terça-feira, 14 de maio de 2024

A PREFEITURA DE SP INAUGUROU O AQUÁTICO SP TRANSPORTE HIDROVIÁRIO PERCURSO PELA REPRESA BILLINGS

 

História de Isabela Moya – Jornal Estadão

Prefeitura de São Paulo inaugurou, nesta segunda-feira, 13, o Aquático SP, transporte hidroviário que liga o Terminal Parque Mar Paulista Bruno Covas, em Pedreira, até o Terminal Cantinho do Céu, ambos na zona sul da capital. O percurso pela Represa Billings tem duração de 17 minutos, enquanto por via terrestre pode levar de 40 minutos a 1 hora e 20 minutos.

O percurso pela Represa Billings tem duração de 17 minutos, enquanto por via terrestre pode levar de 40 minutos a 1 hora e 20 minutos Foto: Felipe Rau/Estadão

O percurso pela Represa Billings tem duração de 17 minutos, enquanto por via terrestre pode levar de 40 minutos a 1 hora e 20 minutos Foto: Felipe Rau/Estadão© Fornecido por Estadão

  • Até o final deste ano, o sistema estará em operação assistida, com viagens gratuitas. A partir do ano que vem, será cobrado R$ 4,40 – a mesma tarifa dos ônibus urbanos – e haverá integração com o Bilhete Único.
  • Nesta semana, as embarcações saem das 10 horas às 16 horas incluindo finais de semanas, e a expectativa é de 3.000 passageiros por dia. A partir da próxima semana, o horário será ampliado até às 17 horas. Nos próximos meses, o horário seguirá ampliando até a definição de um horário final, que não foi divulgado.

“A ideia é que a gente vá aumentando a quantidade de barcos e o horário de atendimento”, afirma o prefeito Ricardo Nunes.

“Pelo o que estou percebendo a demanda é grande, vai ajudar bastante as pessoas. A gente vai ampliando com os estudos, com a verificação se o terminal está adequado. A gente sabe que na prática sempre é necessário fazer algumas adequações”, acrescentou.

São duas embarcações coletivas em funcionamento - uma tem capacidade para 60 passageiros sentados, que levou 17 minutos no trajeto, e a outra, para 30 pessoas, cujo trajeto durou 12 minutos Foto: Felipe Rau/Estadão

São duas embarcações coletivas em funcionamento – uma tem capacidade para 60 passageiros sentados, que levou 17 minutos no trajeto, e a outra, para 30 pessoas, cujo trajeto durou 12 minutos Foto: Felipe Rau/Estadão© Fornecido por Estadão

Neste primeiro momento, são duas embarcações coletivas em funcionamento – uma tem capacidade para 60 passageiros sentados, que levou 17 minutos no trajeto, e a outra, para 30 pessoas, cujo trajeto durou 12 minutos.

Nunes afirmou que, devido à maior agilidade da embarcação menor, irá estudar a possibilidade de que a maior parte das futuras embarcações sejam para 30 passageiros. “Agora estou repensando se não é melhor termos mais barcos de 30 do que barcos de 60 passageiros”, disse.

A expectativa é de que o novo modal atenda 385 mil pessoas que vivem nos bairros do Grajaú, Cocaia e Pedreira. A partir do Terminal Parque Mar Paulista, há uma nova linha de ônibus elétricos para levar os passageiros ao Terminal Santo Amaro, um dos gargalos de trânsito, onde é possível ter acesso ao metrô, CPTM e BRTs.

A operação funcionará normalmente em dias de chuvas, exceto em casos de temporal ou neblina intensa.

A expectativa é de que o novo modal atenda 385 mil pessoas que vivem nos bairros do Grajaú, Cocaia e Pedreira. A partir do Terminal Parque Mar Paulista haverá ônibus elétricos para levar os passageiros ao Terminal Santo Amaro Foto: Felipe Rau/Estadão

A expectativa é de que o novo modal atenda 385 mil pessoas que vivem nos bairros do Grajaú, Cocaia e Pedreira. A partir do Terminal Parque Mar Paulista haverá ônibus elétricos para levar os passageiros ao Terminal Santo Amaro Foto: Felipe Rau/Estadão© Fornecido por Estadão

O sistema será operado pela Prefeitura, por meio da SPTrans, depois que a TransWolff, empresa de ônibus que seria responsável pelo novo transporte, se tornou alvo de uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que apura ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Questionamentos de ordem ambiental também afetaram a operação do modal.

Nunes afirmou, porém, que a intenção da prefeitura não é continuar com a operação do sistema hidroviário e que abrirá licitação em breve, mas que não deve voltar a ser operado pela TransWolff mesmo que o MP-SP não faça uma denúncia.

“Não temos intenção de manter a gestão de transporte, isso não é algo que está no horizonte da Prefeitura de São Paulo. a gente tem que ter foco na logística, na mobilidade da cidade e manter a cidade funcionando bem. A operação, o ideal, em questão de custo e desempenho, é da iniciativa privada”, afirmou o prefeito.

Já existem planos para expandir o transporte hidroviário em São Paulo. No trajeto entre os terminais Parque Mar Paulista e Cantinho do Céu, haverá paradas, como a do Cocaia, que Nunes afirmou que está em estágio avançado, mas não deu uma data para inauguração da parada.

A Prefeitura planeja ainda um trajeto na Represa Guarapiranga, que deve ser implementado em 2025, segundo o prefeito.

AS INDÚSTRIAS PRODUTIVAS PRECISAM DE TECNOLOGIAS QUE ENTREGUEM SOLUÇÕES E NÃO OUTROS PROBLEMAS

Marcelo Lonzetti, Diretor da ztrax e especialista em tecnologia RTLS

Em um mercado cada vez mais competitivo, as indústrias precisam buscar soluções que otimizem seus processos e garantam a qualidade dos produtos. No entanto, muitas fábricas ainda operam com tecnologias obsoletas ou que dependem de intervenção humana, o que pode gerar atrasos, erros e perda de dinheiro.

Segundo dados da World Population Review, o Brasil ocupa apenas a posição 57, entre 62 países analisados sobre produtividade, com Noruega figurando com a melhor produtividade por hora, de US$ 75,08, seguida por Luxemburgo, com US$ 73,22, e Estados Unidos, com US$ 67,32. O Brasil, por sua vez, produz, em média, US$10,78 por hora.

Um dos exemplos de como as fábricas monitoram suas etapas de produção atualmente, RFID, com tags e sistema de rádios limitados e monitoramento 100% manual Essas soluções, já aposentadas por indústrias de ponta no restante do mundo, apresentam limitações por não permitirem a identificação de qual colaborador está envolvido nas etapas, detalhe que não permite encontrar problemas, ou seja, traz consigo diminuição da produtividade.

Marcelo Lonzetti, Diretor da ztrax e especialista em tecnologia RTLS, destaca a importância das empresas acompanharem os processos produtivos de forma automatizada, levando em conta resultados e competitividade:

“Indústrias produtivas precisam de tecnologias que entreguem soluções e não outros problemas. O RTLS (Real Time Location System) é o sistema que entrega esse tipo de solução nas fábricas europeias, chinesas e americanas, ou seja, na competição com nossas indústrias locais, já saímos perdendo. É o uso desse tipo de tecnologia que faz a indústria nacional perder competitividade”.

Processos industriais no Brasil precisam ser mais ágeis

Com essa tecnologia, as empresas passam a aferir o tempo em todas as etapas produtivas, a ponto de identificarem atrasos ou problemas, além de monitorar como está o desempenho dos colaboradores que estão em cada fase da produção. O especialista alerta que Indústrias como montadoras, onde é necessário buscar peças em estoques e depósitos, são as mais afetadas em termos produtivos dificuldades se seguirem trabalhando sem essas informações em tempo real:

“Toda linha precisa ser automatizada com as informações, quando isso é realizado manualmente, atrapalha o processo. A tecnologia monitora todo o trajeto e tempo gasto pelos colaboradores para buscar cada peça, identificando possíveis atrasos e gargalos no processo” finaliza Lonzetti.

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

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segunda-feira, 13 de maio de 2024

PARTICIPAÇÃO DE MINISTROS DO STF EM EVENTOS NO EXTERIOR

 

História de Weslley Galzo – Jornal Estadão

BRASÍLIA – A presença em eventos jurídicos realizados no exterior é praxe entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Entre junho de 2023 e maio deste ano, os magistrados estiveram presentes em ao menos 22 agendas internacionais mapeadas pelo Estadão.

Os encontros, em sua maioria na Europa, envolvem fóruns organizados pela iniciativa privada, seminários acadêmicos e visitas institucionais realizadas pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso. Em nota, a Corte afirma que “não se pode considerar a participação do ministro no evento como um favor feito a ele pelo organizador”. O texto ainda afirma que os magistrados dialogam com diferentes segmentos da sociedade e que, “por essa razão, não há conflito de interesses” (leia mais abaixo).

Dentre os 22 eventos identificados pela reportagem, nove foram organizados ou patrocinados por instituições privadas, incluindo caso em que a empresa patrocinadora possui ações na Corte.

Ministros do STF marcam presença em fóruns jurídicos realizados no exterior. Flávio Dino é o único que ainda não viajou para participar de evento, mas esteve no Fórum Jurídico de Lisboa quando era titular da Justiça Foto: Fellipe Sampaio/STF

Ministros do STF marcam presença em fóruns jurídicos realizados no exterior. Flávio Dino é o único que ainda não viajou para participar de evento, mas esteve no Fórum Jurídico de Lisboa quando era titular da Justiça Foto: Fellipe Sampaio/STF© Fornecido por Estadão

Como revelou o Estadãoo “Fórum Jurídico: Brasil de Ideias”, realizado no final do mês passado em Londres, na Inglaterra, foi patrocinado pela British American Tobacco (BAT) Brasil. A empresa tem ao menos dois processos no STF e é parte interessada em uma ação relatada pelo ministro Dias Toffoli, que participou do evento.

Banco Master teve um de seus funcionários no Fórum e pagou pela participação do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair em um painel. A instituição também possui um recurso no STF, este sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes.

Outros eventos prestigiados por ministros, como o Fórum Esfera Internacional e o Brazil Economic Forum, do Lide, ambos realizados em 2023, também foram patrocinados por empresas privadas e contaram com a presença de empresários. O encontro organizado pela Esfera levou os ministros Barroso e Gilmar Mendes para a França, em outubro do ano passado. Já o painel produzido pelo Lide, na Suíça, na esteira do Fórum Econômico de Davos, contou apenas com Barroso na condição de presidente do STF.

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autoriza a participação de magistrados “em encontros jurídicos ou culturais” promovidos por entidades privadas. A regra prevista em uma resolução de 2013 também permite que os juízes, desembargadores e ministros tenham o transporte e a hospedagem subsidiados por essas entidades.

Outra decisão do próprio CNJ, em 2021, desobrigou juízes de todo o País de informar os respectivos tribunais sobre a participação em eventos. Os dados eram centralizados pelas corregedorias das Cortes em razão de regras impostas pelo Conselho. O Estadão mostrou, em março de 2023, que empresas com causas que somam R$ 158 bilhões foram responsáveis por bancar viagens de ministros no Brasil e no exterior para participar de fóruns e conferências, mas que não havia informações sistematizadas nos tribunais.

Em nota, a Esfera afirmou que “oferece cobertura de despesas de viagem aos painelistas convidados em seus seminários e não paga cachês”. A instituição também apontou que os eventos “são pautados pela total transparência” e que “a escolha dos palestrantes e debatedores é realizada pela relevância da autoridade e notoriedade sobre os temas em pauta”.

Os organizados do Brazil Economic Forum declararam à reportagem que os “palestrantes viajaram a convite do LIDE e, naturalmente, foi oferecido o custeio de transporte e hospedagem”. De acordo com o grupo, “este procedimento foi igual com todos os conferencistas” e não houve “pagamentos de cachê aos expositores em seus eventos”.

“O LIDE – Grupo de Líderes Empresariais é independente, apartidário, multisetorial e multilateral. Há vinte anos, o LIDE realiza eventos periódicos no Brasil e no exterior, estimulando o diálogo entre os setores produtivo, público, acadêmico e a sociedade civil, promovendo o debate de temas socioeconômicos”, afirmou a instituição em nota.

De acordo com o STF, o ministro-presidente é o único que pode ter as passagens aéreas pagas com o orçamento da instituição. Porém, a Corte não informa se os demais gastos, como hospedagem e alimentação, são pagos com os recursos do Poder Judiciário.

Para André Boselli, coordenador do Programa de Ecossistemas de Informação da ONG Artigo-19, as informações sobre a participação de ministros em eventos “já deveriam ser públicas de partida”, em vez de terem de ser demandadas ao STF ou aos agentes privados que promoveram a participação dos magistrados.

“Independentemente de a viagem ser paga, o juiz vai estar discutindo, via de regra, com agentes privados que estão organizando o evento ou colocando dinheiro para que seja realizado. O problema é que nesses espaços algumas pessoas acabam tendo um canal de acesso privilegiado aos juízes, mesmo que a conversa seja republicana. A questão é que a gente não sabe exatamente o que está sendo conversado”, afirmou.

Para Boselli, “há um conflito de interesses aparente”. “A imagem que fica para quem está fora do Judiciário não é positiva e isso é ruim para o próprio Judiciário. Não se trata de fulanizar o caso. É o STF e o Judiciário que acabam tendo a imagem maculada por causa disso”, acrescentou.

Boselli avalia que o simples pagamento das despesas, como passagens e hospedagens, já é “problemático”, mesmo que não haja cachê, por causa da opacidade que permeia a realização desses eventos. “No nível da transparência, o que se espera é que todas essas informações sejam levadas ao público”, disse.

As regras do CNJ proíbem aos magistrados “receber, a qualquer título ou pretexto, prêmios, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas”. O STF não disponibiliza informações sobre a participação dos ministros nos eventos, o que dificulta a checagem do processo de pagamento de despesas.

Maioria dos eventos com ministros do STF ocorre na Europa

Os organizadores de eventos e convescotes com ministros no exterior demonstram preferência por roteiros europeus. Os magistrados participaram de 14 atos na Europa, três deles na França, três na Alemanha, dois na Espanha, dois em Portugal, dois no Reino Unido e dois na Suíça. Houve ainda um no Canadá, um nos Emirados Árabes Unidos, um em Cabo Verde e um na Argentina.

Apesar de a Europa receber a maioria dos eventos frequentados pelos ministros do STF, os Estados Unidos ainda despontam como o País mais visitado pelos magistrados. Foram quatro viagens ao País entre janeiro e abril deste ano. Barroso participou de todas as viagens, seja como palestrante convidado ou em visita de cortesia representando a Presidência do STF. O ministro Luiz Fux foi a dois eventos nos EUA e o ministro André Mendonça, a um.

Nas idas de Barroso ao País, apenas um evento foi de caráter estritamente acadêmico. Em março, ele palestrou com Fux e Mendonça no Fórum EUA-Brasil de Chicago sobre Direito e Economia.

Nas demais ocasiões em que viajou para os EUA, Barroso participou da Brazil Conference em Harvard e no MIT, do Brazil Legal Symposium At Havard e deu palestra na Bolsa de Valores de Nova York. Apesar de dois dos eventos terem sido realizados na prestigiada Universidade de Harvard, eles contaram com vultosos patrocínios de grandes empresas e não se restringiram a debates jurídicos.

Em nota, a Brazil Conference disse que “não pagou nada a nenhum de seus convidados. E ninguém que vai ao evento recebe cachê”. A instituição disse ter convidado Barroso porque ele esteve em todas as edições anteriores do evento e pelo fato de ele ser o atual presidente do STF. O Brazil Legal Symposium At Havard não se manifestou.

Seja pelas missões institucionais ou pelos convites que recebe, o presidente do STF é o recordista em viagens ao exterior. Barroso palestrou em 16 dos 22 eventos com a presença de ministros fora do País. Dentre esses, sete foram organizados ou patrocinados por entidades privadas.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, é o recordista na participação em eventos no exterior em 2023 Foto: Gustavo Moreno/STF

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, é o recordista na participação em eventos no exterior em 2023 Foto: Gustavo Moreno/STF© Fornecido por Estadão

O cargo de presidente confere tratamento diferenciado a Barroso. Diferentemente dos demais ministros, o presidente do STF participa de visitas institucionais, como as realizadas no Fórum Econômico de Davos e na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) em Dubai.

Dentre os onze ministros da Corte, apenas o recém-chegado Flávio Dino não viajou para participar de discussões jurídicas e seminários de interesse nacional fora do País. O ministro tomou posse em fevereiro deste ano.

Porém, em junho do ano passado, quando ainda era ministro da Justiça do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dino participou do 11º Fórum Jurídico de Lisboa organizado pelo decano do STF, Gilmar Mendes.

O Fórum, apelidado por atores do mundo jurídico de “Gilmarpalooza”, em alusão ao festival de música Lollapalooza, se tornou nos últimos anos um dos principais eventos internacionais frequentados pelos representantes do Poder Judiciário brasileiro.

O encontro desloca anualmente dezenas de magistrados, parlamentares, ministros de Estado e empresários para discutir os rumos do Brasil na capital portuguesa. A interface brasileira do Fórum é organizada pelo Instituto de Direito Público (IDP), do qual Gilmar é sócio, e pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que responde a 18 ações no STF. Instituições de ensino portuguesas também participam da organização da conferência.

Na edição de 2023, quatro ministros do STF participaram dos três dias de palestras em Lisboa. Estiveram presentes Gilmar, Barroso, Mendonça e Cristiano Zanin – além de Dino, que ainda não havia vestido a toga de magistrado, mas já era cotado como favorito ao cargo. A edição deste ano está prevista para ocorrer entre os dias 26 e 28 de junho, mas ainda não divulgou a lista dos palestrantes.

Leia a nota do STF na íntegra

Ministros do Supremo conversam com advogados, com indígenas, com empresários rurais, com estudantes, com sindicatos, com confederações patronais, entre muitos outros segmentos da sociedade. E muitos participam de eventos organizados por entidades representativas desses setores, inclusive por órgãos de imprensa. Naturalmente, os organizadores dos eventos pagam as despesas. Quando um ministro aceita o convite para falar em um evento – e a maioria dos ministros também tem uma intensa atividade acadêmica -, ele compartilha conhecimento com o público do evento. Por isso, a questão não está posta da maneira correta, não se pode considerar a participação do ministro no evento como um favor feito a ele pelo organizador. Por essa razão, não há conflito de interesses.

O PERIGO DA IMPOPULARIDADE

 

História de Notas & Informações – Jornal Estadão

A recente pesquisa Genial/Quaest mostrou que, pela primeira vez neste terceiro mandato do presidente Lula da Silva, o porcentual de brasileiros que aprovam e desaprovam o governo ficou tecnicamente empatado: 50% aprovam o governo, enquanto 47% desaprovam, com margem de erro de 3 pontos porcentuais. Para significativos 63%, Lula não está cumprindo o que prometeu, enquanto apenas um terço do País (32%) acredita no contrário. Só governistas e petistas mais empedernidos darão preferência a alguns poucos índices positivos que a pesquisa traz – como a boa avaliação sobre o trabalho de socorro no Rio Grande do Sul. Houve quem destacasse ainda que Lula conseguiu parar a trajetória de queda da avaliação: desde agosto de 2023 o porcentual dos que aprovam o mandato caiu a cada levantamento e, agora, a oscilação se mostrou estável na comparação com a pesquisa anterior, de fevereiro.

Com uma gestão tisnada pela mediocridade e pela repetição de velhos erros, jogar luz sobre a metade cheia do copo de avaliação pode fazer parecer que a tormenta chegou ao fim. Engano. O dado mais eloquente da pesquisa é o crescimento contínuo da massa da população que desaprova o governo: uma curva ascendente desde agosto do ano passado. A economia foi mais uma vez citada como o principal problema do País, à frente da saúde e da violência. Fiel ao DNA de quem tem plena convicção de que a história do Brasil começa e termina com ele, Lula até aqui ou adotou o discurso triunfalista, ou culpou ministros por não saberem “contar a verdade”, ou ainda responsabilizou o pouco tempo de mandato para cumprir o que prometeu.

Lula e seus bajuladores têm possíveis caminhos a escolher. Um deles é o modo delirante, que até aqui domina os corações da caciquia lulopetista: continuar achando que a desaprovação é culpa da “percepção” da população, incapaz de ver e reconhecer os grandes feitos de seu mandato. Segundo tal ótica, a maioria ainda não conseguiu se dar conta de que a economia melhorou, com inflação controlada e queda do desemprego, por exemplo; logo, isso se resolve com uma comunicação oficial mais eficiente. Há também o modo realista: entender as fragilidades da gestão, construir enfim um plano para o que resta de governo, analisar o baixo impacto de indicadores econômicos sobre a vida real da população – cujo poder de compra real está abalado – e corrigir rotas, de modo a produzir resultados no longo prazo.

Levando-se em conta a vocação do PT de ignorar a realidade e a ambição de Lula de ser reconhecido como o maior líder político da história brasileira sem que, para isso, seja necessário governar de fato, é natural que o lulopetismo esteja a administrar o Brasil com base em pesquisas de opinião. Assim, ansioso para produzir números positivos no curto prazo, é provável que o presidente dobre a aposta no populismo que marcou o desastroso mandarinato petista encerrado com o impeachment de Dilma Rousseff. Afinal, sempre que precisou escolher entre a responsabilidade e a popularidade, Lula nunca titubeou. Para ele e seus discípulos petistas, só há vida na gastança desenfreada e na sabotagem aos que tentam impor racionalidade no manejo do dinheiro público.

O BRASIL TEM A POPULAÇÃO MAIS DEPRESSIVA DA AMÉRICA LATINA

História de Rone Carvalho – De São José do Rio Preto (SP) para BBC News Brasil

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina© Getty Images

Foi a dificuldade para dormir e o constante desânimo que fizeram Maria*, de 60 anos, procurar ajuda médica.

Na consulta, ela descobriu uma doença que nunca imaginou ter, mas que tem se tornado cada vez mais comum nos consultórios brasileiros: a depressão.

“É uma doença que vai te afundando, pois você fica angustiada constantemente. Tanto que você não quer levantar da cama, pois é só dormindo que você não sente nada”, descreve.

Assim como Maria, 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O Brasil é o país com a maior prevalência desta doença na América Latina, de acordo com o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Dados do último mapeamento sobre a doença realizado pela OMS apontam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros.

Em seguida, aparecem Cuba (5,5%), Barbados (5,4%), Paraguai (5,2%), Bahamas (5,2%), Uruguai (5%) e Chile (5%).

A nível continental, o Brasil aparece atrás apenas dos Estados Unidos, onde segundo a OMS, 5,9% da população sofre de transtornos de depressão.

Um estudo epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde revela que nos próximos anos até 15,5% da população brasileira pode sofrer depressão ao menos uma vez ao longo da vida.Uma soma de fatores explica a alta incidência de depressão entre os brasileiros, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil:

  • Dificuldade de acesso a tratamento de qualidade na rede pública de saúde;
  • Forte estigma social ainda existente no país em relação aos transtornos mentais;
  • Falta de um protocolo de atendimento para a depressão.

A OMS aponta que o número de pessoas que sofrem de doenças mentais comuns está aumentando no mundo inteiro, principalmente em países de baixa renda.

E alerta que, apesar da depressão atingir pessoas de todas as idades e nível de renda, o risco de alguém ficar deprimido aumenta com a pobreza, o desemprego e com fatos da vida, como a morte de uma pessoa próxima, o fim de um relacionamento, debilitação física ou problemas causados pelo consumo de álcool ou drogas.

5,8% da população brasileira sofrem com depressão, segundo OMS

5,8% da população brasileira sofrem com depressão, segundo OMS© Getty Images

“O Brasil é um país com uma carga tributária alta e com uma remuneração média baixa. Isso faz com que a população tenha que trabalhar muito mais do que outras para conseguir atingir serviços básicos que não são oferecidos com qualidade pelo Estado, o que acaba sobrecarregando a saúde mental dos brasileiros e desencadeando transtornos mentais, como a depressão”, diz Volnei Costa, médico psiquiatra e presidente do conselho científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata).

O chefe do grupo de Psiquiatria Intervencionista do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), André Brunoni, destaca a forte desigualdade existente no país, inclusive no acesso a tratamento adequado.

“Estudos mostram que pessoas expostas a situações de violência, estresse e vulnerabilidade social tendem a ter maiores chances de diagnóstico e sabemos que, infelizmente, ainda existe essa diferença até no tratamento oferecido entre a rede pública e particular”, afirmou o pesquisador.

Ainda segundo os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil, o menor índice de subnotificação de casos de transtornos mentais, em relação aos demais países, pode também explicar o Brasil ter mais casos de depressão na América Latina.

Mulheres são mais suscetíveis

Na lista de pessoas mais suscetíveis a ter depressão, mulheres aparecem na liderança. Segundo a OMS, elas apresentam duas vezes mais chances de terem o diagnóstico da doença do que os homens.

“Do ponto de vista biológico, os menores níveis de testosterona acabam deixando a mulher mais exposta à doença. Por outro lado, na questão social e psicológica, a mulher corriqueiramente está em uma posição de maior vulnerabilidade que o homem e acaba ficando com muitas obrigações, o que aumenta as chances delas terem mais diagnósticos do que eles”, disse Volnei.

Dartiu Xavier da Silveira, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que estuda depressão há anos, também ressalta que historicamente idosos e adultos jovens (18 a 29 anos) apresentam mais chances de terem o diagnóstico da doença do que outras faixas etárias.

“Trata-se de uma doença cuja gênese é multifatorial. Ocorre em decorrência da somatória de fatores diversos, tais como: predisposição genética, meio ambiente adverso ou hostil, relações interpessoais insatisfatórias, dificuldades em ser reconhecido dentro de uma comunidade. No entanto, quanto melhor for a qualidade de vida como um todo, menores serão as chances de uma pessoa desenvolver um quadro de depressão”, ressaltou.

Preconceito ainda é barreira

Maria, que resolveu procurar ajuda após diversas tentativas de se “curar” sozinha da depressão, considera que o forte estigma ainda existente sobre a doença cerceia mulheres de procurar ajuda.

“Infelizmente, o preconceito contra a depressão é real. Cansei de ouvir gente dizer que o que tinha era frescura. No meu antigo trabalho, por exemplo, nunca pude falar que tinha depressão, pois eles não queriam me entender. Em uma das minhas crises, a gerente de RH subiu para falar comigo e me deu uma bronca por estar chorando na frente dos meus colegas.”

Volnei Costa, da Abrata, diz que a percepção estigmatizada do passado sobre transtornos mentais é um problema que precisa ser encarado pelo Brasil junto com o aumento de casos da doença.

“Por cerca de 16 séculos, os transtornos mentais ficaram retardos de serem cientificamente pesquisadas e ficaram no controle da igreja, que tratava os fenômenos de saúde mental como manifestações demoníacas. Isso cravou na percepção humana o entendimento que transtorno mental é algo errado, algo de quem não tem fé, é fraco ou não consegue se comunicar com o divino. É um pensamento que até hoje tentamos combater”, afirmou Volnei.

O problema é que o estigma muitas vezes desencadeia o diagnóstico tardio, tornando a doença crônica, segundo especialistas.

“O ideal é que desde cedo o paciente seja tratado, mas o que acontece muitas vezes é que procurar ajuda especializada é um dos últimos atos. Antes, o paciente tenta de tudo para evitar ser taxado como doente mental pela sociedade”, disse Mariza Theme, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Com o objetivo de combater este preconceito, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) lançou uma campanha contra a psicofobia – como é chamado o preconceito sofrido pelas pessoas que padecem de doenças mentais.

“O combate ao estigma e a psicofobia são primordiais para salvar vidas e auxiliar a sociedade a compreender e identificar casos. É extremamente importante falar sobre saúde mental, discutir os principais sinais e fatores de alerta para identificar uma doença, assim tratar do assunto sem preconceito e o tabu que já lhe são atribuídos”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Atendimento especializado

Contudo, engana-se quem pensa que o preconceito é a única barreira enfrentada por quem tem depressão no Brasil.

O acesso ao atendimento especializado na rede pública de alguns municípios brasileiros também dificulta a vida de quem tem depressão no país, segundo especialistas.

Levantamento feito pelo Instituto República.org com base em dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), mostra que existem apenas 19 psicólogos para cada 100 mil habitantes no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.

Em alguns países da Europa, esse número de profissionais chega a ser superior a 40 para cada 100 mil habitantes.

“A ausência desses profissionais nas unidades públicas de saúde, seja no suporte individual ou coletivo, contribui para uma falta de prevenção de transtornos e também dificulta um tratamento mais adequado em relação a transtornos e doenças mentais”, disse Paula Frias, mestre em Ciência Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e analista de dados da República.org.

No Brasil, os estados do Pará, Ceará, Amazonas e Maranhão aparecem como os que possuem o menor número de psicólogos atendendo na rede pública de saúde.

“Isso acaba dificultando o diagnóstico, fazendo com que muitas pessoas sejam subtratadas e, quando tratadas, o tratamento é feito de forma tardia ou até com medicamentos incorretos”, disse Elton Kanomata, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

Ao mesmo tempo, segundo a cientista política Paula Frias, ainda paira no senso comum do brasileiro uma ideia de que o cuidado com a saúde mental é um luxo ou algo que deve ficar em segundo plano.

“Isso se deve muito a uma noção de que apenas a saúde física importa e em primeira instância é ela que torna a pessoa ‘funcional’. Essa ideia de tornar o indivíduo funcional e não ter uma preocupação com o seu completo bem-estar afasta, muitas vezes, o senso de urgência em absorver para a competência do Estado essa assistência à saúde mental e psíquica”, afirmou Paula.

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina© Getty Images

‘Falta protocolo de atendimento’

Para o médico psiquiatra André Brunoni, da USP, muito além de profissionais, falta um protocolo de atendimento aos pacientes com depressão na rede pública de saúde do Brasil.

“Nossa rede de atenção à saúde mental não é bem estruturada de ponta a ponta. Hoje em dia, por exemplo, é muito difícil ter acesso a psicoterapia pelo SUS. Sem contar que muitos antidepressivos que existem na rede pública não são atualizados há anos. Isso cria um abismo de tratamento de transtornos mentais entre rede particular e pública”, disse Brunoni.

Para ele, é necessário um maior investimento do poder público brasileiro na rede de atendimento as vítimas de transtornos mentais.

“Pode parecer que o tratamento de transtornos mentais é caro, mas isso nem se compara com outras áreas da Medicina. Hoje, infelizmente, os gastos com saúde mental normalmente representam apenas 2% do orçamento da saúde.”

A opinião é compartilhada pelo presidente do conselho científico da Abrata, Volnei Costa.

“A maior parte da população brasileira precisa do SUS e muitas vezes os profissionais da rede não estão treinados para diagnosticar precocemente a saúde mental, fazendo com que o quadro da doença avance para uma depressão mais grave”, explicou.

Volnei também defende uma ampliação do horário de atendimento especializado.

“Hoje, o sistema de saúde a nível ambulatorial do Brasil não está preparado para atender aquelas pessoas com depressão que trabalham no horário comercial. É preciso facilitar esse atendimento para que mais pessoas tenham acesso.”

O que diz o governo

O Ministério da Saúde disse à BBC News Brasil, por meio de nota, que vem trabalhando para aumentar o atendimento em saúde mental e que presta atendimentos para pessoas com depressão na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

“Para promoção de amplo atendimento em saúde mental, o Ministério da Saúde ampliou o orçamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com investimento de mais de R$ 200 milhões em 2023. Ao todo, o recurso destinado para todos os estados e Distrito Federal será de R$ 414 milhões no período de um ano. A expectativa é que a Rede de Atenção Psicossocial tenha crescimento anual superior a 5% nos próximos quatro anos”.

Ainda segundo a pasta, o repasse será direcionado para os 2.855 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) existentes no país e para os 870 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT).

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina© Getty Images

“Além do investimento, o Ministério da Saúde habilitou novos serviços para expansão da rede em todo país. Desde março, foram 27 novos CAPS, 55 SRT, 4 Unidades de Acolhimento e 159 leitos em hospitais gerais – a maioria nos estados do Nordeste. Os novos serviços foram habilitados em Alagoas, Bahia, Maranhão, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Acre, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Para o custeio desses novos serviços serão investidos R$ 32.389.256,00 ao ano”, disse a nota.

O Ministério da Saúde também informou que, atualmente, a organização da rede pública para atendimento de pacientes com transtornos mentais está configurada em quatro níveis:

  • Organização por níveis de cuidado: a Atenção Primária é a principal porta de entrada para o SUS. Esta envolve promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, vigilância em saúde, com atendimento preferencial para casos de depressão e ansiedade leve e moderada. Até junho de 2023, foram realizados 10.866.381 atendimentos na Atenção Primária à Saúde (APS) a pessoas que apresentavam condições relacionadas à saúde mental.
  • Serviços especializados: para casos mais complexos, o acompanhamento é prioritariamente realizado pelos serviços especializados da RAPS. Isso inclui atendimento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços de urgência e emergência, UPAs e Pronto Atendimento. Além disso, havendo justificativa clínica, há a possibilidade de cuidado em leitos de saúde mental em hospital geral.
  • Acolhimento e encaminhamento: outra forma de acesso é quando o próprio usuário do SUS procura diretamente os serviços de saúde, ou por meio de encaminhamento de outros setores interligados, como Assistência Social, Educação e Justiça.
  • Medicação gratuita: por fim, o Ministério da Saúde informou que o SUS também fornece medicação para o tratamento de depressão em unidades de saúde pública e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Tipos de depressão

Transtorno depressivo maior (depressão clássica): o indivíduo apresenta humor deprimido quase todos os dias, grande diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades; perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta; insônia ou hipersonia diária; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de culpa e inutilidade; capacidade reduzida para pensar, concentrar-se ou indecisão; e pensamentos de morte (medo de morrer e ideação suicida).

Transtorno depressivo persistente (distimia): este transtorno representa uma consolidação dos transtornos depressivo maior crônico e transtorno distímico e tem como sintomas o humor deprimido constante por pelo menos dois anos (para adultos) ou pelo menos um ano (para crianças e adolescentes) em conjunto de duas ou mais das seguintes características: apetite diminuído ou alimentação em excesso; insônia ou hipersonia; baixa energia ou fadiga; baixa autoestima; ou sentimentos de desesperança.

Depressão pós-parto: é um transtorno que acomete mulheres após o parto, sendo caracterizada por uma tristeza profunda. Pode promover falta de interesse por atividades diárias, insônia, cansaço extremo, ansiedade, sentimento de culpa, falta de conexão com o bebê, entre outros sintomas.

Transtorno disfórico pré-menstrual: os sintomas deste transtorno apresentam-se na maioria dos ciclos menstruais na semana final antes do início do ciclo e apresenta melhora poucos dias depois do início da menstruação, até se tornarem mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual e pode apresentar sintomas como: instabilidade afetiva acentuada; irritabilidade ou raiva acentuada; ansiedade e tensão acentuados; e baixo interesse em atividades habituais.

Transtorno bipolar: é uma condição de saúde mental que causa mudanças extremas de humor. Conhecido anteriormente como psicose maníaco-depressiva, se caracteriza pela alternância de períodos em que a pessoa fica mais exaltada (mania), de episódios de depressão (hipomania) e de normalidade.

*A reportagem resguardou o nome verdadeiro de Maria.

 

NOTÍCIAS DIVERSAS

 

Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – RS tem novo alerta com chuvas e temor de novas inundações, Putin derruba aliado do Ministério da Defesa e outras notícias para começar esta segunda-feira (13).

CHUVAS NO SUL

Chuvas deixam RS em alerta em meio a temor de nova inundação recorde no Guaíba. Lago de Porto Alegre pode chegar a 5,5 m, diz UFRGS; número de mortes com enchentes no estado é de ao menos 145.

GUERRA DA UCRÂNIA

Putin surpreende e derruba aliado do Ministério da Defesa. Troca ocorre em meio a ofensiva na Ucrânia; principal linha-dura do governo também caiu.

POLÍTICA

Tarcísio pretende entregar com desconto a fazendeiros área equivalente a 4 cidades de SP. Governo diz que verba arrecadada virará investimento nas regiões; oposição vê concentração entre clãs do agro.

CHUVAS NO SUL

De nova certidão de nascimento a estrada improvisada, Porto Alegre tenta retomar vida cotidiana. Apesar de ter serviços de água, luz, saúde e transporte ainda limitados, capital do RS se reergue aos poucos.

VIOLÊNCIA

Após atrito, Polícia Civil passa a investigar morte de idoso por PM no Tatuapé. Secretaria da Segurança Público disse que ação foi tomada após pedido do Ministério Público; apuração na Justiça Militar continua.

ORIENTE MÉDIO

Israel volta a atacar norte de Gaza, e número de palestinos mortos chega a 35 mil. Tel Aviv conduz operações em Jabalia ao mesmo tempo em que aumenta pressão sobre Rafah, no sul.

OBITUÁRIO

Morre Paulo César Pereio, ícone rebelde do cinema nacional, aos 83 anos. Ator morreu no Rio de Janeiro, onde morava; informação foi confirmada pelo amigo Stepan Nercessian.

CHUVAS NO SUL

Cavalo Caramelo, que deve ter sido usado para puxar carroça, pode ficar em fazenda de universidade. Pessoas têm aparecidos dizendo ser tutoras, mas não comprovam; animal segue em boa recuperação.

OBITUÁRIO

Morre Amália Barros, deputada e vice-presidente do PL Mulher, aos 39 anos. Congressista passou por série de cirurgias após retirada de nódulo no pâncreas, mas situação se agravou.

TELEVISÃO

Luciano Huck tem doação milionária ao Rio Grande do Sul exposta por Dona Déa: ‘Ele doou R$ 1 milhão’. Apresentador ainda conta que gostaria de ter ido ajudar as vítimas das enchentes na primeira semana da tragédia.

CELEBRIDADES

Juliana Didone pede desculpas por vídeo sobre chuvas no Rio Grande do Sul: ‘Me perdi nos meus sentimentos’. Atriz apagou o vídeo, mas imagens viralizaram nas redes sociais: ‘Virei meme na internet. Me deixa chateada, sim’.

MAIS CHUVAS E MAIS INUNDAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL

História de Luiz Antônio Araujo – De Torres (RS) para a BBC News Brasil

A cidade de Eldorado do Sul foi uma atingida pelas inundações

A cidade de Eldorado do Sul foi uma atingida pelas inundações© Reuters

Centenas de quilômetros e 12 dias depois de iniciar seu caminho de destruição no Rio Grande do Sul, as águas de uma das maiores enchentes já vistas no mundo aproximam-se da fase final da jornada ao atingir a porção sul da Lagoa dos Patos.

É o fim, mas já foi o começo. Quando o brigadeiro português José da Silva Paes avistou do oceano a embocadura aberta da lagoa, em 1737, julgou que estava diante de um grande rio.

A ideia inspirou o nome da vila que fundou às margens do canal, Rio Grande, futura capital da província de mesmo nome.

Quase trezentos anos depois, os gaúchos que contemplam o canal natural que liga a lagoa ao Atlântico têm a impressão oposta à de Silva Paes: ele nunca pareceu tão pequeno diante da enxurrada que terá de despejar.

A Lagoa dos Patos estende-se por 250 km de comprimento e 10,3 mil km quadrados de área. Serve de receptáculo a uma bacia hidrográfica 12 vezes mais extensa.

Em comparação, o Canal do Norte é diminuto: tem 22 km de comprimento e 2 km de largura. Nesse duelo de Davi contra Golias, poucos apostam no canal.

Prefeito da cidade fundada por Silva Paes, Fábio Branco (MDB) torce pelo melhor, mas prepara a população para o pior.

Acostumado a enchentes em razão da vizinhança da lagoa, o município de 211 mil habitantes trabalha com cenários que apontam para 35 mil a 40 mil desalojados pelas águas. Até o momento, a cheia em alguns bairros já empurrou 500 pessoas para abrigos.

Como boa parte dos gaúchos, os habitantes de Rio Grande acostumaram-se nos últimos dias a tirar a sorte com réguas de medição.

Às 19h40min de ontem, o nível da Lagoa dos Patos medido pelo Centro de Comando da Marinha (CCMar) era de 2 metros e 36 centímetros, 1 metro e 56 centímetros acima do normal.

A prefeitura identificava 29 áreas de risco, nas quais o trânsito de automóveis era desaconselhado, havia interrompido totalmente o acesso rodoviário às ilhas e suspendido as aulas na rede municipal.

“Estou na área de risco”, diz Branco à BBC News Brasil, por telefone. Morador do bairro Saco da Mangueira, ele já tirou móveis e objetos de valor de casa e prepara a transferência da família para a casa de parentes.

Por sorte, o cenário dos próximos dias depende de fatores situados além das margens da lagoa e do canal. Estendido sobre a grande planície litorânea gaúcha, sem serras ou morros no entorno, o mar de água doce que se aproxima depende, para se movimentar, da direção do vento e da ação das marés oceânicas.

Essas variáveis podem ser acompanhadas em modelos computadorizados impenetráveis para pessoas comuns, mas manejados como artefatos cotidianos por pesquisadores como Lauro Barcellos.

O 'berço do Rio Grande do Sul' que se prepara para avanço das águas que já desvastaram parte do Estado

O ‘berço do Rio Grande do Sul’ que se prepara para avanço das águas que já desvastaram parte do Estado© Reuters

“Sofreremos um impacto de água numa quantidade que nunca antes conseguimos observar”, afirma o diretor do Museu Oceanográfico de Rio Grande. Aos 68 anos, Barcellos dedica-se há 55 aos estudos oceanográficos, numa trajetória que lhe rendeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Rio Grande (Furg).

Muito além de uma luta entre a lagoa e o canal, o especialista mira águas mais profundas. “É difícil fazer uma identificação dos responsáveis. São os grandes sistemas que controlam a evolução da economia do mundo, o desmatamento, a mudança do clima. São vários fatores, umas pessoas acreditam e outras não”, reflete.

Não se trata, sobretudo, de caso isolado. “Tudo que acontece já aconteceu. A diferença é que, hoje, ocorre com maior velocidade e a intervalos menores. De setembro até hoje, tivemos oito episódios de eventos semelhantes”, explica.

Nem toda boa notícia para Rio Grande é alvissareira para quem está no percurso das águas. O vento do quadrante sul, que deve soprar por pelo menos mais oito dias no sentido contrário ao da corrente, contribui para represar a enxurrada e empurrá-la Lagoa dos Patos acima, prolongando o infortúnio de municípios situados a meio do caminho.

Na segunda-feira (6/5), quando ainda havia pessoas em telhados em Porto Alegre, Canoas, Guaíba e Eldorado do Sul, a lagoa já engolia a orla da Praia das Nereidas, em Arambaré, 144 km ao sul da capital. Na manhã de sexta-feira (10/5), três bairros registravam alagamentos e outros dois apresentavam risco.

Em São Lourenço do Sul, 218 km ao sul de Porto Alegre, muitas casas tinham sido inundadas no final da tarde de sexta-feira (10/5). A prefeitura tinha instalado quatro abrigos, e dois já operavam com lotação máxima.

Em nenhum município das margens da Lagoa, porém, o dia 10 foi tão tenso como em Pelotas. Maior cidade da Metade Sul do Estado, com 343 mil habitantes, esse antigo centro da indústria gaúcha de carne já computava a essa altura 632 desalojados distribuídos em sete abrigos da prefeitura e um número incerto de instalações particulares em igrejas, clubes e escolas.

Com o bloqueio da BR-290 em vários pontos e a suspensão da balsa em São José do Norte que faz a travessia do Canal do Norte, Pelotas estava no dia 10 isolada de Porto Alegre por via rodoviária.

A prefeitura começou a remover moradores das áreas de risco na quinta-feira (2/5). na Colônia de Pescadores Z-3, comunidade de 2 mil habitantes distante 22 km do centro, à margem da lagoa, moradores transferiram-se para a igreja da paróquia João Paulo II. Situado na própria colônia, o templo é célebre por nunca ter sido inundado.

Na noite de sexta-feira (10/5), a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) fez uma live diretamente do Laranjal, balneário na Lagoa dos Patos, onde 80 pessoas e 60 animais tiveram de ser removidos às pressas ao longo do dia.

“Desde terça-feira que a gente vem fazendo um apelo, a gente fez um mapa das áreas de risco, pedindo que as pessoas deixassem as suas casas. Muitas deixaram, mas outras tantas não acreditaram, quiseram esperar para ver e, com isso, se prejudicaram porque tiveram de sair às pressas, com pânico, correria”, disse Paula.

Dois dias antes, a água cobriu o trapiche do Laranjal. Agora, o balneário corre o risco de ter cortada a ligação por terra com o resto do município.

Com água não se brinca, ensina Lauro Barcellos. “Água é um elemento extremamente pesado. Um metro cúbico de água pesa aproximadamente uma tonelada. Temos muitas pessoas em áreas onde já se sabe que haverá uma importante subida de nível (da lagoa). Não se pode ficar cego diante disso”, afirma.

Para agravar a situação, o sul do Estado é castigado desde quinta-feira (9/5) por uma chuva intensa que desliza na ponta-de-lança de uma frente fria na direção norte. Com as quedas nos termômetros, uma pessoa submersa pode ter a temperatura corporal derrubada para cerca de 9ºC.

“Precisamos agir preventivamente”, diz Fábio Branco. “E orar para que São Pedro esteja conosco nesta hora.”

O santo que detém as chaves do céu – e, por conseguinte, da chuva –, segundo a crença católica, é o padroeiro de Rio Grande. E também do Rio Grande do Sul.

 

ARREPENDIMENTO DE QUEM CRIOU O DIA DAS MÃES

História de Vivian de Souza Campos – Mega Curioso

Dia das Mães, celebrado em muitos países no segundo domingo de maio, tem uma história intrigante por trás de sua criação. 

A data tão especial foi criada por Anna Jarvis, uma ativista que iniciou uma campanha para honrar todas as mães e seu papel na sociedade. No entanto, o feriado acabou se tornando o oposto do planejado originalmente, transformando-se em um fenômeno comercial que a deixou profundamente desiludida.

A origem altruísta do Dia das Mães

Ann Reeves Jarvis, mãe de Anna. (Fonte: Wikimedia Commons)

Ann Reeves Jarvis, mãe de Anna. (Fonte: Wikimedia Commons)© Fornecido por Mega Curioso

Anna Jarvis nasceu em 1864, em Webster (Virgínia), nos Estados Unidos. Ela era filha de Ann Reeves Jarvis, uma ativista comunitária dedicada ao trabalho social e ao cuidado de crianças, por isso, Anna cresceu em um ambiente influenciado pela dedicação de sua mãe à comunidade.

Após a morte da mãe, em 1905, Anna ficou determinada a honrar o legado deixado por ela. Ela começou uma campanha para criar um dia nacional dedicado às mães, inspirada pela dedicação e amor incondicional que Ann Reeves demonstrou ao longo da vida.

Anna organizou as primeiras celebrações do Dia das Mães no ano de 1908, em Grafton (Virgínia) e na Filadélfia (Pensilvânia). Sua escolha do segundo domingo de maio para o feriado foi uma homenagem ao aniversário da morte de sua mãe.

A vida de Anna Jarvis foi marcada por um forte senso de propósito e dedicação à sua causa. Ela não tinha filhos próprios, mas sua determinação em honrar todas as mães se tornou uma missão pessoal.

O conflito com a comercialização

Conforme o Dia das Mães cresceu em popularidade, Anna se viu em conflito com a crescente comercialização da data. O feriado rapidamente se tornou um sucesso comercial, com floristas, lojas e fabricantes de cartões aproveitando a data para aumentar as vendas. Ela lamentou profundamente ver o feriado se transformar em um evento comercial, distante de sua visão original de um momento íntimo e pessoal de gratidão e reflexão. 

Anna ficou cada vez mais frustrada como o feriado se desviou de sua visão original. Ela denunciou publicamente os floristas e as empresas que lucravam com a data, e até mesmo processou aqueles que usavam a expressão “Dia das Mães” sem sua permissão.

Ela se opôs tão veementemente à exploração comercial do feriado que até mesmo tentou rescindir sua criação, marcando sua vida pela luta contra a comercialização desenfreada da data que ela mesma criou. Embora o Dia das Mães seja hoje celebrado de várias maneiras, desde jantares especiais até presentes elaborados, vale a pena lembrar as origens humildes desse feriado e a paixão de sua fundadora por um reconhecimento simples e sincero do papel das mães na sociedade.

 

A MEMÓRIA É O DIÁRIO QUE TODOS NÓS CARREGAMOS CONOSCO - OSCAR WILDE

 

História de Juan Francisco Alonso – BBC News Mundo – BBC News Brasil

4 maus hábitos que afetam a memória quando envelhecemos (e como corrigir isso)

4 maus hábitos que afetam a memória quando envelhecemos (e como corrigir isso)© Getty Images

“A memória é o diário que todos nós carregamos conosco.”

Foi assim que o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) definiu a memória.

No entanto, à medida que envelhecemos, algumas páginas deste registro das nossas vidas podem se extraviar ou se perder. E isso não é apenas desconcertante, mas também doloroso.

O professor Charan Ranganath, diretor do Laboratório de Memória Dinâmica da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, é um dos neurocientistas mais renomados no estudo da memória — e ele garante que o risco de isso acontecer pode ser minimizado.

Em conversa com a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o autor do livro Why We Remember (“Por que nos lembramos”, em tradução livre) identificou quatro maus hábitos que a maioria das pessoas tem — e que, segundo ele, afetam a capacidade do nosso cérebro de lembrar das coisas.

Ele deu também algumas dicas para corrigi-los.

O neurocientista Charan Ranganath passou os últimos 25 anos de sua carreira estudando como o cérebro funciona

O neurocientista Charan Ranganath passou os últimos 25 anos de sua carreira estudando como o cérebro funciona© Michael Rock/Cortesía Editorial Península

1. Não descansar o suficiente

À medida que os seres humanos envelhecem, tendem a dormir menos horas e, como se não bastasse isso, problemas no trabalhoeconômicos e de saúde podem afetar a qualidade do sono, uma combinação que pode ser bastante prejudicial para a saúde.

“Sabemos agora que o cérebro possui um sistema que drena as toxinas que se acumulam nele, incluindo a proteína amiloide, que está envolvida no desenvolvimento de Alzheimer. Este sistema é ativado durante a noite”, observa Ranganath.

O neurocientista, que há 25 anos estuda o funcionamento do cérebro, explica que o sono também tem uma função restauradora.

“Se uma pessoa não dorme o suficiente, a função frontal do cérebro é reduzida, assim como o seu nível de tolerância ao estresse; e, por isso, ela não é capaz de se concentrar adequadamente.”

Mas, durante a noite, o cérebro não só elimina elementos nocivos e recarrega as baterias, como também organiza as nossas memórias.

“Durante o sono, a memória é reativada, e é a isso que muitos atribuem a origem dos sonhos (…) Dormir facilita a retenção das informações que aprendemos”, acrescenta o especialista.

Não usar celular e computador, evitar refeições pesadas, bebida alcoólica e cafeína antes de dormir são algumas das recomendações que Ranganath dá para tentar ter um sono reparador.

E para aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, têm dificuldade de dormir à noite, o especialista afirma que tirar uma soneca durante o dia também pode ser muito benéfico.

“Os benefícios [do sono] para a memória também podem ser alcançados durante o dia”, diz ele.

Dormir bem é, segundo o especialista, uma das principais coisas que você pode fazer para preservar a memória

Dormir bem é, segundo o especialista, uma das principais coisas que você pode fazer para preservar a memória© Getty Images

2. Ser multitarefa

No mundo competitivo e atribulado de hoje, a capacidade de ser multitarefa — ou seja, de fazer várias coisas ao mesmo tempo — é vista como algo positivo. Mas Ranganath alerta que isso pode ser “muito ruim” para a memória.

O motivo? “O córtex pré-frontal nos ajuda a focar no que precisamos fazer para atingir nossos objetivos, mas esta habilidade maravilhosa fica prejudicada se pularmos continuamente de um objetivo para outro”, explica.

Segundo ele, existe em nosso cérebro uma competição entre os conjuntos de neurônios que participam de diferentes tarefas — e esta competição é o que dificulta que a gente realize várias tarefas ao mesmo tempo de maneira correta e eficiente.

Por isso, o neurocientista adverte que verificar o e-mail enquanto se assiste a uma palestra ou uma aula só vai levar a uma coisa: não se lembrar do que estava ouvindo inicialmente.

“Ao mudar de objetivo (começar a verificar o e-mail), os neurônios se distraem e registram memórias fragmentadas da conferência, porque você está usando muitas funções executivas para gerenciar a mudança de uma atividade para outra, e isso dificulta a formação de uma memória duradoura”, observa.

Tentar realizar várias tarefas simultaneamente afeta negativamente a nossa memória

Tentar realizar várias tarefas simultaneamente afeta negativamente a nossa memória© Getty Images

Mas, como acontece com toda regra, há pelo menos uma exceção: tarefas que estão associadas ou relacionadas.

“Se você está fazendo um bolo, tem que pré-aquecer o forno, e depois voltar a preparar a massa, ou algo do tipo. Mas se você juntar todas essas tarefas em uma grande tarefa, vai conseguir”, ilustra.

Para evitar ser multitarefa, Ranganath não apenas recomenda tentar terminar uma atividade antes de iniciar outra, como também evitar o que pode nos distrair do objetivo.

Assim, ele sugere colocar o celular no modo silencioso, principalmente as notificações de e-mail e mensagens, enquanto uma ação está sendo executada.

Também recomenda fazer pausas para sonhar acordado ou esticar as pernas.

A questão do tempo que gastamos verificando o celular também leva a outra pergunta: que efeitos isso vai ter para os jovens de hoje?

“Possivelmente haverá algumas consequências positivas, e outras negativas, mas o relevante é que eles estão desenvolvendo hábitos que não fazem bem à memória”, diz o especialista.

Um estudo publicado em 2023 revelou que adolescentes e crianças americanas passam entre cinco e oito horas por dia grudados no celular.

3. Cair na monotonia

Diferentemente do que se imagina, o cérebro humano não está programado para lembrar de tudo. Pelo contrário, ele é seletivo.

“A maioria das experiências que vivemos ou das informações às quais fomos expostos vai ser esquecida”, explica Ranganath.

Apenas aquelas experiências ou eventos associados ao medo, raiva, desejo, felicidade, surpresa ou outras emoções que sejam capazes de liberar substâncias químicas como adrenalina, serotonina, dopamina ou cortisol em nosso cérebro vão acabar fixados em nossos neurônios.

Estas substâncias químicas ajudam na plasticidade cerebral, que é essencial para a memória.

“A plasticidade no cérebro nos ajuda a realizar tarefas, especialmente aquelas que são repetitivas, de forma mais eficiente”, explica o professor da Universidade da Califórnia, acrescentando que esta capacidade diminui com a idade.

Por isso, ações como lembrar a senha que acabamos de alterar para acessar nossa conta bancária, celular ou e-mail ficam mais difíceis com o passar do tempo.

“Uma vez que você altera a senha, os neurônios que tinham a senha antiga armazenada vão brigar com aqueles que possuem a nova”, afirma.

Quebrar a monotonia e sair da rotina é, segundo o especialista, a melhor maneira de tentar preservar a plasticidade cerebral.

As novas gerações estão desenvolvendo hábitos prejudiciais à memória, com a superexposição às tecnologias de comunicação

As novas gerações estão desenvolvendo hábitos prejudiciais à memória, com a superexposição às tecnologias de comunicação© Getty Images

4. Ser confiante demais

“As pessoas pensam que sua memória é muito boa até que, em algum momento da vida, percebem que não é o caso”, observa Ranganath.

E não é para menos, já que o cérebro não foi projetado para lembrar literalmente de tudo aquilo que vivenciamos — o que, segundo o especialista, seria uma tarefa muito árdua.

“Estima-se que o americano médio esteja exposto a 34 gigabytes (o equivalente a 11,8 horas) de informação por dia”, afirma o professor.

“O propósito da memória não é recordar o passado, embora possa fazer isso — mas, sim, retirar do passado as informações importantes de que necessitamos para compreender o presente, e nos preparar para o futuro”, explica, recomendando não recorrer apenas à memorização para aprender algo.

“A aprendizagem mais eficaz ocorre em circunstâncias em que nos esforçamos para evocar uma memória, e depois obtemos a resposta que buscamos”, indica.

“Por exemplo, alguns minutos depois de ser apresentado a alguém, desafie-se e tente dizer o nome da pessoa. E à medida que a conversa fluir, faça isso novamente. Quanto mais espaçadas forem essas tentativas, melhor.”

Os trabalhos repetitivos e monótonos também afetam a nossa memória, por isso o especialista recomenda sair da rotina

Os trabalhos repetitivos e monótonos também afetam a nossa memória, por isso o especialista recomenda sair da rotina© Getty Images

Outras recomendações

Além de combater os quatro hábitos mencionados acima, Ranganath garante que existem outras formas de proteger nossa memória — e desfrutar de uma boa saúde mental.

“Há muitas coisas óbvias que as pessoas podem fazer para cuidar da memória, mas não fazem porque estão à espera de um comprimido ou de uma vacina, porque é mais fácil, e não precisam mudar seu estilo de vida“, diz ele.

Mas quais são estas coisas óbvias?

“No curto prazo, busque dormir melhor, aprenda a lidar com o estresse (ou tente diminuir as causas que o desencadeiam) e adote práticas de mindfulness (atenção plena), que servem para detectar quando você está distraído”, afirma.

No longo prazo, a lista é um pouco mais comprida.

“A alimentação pode fazer muito, a dieta mediterrânea tem provado ter resultados muito bons no que diz respeito à promoção da saúde mental”, diz ele.

“O exercício físico, principalmente o exercício aeróbico, é bom porque aumenta a secreção de substâncias que aumentam a plasticidade e melhoram a vascularização do cérebro”.

Praticar exercício físico e adotar uma alimentação equilibrada pode ajudar a manter a saúde do seu cérebro

Praticar exercício físico e adotar uma alimentação equilibrada pode ajudar a manter a saúde do seu cérebro© Getty Images

“Uma boa saúde bucal e auditiva também é importante, porque estudos constataram que pessoas com problemas de higiene oral ou que não cuidam dos ouvidos tendem a sofrer de problemas cognitivos”, acrescenta. “E, por último, as relações sociais e a exposição a coisas novas estimulam a plasticidade cerebral.”

Por fim, o especialista afirma que estudos revelaram que estas boas práticas permitiram a algumas pessoas manter sua memória até uma idade avançada — e reduzir em um terço o risco de demência.

Os dados são animadores, especialmente considerando que 40% das pessoas podem ter algum tipo de problema de memória ao completar 65 anos, segundo a Sociedade de Alzheimer do Canadá.

PROPOSTA DE FIM DA ESCALA DE TRABALHO 6X1

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