Novo exame
para detectar câncer de próstata reduz necessidade de biópsia
Flávia Ivo
Exame PHI é
realizado por amostra sanguínea
Uma equação
matemática resultante da combinação de três marcadores presentes em amostras
sanguíneas de homens foi responsável por uma recente e substancial mudança no
diagnóstico do câncer de próstata.
Com a entrada do
Novembro Azul, mês escolhido pelos profissionais da saúde para dar foco e
trabalhar a conscientização sobre a doença, volta-se a ressaltar a importância
da detecção precoce da enfermidade para a sobrevida dos pacientes.
Afinal, nove em cada
dez homens diagnosticados com câncer de próstata em estágio inicial têm
garantia de sucesso no tratamento. Neste cenário, um exame laboratorial apurado
pode ser um dos pontos-chave para uma detecção mais precisa e, também, para se
evitar intervenções cirúrgicas desnecessárias.
Neste ano, foi
disponibilizado no Brasil um teste que pode reduzir em até 30% o número de
biópsias prostáticas realizadas. Trata-se do Índice de Saúde da Próstata (PHI,
do inglês Prostate Health Index).
A metodologia tradicional
para detectar a enfermidade se dá pela alteração das enzimas PSA Total e PSA
Livre e o toque retal realizado pelo urologista. O PHI soma uma terceira
aferição, que é do p2PSA, realizando um cálculo matemático que vai evidenciar
se o homem possui uma variação mais sugestiva de malignidade.
“O PHI permite que o
urologista estratifique em baixo, médio e alto risco o paciente. Se o médico
tem alguma dúvida, este exame consegue postergar a biópsia ou não”, afirma
William Pedrosa, médico da assessoria científica do Hermes Pardini.
O PHI é recomendado para homens a partir dos 50 anos, que apresentam
nível de PSA Total entre 2,0 e 10,0 ng/mL, sem alteração no toque retal
Consequências
O especialista
lembra que a biópsia é um procedimento invasivo e que pode provocar uma série
de desconfortos ao paciente.
“Tem como possíveis
consequências a presença de sangue no esperma e na urina, sangramento retal,
inflamação ou infecção na próstata (prostatite), além de sintomas gerais como
febre, infecção urinária, e outras complicações que podem até gerar
internações”, revela o médico.
O urologista Mateus
Furtado, membro da Sociedade Brasileira de Urologia, destaca que cerca de 75%
das biópsias prostáticas realizadas têm resultado negativo para câncer. Por
isso, ele aposta em exames como o PHI e a ressonância magnética.
“Existem causas
não-malignas que aumentam o PSA, como uma hiperplasia benigna, por exemplo. Já
o paciente que tem um PHI alterado, a biópsia é positiva em cerca de 70% dos
casos. É uma inovação que acrescentou muito, assim como a ressonância, que nos
ajuda a definir se o paciente tem uma doença indolente”, explica.
“Se mantido na temperatura adequada, o tempo de conservação do sêmen é
indeterminado”, informa Ricardo Muzzi, biomédico do Instituto Hermes Pardini
Congelamento de
sêmen é alternativa para pacientes
Segunda maior causa
de mortes entre homens no país, o câncer de próstata atingiu pelo menos 61 mil
brasileiros no último ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva (Inca), causando a morte de mais de 13 mil deles.
Para tumores
detectados precocemente, tratamentos alternativos como a crioterapia e o
ultrassom de alta frequência têm sido utilizados, apesar de “não haver
resultados a longo prazo que confirmaram a efetividade deles”, informa o
urologista Mateus Furtado.
Hoje, conforme o
especialista, apesar de a cirurgia de remoção da próstata ainda ser temida por
eles, o procedimento ganhou precisão e efetividade com os processos
laparoscópicos e robóticos. “Quando detectado o tumor em fase inicial, é
possível preservar a inervação, o fluxo sanguíneo e as funções fisiológicas
normais”, coloca o médico.
No entanto, apesar
de toda essa evolução, radio, hormônio e quimioterapia ainda são amplamente
necessárias para o tratamento do câncer de próstata. Tais procedimentos, além
dos benefícios e prejuízos bem conhecidos por grande parte da população nos
homens, podem provocar a queda na produção de espermatozoides ou mesmo chegar a
ausência deles, a esterilidade.
Orientação
Antes de iniciar
qualquer tipo de tratamento para esta espécie de câncer, é importante que o
urologista ou oncologista oriente o paciente sobre as possibilidades de não
poder ter filhos após o procedimento. Se este for um desejo do homem,
criopreservar o sêmen é a melhor alternativa.
De acordo com
Ricardo Muzzi, biomédico especialista em reprodução assistida Criovida –
Unidade de Criopreservação do Instituto Hermes Pardini, nos últimos anos a
busca pelo serviço por pacientes que estão nesta situação tem aumentado.
“O banco de sêmen
sempre teve procura grande para quem deseja fazer vasectomia, mas o cenário tem
mudado com a entrada desse outro perfil”, revela Muzzi.
O biomédico conta
que os pacientes costumam chegar abalados emocionalmente, mas que não sentem
constrangimento algum em realizar o processo, já que o objetivo é futuramente
fazer uma inseminação artificial.
Para criopreservar o
sêmen é preciso passar por uma triagem clínica, consulta com urologista e
exames sorológicos. Além disso, estar em abstinência sexual mínima de dois e
máxima de sete dias para a coleta do esperma, que é preservado em nitrogênio
líquido a menos de 195°C.
Além Disso
No Brasil, um homem
morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundo os dados mais
recentes de mortalidade do Inca. Durante o Novembro Azul, a Sociedade Brasileira
de Urologia (SBU) alerta para a enfermidade e a importância de se procurar o
médico para uma avaliação individualizada.
Apesar dos avanços
terapêuticos, cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem
devido à doença. Atualmente, cerca de 20% ainda são diagnosticados em estágios
avançados, embora um declínio importante tenha ocorrido nas últimas décadas em
decorrência, principalmente, de políticas de rastreamento da doença e maior
conscientização da população masculina.
“Uma forma de
tratamento que vem ganhando volume nos últimos anos é a vigilância ativa, na
qual não se trata um câncer de baixa agressividade, passamos apenas a
acompanhar sua evolução em exames periódicos”, explica o presidente da SBU,
Archimedes Nardozza.
A Sociedade
Brasileira de Urologia recomenda que homens a partir de 50 anos procurem um
profissional especializado para avaliação individualizada. Aqueles de etnia
negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos
45 anos.
Para esclarecer a
doença, a entidade disponibilizou no portaldaurologia.org.br diversos
textos e vídeos sobre o câncer de próstata.