História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.
História de NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO – Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A confusão
política que provocou perdas bilionárias nas ações da Petrobras começou
antes da divulgação do balanço da estatal, que veio acompanhada do
anúncio da decisão de reter dividendos extraordinários sobre o lucro de
2023.
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil,
Rui Costa, segundo a Folha apurou, procuraram o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) para defender a retenção dos dividendos
extraordinários, argumentando que a empresa precisa ter dinheiro em
caixa para investir mais.
A iniciativa dos ministros, que contrariava a estratégia da
companhia, considerava parecer interno apontando que a eventual
distribuição dos dividendos poderia ter impacto nos indicadores de
endividamento na companhia, prejudicando investimentos futuros.
Esse era, porém, apenas um dos cenários traçados.
Com base em outro cenário, a direção da Petrobras propôs distribuir
metade dos R$ 43 bilhões de lucro excedente do ano. O presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates, já havia sinalizado ao mercado que
distribuiria algum valor.
Em entrevista para detalhar os indicadores do balanço de 2023, ele
voltou a falar que havia proposto uma decisão salomônica. Porém, a
proposta da empresa foi vencida na reunião do conselho com voto
favorável à retenção por cinco dos seis indicados da União no colegiado,
seguindo orientação dos ministros.
A divergência entre os votos de Prates e dos indicados pelo governo
ajudou a minar o processo de comunicação da Petrobras com os
investidores. Declarações posteriores de Lula, criticando o mercado e
defendendo mais investimentos, pioraram a percepção de conflito.
Em fevereiro, Prates fora duas vezes às redes sociais comemorar
recordes no valor das ações da estatal. Um sinal, segundo ele, de que
investidores de longo prazo se sentiam seguros para apostar nos papéis.
“Sextou sem recorde? Não, não é déjà-vu”, brincou no dia 16 de março,
ao celebrar o segundo recorde do mês, quando as ações ordinárias (com
direito a voto) superaram a barreira de R$ 44,20. Dias antes, ele
destacara que o valor de mercado da empresa dobrou desde o início do
governo.
O sentimento de euforia começou a arrefecer no fim do mês, depois que
Prates disse à Bloomberg que o investidor poderia esperar “cautela” com
dividendos. Recado recebido, no dia da divulgação do balanço a maioria
dos analistas não cravava o valor que viria, mas esperava alguma
quantia.
A completa retenção dos dividendos extraordinários associada à falta
de detalhes sobre a decisão deu início a uma série de situações
questionadas por especialistas.
Primeiro, Lula reclamou da “choradeira” de investidores; depois,
Silveira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falaram em nome da
estatal. Haddad também foi pego de surpresa e entrou na discussão para
apagar o incêndio.
Nos bastidores do governo, a avaliação nos dias que seguiram à derrocada das ações teve duas dimensões.
Primeiro, o presidente da República havia sido induzido a erro com a
proposta dos ministros, já que a Lei das Sociedades Anônimas não permite
a destinação de dividendos extraordinários para investimentos.
Segundo, houve quem viu na manobra de Costa e Silveira mais uma
tentativa de fragilizar Prates à frente da petroleira –e tanto foi assim
que a boataria sobre a queda do presidente da estatal correu solta na
sequência da divulgação do balanço.
O pano de fundo desse bate cabeça na cúpula do governo azeda o ambiente empresarial como há muito não se via.
As investidas do governo Lula não se limitam à estatal Petrobras.
Também se estende às privatizadas Eletrobras e Vale, com impactos sobre
seus acionistas. Esta última também esteve na mira nas últimas semanas,
em confusão sobre troca no comando.
Instalou-se entre os investidores um desconforto, com alertas sobre
como a gestão da estatal e das demais companhias cobiçadas pelo governo
pode ser afetada por decisões da União.
Levantamento feito pelo consultor Einar Rivero mostra que Petrobras e
Vale, as empresas mais líquidas da B3, perderam R$ 85,5 bilhões em
valor de mercado entre os dias 7 e 15 de março, levando o valor
consolidado da Bolsa a desempenho negativo no período.
A Petrobras, sozinha, perdeu R$ 56,5 bilhões em valor de mercado,
movimento que prejudicou não só grandes investidores mas cerca de 850
mil pessoas físicas que possuem ações da estatal.
“Foi um atropelo”, diz o especialista em direito societário Maurício
Moreira Menezes, sócio do escritório Moreira Menezes Martins Advogados.
“Não só do rito previsto na lei para apresentação de propostas da
administração da empresa e da aprovação dessas propostas em assembleia
mas também um prejuízo reputacional poucos anos depois da Lava Jato.”
A maneira como ministros do governo tomaram para si a missão de falar
sobre decisões estratégicas da empresa foi questionada também pela Amec
(Associação dos Investidores no Mercado de Capitais), que cobrou ação
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
“Nós estamos em um momento bastante sensível da companhia, no qual o
noticiário mostra um grave ruído na comunicação entre a empresa e seus
acionistas privados, e entre a empresa e o próprio acionista
controlador”, escreveu, em nota, o presidente da entidade, Fábio Coelho.
“O controlador, de fato, tem o poder de orientar as decisões da
empresa”, diz Menezes. “Mas isso tem de ser feito em base técnica e
seguindo rito institucional. Não pode o presidente da República
simplesmente dizer para companhia o que fazer.”
A forma de divulgação do tema desconsiderou ainda alertas internos
sobre a “potencial queda expressiva das ações” e possíveis rebaixamentos
da avaliação da empresa por bancos de investimento.
Em apresentação ao conselho, a área técnica recomendou “explicação
detalhada” da decisão, com foco em esclarecer que a retenção elevaria a
possibilidade de dividendos em cenários mais desafiadores e poderia ser
revista dependendo do cenário ao longo de 2024.
Em nota, a Petrobras afirmou que a decisão sobre os dividendos
extraordinários “seguiu a governança prevista”. “A matéria é de
competência do conselho de administração da companhia, que apreciou e
decidiu, na quinta-feira (7), sobre a proposição.”
“A companhia também ressalta que age com transparência e em compromisso com a sociedade e com os investidores”, disse.
Procurados, o MME e a Casa Civil não se manifestaram até publicação deste texto.