Tatiana Moura, da Fix Online (@fixonline), profissional cadastrada na
categoria de Assistência técnica de celulares do GetNinjas, maior
aplicativo de contratação de serviços do Brasil, comenta sobre esse
processo.
Entender sobre o perfil do cliente é uma das formas mais eficazes de
alavancar a empresa e crescer entre os concorrentes, é o que destaca
Tatiana Moura, profissional cadastrada no GetNinjas
Conhecer o público-alvo do seu negócio é fundamental para criar
estratégias de comunicação com alto poder de conversão. Sem conhecer as
necessidades, desejos e objetivos dos seus clientes potenciais, torna-se
quase impossível criar produtos e serviços que sejam capazes de atender
as expectativas de cada um.
Pensando em esclarecer esses pontos e proporcionar um direcionamento
mais abrangente, Tatiana Moura, da Fix Online (@fixonline), profissional
cadastrada na categoria de Assistência técnica de celulares do
GetNinjas, maior aplicativo de contratação de serviços do Brasil,
comenta sobre esse processo.
Tati da fix, como é popularmente conhecida nas redes sociais, onde
concentra quase 20 mil seguidores, é especialista em conteúdo para
gestão de assistências técnicas. Ela acredita que a chave para o sucesso
está em entender as necessidades, desejos e objetivos dos clientes,
permitindo criar produtos e serviços que atendam às suas expectativas e
aumentem a taxa de conversão. “Conhecer profundamente o público-alvo é o
primeiro passo para construir um negócio de sucesso”, destaca a
especialista.
Aqui, ela traz dicas valiosas, mostrando que é completamente possível fazer um bom trabalho.
Para começar, você precisa entender o que o público-alvo:
O público-alvo representa um grupo específico de pessoas que
compartilham algumas características e interesses semelhantes e a partir
daí é que conseguimos desenvolver estratégias de marketing mais
segmentadas e focadas em dores ou desejos específicos.
Quais características devem ser filtradas:
Entre os principais pontos que são utilizados para formar um
público-alvo, destacam-se a idade, o gênero, a renda, a formação, a
localização geográfica, os hábitos de consumo e os interesses em temas
específicos, permitindo, dessa forma, entender quais são os produtos e
serviços que atendem, da melhor forma possível, os interesses dessas
pessoas que contemplam interesse no seu negócio.
A importância da ação:
Conhecer e entender seu público é necessário justamente para abrir a
possibilidade de fazer a sua campanha chegar nas pessoas certas, com o
perfil de consumidor do seu produto e que têm a necessidade em
adquiri-lo.
Dessa forma, os investimentos serão direcionados aos produtos certos, evitando erros e gastos sem retorno.
Conheça o seu mercado:
Para entender o público da sua empresa é necessário avaliar o
mercado. Esse tipo de análise vai ajudar a compreender quem são os
consumidores e como os concorrentes estão atendendo, gerando maior
consciência sobre como impactar as pessoas. “Faça a avaliação dos
concorrentes; escute clientes e consumidores; encontre dados sobre nicho
de atuação, entenda comportamento de cada um e acompanhe informações do
mercado”, orienta Tatiana Moura.
Invista em pesquisas:
Realizar pesquisas de mercado para entender o perfil do público da
empresa também é um ponto que pode ajudar a defini-lo. Esse tipo de
tarefa é realizado de diversas formas, como: utilizar redes sociais para
compreender mais sobre os consumidores; fazer pesquisas em plataformas
de questionários; realizar entrevistas com pessoas que já compraram pela
sua empresa; analisar dados e recorrer a pesquisas de mercado.
Fidelizar clientes:
“Quanto mais a sua empresa conhece o cliente, mais vocês criam
conexões. Isso quer dizer que quando ele pensar em comprar algo que a
sua empresa oferece, logo ele vai pensar em você”, explica. E antes de
fidelizar o cliente, você precisa saber quem ele é e quais são as suas
necessidades.
Por fim, é tão importante quanto cada dica repassada, entenda qual
problema o seu negócio resolve, para, assim, mostrar os benefícios do
seu serviço ou produto aos clientes.
O “não” do cliente a uma proposta. Por quê?
Moysés Peruhype Carlech
Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”,
sem nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de
resto todas as lojas dessa cidade no Site da nossa Plataforma Comercial
da Startup Valeon.
Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer
pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as
minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais
uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?
Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a
sua localização aí no seu domicílio? Quais os produtos que você
comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online
com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu
WhatsApp?
Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para
ficarem passeando pelos Bairros e Centros da Cidade, vendo loja por loja
e depois fazendo a decisão de compra, como antigamente.
A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao
mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para
sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em
Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para
enfrentar a crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de
isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos
hábitos para poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar
pelos corredores dos shoppings centers, bairros e centros da cidade,
durante a crise maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar
por lojas virtuais como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que
tinham receio de comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa
barreira. Se os consumidores estão na internet, é onde seu negócio
também precisa estar para sobreviver à crise e continuar prosperando.
É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda
do Site da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim
um investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu
processo de vendas fica muito mais profissional, automatizado e
eficiente. Além disso, é possível a captação de potenciais compradores e
aumentar o engajamento dos seus clientes.
Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu
certo, porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer”. –
Se você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um
grande obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe
você até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o
próximo nível de transformação.
O que funcionava antes não necessariamente funcionará no
futuro, porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas
como os negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos
consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas
tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo
aquilo que é ineficiente.
Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de
pensar e nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos
justamente por entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer
e aprender com o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde
queremos estar.
Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a
absorver novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que
você já sabe.
Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo
por meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na
internet.
Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a
sua carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar
você para o próximo nível.
Aproveite essa oportunidade para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.
Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deve visitar a Coreia do Norte nesta semana.
Há relatos de que Pyongyang já começou os preparativos para a visita do presidente russo.
Se a viagem à Coreia do Norte realmente
acontecer, será a primeira visita de Putin ao país em 24 anos — a
última foi em 2000, quando Kim Jong-il, pai do atual líder, Kim Jong-un,
ainda estava no poder.
O líder russo aceitou o convite de Kim para visitar a Coreia do Norte
em setembro do ano passado, quando ambos os líderes se reuniram em
Vostochny, no extremo leste russo.
Acredita-se que o foco do próximo encontro será a cooperação militar
entre os dois países, mas também será uma oportunidade para fortalecer a
cooperação em outras áreas como economia, cultura, agricultura, turismo
e social.
Em particular, será interessante ver até que ponto o presidente Putin
fará menção ao intercâmbio de armas avançadas e à posse de armas
nucleares pela Coreia do Norte.
No entanto, há também a opinião de que é mais provável que o encontro
acabe sendo mais um “evento” do que um momento de discussão em busca de
resultados reais.
Abaixo, 3 motivos para a aproximação entre Putin e Kim.
1. Cooperação militar: Rússia precisa de armas, Coreia do Norte precisa de apoio técnico
Quase dois anos e meio após o início da invasão russa à Ucrânia, a
interdependência entre a Coreia do Norte e a Rússia segue crescendo, com
um fornecendo suprimentos ao outro.
Nam Sung-wook, professor do Departamento de Unificação e Diplomacia
da Universidade da Coreia, disse que, neste momento, a agenda da reunião
terá como foco definir “quantas armas fabricadas pela Coreia do Norte
serão fornecidas à Rússia no futuro”.
Outros dizem que existe a possibilidade de que se vá além dos acordos
de curto prazo, focados no fornecimento de armas convencionais pela
Coreia do Norte, e se estabeleça as bases para uma cooperação militar
muito mais estreita através de programas como o desenvolvimento conjunto
de sistemas de armamento.
Especula-se também que a Coreia do Norte possa querer mais do que comida e combustível em troca das armas que fornece à Rússia.
Mais especificamente, o professor Nam acredita que a Coreia do Norte —
que não conseguiu lançar um satélite de reconhecimento militar em maio
passado — usará o encontro para discutir o apoio da Rússia a sua
tecnologia aeroespacial.
A explicação é que a Coreia do Norte vai precisar de ajuda da Rússia,
uma potência em tecnologia espacial, para lançar satélites com sucesso.
É esperado ainda que a Coreia do Norte tente obter apoio tecnológico
da Rússia para aumentar a resolução dos satélites de reconhecimento e
aprimorar seus submarinos nucleares.
Enquanto isso, o professor Nam considera improvável que o intercâmbio de armas nucleares seja mencionado publicamente.
Atualmente, o presidente Putin tem se mostrado sensível à entrada de
armas ocidentais na Ucrânia e à ameaça que representam ao território
continental russo — e chegou a mencionar a possibilidade de usar armas
nucleares.
No entanto, como a cooperação ou o intercâmbio de armas nucleares
entre a península coreana e o nordeste da Ásia pode despertar forte
oposição de países como os EUA e a China, espera-se que não se revele
muito sobre as conversas relacionadas que ocorrerem durante a reunião.
2. Cooperação econômica: Rússia quer mão de obra, Coreia do Norte quer moeda estrangeira
É esperado que a Rússia e a Coreia do Norte também discutam a ampliação da cooperação econômica.
Kang Dong-wan, professor de ciência política e diplomacia na
Universidade Dong-A, diz que o que a Coreia do Norte mais precisa da
Rússia atualmente é de moeda estrangeira que chega por meio das remessas
de trabalhadores no exterior.
Isso significa a possibilidade de a Coreia do Norte enviar mais trabalhadores à Rússia.
A Rússia também precisa de mão de obra para a reconstrução, devido à
guerra. É necessário um número significativo de trabalhadores para o
país se recuperar dos danos causados pela guerra na Ucrânia e
reconstruir sua economia.
O veículo de comunicação russo Vedomosti citou uma fonte diplomática
que disse: “Os dois líderes poderiam discutir se devem trazer
trabalhadores imigrantes da Coreia do Norte, dado que a Rússia está
passando por uma grave escassez de mão-de-obra devido à mobilização de
tropas e aos jovens que fogem para o exterior desde a guerra na
Ucrânia”.
No entanto, sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU
contra a Coreia do Norte proíbem que norte-coreanos trabalhem no
exterior e determinam a repatriação de todos aqueles que já estavam
nessa situação antes de 22 de dezembro de 2019.
Caso a Rússia, um membro permanente do Conselho de Segurança, busque
oficialmente a contratação de trabalhadores norte-coreanos, é muito
provável que haja forte reação da comunidade internacional.
A atenção se concentra em como os dois países buscarão a cooperação
econômica diante da oposição e da pressão diplomática da comunidade
internacional.
3. Intercâmbio cultural: a rota turística entre a Coreia do Norte e a Rússia será aberta?
A Rússia retomou em fevereiro as viagens de grupo para a Coreia do Norte, que tinham sido suspensas na sequência da covid-19.
Além disso, no início deste mês, o serviço de trens de passageiros
entre a Coreia do Norte e a Rússia foi retomado pela primeira vez depois
de cerca de quatro anos.
Segundo o governo da região russa de Primorsky Krai, mais de 400
turistas russos visitaram a Coreia do Norte entre fevereiro e maio deste
ano.
No site da agência de viagens russa Vostok Intru, um pacote turístico
de cinco dias e quatro noites para a Coreia do Norte é anunciado por
US$ 750.
Também são oferecidas viagens em grupo para a Coreia do Norte, que podem ser reservadas até setembro.
A página oferece vários pacotes, como rotas pela montanha Baekdu, um
passeio pela história da Coreia do Norte e um itinerário para o
aniversário da vitória na Guerra de Libertação da Pátria.
Quanto à razão por trás do recente aumento do turismo no país, Kim
Dong-yup, professor da Universidade de Estudos da Coreia do Norte, diz
que “isso se deve ao fato de o turismo não ser simplesmente uma forma de
ganhar dinheiro, mas também desempenha um papel importante na melhoria
das relações através da troca direta entre as pessoas”.
Ele acrescentou que os russos que visitam a Coreia do Norte ajudam a promover as relações amigáveis entre os dois países.
A análise é de que, à medida que as visitas entre povos aumentam, a
interdependência entre os dois países é fortalecida, o que pode
contribuir para aliviar tensões militares.
O professor Kim diz que as visitas de turistas estrangeiros ajudam a
aliviar a imagem da Coreia do Norte como um país fechado e perigoso para
a comunidade internacional.
Assim, o turismo norte-coreano é valorizado como um importante meio
de intercâmbio social e cultural e de melhoria da imagem internacional
para além dos aspectos económicos.
Mas há casos recentes de cancelamentos de viagens em grupo para a Coreia do Norte.
Uma agência de viagens anunciou que uma excursão de quatro dias pelo
país, prevista para 31 de maio, tinha sido cancelada devido à falta de
interessados.
As características específicas da Coreia do Norte – carece de uma
infraestrutura turística e restringe a livre circulação de estrangeiros –
tornam o turismo uma indústria difícil de se expandir.
Para o professor Kang Dong-wan, um encontro entre Coreia do Norte e
Rússia poderia ser uma oportunidade para se discutir cooperação
turística.
Em 19 de julho de 2000, o presidente Putin visitou Pyongyang pela
primeira vez e se reuniu com o presidente Kim Jong-il, no primeiro
encontro bilateral entre os dois países desde o fim da Guerra Fria.
Naquela época, a Rússia sonhava em ressurgir na comunidade
internacional, e a Coreia do Norte tentava aumentar o contato com o
mundo exterior após o fim do período da “Marcha Árdua”.
Naquela época, os dois líderes adotaram a Declaração Conjunta Coreia
do Norte-Rússia, que continha referências à cooperação mútua entre os
dois países em várias áreas, incluindo com relação aos mísseis
norte-coreanos, e especificava os conteúdos do tratado de amizade e
cooperação.
Em matéria de cooperação militar, especificamente, foi acordado que
“em caso de invasão ou situação de perigo, os dois países entrarão em
contato imediatamente”.
Considerando que a relação entre a Coreia do Norte e a Rússia foi
reforçada, especula-se que o tratado – que já passou de “entendimento”
para “aliança” – será renovado no encontro.
“A visita anterior de Putin ao país asiático ocorreu em um momento em
que as provocações militares da Coreia do Norte eram limitadas. Mas,
agora, com a guerra da Ucrânia como uma oportunidade, os laços militares
entre a Coreia do Norte e a Rússia se fortaleceram. Esse encontro
bilateral trará uma cooperação muito mais profunda que a do passado,”
explicou o professor Nam.
“Parece que vai chegará quase ao nível de aliança”, acrescentou.
E observou que outra grande diferença é que, diferentemente de hoje, no passado a Coreia do Norte não possuía armas nucleares.
“Em uma situação em que há uma reorganização da ordem internacional,
em que ao mesmo tempo o sistema unipolar centrado nos EUA é
enfraquecido, espera-se que a Rússia e a Coreia do Norte procurem novas
formas de cooperar em prol de seus respectivos interesses nacionais”.
E conclui: “Em uma situação em que as relações inter-coreanas estão
interrompidas, há a possibilidade de a Coreia do Norte conceber uma nova
estratégia diplomática”.
História de Cicero Cotrim, Giordanna Neves, Amanda Pupo, Fernanda Trisotto e Sofia Aguiar – Jornal Estadão
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 17, ter apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um
cenário de evolução das receitas e despesas, além dos principais gastos
com programas do governo. Questionado se a desindexação de despesas no
Orçamento foi abordada, o ministro respondeu que foram discutidos “todos
os cadastros”, sem responder diretamente à pergunta.
Haddad citou a experiência com o saneamento de cadastros que foi
feito em razão do auxílio prestado ao Rio Grande do Sul, levando em
conta sobre como essa experiência pode liberar, a nível federal, espaço
orçamentário para acomodar outras despesas, e garantir um patamar
“adequado” dos gastos discricionários (não obrigatórios, como
investimentos e custeio da máquina pública).
“Tomamos até a experiência do Rio Grande do Sul recente, o trabalho
de saneamento dos cadastros, o que isso pode implicar em termos
orçamentários do ponto de vista de liberar espaço orçamentário para
acomodar outras despesas e garantir que despesas discricionárias
continuem em patamar adequado para os próximos anos”, afirmou Haddad.
Haddad disse que o presidente Lula se “apropriou” dos números
apresentados pela equipe econômica sobre a evolução de gastos federais
com “bastante atenção”, e abriu um espaço classificado como “importante”
para a discussão do tema. Após dar uma declaração no Planalto, Haddad
falou com a imprensa brevemente ao voltar para a sede da Fazenda em
Brasília.
Segundo ele, para o encontro realizado mais cedo, a Casa Civil, o
Planejamento e a Fazenda preparam vários gráficos para que Lula possa
compreender a evolução das despesas, e o impacto dessa trajetória, a fim
de que o presidente se familiarize com os dados e com uma “proposta de
equacionamento dessas questões”.
“Não é o primeiro Orçamento que ele fecha, já está no décimo ano (de
governo), ele está muito familiarizado e habituado com esse debate. Mas
foi uma reunião muito produtiva, senti o presidente bastante mais senhor
dos números, se apropriou dos números com bastante atenção, abriu
espaço importante de discussão dessas questões”, disse
De acordo com Tebet, Lula ficou “mal impressionado” com o aumento da
renúncia fiscal e que possíveis soluções para a elevação das despesas
serão apresentadas a Lula em uma próxima reunião da Junta de Execução
Orçamentária (JEO).
”São duas grandes preocupações. Houve crescimento dos gastos da
Previdência e de gastos tributários, da renúncia. O próprio relatório do
TCU mostra que há uma intersecção entre esses gastos”, disse Tebet após
o encontro. “Lula ficou extremamente impressionado, mal impressionado,
com o aumento dos subsídios que estão batendo quase 6% do PIB do Brasil.
Estamos falando de renúncia fiscal, mas também de benefícios
financeiros e creditícios”, disse.
Segundo Tebet, a soma desses gastos – com renúncia fiscal e
benefícios financeiros e creditícios – atinge R$ 646 bilhões, sendo que
só os benefícios tributários somam R$ 519 bilhões. Lula pediu que a
equipe econômica se debruce sobre esses números para apresentar
alternativas.
Haddad também acrescentou que a equipe já apresentou ao presidente
dados para a formulação da proposta de lei orçamentária de 2025, além de
dar informes sobre a execução do Orçamento deste ano. “Teve uma ênfase
muito grande no relatório do TCU.
Sobre a receita, há uma preocupação muito grande com as renúncias
fiscais, que continuam num patamar de R$ 519 bilhões, isso em 2023?,
disse. A reunião também tratou da evolução de despesas.
Haddad também disse que o time se concentrou em apresentar
explicações a Lula sobre a redução da carga tributária do País, tendo em
vista a pressão de setores sobre as medidas de correção da erosão
fiscal que estão sendo tomadas pela Fazenda.
Um exemplo é a MP que limitava o uso de créditos de PIS/Cofins,
amplamente rechaçada pelo setor produtivo e que acabou devolvida pelo
Congresso. Ele considerou a reunião produtiva e importante para que Lula
tenha mais familiaridade com a execução orçamentária desse ano.
“(Lula) ficou até surpreso com a notícia de que a carga tributária no
ano passado caiu, porque alguns grupos de interesse reclamam e não veem
a conformação do todo”, avaliou Haddad.
Segundo o ministro, durante o encontro, também foram apresentadas
séries históricas desde o governo do ex- presidente Fernando Henrique
Cardoso. “Nos debruçamos sobre isso para ele ver a evolução tanto no
agregado quanto das unidades de contas específicas para que ele pudesse
fazer acompanhamento preciso e pudesse tomar as decisões corretas para
seguirmos com a nossa agenda de em relação ao PIB, fazermos recomposição
para buscar o equilíbrio das contas”, reiterou.
Reforma tributária
Haddad afirmou que o presidente Lula está preocupado com a regulamentação da reforma tributária,
em tramitação no Congresso, e que a agenda de votações até o recesso
parlamentar, em julho, foi o tema da primeira reunião com o presidente
nesta segunda, 17.
De acordo com Haddad, Lula pediu aos ministros empenho para a
aprovação da tributária. “Ele pediu muito empenho dos ministros
presentes para que interajam de forma mais produtiva possível, sobretudo
com a Câmara no primeiro semestre, para conseguirmos votar a
regulamentação dos dois projetos de lei complementar”, disse.
O governo vai abrir mão de arrecadar quase R$ 790 bilhões em impostos
em 2024, segundo levantamento da Unafisco (Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil).
A entidade divulgou nesta segunda-feira, 17, uma atualização de seu levantamento sobre os privilégios tributários no Brasil.
Segundo a Unafisco, o valor de R$ 789,6 bilhões representa um aumento
considerável de 46,9% em relação a 2023, que foi da ordem de R$ 537,5
bilhões. Este valor inclui todas as isenções, anistias, remissões,
subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia,
conforme os dados do Demonstrativo dos Gastos Tributários (DGT) e as
omissões identificadas pelos auditores.
O estudo visa fomentar o debate sobre a política tributária no
Brasil, identificando os chamados gastos tributários e as rubricas
consideradas pela Unafisco como “regalias fiscais”.
“Os privilégios tributários identificados representam uma
significativa perda de arrecadação que poderia ser utilizada para
políticas públicas mais eficazes”, disse, em nota a entidade.
São considerados privilégios tributários as renúncias fiscais
concedidas a setores ou grupos específicos de contribuintes sem
contrapartida adequada, notória ou comprovada para o desenvolvimento
econômico sustentável ou redução das desigualdades.
Principais privilégios tributários, segundo a Unafisco
1. Isenção dos Lucros e Dividendos Distribuídos por Pessoa Jurídica
– Valor: R$ 160,1 bilhões
– Justificativa: A isenção dos lucros e dividendos distribuídos por
pessoa jurídica é considerada um privilégio tributário significativo,
pois não há contrapartida adequada para o desenvolvimento econômico
sustentável ou redução das desigualdades
2. Não Instituição do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF)
– Valor: R$ 76,46 bilhões
– Justificativa: A ausência de regulamentação do IGF, previsto
constitucionalmente, é vista como um privilégio que protege a camada
mais rica da população, resultando em uma perda significativa de
arrecadação.
3. Benefícios da Zona Franca de Manaus
– Valor: R$ 30,99 bilhões
– Justificativa: Os benefícios fiscais concedidos à Zona Franca de
Manaus são considerados privilégios devido à falta de comprovação de
contrapartidas adequadas
4. Programas de Parcelamentos Especiais (Refis)
– Valor: R$ 29,37 bilhões
– Justificativa: Os programas de parcelamentos especiais, que incluem
anistias e remissões, são considerados privilégios tributários, pois
reduzem o montante do crédito tributário devido sem uma contrapartida
clara
5. Simples Nacional
– Valor: R$ 125,36 bilhões (parcialmente considerado privilégio)
– Justificativa: Embora o Simples Nacional seja um incentivo
importante para micro e pequenas empresas, parte do benefício é
considerada privilégio, especialmente para empresas com faturamento
elevado que não contribuem significativamente para a geração de empregos
6. Desoneração da Cesta Básica
– Valor: R$ 38,99 bilhões (parcialmente considerado privilégio)
– Justificativa: A desoneração da cesta básica é parcialmente
considerada privilégio, pois beneficia também contribuintes com maior
capacidade contributiva
7. Benefícios para Entidades Filantrópicas
– Valor: R$ 19,75 bilhões.
– Justificativa: Os benefícios fiscais concedidos a entidades
filantrópicas são considerados privilégios devido à falta de comprovação
de contrapartidas adequadas
– Justificativa: Os benefícios fiscais concedidos às regiões da
SUDENE e SUDAM são considerados privilégios devido à falta de
comprovação de contrapartidas adequadas
9. Benefícios para Produtos Químicos e Farmacêuticos
– Valor: R$ 10,80 bilhões.- Justificativa: Os benefícios fiscais
concedidos ao setor de produtos químicos e farmacêuticos são
considerados privilégios devido à falta de comprovação de contrapartidas
adequadas
“A Unafisco Nacional recomenda ao governo análise mais
rigorosa e a inclusão de todos os benefícios fiscais no Demonstrativo
dos Gastos Tributários (DGT) para uma avaliação mais precisa e justa,
com o propósito de perseguir maior transparência e justiça fiscal no
sistema tributário brasileiro, além de destacar a importância de revisar
e ajustar os privilégios tributários para promover uma maior justiça
fiscal e eficiência econômica”
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Executiva Nacional do PT criticou a
proposta de limitar o crescimento real dos pisos de saúde e educação a
2,5%. Por meio de nota divulgada nesta segunda-feira (17), afirma que os
pisos são conquistas históricas da sociedade brasileira.
Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, a mudança é objeto de estudo do
Ministério da Fazenda, como forma de aproximar o crescimento dessas
despesas à lógica do arcabouço fiscal, que limita o conjunto dos gastos
federais a uma alta real de até 2,5% ao ano
“Como defendemos ao longo da campanha presidencial, um dos maiores
desafios do país continua sendo colocar o povo no Orçamento e fazer os
muito ricos pagarem impostos”, afirma.
Sem citar o estudo da Fazenda, a executiva do partido afirma que o
governo Lula enfrenta “campanha especulativa e de ataques ao programa de
reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social”.
De acordo com um integrante da equipe econômica, com a mudança o
crescimento real dos pisos passaria a ser limitado aos mesmos 2,5%
previstos no arcabouço. Também estão em análise alterações nas regras de
certos benefícios previdenciários, como o auxílio por incapacidade
temporária (antigo auxílio-doença) -que passariam a ser desvinculados do
salário mínimo.
A proposta, no entanto, já enfrenta resistências na ala política do
governo e na cúpula do PT. Um técnico do governo afirma que a medida
teria impacto pequeno no Orçamento de 2025 e 2026, o que desmotiva a ala
política a assumir o elevado custo político da discussão em troca de um
“ganho zero” para o restante do mandato.
No fim de semana, Lula criticou publicamente o estudo. O presidente
afirmou que não fará ajuste fiscal “em cima dos pobres”. O petista
disse, no entanto, que vai se reunir com a equipe econômica para
discutir o Orçamento e que não haverá “gastos desnecessários”.
De acordo com a Executiva Nacional do PT, a arrecadação e o PIB têm
crescido e há uma “inexistente crise fiscal” fabricada. “Um país que
está saindo de um déficit primário de 2,29% para algo próximo de zero no
corrente ano.”
Classifica, ainda, a gestão do Banco Central de bolsonarista. Além de
se manifestar contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que
amplia a autonomia do BC.
“A escancarada sabotagem ao crédito, ao investimento e às contas
públicas, movida pela direção bolsonarista do Banco Central com a
manutenção da maior taxa de juros do planeta, soma-se à feroz
resistência de setores privilegiados diante das necessárias e inadiáveis
propostas, encaminhadas ao Congresso Nacional pelo ministro Fernando
Haddad, para a correção de um conjunto de desonerações tributárias,
muitas injustas e injustificáveis”, diz.
Apesar do apoio do presidente do BC, Roberto Campos Neto, a PEC
enfrenta a resistência de cardeais do Senado, como Omar Aziz (PSD-AM). O
líder da União Brasil, Efraim Filho (PB), avalia que a medida está no
radar dos senadores, mas não deve avançar a curto prazo.
A proposta ainda não tem data para votação. O relator, senador Plínio
Valério (PSDB-AM), esperava ler o parecer na CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) na quarta (12), mas o presidente, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), pediu a realização de uma audiência
pública antes.
Um parecer feito pela liderança do governo no Senado afirma que a PEC
é inconstitucional, cria insegurança jurídica para os servidores e
coloca em xeque a fiscalização de instituições financeiras.
A nota técnica, obtida pela Folha de S.Paulo, diz que a proposta
viola a harmonia e a separação de Poderes (uma cláusula pétrea da
Constituição) ao retirar o BC da estrutura administrativa do Executivo e
submeter a instituição à supervisão do Congresso Nacional.
Respeitado academicamente por suas obras sobre filosofia, o professor de Harvard e ex-ministro Roberto Mangabeira Unger, no entanto, causa bem mais controvérsias quando passa para o campo da política.
Formado em direito e ex-ministro da secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), criada especialmente para ele nos governos anteriores de Lula e no governo Dilma, Mangabeira provocou espanto recentemente quando procurou o ex-presidente Jair Bolsonaro para conversar.
Ele chegou a cogitar, no início do ano, escrever um pedido de habeas corpus preventivo para que Bolsonaro não fosse preso caso condenado em algum dos processos que enfrenta na Justiça.
Sua atuação como ministro também foi conturbada: a saída de Marina
Silva do Ministério do Meio Ambiente em 2008 é em grande parte atribuída
a uma crise envolvendo Mangabeira.
A ministra teria ficado indignada com a atribuição do Projeto
Amazônia Sustentável (PAS) à SAE e posteriormente chegou a dizer que
Mangabeira foi “desastroso” para a Amazônia.
Entusiasta de Ciro Gomes como uma “terceira via” nas eleições de
2022, Mangabeira hoje diz que Lula e Bolsonaro “têm o mesmo projeto” no
campo da política econômica — que ele critica.
Ao mesmo tempo, defende que “ninguém é inconversável” e que Bolsonaro
teria maior chance de resolver os problemas do país se apoiasse alguém
“fora de seu círculo” mais próximo.
Aos 77 anos, o professor universitário continua escrevendo livros prolificamente e não cogita se afastar da política.
Em visita ao Brasil, o ex-ministro conversou com a BBC News Brasil,
quando afirmou que Lula deveria apontar um sucessor e que é preciso
incluir o que chama de “grande minoria evangélica” no projeto nacional.
Mangabeira disse ainda que Marina Silva “não tem apoio na Amazônia” e que seu projeto ambiental é uma “fantasia ideológica”.
BBC News Brasil – O senhor tem sido um crítico da polarização
e tem defendido procurar um diálogo entre esquerda e direita no Brasil.
Como vê isso acontecendo?
Roberto Mangabeira Unger – O problema básico não é
haver polarização. O problema é que há uma polarização política, mas não
há uma polarização programática, ao contrário do que se imagina.
Na verdade, é o oposto da polarização: os dois lados, no essencial,
convergem no mesmo projeto, que é desastroso para o Brasil. Bolsonaro e
Lula convergem em dar primazia ao rentismo financeiro e ao rentismo
social.
O rentismo social é a distribuição de transferências (de renda) de
natureza assistencial à maioria popular, que Fernando Henrique Cardoso
iniciou, Lula continuou e aprofundou e Bolsonaro dobrou a aposta.
É necessário apoiar os pobres. Mas há uma diferença fundamental entre
uma política de transferência que está a serviço de um projeto de
desenvolvimento das capacitações e das oportunidades econômicas e uma
política assistencial que é o fim em si mesmo.
E o rentismo financeiro é a ideia de que o desenvolvimento do Brasil
exige a conquista da confiança dos mercados financeiros. Fazemos o que
os financistas querem, privilegiando a política de superávits e dos
juros altos. E isso supostamente traria ao Brasil o capital estrangeiro e
nacional, e com capital há crescimento econômico. Nenhum país na
história moderna do mundo se desenvolveu dessa forma, muito menos os
Estados Unidos. Veja o caso dos tigres asiáticos no século 19, eles
fizeram tudo contrário a essa pseudo ortodoxia financeira.
Nós precisamos de equilíbrio fiscal, realismo fiscal, para
desenvolver o Brasil, mas não é para conquistar a confiança dos mercados
financeiros. É para que o Brasil e seu governo não tenham de ficar de
joelhos diante do capital financeiro e possam ousar na construção de uma
estratégia rebelde de desenvolvimento nacional.
BBC News Brasil – Qual estratégia?
Mangabeira – É um projeto que subordina os
interesses do elitismo financeiro aos interesses do trabalho e da
produção e para financiar o projeto produtivista. O privilégio que nós
devemos dar é ao capital interno no Brasil investindo na produção. É
este sim que nós deveríamos rotular como o beneficiário da política
fiscal.
BBC News Brasil – Não foi o que a Dilma tentou fazer quando o
(ex-ministro da Fazenda Guido) Mantega baixou a Selic em 2012
(precedendo uma crise)?
Mangabeira – Não. Nenhum governo tentou fazer isso.
Temos que tirar dos bancos o ovo de ouro que é a gestão do sistema de
pagamentos. Todo brasileiro deve ter no Banco Central uma conta e, por
meio dessa conta, fazer os seus pagamentos. Não há nenhuma razão para
permitir aos bancos conduzir os pagamentos entre os brasileiros e com
eles lucrar.
BBC News Brasil – O senhor falou de semelhanças entre Bolsonaro e Lula, mas eles estão em lados opostos.
Mangabeira – Onde divergem? Apenas no imaginário e
na política dos costumes, em meio às guerras culturais — que, no fundo, é
uma política identitária da maioria contra as políticas identitárias da
esquerda.
O Brasil está estagnado há décadas, o Brasil não se desenvolve e a
conta do consumo urbano é paga pela agricultura, pecuária e a mineração.
Precisamos de uma onda para superar a mediocridade, um projeto
produtivista e capacitador, um projeto que qualifique o aparato
produtivo e as capacitações dos brasileiros.
A conclusão é que eu acho que o problema não é a polarização
política, nosso problema é usar a polarização política para esconder o
consenso.
BBC News Brasil – Recentemente o senhor procurou o (ex-presidente Jair) Bolsonaro para conversar. Por quê?
Mangabeira – Política é conversa. Ninguém é
“inconversável”. Não pode resistir a isso em um grande país como o
nosso. Todo mundo tem que estar aberto a conversar com todo mundo. E,
portanto, eu tomei essa iniciativa para deixar claro que esse é um tabu
que não se pode aceitar em grande democracia.
O primeiríssimo passo para começar a construir essa alternativa
produtivista e capacitadora é recusarmos os tabus que nos impedem de
conversar uns com os outros.
BBC News Brasil – É possível o diálogo com todos mesmo com
uma pessoa investigada pelo STF por suspeita de ataques a instituições
democráticas?
Mangabeira – Lendo os jornais — não sou um
investigador, procurador, para avaliar culpas — eu vejo muita fumaça,
mas nenhum fogo. Não vejo, nas evidências expostas até agora, nenhum
indício consistente de que Bolsonaro tenha desferido um golpe.
BBC News Brasil – O episódio de 8 de janeiro, na sua visão, não foi uma tentativa de golpe?
Mangabeira – Houve baderna, houve conflito, houve
retórica, e no meio dessa história, muita gente irresponsável que de
fato pode ter intenções golpistas. Mas a presunção é a presunção da
inocência. Eu não vejo qualquer indício seguro de que Bolsonaro tenha
tentado desferir um golpe.
De qualquer forma o nosso problema principal não é arrolar culpas. O
nosso problema é construir uma ponte para o futuro. E essa ponte é
impossível sem trabalhar com as forças reais do meu país.
Não fui eu que inventei Lula, nem Bolsonaro. Nós temos que jogar esse
jogo com as cartas que existem. E as duas forças estão perdidas. Lula
está perdido, não tem projeto. Ele está continuando a política do
passado, incapaz de responder aos desafios do momento.
A meu ver, ele não deveria ser candidato à reeleição. Ele deveria
abdicar de ser candidato e apoiar na eleição um outro candidato, que
poderia ser um dos governadores petistas no Nordeste, porque o PT é hoje
essencialmente um partido nordestino.
Eu até sugeri o nome Rafael Fonteles, o governador do Piauí, que é um
governador que tem sensibilidade para a causa de desenvolvimento
sustentável e produtivista.
BBC News Brasil – O senhor apoiaria uma candidatura de Bolsonaro?
Mangabeira – Bolsonaro está excluído da eleição. É
inelegível. Não acredito que a inelegibilidade dele seja revertida. Ele
tem três opções. Uma opção é apoiar alguém do círculo íntimo, como um
dos filhos, ou a mulher. Por maior que seja a força dele, o bolsonarismo
não ganharia com essa opção. Isso seria uma abdicação da renovação no
projeto deles.
A segunda opção seria apoiar alguém do agrupamento político, o
Tarcísio [de Freitas], em São Paulo, o [Ronaldo] Caiado, em Goiás. E a
terceira opção seria apoiar alguém de fora de um agrupamento político,
alguém que representasse a causa produtivista e capacitadora.
Quanto mais longe do círculo íntimo, quanto mais audaciosa, quanto
mais demonstrando um abraço do país, melhor. Maior a chance de ganhar e
maior a chance de resolver o nosso problema nacional.
BBC News Brasil – Não haver um nome óbvio, uma liderança de
esquerda para substituir Lula, é uma questão muito apontada por
analistas políticos como um problema. Ele que criou isso? Ou um líder
como ele é realmente difícil de substituir?
Mangabeira – Claro! Ele decapitou qualquer pessoa
que pudesse ameaçar a liderança dele e não criou sucessores. Não
preparou o caminho para outra geração, para o futuro, para outras
lideranças. Tem apenas aqui em São Paulo alguém que ele usa como uma
espécie de embaixador para o mercado financeiro, que é o ministro
Haddad, que é meu amigo.
E fica nesse jogo de apoiar Haddad, de criticar Haddad, de ficar
vacilando, demonstrando fraqueza em relação ao interesse que de fato
predomina no Brasil de hoje, que é o interesse financista.
BBC News Brasil – O senhor tem um livro de 2016, em que fala
sobre a religião do futuro, uma que transcenda a religião tradicional,
que não dependa de uma crença em Deus. E que a gente vê hoje com o
crescimento dos evangélicos no Brasil é um aumento na confiança da
religião tradicional, conservadora. A que o senhor atribui isso?
Mangabeira – Nós temos no Brasil hoje, uma grande
minoria evangélica. Essa minoria tem uma sensibilidade religiosa que é
característica de período médio da história do protestantismo. O
indivíduo é um pequeno Napoleão, que coloca a coroa na cabeça. Ele se
fortalece e ele enriquece, e mais forte ele se torna generoso. A
generosidade e a solidariedade vêm depois, não participam da
autoconstrução.
Assim como nós temos que nos entender com o bolsonarismo, nós temos
que entender sobretudo com essa grande minoria. Nós não vamos poder
construir o país contra ela. Nós temos que lhe oferecer alternativas.
Esse diálogo teológico-religioso tem um pano de fundo social que é o
seguinte: hoje, nos grandes países do mundo, a maioria das pessoas é
pobre e desorganizada. Mas seu horizonte de anseio, em vez de ser
proletário, é pequeno burguês.
O que a maioria das pessoas quer é ter um pequeno comércio, uma loja,
uma fazenda, um serviço técnico. É isso que eu chamaria uma pequena
burguesia subjetiva. Nós, no Brasil, chamamos essas pessoas emergentes
ou batalhadoras. Eles não são, na maioria, empreendedores pequeno
burgueses, mas, subjetivamente, esse é o sonho.
Todas as sociedades existentes são sociedades de classes. E não vamos
transformar essas sociedades sem uma liderança de elite, uma
contra-elite que resulte do surgimento de uma dissidência contra a visão
da parte predominante da elite, que costuma ser rentista e financista. E
esse corte da elite deve buscar ganhar o poder e granjear apoio na
maioria popular, que é essa pequena burguesia subjetiva, e oferecer a
ela alternativas.
BBC News Brasil – Quais seriam?
Mangabeira – Até o final do século 19, havia um
atalho para o crescimento econômico, que era a indústria convencional,
como essa que se instalou no Sudeste do Brasil, sobretudo em São Paulo.
Esse atalho se fechou.
A indústria convencional está se destroçando em todo o mundo. A
alternativa seria uma forma includente da nova vanguarda produtiva que é
a economia do conhecimento. Seria necessário construir uma economia do
conhecimento para muitos. E como é que vamos fazer isso?
É preciso começar a passos modestos, que qualifiquem o aparato produtivo e a maioria das pessoas.
O Brasil é um dos poucos países do mundo em que o Estado conta com
muitos dos instrumentos que seriam necessários para a qualificação dessa
maioria, heranças do corporativismo varguista: os bancos públicos de
desenvolvimento, o Sebrae, o Senai, o Senac, a Embrapa. São instrumentos
que estão carcomidos, não estão mobilizados.
Nós poderíamos resgatá-los e começar a soerguer a produtividade e as
capacitações dessa maioria popular. E esse seria o pano de fundo prático
na economia política desse diálogo com a grande minoria evangélica.
Mas tudo isso ocorre no meio dessa grande confusão em que o país está
aflito com a polarização… Enquanto o verdadeiro problema do país é o
oposto da polarização, é o consenso. O Brasil precisa de uma alternativa
e construí-la, envolve, paradoxalmente, desarmar o veneno da
polarização política.
BBC News Brasil – Como você concilia a aproximação desse
grupo religioso quando muitas lideranças evangélicas reforçam esse
consenso?
Mangabeira – Nós estamos tendo uma conversa com
abstrações, doutrinas. Como é que o povo brasileiro, sem acesso a
educação e informação, vai entender tudo isso? Nós precisamos traduzir
em ideias concretas, tangíveis, exemplos que todo mundo possa entender.
BBC News Brasil – Mas quais exemplos?
Mangabeira – Num país como o nosso, temos que
traduzir essa visão, tocar o chão da realidade, que é a realidade
regional. Então veja, por exemplo, na Amazônia isso seria o
desenvolvimento sustentável. Mas o que é um desenvolvimento sustentável
se não é um extrativismo meramente artesanal, como Marina Silva propõe,
tirando borracha da árvore, as populações nativas pegando nozes do chão,
sem tecnologia, sem escala, sem ciência, sem futuro?
Só pode ser o oposto: um vanguardismo científico e tecnológico para
mobilizar a riqueza da Amazônia, construindo os vínculos entre o
complexo verde e o complexo industrial urbano, para assegurar que a
floresta em pé valha mais do que a floresta derrubada.
Mangabeira – Não tem apoio na Amazônia. Tem zero
apoio na Amazônia. Isso aí é o devaneio da juventude burguesa e
ecológica de São Paulo e Rio de Janeiro. A Amazônia é apenas a vítima
das fantasias de transformar metade de nosso território nacional num
parque de diversões, num parque temático.
BBC News Brasil – Mas a Marina tem origem ali no Acre, dos seringueiros, ela não vem do Rio de Janeiro ou de São Paulo.
Mangabeira – Ela tem origem. Mas ninguém na Amazônia
apoia isso. Isso é objeto de repúdio na Amazônia. A ideia é transformar
a Amazônia de um grande parque em que o primitivismo indígena possa
coexistir com a floresta. Aí os alemães e os americanos vão pra lá olhar
as árvores e tal. Mas isso não é uma visão séria do nosso
desenvolvimento.
BBC News Brasil – Como garantir que o avanço tecnológico não seja para desmatar? Que ele vai garantir a preservação?
Mangabeira – Eu dei o exemplo da Amazônia mas tem
também o exemplo do Centro-Oeste. No Brasil, nós temos duas e meia
colheitas por ano ou temos essa situação em que grande parte do
território é pastagem degradada, não cultivada.
Nós poderíamos facilmente triplicar a área cultivada sem derrubar uma
única árvore, com uma política de manejo sustentável da floresta e
aproveitamento intensivo das nossas grandes áreas abandonadas. Isso é um
projeto de construção nacional que gera uma infinidade de oportunidades
econômicas concretas para essa pequena burguesia subjetiva. A Embrapa
nos ensina o segredo da agricultura nas savanas ou tropical do cerrado.
Mas nós paramos ali. Agora nós temos que dar os passos seguintes.
A agenda policial não vai garantir a preservação. Se os 25 milhões de
brasileiros que moram e trabalham na Amazônia não tiverem opções
produtivas, serão levados necessariamente para a devastação.
Quando eu entrei lá com o PT [em 2008, quando virou ministro] eu
constatei que o problema básico era o caos fundiário. Então a absoluta
prioridade é a regularização fundiária, eu redigi o decreto lei da
regularização fundiária.
O presidente Lula acabou aceitando o decreto, mas concedeu a
responsabilidade por executá-lo aos seus inimigos, que era o PT do Rio
Grande do Sul. Quando me perguntavam qual era o problema da Amazônia eu
respondia: é o Rio Grande do Sul.
BBC News Brasil – O senhor falou que as guerras culturais são
um identitarismo da maioria. Como que seria possível, nesse sentido,
conciliar esse identitarismo da maioria com grupos minoritários que
sentem que sua própria existência está ameaçada pelas ideias dessa
maioria (como pessoas LGBT, negros, pessoas com deficiência, mulheres
etc)?
Mangabeira – Tem que resolver na prática. Chamando certas pessoas para conversar e considerando alternativas econômicas reais.
BBC News Brasil – O senhor acha que os direitos desses grupos dependem da mudança econômica?
Mangabeira – A efetivação da inclusão é um processo
real, não é um processo retórico. Essa política identitária, na sua
maioria, permite que os falastrões e os retóricos da direita lucrem em
cima disso.
Olha as ações afirmativas nos EUA. Elas beneficiaram o surgimento de
uma burguesia negra, mas não beneficiam a grande maioria dos negros que
estão penando nas cadeias americanas e no mercado informal de trabalho,
porque ali foi uma política de promoção da minoria racial em que o tema
racial foi totalmente separado de classe.
Numa sociedade de classes, a desvantagem básica está aí, as outras
desvantagens são acessórias, não agravam a desvantagem fundamental.
Quando você exporta essa política identitária das minorias para um
país como o nosso, caracterizado pela miscigenação, o resultado é um
desvario.
O preconceito racial existe. Mas nós estávamos, antes da importação
dessa política americana, começando a construir uma solução brasileira a
esses problemas, em que a discriminação racial individualizada é crime e
será punida. Mas a promoção coletiva do grupo depende da realidade da
subjugação, saber se aquele grupo é de fato excluído e deve ser
promovido como grupo.
BBC News Brasil – Mas como combater o racismo sistemático nesse cenário?
Mangabeira – Se você defende o pobre, o informal, a
grande maioria deles são negros. Sim o negro é discriminado, e se
condena a discriminação como crime. Mas onde há o problema social,
cultural e coletivo, ele tem que ser enfrentado no plano social,
cultural e coletivo.
BBC News Brasil – Há um avanço da direita no mundo, mesmo em países mais homogêneos (racialmente).
Mangabeira – Os partidos de centro-esquerda e
centro-direita estão em colapso. E por que não conseguiram resolver os
problemas básicos das sociedades contemporâneas? A base histórica da
social-democracia eram os trabalhadores da antiga vanguarda econômica,
que era a indústria. Na teoria marxista, era essa a classe que falava
pelos interesses universais da humanidade. Mas agora essa classe passou a
ser vista como só mais um grupo falando pelos seus próprios interesses.
A verdadeira minoria representativa dos interesses universais da
humanidade é essa pequena burguesia subjetiva que eu descrevi. Essa
maioria de pessoas pobres e desorganizadas.
Então os partidos liberais (progressistas) não resolvem os problemas
porque não entenderam que a única solução possível é organizar uma forma
socialmente inclusiva desse novo paradigma produzir a economia de
conhecimento, com as capacitações dessa periferia.
A conversa no Brasil é uma variação desse drama universal. Então a
grande maioria no Brasil elegeu o direitista (Bolsonaro) que nomeia para
conduzir a economia o funcionário do mercado financeiro que não faz
absolutamente nada para construir um capitalismo popular. Então a
confusão persiste.
Conteúdo investigado:Publicação afirma
que apenas um exame é capaz de comprovar que uma pessoa está bem de
saúde após receber a vacina contra covid-19 e que este exame não é
realizado no Brasil. O post é acompanhado pelo recorte de um vídeo no
qual um médico afirma que imunizantes provocam uma “síndrome de
inflamação crônica”, que levaria a sintomas como fadiga e problemas de
memória. O vídeo é sobreposto pela frase “Quais são as sequelas severas
das vacinas?”.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: Sintomas como perda de
memória e fadiga são conhecidos no meio científico como consequências da
covid-19, ou sintomas da chamada covid longa, covid crônica ou
condições pós-covid. Até o momento, não há um exame clínico que possa
diagnosticar essa condição. É enganoso, portanto, afirmar que estas
reações estariam entre as características de uma doença supostamente
provocada por vacinas contra o coronavírus, como faz o post investigado
aqui.
Cardoso abordou o assunto em entrevista ao podcast 3 Irmãos, no dia
22 de maio. Na oportunidade, o médico alegou que os imunizantes provocam
“síndrome de inflamação crônica”. Ele também relacionou esta condição
com a proteína spike, base de parte das vacinas contra a covid-19.
Outros sintomas citados foram dificuldade de raciocínio, queda de cabelo
e dificuldade para dormir.
Embora ainda esteja em investigação o fator que leva um paciente a
ter covid longa, já é de amplo conhecimento científico que esta condição
clínica afeta pessoas com histórico de infecção provável ou confirmada
pelo vírus SARS-CoV-2, que causa a covid-19. Esta condição foi classificada clinicamente pela primeira vez em 2021 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Diferentes órgãos internacionais de saúde reconhecem que os sintomas
citados no vídeo pelo médico são associados à covid-19 – isso inclui
fadiga crônica, névoa mental, queda de cabelo, enfraquecimento das
unhas, perda de olfato ou paladar entre outros – e apontam que a
vacinação, em vez de provocar, ajuda a evitar as condições pós-covid.
Entre os órgãos que apontam, com base em evidências científicas, que a
covid longa é associada à covid-19, e não à vacina, estão a OMS, o
European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), os Centers
for Disease Control and Prevention (CDC, dos Estados Unidos), o National
Institutes of Health, também dos Estados Unidos, e o Ministério da
Saúde do Brasil.
Além disso, especialistas consultados pelo Comprova reforçam que os
sintomas mencionados no vídeo estão relacionados à condição pós-covid,
demonstrando que a alegação feita na postagem é enganosa. Eles reiteram
que a proteína spike, citada no vídeo como uma espécie de responsável
pela inflamação, é uma partícula do vírus que estudos científicos
indicaram como a melhor opção para ser usada na produção das vacinas.
Ela é capaz de induzir o organismo de uma pessoa a produzir anticorpos
contra a doença, mas é naturalmente eliminada poucos dias após a vacinação, como já mostrou o Comprova. Já o vírus propriamente dito tem muito mais proteína spike do que o imunizante.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os
conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de
junho, a publicação alcançou 251,7 mil visualizações.
Fontes que consultamos: A equipe consultou o vídeo
completo da entrevista do médico no YouTube e fez pesquisa por
publicações relacionadas ao pós-covid. Foram consultados estudos e
protocolos internacionais para a covid longa da OMS, do Centers for
Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, do National
Institutes of Health (NIH), também dos Estados Unidos, do European
Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), da Europa, e do
Ministério da Saúde.
Também foram entrevistados o vice-presidente da Sociedade Brasileira
de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, o infectologista Marcelo Daher,
consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Celso
Granato, especialista em Infectologia pela SBI e em Patologia Clínica
pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
(SBPC/ML) e o farmacêutico-bioquímico Jorge Luiz Joaquim Terrão, diretor
da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).
Não existe ‘síndrome pós-spike’ provocada pela vacina
No vídeo, Francisco Cardoso aponta alguns sintomas, como fadiga
crônica, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas e névoa mental como
uma “síndrome de inflação crônica” que, segundo ele, seria o principal
efeito dos imunizantes.
Ele afirma que o nome correto a se dar a essa doença seria “síndrome
do pós-spike”, como se fosse uma consequência direta dos imunizantes, e
não da covid-19. Não há evidência que possa sustentar essa afirmação. No
mês de abril, o episódio 88 do podcast Fake News Não Pod,
do Jornal da USP, abordou a alegação de que existiria uma “síndrome
pós-spike” causada pelas vacinas. A cientista biomédica Beatriz
Calasense disse que não existe a tal síndrome.
A proteína spike, mencionada em diversas alegações mentirosas sobre a
vacina, está presente no Sars-COV-2, o vírus da covid-19, e é ela que
permite a entrada do vírus no organismo, levando ao desenvolvimento da
doença. Algumas vacinas usam material genético para produzir a spike
dentro do organismo, mas ela serve apenas para ensinar o sistema
imunológico a se defender do vírus. “Ela atua somente como mensageira
para as nossas células imunológicas e logo depois é degradada”, afirmou
Beatriz Calasense.
Para especialistas ouvidos pelo Comprova, apenas apontar a proteína
spike presente na vacina como causa da inflamação é controverso. O
infectologista Marcelo Daher aponta, inclusive, que a covid-19 produz
mais proteínas spike do que as que estão contidas na vacina, já que a
estrutura é uma parte do vírus. “E o vírus, quando entra no organismo,
produz vírus completo e partículas virais, que a gente chama de vírus
incompletos. E esses vírus incompletos têm proteína spike”, explicou o
consultor da SBI. Renato Kfouri, da SBIm, aponta a mesma conclusão: “O
vírus tem muito mais proteína spike do que qualquer vacina”, declarou.
Entidades de saúde de todo o mundo dizem que covid longa é causada pela própria doença, não pela vacina
Diferentemente do que aparece em alegações contrárias às vacinas, é
de amplo conhecimento no meio científico que os sintomas citados por
Francisco Cardoso são da covid longa, covid crônica ou condições
pós-covid, associada à própria covid-19, e não às vacinas.
A OMS fez a primeira classificação clínica desse conjunto de sintomas ainda em 2021,
quando descreveu que “a condição pós-covid-19 ocorre em indivíduos com
histórico de infecção provável ou confirmada pelo SARS CoV-2, geralmente
três meses após o início da covid-19 com sintomas que duram pelo menos
dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo”. O
assunto foi novamente discutido pela OMS em 6 de junho de 2024 em sessão do G20 em Salvador (BA).
Essa classificação foi feita após a realização de estudo, ainda em
2021, utilizando a metodologia Delphi, que consiste na discussão de um
assunto complexo a partir de grupos de especialistas selecionados de
forma anônima e estratégica, que devem ser selecionados em países
diferentes, para se ter um panorama representativo.
O National Institutes of Health,
dos Estados Unidos, define a covid longa como “problemas de saúde que
algumas pessoas enfrentam alguns meses após um diagnóstico de covid-19? e
aponta que alguns podem ser iguais ou diferentes daqueles da covid, mas
elenca a síndrome da fadiga crônica como um deles.
Segundo a Anvisa, o termo “inflamação” é genérico e as próprias bulas
das vacinas citam eventos adversos que podem ser considerados
inflamação, desde os mais comuns, como dor no local, até os raros, como a
miocardite. “É importante destacar ainda que a própria covid é uma
doença que pode desencadear cenários de inflamação generalizada ou mesmo
crônica”, diz o órgão brasileiro.
Segundo o NIH, que reúne pesquisas sobre a covid longa,
ainda estão em curso os estudos para apontar com clareza o que causa as
condições pós-covid, mas já existem algumas pistas: a reativação de
partículas do vírus SARS CoV-2, que podem fazer com que os sintomas
reapareçam; a liberação de altos níveis de substâncias inflamatórias por
parte de células imunológicas hiperativas; e a produção de
autoanticorpos que atacam os próprios órgãos e tecidos, desencadeada
pela infecção.
O NIH aponta que a melhor maneira de se prevenir contra a covid longa
é evitar pegar a covid-19, mantendo-se vacinado. Para aqueles que já
estão com covid, o órgão faz recomendações para tentar reduzir as
chances de contrair a covid longa:
“Se você não estiver vacinado, a vacinação após a recuperação da
covid-19 pode ajudar a prevenir a covid longa. A vacinação contra a
covid-19 também pode reduzir a probabilidade de contrair a síndrome
inflamatória multissistêmica (MIS-C) [uma complicação tardia grave da infecção por SARS-CoV-2] em jovens de 12 a 18 anos”, diz uma página específica do órgão sobre o assunto.
Em nota,
o Ministério da Saúde também apontou que estudos clínicos e de
farmacovigilância, conduzidos por instituições e organizações de saúde
respeitadas mundialmente, refutam a alegação de que a suposta “síndrome
da inflamação crônica” esteja associada à vacinação. A pasta citou
entidades como OMS, CDC, e a Anvisa entre os responsáveis por estas
pesquisas.
Condições citadas no vídeo são associadas à covid, não às vacinas, reafirmam especialistas
Especialistas ouvidos pelo Comprova reforçam o que os órgãos
internacionais e as pesquisas científicas já dizem: os sintomas citados
no vídeo são associados à covid, não aos imunizantes. “Hoje, o termo
mais aceito internacionalmente e adotado pelo próprio Ministério da
Saúde chama-se ‘condições pós-covid’, porque a doença dá tudo isso”,
explicou Kfouri. “A doença dá uma fraqueza, dá fadiga crônica, dá essa
névoa cerebral, perda de cabelo, queda das unhas. São mais de 200
sintomas relatados nessas condições pós-covid e que realmente têm
assolado um número expressivo de pessoas, não só aqui no Brasil, mas em
todo o mundo”.
Ele diz que a fala feita durante o podcast tenta atribuir aos
imunizantes uma série de sintomas que, na verdade, são causados pela
covid-19. “Não há nenhuma evidência de que as vacinas possam trazer
essas condições”, completou. “Os eventos adversos relacionados às vacinas são muito bem conhecidos,
já estão muito bem descritos. Há vários estudos demonstrando que as
vacinas previnem as condições pós-covid, não causam condições pós-covid.
São muito mais frequente condições pós-covid em não-vacinados do que em
vacinados”.
O infectologista Marcelo Daher também nega que a covid crônica,
longa, ou as condições pós-covid sejam causadas pela proteína spike
presente na vacina, e concorda com Kfouri ao apontar que os sintomas
citados no vídeo são provocados pela covid-19: “O que é bem
caracterizado e bem documentado é a doença causando isso. Não tem
trabalho mostrando a vacina causando isso”, afirmou.
Inflamação celular é complexa e ainda não há teste específico para diagnosticar covid longa
No vídeo, Cardoso menciona a existência de “um exame americano que mede a proteína spike dentro do macrófago (um tipo de célula que atua na defesa do organismo) humano”,
que seria capaz de mostrar a inflamação que ele alega ser causada por
vacinas contra a covid-19. Este exame seria de análise de citoquina – ou
citocina, termo mais usado no Brasil.
Diferentemente do que diz o médico, as análises de citocinas são
feitas em laboratórios brasileiros, segundo o farmacêutico-bioquímico
Jorge Terrão, diretor da SBAC, mas é preciso saber a quais delas Cardoso
se referia, o que não fica claro no vídeo.
O médico Celso Granato, especialista em infectologia e em patologia
clínica e associado à SBPC/ML – entidade ligada à área de diagnóstico
laboratorial – observa que citocinas e proteína spike são coisas
diferentes, e que a fala do médico acaba confundindo as pessoas.
“Ele fala que tem um exame americano que chegou a fazer aqui [no Brasil] e
que dosa a citocina, e que lá se encontra a spike”, disse. “Isso é
esquisito, porque para usar um produto de laboratório, tem que ter
aprovação da Anvisa. Eu nunca soube de aprovação da Anvisa nesse
sentido. Realmente desconheço esse exame”.
Em setembro do ano passado, um estudo publicado na revista científica Nature disse
ter encontrado diferenças entre exames de sangue de pessoas com covid
longa e outras sem as condições pós-covid, mas isso não significa que já
existe um exame para diagnosticar essas condições, e sim que os
resultados representam um passo importante para encontrar uma forma de
diagnóstico. Outros estudos avaliam a possibilidade, mas ainda estão em
fase de pré-print, ou seja, não foram revisados pelos pares.
Durante a entrevista, Francisco Cardoso diz que não existe tratamento no SUS para o que ele chama de covid crônica. Em nota,
o Ministério da Saúde informou que recomenda que a avaliação de
pacientes com condições pós-covid sejam realizadas na Atenção Primária à
Saúde (APS). De acordo com a pasta, em alguns casos, é recomendado o
encaminhamento para os serviços multidisciplinares, de reabilitação e/ou
atenção especializada.
No texto, o ministério mencionou que, segundo dados do Sistema de
Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), entre março de 2022 e
abril de 2024, foram realizados mais de 228 mil atendimentos a pessoas
com condições pós-covid no SUS. A pasta destacou que a organização dos
cuidados em saúde no País é coordenada por Estados e municípios, levando
em consideração os protocolos e diretrizes do SUS e a rede de atenção
disponível.
Para Renato Kfouri, da SBIm, ainda não há, de fato, algo a ser feito
especificamente contra as condições pós-covid. “Não há nada a ser feito
por enquanto, a não ser reabilitar essas condições crônicas e tratar os
sintomas e as doenças que vierem a aparecer”, disse. Segundo ele, esse
tratamento precisa ser multidisciplinar. Na nota, o Ministério da Saúde
também citou a existência de equipes multiprofissionais nas APSs.
Kfouri explica que esta é uma das razões pelas quais a fala de
Cardoso é perigosa: faz as pessoas atribuírem um conceito errado às suas
condições de saúde e ainda acreditarem que há um tratamento diferente
daquele que é feito para as condições pós-covid.
Procurado pelo Comprova, Francisco Cardoso argumentou que sua fala
foi editada e disse que não conhece o autor da publicação. A postagem
traz recorte de 6 minutos e 45 segundos da participação do médico no
podcast, que teve duração de mais de uma hora e meia. Apesar do recorte,
a fala do médico não foi editada e ele realmente associou os sintomas
da covid longa à vacina. O médico alegou ainda que fez declarações sobre
sintomas de pós-covid, que ocorrem, segundo ele, após a infecção pelo
vírus ou exposição à proteína spike. Cardoso disse que existe “farta
evidência científica” sobre a síndrome, mas não indicou suas fontes.
O perfil responsável por compartilhar trecho da entrevista no X não
permite o envio de mensagens diretas e, por isso, não foi possível
entrar em contato.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O
Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e
aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças
climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para
aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você
também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.