O presidente Lula da Silva assinou uma medida provisória (MP) há
poucas semanas que, em prejuízo dos consumidores de energia de todo o
País, salvou o caixa da deficitária Amazonas Energia e, assim,
beneficiou diretamente outra empresa do segmento, a Âmbar, controlada
pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do Grupo J&F. As
implicações dessa manobra, em tudo contrária ao melhor interesse
público, já foram comentadas nesta página, no editorial A conta da farra é sempre do consumidor, publicado em 18/6/2024.
Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Estadão acaba
de revelar um fato que torna essa operação de salvamento da Amazonas
Energia ainda mais suspeita do que já era. Entre junho de 2023 e maio
deste ano – ou seja, até pouco antes de Lula editar a MP que tanto
agradou aos irmãos Batista –, altos executivos da Âmbar foram recebidos
ao menos 17 vezes no Ministério de Minas e Energia (MME) sem qualquer
registro na agenda oficial do ministro Alexandre Silveira e do
secretário executivo da pasta, Arthur Cerqueira.
O controle de acesso ao prédio do MME, obtido por este jornal, mostra
que, além de Silveira e Cerqueira, o secretário nacional de Energia
Elétrica, Gentil Nogueira, e o então secretário executivo da pasta,
Efraim Cruz, também mantiveram seguidos encontros com os enviados da
Âmbar Energia sem a devida publicidade. A reunião final, ocorrida em 29
de maio, foi entre o ministro Alexandre Silveira e o presidente da
empresa, Marcelo Zanatta. Duas semanas depois, no dia 13 de junho, Lula
assinou a MP.
Em tese, poder-se-ia assumir como trivial o encontro entre as
autoridades do MME e os executivos da quarta maior geradora de energia a
gás natural do País em capacidade instalada. Mas 17 reuniões, sobretudo
em tão curto espaço de tempo e principalmente sem transparência alguma,
aguçam o ceticismo até dos cidadãos que desejam acreditar nas supostas
boas intenções do governo – pois é isso, afinal, o que o sr. Silveira
espera de todos: que simplesmente tenham fé em seu espírito republicano.
O ministro de Minas e Energia jura que em nenhuma dessas reuniões com
representantes da Âmbar foram discutidos os termos da MP assinada por
seu chefe. O fato de a Âmbar ter sido beneficiada financeiramente com a
edição da medida – que, ademais, é bastante discutível no que concerne
aos requisitos de “relevância” e “urgência”, haja vista que não é de
agora que a Amazonas Energia apresenta maus resultados – não teria sido
mais que uma “mera coincidência”, segundo Alexandre Silveira. Mais uma
vez, estamos no terreno da fé.
Esse mistério envolvendo cifras bilionárias e interesses opacos é
contraditório, para dizer o mínimo, para o governo de um presidente que
não perde uma oportunidade de se jactar por ter “salvado a democracia”
no Brasil. Ora, numa democracia digna do nome, aqueles que exercem o
poder em nome do povo não podem sonegar informações que permitam ao povo
fiscalizá-los. Por isso, a publicidade é um dos princípios regentes da
administração pública consagrados pela Constituição. É dever das
autoridades, portanto, garantir a publicidade de seus atos públicos,
ressalvados os casos – raríssimos e previstos em lei – em que o sigilo
se impõe como medida de resguardo do interesse nacional.
Em essência, nada difere essa verdadeira ocupação do MME pelos
executivos da Âmbar daquela feita por pastores no Ministério da Educação
no governo de Jair Bolsonaro. Em ambos os casos, a transparência foi
sacrificada no altar de interesses que os cidadãos comuns, pagadores de
impostos, não conseguem alcançar.
Mais uma vez, que fique claro: não se trata de duvidar, por
princípio, da integridade de quem quer que seja, e sim de exigir que
haja o máximo possível de informações para que os brasileiros possam
avaliar quais interesses estão de fato prevalecendo nas estranhas
relações entre o Ministério das Minas e Energia e uma empresa privada.
No escuro, não há democracia.
História de NATHALIA GARCIA E THAÍSA OLIVEIRA – Folha de S.Paulo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) do Senado adiou nesta quarta-feira (10) a votação da PEC
(proposta de emenda à Constituição) de autonomia financeira do Banco
Central depois que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou
a construção de um acordo.
Após se reunir com o presidente Lula e com o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA),
afirmou que a gestão petista não é contra a autonomia financeira do BC,
mas sim à PEC em discussão.
“A autonomia financeira e administrativa do Bacen, não há nenhum
problema conosco, nenhum. A forma de atingi-la é que nós não
concordamos, de transformar o Bacen em uma empresa [pública]. Para
transformar, da forma que está o relatório, tem figuras como celetista
estável. São figuras exóticas, eu diria, no mínimo.”
Com a possibilidade de acordo com o governo, o presidente da CCJ,
senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que a comissão deve
se reunir de forma semipresencial na quarta-feira da semana que vem (17)
-véspera do recesso parlamentar- para discutir o tema.
Ao sinalizar o acordo, o líder do governo no Senado mostrou apreensão
com potencial impacto primário em caso de aporte do Tesouro Nacional
para cobrir eventuais prejuízos do BC na gestão das reservas
internacionais.
Essa preocupação consta também em uma nota divulgada pela Casa Civil
contra a alteração no regime jurídico do BC. Segundo o documento, a PEC
ameaça a viabilidade do arcabouço fiscal com impacto primário de cerca
de R$ 125 bilhões no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2025.
Os defensores da proposta, por outro lado, argumentam que o impacto
direto da PEC é de redução dos gastos primários em R$ 5,5 bilhões por
ano.
Segundo eles, recursos provenientes de fluxos financeiros entre a
União e o BC não devem ser considerados para fins de cumprimento das
regras do regime fiscal, como ocorre hoje. Isso abrange tanto as
transferências de resultados positivos quanto à cobertura de resultados
negativos.
Em 2023, o BC registrou prejuízo de R$ 114,15 bilhões, sendo R$
111,245 bilhões cobertos pelo Tesouro e R$ 2,922 bilhões por redução do
patrimônio institucional da própria autarquia.
Já em 2021, a autoridade monetária teve lucro de R$ 85,9 bilhões, com
repasse de R$ 71,7 bilhões ao Tesouro para ser usado exclusivamente no
pagamento da dívida pública.
Minutos antes de anunciar a posição do governo, Jaques se reuniu no
Palácio do Planalto com Lula, Haddad e o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), para tratar da desoneração da folha de pagamento de
empresas e prefeituras.
Na terça (9), Pacheco disse que era momento de “botar água na
fervura” e que ainda não havia perspectiva de colocar a PEC em votação
no plenário da Casa.
Ele citou “divergências” entre o presidente Lula e o chefe do BC,
Roberto Campos Neto, e afirmou que o debate deve ser “alongado”,
considerando a opinião do próprio governo federal, do sistema financeiro
e dos servidores da instituição.
Durante a sessão na CCJ, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) leu um
voto em separado, rejeitando a proposta de emenda constitucional e
demarcando a posição contrária dos petistas ao texto.
Assim como a nota técnica elaborada pela liderança do governo no
Senado, Carvalho afirmou que a PEC é inconstitucional e viola a
separação de Poderes ao usurpar a atribuição privativa do presidente da
República de deflagrar o processo de discussão de um tema como este.
“O BC atua mais como um administrador de recursos nacionais do que
como proprietário de ativos que geram receitas. A emissão de moeda, por
exemplo, não é uma atividade comercial com fins lucrativos, mas uma
função monetária central que visa controlar a oferta monetária e
sustentar a estabilidade econômica”, afirmou o senador.
A PEC transforma o Banco Central de autarquia para empresa pública de
natureza especial, que exerce atividade estatal. Apesar de ter
autonomia operacional assegurada por lei desde 2021, a autoridade
monetária não tem hoje poder sobre o seu próprio orçamento.
A mudança afeta a relação de trabalho dos servidores do BC, que
deixam de ser regidos pelas normas do regime jurídico único e passam a
ser empregados públicos regulamentados pela CLT (Consolidação das Leis
do Trabalho).
Na semana passada, o parecer favorável à PEC do BC foi lido pelo
relator, senador Plínio Valério (PSDB-AM), mas a discussão na CCJ foi
adiada pela primeira vez depois de um pedido de vista coletivo (mais
tempo para análise).
Em nota, o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco
Central) disse ver de forma positiva o acordo proposto pela liderança do
governo e se colocou à disposição “para trabalhar junto aos senadores e
assessores técnicos na elaboração do novo texto”.
Já a ANBCB (Associação dos Analistas do Banco Central) viu o
adiamento da votação como “preocupante”, mas disse que essa é “mais uma
oportunidade de o governo negociar e participar” da decisão. “A
associação destaca que segue em interlocução com o governo e o
parlamento para contribuir com a solução estrutural e definitiva”,
afirmou.
Giuliana Tranquilini – Professora e colunista da StartSe
Para Giuliana Tranquilini, colunista e professora da StartSe em
algumas imersões no Vale do Silício, é preciso estruturar os pilares da
marca pessoal antes de sair comunicando e, assim, identificar e
comunicar suas qualidades únicas, estabelecer uma presença autêntica e
coerente no mercado e criar estratégias de longo prazo.
Mulher sentada e mexendo no computador (Foto de Mikhail Nilov para Pexels)
Durante os quase dois meses em que estive no Brasil a trabalho neste final de ano, enfrentei um desafio comum a muitos profissionais: manter a rotina de exercícios em um ambiente diferente.
Para não perder o ritmo que havia conquistado, decidi buscar o apoio
de uma personal trainer, queria alguém que pudesse me desafiar e manter
minha motivação em alta.
Esta experiência me fez relembrar o valor de ter um profissional
especializado, e com isso, decidi continuar com um personal trainer ao
retornar à Califórnia.
Esta semana, de volta à Califórnia, estabeleci como parte dos meus objetivos para o ano fortalecer minha rotina de saúde e bem-estar.
Entre vários profissionais, Denise se destacou pela rapidez em
responder e pela preocupação genuína em compreender minhas necessidades e
objetivos. Sua abordagem atenciosa e detalhada me convenceu de que ela era a escolha certa para me auxiliar.
Durante nossa primeira conversa, Denise me apresentou um plano de
seis meses, iniciando com um mês dedicado à “conscientização corporal”.
Apesar de minha longa experiência em natação, corrida, ballet fitness e
ciclismo, fiquei surpresa com a proposta.
“Conscientização corporal? Mas eu já conheço meu corpo.”, pensei. A
resposta de Denise, embora simples, indicava um período para ela me
entender melhor – uma resposta que, em retrospecto, sugeria que eu ainda
tinha muito a aprender.
As primeiras aulas com Denise foram reveladoras. Cada ajuste em minha
postura, respiração e execução de movimentos abriu meus olhos para
aspectos do meu corpo que antes passavam despercebidos.
O que inicialmente parecia um mês “perdido”, rapidamente mostrou-se
um período essencial para um treinamento mais eficaz e seguro,
especialmente agora que me aproximo dos 50 anos e meu foco é manter a
mobilidade e a saúde.
Esta jornada com Denise reforçou a importância dos fundamentos, tanto na saúde física quanto no desenvolvimento de uma marca pessoal sólida.
Na BetaFly, observo muitos clientes ansiosos por resultados
rápidos em suas jornadas de marca pessoal, muitas vezes pulando etapas
cruciais.
Porém, assim como um treinamento físico eficaz requer uma base
sólida, o fortalecimento de uma marca também depende de uma fundação
robusta. Compreender quem você é, seus valores, talentos e aspirações é
vital.
Como construir uma marca pessoal?
Acredito que é preciso estruturar os pilares da marca pessoal
antes de sair comunicando e assim, identificar e comunicar suas
qualidades únicas, estabelecer uma presença autêntica e coerente no
mercado e criar estratégias de longo prazo.
O objetivo é desenvolver uma marca pessoal não apenas atraente, mas
profundamente enraizada em autoconhecimento e propósito autêntico.
Assim como no treinamento físico, onde a conscientização do corpo é
essencial, na marca pessoal, a fase de autoconhecimento e definição da
essência é crucial.
Este processo envolve uma exploração profunda das motivações,
crenças, forças e vulnerabilidades de cada indivíduo, permitindo
compreender como suas experiências únicas moldam sua marca pessoal.
Por que importa?
Em um mundo acelerado, onde todos buscam resultados imediatos, é
crucial lembrar que o verdadeiro impacto e influência vêm de um
entendimento profundo e autêntico de si mesmo. Seja na saúde
física, na carreira ou na vida pessoal, o processo de construção requer
tempo, paciência e orientação especializada.
Convido cada liderança a refletir: estão
investindo o tempo necessário para construir uma base sólida para sua
marca pessoal? Estão prontos para se aprofundar em sua essência antes de
buscar resultados rápidos?
Ter uma marca pessoal forte e autêntica é um processo que demanda
dedicação e tempo, mas é justamente essa base sólida que sustenta um
crescimento duradouro e um impacto genuín
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O desejo de mudar, de transformar, de acreditar, são
fundamentais para irmos além. São agentes propulsores da realização de
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proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores
que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por
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para nos manter alinhados com os desejos do consumidor. Por isso,
pensamos em como fazer a diferença buscando estar sempre um passo à
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Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
História de PAULO SALDAÑA E MATHEUS TEIXEIRA – Folha de S.Paulo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Câmara aprovou nesta terça-feira (9) a
nova reforma do ensino médio e, agora, a matéria segue para sanção ou
veto do presidente Lula (PT).
Os deputados reverteram os principais pontos que foram alterados pelo
Senado. Com isso, ficou de fora a obrigatoriedade do ensino de espanhol
e também uma nova definição de carga horária para alunos do ensino
técnico profissional.
A obrigatoriedade de ter uma escola de ensino médio noturno em cada
município é outro ponto eliminado na versão final do texto que passou
pelo Legislativo.
Os deputados mantiveram os pontos principais que haviam sido
acordados com o governo na primeira votação da matéria, em março. Assim,
fica ampliado de 1.800 horas para 2.400 horas a parte comum curricular
(de uma carga total de 3.000 horas). Na prática, isso amplia a oferta de
disciplinas tradicionais, como português e matemática.
E deixa uma exceção: para estudantes da educação técnica
profissional, essa base geral pode ser menor, de 2.100 horas (prevendo
que 300 horas desse montante deve aliar a formação geral e o ensino
técnico).
No Senado, as 2.400 horas da parte comum haviam sido mantidas, mas a
relatora do texto na Casa, senadora Professora Dorinha (União-TO),
trouxera nova definição para alunos do ensino técnico profissional:
passava de 2.100 horas para 2.400 a carga horária da parte comum, até
2029.
O item, que deixaria o tempo de horas da parte comum no mesmo patamar
de outros itinerárias, resultariam em um ensino médio acima das 3.000
horas no caso do itinerário técnico. O ponto trouxe reações, sobretudo
de secretários de Educação estaduais e municipais.
O ensino de espanhol deixa de constar como conteúdo fixo da área de
linguagens, como previu o texto do Senado. E volta a ser mencionado como
uma possibilidade de oferta.
O governo Michel Temer (MDB) aprovou em 2017 o chamado Novo Ensino
Médio, quando Mendonça era ministro da Educação. A lei consolidou a
flexibilização do currículo, com a divisão da etapa em dois blocos: uma
parte comum, em que todos estudam os mesmos conteúdos, e outra dedicada a
áreas de aprofundamento os chamados itinerários formativos,
organizados por diferentes áreas.
Com a implementação da reforma nas escolas, a partir de 2022,
apareceram os problemas, como perdas de conteúdos tradicionais na parte
comum e oferta deficiente dos itinerários.
Pressionado por mudanças e até por pedidos de revogação da reforma, o
governo Lula promoveu uma consulta pública e encaminhou ao Congresso,
em outubro de 2023, projeto de lei com propostas de alterações.
O projeto de lei encaminhado pelo governo passou na Câmara e no
Senado, mas como sofreu alterações entre os senadores, retornou para os
deputados.
Em linhas gerais, o governo buscou aumentar a carga horária comum a
todos os alunos e uma organização diferente para os itinerários.
Com relação a atividades a distância, foi mantido como já aprovado na
Câmara a oferta do “ensino médio mediado por tecnologia”, de forma
excepcional. O que é visto por críticos do texto como menor controle a
esse tipo de oferta com relação à redação do Senado, que explicitava
como “ensino presencial mediado por tecnologia”.
Em experiência do ensino mediado por tecnologia, como a do Amazonas,
alunos não têm contato presencial com professores, mas somente com
tutores.
O texto de Mendonça acatou mudança promovida pelo Senado que dá ao
Conselho Nacional de Educação a missão de elaborar diretrizes nacionais
de aprofundamento de cada uma das áreas do conhecimento a falta dessas
diretrizes é apontada como um das causas das deficiências e
desigualdades na oferta dos itinerários formativos.
O ministro queria impor contrapartidas dos estados, assim como seus
colegas antecessores. Nenhum deles conseguiu, e tudo indica que Haddad
também ficará sem o sacrifício dos governadores pelo equilíbrio das
contas públicas
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante cerimônia no Palácio da Alvorada, em Brasília02/05/2023REUTERS/Ueslei Marcelino
A renegociação da dívida dos estados com a União está pronta para virar a próxima pedra no caminho de Fernando Haddad.Playvolume
00:00/01:00TruvidfullScreen
O projeto apresentado pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco,
prevê aos estados todos os benefícios, mas ao Tesouro Nacional, a conta.
A briga não é nova. Vem do final dos anos 90, quando o governo
federal liquidou os bancos estaduais – todos quebrados –, federalizou as
dívidas e repactuou o pagamento com juros abaixo do mercado.
A trégua durou até 15 anos atrás, quando os estados passaram a contar
com a benevolência do Congresso e do Supremo Tribunal Federal para
conseguir redução de juros e até a suspensão do pagamento dos débitos
com a União.
A proposta de Pacheco tem o mérito de induzir investimentos nas áreas
mais carentes dos estados, como educação, infraestrutura e saneamento
básico.
Mas tem como premissa e incentivo o aumento de gastos, e não o
controle das despesas – um problema grave tanto no governo federal
quanto nos maiores estados brasileiros, exatamente aqueles mais
endividados.
A pedra que surge no caminho de Haddad é o aumento da dívida pública
se a proposta passar no Congresso como está. A União já paga mais juros
na dívida soberana do que aquele que recebe dos estados, subsidiando os
devedores. Imagine se a cobrança for zerada, como prevê a proposta no
Senado.
O ministro queria impor contrapartidas dos estados, assim como seus
colegas antecessores. Nenhum deles conseguiu, e tudo indica que Haddad
também ficará sem o sacrifício dos governadores pelo equilíbrio das
contas públicas.
Ao decidir esse número, o Banco Central influencia boa parte de todas as transações com dinheiro na economia
O gerente do seu banco trabalha para proteger o teu dinheiro. Em
Brasília, o Banco Central (BC) é um banco um pouco diferente porque não
lida necessariamente com depósitos e
saques.Playvolume00:00/01:00TruvidfullScreen
A principal função é proteger o valor da moeda, o real. Para isso, é preciso combater o grade inimigo do dinheiro: a inflação.
Como o BC pode agir contra a alta dos preços se eles são decididos na
própria economia? Já que quem decide aumentar valores muitas vezes são
indivíduos ou empresas, como um fazendeiro, uma indústria ou mesmo o
dono do supermercado do bairro.
Para isso, entra o principal instrumento da política monetária: o juro básico da economia, que no Brasil é a taxa Selic.
Ao decidir esse número, o BC influencia boa parte de todas as
transações com dinheiro na economia, especialmente — mas não apenas —
aquelas que têm juros, como empréstimos e investimentos.
A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para
definir o novo patamar da Selic. E o processo é similar ao de um maestro
que rege uma orquestra.
A partitura desse maestro econômico é a meta de inflação. Esse é o grande norte da autoridade monetária.
A meta é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e atualmente
está fixada em 3% no acumulado de 12 meses, com margem de tolerância de
1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A meta determina o ritmo que a música chamada inflação pode tocar.
Antes de definir a Selic, o BC faz um minucioso exame da sinfonia
econômica. São coletados dados de diversos setores da economia, como
indústria, serviços, mercado de trabalho e especialmente o comportamento
dos preços, além do cenário externo.
Assim, os diretores do BC conseguem compor um panorama abrangente do ritmo da economia do país.
Juros altos, como um tom mais baixo, desaceleram a atividade
econômica, enquanto taxas baixas, impulsionam. Essa modulação tem como
objetivo influenciar o ritmo da atividade econômica e dos preços.
A conexão é simples: se a economia acelera e cresce, há mais espaço
para aumento de preços. Já se a economia reduz o passo e encolhe, os
preços tendem a aumentar menos.
As reuniões do Copom são cercadas de sigilo. Bloqueadores de celular e
comunicação restrita a recados escritos garantem que os membros do
Comitê baseiem suas decisões apenas nas informações disponíveis e no
debate técnico aprofundado. E, principalmente, não vazem nada para fora
daquela sala no 20º andar do edifício-sede em Brasília.
Apesar do sigilo durante as reuniões, as decisões do Copom são
amplamente anunciadas. A cada atualização da Selic, o BC emite um
comunicado detalhando os fatores considerados e as perspectivas para a
economia, buscando esclarecer os rumos da política monetária
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou ontem o
projeto de lei que define as novas regras de tratamento para as dívidas
dos Estados com a União. Segundo ele, o projeto prevê que os entes
possam entregar ao governo federal ativos – por exemplo, estatais – como
forma de pagamento de seus passivos.
“O eixo principal é isso. Há uma dívida do Estado com a União, e o
Estado pode usar ativos que detenha para pagamento dessa dívida”, disse
Pacheco. Entre os tipos de ativos citados pelo parlamentar estão os
recebíveis, créditos judiciais e participação acionária em empresas.
Estatais poderão ser federalizadas em favor da União, destacou Pacheco.
Minas Gerais, terra de Pacheco e um dos Estados mais endividados, tem
planos de repassar ao governo federal ativos como as participações na
Companhia Energética Minas Gerais (Cemig), na Copasa e na Codemig. Esse
montante ajudaria a reduzir uma parte da dívida bilionária do Estado. A
opção de federalização de empresas estaduais já havia sido defendida por
Pacheco.
O senador disse também que outra novidade do projeto é prever que
créditos inscritos em dívida ativa do Estado possam ser cedidos também
para a União. “Há artigo específico sobre essa possibilidade, obviamente
dependente do aceite da União”, disse.
Pelo projeto, o governo federal pode não ser remunerado com juros no
pagamento desses passivos. Segundo Pacheco, a proposta foi alinhada
antes com o Executivo. Hoje, o indexador das dívidas é o IPCA acrescido
de 4% de juros. O texto apresentado por Pacheco, por sua vez, abre
caminho para que esses 4% sejam revertidos para os próprios Estados ou
até mesmo perdoados.
AS ALTERNATIVAS. São quatro possibilidades de redução:
1) Um ponto porcentual poderia ser perdoado se o Estado entregasse
como pagamento e amortização os seus ativos numa monta de 10% a 20% do
valor da dívida. Haveria um abatimento de 1 ponto porcentual sobre os
juros do estoque.
2) Se o Estado entregasse 20% a mais de ativos para o pagamento do
passivo, o abatimento nos 4% seria de 2 pontos, explicou Pacheco. “Ou
seja, é um perdão de 50% do valor dos juros, que cairia de 4% para 2%”,
disse.
3) Além dessas opções, 1 ponto dos 4% de juros poderia ser para
investimentos no próprio Estado – o que se assemelha à ideia original do
Ministério do Fazenda apresentada no programa Juros Por Educação. Nesse
caso, os investimentos poderiam ser em educação e ensino
profissionalizante, mas também em infraestrutura e segurança pública.
4) Por fim, 1 ponto dos juros seria para um fundo de equalização,
criado pelo projeto, para atender todos os Estados, inclusive os não
endividados.
“Desse modo, a configuração dos juros teria parte de perdão, com o
esforço do Estado de entrega de ativos, outra parte usada para
investimentos no Estado, e parte para fundo de equalização. Isso garante
a responsabilidade fiscal e que os Estados se organizem para pagamento
da dívida e redução muito significativa do indexador. E com a União
abrindo mão para si dos juros”, disse Pacheco.
SEM USO DO FUNDO
O presidente do Senado explicou que a pretensão dos governadores de
utilizar o Fundo de Desenvolvimento Regional, previsto na reforma
tributária, como uma antecipação para o pagamento da dívida, não pode
ser atendida. “Infelizmente sob o ponto de vista jurídico e
constitucional há uma vedação expressa sobre esse uso. Ele pode ser
usado naturalmente nas contrapartidas: uma vez aderindo ao programa de
pleno pagamento, o Estado terá de cumprir ao longo da relação com a
União”, explicou.
Pacheco indicou que o projeto pode ficar para agosto, diante da
necessidade de debater o texto com senadores e governadores. “Vamos
fazer o maior esforço possível para ser antes do recesso. Mas,
eventualmente, se necessário for passar para agosto, não tem problema
algum”, afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) concluiu que o fim das saídas
temporárias de presos, as chamadas saidinhas, para evitar o aumento da
criminalidade não “encontra amparo em evidências”.
A conclusão consta em um relatório no qual o conselho avaliou a Lei
14.836/2024, norma que acabou com as saidinhas de presos. Em maio deste
ano, o Congresso derrubou o veto parcial do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e manteve a proibição do benefício.
Antes da nova lei, presos que estavam no regime semiaberto, que já
tinham cumprido um sexto do total da pena e com bom comportamento,
poderiam deixar o presídio por cinco dias para visitar a família em
feriados, estudar fora ou participar de atividades de ressocialização.
Com a rejeição do veto pelos parlamentares, os detentos ficam
impedidos de deixar as prisões em feriados e datas comemorativas, como
Natal e Dia das Mães.
Na avaliação do CNJ, apenas 4% dos presos não retornam às
penitenciárias, fato que não traz “qualquer consequência negativa à
segurança pública”.
“A redução das oportunidades de reconstrução e fortalecimento das
relações familiares e comunitárias de pessoas em cumprimento de pena vai
de encontro ao objetivo desproporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e acaba por fazer aumentar a pressão
dentro dos estabelecimentos prisionais, incrementando a deterioração de
um sistema que opera em modo de violação estrutural de direitos
fundamentais”, avalia o conselho.
O CNJ também acrescentou que a realização de exames criminológicos
para concessão da progressão de pena, conforme está previsto na norma,
vai gerar custos de R$ 6 bilhões para a administração pública e
triplicar o déficit de vagas nos presídios.
“O prolongamento do tempo de encarceramento a decorrer dos
inevitáveis atrasos nas futuras progressões de regime diante da nova
exigência aponta que, em 12 meses, 283 mil pessoas deixarão de progredir
regularmente, o que irá acarretar um custo anual e adicional de R$ 6
bilhões de reais para os cofres públicos”, concluiu o CNJ.
Em maio, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu que o fim das saidinhas não pode retroagir para
alcançar detentos que tinham direito ao benefício. O ministro ressaltou
que a Constituição prevê que a lei penal não pode retroagir, exceto
para beneficiar o réu.
Nikola Tesla (1856-1943) foi um homem a frente do
seu tempo. O sérvio-americano demonstrou desde cedo paixão pela ciência e
é considerado até hoje um dos grandes gênios da contemporaneidade. Esse
reconhecimento todo, no entanto, não veio de maneira pontual. Ainda que
estivesse envolvido em inúmeros projetos pioneiros, como a invenção do
rádio e das correntes elétricas, o nome de Tesla foi frequentemente
ofuscado por outros mais influentes e bem posicionados na sociedade ao
longo de sua carreira.
Os principais pontos de destaque do seu legado têm a ver com a sua grande descoberta: o campo magnético rotativo.
De forma bem simplificada, ele é a base pela qual a energia elétrica
pôde ser convertida em movimento mecânico nos motores de indução. A
partir dessa descoberta – que foi apenas uma entre as mais de 40
patentes registradas pelo cientista –, Tesla deixou um rastro de
contribuições eternas para a humanidade.
Podemos citar como exemplos o sistema de corrente elétrica alternada,
utilizado até hoje em fios de alta tensão a longa distância; o
transformador e a bobina de Tesla; o motor de indução de
eletrodomésticos; o sistema de ignição dos carros; os sistemas
polifásicos; o rádio; o controle remoto; a iluminação fluorescente,
entre outros.
O GUIA DO ESTUDANTE separou 6 curiosidades para você conhecer Nikola Tesla.
1. Guerra com Thomas Edison
Briga de gigantes! Nikola Tesla se mudou para os Estados Unidos em
1884, na esperança de ser contratado por Thomas Edison, que na época já
era um inventor estabelecido e famoso nos estudos da eletricidade. O
imigrante não apenas foi contratado, como foi designado a melhorar e
resolver os problemas técnicos dos sistemas de iluminação de Edison. A
relação, no entanto, azedou rapidamente: enquanto Edison defendia a
adoção da corrente contínua (CC), Tesla insistia na corrente alternada
(CA). As diferenças técnicas e filosóficas dos dois afastaram a
possibilidade de uma relação saudável, e a rivalidade entre os dois só
aumentou quando Tesla deixou a empresa de Edison para seguir sua própria
trajetória. A diferença nas visões ficou conhecida como “Guerra das
Correntes”.
2. Dormia somente 2 horas por noite
Com severos problemas de insônia e uma mente inquieta, não era raro
Tesla dormir somente duas horas por noite. A falta de sono não era,
porém, apenas uma questão biológica, o cientista defendia que sono
excessivo era prejudicial a sua produtividade e criatividade, preferindo
dormir poucas horas à noite, mas tirar algumas sestas durante o dia,
com pequenos cochilos de 20 minutos. Um workaholic nato, não é mesmo?
3. Foi reconhecido como inventor do rádio antes de morrer
Em 1891, Tesla construiu um sistema de transmissão sem fio que podia
ser controlado remotamente, com a capacidade de enviar sinais a curta
distância. Para provar sua ideia, controlou um barco utilizando somente
ondas de rádio. Obviamente, não se tratava do aparelho de rádio que
conhecemos hoje, mas foi a partir da tecnologia de Tesla que o italiano
Guglielmo Marconi criou um sistema prático e comercialmente viável,
ficando conhecido como o inventor do rádio. Tesla e Marconi se
enfrentaram legalmente por anos na busca pelo título de inventor do
aparelho, mas foi somente no ano de sua morte, 1943, que Tesla foi
reconhecido pela Suprema Corte dos Estados Unidos como o verdadeiro
inventor da tecnologia usada por Marconi.
4. Obcecado por numerologia
Assim como para outros grandes gênios das Exatas, os números
representavam para Tesla muito mais do que apenas objetos de trabalho. O
cientista acreditava em diversos preceitos da numerologia e tinha uma
verdadeira obsessão em ditar sua rotina e projetos a partir dos números
que acredita lhe trazerem sorte ou harmonia. Acreditava, principalmente,
nos diviseis por 3, uma vez que via no número uma universalidade
natural. Além disso, costumava prezar pela simetria e estética em todos
os seus projetos, afirmando que estas características influenciavam
diretamente na sua eficiência e funcionalidade.
5. Apesar das contribuições para a sociedade, não enriqueceu
Este talvez seja um dos motivos pelos quais o nome de Tesla tenha
ficado ofuscado por tanto tempo na História. Imigrante, o cientista
vinha de origens humildes e nunca almejou uma vida de luxos. Um peixe
fora d’água na sociedade intelectual – que historicamente foi composta
exclusivamente pelos mais ricos –, não iniciava projetos visando lucros,
apenas avanços científicos. Tinha um estilo de vida modesto, gastava o
que ganhava nas suas invenções cada vez mais ousadas – e que, por vezes,
falhavam ou não promoviam retorno financeiro. Na velhice, dependeu de
apoiadores e amigos para pagar as despesas médicas.
6. Quis transmitir energia sem fio para todo mundo
A Torre de Wardenclyffe, também conhecida como Torre de Tesla, foi um
dos projetos mais ambiciosos de Nikola Tesla – mas que, infelizmente,
não foi concluído. Iniciado em 1901, o projeto visava a construção de
uma torre que pudesse transmitir energia elétrica sem a necessidade de
fios condutores. Segundo o cientista, a torre seria capaz de transmitir
energia pelo ar, permitindo assim o acesso à energia em qualquer lugar
do mundo. O projeto recebeu investimentos milionários no início, mas as
constantes mudanças e aprimoramento influenciaram no tempo da obra e
consequente desistência do projeto. Em 1917, a torre foi destruída para
vender as peças.
Os grandes avanços na ciência, na arte e na tecnologia são geralmente
atribuídos à genialidade, mas isso ignora todo o trabalho que há por
trás.Mozart queixou-se, em uma carta, de ser considerado um prodígio,
quando a verdade era que, segundo ele, ninguém no mundo tinha trabalhado
mais a técnica musical do que ele. Em outra carta, ele destacou sua
predisposição para trabalhar em vez de ficar ocioso e lamentou ter
ficado 14 dias sem escrever uma única nota. “Não por preguiça ou
descuido, mas porque era impossível para mim.” Isso vindo de um dos
compositores mais prolíficos e criativos da história da música. Mas
então, o que é criatividade?
“É criar, criar algo novo”, diz o artista Cristóbal Toral, para quem
“a criatividade vem de uma vocação”. Uma vocação inicial que “é um
mistério” e que, no seu caso, foi a pintura. Você precisa de habilidades
e de preparação, mas isso não é suficiente, afirma ele em entrevista à
DW. “Porque você pode pintar muito bem, mas não contribuir com nada.”
“A criatividade, em suma, é uma luta constante na qual é preciso
estar muito alerta” e “com vontade de inovar e de se renovar”, resume.
Toral, um dos mais reconhecidos pintores espanhóis em atividade,
também viveu “momentos de bloqueio e momentos difíceis”. “Mas é claro
que isso se resolve pintando, pintando e cometendo erros na tela, e é
assim que as coisas surgem… Como disse Picasso, a inspiração deve pegar
você trabalhando.”
“Lembro-me de quando Botero, que era um grande amigo, convidou-me
para ir ao seu barco no verão. Um dia eu disse a ele: ‘Mas Fernando,
você viu o barco maravilhoso que você tem, o desenho dele…? Uma beleza,
uma obra de arte!’… E ele riu”, lembra, embora o escultor colombiano
recentemente falecido tenha concordado com ele.
“Quero dizer com isso que a criatividade se expressa não só na arte,
mas em uma infinidade de coisas”, diz Toral, declarando-se um
“apaixonado por design” e citando exemplos que vão de calotas de carros a
cafeteiras.
A principal pesquisadora da criatividade é a psicóloga americana
Teresa Amabile, que não leciona em escola de artes, mas na Harvard
Business School, a escola de negócios de maior prestígio do mundo. A sua
investigação, que abrange mais de 40 anos de experiências clínicas e
observações em setores como as novas tecnologias, centra-se atualmente
em como aumentar a criatividade no ambiente de trabalho. Empresas como
Pixar ou Apple a convidaram para explicar suas ideias, assim como o
Fórum de Davos. Não lhe faltam referências ilustres.
Mais de mil invenções e mais de mil tentativas
Para ilustrar o surgimento de uma ideia, geralmente usa-se uma
lâmpada. Não é por acaso. Foi uma invenção de Thomas Alba Edison, que
registrou mais de mil patentes ao longo de sua vida profissional. Quando
apresentou a invenção, em 1879, já a pesquisava há mais de um ano e
disse ter feito mais de mil tentativas. Perguntaram-lhe se ele não havia
desanimado depois de tanto fracasso e ele respondeu que não houve
fracasso, que simplesmente aprendeu mil maneiras de como não fazer uma
lâmpada.
“Grande parte dos freios à criatividade surgem das convenções
sociais, de preconceitos e estereótipos, aprendizados anteriores,
sistemas educacionais repetitivos e mecânicos, tendência ao conformismo,
insegurança e medo da rejeição, do fracasso ou do ridículo”, enumera o
psicólogo Guillermo Ballenato Prieto. “A crítica costuma ser uma grande
inimiga da criatividade, é aconselhável reduzi-la nas organizações, bem
como limitar ao máximo as sanções quando se comete um erro”, aconselha,
em entrevista por e-mail à DW.
Thomas Edison, por exemplo, além de possuir outros truques criativos,
procurou estimular a criatividade de seus funcionários e impôs em sua
oficina uma cota de uma descoberta menor a cada dez dias e uma grande a
cada seis meses.
É um dos exemplos que Ballenato dá nos cursos para desenvolver a
criatividade que oferece na Universidad Carlos III de Madrid. O objetivo
de Edison era que todos os seus funcionários aceitassem o desafio. Um
de seus alunos mais avançados, Henry Ford, aprendeu com suas técnicas
organizacionais e acabou se tornando um dos industriais mais importantes
dos Estados Unidos como fundador da empresa automobilística Ford.
“Sentir que podemos superar as adversidades nos ajuda a superá-las”,
afirma Ballenato. Ford expressou isso em outras palavras em uma de suas
declarações mais citadas. Amabile diz que, quando começou a abordar a
criatividade como objeto de estudo, as pesquisas se concentravam na
personalidade do gênio e não no trabalho por trás dele, mas que, na
realidade, as pessoas comuns também podem ser criativas, incluindo as
crianças. Ballenato segue essa linha.
“É possível treinar a mente para desenvolver a criatividade”, afirma.
“É uma ginástica mental que pode incorporar diversas estratégias. Entre
elas destaco o valor de quebrar hábitos, dar voto de confiança ao
absurdo, olhar além do aparente, ampliar a perspectiva, investigar e
enriquecer a mente com novas informações, manter um registro das
ideias…”
Assim como Amabile, Ballenato destaca a importância da motivação e da
colaboração em equipe. “Com a troca de ideias ocorre uma fecundação
cruzada que se nutre de novas informações, perspectivas, relações e
associações de ideias”, afirma.
Também faz diferença a organização do trabalho: “Estruturas mais
horizontais e igualitárias tendem a potencializar mais a criatividade do
que hierarquias excessivamente verticais”, resume. “Paralelamente, é
preciso premiar iniciativas, contribuições e ideias”, acrescenta.
“O bom ambiente de trabalho e a alta motivação são excelentes
catalisadores” da criatividade, afirma. Ele também recomenda
desconectar-se e o ócio para superar bloqueios. Nesses casos, Cristóbal
Toral procura inspiração na natureza e na sua diversidade ilimitada.
“Não existem dois verdes iguais nem duas folhas iguais”, diz o pintor
com admiração. “Criatividade implica inconformismo, abertura à mudança,
‘ir além’ do convencional. É um estado de consciência e, em última
análise, uma atitude perante a vida” conclui Ballenato.