sábado, 8 de junho de 2024

AUMENTO DAS DIÁRIAS TURBINAM O SALÁRIO DOS JUÍZES

 

História de CONSTANÇA REZENDE – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) aprovou uma resolução no final de 2023 que, na prática, dobrou os valores de diárias nacionais que juízes e ministros podem receber ao mês.

A medida, que já gerou um efeito cascata nos tribunais superiores, tem turbinado salários de magistrados em mais de R$ 10 mil mensais.

As diárias são pagas aos servidores que se deslocam a serviço, em caráter eventual ou transitório, para outra localidade do território nacional.

Também recebem o benefício aqueles magistrados que foram designados a atuar fora de sua jurisdição, como é o caso de juízes nos estados que são chamados a trabalhar nos tribunais superiores em Brasília.

De 2016 a 2023, o valor máximo que os magistrados recebiam por uma diária era de R$ 700. Havia ainda um limite de 6,5 diárias por mês, o que representava um teto próximo de R$ 4,5 mil para esse benefício.

Com a decisão do CNJ, o valor subiu para R$ 1.055,22, e a limitação foi expandida para até dez diárias ao mês. Em tese, a quantia autorizada para o pagamento das diárias é ainda maior, de R$ 1.318. O corte de quase R$ 300 ocorre devido a um teto estipulado na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).

As diárias são verbas indenizatórias, portanto podem extrapolar o limite legal de remuneração no serviço público, hoje de R$ 44 mil.

Neste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) gastou ao menos R$ 1,2 milhão para pagamentos referentes a dez diárias mensais (que somam R$ 10,6 mil). Foram feitos 117 pagamentos com esse valor para juízes auxiliares e de instrução.

Segundo a assessoria de imprensa do STF, há 36 juízes designados para atuar na corte, e somente dois, que moram em apartamentos funcionais do tribunal, não recebem diárias. Cinco juízes que recebem as diárias do Supremo são vinculados ao TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios).

Cada gabinete tem em média três juízes auxiliares ou instrutores, responsáveis por auxiliar os ministros na confecção de votos.

Segundo o STF, todos os juízes que estão deslocados de sua atuação de origem têm direito a receber os valores das diárias como forma de indenização por estarem fora de suas casas nas cidades onde atuam como magistrados. A corte citou artigos da Lei Orgânica da Magistratura Nacional para justificar o benefício.

O órgão também afirmou que, para receber as diárias, é preciso que o chefe de gabinete do local onde ele atua informe oficialmente quantos dias no mês esteve em deslocamento.

Não podem receber diárias quem mora em apartamento funcional, quem tenha recebido auxílio para mudança para Brasília ou ainda quem tenha optado pelo auxílio moradia.

No CNJ, 35 juízes auxiliares receberam “cotas de diárias mensais” em abril, sendo que 26 receberam o valor máximo de R$ 10,6 mil. Outros quatro receberam R$ 9,4 mil.

O conselho justificou que todo e qualquer servidor ou magistrado em atividade fora de seu domicílio recebe diárias, conforme previsto na legislação. Os valores e critérios são objeto de regulamentação própria.

Segundo o órgão, o juiz que não mora permanentemente no Distrito Federal e está em trabalho presencial no CNJ por dez dias ou mais ao mês recebe o limite máximo de dez diárias. Caso trabalhe presencialmente por uma quantidade menor de dias, recebe proporcionalmente.

O conselho também afirmou que as atualizações seguem a Lei de Diretrizes Orçamentárias que autoriza o pagamento de diária para deslocamento a serviço no território nacional, em legislação de 2015.

O novo valor, afirma o órgão, foi atualizado pelo IPCA acumulado desde a entrada em vigor da lei.

Além disso, acrescentou que recebem o valor os juízes auxiliares que moram em Brasília e não possuem domicílio permanente no Distrito Federal. Eles começam a receber o benefício a partir do momento em que são convocados e designados para o trabalho no CNJ na capital.

Já no STJ (Superior Tribunal de Justiça), 26 juízes auxiliares e de instrução receberam dez diárias no mês de abril. O tribunal respondeu que os juízes optam por receber o auxílio moradia ou as diárias.

Em abril, seis juízes auxiliares do TST (Tribunal Superior do Trabalho) receberam o limite máximo de R$ 10,6 mil em diárias.

Segundo o órgão, o limite de diárias aumentou neste exercício “tendo em vista a equivalência com a percepção dessa indenização no CNJ, no TSE e no STF, bem assim o caráter uno da magistratura nacional”.

No TSE, sete juízes eleitorais receberam, em abril, R$ 10,6 mil em diárias. Uma magistrada recebeu o dobro por também ter obtido o valor correspondente a março.

De acordo com registros do tribunal, o ministro Floriano Peixoto de Azevedo recebeu R$ 10,6 mil em diárias referentes a março. Já o ministro André Ramos Tavares obteve pagamentos de diárias retroativas desde setembro do ano passado, no total de R$ 55,4 mil.

Atualmente, estão em exercício no TSE sete juízes auxiliares. Segundo o tribunal, nenhum deles recebe auxílio moradia para custear aluguel ou hospedagem, razão pela qual, a partir da nomeação e enquanto estiverem em exercício, tem direito ao pagamento mensal de até dez diárias.

O TSE também informou que, ao votar pelo aumento do limite das diárias, o ministro Alexandre de Moraes argumentou que o teto anterior “não se mostrava mais compatível com os custos totais da permanência do magistrado em Brasília, razão pela qual foi proposta a elevação para 10 diárias, a fim de garantir a adequada recomposição das despesas em face do necessário cumprimento das funções durante o mês”.

Em 2018, o CNJ aprovou uma resolução com novas regras para o pagamento do auxílio moradia, o que fez o desembolso de diárias aumentar. O benefício ficou bem mais restrito e pago a apenas 1% dos 18 mil magistrados.

Ficou previsto que o reembolso das despesas com moradia não poderia ultrapassar o teto de R$ 4,3 mil, atualizado anualmente e pago apenas a juízes que fossem transferidos de comarca por interesse do serviço público.

No Judiciário federal, magistrados ganham, em média, até sete vezes mais do que os demais funcionários. A média salarial da categoria é de R$ 28 mil, segundo dados do CNJ de setembro do ano passado. A média não inclui possíveis indenizações, adicionais por tempo de serviço e outros ganhos que aumentam o salário dos juízes.

Dados do Tesouro Nacional mostram que, em 2022, o Brasil gastou R$ 159,7 bilhões com seu sistema de Justiça. Desse total, 82,2% foram destinados a remunerações de magistrados e servidores, incluindo os do Ministério Público.

O gasto do poder público brasileiro com os Tribunais de Justiça, incluindo remuneração de magistrados e servidores, consome o equivalente a 1,6% do PIB (Produto Interno Bruto), um recorde entre 53 países analisados pelo Tesouro Nacional e quatro vezes a média internacional.

PROJETO CONTRA DELAÇÃO PREMIADA DE PRESOS TRAMITA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

 

História de JULIA CHAIB, FABIO SERAPIÃO E RANIER BRAGON – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O avanço do projeto que proíbe delações premiadas de presos conta com o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e de líderes de outros 13 partidos, o que torna bastante provável a aprovação de sua tramitação em caráter de urgência na próxima terça-feira (11).

Integrantes de partidos do centrão e da esquerda ouvidos pela Folha dão como certa a aprovação da proposta na Câmara e, depois, no Senado.

Especialistas divergem sobre a possibilidade de o projeto retroagir e anular situações em que já houve delações firmadas com pessoas detidas. Ainda assim, caso seja aprovado, o projeto terá impacto no modelo de investigações adotado pela Polícia Federal.

Além da Operação Lava Jato, que teve uma série de colaborações questionadas, as apurações mais recentes de maior repercussão se basearam em delações assinadas por investigados presos.

Caso retroaja, o projeto poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), citado na delação do seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), que teve sua prisão confirmada pela Câmara em abril por suspeita de ser o mandante da morte da vereadora Marielle Franco, poderia ser outro agraciado.

O parlamentar foi preso dias depois de o ministro Alexandre de Moraes homologar a delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor do crime e que também está preso.

Deputados que defenderam a soltura de Brazão argumentaram que seria um equívoco respaldar uma prisão que tinha sido decretada apenas com base em delação premiada.

O projeto que deve ser votado é de autoria de Luciano Amaral (PV-AL), aliado de Lira, responsável por pedir na semana passada a tramitação em regime de urgência. O parlamentar votou pela soltura de Brazão.

O texto, que pode ser alterado durante as votações, tem apenas dois parágrafos, sendo o principal o que estabelece que a voluntariedade para a delação está ausente caso o interessado em colaborar com as autoridades estiver preso. Leia aqui a íntegra.

Pelas regras da Câmara, projetos mais recentes acabam sendo apensados a mais antigos, se o assunto for similar. Por isso, o sistema da Câmara coloca na frente o projeto de autoria do então deputado Wadih Damous (PT-RJ).

Acataram o pedido de urgência os líderes de Podemos, União Brasil, Solidariedade, PL, MDB e de blocos que reúnem PSD, Republicanos, PP, PSDB, Cidadania, PDT, Avante e PRD.

A proposta de mudança da lei que regulamenta a colaboração premiada causa divergência entre advogados criminalistas, responsáveis por conduzir esses acordos como representantes dos delatores.

Dois pontos principais causam maior debate. O primeiro é se eventual nova lei teria poder de retroagir e anular acordos já fechados e homologados pela Justiça.

O segundo é se a proibição de acordos para presos não ataca um direito do cidadão de colaborar com a Justiça.

Um dos principais criminalistas do país, Alberto Toron é critico dos métodos de prisão da Lava Jato desde o início da operação, mas entende que o projeto de lei cuja urgência para votação foi incluída por Lira “falha sob todos os aspectos”.

Para ele, caso seja aprovado, a lei não vale retroativamente por se tratar de uma regra processual. “Aplica-se a conhecida parêmia romana, tempus regit actum. Vale dizer, a lei do tempo rege o ato. Portanto, a delação de investigado, ou réu preso, praticada antes da lei, é válida”, diz.

O advogado afirma que o projeto comete um grande equivoco ao proibir a delação para presos uma vez que o cidadão tem o direito, em qualquer situação, de se valer desse instrumento para sua defesa.

“É justamente o preso, por integrar organização criminosa, que tem interesse em fazer a delação e com muito proveito para a investigação”, diz Toron.

Segundo ele, a lógica do projeto é evitar que a prisão funcione como indutor da delação, modelo imputado à Lava Jato. “O ponto é que na Lava Jato as prisões, que efetivamente funcionaram como verdadeira coação, serviam para iniciar as tratativas da delação, mas a evolução e o acordo propriamente ditos eram finalizados com a pessoa solta”, afirma o advogado que atuou na defesa de alvos da investigação.

Vinicius Vasconcellos é advogado e autor do livro “Colaboração premiada no processo penal”. Para ele, a resposta “mais simples” seria que não retroage, mas há também outro entendimento de que “os acordos penais têm impactos no poder de punir do Estado” e, portanto, “devem retroagir para aplicar a casos passados, desde que em benefício do réu”.

André Perecmanis, professor de direito processual penal, afirma que não há possibilidade de a lei retroagir. “A delação é meio de se chegar a uma prova, toda questão relativa a prova é de natureza processual As alterações processuais pegam o processo no estado em que ele se encontra, todos atos anteriores que tiverem sido praticados com respeito à lei da época são validos”, diz.

Professor do IDP e doutor em direito pela USP (Universidade de São Paulo), o advogado Gustavo Mascarenhas tem entendimento no sentido de Vasconcellos, sobre a lei não retroagir, mas sendo possível se pensar nos casos em benefício do réu.

“Eventualmente, a nova norma pode ser utilizada por colaboradores que estejam questionando a validade de acordos anteriormente feitos quando estavam presos”, diz.

O advogado descarta, no entanto, o cabimento em vedar a possibilitar de presos fecharem acordos.

O movimento contra a lei das delações vem acompanhado de pressão de bolsonaristas para aprovar anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, o que poderia abrir uma deixa para anistiar Jair Bolsonaro, que está inelegível.

O projeto está na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Nesse caso, porém, a opinião dos congressistas ouvidos pela Folha de S.Paulo é a de que há uma resistência significativa.

COMANDANTE DO EXÉRCITO DEFENDE PARCERIA COM A CHINA QUE ESTÁ NO FOCO DOS NOSSOS INTERESSES

 

História de Monica Gugliano – Jornal Estadão

O comandante geral do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, defende que o Brasil amplie parcerias estratégicas com a China e com outros países do Brics, grupo que reúne também nações como Rússia, Índia, África do Sul e, mais recentemente, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes, Etiópia e Egito. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que a viagem que fará ao território chinês no próximo mês focará em ciência e tecnologia e capacidades militares do País asiático.

Paiva disse que pretende visitar todos os países dos Brics (já esteve na Índia) e que só não irá à Rússia por causa do conflito com a Ucrânia. Em um momento especialmente tenso entre China e Estados Unidos, o comandante do Exército acredita que a ida à China não terá potencial para criar algum mal-estar com os aliados dos Estados Unidos. “Temos um intercâmbio comercial muito intenso com a China e não acredito que possamos nos levar por uma polarização ideológica. Nós sempre fomos pragmáticos nesse sentido”

Na conversa, ele também defendeu a reinstalação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do regime militar. Quase 30 anos depois de o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) ter assinado a Lei 9.140 que previa todo um processo de reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro pelas graves violações de direitos humanos e crimes praticados pelos agentes da ditadura, o comandante defende que a reativação aconteça logo. A Lei foi suspensa pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Paiva falou com o Estadão no 11º Grupo de Artilharia Aérea, onde participou da comemoração do Dia da Artilharia nesta manhã. “Isso já está definido e tem que ser entendido como uma questão humanitária, a gente tem que saber o que aconteceu”, afirmou Paiva.

Na entrevista, o comandante também rechaçou a politização dos militares da ativa, abordou a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elogiou o ministro da Defesa, José Múcio, reconheceu as dificuldades orçamentárias para garantir o investimento nas Forças Armadas e exaltou o trabalho dos contingentes que atuam na atenção às vítimas da tragédia do Rio Grande do Sul.

Veja os principais trechos da entrevista:

Você vai para a China agora, não é? Quais parcerias você acha que dá para fazer com a China?

O contexto da viagem à China é um contexto que é planejado no começo do ano com o Estado-Maior do Exército, que tem a incumbência de tratar das relações internacionais que a gente tem, e temos selecionado quatro viagens internacionais por ano. É o que dá para fazer. Uma dessas viagens geralmente sempre é coincidente com a Conferência dos Exércitos Americanos. No ano passado, a gente encerrou o ciclo de dois anos da Conferência dos Exércitos Americanos. Então, todos os países da América se reúnem em um país-sede para o encerramento e, geralmente, para a abertura. Esse ano, as conferências internacionais começaram no México, que é o país-sede da Conferência dos Exércitos Americanos.

Eu já fiz uma segunda viagem à França e à Polônia, que foi a indicação do Estado-Maior do Exército, para tratar de cooperação militar, geralmente a gente trata de cooperação militar, e procura integrar esse nosso planejamento com o Ministério das Relações Exteriores. O Ministério das Relações Exteriores tinha um interesse em que a gente se aproximasse dos países do Brics.

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão© Fornecido por Estadão

Com a China, a gente já tinha uma relação anterior muito boa. Essa relação de cooperação já era muito patente no intercâmbio de cursos. A gente já tinha militares que a gente mandava para lá, ainda tem até hoje, tem militares que fazem curso na China. E também recebemos militares chineses para cursar no Brasil nas nossas escolas. Teve até cadete chinês que passou um ano na Academia Militar das Agulhas Negras. A gente espera aumentar a colaboração na cooperação acadêmica, obviamente, que eu acho que já existe, é muito boa.

Também na parte de ciência e tecnologia, eu acho que tem coisas para a gente poder conversar, porque eles são um polo de pesquisa de ciência e tecnologia. E também na parte de indústria de defesa, interessante, porque eles estão avançados nessa área. Esses são os principais temas que são comuns e que interessam os dois países.

Mas lembrando, eu tenho cooperação, eu já fui aos Estados Unidos, eu já fui à Índia. Então eu preciso ir à China e eu preciso ir à África do Sul. Eu estou evitando de ir à Rússia, porque a Rússia está em conflito. Então, nesse tempo a gente suspendeu, mas também é um país membro do Brics. Então, eu acho que, agora, é comum vários integrantes do Alto Comando, em diferentes épocas recentes, visitaram a China. É um país que está no foco dos nossos interesses.

Nesse clima de confronto entre China e Estados Unidos, quais interesses o Brasil tem e o que pode nos prejudicar?

Eu não acredito que vá nos prejudicar. Primeiro, porque a gente tem um intercâmbio comercial muito grande com a China. Esta semana tem uma comitiva, uma delegação brasileira lá, o vice-presidente está lá, o chefe da Casa Civil está lá. A relação comercial e a relação diplomática são intensas, é muito significativa. Eu não acredito que a gente possa se permitir, se deixar levar por polarização ideológica, porque não existe isso em relações internacionais. A gente sempre foi pragmático. O nosso interesse é nessas áreas que eu te falei, acadêmico, que eles são muito fortes de doutrina, interesse de ciência e tecnologia.

Por exemplo, se eu quiser falar de equipamentos de energia sustentável, renovável, para operações militares, é só você ver o que está acontecendo com a indústria de veículos movidos a bateria, elétricos. Essa questão nos interessa, porque há sustentabilidade, você falar de questão de defesa cibernética, você falar de mísseis, eles são avançados na parte de missilística, têm dois conceitos que são muito interessantes, que são muito modernos hoje, que é antiacesso e negação diária. Essa é uma maneira de você exercer a tua tarefa de proteger a nossa soberania com mais tecnologia e, às vezes, com um pouco menos de efetivo. Isso é importante.

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão© Fornecido por Estadão

O que é antiacesso e negação diária?

Negação diária e antiacesso é a combinação de armas e sistemas de armas. São mísseis de cruzeiro, artilharia de longo alcance, aviação e, também, obviamente, a base industrial de defesa. O antiacesso e a negação diária é ao inimigo, ao adversário, negar uma área para ele e negar o acesso dele. A China faz isso, a Turquia faz isso, a Rússia faz isso, o Irã faz isso. Vários países fazem isso. São países que trabalham e com isso você faz dissuasão, que é você evitar que alguém pense em te ameaçar.

Mas é diferente daqueles sistemas antimísseis?

Não, isso também tem. Por exemplo, hoje nós estamos tentando uma parceria de governo para governo com a Índia para conseguir um equipamento de artilharia antiaérea de média altura, que a gente não tem nas nossas forças hoje. Estamos tentando tratar desse equipamento com a Índia.

Outra coisa é essa relação com o Israel. Como é que ficou esse contrato (que prevê a aquisição de 36 viaturas blindadas de combate, conhecidas como obuseiros da empresa israelense Elbit Systems) que foi adiado? Porque o PT diz que isso alimenta a máquina de guerra…

Essa é uma questão processual. Esse processo começou, se eu não me engano, em 2016, 2017. Essa intenção de adquirir um material de artilharia moderno. O nosso material é majoritariamente muito antigo, muito arcaico. E essa tratativa se envolveu dentro de um cenário de certame internacional. Obviamente que isto é suscetível aos entendimentos de relações exteriores do governo federal. No momento, o processo está em andamento. Ele está suspenso. Foi uma orientação que a gente recebeu do Ministério da Defesa. Ele está suspenso e aguardando um pronunciamento do governo no sentido. Está numa fase de análise do contrato. São normais que essas questões possam seguir mais rápido, retardar um pouco mais, ser suscetíveis a questionamento. A gente não está acostumado, mas quem fiscaliza isso, geralmente, é o Congresso, as forças políticas, elas têm uma ingerência sobre isso. Então, é natural que isso seja questionado.

O que vai ser feito da Comissão de Mortos e Desaparecidos?

Já está definido isso. Isso aí em algum momento vai ser reativada, tendo em vista o fato de que as pessoas perderam gente. Eles teriam o direito de saber o paradeiro. Enquanto a pessoa estiver desaparecida, eu acho que é humanitário a gente ter a possibilidade de saber o que aconteceu. Isso tem que ser entendido como uma questão humanitária. Eu só fico preocupado de, com o tempo, as expectativas serem frustradas.

Não vai haver militares que vão reclamar disso?

Mas é um direito das pessoas de saber o que aconteceu com seus parentes. Então, mesmo reclamando, é o correto.

E como é que pode ser feito isso? Há algumas investigações que o Exército precisa ajudar.

O Exército sempre ajudou. Historicamente sempre ajudou. Houve várias expedições, várias pesquisas. Grupo de Trabalho Araguaia, por exemplo. E, novamente, o que eu fico chateado é que às vezes as pessoas não conseguem entender as expectativas. Passado tanto tempo, a gente não consegue encontrar o que aconteceu. Mas, novamente, eu reitero: enquanto tiver as pessoas que tiveram perdas e você tiver a possibilidade da pessoa querer saber o que aconteceu, eu acho que isso é humanitário. Isto está pacificado nesse aspecto para nós.

Então, o presidente pode instalar essa comissão, porque ele dizia que não instalava por causa dos militares, que ele podia reformar?

É decisão dele. Não vejo problema.

Como está a sua relação com o presidente Lula?

É muito boa. Ele é o comandante supremo. Ele se relaciona com as forças por um ministro de defesa excepcional. O ministro de Defesa é uma pessoa espetacular. Ele tem experiência. Ele é o chefe de Estado, comandante supremo. E a gente se relaciona muito bem nesse aspecto.

Quando é que o Brasil vai ter uma general mulher?

Vai ser muito em breve, tá? Eu diria para você que elas estão concorrendo forte. Em 2026, elas estão entrando no quadro de acesso. É porque como a gente começou mais tarde, elas estão chegando um pouquinho mais tarde. É a partir de 2026 elas estão em condições de ascender.

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão© Fornecido por Estadão

Vocês continuam com uma aprovação bem alta, não? Só que algumas pesquisas mostram que quem agora é contra vocês é a direita…

Não, não é que a direita seja contra. E também a gente não pode quantificar a direita e a esquerda, porque o Exército é de todos os brasileiros. Mesmo daqueles que são contra a gente. A gente vai defendê-los da mesma maneira. O Exército brasileiro não pode ter lado. Ele é de todos os 203 milhões de cidadãos brasileiros e são donos do Exército brasileiro. São um alvo do nosso interesse. Olha o Rio Grande do Sul agora. Quando começou a ter crítica ou problema de pessoal achar isso, achar aquilo, a gente continua lá. E fazendo com gosto. Você sabe o problema que eu tenho agora no Rio Grande do Sul? É que as pessoas não querem rodízio. O cara quer continuar na missão. O cara que está na missão é voluntário e o cara quer continuar trabalhando. Muitas vezes tem pessoa atingida trabalhando. Pessoa atingida pela enchente que está trabalhando. Pessoa que perdeu tudo. Tem soldado trabalhando para limpar creche, para limpar escola. Tem engenharia trabalhando para remover escombro. Tem gente fazendo trabalho pesado, trabalhando na logística. Toda semana sai um comboio.

Agora, estamos usando viatura operacional, não só viatura administrativa, aquelas viaturas baú, usando viatura operacional, porque são deslocamentos, a gente conseguiu botar os donativos em trem e em navio. A gente já movimentou quase 2 mil toneladas de carga para o Sul. Então isso o cara está fazendo porque é o coração, não? O Exército é de todos.

Vocês estão com quantos homens lá?

Agora diminuiu um pouco, mas nossa média era 12 mil. Chegou um ápice de 32 mil. Em cada Comando Militar de área, tem militar nosso ajudando a Força Aérea, que aliás a Força Aérea, eu quero fazer um destaque aqui, que faz um trabalho espetacular. Franqueou as bases aéreas todas, estão voando o tempo todo. A Marinha também. A gente trabalha junto das bases aéreas para ajudar a lotear donativo.

Com essa questão dos helicópteros, vocês estão usando toda a capacidade de vocês. Vai ter helicóptero se precisar para fazer salvamento, para fazer outras coisas?

Vai, vai ter helicóptero. Até porque já estamos em processo de aquisição de 12 aeronaves Black Hawks, que estão substituindo aeronaves nossas que já foram consideradas em um fim de vida. Antes da aeronave parar de voar, a gente já está adquirindo. Além disso, nós estamos estudando a possibilidade de aumentar o nosso número de helicópteros. E isso é uma questão que ainda não foi discutida com o Estado-Maior, mas eu acho que é uma questão importante, porque isso está se mostrando cada vez mais necessário para que a gente possa atender melhor as missões funcionais do Exército brasileiro.

Agora, essa questão do orçamento, como é que está isso?

Está ruim para o Brasil inteiro, está difícil. Essa questão orçamentária é uma questão que, quando há uma restrição orçamentária grande, isso afeta principalmente os projetos estratégicos. São projetos que necessitam de previsibilidade. Por isso você tem uma PEC que está tentando dar previsibilidade aos nossos projetos de defesa.

Obviamente que isso tem que ser discutido no Congresso Nacional. Mas é uma preocupação e toda vez que a gente conversa com o presidente, o presidente tem essa preocupação também. Porque o investimento em defesa é um investimento também que o retorno é importante para o país como um todo. Você investir na indústria de defesa com possibilidade de exportar material de emprego militar, isso gera divisas para o país. Você tem muitas coisas são duais. Aumenta a tua capacidade de investimento em ciência e tecnologia. Você produz. E, às vezes, muitas coisas que acontecem no mundo corporativo, no mundo industrial, ele provém de Pesquisas em áreas de defesa e gera emprego, o que é fundamental.

Mas vai ter dinheiro este ano ou vai ser como foi outros anos? Tem dinheiro para a luz?

A gente tem tido bloqueios (orçamentários) em alguns corpos, mas, via de regra, o ministro atua muito e o presidente tem interesse em resolver esse problema. Já tem acontecido tratativas, porque não acredito que a gente vai chegar nesse nível de cortar expediente, cortar luz. Não acredito que isso daí vai acontecer, porque a gente se antecipa o tempo todo. É um trabalho sério. Para você ter uma ideia, a questão de alimentação e fardamento, essa já é despesa obrigatória, não é mais despesa discricionária. Agora, despesa discricionária, está havendo um empenho pessoal do ministro nessa temática. E a gente também já teve com o presidente, já falou, estamos nos aproximando da área econômica. A nossa expectativa é de que isso seja resolvido, para que a gente tenha condição de continuar cumprindo e atendendo bem as missões funcionárias do Brasil.

O Exército não é a primeira vez que passa dificuldades, corta orçamento, fica sem dinheiro. Em compensação, por exemplo, a Justiça, outros setores, não falta dinheiro…

Eu não acho que a gente vá resolver qualquer problema orçamentário brigando para tirar orçamento de outros locais que precisam de orçamento também. Eu acho que esse problema orçamentário tem que ser resolvido de maneira macro. Agora, dentro do escopo de orçamento, tem tudo, inclusive, a questão salarial. Que é uma questão que está congelada, de certa forma, desde 2019, quando você teve a restituição da carreira. Então, você pega de 2019 para 2024, já passou cinco anos. O que em tese você teria tido de correção, já foi corroído pela inflação. A nossa expectativa também é de que isso possa ser revisitado e ser corrigido quando houver um olhar do governo para toda a categoria de funcionários públicos, por exemplo. Eu acho que há espaço para isso.

Mas, por enquanto, não há perspectiva, né?

Não, isso aí já foi levado para o ministro e para o presidente.

E o que você achou daquela frase do ministro do TCU que disse que tinha que começar pelas aposentadorias dos militares?

Com todo respeito, eu discordo, porque eu acredito que a gente é o contrário. Sempre, desde 2001, temos sido afetados com a perda de direitos. E o que, às vezes, é difícil das pessoas entenderem é que a profissão militar tem peculiaridades que impedem a pessoa de auferir um salário médio que permita uma aposentadoria tranquila. Formação de patrimônio. Geralmente, a pessoa fica com restrições pela carreira.

Você vê agora, para você ter possibilidade de ter uma força militar agora no Sul, eu não pago hora extra, eu não pago adicional noturno, eu não pago adicional de periculosidade. Um militar da Marinha, quando faz uma travessia, ele fica três meses, quatro meses no mar, longe da família e tudo mais, 24 horas, tempo todo, sábado, domingo. Então, essas condições, elas denotam que a pessoa que trabalhou 35 anos, se agora é o tempo, ela, na verdade, já trabalhou muito mais tempo. Então, a consequência, ele não vai para a reserva, ele não se aposenta, ele fica na reserva por um tempo, a consequência é ele ter uma condição normal de proteção social que permita que ela tenha uma vida digna e isso daí dá um contrabalanço na carreira militar. O militar não tem aposentadoria, não se aposenta. Não é um regime previdenciário.

E as outras operações? Os Yanomami dizem que o Exército abandonou eles.

Não é verdade. Nunca foi, nunca aconteceu isso. É o contrário. O Exército é uma instituição que sempre esteve lá presente. Não é de hoje. O que acontece é que é um problema crônico. E esse problema crônico a gente não resolve procurando culpado. A gente resolve buscando solução. O que a gente tem feito? Desde o começo, ainda quando teve a primeira visita presidencial ali, foi um esforço conjunto, coordenado, para proteger as comunidades indígenas. Só de cesta básica já foram 51 mil. Foi a maior operação de lançamento de carga que aconteceu na América Latina. Sem contar o ilícito transfronteiriço.

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão

Comandante Geral Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, durante entrevista para o Estadão em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão© Fornecido por Estadão

O que está acontecendo agora? O pessoal já destruiu 31 balsas, 107 geradores, motores, antenas, 11 aeronaves já foram destruídas. Então, isso está em conjunto, porque são operações diferentes. Uma é para proteger os povos originários e outra é para impedir a mineração ilegal. Porque elas se comunicam, elas se comunicam. Mas o que acontece é que as pessoas não conhecem muito bem a área. Você só consegue fazer as operações usando helicóptero. E as operações são interagência. Todas as agências trabalham e todas as agências fazem o máximo. A Funai, o Ibama, todo mundo trabalha.

Quando a gente entrega cesta, como a gente entregou cesta, agora não estamos mais entregando cesta. Agora, a gente está trabalhando na atuação na área de fronteira. Mas quando a gente entrega cesta, nós nunca entregamos cesta sem que a Funai dissesse aonde é para entregar. Aonde é para entregar. Agora, nós estamos permanentemente na área com os militares que moram em locais afastados, como Surucucu e Auaris. Então, agora a gente tem mais duas bases.

A Venezuela está se movimentando. Parece que os argentinos querem uma base em Ushuaia com os Estados Unidos. O Brasil se sente incomodado com esses movimentos?

São questões que mexem com a geopolítica da América do Sul. Inicialmente, elas têm que ser tratadas no âmbito do Ministério das Relações Exteriores. Obviamente, nós não temos problema de segurança e defesa com nenhum vizinho na América do Sul. Não temos problema de segurança e defesa. Eu acho que o interesse maior é a gente seguir os nossos princípios de política externa e de relacionamento internacional. Que é você ter um continente seguro, um continente livre de conflitos, um continente que respeita a determinação dos povos, que respeita o direito internacional e que se relaciona com todo mundo sem gerência de gente de fora. Acho que é a melhor solução para nós.

Você foi visitar aqueles militares presos, não foi? Você acha que isso pode trazer uma mensagem negativa para a tropa?

Não, de jeito nenhum. Pelo contrário. Eu acho que isso daí tem que trazer uma mensagem positiva para a tropa. Eu acho que é obrigação do comandante, em qualquer nível, do comandante de unidade, visitar os militares da sua unidade que estão presos, certo? E os militares da sua unidade que estão baixados, que estão em hospital. Eu acho que é uma obrigação disso. É assim que eu aprendi nas escolas militares. Isso eu procuro fazer até como comandante do Exército. Eu acho que essa é a minha obrigação. Não é só aqui, em Brasília. Eu tendo oportunidade, eu vou a São Paulo. Eu vou na unidade prisional. Geralmente, estou na guarnição, tenho unidade prisional. Geralmente, não é preso disciplinar. É preso e à disposição da Justiça. E aí eu visito quem foi preso.

Tem três perguntas básicas que o cara tem que saber. Três perguntas básicas. Se o camarada está assistido, se ele tem advogado, se ele não tiver advogado, comandante tem que providenciar para que ele tenha acesso a um defensor público, alguma coisa nesse sentido. A gente tem que perguntar se o cara está bem de saúde, se ele está rígido, se está recebendo tratamento penal, já que ele está em um estabelecimento penal militar adequado. Se a lei de execução carcerária está sendo adequada, está sendo correta. É uma oficialização que, embora o Ministério Público Militar faça, embora isso seja um tema da Justiça, mas o comandante é o guardião disso. E a terceira coisa é que tem que se preocupar com a família do cara. Se a família está assistida, se tem alguma necessidade de apoio, então isso daqui é obrigação do comandante, de qualquer comandante.

Eu visito soldado, cabo, sargento. Muitos deles com prisão preventiva, Lei Maria da Penha… Eu não entro no mérito. Agora, quando o camarada comete, inclusive, muitas vezes, há um delito que é um delito demeritório. E esse camarada, mesmo sendo preso, a gente pode tentar acelerar pra ver se há alguma possibilidade de ele ser excluído. Mas o dever nosso é de fazer um acompanhamento. Ver se o capelão está indo lá, se o camarada está indo lá. Eu acho que é uma obrigação nossa.

Qual é a perspectiva com esses que estão citados nos inquéritos?

Essas gestões estão no âmbito da Justiça. Estão no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Isso foi tratado em fevereiro. Eu assumi em 26 de janeiro. Em uma ou duas semanas, isso foi tratado. E foi definido que todos esses processos que envolviam essas questões do 8 de janeiro seriam transferidos para o Supremo Tribunal Federal. Todo mundo transferiu. Eu não sou o responsável por isso. Tinha processo que era da Justiça Militar, Ministério Público Militar, todo mundo enviou. Ninguém falou nada. O Supremo Tribunal Federal definiu. Desde então, tudo que corre, corre em segredo de Justiça, muitas vezes, e está sendo avaliado pelo Supremo Tribunal Federal. Esses inquéritos estão na fase de inquéritos. Eles vão terminar. Não tem mais nenhum militar preso cautelarmente. Não tenho mais. Esses processos, eles vão ser finalizados, esses inquéritos vão ter relatórios finais, vão ser enviados para a Justiça. Da Justiça vão ser encaminhados para o Ministério Público, procurador-geral da República. Procurador-geral da República vai definir se ele denuncia ou se ele pede arquivamento. Aí, depois, caso denunciado, as pessoas vão a julgamento e, depois de julgadas, as consequências administrativas aqui virão. Depois do trânsito julgado, as consequências administrativas aqui virão. Isso é o que está previsto nos nossos estatutos, regulamentos, é o que está previsto.

Quer dizer alguém ser expulso…

Depois de terminar o processo. Você pode até ter tido medida administrativa que foi fruto do trâmite do inquérito. Por exemplo, quando houve medida cautelar, eu determino que tal fulano seja afastado das suas atividades. Mas foi cumprido. Todas as medidas da Justiça foram cumpridas.

O 8 de janeiro já acabou? Você diria que já acabou essa coisa de politização do Exército?

Olha, eu diria para você que o Exército brasileiro está comprometido com o cumprimento da missão constitucional. Isso que eu posso falar para você com tranquilidade. As consequências do que aconteceu no passado, elas vão seguir o trâmite normal e elas vão acabar quando acabarem todas as investigações, todas as diligências necessárias para que essas coisas sejam colocadas às claras. Eu acho que isso daí também vai acontecer. À medida que o tempo vai passando e as coisas vão evoluindo, a gente mesmo tem interesse em que isto se encerre. Para que isto, o que ficou para trás, seja superado.

A gente tem interesse em que isto seja definido e resolvido o quanto antes. Eu acho que é isso. O Exército não está politizado. A instituição não. Eu defendo isso. Agora, o fato de você ter pessoas da reserva que se manifestam politicamente, o regulamento faculta. Ele pode se manifestar politicamente. Não tem problema. Ele não pode ferir a disciplina. Agora, na ativa, não ocorre. Se ocorrer, o cara errou. E se o cara errou, o cara vai ser sancionado.

Você falou que os inquéritos vão terminar, mas está demorando muito isso, não está?

Mas aí é com a Justiça, Polícia Federal, (o Exército) não pode interferir. Isso aí é no ritmo deles.

Mas na vida de vocês, isso não interfere?

Interfere na medida que você tem que tomar providências. A tropa está comprometida com a missão. E a tropa está muito comprometida com a missão, que são muitas missões. O pessoal está vendo. Acabou de tratar de três missões aqui. Grandes missões. Não só a tropa do Sul, o Exército inteiro está comprometido com o Sul. O Exército inteiro está comprometido com o Norte. O Exército inteiro estava comprometido com a Ágata, fronteira oeste. No centro-oeste. O que não está dando é para o camarada ter tempo para ficar pensando em outras coisas que não sejam missão constitucional. Mas existem ainda outras 52 missões no Brasil inteiro. Eu acho que nesse aspecto está indo bem focado.

Você foi ontem para o Rio Grande do Sul. O que você sentiu a primeira vez que você foi?

A primeira vez que eu fui foi quando começou a emergência. Como eu morei lá, eu fiquei muito preocupado, porque eu nunca vi tanta chuva junto. Foi quando imediatamente foi definida a criação do Comando Conjunto. Foi nomeado Comandante Conjunto. Foi solicitada a ajuda pelo governador e ali começou esse desastre, que foi um desastre de grandes proporções. Ele pode não ter sido o maior desastre em termos de vítima. Foi o maior desastre em termos de afetar a vida das pessoas. Eu acho que a resposta que está se dando é uma resposta à altura do tamanho do desastre. Para tentar mitigar o problema. E aí, dentro desse sistema, que a gente está colocando o máximo de pessoas empregadas lá, o tempo todo.

Você deve ter ficado chocado com toda aquela água…

Muito. Porque afetou a vida das pessoas. Você vê, nós tivemos no momento de pico quase 80 mil pessoas em abrigo. Agora está diminuindo. As pessoas estão tentando voltar para casa. Mas ainda ontem a gente percorreu áreas onde as casas foram totalmente destruídas. Casas de alvenaria, casas de parede dupla. Foram ameaçadas. Você tem pessoas que perderam tudo. Perderam a história da vida. Perderam documentos. Tem gente que perdeu a vida. Família inteira. Você se solidariza e o mínimo que você pode fazer é fazer o máximo para poder ajudar essas pessoas a retomar alguma coisa. Eu tenho tropa nossa ajudando a limpar, ajudando a restaurar passagem porque as pessoas foram afetadas pela interrupção de passagem. Eu tenho tropa nossa ajudando a entregar donativo. Isso e outra coisa. Eu tenho tropa que permanece. Essa é a grande diferença. A nossa tropa tem permanência. Eu tenho hospital de campanha que está complementando a saúde pública porque teve hospital que foi inundado. Teve UPA que foi inundada. Eu acho que a gente está trabalhando bem lá no sentido de melhorar a situação. (Colaborou Heitor Mazzoco)

ANISTIA POLÍTICA AOS ENVOLVIDOS NO 8/1 PARA PACIFICAR O PAÍS

 

História de THAÍSA OLIVEIRA E JOSÉ MARQUES – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), defende a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 como forma de reconciliação do país e diz que a maturidade da pauta será definida pela “conjuntura”.

Marinho afirma que as eleições municipais, em outubro, vão apontar os rumos da política no Congresso Nacional ao indicar se o resultado geral foi mais favorável ao PT ou ao PL -e diz que ainda é cedo para tratar da sucessão nas Casas.

“Para nós isso [anistia] é uma questão que independe de quem vai ser o próximo presidente do Congresso ou da Câmara. É um sentimento de que é necessário reconciliar o país”, afirma o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) à Folha de S.Paulo.

O senador também pede “autocontenção” do Judiciário e diz que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), causa incômodo ao comandar processos em que também é vítima.

ATUAÇÃO DE RODRIGO PACHECO JUNTO AO TSE

O presidente do Congresso precisa defender as prerrogativas dos senadores. Uma delas, talvez a mais importante, é a inviolabilidade do mandato parlamentar. Situações que significam que há um relacionamento institucional entre os Poderes são absolutamente desejáveis. Até porque se pressupõe que deve haver harmonia, não beligerância. Se isso de fato aconteceu [Rodrigo Pacheco conversou com Moraes sobre os processos contra os senadores Sergio Moro e Jorge Seif], é claro que ela é benéfica dentro do que pressupõe a Constituição e a legislação.

ABSOLVIÇÃO DE SERGIO MORO

Eu acredito que o TSE votou de acordo com o que preceitua a lei, e não de acordo com a conveniência política. Acho que ajuda [a oposição a respirar aliviada] no sentido de que a justiça foi restabelecida. De que ele teve um julgamento, ao que me parece, justo, porque até está em ressonância com o que foi julgado no TRE-PR [Tribunal Regional Eleitoral do Paraná]. O que nós esperamos do TSE é que os julgamentos sejam sempre de acordo com a lei e não com o espectro ideológico de quem quer que seja.

ATUAÇÃO DE ALEXANDRE DE MORAES

Eu não posso fazer essa avaliação [sobre mudança de postura], porque uma série de processos que estão sob a égide do ministro estão em segredo de Justiça. Não tenho como avaliar o conjunto da obra. O que eu posso dizer é que, de maneira geral, nos incomoda muito que um juiz presida um inquérito em que ele mesmo se diz vítima. Para nós, causa espécie que ele não tenha renunciado a essa ação da Tempus Veritatis [que mirou Bolsonaro e militares por envolvimento com o 8/1], na qual ele deu a entrevista [ao O Globo] dizendo que, caso tivesse êxito esse pretenso golpe, ele seria enforcado ou coisa parecida.

Recentemente, nós assistimos a um episódio também em que ele mandou prender dois cidadãos que teriam feito ameaças a ele e sua família. Abriu mão de uma parte do inquérito e preservou a outra. Uma inovação do ponto de vista jurídico. E a gente está vendo, realmente, muitas inovações nesse sentido, que nos causam espanto.

Todo mundo pode ser investigado, julgado, processado. Agora, o que não dá é para uns estarem mais acima da lei do que outros, ou mais protegidos pela lei do que os outros. Isso desequilibra a democracia e precisa, de alguma maneira, de autocontenção. Os tribunais, mais do que nunca, estão precisando fazer autocontenção.

RELAÇÃO ENTRE PODERES

Eu espero que haja distensão e que se volte à normalidade democrática, porque não há nada mais complicado do que você não ter previsibilidade. Hoje, você vê uma série de ministros falando sobre política, dando opinião. Se eles opinam sobre política, é normal que alguém não se sinta confortável sobre o que está sendo dito e queira emitir opinião diferente. É possível contraditar a visão de mundo que um magistrado tem, sem risco de ser retaliado?

Precisamos respirar normalidade. Nós precisamos respirar, de novo, um clima em que as pessoas se sintam confortáveis para opinar. Caso cometam excessos, ou seja, ultrapassem limites no sentido de caluniar, difamar, injuriar, desinformar, nós já temos a legislação para coibir esse tipo de situação. Não vejo necessidade de se criar, por exemplo, ministérios da verdade regidos por um governo de ocasião.

TENTATIVA DE GOLPE

Prefiro não entrar no mérito, porque esses processos ainda vão ser colocados à luz do dia. Você tem fragmentos, tem vazamentos seletivos. Prefiro aguardar que as coisas fiquem claras. É uma depredação que deve ser combatida. Quem depredou tem que ter realmente imposta a pena adequada, não de 17 anos. Isso é linkado como se fosse a consequência de um golpe, me parece inverossímil.

ANISTIA A ENVOLVIDOS NO 8/1

Tenho visto algumas vozes da imprensa absolutamente escandalizadas com a hipótese de uma anistia de reconciliação do país. Metade da população brasileira está dizendo que não aprova a maneira como o presidente da República está se comportando [a pesquisa Quaest de maio indicou que a avaliação do governo é 33% positiva, 33% negativa e 31% regular. O trabalho de Lula teve 50% de aprovação e 47% de reprovação]. Isso claramente é em função do fato de que ele só olha pelo retrovisor. Os discursos são sempre no sentido de dividir. Está se aprofundando um fosso nesse país que não interessa a ninguém.

Para nós isso é uma questão que independe de quem vai ser o próximo presidente do Congresso ou da Câmara. É um sentimento de que é necessário reconciliar o país. Se está maduro ou não o processo de anistia, quem vai dizer é a própria conjuntura, a própria circunstância. Eu estou dizendo a você que eu sempre defendi, e que é uma característica do Brasil, não tem nada de extraordinário. Dilma Rousseff, por exemplo, foi anistiada.

ELEIÇÕES NO CONGRESSO

Eu acredito que o momento de falarmos a respeito da sucessão do Senado e da Câmara é após as eleições. Porque o próprio quadro político que vai emergir das urnas vai apontar rumos para os atores políticos envolvidos no processo. Temos partidos que estão no centro do espectro político e que são importantes para definir a candidatura. E existem os dois lados que são antagônicos, o PT e o PL. Essa situação pendular dos partidos vai se definir com maior clareza a partir de meados de outubro. Isso foi o que nós combinamos [no PL], de só nos debruçarmos sobre o tema após as eleições.

Para mim, o mais importante para quem quer ser o presidente [do Senado] é a defesa das prerrogativas do parlamento. O próximo presidente, se tiver esse viés, será muito bem-vindo. É isso o que a gente defende aqui. Alguém que respeite a independência dos Poderes, que defenda as prioridades do parlamento, a democracia e a liberdade.

ARTICULAÇÃO DO GOVERNO

No que tange a aumentar a carga de impostos contra o cidadão brasileiro, via de regra [o governo] tem tido êxito até agora, mas parece que isso exauriu. Por outro lado, nas mudanças estruturais de atacar o legado que foi feito nos últimos seis anos, ele não tem tido sucesso.

Na pauta ligada a como pensa o brasileiro, na questão da segurança pública e até da saúde pública, o governo tem muitas dificuldades de passar a sua pauta. O sentimento aqui no Congresso é completamente contrário e afinado com o sentimento do brasileiro comum.

No caso da Lei de Segurança Nacional, não acho que foi vitória da oposição, foi vitória da sociedade brasileira. A oposição majoritariamente votou pela manutenção do veto do presidente Bolsonaro, mas teve a adesão de parte substancial do Congresso que não se caracteriza como oposição, mas que está afinada com o sentimento da sociedade. O veto do presidente da saidinha foi derrubado pelo mesmo motivo.

RAIO-X

Rogério Marinho, 60

É senador pelo PL e líder da oposição no Senado. Foi ministro do Desenvolvimento Regional e secretário especial de Previdência e Trabalho no governo de Jair Bolsonaro. Deputado federal entre 2007 e 2019, foi um dos principais articuladores da reforma da Previdência e relator da reforma Trabalhista na Câmara.

A DIFÍCL VIDA POLÍTICA DO GOVERNADOR DE S. PAULO

História de Notas & Informações – Jornal Estadão

No crispado ambiente político nacional, com um debate público contaminado por radicalização, intolerância e polarização, que converte adversários em inimigos, parece especialmente difícil a vida do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que tenta agradar a seu padrinho Jair Bolsonaro ao mesmo tempo que procura se apresentar como moderado e democrata.

Trata-se obviamente de uma impossibilidade, porque Bolsonaro é um orgulhoso liberticida e costuma jogar ao mar quem ousa reivindicar o apoio de seus devotos enquanto respeita instituições e adversários. Os recentes ataques que Tarcísio sofreu do pastor Silas Malafaia só reafirmaram o tamanho do desafio para o governador.

Tanto por comandar São Paulo quanto por se credenciar como substituto de Bolsonaro, Tarcísio precisa se equilibrar entre um campo que busca alternativas concretas de gestão e outro que prefere espalhar brasas onde já existe muito fogo. É esse o caso de Malafaia, que, na condição de profeta do bolsonarismo, é responsável pela revelação dos desígnios de Bolsonaro.

À imprensa, em diferentes entrevistas, o pastor disse desconfiar que Tarcísio atua nos bastidores para que Bolsonaro continue inelegível – e, assim, possa disputar a Presidência em 2026. Cobrou-lhe falas mais duras contra a inelegibilidade do ex-presidente. Também o criticou por manter diálogo produtivo com desafetos figadais do bolsonarismo, como o presidente Lula da Silva, os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Em Kassab, aliás, disse o pastor, Tarcísio deveria “dar uma prensa”, pois o secretário de Governo de São Paulo, auxiliar e mentor político do governador, é visto pelos bolsonaristas mais empedernidos como um forte aliado de Lula. Malafaia avisou: “Quem é amigo do meu inimigo meu amigo não é”.

Qualquer liderança da direita que se insinue como herdeira dos votos de Bolsonaro, como Tarcísio ou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é desde logo considerada traidora pelo entorno do ex-presidente, que ainda nutre a esperança de reverter sua inelegibilidade e de se candidatar na eleição presidencial de 2026. A família de Bolsonaro deixou clara sua fúria contra os que tratam Bolsonaro não como potencial candidato, mas como um “movimento”, como aliás disse Tarcísio em comício recente. Carlos Bolsonaro, em seu dialeto peculiar, exortou seus seguidores nas redes sociais a “desconfiar” de quem “exclui a possibilidade de Jair Bolsonaro de concorrer à futura disputa eleitoral” e “usa a imagem do presidente”. Segundo ele, trata-se de um movimento “oportunista”, que “tem a intenção de visivelmente enfraquecer o capitão”. Já a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro deu entrevista ao site bolsonarista Pleno News advertindo os “precoces” de que “o Jair está mais ativo do que nunca” e de que “nós estamos trabalhando para reverter as injustiças que ele vem sofrendo, e eu acredito que ele será o nosso próximo presidente”.

É esse o desafio de uma direita que precisa ser uma espécie de “bolsonarismo sem Bolsonaro”. Para o bem do País, deveria optar pela ideia liberal, republicana e democrática, enquanto galvaniza o espírito do antipetismo ou do desencanto com os rumos tomados pelo atual governo – que, eleito com o adorno da frente ampla e do horizonte de reconstrução e pacificação do País, segue sem cumprir tal promessa. A tarefa de Tarcísio hoje é virtualmente impossível: se, de um lado, é preciso conquistar os eleitores de centro com demonstrações de respeito às regras da democracia, aceitação dos resultados das urnas e repúdio ao uso da violência, por outro lado, muitos acreditam que, para ter viabilidade eleitoral, é preciso rezar o credo de uma seita cujo evangelho enaltece o vale-tudo, a intolerância e o golpismo.

Eis aí a quadratura do círculo que o governador paulista pretende solucionar.l

 

COMENTÁRIOS SOBRE A TAXAÇÃO DE COMPRAS NO EXTERIOR DE 50 DÓLARES

Faustino da Rosa Junior, advogado especialista em direito digital.

O governo brasileiro deve retirar a isenção das compras internacionais abaixo de 50 dólares.

Na última quarta-feira (5), o Senado Federal do Brasil tomou uma decisão que reverberou através das esferas econômicas e sociais do país. Por meio de uma votação simbólica, foi aprovada a incidência de 20% de imposto sobre compras internacionais de pessoas físicas abaixo de 50 dólares. Esta operação, até então isenta de tributação e informalmente denominada “taxa das blusinhas”, foi inserida no contexto do Projeto de Lei 914/2024. Este projeto, que visa estabelecer o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), tem como objetivo fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções tecnológicas sustentáveis e a produção de veículos de baixa emissão de gases do efeito estufa, além de propor incentivos financeiros de R$ 19,3 bilhões ao longo de cinco anos e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

“Essa medida, embora pareça um avanço na proteção da indústria nacional, na verdade mascara uma série de interesses conflitantes que desafiam a integridade do nosso sistema econômico”, afirma o Dr. Faustino da Rosa Junior, advogado especialista em direito digital.

A inclusão do imposto sobre as compras internacionais foi uma manobra política apelidada de “jabuti”, introduzida inicialmente pela Câmara dos Deputados e aprovada em abril, após um acordo entre o presidente da Câmara e o presidente da República. Entretanto, durante a tramitação no Senado, parte do texto não foi incluída pelo relator, gerando uma tensão política que culminou na apresentação de um destaque pelas lideranças do governo, solicitando a votação separada do trecho em questão. O texto sofreu algumas alterações no Senado, motivadas pela votação, resultando na necessidade de uma nova apreciação por parte da Câmara dos Deputados.

“O que presenciamos é um jogo de poder que negligencia as verdadeiras necessidades dos cidadãos brasileiros, especialmente os de menor renda”, comenta o Dr. Faustino.

A aprovação da taxa sobre as compras internacionais atendeu parcialmente à pressão do setor produtivo nacional, que alega perda de competitividade frente aos gigantes do e-commerce internacional. Inicialmente, discutia-se o fim da isenção para compras abaixo de 50 dólares, o que poderia ser feito por decreto, equiparando essa operação à situação geral de outras importações, que incide uma alíquota de 60%. O impasse político, no entanto, resultou na cobrança de 20%.

Durante a tramitação no Senado, o projeto do Mover sofreu outras modificações, incluindo a retirada de dois “jabutis” pelo relator: um que tratava de regras de conteúdo local para a indústria de óleo e gás e outro que concedia incentivos fiscais para a produção de bicicletas. Com as alterações, o texto precisará passar por nova apreciação na Câmara dos Deputados.

“A elevação dos impostos sobre compras internacionais reflete uma demanda antiga dos empresários brasileiros, que, paradoxalmente, criticam a concorrência dos produtos chineses enquanto revendem esses mesmos produtos a preços elevados”, observa o Dr. Faustino.

Em agosto de 2023, o governo federal isentou essas compras do Imposto de Importação de 60% no âmbito do programa Remessa Conforme. Atualmente, para empresas participantes do programa, os compradores pagam apenas 17% de ICMS. Com a nova taxação, os compradores terão que pagar mais 20% para importar mercadorias de até 50 dólares.

“Os mais prejudicados serão as classes mais baixas, que terão menos acesso a produtos vendidos no exterior. A decisão do governo desestimula o investimento internacional no país, deixando o Brasil com uma das maiores alíquotas para compras internacionais do mundo,” alerta o Dr. Faustino.

Há também preocupação dos varejistas com os impactos da chegada ao país da TEMU, maior marketplace do mundo. A hipocrisia antidemocrática vai além das mudanças e da má fé dos grandes varejistas nacionais que buscam monopolizar o consumo. O limite de compras no exterior é de US$1.000,00, enquanto os mais pobres precisarão pagar impostos por compras de até cinquenta dólares.

“O governo e os empresários deveriam criar um ambiente favorável à reindustrialização nacional em condições competitivas com o mercado internacional, em vez de adotar um protecionismo antidemocrático do consumo”, conclui o Dr. Faustino.

 

PASSEIO DE LULA NA EUROPA NA SEMANA DO DIA DOS NAMORADOS

 

História de Jean Araújo – Jornal Estadão

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou, nesta sexta-feira, 7, a ida do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Europa na próxima semana. Em uma publicação feita na rede social X (antigo Twitter), ele escreve:

“Lula não veio para governar para e pelo povo, veio para governar em prol de si mesmo. Para ele, o mais importante é o próximo voo e não o que o povo precisa”.

No vídeo da postagem, que contem 12 segundos e apenas uma imagem, há a manchete da matéria publicada nesta quinta-feira, 6, pelo Estadão que revela que o Governo cortou R$ 5,7 bilhões em despesas não obrigatórias no Orçamento neste ano, o que atingiu Farmácia Popular, Auxílio Gás, Polícia Federal, Exército e obras em rodovias. Logo após, há uma manchete do jornal ‘O Antagonista’ que fala que “Lula vai passar a semana dos namorados na Suíça e Itália”.

“Sem picanha, sem remédio, sem gás! Agora, para viajar não pode faltar!”, conclui Flávio Bolsonaro na postagem relacionando as duas matérias.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Foto: Wilton Junior/Estadão

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Foto: Wilton Junior/Estadão© Fornecido por Estadão

O ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL) também compartilhou uma publicação em que fala da ida do atual presidente à Europa. Na legenda, ele escreve “O amor está inabalável”.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, Lula participará da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em GenebraSuíça. Prevista para dia os dias 13, 14 e 15 de junho, o evento faz parte da Cúpula do G7.

A IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS E RESPONSÁVEIS NO MUNDO DOS NEGÓCIOS

 

Pedro Coube – Especialista em melhores práticas produtivas e trainer da Interhunter Academy

A importância das práticas sustentáveis e responsáveis no mundo dos negócios está cada vez mais evidente. Comprometer-se com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) não só demonstra responsabilidade social, como também pode impulsionar o sucesso financeiro a longo prazo.

“O ESG é uma evolução da sustentabilidade. Desdobrando a sigla, entendo que cada dimensão pode ser acompanhada de mais uma palavra: cuidado ambiental, responsabilidade social e ética nos negócios (governança corporativa)”, explica Pedro Coube, especialista em melhores práticas produtivas e trainer da Interhunter Academy.

Segundo ele, uma empresa que se compromete com a estratégia ESG deve ser ética, transparente e preocupada com o bem-estar de seus colaboradores. Além disso, tem uma genuína intenção de mitigar os danos causados ao meio ambiente e buscará fontes limpas de energia.

Por que se comprometer com esses aspectos

Coube menciona a Pesquisa Accenture, que ouviu 1.000 CEOs de 22 setores em 99 países sobre sustentabilidade: 71% acreditam que, em 5 anos, a sustentabilidade resultará em valorização da marca; 57% não têm dúvida que desdobrará em crescimento da receita; 52% enxergam maior impacto na mitigação de risco e 51% esperam redução de custo de operação.

Este movimento é apoiado pelas novas gerações de consumidores, que estão cada vez mais exigentes quanto à sustentabilidade. “O ESG representa ganho de competitividade e credibilidade com todos os públicos”, ressalta.

O especialista lista 10 razões para se comprometer com ESG:

1) É uma forma de qualificar a empresa por outros parâmetros que não o seu desempenho financeiro;

2) Geração de valor por meio do controle dos riscos de externalidades ambientais, sociais e de governança;

3) O ESG se distingue da simples noção de Sustentabilidade pela amplitude, o rigor e o impacto;

4) As empresas atrativas ao investimento são as que usam os recursos naturais de maneira equilibrada, que promovem os direitos humanos na cadeia de valor e impedem a corrupção;

5) Ser sustentável é a nova exigência nos negócios;

6) O propósito deve vir antes do lucro;

7) As pessoas esperam se relacionar com organizações que demonstrem cuidado, escuta afetiva, respeito às diferenças e preocupação genuína com o seu bem-estar;

8) É necessário investir em tecnologias disruptivas e em modelos de negócios que gerem impacto positivo para o meio ambiente e para as comunidades;

9) As empresas e os empreendedores precisarão adotar energias renováveis, promover a energia circular, preservar as florestas, regenerar ambientes degradados e respeitar a diversidade;

10) Os novos líderes serão mais empáticos, cuidadores e inclusivos e é o que se espera no ESG.

Veja 3 passos para começar a praticar em sua empresa:

1.   Conscientize a alta gestão e todos os que ainda não se convenceram da importância do ESG;

2.   Faça uma avaliação profunda e rigorosa de quais compromissos a organização possui nas dimensões ambiental, social e governança;

3.   Inicie um plano de ação e preencha os “gaps” constatados.

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A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

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  • No país, as lojas online, que também contam com lojas físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
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sexta-feira, 7 de junho de 2024

PROPOSTA DO GOVERNO DE RESTRINGIR O USO DE CRÉDITOS DE PIS/COFINS DESAGRADA EMPRESÁRIOS

História de ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A proposta da equipe econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de restringir o uso de créditos de PIS/Cofins azedou o ânimo dos empresários com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mais do que provocar queixas sobre prejuízos aos mais diversos setores da economia, que já são estimados em bilhões de reais, a proposta é avaliada como uma demonstração de que o governo está disposto a tirar dinheiro de onde puder para não cortar gastos.

A limitação dos créditos tributários está prevista na MP (Medida Provisória) 1227 como alternativa para compensar a desoneração da folha de pagamento para 17 setores. A estimativa é que possa arrecadar R$ 29,2 bilhões neste ano e mais R$ 60 bilhões no ano que vem. O texto foi publicado na terça-feira (4) no Diário Oficial e já está valendo (leia abaixo o que mudou).

A Receita Federal batizou o texto de MP do equilíbrio fiscal. Nesta quinta-feira (6), a Coalizão das Frentes Parlamentares pediu que ela seja rejeitada, qualificando a proposta de MP do fim do mundo. Senadores já se posicionaram contra, e é esperada forte reação no Congresso, com apoio de segmentos empresariais, o que é interpretado como perda de apoio político do setor empresarial ao governo Lula.

Se não houver solução legislativa, a discussão tende a alimentar uma batalha judicial. O tema, por exemplo, mobilizou integrantes da Fiesp nesta quinta. Segundo o diretor jurídico, Flávio Unes, a entidade decidiu que vai apoiar questionamentos judiciais que venham a ser feitos no STF (Supremo Tribunal Federal) e orientou as associadas a reivindicarem seus direitos na Justiça se entenderem que seja necessário.

Praticamente todos os setores que compõem a base produtiva da economia nacional são afetados pela MP. Já ocorreram manifestações de entidades ligadas à indústria de forma geral e segmentos em particular, como óleo e gás, biocombustíveis, mineração, agronegócio.

Como os créditos são utilizados especialmente por exportadores, a limitação afeta inclusive a dinâmica financeira dos embarques internacionais e a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Já se fala em risco para embarques. Os compromissos assumidos estão mantidos, mas as tradings já estão refazendo as contas para negociações futuras, uma vez que o produto ficará mais caro.

A Abrasca, que representa mais de 450 companhias de capital aberto, qualificou a MP de “erro grave”, afirmando que ameaça a reforma tributária, causa insegurança jurídica, afeta as operações das empresas e interrompe projetos de investimentos.

“O efeito nocivo dessa MP é de uma extensão nunca vista, por isso estamos presenciando um número tão grande de manifestações contrárias. Umas 80 entidades já se posicionaram, pedindo ao Congresso que faça a sua devolução”, afirma Raul Jungmann, presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), que já divulgou nota alertando para os efeitos negativos da proposta.

A principal queixa é o componente surpresa da MP. Ninguém esperava nada parecido. Não houve consulta nem sinalização da Fazenda. Nenhum porta-voz do governo se manifestou sobre a MP também. A principal aparição do ministro Haddad nesta quinta foi na foto oficial com o papa Francisco em sua visita ao Vaticano.

Alguns representantes da iniciativa privada, que preferem não ter o nome citado, afirmam que o ambiente é de revolta. Alguns qualificam a proposta como calote e confisco, pois o crédito tributário é considerado um direito em inúmeros segmentos. Alguns falam que é preciso pôr o pé na porta, com manifestações contundentes, para mostrar que tudo tem limite.

Frase recorrente é que o “governo dá com uma mão e toma com a outra”, numa alusão ao trabalho do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) pela neoindustrialização, de um lado, e a busca desenfreada por arrecadação via Ministério da Fazenda.

“A repercussão no setor industrial é muito grande, e o clima é de indignação”, disse à Folha Mário Sérgio Telles, superintendente de economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Na quarta, o presidente da entidade, Ricardo Alban, deixou a comitiva oficial do governo brasileiro em visita à Arábia Saudita e à China e retornou ao Brasil para tratar do tema. Ainda estava em voo até a publicação deste texto.

Telles qualifica a MP como um retrocesso. Lembra que compensação de crédito de PIS/Cofins é permitida há mais de 20 anos. O crédito referente à Previdência é uma conquista recente, de 2018, mas que foi negociada pelo setor empresarial com o governo. A própria CNI participou das discussões por dez anos.

No agronegócio, a MP fortalece o discurso da polarização do “nós contra eles”. Já se fala que a medida é o prenúncio de que Lula 3 pode acabar imitando os governos argentinos peronistas, criando medidas que prejudiquem as exportações.

Em nota nesta quinta, a Aprosoja verbalizou o sentimento registrando que o setor rural e a agroindústria receberam a MP com “grande espanto e revolta”.

“A Aprosoja Brasil e qualquer outra entidade séria prima pela implementação de ações em busca do equilíbrio fiscal. Contudo, o que vemos é a falta de um ajuste nos gastos do Governo. Pelo contrário, os gastos da máquina pública estão sempre aumentando”, afirma o texto.

“E agora, surgem ações que se assemelham às ‘retenciones’ argentinas, país que destruiu a sua cadeia agropecuária nas últimas décadas e gerou instabilidade no câmbio e inflação descontrolada como consequência deste tipo de política distorcida.”

Nesta quinta, numa demonstração de insatisfação coletiva, o IPA (Instituto Pensar Agropecuário) soltou nota subscrevendo 48 entidades para detalhar os prejuízos da MP. Entre os setores signatários estão soja, milho, café, frutas, algodão, carnes e óleo vegetal.

“Nestes primeiros dias, as empresas estão absorvendo os custos da MP, e vamos ver o que fazer no final de semana. Mas já sabemos que, para cumprir os contratos, os prejuízos são imensos”, diz Leonardo Zilio, vice-presidente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel).

A desoneração vale para 17 setores da economia. Entre eles está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

ENTENDA O QUE MUDOU

Crédito do PIS/Cofins em geral

Serão compensáveis apenas na sistemática da não cumulatividade, sem compensação com outros tributos ou cruzada, exceto com débitos do próprio PIS/Cofins. Mantém-se a possibilidade de ressarcimento em dinheiro, mediante prévia análise do direito creditório.

Crédito presumido de PIS/Cofins

Espécie de benefício fiscal concedido a empresas. Leis mais recentes já vedam o ressarcimento em dinheiro, impedindo a tributação negativa ou subvenção financeira para setores contemplados, mas em oito casos a autorização permanecia.

A MP estende a vedação ao ressarcimento para os oito casos que permaneceram e que representaram R$ 20 bilhões pleiteados em 2023. Não se altera a possibilidade de compensação na sistemática da não cumulatividade, ou seja, o direito permanece, desde que haja tributo a ser pago pelo contribuinte.

 

VÁRIOS RECADOS SOBRE O CONTROLE DAS BIG TECHS

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