segunda-feira, 11 de março de 2024

FALTA VERBA PARA O PAGAMENTO DO FUNDO DE GARATIA NO ORÇAMENTO

 

História de IDIANA TOMAZELLI – Folha de S. Paulo BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo de Jair Bolsonaro (PL) deixou um esqueleto de R$ 6,3 bilhões do seguro-desemprego para a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pagar no início de 2023.

A atual equipe do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) admitiu em nota que houve insuficiência orçamentária no fim de 2022 –em outras palavras, não havia como pagar todas as parcelas do benefício previstas para aquele ano

As despesas foram quitadas com o orçamento já do governo Lula e, na visão de técnicos, parecem ter gerado uma bola de neve. No fim de 2023, nova insuficiência orçamentária obrigou a pasta a empurrar gastos com o seguro-desemprego para o começo de 2024, num montante calculado até agora em R$ 5,66 bilhões.

Os números foram extraídos pela reportagem do painel Siga Brasil. Após serem procurados pela reportagem, o Tesouro Nacional, a Secretaria de Orçamento Federal e o MTE fizeram uma reunião técnica em 29 de fevereiro para discutir o problema.

Depois do encontro, o Ministério do Planejamento e Orçamento disse em nota que os órgãos estão em tratativas para a “correção dos procedimentos de execução dessas despesas”, mas não detalhou o diagnóstico nem quais soluções serão adotadas.

O MTE informou que os segurados receberam os pagamentos em dia e não foram afetados, mas não explicou as razões da insuficiência orçamentária. A pasta disse que “envida esforços” para executar todas as obrigações e solicitará novos créditos, caso seja necessário.

O Tesouro foi procurado em 27 de fevereiro, mas preferiu não responder.

A correção da execução dessas despesas pode gerar pressão no Orçamento, pois seria necessário reduzir outros gastos. Por isso, pessoas envolvidas nas discussões afirmam que a solução não virá “da noite para o dia” e demandará gradualismo.

A natureza do problema está na cronologia da execução orçamentária.

A Lei de Finanças Públicas diz que o empenho da despesa (primeira fase do gasto) deve ocorrer no momento da criação de uma obrigação de pagamento. Já a liquidação (segunda fase) consiste na verificação do direito adquirido de quem vai receber o dinheiro.

Ao homologar um pedido de seguro-desemprego, o governo se compromete a pagar de três a cinco parcelas ao trabalhador. Para a CGU (Controladoria-Geral da União), esse reconhecimento já equivale à liquidação da despesa, e o ministério deveria empenhar e liquidar o valor de todas as prestações –ainda que o direito de saque seja exercido só nos meses seguintes.

O MTE tem fugido desse roteiro e empenhado as despesas apenas no mês de pagamento. Na prática, isso permite ao ministério contratar um gasto sem registrá-lo no Orçamento, enquanto o espaço disponível é usado para outras ações. Em mudança de governo, a conta fica para o sucessor.

O problema foi abordado pela CGU em auditoria nas contas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) de 2021 que indicou R$ 2,01 bilhões em benefícios homologados sem o empenho e inscritos em restos a pagar para o ano seguinte.

A cifra era maior que a dotação disponível (R$ 343,4 milhões). Ou seja, R$ 1,67 bilhão em despesas contraídas nem sequer possuíam autorização legislativa, “em confronto às regras orçamentárias”, diz o relatório.

A CGU atribuiu a irregularidade à decisão do governo Bolsonaro de reduzir as dotações do seguro-desemprego na reta final de 2021 –ano marcado por apelos do centrão por liberação de emendas e pela pressão do então presidente para turbinar gastos sociais de olho nas eleições de 2022.

Segundo os auditores, entre 30 de novembro e 31 de dezembro de 2021, a verba para o benefício sofreu um corte de R$ 3,76 bilhões.

“A gestão do FAT, ao não adotar providências para garantir a disponibilidade orçamentária para fazer frente a parte das despesas do seguro-desemprego homologadas em 2021, incorreu em ato de gestão em desconformidade com regras legais e constitucionais”, diz o relatório. Segundo a CGU, os fatos narrados ainda aguardam julgamento no TCU (Tribunal de Contas da União).

O ex-ministro Onyx Lorenzoni, que chefiou o Ministério do Trabalho de julho de 2021 a março de 2022, disse em nota que a execução orçamentária sempre acompanhou o fluxo de pagamento. Ele atribuiu à PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional) o entendimento de que recursos previstos no Orçamento são “aqueles destinados ao pagamento das despesas do exercício de pagamento”.

Para o ex-ministro, o modelo da CGU tornaria a tarefa “bastante complexa”.

Seu sucessor no cargo, o ex-ministro José Carlos Oliveira, foi procurado, mas não respondeu.

Os relatórios oficiais mostram que as despesas pendentes de 2021 foram executadas com o Orçamento de 2022, mas a própria contabilidade do FAT apontou outra distorção. Elas deveriam ter sido classificadas como “Despesas de Exercícios Anteriores” –o que passou a ser feito a partir de 2023 e permitiu o rastreio dos valores no painel do Siga Brasil.

As DEAs, no jargão orçamentário, são um procedimento de exceção que os gestores podem adotar para empenhar obrigações de anos anteriores que não foram processadas a tempo ou para as quais não havia dotação suficiente.

Seu uso não configura, por si só, uma irregularidade. O incomum é quando as DEAs tomam uma proporção significativa como agora. Elas somaram R$ 36,4 bilhões em 2022 e alcançaram R$ 37,9 bilhões no ano passado, em valores já atualizados. São cifras maiores até do que o registrado em 2015, ano de regularização das chamadas “pedaladas fiscais”.

Além de parte do seguro-desemprego, o MTE também está classificando como DEA o gasto integral do abono salarial. O problema tem origem semelhante.

Até 2021, o calendário de pagamento do abono ia de julho a junho do ano seguinte, e o ministério reconhecia a despesa apenas no pagamento, rachando o empenho em dois exercícios.

Em duas auditorias, de 2020 e 2021, a CGU disse que o procedimento era inadequado e recomendou o empenho total dos valores no momento em que o direito ao abono é reconhecido.

Como não havia reserva suficiente no Orçamento de 2021 para acatar a medida, o governo decidiu adiar todo o calendário para 2022, o que não só evitou o estouro do teto de gastos como também liberou R$ 7,5 bilhões para turbinar emendas. Técnicos à época viram a mudança como uma espécie de pedalada.

Desde então, o abono salarial é classificado como DEA e pago com dois anos de defasagem (em 2024, recebe o benefício quem trabalhou com carteira assinada em 2022).

A CGU disse em nota que, desde 2021, não foram realizadas outras auditorias sobre o tema. “Dessa forma, a emissão de juízo sobre a adequação dos procedimentos adotados pelo MTE e sobre os fatos ocorridos a partir do período do exercício de 2022 requer nova auditoria.”

O órgão afirmou ainda que “não há recomendação que trate especificamente de registro de pagamento de seguro-desemprego como despesas de exercícios anteriores”.

ARÁBIA SAUDITA QUER SER UM DUBAI NO FUTURO

História de IGOR GIELOW – Folha de S. Paulo

RIAD, ARÁBIA SAUDITA, E DUBAI, EMIRÁDOS ÁRABES (FOLHAPRESS) – “Acredite, é bem mais difícil fazer um bom gim-tônica sem álcool”, afirma Mohammed, bartender do badalado restaurante francês LPM, no centro de Riad. Marroquino, ele costumava trabalhar em hotéis de Dubai com a bebida de fato, mas no ano passado resolveu arriscar a sorte no reino do xará Mohammed bin Salman.

MbS, como o príncipe herdeiro e real chefe do país desde 2017 é conhecido, vive dilema semelhante ao lançar a Arábia Saudita em mergulho modernizante tentando evitar uma ruptura com o conservadorismo muçulmano e sob desconfiança internacional.

“Estamos nos abrindo, mas não vamos vender nossa alma. Queremos que vocês apreciem a nossa cultura”, afirmou na semana passada Abdelrahman al-Anbar, do programa Qualidade de Vida do governo saudita, a uma plateia de empresários brasileiros levados para prospectar negócios no reino pelo Grupo Lide.

Como tudo sob MbS, a marca fantasia Visão 2030 cobre as 12 iniciativas de Al-Anbar. Projeto de US$ 3,2 trilhões (R$ 15,8 trilhões), ou 1,5 vez o PIB brasileiro, ele abarca de tudo, de infraestrutura básica à realização da Expo 2030 e da Copa-2034, passando pela troca da matriz petrolífera pela energia limpa.

Este é um dos dois pilares principais da crítica a MbS. Os planos sauditas de transição verde querem reduzir à metade sua pegada de carbono até 2030, mas às expensas de mais exportação de petróleo e consequente aumento das emissões de outros países, manipulando no processo o mercado para manter preços favoráveis do barril.

A contradição vem acompanhada pela realidade: a Arábia Saudita é uma monarquia absolutista com restrições a direitos civis, particularmente de mulheres. É acusada de violações aos direitos humanos, simbolizadas pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, e por seu envolvimento na brutal guerra civil no vizinho Iêmen. MbS é premiê desde 2022.

A importação de jogadores como Cristiano Ronaldo e Neymar para o inexpressivo futebol local é, para os críticos, mera lavagem de imagem por meio do esporte, o “sportswashing”. Para entidades como a Fifa, o pragmatismo se impõe: são países sem controles democráticos de gastos e práticas, além de riquíssimos e seguros.

Na Visão, o exemplo que vem à mente é Dubai, a joia reluzente dos sete Emirados Árabes Unidos, ainda que o poder político esteja na mais austera Abu Dhabi. Os domínios da família Al-Maktoun nunca foram ricos em petróleos como os vizinhos, apostando a partir dos anos 1970 em serviços e turismo para criar o polo ultratecnológico atual.

Por óbvio, o modelo saudita parte de outra premissa, já que o reino tem a segunda maior reserva petrolífera do mundo. Mas há a questão cultural: “Vamos construir casas tradicionais com facilidades modernas”, afirma o consultor da presidência do projeto Diriyah, Abdullah Alghanim.

Obra de R$ 265 bilhões em torno do sítio arqueológico que é o marco zero do reino, o bairro não terá as torres espelhadas gigantes que floresceram a partir dos 2000 em Dubai. Os megaprédios sauditas estão por ora ao longo do eixo norte-sul de Riad, com destaque aos 300 metros da Torre do Centro do Reino, um edifício que lembra um abridor de garrafas gigante.

Nada perto dos 828 metros do maior prédio do mundo, o Burj Khalifa de Dubai. Mas MbS costuma jogar com as duas pernas: se terá casinhas cor de terra em Diriyah, pretende gastar até R$ 25 bilhões com um mastodonte de 2 km de altura em sua capital.

As ruas desafiam um pouco os estereótipos. Sim, é um país pio: não há Constituição no reino, e o Corão e os ditos atribuídos ao profeta Maomé no século 7º são a lei. O Estado é pervasivo, mas discreto à parte dos pôsteres do rei e seu herdeiro: não há policiamento ostensivo, e a taxa de homicídio está pouco abaixo de 1 por 100 mil habitantes ao ano, 21 vezes menos do que no Brasil.

O Estado executou 170 pessoas em 2023, e um aplicativo permite que cidadãos denunciem outros em caso de comportamento que seja visto como inadequado.

Mulheres cobertas com o manto abaya e usando o véu niqab, que só permite a visão dos olhos, são onipresentes apesar da liberalização desde que MbS chegou ao poder. “O véu ainda nos protege, mas não é tão obrigatório quanto parece”, disse Nor, consultora de uma empresa de recursos humanos que pediu, assim como o barman Mohammed, para não ter o sobrenome divulgado.

De traços libaneses, Nor tem 34 anos, é casada e tem dois filhos. Elogia MbS: “Antes eu não podia dirigir, agora saio sozinha para jantar com minhas amigas”. Um dos locais favoritos é o Mefic, centro de restaurantes e lojas frequentado por grupos mistos, algo impensável há alguns anos. Mas ainda há desconforto entre homens mais velhos, diz ela, com a presença feminina.

Em shoppings de luxo como o Al-Faisliah, senhoras envelopadas de preto ou algumas cores mais discretas compram lingerie na Victoria’s Secret. Já o fosso salarial não difere muito daquele no resto do mundo: em 2023, o trabalhador do setor privado saudita ganhava em média R$ 14 mil mensais; mulheres, pouco mais da metade disso.

Isso dito, ainda há uma distância oceânica entre a ideia ocidental de liberdade feminina e o que se vê no país, particularmente entre os mais pobres. A ONU calculou em 2023 em 13,6% os que moram na pobreza no reino, a maioria entre os imigrantes (14 milhões dos 34 milhões de moradores, 3 milhões deles ilegais).

Na capital, em quatro dias foi possível vê-los em bairros na área sul da cidade, além de uma solitária vendedora de flores com suas duas filhas pequenas numa noite. Já a riqueza mais evidente está nas ruas: os muitos carros “normais” sul-coreanos e japoneses disputam espaço com nem tantos modelos esportivos e de ultraluxo –numa loja de usados, um SUV Rolls Royce Cullinan de 2018 saía por R$ 2,7 milhões.

Dificilmente acessível a quem não fosse um dos 2 milhões de muçulmanos que fazem a peregrinação a Meca anualmente, o país se abriu em 2019, com vistos online de um ano a cerca de R$ 500.

Mas os grandes eventos colocarão à prova mais que as belas apresentações virtuais e maquetes de megaprojetos, como a megalomaníaca cidade futurista Neom, de R$ 2,5 trilhões. Bala, há: só o fundo soberano saudita, o maior do mundo, gerencia R$ 3,4 trilhões.

Um diplomata ocidental em Riad pondera que MbS não pode se dar ao luxo de excluir a liderança conservadora, lembrando o que aconteceu quando a Al Qaeda do saudita Osama bin Laden (1957-2011) lançou uma guerra contra a monarquia e o Ocidente pelo que chamava de desvirtuamento do Islã.

Um foco nevrálgico é o álcool, central na estratégia de ocasiões como a Copa, que é banido no país. Se você tentar entrar com uma garrafa de vinho na mala e for pego, está sujeito a prisão e até açoite. Como se viu no vizinho Qatar em 2022, a Fifa terá de achar um caminho intermediário.

Isso não significa que as pessoas não bebam álcool na Arábia, ao contrário. Assim como no Paquistão, outra terra de purismo islâmico, a elite o consome de forma escondida, como nos condomínios fechados das estrelas do futebol. Se no país do sul da Ásia a fonte são os cristãos com licença para venda, na Arábia as embaixadas e as porosas fronteiras fornecem o produto.

Segundo dois empresários locais apreciadores de uísque, uma garrafa do escocês The Macallan 12 anos sai pelo equivalente a R$ 2.500, preço brasileiro. Uma de vodca russa Beluga, R$ 2.000.

A resposta que o governo achou foi dupla. Em 31 de janeiro, abriu no Distrito Diplomático a primeira loja oficial de bebidas para representantes estrangeiros não muçulmanos no reino. Só entra lá quem tiver autorização, e há cotas visando limitar e legalizar o consumo.

Na outra mão, há uma moda que é incentivada na mídia local, a maioria privada e toda governista: os bares de mocktails, os “coquetéis falsos”, no caso, sem álcool. Locais como o do LPM cobram R$ 80 pelo tal gim-tônica, produzido com uma beberagem inglesa cujo etanol foi desnaturado.

O barman Mohammed está certo: é mais difícil fazer uma receita tão tradicional de forma potável sem o produto principal. O gosto, ainda que lembre o original, ao fim não passa daquele de uma água aromatizada algo vulgar. Cerveja sem álcool custa R$ 50 a lata, em hotéis e bares.

A quase 900 km de lá, no Time Out Market de Dubai, outro barman chamado Mohammed, esse tunisiano e também com 25 anos, servia na noite de quarta (6) uma cerveja normal também a R$ 50. A Arábia Saudita será a nova Dubai? “Eles estão tentando, e muitos amigos meus estão indo trabalhar lá”, diz.

 

TEORIA DO DOMÍNIO PERIGOSA EM QUALQUER GOVERNO

 

História de Andrea DiP – Agência Pública

Teologia do domínio é mais perigosa para democracia que bolsonarismo, diz historiador

Teologia do domínio é mais perigosa para democracia que bolsonarismo, diz historiador© Fornecido por Agência Pública

Em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal sobre as suspeitas de um plano de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro. Para o historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, no futuro os historiadores verão essa manifestação como um momento sintomático de algo que há muito tempo se articula nos bastidores: pela primeira vez, tornou-se explícito o projeto da teologia do domínio.

No episódio 109 do podcast Pauta Pública, o professor explica as dimensões religiosas da manifestação bolsonarista. Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos e, recentemente, adotada no Brasil. Ela é a base da doutrina de várias igrejas, como a da Lagoinha, diz o professor.

O historiador explica que a declaração de Michelle Bolsonaro foi flagrantemente inconstitucional e representa uma enorme ameaça. “Eles não estão brincando, os evangélicos estão de fato partindo para o momento em que a teologia do domínio tentará chegar ao poder político”, afirma. Para ele, a democracia corre o risco de se transformar numa distopia teonomista, ou seja, que pretende subordinar toda a vida à religião. 

EP 109 Bolsonarismo é uma distopia teocrática? – com João Cezar de Castro Rocha

[Andrea Dip] A teologia do domínio tem aparecido nos congressos de extrema direita em todo o mundo. Ou seja, a religião cristã é posta como uma verdade absoluta. E tem um outro movimento que a Michelle Bolsonaro encarna perfeitamente – que o bolsonarismo tem tentado vender –, o Mulheres com Bolsonaro. Como você vê isso e qual é a importância da Michelle para o bolsonarismo?

Partindo do princípio da ideia da teologia do domínio em algumas passagens da Bíblia, no Antigo Testamento, Gênesis, capítulo 1, versículo 27, diz: “Criou Deus o homem e a sua imagem, a imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”. Agora o versículo seguinte, fundamental para a discussão: “Deus os abençoou e lhes disse, sejam férteis e multipliquem-se. Encham e subjulguem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’”.

Porém a tradução foi fundamental, é o monumento da literatura ocidental. É da tradução da Bíblia, patrocinada pelo rei James, que vem a ideia, no capítulo 1, versículo 28, de uma leitura literal da passagem, especialmente na parte “have dominion over”. O que se entende é que todos aqueles eleitos por Deus devem ter domínio sobre tudo, especialmente na condução do Estado. 

Essa teologia foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos e recentemente foi adotada no Brasil. Ela está na base da doutrina da Igreja da Lagoinha, onde Nikolas Ferreira (PL-MG) professa sua fé. A teologia do domínio está na base de outras igrejas que contaminaram as concepções de Damares Alves e Michelle Bolsonaro. Quando Michelle diz que chegou a hora da libertação, o que ela está dizendo é: chegou a hora do Estado civil subordinar-se à fé, não à espiritualidade, mas à crença deles. Pensando nisso, no nosso país tudo começa a ficar bastante claro e muito preocupante, muito preocupante. 

Nós não podemos, em relação à teologia do domínio, fazer como fizemos com Jair Bolsonaro. Não podemos reduzir essa teologia a uma caricatura do programa CQC, uma caricatura do sofá da Luciana Gimenez no programa Super Pop. A teologia do domínio é muito mais perigosa do que Bolsonaro.

A Igreja Universal do Reino de Deus é de 1977. Em 1988, a Constituição Federal do Brasil, no seu artigo 5º, assegura o caráter laico do Estado e o direito inviolável da dignidade da pessoa humana de professar a sua fé. Portanto, não apenas o Estado é considerado laico, mas todas as religiões são vistas em pé de igualdade. Em 1988, nenhuma liderança evangélica se opôs ao artigo 5º da Constituição. A resposta a isso nos conduz a um dos principais pensadores da teologia do domínio, um economista muito importante: Gary North.

Gary North era um defensor da escola austríaca, portanto neoliberal, autor de uma obra muito vasta, com uma profunda reflexão sobre economia, política e comunidade cristã. North era adepto à teologia do domínio e defendia um movimento em dupla etapa.

Na primeira etapa, dizia o Gary North, como a liberdade de culto é assegurada, vamos expandir o número dos fiéis e propagar a nossa doutrina. Quando o número for suficiente para interferir na vida política, o faremos. É o que aconteceu no Brasil. Em 1977 a Igreja Universal do Reino de Deus é criada e, como eu disse anteriormente, em 1988, a Constituição Federal é promulgada com o Estado laico. 

Agora vamos pular no tempo: em 2008 foi lançado o livro de Edir Macedo. O livro tem como base teórica Thomas Hobbes e o Antigo Testamento, porque Deus, diz Edir Macedo, é um estadista, Deus é, sobretudo, um gestor da coisa pública. Na última página do livro, Edir Macedo esclarece o potencial que tem um Estado adormecido e chama a atenção do leitor para que não deixe essa “potencialidade” ser desperdiçada.

Para compreender essa questão, podemos citar o seu livro A bancada evangélica e seu projeto de poder. No depoimento do senador Haroldo Oliveira (– que eu considero um dos mais preciosos jamais feitos para compreender essa questão –,ele diz que, em 2018, os evangélicos seriam um terço da população do Brasil. É um público relevante na sociedade. Haroldo também diz que a Igreja Universal foi a primeira a ter consciência política logo depois da Constituinte e elegeu os seus representantes para a Câmara dos Deputados.

Um ano depois dessa entrevista, pela primeira vez na história os evangélicos elegeram um presidente da República. A diferença de votos evangélicos dados para Jair Messias Bolsonaro e Fernando Haddad é a diferença de votos que o levou à vitória. A primeira vez que isso aconteceu na política brasileira numa eleição presidencial foi em 2002. Ganhou a eleição o presidente Lula, em segundo lugar ficou José Serra, em terceiro lugar, de maneira surpreendente, o Anthony Garotinho, que obteve 10% dos votos em todo o Brasil em 2002. Eram votos majoritariamente evangélicos.

O Anthony Garotinho foi de fato o primeiro político a compreender que os evangélicos levariam um candidato à Presidência. Em 2018 isso se materializou. Agora eles já não são mais minoria, estamos na segunda etapa do projeto do Gary North. A declaração de Michelle Bolsonaro é flagrantemente inconstitucional, mas ela é, sobretudo, uma enorme ameaça. Eles não estão brincando, os evangélicos estão de fato partindo para o momento em que a teologia do domínio tentará chegar ao poder político. Nada pode ser mais perigoso do que isso. Isso é mais perigoso para a democracia brasileira do que o bolsonarismo. Se é que isso é possível de acreditar.

[Clarissa Levy] Eu queria emendar uma pergunta exatamente sobre isso que você está falando, como essa extrema direita no Brasil tem os pés absolutamente fincados na religião. A teologia do domínio que o senhor menciona abarca um projeto de nacionalismo cristão? De que maneira você acha que vamos ver isso nas eleições municipais?

O nacionalismo cristão também é um movimento norte-americano, assim como o sionismo cristão. No Brasil, há uma mescla, às vezes de difícil distinção, entre o nacionalismo e o sionismo cristão – que teve como um dos líderes no Brasil um dos mais importantes propagadores do sionismo cristão, o Márcio Valadão, criador da Igreja da Lagoinha, e hoje tem seu filho, André Valadão, como líder. André Valadão, que há dois ou três meses, num culto de sua igreja nos Estados Unidos, na Flórida, disse com todas as palavras que, se fosse necessário para “resolver o problema LGBT”, os fiéis deveriam agir. Essa declaração foi uma coisa absolutamente espantosa, mas muito reveladora do que é de fato a teologia do domínio e o nacionalismo cristão.

Para André Valadão, o nacionalismo cristão de Nikolas Ferreira, de Damares Alves, de Michelle Bolsonaro não o inclui. É como se ele não fosse digno deste nacionalismo cristão que eles defendem. Isso é muito perigoso, mas ajuda a compreender algo da fala de Michelle Bolsonaro e nos permite ir ainda mais longe. 

Passo a passo, a Michelle Bolsonaro, logo depois de dizer que houve o equívoco de separar religião e política, o que ela basicamente quis dizer é que ela pretende voltar ao século XVII, que é a monarquia absoluta e direito divino. Ela usou a categoria do mal, “o mal dominou”, “o mal ocupou o terreno”, e o mal é uma das mais importantes e fascinantes categorias filosóficas e teológicas. É uma questão filosófica de enorme importância, uma questão teológica central. Crime e castigo, de Dostoiévski, é uma reflexão profunda sobre a presença do mal no cotidiano.

Na esfera da política, o mal é uma categoria absolutamente inadequada. Porque, toda vez que eu falo em mal, eu tenho que supor o bem, e, se de fato existe o bem supremo, o mal absoluto não pode senão ser negado ou rejeitado, se possível, eliminado. 

A política é a esfera da negociação, é importante recuperar a palavra. Negociação não é negociata. A política só faz sentido porque na pólis convivem diversos, que não são necessariamente opostos, mas diversos. A política é sobretudo a arte de falar, mas especialmente de escutar o outro, implica a negociação, a concessão. Mas não há política, cotidiano, nenhum de nós seria capaz de ter uma relação com um companheiro, com uma companheira, com um filho, se nós não fizermos concessões. Só é possível fazer concessão se eu reconheço a plena dignidade do outro. Mas se o outro, aquele que é diverso de mim, aquele que não é meu espelho, não tem dignidade, eu nunca vou fazer concessão.

Quando Michelle Bolsonaro traz para a esfera da política a categoria do mal, é uma indicação precisa de que se trata de uma distopia. Usando as palavras corretas, é uma distopia teocrática, fundamentalista. No termo correto derivado da teologia do domínio, teonomista – Teo em grego Deus, nomos, ordem, lei.

É uma distopia teonomista porque é uma distopia que pretende subordinar toda a nossa vida à religião. Mas vou repetir, não é subordinar a vida à espiritualidade, mas à religião tal qual eles professam. Isso ajuda a entender um fenômeno desta manifestação do dia 25 de fevereiro. Salvo o engano, eu não me lembro de escutar o nome de Jesus, as referências eram todas do Antigo Testamento.

A Igreja Universal do Reino de Deus surge em 1977, é a Igreja do Cristo e é a mensagem do Cristo, sobretudo. Nos últimos 15, 20 anos, em todo o mundo, nas igrejas neopentecostais que favorecem o nacionalismo cristão, o sionismo cristão ou a teologia do domínio, muitas vezes mesclando essas teorias, há uma transferência teológica muito reveladora. Mas o motivo de ser o Antigo Testamento é porque não é possível encontrar no Novo Testamento nenhuma passagem que favoreça um projeto político. Afinal, Jesus foi muito claro: “A César, o que é de César, ao Senhor, o que é do Senhor”. Poder temporal, poder espiritual. O reino de Deus não se confunde com o reino de césares. 

Além do mais, não é possível pensar no Novo Testamento e ter a intolerância implícita na teologia do domínio. Quando um gentio qualquer busca a Cristo para salvação ou para cura de alguma enfermidade, Cristo sempre atendeu. Quando eles criticam dizendo mas é um gentio – ou seja, um não judeu –, Cristo respondeu: mas ele me procurou com fé no coração. O cristianismo como religião só se tornou possível quando Paulo desenvolveu a ideia de que é possível ser cristão sem necessitar a circuncisão, o que quase levou Paulo à morte num debate no templo. Em outras palavras, é possível ser cristão não sendo judeu. Nesse momento surge o princípio básico da Igreja Católica; em latim, catolicus é universal e ecumênico, depende da fé que você tem no coração. Isso implica dizer que você não é necessariamente uma exclusividade, não é apenas uma doutrina que não aceite nenhuma outra.

O Antigo Testamento, buscado pela teologia do domínio, não é um Antigo Testamento como um todo. Isso faz a diferença, não é de Moisés, que recebe a Tábua das Leis no monte Sinai; não é de José, que, tendo sido vendido pelos irmãos, quando tem a chance de se vingar, perdoa. Em uma das mais bonitas cenas do Antigo Testamento, ele perdoa os irmãos e reúne a sua família numa espécie de imagem do futuro Cristo que também perdoa. Há muitos exemplos no Antigo Testamento, mas o que foi dito no dia 

25 de fevereiro pela mescla de locutor de rodeio e pastor, antes de passar a palavra ao ex-presidente foi: Deus não evitou que Golias enfrentasse a Davi. Em seguida, ele disse “e agora eu chamo o mito Jair Messias Bolsonaro”. 

Nesse momento temos a ponte, Davi para Bolsonaro, do pecador ungido para o mito igualmente ungido. Mas por que Davi? É um fenômeno que faz parte da teologia do domínio. Um fenômeno que não é brasileiro.

Trump é Davi, Bolsonaro é Davi, Milei é Davi. Porque Davi aqui é privilegiado, não é o menino que derrota Golias, que vence a força bruta com a inteligência e a astúcia. Aqui é o rei Davi, um modelo do pecador ungido, porque ele é o senhor das armas, ele é o rei de batalhas, ele é o senhor de um império, mas depois ele se arrepende, torna-se outro. Davi é abraçado pela teologia do domínio. Em outras palavras, Trump, Milei e Jair Bolsonaro, pouco importa os pecados que cometam, eles são ungidos.

MOTIVOS DA REPROVAÇÃO PÚBLICA AO GOVERNO LULA

 

História de Juliano Galisi – Jornal Estadão

Nesta semana, três institutos divulgaram pesquisas que apontaram queda na avaliação positiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quaest, Atlas/Intel e Ipec (antigo Ibope) indicam que mais entrevistados “desaprovam” a gestão do petista, enquanto os índices dos que avaliam o governo como “ruim” ou “péssimo” têm subido.

Cada instituto adota metodologias distintas e entrevista um universo diferente de entrevistados, mas a tendência geral é a mesma nos três levantamentos.

Lula está no terceiro mandato na Presidência Foto: Wilton Junior/Estadão

Lula está no terceiro mandato na Presidência Foto: Wilton Junior/Estadão© Fornecido por Estadão

A pesquisa Ipec não apontou motivos possíveis para o crescimento da avaliação negativa, enquanto os levantamentos dos institutos Atlas/Intel e Quaest indicaram, entre os motivos para a queda, as declarações recentes do petista que abalaram sua imagem com o público.

Além disso, a percepção a respeito da Economia nacional e dos preços dos insumos do dia a dia piorou em comparação com levantamentos recentes. O governo também não consegue performar bem nos temas mais importantes para os entrevistados, como segurança pública e corrupção.

A polarização política, por fim, pesa como um “teto” que o petista ainda não conseguiu superar em suas avaliações.

Veja as principais razões para a queda na popularidade do governo Lula.

Fala que comparou Israel ao Holocausto

Em 18 de fevereiro, durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, Lula comparou a incursão de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. “O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente.

O episódio se destaca como o evento de maior impacto na imagem do petista desde quando as últimas pesquisas de opinião haviam sido feitas e, por conta disso, institutos se debruçaram especificamente em relação ao tema.

Na pesquisa Quaest, constatou-se que a declaração foi percebida como um “exagero” e teve influência na avaliação de Lula. Para 60% dos entrevistados, o presidente “exagerou” na comparação. Entre os evangélicos, o índice chegou a 69%. E é justamente entre os evangélicos que a popularidade de Lula despencou mais nitidamente.

Segundo a Quaest, a avaliação negativa do governo subiu de 36% a 48% entre pessoas dessa denominação religiosa, enquanto no geral ela foi de 29% a 34%. Na pesquisa Atlas/Intel, 57% dos evangélicos avaliam o governo como “ruim/péssimo”. No geral são 41%.

Já no levantamento do Ipec, a administração Lula é vista como ruim ou péssima por 41% dos entrevistados evangélicos e 32% no total da população.

Em janeiro, segundo o Atlas/Intel, a imagem do Lula, como presidente, era positiva para 51% e negativa para 45% dos entrevistados. Agora, o quadro se inverteu, com imagem negativa para 49% e positiva para 47%. Andrei Roman, CEO do instituto, aponta a fala dele sobre os ataques de Israel como um dos motivos para essa piora, junto da postura do presidente sobre as eleições venezuelanas.

Como mostrou o EstadãoLula se disse feliz pelo ditador Nicolás Maduro marcar o pleito no País e sugeriu que oposição não questione a lisura do processo. No fim de janeiro, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela declarou María Corina Machado, principal nome da oposição, como impedida de disputar a eleição deste ano, entre outras decisões que barram opositores no País.

Percepção de aumento nos preços dos insumos

A pesquisa divulgada pela Quaest indica um aumento substancial na percepção de aumento de preços de insumos básicos. O índice diz respeito ao que o entrevistado sente no momento de realizar as compras e não corresponde, necessariamente, aos índices de inflação auferidos por institutos especializados em estatísticas econômicas.

Ainda assim, a percepção de preço é suficiente para influenciar a opinião pública em relação à atuação do governo na área econômica.

Em dezembro, data em que foi realizado o levantamento anterior da Quaest, 48% dos entrevistados disseram ao instituto que, para eles, os preços dos alimentos “subiram no último mês”. Na pesquisa de fevereiro, o índice disparou para 73%. No mesmo sentido, na pesquisa anterior, 36% disseram que sentiram um aumento no preço dos combustíveis. Em fevereiro, a percepção subiu 15 pontos porcentuais, indo a 51%.

Economia

A Atlas/Intel apurou que a percepção geral dos entrevistados é de que a economia brasileira vai mal. Para 53%, a situação econômica do País é “ruim”. É a primeira vez desde o início do terceiro mandato de Lula que o porcentual supera os 50%. Na pesquisa anterior, realizada em janeiro, 47% dos brasileiros afirmaram que a economia estava indo mal.

Em comparação, na análise da semana passada, 28% disseram que a economia está “boa” e 19% que está “normal”.

Na pesquisa Quaest, 38% disseram que a economia do País piorou nos últimos 12 meses, frente a 26% que opinaram que ela melhorou. Em dezembro, na pesquisa anterior, a situação estava invertida: 34% avaliavam que a economia melhorou, enquanto quem viu ela piorando foram 31%.

Segurança pública e corrupção

A Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas e pediu para cada entrevistado elencar quais seriam os três principais problemas do País. As áreas mais citadas foram “Criminalidade e tráfico de drogas”, com 59,9% mencionando a questão como um problema para o Brasil, e “Corrupção”, com 58,8%.

Os temas destoam de forma disparada em relação aos demais: a terceira área mais citada foi “Pobreza, desemprego e desigualdade social”, lembrada por 20,6% dos pesquisados. E, justamente nas áreas apontadas como mais importantes para a formação de opinião dos entrevistados, o governo Lula não tem apresentado bons índices de avaliação, como demonstra a Atlas/Intel.

Em janeiro de 2024, 52% haviam dito ao instituto que avaliavam o governo como “ruim” ou “péssimo” na área de segurança pública, porcentual que já representava, na ocasião, a área com avaliação mais problemática para o governo. Na pesquisa divulgada nesta semana, o índice foi a 66%.

No quesito “Justiça e combate à corrupção”, a avaliação também piorou. Em janeiro, a opinião de que o governo era “ruim” ou “péssimo” nessa área era de 48%. No início de março, o índice foi a 55%.

Persistência da polarização Lula e Bolsonaro

Cada instituto possui uma metodologia de pesquisa distinta para auferir os índices de opinião, mas os três levantamentos são unânimes em indicar que, quase um ano e meio depois do segundo turno presidencial em 2022, a polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue viva na mente do entrevistado.

Polarização entre Lula e Bolsonaro, que marcou eleição presidencial em 2022, persiste na cabeça do eleitor Foto: André Dusek/Estadão e Gabriela Biló/Estadão

Polarização entre Lula e Bolsonaro, que marcou eleição presidencial em 2022, persiste na cabeça do eleitor Foto: André Dusek/Estadão e Gabriela Biló/Estadão© Fornecido por Estadão

As pesquisas têm diferenciado as respostas em relação ao candidato escolhido na eleição passada. O Ipec, por exemplo, questionou os pesquisados sobre a aprovação ao governo de Lula e cruzou os dados em relação aos diferentes eleitorados. Entre eleitores de Lula, 84% aprovam a gestão federal. Entre os que votaram em Bolsonaro, a desaprovação é de 83%.

Os índices apontam que Lula não consegue influenciar a opinião de quem não votou nele em 2022, o que cria um teto estreito para o petista aumentar sua aprovação.

Saiba mais sobre as pesquisas de opinião

O Quaest fez 2.000 entrevistas presenciais entre os dias 25 e 27 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais e o índice de confiança é de 95%. A pesquisa Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas pela internet entre os dias 2 e 5 de março de 2024, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%. O levantamento do Ipec ouviu 2.000 pessoas presencialmente, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%.

GOVERNO VAI RECULAMENTAR A ENTREGA DE E-COMMERCE COM O CORREIO

 

Ministro das Comunicações montou grupo de trabalho da pasta com a participação de integrantes dos Correios para discutir os termos da proposta a ser apresentada até agosto, e diz que, hoje, a estatal está em desvantagem com o setor privado

Por Roseann Kennedy – Jornal Estadão

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, quer regulamentar o serviço de entregas e-commerce no País e montou um grupo de trabalho com integrantes da pasta e dos Correios para apresentar a proposta até agosto.

Ele afirma que a medida visa fortalecer a estatal para que possa competir “em pé de igualdade” com as concorrentes privadas. Juscelino avalia que os Correios operam em desvantagem e argumenta que a legislação postal de 1978 está defasada, limitando a atuação da empresa.

”As regras têm que ser justas para todos, ainda mais em um mercado em crescimento. Além disso, não podemos deixar que o setor de entregas de e-commerce não tenha uma regulamentação para garantir níveis de qualidade, padrões e uma instância de reclamação”, afirmou à Coluna do Estadão.

O ministro diz que os Correios enfrentam regras antiquadas como proibição de envio de plantas vivas e de animais. Ressalta que isso impede o transporte de vírus inativo para estudos ou de sêmen de animais para criação.

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Foto: Divulgação/Ministério das Comunicaç

Em outra frente, os Correios vão receber investimento de R$ 856 milhões, no Novo PAC, para sistemas automatizados de triagem e centros de serviços postais.

Governo Lula retirou os Correios e outras seis estatais de programa de privatização

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou em abril do ano passado sete empresas do Programa Nacional de Desestatização (PND) e três do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Entre as empresas removidas, estão os Correios e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

As estatais foram incluídas nos programas de desestatização durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O governo Lula já havia assinado um despacho determinando a revogação de processos de privatização de oito estatais, incluindo os Correios, no dia da posse, em 1º de janeiro.

GOVER FECHA CONTRATOS COM EMPRESA DE TAXI AÉREO DO GARIMPO ILEGAl

Governo Lula fecha contratos de R$ 14 milhões com empresa ré por garimpo ilegal na AmazôniaGarimpo fica dentro de reserva biológica e família de fundador enriqueceu sob a ilegalidade, segundo a PF; Ministério da Saúde diz que romperá contrato se a empresa for condenada e o advogado da companhia não se manifestou

Por Tácio Lorran – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Sob a gestão de Nísia Trindade, o Ministério da Saúde firmou dois contratos em 2023, no valor total de R$ 14,4 milhões, com uma empresa de táxi aéreo que responde na Justiça por garimpo de ouro ilegal em uma reserva biológica (Rebio) na Amazônia.

A Piquiatuba Táxi Aéreo tem sede em Santarém (PA) e é acusada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) de usar aeronaves para auxiliar um garimpo dentro da Reserva Biológica Maicuru, no norte do Pará, e próximo a indígenas isolados. O fundador do garimpo é pai dos sócios da Piquiatuba e construiu o grupo empresarial da família a partir da extração ilegal de ouro. A denúncia foi aceita pela Justiça Federal, e a empresa responde ao processo em primeira instância.

Procurado, o Ministério da Saúde disse que não compactua com o garimpo ilegal e informou que vai suspender os contratos com a Piquiatuba somente se a empresa for condenada na Justiça. O advogado da companhia não se manifestou.

Os contratos foram firmados em junho e agosto do ano passado pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) de Tapajós e de Kaiapó Redenção, vinculados ao Ministério da Saúde, ambos no Pará, para serviço de fretamento de aeronaves nas regiões. Esses aviões são usados em missões de equipes de saúde para atendimento em comunidades indígenas. A denúncia do MPF foi aceita pela Justiça Federal em maio de 2021, ou seja, os contratos firmados com o governo Lula ocorreram depois disso.

Os acordos feitos pelo Ministério da Saúde vão na contramão da política ambiental anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu tolerância zero contra o garimpo ilegal e que tem usado a defesa da Amazônia como pauta internacional.

A relação da Piquiatuba com a gestão pública, porém, não é de agora. Desde 2014, quando assinou o primeiro contrato, durante a gestão de Dilma Rousseff, a empresa ganhou R$ 181,7 milhões do governo federal, segundo dados do Portal da Transparência. Desse total, R$ 24,9 milhões foram repassados pela atual gestão petista.

Além dos dois novos contratos, o Ministério de Nísia Trindade renovou outros dois acordos com a empresa denunciada. Um deles foi feito com o DSEI Amapá e Norte do Pará. A região, inclusive, abrange o garimpo ilegal de onde a companhia extraiu ouro de forma criminosa, segundo Ministério Público Federal e a Polícia Federal. O outro foi renovado com o distrito de Guamá-Tocantins.

Garimpeiro construiu maior empresa de táxi aéreo do Norte e Nordeste com a extração ilegal de ouro

A Piquiatuba e seus dois sócios, Edson Barros da Silva e Patrick Paiva da Silva, foram denunciados pelo MPF em maio de 2021 por atuarem na extração ilegal de ouro numa região conhecida como Garimpo do Limão, que fica a 10 quilômetros do território indígena Rio Paru d’Este. A terra abrange os povos Aparai, Wayana e isolados do alto Rio Ipitinga.

De acordo com a denúncia, a Piquiatuba usou seus aviões para auxiliar o empreendimento criminoso. A empresa realizou entre 2015 e 2018 cerca de 200 voos para o Garimpo do Limão. Nesse mesmo período, Armando Amâncio da Silva vendeu e esquentou ao menos R$ 13,4 milhões de ouro ilegal, segundo os investigadores.

Edson Barros da Silva, Armando Amâncio da Silva e Patrick Paiva da Silva, da esquerda para a direita
Edson Barros da Silva, Armando Amâncio da Silva e Patrick Paiva da Silva, da esquerda para a direita Foto: @Edson7777 via Instagram e @patrickpaiva via Facebook

Armando é fundador da Piquiatuba e pai dos atuais sócios da empresa. Ele morreu em outubro de 2020, três semanas depois de ter sido alvo da operação Ouro Frio, da Polícia Federal. Os investigadores encontraram 44,9 quilogramas de ouro ilegal na casa do empresário.

Armando nasceu em Gilbués, no sul do Piauí, e foi um dos milhares de nordestinos que se mudaram para a Amazônia atrás de ouro, na década de 1970. O garimpo fundado por ele, segundo a Polícia Federal, jamais teve autorização para extrair o minério.

O único jeito possível para acessar o Garimpo do Limão é por via aérea. Armando comprou seu primeiro monomotor logo na década de 1980. A partir daí, criou uma empresa de aviação – ao mesmo tempo em que extraía ouro de forma ilegal. Hoje, a Piquiatuba é a maior empresa de táxi aéreo do Norte e do Nordeste do País, com uma frota de 23 aeronaves e mais de 15 mil decolagens, segundo números publicados pela própria companhia.

Armando teve a punibilidade extinta em 2020 devido ao seu óbito. A ação penal se manteve, no entanto, contra a Piquiatuba e os irmãos Edson e Patrick.

Edson é piloto de avião, assim como o pai, e casado com a vereadora de Santarém Adriana Almeida (União Brasil), aliada do ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil). Patrick é responsável pelo setor de recursos humanos da companhia.

Empresa de táxi aéreo causou ‘ampla gama de danos’ à Amazônia, segundo denúncia

Além da ação penal em curso, o MPF apresentou uma ação civil pública contra a Piquiatuba. A Procuradoria pede que a empresa seja condenada a pagar R$ 395,4 milhões por venda ilegal de ouro, danos ambientais e danos coletivos aos povos indígenas da terra Paru D’Este.

“Fora identificada uma ampla gama de danos à unidade de conservação, que vão desde o emprego absolutamente inadequado de substâncias tóxicas à saúde e altamente poluentes ao meio ambiente – no caso, mercúrio e cianeto –, ao revolvimento do solo e supressão vegetal, todos estes danos diretamente relacionados à atuação dos denunciados”, diz o MPF.

Garimpo do Limão fica dentro de uma reserva biológica no norte do Pará e ao lado de uma pista de pouso usada pela Piquiatuba Táxi Aéreo
Garimpo do Limão fica dentro de uma reserva biológica no norte do Pará e ao lado de uma pista de pouso usada pela Piquiatuba Táxi Aéreo Foto: Reprodução/ MPF
Trecho da ação civil pública ofertada pelo MPF contra a Piquiatuba e seus dois sócios

Controladoria-Geral da União (CGU) também já apontou um favorecimento da Piquiatuba Táxi Aéreo durante uma licitação feita em 2019 pelo governo Jair Bolsonaro para atendimento na região da Terra Indígena Yanomami. O relatório de auditoria identificou que a escolha da empresa durante o pregão ocorreu antes mesmo da elaboração do projeto básico, o que reforça a tese de direcionamento. O caso é investigado pela Polícia Federal.

Já em março do ano passado, a CGU levantou uma série de irregularidades na execução do contrato do DSEI Guamá-Tocantins com a Piquiatuba. Os prejuízos somam mais de R$ 790 mil. Esse foi um dos acordos renovados pela gestão de Nísia Trindade.

Ministério da Saúde diz que não compactua com garimpo ilegal

Em nota ao Estadão, o Ministério da Saúde ressaltou que não compactua com ações de garimpo ilegal e informou que vai aplicar “rigorosamente a legislação cabível no sentido de suspender imediatamente quaisquer relações com empresas comprovadamente envolvidas com atividades ilegais”.

A pasta relatou acompanhar com atenção a conclusão dos inquéritos conduzidos e disse estar à disposição para colaborar com os órgãos de controle e autoridades judiciais.

O Ministério destacou que o fretamento de aeronaves é de fundamental importância para a condução das ações de atenção à saúde dos povos indígenas, já que em várias aldeias o acesso é realizado apenas por via aérea.

“Sem esses serviços, os profissionais de saúde que prestam assistência aos indígenas ficam impossibilitados de acessar as aldeias nos territórios, além de resgates para remoção de indígenas que precisam de atendimento especializado. A contratação desses serviços segue o rito legal e os procedimentos administrativos regulares, e o Ministério adotará as medidas cabíveis assim que tomar conhecimento das decisões judiciais”, informou a nota.

 

O USO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL HOJE É IMPRESCINDÍVEL E SEU FUTURO SERÁ AINDA MAIS TRANSFORMADOR

Dados internos da empresa global mostram que o tempo médio para a criação do site com IA até a sua publicação é inferior a meia hora

CONTEÚDO DE TERCEIROS – Band Vale – Hostinger


TOPO

Sites com IA

Sites com IA

Divulgação / Banco de Imagens

Quem poderia imaginar que ferramentas de Inteligência Artificial conseguiriam fazer parte da rotina de diversas profissões tradicionais e não-tradicionais em tão pouco tempo? Fato é que o uso da IA tem se tornado imprescindível para alguns setores, e o cenário pode ser ainda mais transformador em um futuro próximo.

É o que já acontece, atualmente, com a criação de sites na internet. A Hostinger, que oferece serviços de hospedagem web, indicou que pelo menos 60% dos mais de 50 mil sites criados todos os meses pela plataforma ao redor do mundo estão sendo gerados pelo Criador de Sites com IA da empresa.

Vale ressaltar que esses dados fazem referência apenas ao ano de 2023 e, por esse motivo, um boom na publicação de páginas online criadas com a ajuda de ferramentas de IA é aguardado ao longo de 2024.

Inteligência Artificial pode impulsionar a visibilidade dos sites em um curto período

A Hostinger também analisou que sites com domínios gerados por Inteligência Artificial demonstram desempenho igual ou superior ao das páginas criadas a partir de modelos prontos.

Com relação à atratividade dos sites gerados por IA, a Hostinger avaliou que, nos primeiros meses no ar, estes atraem mais visitantes do que aqueles criados por outros meios.

E-commerce no topo dos sites criados com IA

Grande parte dos sites construídos pelo Criador de Sites com IA da Hostinger são vitrines de negócios (29%) e lojas online (23%), o que sugere que o comércio eletrônico também será cada vez mais impactado pelas tecnologias de Inteligência Artificial.

Porém, é importante considerar que o lançamento de um site – criado por IA ou não – é apenas o primeiro passo para o sucesso online. Conteúdo relevante e exclusivo, otimização de mecanismos de pesquisa, previsão do comportamento do usuário e utilização de ferramentas de marketing para otimização de campanhas ainda precisam ser trabalhados para que o domínio ganhe autoridade e relevância no ambiente digital.

Com a chegada da IA, o trabalho dos Web Designers irá acabar?

Assim como em outras profissões, o papel dos Web Designers no mercado de trabalho digital em um cenário onde a IA prevalece também é marcado por muitos questionamentos. No entanto, é preciso enxergar essa realidade sob um novo ângulo.

As provedoras de hospedagem na internet já estão na corrida para transformar seus serviços de IA em ferramentas únicas e promissoras. A própria Hostinger, por exemplo, recentemente atualizou seu Criador de Sites com Inteligência Artificial a fim de que a solução seja capaz de gerar sites cada vez mais exclusivos.

Portanto, a inovação deve se tornar uma tendência no trabalho dos Web Designers e outras profissões ligadas ao setor. Será imprescindível que os profissionais da área sejam capazes de refinar o design e o conteúdo dos sites gerados por IA a fim de oferecer um toque cada vez mais personalizado às marcas.

A IA deve ser vista como um auxílio, uma vez que acelera significativamente o trabalho. Dados internos da Hostinger mostram que o tempo médio para a criação do site com IA até a sua publicação é de apenas 28 minutos e 46 segundos. A ferramenta é capaz de gerar um site em poucos minutos e, a partir de então, os clientes ficam livres para personalizá-lo e aprimorá-lo de acordo com suas preferências e necessidades.

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 230.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 5.800.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas três anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

Temos a plena certeza que o site da Startup Valeon, por ser inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da região capaz de alavancar as suas vendas.

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domingo, 10 de março de 2024

AJUSTE DA META FISCAL DO GOVERNO FICA PARA O SEGUNDO SEMESTRE

 

História de IDIANA TOMAZELLI E JULIA CHAIB – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer usar os ganhos de arrecadação no começo de 2024 para empurrar a discussão sobre eventual mudança na meta fiscal para o segundo semestre deste ano.

O objetivo central da estratégia é garantir um ambiente propício para que o Banco Central continue cortando a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 11,25% ao ano.

A equipe econômica considera ideal ter ao menos três reduções adicionais de 0,5 ponto percentual cada uma, nas reuniões de março, maio e junho do Copom (Comitê de Política Monetária).

O foco do governo, segundo interlocutores, é “dar um sinal fiscal mais forte” para que a Selic volte a um dígito pela primeira vez desde fevereiro de 2022. Flexibilizar o alvo da política fiscal antes do relatório bimestral de julho poderia abortar o processo e fazer com que a Selic estacione em patamar mais elevado.

O Banco Central já transmitiu, em mais de uma ocasião, a mensagem de que é importante o governo perseverar na busca pelo déficit zero, embora diga que não há relação mecânica entre o quadro fiscal e a decisão sobre os juros.

O plano de adiar o debate sobre a meta, porém, tem riscos políticos. Em um cenário de frustração de receitas, o envio tardio do projeto de lei para flexibilizá-la tende a encontrar um Congresso Nacional já esvaziado pelas eleições municipais. Para conseguir a aprovação célere de um texto do governo, só em caso de acordo prévio, pontuam parlamentares.

Sem aval do Legislativo, a equipe econômica continuaria na obrigação de perseguir o déficit zero e implementar contingenciamentos bilionários em caso de frustração de receitas, já que o simples envio da proposta não é salvo-conduto para afrouxar os gastos.

Além disso, a cúpula do Congresso pressiona o governo a resolver o impasse em torno dos R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão que foram vetadas pelo presidente, para dar lugar a despesas do próprio Executivo com políticas como Auxílio Gás e Farmácia Popular.

Como mostrou a Folha de S. Paulo, integrantes do governo entraram em campo para convencer os congressistas a aguardarem até o final de março, quando sai o primeiro relatório de avaliação do Orçamento, para ter uma posição mais clara sobre a possibilidade de repor o dinheiro das emendas.

Segundo interlocutores, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou concordância com o pedido, mas tem feito pressão para que a questão seja resolvida até o início de abril.

Os parlamentares têm urgência em recompor as verbas para conseguir iniciar o processo de execução das despesas antes do período eleitoral, quando há restrições à assinatura de novos convênios. Viabilizar esses instrumentos é visto como algo prioritário pelos congressistas para assegurar o envio de dinheiro a seus redutos em ano de disputas locais.

Também está no radar o risco de acirramento nas mobilizações de servidores, pressionando o Executivo a arranjar verba para conceder reajustes.

Para sanar esses problemas, o governo conta com a possibilidade de abrir um crédito adicional de cerca de R$ 16 bilhões no relatório de avaliação de maio, graças a uma regra especial válida em 2024 aprovada no novo arcabouço fiscal.

O dispositivo permite ao Executivo elevar suas despesas para alcançar a expansão real máxima de 2,5% autorizada pela regra do arcabouço (hoje, o Orçamento aprovado contempla uma correção de 1,7% acima da inflação).

Para isso, a reavaliação bimestral de maio precisa indicar um aumento na arrecadação de pelo menos 3,6% acima da inflação neste ano em relação a 2023 –o que deve ser alcançado mesmo que o governo reconheça frustração de receitas.

O problema é que há um entendimento de que o crédito só pode ser usado se o saldo entre receitas e despesas estiver dentro da margem de tolerância da meta fiscal, que permite um déficit de até R$ 29 bilhões sem necessidade de bloquear recursos.

Com arrecadação menor e gasto maior, a flexibilização da meta já em maio poderia ser necessária para destravar o uso do crédito adicional.

Técnicos experientes ponderam que, mesmo que a revisão do alvo da política fiscal ocorra no fim de maio, o risco da demora na votação permanece.

Parlamentares já estarão envolvidos nas negociações políticas que antecedem as convenções partidárias, que a partir de 20 de julho vão deliberar sobre coligações e indicar seus candidatos.

No ano passado, mesmo sem eleições, o Congresso realizou apenas sete sessões conjuntas, três delas no mês de dezembro. O número é considerado baixo e é visto como um indicativo ruim da atividade legislativa neste ano.

Interlocutores do governo reconhecem que empurrar a mudança da meta para o segundo semestre pode se transformar em um desafio “dificílimo”. Mas o discurso atual é o de que ainda é prematuro debater se a flexibilização será de fato necessária.

De um lado, há receitas significativas que ainda são incertas, como os R$ 34,5 bilhões esperados com a repactuação de contratos de ferrovias.

Mas a aposta do Executivo é que a retomada de investimentos ajudará na reativação da economia após o segundo semestre de 2023 de estagnação. Se isso acontecer, poderia ajudar na arrecadação e reduzir eventual necessidade de contingenciar despesas ou mexer na meta.

Outra medida que pode colaborar é a criação de um limite para o uso de créditos judiciais pelas empresas no abatimento de tributos. Valores preliminares citados nos bastidores vão de R$ 20 bilhões a R$ 60 bilhões, mas os números ainda estão sendo refinados pela equipe técnica.

Por isso, o primeiro relatório bimestral, programado para 22 de março, é considerado como um importante sinalizador da tendência para os meses seguintes.

USAM CONTRA O BOLSONARO HOJE OS MESMOS MÉTODOS QUE USARAM CONTRA O LULA

 

Pedro Venceslau – CNN

Secretário de Relações Internacionais de Nunes, ex-ministro é contato para ser vice do emedebista

“Usam contra Bolsonaro os mesmos métodos usados para inviabilizar Lula”, diz Aldo Rebelo“Usam contra Bolsonaro os mesmos métodos usados para inviabilizar Lula”, diz Aldo Rebelo

Ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ex-quadro do PCdoB por mais de 30 anos, o atual secretário de Relações Internacionais da prefeitura de São Paulo, Aldo Rebelo, disse à CNN que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta hoje o mesmo processo que inviabilizou a candidatura do petista em 2018.

“Os métodos que estão sendo usados contra o Bolsonaro hoje são os mesmos que foram usados para inviabilizar a candidatura do Lula (em 2018), e com os mesmos protagonistas: Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal e mídia”, disse Rebelo.

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O ex-ministro disse ter uma relação “muito boa” com o ex-presidente e contou que mantém contato regular com Bolsonaro por mensagem e WhatsApp.

“Bolsonaro não tentou dar golpe nenhum. Um golpe exige uma articulação e um protagonismo que não houve. Golpe não se dá em uma reunião pública gravada”, disse Aldo Rebelo.

Questionado sobre a possibilidade de ser vice de Ricardo Nunes, Aldo desconversou: “Estou sabendo pela imprensa”.

ISRAEL SE PREPARA PARA GUERRA CONTRA O HEZBOLLAH NO SUL DO LÍBANO

Américo Martins – CNN

CNN percorre a zona de tensão e ouve múltiplos relatos sobre a quase inevitabilidade de uma escalada do conflito

Israel se prepara para guerra aberta contra o Hezbollah no sul do LíbanoIsrael se prepara para guerra aberta contra o Hezbollah no sul do Líbano


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O governo, os militares e a sociedade de Israel estão se preparando para uma cada vez mais provável guerra aberta contra o grupo militante xiita Hezbollah no sul do Líbano.

Desde o início da guerra com o Hamas, na Faixa de Gaza, o Hezbollah vem trocando ataques de intensidade relativamente baixa com as Forças de Defesa de Israel na zona de fronteira entre os dois países. O grupo libanês diz agir em “solidariedade” aos palestinos.

Mas a guerra pode escalar rapidamente para um conflito aberto, envolvendo grandes bombardeios pela Força Aérea de Israel, uma invasão da região sul do Líbano e um inevitável revide do Hezbollah –com os seus mais de 30 mil mísseis, um arsenal muitas vezes superior, em número e sofisticação, aos armamentos utilizados pelo Hamas nas atrocidades do dia 7 de outubro.Vídeo do exército israelense mostra explosão em instalações de armas do Hezbollah / REUTERS

O próprio ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse na semana passada ao enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Amos Hochstein, que os contínuos ataques do Hezbollah vão forçar o seu governo a tomar uma decisão mais drástica sobre uma grande ação militar no sul do Líbano.

Este foi apenas mais um dos repetidos avisos israelenses, que exigem uma retirada total das forças do Hezbollah da região de fronteira, como foi estabelecido pela resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU.

A resolução pôs fim à última guerra entre os dois lados, em 2006, quando o Hezbollah concordou em retirar suas forças para o norte do rio Litani. O grupo xiita, no entanto, nunca cumpriu a determinação. E são justamente as suas forças especiais entre o rio e a fronteira que atacam e ameaçam seguidamente os militares e civis de Israel.

CNN percorre a zona de tensão

Viajando nos últimos dez dias por diversas cidades de Israel, ouvi muitos relatos de representantes do governo, militares, especialistas e da própria sociedade civil sobre a quase inevitabilidade da guerra.Militares realizam exercícios com tanques e helicópteros no norte de Israel / REUTERS

O experiente jornalista Ehud Yaari, do canal 12 de TV, especialista nos conflitos do Oriente Médio, disse que a guerra vai acontecer mais cedo ou mais tarde. “Não é bom lutar naquela região nesta época do ano. Pode demorar semanas ou meses, mas o conflito vai acontecer”, disse.

Nas cidades do norte de Israel a tensão é palpável, assim como o desejo da população local de eliminar os riscos dos ataques do Hezbollah –que forçaram a retirada de cerca de 80 mil civis da região.

O kibutz Kfar Blum, que fica a menos de sete quilômetros da fronteira, está quase totalmente abandonado, mas reservistas do Exército e algumas famílias voltaram depois de cinco meses de guerra.

Lá, um reservista que lutou na guerra de 2006 falou de forma enfática à CNN sobre a “necessidade” de se escalar a guerra e derrotar o Hezbollah.Aviões de guerra israelenses voam em direção à fronteira com o Líbano / REUTERS

“Você gostaria que sua família e amigos vivessem num lugar que pode ser atingido a qualquer momento por esses terroristas?”, disse ele indignado.

Um colega dele, também reservista, foi ainda mais determinado.

“O risco do Hezbollah precisa ser eliminado. E será”, disse.

“Meu único arrependimento é não termos terminado o trabalho na guerra de 2006”, disse ele, batendo uma mão contra a outra numa demonstração de irritação contra o grupo xiita.

Menos de duas horas depois da visita, na noite de terça-feira (5), o kibutz foi bombardeado pelo Hezbollah, sem vítimas.

Sarit Zahavi, a presidente e fundadora do centro de pesquisas Alma, um centro de investigação e educação especializado nos desafios de segurança de Israel na sua fronteira norte, disse que uma ação militar contra o Hezbollah é inevitável caso o grupo continue mantendo seus militares na região de fronteira.

“Israel não quer a guerra. Já dissemos isso várias vezes. Mas estamos determinados a fazer com que os ataques de 7 de outubro nunca mais se repitam. Se for necessário enfrentar o Hezbollah para que isso nunca mais aconteça, assim o faremos”, disse ela.

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Zahavi diz que, como moradora da região de fronteira, quer que sua família e amigos tenham paz e não precisem ser retirados da área nunca mais.

Representantes das Forças de Defesa de Israel e do governo também afirmaram que a guerra é inevitável, caso o Hezbollah não desarme o sul do Líbano.

O representante de um importante ministério isralense preferiu usar a expressão “opção militar” para se referir às possíveis soluções para a questão.

O Hezbollah, por sua vez, não dá nenhum sinal de que vai atender às demandas israelenses. Seu líder Hassan Nasrallah diz que o grupo vai continuar combatendo os israelenses e que só suspenderá os ataques se um cessar-fogo permanente com o Hamas acontecer.

Israel, no entanto, dá todas as pistas de que vai atuar para neutralizar o risco do Hezbollah. Muito provavelmente, pela força.

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