Consumo de matérias-primas e volume de lixo aumentaram com
produtos de curta vida útil e pouca reciclagem. Esse atual modelo
predominante sobrecarrega o planeta, mas existe alternativa.
O modelo de consumo e produção predominante em todo o mundo atualmente é conhecido como economia linear.Nele,
produtos são fabricados a partir de matérias-primas, utilizados por um
curto período e, em seguida, descartados como lixo. Isso exige a
extração de novas matérias-primas para a produção de novos itens. Esse
processo prejudica o meio ambiente, além de custar muito dinheiro e energia.
A economia circular funciona de maneira diferente: os produtos são
fabricados para terem uma vida útil longa e serem facilmente reparados.
Ao atingirem o final de sua vida útil, são reciclados o máximo possível. Isso significa que as matérias-primas são recuperadas e reutilizadas na fabricação de novos produtos.
Esse modelo diminuiu os resíduos e as emissões. Por exemplo, a partir
do vidro quebrado de uma garrafa, uma nova garrafa de vidro é
fabricada. Isso economiza dinheiro e recursos. O princípio pode ser
aplicado a todos os tipos de matérias-primas e processos de produção
para prolongar ao máximo a utilização e manter os elementos em um ciclo
contínuo.
Além disso, na própria produção, é possível reduzir o consumo de
recursos utilizando energias renováveis e evitando a geração de emissões
prejudiciais ou resíduos tóxicos sempre que possível.
O que o processo da reciclagem proporciona?
A economia circular foi uma prática comum em todo o mundo por
séculos: tudo era usado o máximo possível, evitando desperdícios. Esse
princípio começou a ser deixado nos últimos 150 anos com o aumento da
produção industrial.
Hoje em dia, a economia circular é comum em comunidades tradicionais,
mas não se restringe a elas. Por exemplo, nas fazendas orgânicas, os
excrementos são usados como fertilizantes naturais para cultivar
alimentos.
Em vários lugares do mundo, arquitetos estão investindo em métodos de
construção sustentáveis. Por exemplo, eles optam por usar mais madeira
em vez de cimento, que é prejudicial ao clima. Além disso, em vez de
derrubar prédios, eles os reformam. Ao reutilizar materiais de
construção, se diminuiu o consumo de matérias-primas e se evita a
geração de resíduos.
Muitos materiais podem ser reciclados quase sem perda de qualidade.
Isso é especialmente eficaz para vidro e metais, enquanto o papel pode
ser reutilizado de dez a 25 vezes. Por outro lado, o plástico geralmente
é mais difícil de reciclar devido à sua mistura com outros materiais e à
presença de substâncias químicas prejudiciais.
A reciclagem de metais também economiza muita energia em comparação
com a extração de minérios. Por exemplo, o processo de reciclagem de
alumínio economiza cerca de 95% da energia necessária para a produção a
partir de minério.
Quais são as implicações da economia circular para consumidores e indústria?
Para que uma economia circular funcione, todos devem estar envolvidos: consumidores, indústria e políticos.
Ao separar corretamente o lixo, os consumidores facilitam o processo
de reciclagem. A escolha de produtos que têm uma vida útil mais longa e
geram menos resíduos contribuiu para essa prática sustentável. Um casaco
de alta qualidade feita de lã ou algodão pode ser mais caro do que uma
feito de poliéster. No entanto, esse tipo de roupa dura mais e é mais
fácil de ser reparado. Ao contrário de fibras sintéticas, as fibras
podem ser compostadas sem impactar o meio ambiente.
A indústria pode produzir produtos de maneira sustentável e evitar o
uso de substâncias químicas que impedem a reciclagem. Por exemplo, os celulares podem
ser fabricados para permitir a troca de baterias e outras peças. Ao
integrar o pensamento de reciclagem desde a produção, torna-se mais
fácil recuperar e reutilizar ouro, terras raras e outros materiais dos
dispositivos.
Nesse sentido, os governos podem criar leis que favoreçam a economia
circular. Cada vez mais países e empresas estão incentivando a
reciclagem, a redução de resíduos e o planejamento cuidadoso de como são
feitos os sistemas e produtos. Isso não só é bom para o meio ambiente,
mas também para a economia, gerando novos empregos.
De acordo com o World Resource Institute (WRI), organização não
governamental ambientalista e conservacionista, a economia circular
poderia criar cerca de seis milhões de novos empregos em todo o mundo
até 2030.
A população mundial está envelhecendo em ritmo acelerado.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, entre 2015 e
2050, o percentual de pessoas com mais de 60 anos de idade irá quase
dobrar, passando de 12% para 22%. E, na Espanha, as pessoas com mais de
65 anos no ano 2050 representarão mais de 30% da população.
O envelhecimento traz consigo o aumento das doenças. Entre as mais
comuns, podemos destacar a perda de audição, catarata, osteoartrite,
diabetes, depressão e demência.
Além disso, à medida que envelhecemos, aumenta a probabilidade de
sofrermos de várias doenças ao mesmo tempo, além de estados de saúde
complexos, denominados síndromes geriátricas, como a fragilidade.
Por tudo isso, um dos objetivos mais importantes da atualidade é
conseguirmos manter a saúde conforme avançam nossos aniversários,
desenvolvendo estratégias razoáveis que promovam uma velhice com
independência e qualidade de vida adequada.
E se uma dessas possíveis estratégias fosse simplesmente tomar, todos os dias, uma dose de cacau?
Antioxidante, antialérgico e anticancerígeno
Nos últimos anos, vem surgindo um número cada vez maior de estudos
indicando que o cacau é um importante agente quimiopreventivo natural de
diversas doenças.
Isso se deve principalmente aos altos níveis de polifenóis contidos
no cacau, principalmente flavonóis. Os cientistas atribuem a essas
substâncias numerosos efeitos benéficos para a saúde.
O cacau também é rico em fibras (26-40%), lipídios (10-24%),
proteínas (15-20%), carboidratos (15%) e micronutrientes (<2%),
incluindo sais minerais (fósforo, cálcio, potássio, sódio, magnésio,
zinco e cobre) e vitaminas (A, B e E).
A principal vantagem do cacau e seus derivados, como possível
tratamento preventivo de diversas patologias, é que eles são consumidos
em todo o planeta.
Em 2022 e 2023, o mundo produziu quase cinco milhões de toneladas de
cacau – e o consumo de chocolate e derivados de cacau na Espanha é de
3,3 kg anuais por habitante.
Diversos estudos demonstraram associação entre a ingestão de cacau e a
redução do risco de diversas patologias crônicas, como o câncer,
transtornos metabólicos e doenças cardiovasculares.
A dieta rica em cacau também traz consequências positivas para a
função visual, a audição, o sistema nervoso e a pele, entre outros.
Aparentemente, isso se deve às suas propriedades antioxidantes,
antidiabéticas, anti-inflamatórias, anticancerígenas, antialérgicas e
antiobesidade.
Como se tudo isso não fosse suficiente, cientistas vêm pesquisando
recentemente a relação entre o cacau e o bom estado da microbiota
intestinal – que, por sua vez, garante um estado de boa saúde em geral.
Contra deterioração cognitiva e doenças cardiovasculares
E se o consumo habitual de cacau ajudasse a manter a boa circulação
sanguínea no cérebro, protegendo contra a deterioração cognitiva, além
de evitar as doenças cardiovasculares?
Essa não é nenhuma utopia.
Recentemente, na Suécia, foi estudada por nove anos a saúde de 31.823
mulheres, com 48 a 83 anos de idade. Os resultados relacionaram o
consumo regular de chocolate (uma a duas porções por semana e uma a três
porções por mês) a índices inferiores de hospitalização por
insuficiência cardíaca ou mesmo morte.
Da mesma forma, uma pesquisa com 531 pessoas maiores de 65 anos
durante dois anos demonstrou que a ingestão de chocolate reduz em 41% o
risco de sofrer deterioração cognitiva.
Além disso, em pessoas com idade avançada e deterioração cognitiva
leve, foi avaliada a função cognitiva após oito semanas consumindo
bebidas contendo diferentes quantidades de flavonoides do cacau (de 43
mg a 993 mg). E, ao final do estudo, os grupos com teor médio e alto de
cacau demonstraram melhor função cognitiva.
Mas por que isso acontece? Quais mecanismos de ação existem por trás desses efeitos positivos do cacau?
Existem evidências de que a administração de bebidas de cacau
natural, ricas em flavonoides (179 mg de flavonol de cacau por porção) a
60 participantes (de 55 a 70 anos) melhorou a glicemia, a
trigliceridemia e os níveis de colesterol (HDL e LDL). Além disso, seu
consumo proporciona maior rendimento físico e menor fragilidade.
Paralelamente, em um estudo clínico randomizado de fase 2, com 44
participantes com doença arterial periférica, as pessoas pesquisadas
percorreram distâncias maiores em uma caminhada de seis minutos, após a
ingestão de uma bebida de cacau todos os dias, durante seis meses – 15 g
de cacau, para sermos exatos.
Considerando todos esses estudos, podemos dizer que o consumo de
cacau pode melhorar a cognição geral e a memória, por modular o fluxo
sanguíneo cerebral e outros parâmetros fisiológicos.
São motivos de sobra para imaginar que seu consumo poderá melhorar a qualidade de vida da população em idade avançada.
* Carolina Sánchez Rodríguez é professora titular de pesquisa e biologia celular da Universidade Europeia, na Espanha.
O impasse nas eleições venezuelanas tornou-se um teste diplomático para
o governo brasileiro, que busca se manter como mediador da situação no
país vizinho, conflagrado por protestos após a reeleição declarada de Nicolás Maduro — resultado que oposição e diversas autoridades internacionais contestam.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
o desafio não é só de se equilibrar entre a cobrança de transparência e
a manutenção de diálogo com o governo chavista — que nos últimos dias
já expulsou do país representantes de ao menos sete países que
contestaram o pleito.
Lula também se equilibra entre a posição adotada pelo Itamaraty — que, desde segunda-feira (29/7), dia seguinte à votação, pede a divulgação dos dados desagregados por mesa de votação — e um PT que, em nota, reconheceu a vitória de Maduro, ao tratá-lo como “presidente agora reeleito”.
Em entrevista na terça-feira, Lula foi questionado sobre a nota do PT, e buscou minimizar as críticas ao partido pela publicação do documento.
“O PT reconheceu, a nota do Partido dos Trabalhadores reconhece,
elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houve. E ao mesmo
tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já
reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não”, disse
Lula.
“Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de
assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a
Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve
uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve
40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e
Justiça faz.”
A oposição venezuelana, porém, diz que o Poder Judiciário é dominado por Maduro.
Também contesta a noção de que haja uma normalidade no processo
político do país, apontando que, ao longo dos anos, o chavismo passou a
controlar órgãos como a Suprema Corte e o Conselho Eleitoral.
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Fim do WhatsApp
Além disso, órgãos de direitos humanos, como o da Organização das
Nações Unidas (ONU), apontam violações em resposta a protestos no país e
prisões arbitrárias de oponentes, além da inabilitação política de
muitos deles.
A cautela de Lula ao tratar da questão venezuelana tem diferenciado o
mandatário brasileiro de outros líderes de esquerda latino-americanos,
como o presidente chileno Gabriel Boric,
e o presidente colombiano, Gustavo Petro, que têm sido mais vocais em
seus questionamentos quanto à lisura do processo eleitoral venezuelano.
Referência na esquerda para Lula, o ex-presidente uruguaio Pepe
Mujica disse em fevereiro que na Venezuela “existe um governo
autoritário” e que era possível chamar Maduro de ditador.
Mas por que o Partido dos Trabalhadores mantém seu apoio a Maduro,
mesmo num momento em que Lula e seu governo optam por adotar um tom mais
cauteloso?
Quão prevalente é essa posição dentro do PT, diante das críticas
abertas ao processo eleitoral na Venezuela feitas por parlamentares
petistas como o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) e o deputado federal
Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do PT na Câmara?
E como foi o processo interno de aprovação da nota divulgada pelo PT?
A BBC News Brasil conversou com o historiador Lincoln Secco (USP), o
cientista político Claudio Couto (FGV) e com membros da Comissão
Executiva Nacional do PT — que falaram sob a condição de não terem seus
nomes divulgados — para entender essas e outras questões.
A reportagem também entrou em contato com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que não respondeu ao pedido de entrevista.
A assessoria da presidente do partido também disse à reportagem que
“não há o que acrescentar” com relação à nota, quando questionada, por
exemplo, sobre por que o PT decidiu, diferentemente do governo, que a
divulgação das atas eleitorais não deveriam ser uma condição prévia para
o reconhecimento de Maduro.
Já Randolfe Rodrigues e Reginaldo Lopes alegaram problemas de agenda,
devido a viagens para participação em convenções partidárias.
‘Nota reafirma posições de esquerda à militância do partido’
Um primeiro passo para entender a nota do PT é compreender o papel da
área de relações internacionais dentro do partido, observa Lincoln
Secco, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo
(USP) e autor do livro História do PT (Ateliê Editorial, 2018).
“A área de relações internacionais do PT é aquela que se coloca mais à esquerda na direção do partido”, observa Secco.
Isso acontece, segundo ele, porque o PT é um partido de tendências
(ou seja, composto por diferentes correntes internas que disputam entre
si). E, historicamente, os setores mais à esquerda não têm os principais
cargos, ocupando áreas que são vistas como secundárias, como a de
relações internacionais.
Ele lembra, por exemplo, da nota publicada pelo partido celebrando a
vitória de Daniel Ortega para um quarto mandato na Nicarágua em 2021, em
eleições marcadas por acusação de fraude — o que Ortega nega.
E também o fato de o PT ser ligado ao Foro de São Paulo,
articulação de partidos e movimentos políticos latino-americanos e
caribenhos, que tem entre seus membros o Partido Comunista de Cuba; a
Frente Sandinista de Liberação Nacional, de Ortega; o Partido Socialista
Unido de Venezuela, de Maduro; o Movimento ao Socialismo, do presidente
da Bolívia, Luis Arce; entre outros.
Na avaliação do historiador, embora muitos acreditem que o PT tem autonomia em relação ao governo, isso não ocorre.
Afinal, apesar de tratar-se de um governo de frente ampla, o partido
ocupa grande número de ministérios e está presente em todos os escalões
do governo.
Assim, nas questões internacionais, o PT encontra maior margem para marcar posições à esquerda do governo.
“São questões que afetam menos diretamente a popularidade interna do governo Lula”, avalia Secco.
“Isso abre uma possibilidade para o PT ter maior liberdade também
para reforçar sua imagem de esquerda perante sua militância. Porque, na
verdade, esse é um discurso para a militância, não é um discurso para a
sociedade.”
Para Guimarães, a cautela de Lula ao tratar da questão se deve
justamente ao fato de que o tema Venezuela é muito sensível
internamente.
“O custo de reconhecer Maduro como vitorioso é muito alto para o governo brasileiro”, disse Guimarães.
“Esse é um tema muito delicado domesticamente, porque a maioria da
população brasileira tem uma visão muito negativa da Venezuela e do
governo Maduro.”
Além disso, os laços entre Lula e o PT e aliados de esquerda
considerados controversos, como Maduro, são um frequente tema de ataques
feitos por opositores como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e
aliados.
Lincoln Secco avalia, no entanto, que a dissonância entre a posição
do partido e a do Itamaraty poderá se complicar ou se resolver, a
depender do desdobramento da crise na Venezuela.
“Caso haja essa suposta entrega das atas e o governo brasileiro
imediatamente reconheça o governo Maduro, esse problema desaparece”, diz
Secco.
“Caso não seja apresentado, isso cria um impacto muito sério para a
posição do governo Lula. E aí vai ter uma fricção maior com o partido,
porque o partido se antecipou.”
Os bastidores da aprovação da nota
Um parlamentar que faz parte da Comissão Executiva Nacional do PT
avalia que a publicação da nota foi precipitada e revela ter se
arrependido de votar por sua aprovação — que passou com 21 votos
favoráveis (de um total de 28), um deles com ressalva, e nenhum voto
contrário, segundo outro membro da Executiva.
“Acho que o mais óbvio era esperar o governo se manifestar e fechar uma posição igual à do governo”, avalia o parlamentar.
“Óbvio que já houve em outros momentos, inclusive em relação à
Venezuela, Nicarágua, situações em que a Secretaria de Relações
Internacionais do PT tomou uma posição e o governo tomou outra. E gerou,
inclusive, conflitos e tal. Só que esse é um problema muito mais
complexo, né?”
Os membros da Executiva ouvidos pela BBC de forma reservada avaliam que o processo de aprovação da nota foi açodado.
Isso porque houve uma reunião da Executiva na tarde da própria
segunda-feira em que a nota foi divulgada, mas o tema não foi discutido.
No encontro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, apenas teria
comentado o tema Venezuela, informando que ainda não havia sido escrita
uma nota.
Mais tarde, por volta de 22h, o texto foi postado no grupo de
WhatsApp da Executiva. Sem que houvesse debate presencial ou virtual, os
membros votaram pela aprovação do texto, que foi publicado na página do
PT por volta das 23h.
“Quando eu vi, já tinha acabado o processo [de votação]”, relata um
membro da Executiva que não conseguiu votar, afirmando que o processo
todo foi encerrado em cerca de 15 minutos.
Na avaliação desse membro da Executiva, os dirigentes e deputados do
PT enviados à Venezuela para acompanhar o processo eleitoral no país
vizinho são em sua maioria pró-Maduro, assim como a direção do partido.
“A direção é majoritariamente pró-Maduro. Não tenho dúvida disso. Mas
não é verdade que isso seja o estado de espírito do enquadramento do
partido”, diz essa pessoa, referindo-se aos chamados “quadros”, isto é,
os militantes do PT, partido que contava em 2023 com mais de 1,6 milhão
de filiados, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Assim, haveria uma pressão interna pela publicação da nota.
Mas as próprias disputas internas ao partido ficam evidentes, na
avaliação dos interlocutores, pelo tom considerado moderado do texto,
que em dado momento afirma:
“Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que
apontou a vitória do presidente Nicolas Maduro, dará tratamento
respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos
previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela.“
Na avaliação dessas pessoas, e dos analistas ouvidos pela BBC, a
frase abre espaço para o PT mudar sua posição caso as atas de urnas não
venham a ser apresentadas.
Mesmo não tendo conseguido votar, o membro da Executiva defende a
independência do partido com relação ao governo na tomada de posições
políticas, seja em temas externos, como internos.
“Desse ponto de vista, não se pode usar o argumento que alguns usam, que a gente atropelou o governo”, argumenta o petista.
“O PT foi formado assim. Inclusive nos documentos originais, diz até
que ele subordina a sua presença institucional aos movimentos, às lutas
populares. E explica: porque o objetivo é a transformação da sociedade.
Inclusive das próprias instituições.”
A divergência entre partido e governo muitas vezes “ajuda o governo a acertar”, defende o membro da Executiva.
“O curso geral do governo não é de conflito com a classe dominante. É
de acomodação, pelo menos no nível do Congresso, e a partir daí, com as
forças sociais e econômicas que estão detrás.”
“Então o partido mantendo a independência, ele pode vocalizar, em
momentos agudos, um conselho, uma opinião. Dar outro viés. Ajudar o
governo a acertar.”
‘Fetiche com relação a ditaduras de esquerda’
Entre políticos e analistas esquerdistas que defendem a experiência
do chavismo e o governo Maduro, muitos argumentam que o grupo dominante
na Venezuela está sob ataque constante de “forças imperialistas” e luta
contra o lobby ativo dos Estados Unidos no país, o que, em sua visão, deve ser levado em consideração na análise do processo político.
Apontam as sanções americanas impostas ao país — e brevemente
afrouxadas no ano passado durante a vigência do acordo que abriu caminho
para a realização das eleições — como o principal causador da dura
crise econômica.
Além disso, consideram que a oposição a Maduro só está interessada em
reduzir direitos sociais e privatizar a indústria petroleira, sem ter
compromisso com a democracia, como na tentativa de golpe contra o então
presidente Hugo Chávez em 2002.
Claudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getulio
Vargas (FGV), vê a postura do PT de manter o apoio a Maduro como parte
de “uma postura fetichista da esquerda” com relação às ditaduras deste
campo político.
E avalia que a dissonância entre PT e Itamaraty reforça uma percepção
dentro do país de que o partido não teria clareza com relação à defesa
da democracia.
Isso num momento em que Lula busca fortalecer as instituições
brasileiras, após o que considera como uma ameaça golpista por parte do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, depois dos ataques de 8 de janeiros de 2023.
“O PT tem um histórico muito complicado nessa relação com ditaduras de esquerda na América Latina”, considera Couto.
“Sempre é um histórico de referendar, de não fazer nenhum tipo de
crítica, de fechar os olhos para os problemas que existem nestes regimes
autoritários de esquerda latino-americanos, haja visto o que acontece
historicamente com Cuba, com a Nicarágua e mesmo com a Venezuela.”
Segundo o cientista político, embora a nota do PT adote um tom
relativamente sóbrio, ao reconhecer a vitória de Maduro, são ignoradas a
maneira como o processo eleitoral transcorreu na reta final — com
alegações de fraude na contagem de votos, de votos não considerados e a
declaração da vitória de Maduro antes da publicação das atas de urna —,
além de tudo aquilo que aconteceu antes.
Ele cita, por exemplo, a exclusão de candidaturas, a detenção de
membros dos partidos de oposição e as restrições ao voto de venezuelanos
expatriados, num país onde cerca de 25% da população (cerca de 7,7
milhões, de um total de 28,3 milhões) vive em diáspora.
“Há uma série de vícios que tornam essa nota do PT uma nota muito
ruim, porque mesmo em um estilo mais sóbrio do que o de hábito, ela
ainda assim é uma nota que dá de barato que está tudo certo, e não
está”, diz o cientista político.
“Eu só consigo entender essa nota do PT como dando sequência a essa
história, que eu gosto de definir como ‘fetichista’, que a esquerda
latino-americana de maneira mais geral, e o PT em particular, tem com
respeito às ditaduras da esquerda, que é nunca ter qualquer tipo de
crítica, muito pelo contrário, ficar buscando formas de racionalizar a
defesa dessas ditaduras com argumentos supostamente democráticos, que
sabemos que são argumentos que não param em pé.”
Nem toda a esquerda
Além de explicitar uma dissonância entre Itamaraty e PT, o resultado
das eleições de domingo (28/7) na Venezuela também deixam claras
divisões internas dentro do próprio partido e da esquerda em geral com
relação à situação do país vizinho.
Na segunda-feira, por exemplo, o deputado federal Reginaldo Lopes
(PT-MG), vice-líder do PT na Câmara, postou em sua conta no X (antigo
Twitter) dizendo que “a atuação de Maduro na Venezuela é a postura de um
ditador”.
No dia seguinte, foi a vez do senador Randolfe Rodrigues (AP), recém
filiado ao PT, divergir da executiva nacional da sigla e criticar as
eleições realizadas na Venezuela.
“Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e
onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem
idoneidade”, disse Randolfe à CNN.
Na quarta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que a Venezuela “não se configura como uma democracia”.
“Na minha opinião pessoal — eu não falo pelo governo — [a Venezuela]
não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário”, afirmou a
titular do Meio Ambiente, em entrevista ao portal Metrópoles.
“O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado
eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que, de fato, houve ali
uma decisão soberana do povo venezuelano”, acrescentou a ministra.
Também na segunda-feira, Juliano Medeiros, ex-presidente nacional do
PSOL — atualmente fora da Executiva Nacional do partido e dedicado à
campanha de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo — também postou
nas redes sociais elogiando a posição de cautela adotada pelo Itamaraty.
Na quarta, Medeiros voltou a postar sobre o tema, dizendo “subscrever
integralmente” uma postagem do presidente colombiano Gustavo Petro,
crítica à situação na Venezuela.
“As sérias dúvidas que se estabelecem em torno do processo eleitoral
venezuelano podem levar seu povo a uma profunda polarização violenta com
graves consequências (…)”, escreveu Petro, na postagem republicada pelo
ex-presidente do Psol
“Convido o governo venezuelano a permitir que as eleições terminem
pacificamente, permitindo um escrutínio transparente com contagem de
votos, atas e supervisão por todas as forças políticas do seu país e
supervisão internacional profissional”, disse ainda Petros.
Procurado pela BBC News Brasil, Medeiros preferiu não dar entrevista,
explicando que não é mais da direção nacional do PSOL e que uma
declaração sua poderia ser confundida com a do partido.
Para Lincoln Secco, da USP, a importância que a Venezuela tomou no
debate político brasileiro — tendo marcado presença em todas as últimas
eleições presidenciais e até nas eleições municipais deste ano — se deve
à peculiaridade da situação daquele país.
“Por um lado, tem uma origem militar, o que não é comum na América
Latina. E tem uma retórica socialista bastante radical, o que também não
é comum”, acrescenta o pesquisador.
Ao mesmo tempo, diz Secco, a prática econômica interna do chavismo
não é “revolucionária”. Isso porque há uma hegemonia da esquerda, que
convive com o que é chamado de “boliburguesia”, uma elite que enriqueceu
a partir de suas relações com o chavismo.
Tudo isso num país mergulhado em uma grave crise econômica, que levou
o PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela a encolher mais de 60%
somente na última década, e que já levou milhões a migrar.
“Então, é um regime muito específico em relação aos outros regimes de
esquerda da América Latina. Isso causa uma grande dificuldade de
posicionamento em relação a ela”, avalia o historiador.
“E acredito que a extrema direita percebe essa dificuldade do PT em relação a um regime como o venezuelano.”
No futebol feminino, o Japão fez gol nos acréscimos e venceu a seleção brasileira. No skate, Rayssa Leal, medalha de bronze, só não esteve em um lugar mais alto no pódio porque duas japonesas ficaram na frente.
No judô, a campeã olímpica Rafaela Silva perdeu a disputa do bronze para uma judoca japonesa. E esses são só alguns exemplos dos primeiros dias de Jogos Olímpicos…
O Japão tem se mostrado um “carrasco” para os atletas brasileiros nos Jogos de Paris 2024 — o que, como tudo no Brasil, deu origem a uma onda de memes nas redes sociais.
Até o perfil oficial do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o @Time Brasil, entrou na brincadeira e anunciou que “bloqueou” o perfil oficial dos japoneses, o @TeamJapan.
Na última Olimpíada, em Tóquio, o Japão terminou em terceiro lugar, com 27 medalhas de ouro e 58 no total, um recorde para o país,
O desempenho de destaque dos japoneses ocorre em meio a investimentos
na área de esportes, impulsionados pelos Jogos de Tóquio, e uma cultura
que valoriza o esporte desde as escolas.
“Não é apenas a edição de 2020 dos Jogos, em Tóquio, que leva o Japão
a esse lugar. Isso começa com os primeiros jogos no país, em 1964,
quando se criou uma cultura esportiva”, diz o professor Nelson Todt,
coordenador do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e presidente do
Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, dedicado ao francês que criou os Jogos da era moderna.
“E essa cultura se sustenta pelo sistema educacional, por uma
política que investe no esporte, patrocinadores… Não é algo só de
agora.”
Desde 2015, o país mantém ainda projetos como o chamado “melhoria da capacidade esportiva“, segundo o Ministério de Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia.
Isso acontece em meio a um crescente orçamento do governo japonês para o setor de esportes, segundo dados reunidos no site Statista.
Mas como o país se tornou uma potência olímpica?
Esportes ocidentais chegam ao Oriente (e às escolas)
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A história do país com a prática de esportes começa bem antes da
chegada das modalidades “ocidentais” – que hoje são a maioria em
competições como os Jogos Olímpicos -, segundo a Embaixada do Japão no Brasil.
Os esportes tradicionais do Japão, muitos nascidos por volta do
século 12, eram chamados de “budo”, com destaque para o kendo (esgrima
japonesa com bastões de bambu), jujutsu (que deu origem ao judô e ao
jiu-jitsu), kyudo (arco e flecha japonês) e o karatê.
Após a chamada Restauração Meiji,
em 1868, quando imperador Meiji chegou ao trono e iniciou o processo de
modernização e internacionalização mais vertiginoso da história
japonesa, varias modalidades esportivas do Ocidente foram introduzidas,
como beisebol, atletismo, rugby, futebol e patinação no gelo.
A popularização veio principalmente pelo sistema educacional a partir
de 1870, com a inclusão da educação física no currículo escolar, com
esportes como remo e tênis. Os esportes, segundo o texto da embaixada,
também vieram acompanhados da ideia de “de que eram maneira de se obter
disciplina mental”.
A Associação de Esportes Amadores do Japão (JASA) foi organizada em
1911, em preparação para os 5º Jogos Olímpicos, que aconteceram no ano
seguinte em Estocolmo, na Suécia. O Brasil viria a participar dos jogos a
partir de 1920.
Além das aulas de educação física, desde o século 20 as escolas
japonesas realizam eventos esportivos anuais nos quais todos os alunos
participam. São os chamados undokai.
Até hoje, eles ocorrem no início de outubro, num feriado nacional conhecido como Dia dos Esportes.
Esses eventos escolares incluem uma variedade de atividades, como
caminhadas, corridas, natação, competições de esportes com bola, esqui e
escalada.
Segundo pesquisadores,
os eventos escolares oferecem aos participantes oportunidades “de
cultivar virtudes como cooperação, solidariedade, trabalho em equipe e
responsabilidade”.
Os esportes também fazem parte das chamadas bukatsu – algo que poderia ser traduzido como “atividades extracurriculares”.
Esses clubes escolares preenchem o horário livre das crianças, que
escolhem qual atividade esportiva ou cultural pretendem seguir.
Dependendo do bukatsu, as crianças podem treinar durante um turno e
participar de jogos amistosos nos finais de semana ou dias de folga.
O papel das grandes empresas
Na segunda metade dos anos 1940, o Japão estava devastado após a
derrota na Segunda Guerra ao lado da Alemanha nazista e da Itália
fascista. O país também tinha sido arrasado pelas bombas atômicas jogadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki.
Os anos que se seguiram ficaram conhecidos como o “milagre econômico
japonês”, com o apoio dos americanos em meio à Guerra Fria. Esse período
de reconstrução teve um grande impulso com o surgimento de empresas
locais, que passaram a exportar produtos inovadores e relativamente
baratos para o mundo.
Nesse cenário, surgem grandes empresas japonesas de eletrônicos, como a Toshiba, e de carros, como a Honda.
Essas novas grandes empresas também tiveram papel importante no fortalecimento do esporte no país, segundo mostra artigo da revista Nipponia, mantida pelo Ministério das Relações Exteriores japonês nos anos 2000.
“Após a Segunda Guerra Mundial, um número crescente de graduados
desejava continuar participando de esportes. Eles foram atraídos por
grandes corporações, que usaram parte dos lucros obtidos durante os
períodos de crescimento para estabelecer clubes esportivos internos”,
escreveu Tamaki Masayuki, respeitado escritor de esportes no país.
“Os times corporativos competiam entre si, e logo se percebeu que os
melhores jogadores eram uma excelente propaganda para suas empresas. Em
pouco tempo, os programas esportivos corporativos estavam treinando os
melhores atletas do Japão”.
No livro Japanese Sports: A History (Esportes no Japão, um
história, em tradução livre), os autores Allen Guttmann e Lee Thompson
escrevem que, no país que se reerguia no pós-guerra, a população também
buscava o reconhecimento em “esportes modernos” que ganhavam espaço no
mundo.
“Apesar da devastação, as crianças brincavam entre as ruínas e os
adultos começavam, timidamente, a reconstruir as organizações e a
infraestrutura material dos esportes japoneses. Como seus avós no
período Meiji, eles queriam não apenas a oportunidade de participar em
esportes tradicionais e modernos, mas também o reconhecimento
internacional de suas conquistas atléticas”, dizem os autores no livro.
O esporte que atraiu cada vez mais atenção após a guerra foi o
beisebol, esporte em que o Japão levou o ouro nos Jogos de Tóquio (em
Paris, a modalidade não está no programa). Os patrocinadores
corporativos utilizaram o esporte como uma “ferramenta de publicidade e
promoção”, segundo Masayuki.
Mas a relação íntima entre empresas e esporte japoneses arrefeceu
desde os anos 1990, já que crises econômicas levaram a menos
investimentos nos clubes esportivos das companhias.
Grandes eventos e investimentos
Se as empresas ajudaram a popularizar alguns esportes, foram os
grandes eventos que atraíram os japoneses para o esporte de alto
rendimento.
Foi justamente no cenário pós-Guerra que o Japão sediou a Olimpíada
de 1964 – o país chegou a ser excluído das competições em 1948, em
Londres, mas foi readmitido em 1952, em Helsinque.
“Nesse Jogos de Tóquio, foi feita toda uma política esportiva para
colocar o Japão como uma força mundial depois da Segunda Guerra”,
explica Nelson Todt, do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS.
A edição de 1964, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI),
ocorreu “em meio a um novo movimento político para enfatizar a
importância da educação física entre os jovens da nação. Políticas
educacionais que promoviam esportes ao longo da vida foram introduzidas
antes do evento, uma abordagem que continuou nas décadas seguintes”.
Além desse esforço olímpico, desde 1946, o Japão sedia anualmente o
chamado Kokumin Taiiku Taikai (Festival Nacional de Esportes). A ideia
era reerguer as modalidades e levantar o moral da população.
Em 1951, o Japão participou dos primeiros Jogos Asiáticos, realizados
em Nova Délhi, Índia, onde já se consagrou como maior medalhista da
região.
Esses eventos são encarados por pesquisadores como exemplos que
promoveram “entusiasmo dos japoneses pelas grandes competições
esportivas”.
Na esteira da segunda edição dos jogos de verão em solo japonês,
realizados em Tóquio em 2021 em meio a pandemia de covid-19, o governo
japonês lançou uma série de programas para incentivar o esporte.
“Nenhuma edição sozinha de Jogos vai melhorar a longo prazo a cultura
esportiva. A curtíssimo prazo melhora, como o Brasil em 2016, o Reino
Unido em 2012, porque tem investimento, atenção da mídia. Isso
potencializa os resultados”, diz Todt.
Para o professor, os Jogos de 2020 no fim serviram mais “para
modernizar o Japão, com pelo menos oito anos de preparo em novos
esportes”. “O país se atualizou e entendeu a lógica que precisa ‘mudar
para não ser mudado’, compreendendo a necessidade de adaptação a novas
culturas esportivas”, diz o pesquisador, com exemplos como o sucesso no
skate.
O Japão também sediou os Jogos Olímpicos de inverno 1972 e 1998, além
da Copa do Mundo de futebol em 2002, junto com a Coreia do Sul.
Segundo os dados, o investimento em esporte foi crescendo ano após ano, com um grande aumento principalmente em 2016, na preparação para os Jogos Olímpicos.
O chamado “projeto de melhoria da capacidade esportiva” de 2015
determina recursos para que “cada organização esportiva realize
acampamentos de treinamento para a equipe nacional japonesa, enviar
atletas para competições internacionais, nomear treinadores nacionais”.
Outro programa, chamado J-STAR, apoia jovens que almejem competir em competições internacionais. O site oficial do
programa diz que “através de medições e avaliações de sua força física e
capacidade atlética, os participantes encontrarão o esporte que melhor
se adapta a eles e passarão por treinamentos, como acampamentos de
treinamento conduzidos por treinadores de alto nível”.
O governo japonês também oferece benefícios para o setor privado
investir, como deduções fiscais para doadores de atividades esportivas.
Para Todt, a visão japonesa de longo prazo pode ensinar ao Brasil. O
professor avalia que o Time Brasil faz “milagre”, com aumento de
atletas, medalhas e participação feminina a cada edição.”Temos uma
monocultura, do futebol. Não adianta o foco nos atletas só a cada quatro
anos, com mídia e investidores. Tem que pensar no ‘olimpismo 365’,
todos os dias do ano”.
O exército de Israel afirmou ter confirmado que o chefe militar do Hamas, Mohammed Deif, foi morto em um ataque aéreo na Faixa de Gaza em julho.
Deif foi alvo do ataque a um complexo na área de Khan Younis em 13 de julho.
O Hamas ainda não confirmou sua morte.
Israel alega que Deif foi uma das figuras responsáveis pelo planejamento dos ataques de 7 de outubro no sul de Israel, nos quais 1.200 pessoas foram mortas.
Um comunicado do exército israelense afirmou que, “após uma avaliação
de inteligência, pode-se confirmar que Mohammed Deif foi eliminado” no
ataque de 13 de julho.
Na época, o Ministério de Saúde, comandado pelo Hamas em Gaza,
afirmou que o ataque aéreo matou mais de 90 pessoas, mas negou que Deif
estivesse entre os mortos.
Deif nasceu no campo de refugiados de Khan Yunis em 1965. Ele foi
criado em uma família muito pobre e trabalhou ao lado do pai com fiação e
estofamento, montou uma granja avícola e trabalhou como motorista.
Deif significa “visitante” ou “convidado”, em referência a seu estilo
de vida, pois se acredita que ele se desloca de um lugar para outro
para evitar a vigilância israelense.
Formado em Ciências pela Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou
Física, Química e Biologia, ele foi chefe do comitê de entretenimento da
universidade e atuou no palco em comédias.
Durante seus anos de universidade, Deif juntou-se ao grupo da Irmandade Muçulmana.
E quando o Hamas começou, em 1987 – após a primeira Intifada palestina –, ele se juntou à organização.
Deif foi preso pelas autoridades israelenses em 1989 e passou 16
meses na prisão, acusado de trabalhar para o braço militar do Hamas.
Ele foi um dos co-fundadores da ala militar do grupo, as Brigadas
al-Qassam, e também supervisionou a fundação de uma filial das Brigadas
Qassam na Cisjordânia.
Em 2002, Deif tornou-se chefe das Brigadas Qassam, após o assassinato de seu antecessor, Salah Shehadeh, num ataque israelense.
Em 2015, Deif foi colocado na lista de terroristas internacionais dos EUA. E em dezembro de 2023, à lista da União Europeia.
Tentativas de assassinato
Deif foi acusado de planejar e coordenar atentados a bomba contra
ônibus que mataram dezenas de israelenses em 1996, e de envolvimento na
captura e morte de três soldados israelenses em meados da década de
1990.
Acredita-se que Deif tenha planejado os ataques do Hamas em 7 de
outubro juntamente com Yahya Sinwar – o líder político do Hamas em Gaza.
E que ele tenha desempenhado um papel fundamental na arma mais
proeminente do Hamas: o foguete Qassam, assim como no desenvolvimento da
rede de túneis sob Gaza.
Também especula-se que Deif tenha passado a maior parte do tempo
nesses túneis, escondendo-se do exército israelense e coordenando os
ataques do Hamas.
Ele era uma figura sombria conhecida pelos palestinos como “O Cérebro” e pelos israelenses como “O Gato com Nove Vidas”.
Desde 2001, Deif havia conseguido sobreviver a sete tentativas de assassinato.
A mais grave foi em 2002. Ele sobreviveu, mas perdeu um dos olhos.
Israel diz que ele também perdeu um pé e uma mão e ficou com dificuldade
para falar.
Em 2014, as forças de segurança israelenses mais uma vez não
conseguiram assassinar Deif durante um ataque à Faixa de Gaza, mas
mataram sua esposa e dois de seus filhos.
Desde então, ele deixou poucos vestígios por onde passou. Há apenas
três fotos conhecidas dele: uma é datada, na segunda ele está mascarado e
na terceira aparece apenas sua sombra.
Se você tiver prestado atenção às noções mais recentes sobre bem-estar e longevidade, terá notado o aumento do foco na situação dos nossos relacionamentos.
A relação entre as nossas interações com as outras pessoas e a nossa
longevidade é tão forte que a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou
recentemente uma nova Comissão sobre Conexões Sociais, consideradas uma
“prioridade de saúde global”.
Talvez você tenha um certo ceticismo sobre estas afirmações e os
misteriosos mecanismos que supostamente relacionam nosso bem-estar
físico à solidez dos nossos relacionamentos. Mas a nossa compreensão do
modelo de saúde “biopsicossocial” vem crescendo há décadas.
Enquanto pesquisava a ciência por trás dessas conclusões para o meu livro The Laws of Connection (“As
leis da conexão”, em tradução livre), descobri que nossas amizades
podem exercer influência sobre tudo – desde a resistência do nosso
sistema imunológico até a possibilidade de morrermos de doenças
cardíacas.
As pesquisas trazem conclusões claras. Se quisermos viver uma vida
longa e saudável, devemos começar a priorizar as pessoas à nossa volta.
As raízes científicas desta descoberta remontam ao início dos anos 1960.
Foi quando o médico Lester Breslow (1915-2012), do Departamento de
Saúde Pública do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, definiu um
projeto ambicioso para identificar os hábitos e comportamentos que geram
maior longevidade.
Para isso, ele recrutou cerca de 7 mil participantes do condado de
Alameda, na Califórnia. E, com questionários abrangentes, o médico
elaborou um quadro extraordinariamente detalhado dos seus estilos de
vida e acompanhou seu bem-estar nos anos que se seguiram.
Depois de uma década, a equipe de Breslow havia identificado vários
dos ingredientes que, como sabemos hoje, são essenciais para a boa
saúde: não fumar; beber com moderação; dormir sete a oito horas por
noite; fazer exercícios; evitar guloseimas; manter peso adequado; e
tomar café da manhã.
Na época, essas descobertas foram tão surpreendentes que, quando seus
colegas apresentaram os resultados, Breslow achou que eles estivessem
fazendo algum tipo de brincadeira.
Dificilmente você irá precisar de mim para explicar essas orientações
com mais detalhes. O conjunto de sete hábitos saudáveis conhecido como
“Alameda 7”, atualmente, é a base da maioria das orientações de saúde
pública.
Mas as pesquisas continuaram. E, em 1979, dois colegas de Breslow –
Lisa Berkman e S. Leonard Syme – descobriram um oitavo fator que
influencia a longevidade das pessoas: as conexões sociais.
Em média, as pessoas com maior número de laços sociais apresentaram
cerca de metade da probabilidade de morrer em relação às pessoas com
redes sociais menores. E este resultado permanecia inalterado, mesmo
considerando fatores como situação socioeconômica e a saúde das pessoas
no início da pesquisa, consumo de cigarros, prática de exercícios e
alimentação.
Analisando com mais profundidade, ficou claro que todos os tipos de
relacionamentos são importantes, mas alguns são mais significativos do
que outros.
O senso de conexão com o cônjuge e amigos próximos oferece maior
proteção, mas os próprios conhecidos casuais da igreja ou de um clube de
boliche também ajudam a afastar a indesejável visita da morte.
A completa ousadia desta afirmação pode explicar por que ela foi inicialmente desprezada pelas orientações de saúde pública.
Os cientistas estavam acostumados a observar o corpo como uma espécie
de máquina, praticamente separada do nosso estado mental e do ambiente
social. Mas, desde então, extensas pesquisas confirmaram que a conexão e
a solidão influenciam nossa suscetibilidade a muitas doenças.
O cerne da questão
O apoio social pode, por exemplo, estimular nosso sistema imunológico e nos proteger contra infecções.
Nos anos 1990, o professor de psicologia Sheldon Cohen, da
Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, pediu a 276
participantes de um estudo que fornecessem detalhes completos sobre suas
relações sociais.
Eles foram examinados para determinar a existência de possíveis
infecções, colocados em quarentena e pediu-se que eles inalassem
gotículas de água infectadas com rinovírus, responsável por muitas
gripes e resfriados.
Nos cinco dias seguintes, muitos participantes desenvolveram
sintomas, mas a incidência foi significativamente menor entre as pessoas
com conexões sociais amplas e diversificadas.
E, de fato, as pessoas com menores níveis de conexão social
apresentaram risco três a quatro vezes maior de desenvolver resfriado do
que as que contavam com redes mais ricas de familiares, amigos, colegas
e conhecidos.
Qualquer bom cientista deve sempre considerar se outros fatores de
confusão podem explicar os resultados. É razoável considerar, por
exemplo, que as pessoas isoladas podem ser menos ativas e saudáveis, se
passarem menos tempo ao ar livre, com seus amigos e familiares.
Mas Berkman e Syme também concluíram que a correlação permaneceu
mesmo depois que os pesquisadores descontaram todos estes fatores. E as
dimensões do efeito excedem em muito os benefícios de tomar suplementos
vitamínicos, outra medida que pode reforçar nosso sistema imunológico.
O estímulo social à saúde se estende ao nosso risco de condições crônicas, que transformam a nossa vida, como o diabetes tipo 2.
O diabetes surge quando o pâncreas deixa de produzir insulina em
quantidade suficiente e as células do corpo não reagem à insulina que
flui através do corpo. Estas duas condições impedem a decomposição do
açúcar do sangue em células de energia.
Fatores como a obesidade podem contribuir para o diabetes, mas,
aparentemente, a qualidade dos relacionamentos também tem influência.
Uma pesquisa que envolveu 4 mil participantes do Estudo Longitudinal
Inglês sobre o Envelhecimento concluiu que avaliações mais altas na
Escala de Solidão UCLA (um questionário empregado pelos cientistas para
medir as conexões sociais das pessoas) previram o início do diabetes
tipo 2 ao longo da década seguinte.
Existem até mesmo sinais de que pessoas com fortes relações sociais
apresentam menor risco de desenvolver Alzheimer e outras formas de
demência.
Mas a evidência mais forte se refere às doenças cardiovasculares.
Estudos em massa rastrearam a saúde de dezenas de milhares de pessoas ao
longo de muitos anos e destacaram esta relação repetidas vezes.
O efeito pode ser observado tanto nos estágios iniciais – com pessoas
com poucas relações sociais sendo mais propensas a desenvolver
hipertensão – quanto nos quadros mais graves, com a solidão aumentando
em cerca de 30% o risco de ataques cardíacos, angina ou AVC.
Para ter uma ideia da importância geral do estímulo social à saúde, a
psicóloga Julianne Holt-Lunstad, da Universidade Brigham Young em
Provo, no Estado americano de Utah, compilou as conclusões de 148
estudos. Juntos, eles analisaram 300 mil participantes, observando os
benefícios da integração social e os riscos da desconexão.
Ela então comparou os efeitos da solidão com os riscos de diversos
outros fatores de estilo de vida, como fumar, beber álcool, fazer
exercícios e atividade física, índice de massa corporal (que mede a
obesidade), poluição do ar e a ingestão de medicamentos para controlar a
pressão arterial.
Os resultados foram publicados em 2010. Eles são surpreendentes.
Holt-Lunstad concluiu que o tamanho e a qualidade das relações
sociais apresentam relação igual ou maior do que quase todos os outros
fatores determinantes da mortalidade. Quanto mais as pessoas se sentem
apoiadas pelas pessoas à sua volta, melhor é a sua saúde e menor a sua
probabilidade de morrer.
De forma geral, as conexões sociais ou sua ausência desempenham papel
muito maior na saúde das pessoas do que o consumo de álcool,
exercícios, índice de massa corporal e a poluição do ar. Os únicos
efeitos que chegaram perto foram os do cigarro.
Causa ou correlação?
Esta pesquisa enfrentou críticas.
Para conseguir uma prova inquestionável da relação causal entre um
fator de estilo de vida e a longevidade em geral, seria preciso realizar
um experimento controlado, no qual você aloca pessoas aleatoriamente a
diferentes condições.
É desta forma que os novos medicamentos são testados – algumas
pessoas tomam o remédio, outras tomam o placebo e alguém registra os
diferentes resultados.
Neste caso, seria preciso alocar algumas pessoas a uma condição
solitária, negando a elas que tivessem amizades, enquanto outras recebem
uma rede social pronta, repleta de pessoas adoráveis.
Claramente, este procedimento é eticamente duvidoso e praticamente
impossível de ser realizado, o que levou algumas pessoas a questionar se
os efeitos aparentes das conexões sociais são reais e significativos.
Elas sugerem que os cientistas podem ter perdido algum fator de
confusão que oferece a ilusão de relação entre as nossas vidas sociais e
a nossa saúde e longevidade, apesar de todos os esforços.
Mas este argumento não é tão irrefutável quanto parece, como defendeu recentemente Holt-Lunstad, em uma análise da pesquisa.
Afinal, nós não podemos realizar experimentos randomizados em seres
humanos para comprovar os riscos da redução do tempo de vida causados
pelo fumo – a ética do processo seria ainda mais questionável. Mas
poucos cientistas hoje em dia negariam a relação causal entre o fumo e a
redução da longevidade.
Isso ocorre porque os cientistas detêm outra forma de demonstrar a
relação causal entre o estilo de vida e uma doença. São os chamados
critérios de Bradford Hill.
Holt-Lunstad destaca que, em estudos de longo prazo como a pesquisa
Alameda, por exemplo, os cientistas podem procurar a “temporalidade”, ou
seja, tentar saber se as escolhas de estilo de vida de alguém precedem o
desenvolvimento da doença.
Neste caso, a sequência é muito clara. As pessoas relataram sua solidão muito antes de desenvolverem seus problemas de saúde.
Os cientistas podem também procurar “relação de reação à dosagem”, ou
seja, se a maior exposição ao fator de estilo de vida proposto resulta
em maior risco.
E, também aqui, existe um padrão evidente: as pessoas totalmente
isoladas são mais propensas a sofrer problemas de saúde mais sérios do
que alguém que fica sozinho ocasionalmente – que, por sua vez, sofre
mais doenças do que alguém que tem um círculo social vibrante.
É possível também verificar se as conclusões são consistentes em diferentes populações, usando diversos tipos de medição.
Se os efeitos houvessem sido identificados apenas em uma pequena
amostra, ou se eles aparecessem apenas quando consideramos um único
questionário de solidão, você teria razão de ser cético. Mas não é o
caso.
O estímulo social à saúde também já foi documentado em todo o mundo,
segundo Holt-Lunstad, utilizando diversos métodos de quantificação das
conexões sociais das pessoas.
Quer você procure sentimentos subjetivos ou considere fatos
objetivos, como o estado civil ou o número exato de vezes em que uma
dada pessoa encontra conhecidos todos os meses, o padrão permanece o
mesmo.
Podemos até observar efeitos paralelos em espécies sociais muito
diferentes, como os golfinhos, babuínos-do-cabo e macacos Rhesus. Quanto
mais integrado for o indivíduo ao seu grupo social, maior é a sua
longevidade.
A segurança em números
Para compreender como e por quê a solidez das nossas conexões sociais
pode influenciar até certo ponto a nossa saúde, precisamos analisar a
nossa evolução.
Quando os primeiros seres humanos se adaptaram para viver em grupos
maiores, tudo dependia dos seus relacionamentos, desde o abastecimento
de comida até a proteção contra os predadores. Perder os companheiros
deixaria os humanos em risco de doenças, lesões e de morrer de fome.
Por isso, o cérebro e o corpo humano podem ter evoluído para
interpretar o isolamento social como uma ameaça séria. Esta pode ser a
razão por que sentimos tanta angústia quando estamos sozinhos e
desconectados.
Da mesma forma que a dor física nos alerta a buscar segurança e
cuidar das nossas feridas, a dor social pode ter evoluído para nos
convencer a evitar parceiros hostis e restabelecer nossas relações
positivas.
Sentimentos de rejeição ou isolamento também despertam uma série de reações fisiológicas.
No nosso passado evolutivo, elas se destinavam a proteger os
primeiros seres humanos contra os riscos imediatos representados pelo
isolamento, como os ataques de predadores ou inimigos. O cérebro aciona a
liberação de norepinefrina e cortisol, os hormônios que mantêm a mente
alerta contra ameaças e preparam o corpo para agressões.
Paralelamente, o sistema imunológico começa a aumentar a produção de
moléculas inflamatórias, para defender o corpo contra os patógenos. Para
os primeiros seres humanos, isso teria reduzido o risco de infecções,
se eles eventualmente fossem feridos por um ataque.
A sensação de isolamento e estresse social também pode aumentar a
produção de fibrinogênio, que promove a coagulação do sangue e ajuda na
cura das feridas. Esta reação teria aumentado a possibilidade de
sobrevivência imediata dos nossos ancestrais, mas poderia causar danos
de longo prazo.
Quando o corpo fica constantemente preparado para hostilidade e
agressões, ele aumenta a tensão sobre o sistema cardiovascular.
Paralelamente, as inflamações crônicas podem evitar a infecção das
feridas, mas a reação imunológica decorrente é menos adequada para
reagir aos vírus, o que aumentaria a possibilidade de contrair doenças
respiratórias, por exemplo.
As inflamações crônicas também causam o desgaste de outras células, o
que pode aumentar o risco de diabetes, Alzheimer e doenças cardíacas. E
os níveis elevados do fator de coagulação fibrinogênio podem causar
trombose, que pode gerar ataque cardíaco ou AVC.
Se passarmos décadas em solidão e isolamento, estas mudanças podem
aumentar drasticamente o risco de doenças e morte precoce. Mas, quando
as pessoas contam com conexões e apoio social, seus corpos irão suprimir
processos como as inflamações. E, como resultado, elas terão um padrão
de saúde muito melhor, que as torna menos suscetíveis a doenças.
Por ter sofrido de timidez, eu costumava considerar estas conclusões
um tanto desconcertantes. Como podemos colher os benefícios da conexão
profunda se não formos naturalmente sociáveis e extrovertidos?
Mas, desde que me aprofundei nas evidências, descobri que nossas
habilidades sociais são como os nossos músculos – quanto mais usamos,
mais fortes elas ficam. E mesmo os declaradamente introvertidos podem
aprender a ser mais sociáveis, se quiserem.
Da mesma forma que planejamos um programa de exercícios para aumentar
nossa atividade física, todos nós podemos encontrar maneiras de
integrar interações sociais mais significativas às nossas vidas,
alimentando velhos laços e construindo novos.
Somos programados para nos conectarmos. Basta apenas fornecer a nós mesmos as oportunidades adequadas.
* Esta reportagem é um trecho editado do livro As Leis da Conexão: Os Segredos Científicos de Estabelecer uma Forte Rede Social (em
inglês), de David Robson. Sua conta no X (antigo Twitter) é @d_a_robson
e ele também pode ser encontrado com o nome @davidarobson no Instagram e
no Threads.
Manuel Pavón – Gerente de contas de parceiros da DigiCert LATAM.
As eleições municipais no Brasil em 2024 ocorrerão em 6 de outubro,
com segundo turno previsto para 27 de outubro. Os eleitores escolherão
os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.569 municípios do país. E
com isso a velha discussão retorna: voto eletrônico X eleição em papel.
A pandemia nos ensinou que muito do que pensávamos que tinha que
acontecer presencialmente poderia ser feito online tão bem quanto –
senão melhor! Mas votar é uma tarefa importante que muitas pessoas ainda
não se sentem confortáveis em votar em um computador – principalmente
em tempos de polarização política.
Não é difícil entender o porquê. A tecnologia usada no voto digital
ainda é relativamente jovem e ainda não conquistou a confiança dos
eleitores. E se os invasores descobrirem uma maneira de hackear uma
eleição, os efeitos poderiam ser devastadores e de longo alcance.
Como um método de votação confiável deve funcionar
Em qualquer democracia, o método de votação ideal precisa atingir três alvos principais:
Prevenção de fraudes: garantir que cada voto seja legítimo.
Privacidade: proteger as escolhas dos eleitores de olhares curiosos.
Custo-benefício: tornar as eleições acessíveis para todos.
“Reforçar a segurança geralmente diminui a usabilidade. Pense em como
é adicionar autenticação multifator (MFA) às suas contas on-line — você
sabe que isso fornece uma camada extra de segurança, mas você tem que
pular alguns obstáculos para acessar suas contas”, diz Manuel Pavón –
Gerente de contas de parceiros da DigiCert LATAM.
O mesmo vale para eleições, onde adicionar segurança extra significa
etapas extras (e maiores investimentos financeiros). Essa é uma das
principais razões pelas quais os métodos de votação têm evoluído
lentamente.
O método da velha escola e suas desvantagens
Alguns especialistas em segurança eleitoral ainda consideram as
cédulas de papel o padrão ouro dos métodos de votação porque o papel é
difícil de hackear.
“Mas há desvantagens. As cédulas de papel são mais difíceis de
contabilizar e nem sempre são acessíveis a todos, especialmente pessoas
com deficiência. Uma pessoa com deficiência visual, por exemplo, não
pode usar uma cédula de papel sem assistência, o que pode comprometer a
segurança e a privacidade desse voto”, explica Manuel Pavón.
E mesmo que votar manualmente possa ser o único método real
“inviolável” de votação, as cédulas de papel ainda são vulneráveis se os
dados do eleitor e a infraestrutura eleitoral não estiverem devidamente
protegidos.
As urnas eletrônicas de votação são confiáveis?
As máquinas de votação são uma escolha popular, especialmente quando
combinadas com um sistema de auditoria em papel. Mas elas não são imunes
a falhas. Hackers de chapéu branco demonstraram que as máquinas de
votação podem ser manipuladas, e nem todos os estados exigem um rastro
de papel para verificar seus resultados eleitorais.
Em um estudo preocupante da Universidade de Michigan, pesquisadores
conseguiram alterar votos em dispositivos de marcação de cédulas, e a
grande maioria dos eleitores nem percebeu. Menos da metade revisou suas
cédulas, com apenas 7% dos eleitores alertando um trabalhador de que
algo estava errado.
O que este estudo ilustrou é o quão facilmente uma eleição acirrada
pode ser influenciada pela manipulação de apenas alguns votos.
Criando um futuro seguro e acessível para a votação
O futuro da votação segura no Brasil pode muito bem envolver uma
abordagem híbrida que aproveite os pontos fortes dos métodos digitais e
tradicionais. As possibilidades digitais estão evoluindo rapidamente,
com tecnologias como inteligência artificial (IA) trazendo novas ameaças
e soluções inovadoras para o cenário eleitoral.
A tecnologia tem o poder de fornecer uma maneira transparente e
inviolável de votar e contar votos. A IA pode aprimorar a autenticação
do eleitor, melhorar a detecção de fraudes e monitorar continuamente as
redes para possíveis violações de segurança. Os avanços na autenticação
biométrica têm o potencial de aprimorar a privacidade e a prevenção de
fraudes sem sacrificar a usabilidade.
“À medida que a tecnologia evolui, a segurança eleitoral precisará
evoluir junto com ela para garantir que qualquer pessoa que assuma um
cargo eletivo chegue lá de forma justa. Mas os avanços mais vitais virão
do aumento da confiança pública nos sistemas de votação digital. E
podemos chegar lá com medidas de segurança transparentes e educação
contínua sobre os diferentes tipos de votação e sua suscetibilidade à
fraude”, conclui Pavón.
Seja qual for o futuro da votação, há uma coisa que sabemos com
certeza: não votar é a única maneira infalível de garantir que sua voz
não seja ouvida.
Sobre a DigiCert, Inc.
A DigiCert é a fornecedora líder mundial de soluções TLS/SSL e PKI
escaláveis para identidade e criptografia. As empresas mais inovadoras,
incluindo 89% das empresas da Fortune 500 e 97 dos 100 maiores bancos
globais, escolhem a DigiCert por sua expertise em identidade e
criptografia para servidores web e dispositivos de Internet das Coisas. A
DigiCert oferece suporte a TLS/SSL e outros certificados digitais para
implantações de PKI em qualquer escala por meio de sua plataforma de
gerenciamento de ciclo de vida de certificado, CertCentral®. A empresa é
reconhecida por sua plataforma de gerenciamento de certificados de
nível empresarial, suporte rápido e experiente ao cliente e soluções de
segurança líderes de mercado. Para as últimas notícias e atualizações da
DigiCert, visite digicert.com ou siga@digicert.