unidos e Bahrein, o regime iraniano enfrentará tempos difíceis – até mesmo o colapso do regime pode estar em jogo em breve. Sem o apoio de Teerã, Assad ficará muito vulnerável. Além disso, em tais circunstâncias, seu desejo de estender a mão para Washington e Riad pode então se tornar irresistível. A Rússia não tem como evitar isso, e sua presença militar na Síria se tornará facilmente uma moeda de troca nos jogos políticos de Assad.

A miopia estratégica de Putin também se manifestou nas relações com outro ator regional: a Turquia. O entendimento informal sobre a Síria que ele alcançou em 2015-2016 com o presidente Recep Tayyip Erdogan foi severamente minado. Cinco anos atrás, o Kremlin pensava que estava "removendo" o flanco sul da Otan ao cortejar Ancara. Hoje, no entanto, Erdogan financia parte das forças anti-Assad na Síria, juntou-se à luta contra o marechal de campo Khalifa Haftar, cliente do Kremlin, na Líbia, e agora também apoia o Azerbaijão em suas operações militares contra a Armênia – um dos aliados das mais confiáveis e próximos de Moscou.

Cinco anos depois que os primeiros caças MiG russos apareceram nos céus da Síria, a resposta à pergunta "O que a guerra de Putin deu aos russos?" é simples: nada. O povo sente isso e quer cada vez mais que o Kremlin se retire de lá. O prestígio pessoal de Putin acabou se tornando diferente dos interesses nacionais da Rússia. Aqueles que vierem depois dele terão que redefini-los.

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* Konstantin Eggert é colunista da DW. O texto acima reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.

Autor: Konstantin Eggert

 

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