A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para este domingo, 25, na Avenida Paulista,
em São Paulo, reuniu 600 mil pessoas em uma das vias mais importantes
da capital paulista, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP). O
número de presentes ultrapassou o registrado em atos anteriores
promovidos pelo ex-mandatário no mesmo local, porém não superou a
quantidade de pessoas que foram à avenida durante a campanha pelo
impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015.
De acordo com a estimativa da SSP na época, 1,4 milhão de pessoas
estiveram na Paulista protestando contra a então presidente Dilma
Rousseff em março de 2015. Até hoje, esse é considerado o maior protesto registrado na avenida.
Por outro lado, a manifestação bolsonarista deste domingo superou os
atos de 7 de Setembro de 2021 e 2022, quando 50,4 mil e 125 mil,
respectivamente, foram à Paulista em favor de Bolsonaro, segundo a
Secretaria.
Ainda segundo dados da SSP, o público total da manifestação deste
domingo chegou a 750 mil, considerando não só os presentes na Paulista
como também os manifestantes nas ruas adjacentes.
As estimativas realizadas pela Secretaria, porém, divergem de
levantamentos feitos por outras entidades. A pré-campanha do prefeito
Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição com apoio de Bolsonaro,
divulgou um texto informando que havia 1,8 milhão de pessoas na
Paulista. A equipe do emedebista atribuiu o dado ao Centro de Operações
da Polícia Militar (Copom), órgão subordinado à SSP.
A reportagem questionou o Copom sobre a estimativa divulgada pela
equipe de Nunes. Em resposta, o oficial de plantão na sala de operações
da PM disse que a corporação não havia divulgado quaisquer números sobre
a manifestação na Paulista, e que a Secretaria de Segurança Pública era
a instância responsável sobre o assunto.
Já o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de
São Paulo (USP), por exemplo, apurou que o público para o pico da
manifestação, às 15 horas, foi de 185 mil pessoas. Considerando os dados
do monitor da USP, o ato bolsonaristas reuniu mais pessoas do que a
manifestação em celebração a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na
eleição de 2022. Em outubro daquele ano, 58,2 mil pessoas se reuniram na
Paulista para comemorar a eleição do petista.
Para chegar nesse número, o monitor da USP tirou 43 fotos entre 15h e
17h. Onze fotos foram selecionadas de forma a cobrir a extensão da
manifestação na Paulista, sem sobreposição. Cada uma das fotos foi
repartida em oito pedaços. Em cada parte, foi aplicada uma implementação
do método Point to Point Network (P2PNet)1 que identifica cabeças e
estima a quantidade de pessoas em uma imagem. As imagens,
reconstituídas, são apresentadas abaixo. O método tem precisão de 72,9% e
acurácia de 69,5% na identificação de cada indivíduo.
O Monitor do Debate Político no Meio Digital é um projeto de pesquisa
realizado desde 2016 pelo Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à
Informação (GPoPAI) com sede na USP Leste. Desde agosto de 2022, o
projeto faz a estimativa de público de manifestações políticas.
Bolsonaro minimiza minuta do golpe e pede anistia para presos do 8/1
Investigado pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de
Estado, Bolsonaro afirmou neste domingo, durante ato político na
Paulista que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a
Presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro. Em
um discurso para milhares de apoiadores, o ex-mandatário negou liderar
uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.
Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal (PF).
Segundo ele, estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e
só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e
deliberação do Congresso, o que não ocorreu.
A manifestação com milhares de pessoas foi convocada pessoalmente por
Bolsonaro para mostrar força política e apoio popular no momento em que
ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se mostrou satisfeito com a adesão dos apoiadores e disse que a “fotografia vai rodar o mundo”.
A manifestação na Paulista foi bancada pelo pastor evangélico Silas Malafaia, que estimou na sexta-feira desembolsar entre R$ 90 mil e R$ 100 mil para arcar com toda a estrutura do evento,
como fornecimento de água, instalação de grades e transmissão pela
internet — há seguranças privados, mas a Polícia Militar também atua no
local. Malafaia alugou dois trios elétricos que estão dispostos em “L”:
um maior, onde está Bolsonaro e os aliados mais importantes, de onde são
feitos os discursos e um segundo veículo, sem estrutura de som, para
abrigar os demais convidados, fotógrafos e cinegrafistas.
O jornal disse que havia um grande número de manifestantes no ato, mas destacou o comedimento de muitos dos presentes.
“A multidão estava lá, é claro. Mas estamos longe do entusiasmo das
mobilizações anteriores. Sob um lindo sol, os rostos permaneceram
fechados, e as palavras eram controladas. O medo de serem presos por
convocarem um golpe é real entre esses bolsonaristas que agora seguram
seus ataques contra os odiados juízes do Supremo Tribunal Federal.”
O correspondente do Le Monde também relatou que as bandeiras de
Israel na multidão eram “quase tão numerosas quanto as do Brasil”.
“No final deste dia, Bolsonaro terá demonstrado a sua capacidade de
mobilização e a resiliência da sua popularidade junto da sua base.
Politicamente, ele terá, portanto, ganho alguns pontos. Mas no plano
jurídico, o assunto está longe de ser ouvido”, escreveu o jornal,
enumerando alguns dos processos aos quais Bolsonaro responde no momento.
“Já condenado a oito anos de inelegibilidade pelos seus ataques ao
sistema de votação eletrônica do Brasil, poderá o ‘capitão’ ver a sua
cavalgada política terminar atrás das grades? Na extrema direita, alguns
já parecem estar preparando a sucessão e imaginando um bolsonarismo sem
Bolsonaro. O candidato mais sério continua sendo o ex-ministro e atual
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Presente no Paulista, ele
prestou homenagem ao ‘amigo’ e ex-presidente”, diz a reportagem.
Outro jornal francês que noticiou a manifestação na avenida Paulista foi o Le Figaro.
“Apesar destes escândalos, Jair Bolsonaro ainda é considerado o líder
da oposição e continua adorado pelos seus apoiantes. Mesmo tendo sido
declarado inelegível até 2030 no ano passado por desinformação, o
ex-presidente pretende usar sua influência para eleger aliados durante
as eleições municipais de outubro, em um país ainda muito polarizado.”
Foto de multidão
O espanhol El País disse que “o bolsonarismo demonstrou orgulho, força e apoio ao líder nas ruas após um ano de discrição”.
“O ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, 68 anos,
conseguiu este domingo em São Paulo o grande evento que procurava em
resposta à acusação de que planejou um golpe de Estado juntamente com
vários generais que eram ministros”, escreveu o jornal.
“Cerca de 185 mil fiéis, segundo uma contagem de acadêmicos,
apoiaram-no juntamente com quatro governadores aliados e dezenas de
parlamentares. Três dias depois de permanecer em silêncio ao ser
questionado pela polícia sobre a suposta trama golpista, Bolsonaro
queria uma foto de multidão para rebater o que considera uma perseguição
judicial.”
O jornal destacou a fala de Bolsonaro de que não havia “tanques nas
ruas” e que, portanto, não houve tentativa de golpe. Segundo o jornal,
Bolsonaro “ignorou que no século 21 os golpes são perpetrados
distorcendo as leis”.
O El País disse que o ex-presidente está “cada vez mais encurralado pela justiça”.
“Os oito casos investigados pelo Supremo têm um pouco de tudo:
divulgação de notícias falsas, posse de joias valiosas que eram
presentes de Estado e má gestão da covid-19.”
Na imprensa britânica, o ato de Bolsonaro foi noticiado por Daily Mail, Independent e Guardian.
O Daily Mail enumerou as acusações contra Bolsonaro, mas concluiu:
“Mesmo assim, Bolsonaro ainda é considerado o líder da oposição e é
adorado por seus fervorosos apoiadores”.
“O protesto de domingo à tarde é visto como um teste decisivo ao seu
apoio antes das eleições municipais de outubro, nas quais se espera que a
sua influência desempenhe um papel fundamental na nação ainda
polarizada.”
O Independent destacou que Bolsonaro ainda tem muitos apoiadores no Brasil, apesar das investigações policiais contra ele.
“O evento mostrou que a mensagem de Bolsonaro ainda ressoa entre
muitos brasileiros, alguns dos quais evidentemente são a favor de
qualquer tentativa de golpe que o coloque no poder. Um homem desfilou
com chapéu militar e gritou: ‘Brasil, nação, salve nossas forças. As
Forças Armadas não dormiram!'”, escreveu o Independent.
O Guardian destacou na sua manchete: “Dezenas de milhares de pessoas
participam de manifestação em apoio ao ex-presidente do Brasil”.
O ato bolsonarista foi destaque também no Times of Israel, jornal que fez críticas a Lula na semana passada pela fala em que o presidente traça paralelos entre a ação de Israel em Gaza e o Holocausto nazista.
O título do jornal diz: “Em refutação a Lula, o ex-líder do Brasil Bolsonaro agita a bandeira de Israel em comício em massa”.
“O ex-presidente foi fortemente pró-Israel durante o seu mandato. Em
uma das suas primeiras medidas depois de vencer as eleições
presidenciais de 2018, Bolsonaro prometeu seguir o exemplo do seu modelo
político, o então presidente dos EUA, Donald Trump, e transferir a
embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.”
Veículos alemães — como o Sueddeutsche Zeitung e o Spiegel — também noticiaram o ato na avenida Paulista.
O ato deste domingo na Avenida Paulista confirma o que todos sabiam: o ex-presidente Jair Bolsonaro tem
base popular, move multidões e divide o País ao meio, como já mostraram
os votos de 2022. Isso, porém, não muda a realidade e as investigações
da Polícia Federal e da Justiça contra Bolsonaro, seus generais, minutas
de intervenção no TSE, anúncio de Estado de Sítio e a longa preparação
de um golpe, que, frustrado, virou a invasão e depredação das sedes dos
Três Poderes.
Compareceram ao ato de domingo os governadores da linha de frente do
bolsonarismo, como Tarcísio de Freitas, anfitrião, Ronaldo Caiado, de
Goiás, Jorginho Mello, de Santa Catarina, e Romeu Zema, de Minas Gerais.
Ok. O passado diz bastante do que eles foram fazer lá e o futuro dirá
se a presença valeu a pena. No final das contas, a história
colocará tudo isso em contexto.
Manifestação foi convocada por Bolsonaro em meio às investigações sobre a tentativa de articular um golpe de Estado no Brasil Foto: Tiago Queiroz/Estadão
O Brasil estava e continua dividido, logo, nada muda com a nova
demonstração de força popular de Bolsonaro, que repetiu as grandes
aglomerações de carreatas, motociatas e passeatas na própria Paulista.
Por maiores que tenham sido, não refletiam a maioria da população, tanto
que ele perdeu em 2022 e se tornou o primeiro presidente derrotado na
disputa pela reeleição.
De toda forma, a forte adesão é um recado para o governo Lula, o PT e
os antibolsonaristas em geral, de esquerda, centro e direita. Bolsonaro
pode ser o que é, pode ter feito tudo o que fez de mal, antes, durante e
depois da pandemia, mas o bolsonarismo paira sobre o País,
preparando-se para inverter o prato da balança e voltar ao poder.
Isso aumenta a responsabilidade de Lula, que precisa fortalecer suas
ações e melhorar seus resultados em áreas em que Bolsonaro foi uma
tragédia, como ambiente, defesa dos povos originários, saúde, educação,
política externa. Não basta ter ministros e gestores incomparavelmente
melhores, Lula tem de mostrar os efeitos em fatos, números e declarações
certas, na hora certa.
Bolsonaro chegou até onde chegou com palanques e grandes multidões
País afora, mas também apoiado por uma máquina de discursos, realidades
paralelas, desqualificação de adversários. Se Lula apresentar resultados
expressivos, isso fica mais difícil. Com resultados que deixam a
desejar, por exemplo, no desmatamento e nas terras Yanomami, Bolsonaro
nada de costas.
O principal efeito do ato na Paulista – sem os cartazes e faixas
golpistas – foi jogar luzes num fato real: apesar de tudo o que todos
sabemos e com Bolsonaro candidato ou não, o Brasil continua dividido ao
meio e o bolsonarismo está vivo. O centro? O gato comeu.
Em 2024, a Operação Lava Jato completará 10 anos. Trata-se da maior
investigação anticorrupção da história do Brasil, pois suas ramificações
atingiram uma parte importante da elite política e econômica de um dos
países mais desiguais do mundo. Para muitas pessoas que cresciam ouvindo
que no Brasil os poderosos nunca sofriam as consequências da lei, a
Lava Jato representou uma nova cultura jurídica no Brasil, inclusive com
novos métodos de investigação e julgamento.
O inicio das investigações ocorreu quando o Ministério Público do
Paraná encontrou fortes indícios de um esquema de corrupção envolvendo a
Petrobrás e grandes empresas de infraestrutura no que diz respeito ao
repasse de propinas para políticos e empresários interessados em
assegurar seus privilégios nas licitações e/ou garantir verbas ilícitas
para interesses partidários e privados. Os dois principais personagens
dessa trama inicial foram o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da
Petrobrás, Paulo Roberto Costa.
Ao todo, foram criadas mais de 70 fases de investigação, percorrendo
cerca de sete anos de investigações e condenações. A raiz do problema
estava na concentração de licitações por parte de algumas poucas
empresas que formavam uma espécie de cartel de pagamentos já
estabelecidos e institucionalizados no sistema político por décadas. Com
o boom das commodities no início do século XXI, o sistema ampliou
demasiadamente os canais de corrupção. Inicialmente, o destino das
propinas era feito em espécie, via pagamentos no exterior. Com a maior
complexidade do negócio, os pagamentos passaram a ser feitos por
transferência internacional ou entrega de bens.
De acordo com o Ministério Público Federal, ocorreram 163 prisões
temporárias, 132 prisões preventivas, 1.450 buscas e apreensões, 211
conduções coercitivas, 35 ações de improbidade administrativa, dois
acordos de colaboração homologados no Tribunal Regional Federal da 4ª
Região (TRF-4), 138 acordos homologados no STF, 553 denunciados, 723
pedidos de cooperação internacional, R$ 4,3 bilhões devolvidos aos
cofres públicos, R$ 2,1 bilhões previstos em multas compensatórias
decorrentes de acordos de colaboração, R$ 12,7 bilhões em multas
compensatórias de acordos de leniência, R$ 14,7 bilhões previstos para
serem recuperados e R$ 111,5 milhões em renúncias voluntárias de réus.
Uma das características mais marcantes da Lava Jato foi o seu processo de americanização dos
métodos investigativos e balizamentos de teses para respaldar as
decisões judiciais. Trata-se de um movimento iniciado anteriormente,
quando foi promulgada a Constituição de 1988. Transformações no perfil
político, cultural, econômico e religioso da sociedade brasileira
passaram a conviver, também, com transformações profundas na cultura
jurídica do país. No texto “Revolução Processual do Direito e Democracia
Progressiva”, presente no livro A democracia e os Três Poderes no Brasil (UFMG,
IUPERJ/FAPERJ, 2002) Werneck Vianna e o sociólogo Marcelo Burgos
analisaram o contexto da transformação americanista do poder judiciário
brasileiro. Para os autores, “o federalismo e a separação de Poderes,
com a criação de um tribunal superior independente quanto à
representação política, importando a novidade na arquitetura republicana
da institucionalização de mecanismos de checks and balances, foi o que definiu o excepcionalismo americano” na modernidade (p. 364-365).
Em contraposição ao sistema jurídico civil law, fundamentado
em uma tradição romano-germânica do direito, quando cabe ao juiz apenas
o papel de interpretação e aplicação da lei, o common law é
uma arquitetura jurídica construída nos países anglo-saxões, em especial
Inglaterra e, principalmente, EUA. Uma das principais diferenças é que
no common law, a aplicação da lei ocorre mediante a regras que
vão se consolidando ao longo tempo e transformações nas relações
culturais dos cidadãos. Isso confere um grande poder ao juiz, pois cabe a
ele acompanhar tais mudanças e aplicar a lei nesses novos contextos. No
cenário da Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro, então responsável pela 13ª
Vara da Justiça Federal de Curitiba, assumiu esse protagonismo.
Para além de interesses políticos diversos na escalada de poder e
fama de Sérgio Moro, atual senador pelo Paraná, bem como os processos de
anulação de julgamentos da Lava Jato, que se iniciaram nos últimos
cinco anos, a rede de investigações e métodos da Lava Jato consolidou,
indubitavelmente, uma nova cultura jurídica no Brasil. Métodos como a
delação premiada passaram a ganhar maior destaque no poder decisório dos
juízes, inclusive a partir de decisões feitas pelo Superior Tribunal
Federal (STF).
Sendo assim, do tríplex de Lula à suposta tentativa de golpe por
parte de Bolsonaro, os juízes brasileiros de várias instâncias vêm se
respaldando cada vez mais nas delações premiadas e nas representações
político-culturais adjacentes aos cargos que Lula e Bolsonaro ocupavam
enquanto ocorriam as supostas criminalidades. No universo das
representações, a Lava Jato abriu as portas para uma dialética ainda
inconclusiva da cultura jurídica brasileira. Para os amigos a civil, para os inimigos a common.
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a)
autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção
(Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o
Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica
A cortiça está passando por um renascimento
à medida que mais setores buscam alternativas sustentáveis ao plástico e
a outros materiais derivados de combustíveis fósseis
Por Marta Vidal – Jornal Estadão
O ruído rítmico dos machados batendo nas árvores ecoa nas profundezas da floresta de sobreiros.
Mas em Coruche, uma área rural ao sul do rio Tejo conhecida como a “capital da cortiça” de Portugal,
o estrondo das árvores caindo no chão não acompanha o som dos golpes de
machado. Em vez disso, trabalhadores experientes retiram cuidadosamente
a casca dos troncos das árvores.
Esse ritual anual de extração de cortiça nos meses de verão existe há
milhares de anos no Mediterrâneo ocidental. Egípcios, persas, gregos e
romanos usavam o material para fabricar equipamentos de pesca e
sandálias e para vedar jarros, potes e barris. Quando as garrafas de
vidro ganharam popularidade no século 18, a cortiça se tornou o vedante
preferido por ser durável, à prova d’água, leve e maleável.
Alona Kozma empilha cortiça numa fazenda em Coruche, Portugal Foto: Jose Sarmento Matos/The Washington Post
Atualmente, a cortiça está passando por um renascimento à medida que mais setores buscam alternativas sustentáveis ao plástico e a outros materiais derivados de combustíveis fósseis.
A casca é agora usada em pisos e móveis, na fabricação de calçados e
roupas, e como isolamento em residências e carros elétricos. As
exportações de Portugal atingiram o recorde histórico de 670 milhões de
euros (R$ 3,6 bilhões) no primeiro semestre de 2023.
Mas a cortiça é mais do que um material verde da moda. Além de criar
empregos, as florestas onde ela cresce fornecem alimento e abrigo para
os animais, ao mesmo tempo em que sequestram dióxido de carbono. E, ao
contrário da maioria das árvores cultivadas comercialmente, os sobreiros
nunca são cortados, o que significa que sua capacidade de armazenamento
de carbono continua durante os 200 anos ou mais de vida.
Como a cortiça é extraída
Com um golpe firme, Fernando Tacha golpeia o tronco de um sobreiro,
depois torce o machado e usa o cabo para erguer delicadamente a tábua.
“Comecei a cortar cortiça quando tinha apenas 19 anos. Agora tenho
69. Mas farei isso enquanto puder”, diz ele, enquanto enxuga o suor da
testa. “É um trabalho difícil, mas muito bonito.”
O sobreiro é uma árvore perene, baixa e de crescimento lento, endêmica do Mediterrâneo.
As florestas mais extensas podem ser encontradas na costa atlântica da Península Ibérica.
Em Portugal, o maior produtor de cortiça do mundo, os sobreiros são
tão apreciados que foram escolhidos como a árvore nacional do país e são
protegidos por lei, portanto é proibido derrubá-los.
A Espanha é o segundo maior produtor, seguida por Marrocos, Argélia, Tunísia, Itália e França.
O processo de extração da cortiça exige precisão e anos de prática. O
golpe do machado deve ser forte, mas também delicado para evitar
atingir a casca interna e danificar a árvore. Como o trabalho é muito
especializado, é um dos empregos agrícolas mais bem remunerados em
Portugal.
A casca só pode ser extraída entre o final de maio e agosto, quando a
árvore está em sua fase ativa de crescimento, o que facilita a retirada
da camada externa sem danificar o tronco da árvore.
Embora
a maior parte da cortiça ainda seja usada como rolha de garrafa, na
última década diferentes setores têm encontrado novos usos para ela Foto: Jose Sarmento Matos/The Washington Post.
O sobreiro é único em sua capacidade de regenerar a casca. Depois de
removida, os trabalhadores escrevem o último número daquele ano com
tinta branca no tronco marrom dourado exposto – um três significa que
foi colhido em 2023. A casca voltará a crescer lentamente e estará
pronta para outra colheita após nove anos. “A árvore sempre se
regenera”, diz a engenheira florestal Conceição Santos Silva.
Paula Salgueira, que trabalha na extração de cortiça em Coruche há 35
anos, estende a mão para tocar um carvalho que acabou de ser
descascado. “Está frio”, diz ela, enquanto acaricia o tronco liso e
desnudado. Enquanto os machadeiros trabalham em pares removendo a
cortiça, Salgueira e algumas outras mulheres juntam as tábuas em pilhas
para o transporte.
Em seguida, as tábuas serão empilhadas ao ar livre em áreas de
armazenamento expostas ao ar e à luz solar. Após seis meses de
envelhecimento para remover a umidade, elas serão classificadas de
acordo com sua espessura e qualidade e, em seguida, fervidas para limpar
as impurezas e tornar o material mais macio e fácil de manusear.
De rolha de garrafa a material ecológico
Embora a maior parte da cortiça ainda seja usada como rolha de
garrafa, na última década diferentes setores têm encontrado novos usos
para ela.
“Estamos observando um interesse crescente na cortiça como material
sustentável”, diz Rui Novais, especialista em materiais da Universidade
de Aveiro, em Portugal. “Em comparação com materiais como a espuma de
poliuretano (usada para isolamento térmico), os produtos feitos com cortiça requerem menos energia e produzem menos emissões de CO2.”
A casca grossa do sobreiro se adaptou para defender a árvore do fogo,
tornando-a um poderoso material isolante que tem sido usado para
proteger tanques de combustível em naves espaciais da Nasa e baterias de
carros elétricos. Ele também é resistente à água e ao óleo e pode
suportar a compressão sem perder a elasticidade.
Parte
do carbono absorvido pelos sobreiros é transferido para os produtos de
cortiça, que podem ser usados por longos períodos, reutilizados e
reciclados. Foto: Jose Sarmento Matos/The Washington Post
“É um material extraordinariamente renovável e biodegradável”, diz
Novais. “Também é muito durável. Foi demonstrado que os produtos de
cortiça permanecem praticamente inalterados por mais de 50 anos.”
Parte do carbono absorvido pelos sobreiros é transferido para os
produtos de cortiça, que podem ser usados por longos períodos,
reutilizados e reciclados. Vários estudos descobriram que a cortiça é
negativa em termos de carbono, o que significa que ela pode armazenar
mais carbono do que a quantidade necessária para produzi-la.
Quando as pranchas de cortiça são cortadas e perfuradas para formar
rolhas de cortiça natural, as sobras são moídas em grânulos e prensadas
para formar folhas ou blocos de cortiça. “Até o pó da cortiça é
utilizado para produzir energia”, afirma João Rui Ferreira,
secretário-geral da Associação Portuguesa da Cortiça. “Ele alimenta as
caldeiras da indústria e parte da produção.”
A cortiça reciclada também pode ser triturada e composta para
fabricar outros produtos. Em Portugal, o Green Cork, um programa de
reciclagem iniciado pela organização ambiental Quercus, já recolheu e
reciclou mais de 100 milhões de rolhas de cortiça desde 2009. Uma
iniciativa semelhante, a ReCORK, existe nos Estados Unidos.
Uma fábrica natural
A maior parte da cortiça produzida em Portugal cresce nas colinas e
planícies suavemente onduladas do sul do país, em um antigo sistema
agroflorestal conhecido como montado. Esse ecossistema semelhante a uma
savana combina cortiça, azinheiras e oliveiras com pastagens, gado,
culturas e pousios.
“O solo no sul de Portugal é muito pobre, chove muito pouco e as
temperaturas são muito altas no verão”, diz Teresa Pinto-Correia,
professora da Universidade de Évora, em Portugal, especializada em
paisagens rurais e sistemas agrícolas. “Mas esse tipo de sistema é
produtivo mesmo quando os recursos são escassos e as condições são
difíceis.”
Durante séculos, os habitantes locais preservaram o montado porque a
cortiça proporcionava aos proprietários de terras uma fonte de renda.
Esse mosaico de habitats abriga centenas de espécies, incluindo o lince
ibérico, o gato selvagem mais ameaçado do mundo e a ameaçada águia
imperial. Um dos mais antigos sobreiros conhecidos no mundo, plantado em
1783 em Águas de Moura, é conhecido como “o assobiador” porque muitos
pássaros visitam seus grandes e extensos galhos.
Os porcos ibéricos se alimentam de bolotas e as cabras pastam nos
pastos entrelaçados. A intercalação de sobreiros com animais e
plantações pode aumentar a produção e a biodiversidade, mas também
construir o solo, controlar a erosão, reter água, combater a
desertificação e sequestrar carbono, diz Pinto-Correia.
Embora as florestas de cortiça possam ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas,
elas também correm cada vez mais riscos, à medida que a seca e os
incêndios florestais se tornam mais intensos e mais frequentes na
região.
“A árvore está adaptada ao clima mediterrâneo. A casca a protege do
fogo”, diz Santos Silva. “Mas nos dois primeiros anos após a extração da
cortiça, as árvores ficam muito mais vulneráveis aos incêndios
florestais porque não têm essa proteção.”
No entanto, os incêndios nos sobreirais, diz ela, permanecem raros devido à cuidadosa gestão humana.
Por ser uma árvore de crescimento lento, o sobreiro leva décadas para
fornecer sombra e produzir cortiça de boa qualidade. Mas em Coruche, as
pessoas ainda seguem um velho ditado português: “Quem gosta de seus
netos planta sobreiros”. /THE WASHINGTON POST
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Saiba o que é cadeia de valor e como fazer mapeamento de processos da
sua empresa. Conheça cada etapa da cadeia e por que cada uma é
importante.
Uma cadeia de valor não é um grupo de restaurantes que oferecem
opções de alimentação baratas, embora você tecnicamente possa usar esse
termo para fazer referência a esses restaurantes. Na verdade, é um
conceito que engloba todas as suas atividades comerciais, não importa o
tamanho do seu negócio.
O conceito se originou na década de 1980 e ainda está se fortalecendo
por um motivo: ele funciona. A estrutura da cadeia de valor é eficaz
para pequenas, médias e grandes empresas.
A primeira vez que alguém ouviu falar do conceito de cadeia de valor
foi no livro de Michael Porter, Competitive Advantage:: Creating and
Sustaining Super Performance. O foco principal do livro era a vantagem
de custo e como uma empresa pode se diferenciar da concorrência de forma
eficaz. Ao usar o conceito de cadeia de valor, uma empresa pode ter uma
vantagem competitiva, observa o professor da Harvard Business School.
Como observado, esse conceito ainda é usado hoje e tem sido
aperfeiçoado ao longo do caminho. No entanto, não é um conceito fácil de
entender. É bastante complexo e exige que alguém tenha uma boa
compreensão do conceito e do que a cadeia de valor implica. Então, você,
como proprietário de uma empresa, pode decidir se é um conceito que
deseja incorporar.
O que é uma cadeia de valor?
Uma cadeia de valor é um termo amplo, mas um termo importante, mesmo
assim. Consiste em aspectos primários e secundários que uma empresa
precisa identificar e categorizar. Ao avaliar essas atividades e
subatividades, você obtém uma compreensão de como elas se
inter-relacionam entre si e com as funções da sua empresa.
Em seguida, você dá um passo adiante e analisa cada atividade. Você
pensa em como isso está afetando a função, a produção e o lucro da sua
empresa. Você pode então decidir como, ou se, cada atividade ou
subatividade poderia ser melhorada. Particularmente, relaciona-se ao
tempo, custo e esforço necessários para cada atividade.
Você pode realizar sua própria análise da cadeia de valor – todo o
processo de avaliação de atividades primárias e secundárias, mas também
pode contratar um profissional para ajudar. Felizmente, se você optar
por fazer isso sozinho, há programas disponíveis que podem ajudá-lo a
melhorar seus processos.
Atividades primárias
Atividades primárias são quaisquer funções que afetam diretamente a criação, manutenção ou venda do seu produto ou serviço.
Essas atividades da cadeia de valor incluem operações, logística de
saída, logística de entrada, marketing, vendas e marketing de atração.
No entanto, outros aspectos da sua empresa também se encaixam no
conceito de cadeia de valor.
Atividades de suporte
Cada aspecto da cadeia de valor gira em torno da criação, suporte, manutenção ou venda de seu serviço ou produtos.
Mas, além da principal cadeia de eventos, atividades de apoio, como o
departamento de infraestrutura e recursos humanos da sua empresa,
também desempenham um papel. Essas atividades apoiam as atividades
principais.
Por que as cadeias de valor são importantes?
As cadeias de valor podem melhorar seus negócios de várias maneiras,
permitindo que você pense criticamente sobre cada aspecto e como eles
funcionam juntos no esquema mais amplo da função de seus negócios. Elas
permitem que você identifique quedas e pense em soluções que otimizam
diferentes partes do seu negócio.
Embora esta seja apenas uma visão geral da influência que uma cadeia
de valor pode ter em seu negócio, uma avaliação ou análise da cadeia de
valor permite que você analise cada aspecto da sua empresa por um
microscópio. Você vê quais atributos são positivos e negativos para o
seu lucro.
Em primeiro lugar, você pode determinar quais aspectos do seu negócio
são ineficazes. Você pode então planejar uma maneira de corrigi-los.
Você pode tomar decisões sobre vários aspectos do seu negócio que talvez
nunca tenha visto no passado.
Além das desvantagens do seu negócio, você também ganha uma
compreensão dos seus pontos fortes. Possivelmente, você poderia pegar
esses mesmos conceitos e encontrar uma maneira de incorporá-los em
outros aspectos do seu negócio.
Essencialmente, por meio de uma cadeia de valor, você desenvolve uma
compreensão de como diferentes atividades do seu negócio se relacionam
entre si, mesmo que pareçam desconectadas. Por exemplo, um problema com a
gestão de recursos humanos pode afetar quase todos os outros aspectos
da empresa.
Ao dar uma olhada no funcionamento interno da sua empresa e fazer as
mudanças apropriadas, você pode ter uma vantagem de custo, especialmente
quando comparado à sua concorrência.
Exemplo de uma cadeia de valor
Para este exemplo, vamos usar a empresa hipotética, Mary Lou’s
Homebaked. Essa empresa é uma padaria que fabrica uma variedade de
produtos de panificação, incluindo biscoitos, bagels, bolos e muito
mais. Todos os produtos brutos, incluindo farinha, açúcar, aromatizantes
etc., que esta empresa usa vêm de fornecedores.
Por meio de seu processo de fabricação, incluindo as áreas
mencionadas acima com uma cadeia de valor, a padaria cria produtos de
panificação que são saborosos e fornecem valor, que vale mais do que as
matérias-primas que ela usa no processo. Também vale mais do que o
esforço dela.
Mary Lou’s então coloca os produtos em exposição para as pessoas
comprarem todos os dias, oferecendo também a opção de clientes fazerem
pedidos personalizados. Ela os vende a um preço que permite lucro,
abrindo espaço para um valor de compra que é maior do que seus materiais e esforços, mas não alto o suficiente para afastar o cliente.
Ela tem uma equipe para ajudar e um gerente que cuida dos recursos
humanos, o que permite que ofereça uma quantidade maior de produtos de
panificação em um período mais curto. Mary Lou também implementou
equipamentos avançados por esses motivos.
Quando você entende o que é uma cadeia de valor, fica claro que você
precisa de algum sistema de mapeamento de processos para manter todos os
aspectos da sua empresa organizados.
Isso requer uma estrutura de cadeia de valor.
Em última análise, esse é um processo escalonável, e como você faz isso depende do tamanho do seu negócio.
Idealmente, você deve ter um mapa físico que você cria ou uma
estrutura de cadeia de valor onde você pode, facilmente, inserir
informações. Se você não tiver uma equipe grande, poderá conduzir o
processo por conta própria.
No entanto, se você tiver uma equipe grande, envolva seus gerentes e
especialistas no assunto. Mais cabeças são melhores do que uma nesse
caso.
Dicas para mapeamento da cadeia de valor
Ao concluir o processo, faça perguntas a si mesmo continuamente sobre
os diferentes aspectos do seu negócio. Isso permite que você reserve um
momento para pensar criticamente sobre cada parte da sua empresa, como
ela se relaciona com outros aspectos e quais mudanças você pode fazer
para melhorá-la.
Alguns exemplos de perguntas úteis incluem:
O que é prescindível e não afetará negativamente a produção de nossos negócios se for retirado?
Como podemos tornar nossos processos de negócios melhores e mais eficientes?
Há algo que podemos adicionar que não prejudicará muito nosso lucro, mas nos dará uma vantagem mais competitiva?
O que podemos fazer para simplificar nossos processos e torná-los
mais eficientes em termos de tempo sem prejudicar o produto final?
Tenha a mente aberta. A autocrítica não é fácil, mesmo quando está
relacionada ao seu negócio e não necessariamente a você mesmo. No
entanto, este é um momento para ter a mente aberta. Ouça os outros.
Identifique problemas e assuma o compromisso de fazer melhor.
Perceba que não há uma solução única. O que funciona para resolver
problemas em um aspecto do seu negócio pode não funcionar em outro.
Análise da cadeia de valor
O objetivo de uma cadeia de valor é melhorar seus negócios. É dar uma
olhada crítica em todos os aspectos de seu funcionamento e dar a você
uma oportunidade de fazer melhorias.
Você descobrirá que esse processo pode aumentar o lucro, a eficiência
e até mesmo a moral dos funcionários, pois otimiza determinados
processos e aborda os problemas.
Geralmente, você deve ter um processo de três etapas. E, mais uma
vez, a estrutura da sua empresa pode ser muito mais complexa, o que
exigirá que você se afaste um pouco dessa estrutura.
1. Liste atividades de negócios
Inicialmente, você deve listar todas as atividades da sua empresa,
incluindo suas atividades primárias e secundárias. Em seguida, determine
se cada atividade é uma atividade primária ou secundária.
Embora ambos desempenhem um papel vital na forma como sua empresa
funciona, é incrivelmente importante avaliar bem cada atividade
primária.
2. Conecte subatividades
Nesse ponto, quando você estiver mapeando ou traçando gráficos, não
importa a estrutura da sua cadeia de valor, procure conexões entre suas
subatividades. Embora você possa sentir que um ou dois departamentos são
fracos, isso pode surgir do seu departamento de RH. Esse setor
precisará de mais treinamento ou orientação sobre medidas de
contratação.
Talvez você tenha uma divisão da sua empresa que não está atendendo
às expectativas. Isso pode resultar de problemas com operações ou falta
de tecnologia.
3. Diagnostique e corrija os problemas
Finalmente, depois de concluir a estrutura da sua cadeia de valor, é
hora de diagnosticar os problemas. Isso é mais do que apenas dizer que
um departamento não está funcionando corretamente. É também analisar
como sua empresa funciona como um todo e como pode surgir de um problema
com outro departamento ou problema.
Em seguida, você precisa fazer mudanças que irão melhorar seu negócio em geral para gerar valor.
Vinculando sua cadeia de valor
Agora que você entende a definição da cadeia de valor e o conceito geral desse processo, você pode usá-la para o seu negócio.
Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”,
sem nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de
resto todas as lojas dessa cidade no Site da nossa Plataforma Comercial
da Startup Valeon.
Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer
pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as
minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais
uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?
Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a
sua localização aí no seu domicílio? Quais os produtos que você
comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online
com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu
WhatsApp?
Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para
ficarem passeando pelos Bairros e Centros da Cidade, vendo loja por loja
e depois fazendo a decisão de compra, como antigamente.
A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao
mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para
sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em
Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para
enfrentar a crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de
isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos
hábitos para poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar
pelos corredores dos shoppings centers, bairros e centros da cidade,
durante a crise maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar
por lojas virtuais como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que
tinham receio de comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa
barreira. Se os consumidores estão na internet, é onde seu negócio
também precisa estar para sobreviver à crise e continuar prosperando.
É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda
do Site da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim
um investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu
processo de vendas fica muito mais profissional, automatizado e
eficiente. Além disso, é possível a captação de potenciais compradores e
aumentar o engajamento dos seus clientes.
Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu
certo, porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer”. –
Se você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um
grande obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe
você até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o
próximo nível de transformação.
O que funcionava antes não necessariamente funcionará no
futuro, porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas
como os negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos
consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas
tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo
aquilo que é ineficiente.
Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de
pensar e nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos
justamente por entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer
e aprender com o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde
queremos estar.
Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a
absorver novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que
você já sabe.
Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo
por meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na
internet.
Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a
sua carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar
você para o próximo nível.
Aproveite essa oportunidade para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.
Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal perguntou ao
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se ele é cisgênero no depoimento de
quinta-feira (22) sobre o planejamento de um golpe de Estado.
Segundo relatos feitos à reportagem, Bolsonaro disse que não sabia o
que significava a palavra. Os delegados e escrivão deram risada da
situação e explicaram o termo, ainda segundo pessoas que acompanham o
caso.
O ex-presidente então confirmou que é cisgênero. Depois, os advogados
apresentaram uma petição que dizia que Bolsonaro permaneceria em
silêncio por não ter recebido todos os documentos que compõem a
investigação –como a íntegra da delação do tenente-coronel Mauro Cid.
A Polícia Federal afirmou, em nota, que a pergunta se tornou praxe em
depoimentos desde 31 de outubro, quando a corporação alterou o cadastro
de pessoas no sistema judiciário nos campos “identidade de gênero” e
“orientação sexual”.
O termo “cisgênero” designa quem não é pessoa trans, travesti ou não
binária, ou seja, quando há identificação com o sexo biológico.
“As alterações realizadas decorreram de uma série de fatores, dentre
eles solicitações e consultas externas e internas recebidas pela Polícia
Federal acerca dos instrumentos de levantamento de dados nos sistemas
da Polícia Federal na temática da violência LGBTQIA+, bem como ação
nacional do Ministério Público Federal destinada a promover a
‘implementação de políticas públicas de proteção à população LGBTQIA+
pelos órgãos federais e estaduais de segurança'”, diz a polícia.
Apesar de a PF dizer que a pergunta é um procedimento padrão, as
defesas de dois outros investigados afirmaram à reportagem que seus
clientes não foram questionados sobre o gênero.
Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília por volta das 14h20, dez
minutos antes do horário marcado. Com a decisão dele de se manter em
silêncio, o depoimento foi encerrado pouco depois.
A maioria dos investigados adotou a mesma decisão e permaneceu calada.
O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse na quinta que a defesa
não teve acesso a todos os elementos das imputações contra o
ex-presidente, o que motivou a opção pelo silêncio. Ele também afirmou
que o ex-presidente “nunca foi simpático a movimento golpista”.
“Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do
direito constitucional, mas estratégia baseada no fato de que a defesa
não teve acesso a todos os elementos que estão sendo imputados ao
presidente a prática de certos delitos.”
O advogado completou: “A falta de acesso a esses documentos,
especialmente às declarações do tenente-coronel Mauro Cid, e as mídias
eletrônicas obtidas pelos celulares de terceiros e computadores impedem
que a defesa tenha o mínimo conhecimento de por quais elementos o
presidente é convocado para este depoimento”.
A PF investiga as tratativas por um golpe de Estado desde que
encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em janeiro
de 2023, uma minuta de decreto para Bolsonaro instaurar estado de defesa
na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O objetivo seria reverter o resultado da eleição em que ele foi derrotado por Lula (PT), segundo os investigadores.
Com a delação de Mauro Cid e as provas obtidas em outras operações, a
PF chegou à conclusão de que Bolsonaro teve acesso a versões da minuta
golpista (não exatamente a mesma que estava com Torres).
De acordo com as investigações, ele chegou a pedir modificações no
texto e apresentar a proposta aos chefes militares, para sondar um
possível apoio das Forças Armadas à empreitada.
História de ANA LUIZA ALBUQUERQUE • Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era 13 de agosto de 1992, e o então
presidente Fernando Collor estava exaltado. Encurralado em meio a um
escândalo de corrupção e uma profunda crise econômica, Collor
transformou um anúncio oficial em Brasília em um comício em sua defesa.
Na beira do precipício, fez uma jogada arriscada: conclamou os
brasileiros a irem às ruas de verde e amarelo para demonstrar apoio ao
governo e afastar a possibilidade de impeachment. “No prósimo domingo
estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria”, bradou o
presidente.
O domingo em questão não se desenrolou como Collor calculava.
Milhares de pessoas foram às ruas -mas vestidas de preto, para pedir o
seu afastamento. Pouco mais de um mês depois, a Câmara dos Deputados
aprovou a abertura do processo de impeachment. Em dezembro, Collor
renunciou.
Neste domingo (25), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) irá revisitar
a estratégia populista de Collor, torcendo por um resultado melhor.
Investigado pela Polícia Federal em procedimento que apura uma
tentativa de golpe para mantê-lo no poder, Bolsonaro convocou
manifestação em sua defesa. Cientistas políticos avaliam que o
ex-presidente tentará instrumentalizar o apoio dos seguidores para se
blindar de possíveis desdobramentos prejudiciais.
“Ele quer manter seu eleitorado mobilizado para mostrar que tem apoio
popular, que as pessoas acreditam nele e que colocá-lo na cadeia pode
incendiar o país”, afirma Caio Marcondes Barbosa, doutor em ciência
política e pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da
USP.
Em vídeo divulgado a apoiadores, Bolsonaro os conclamou a vestir
verde e amarelo e disse que queria uma fotografia de todos: “Para
mostrarmos ao Brasil e ao mundo a nossa união”.
Para o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), a busca por essa imagem é uma tentativa de
fazer pressão contra o STF (Supremo Tribunal Federal) em meio à
investigação.
“Na hora em que ele procura mostrar que goza de legitimidade e que se
contrapõe à legitimidade daqueles que [supostamente] o perseguem, ele
está se contrapondo ao próprio Supremo”, diz.
Bolsonaro continua a insuflar suas bases em busca de uma demonstração
de força política, repetindo a tônica de campanha eleitoral que foi
mantida ao longo do governo. Outros líderes da nova leva de populistas
que ascendeu ao poder nas últimas décadas, como o americano Donald
Trump, fazem o mesmo.
“Políticos populistas tendem a mostrar que eles são representantes
legítimos do povo. Sendo assim, é importante que esses políticos mostrem
constantemente que o povo está ao lado deles”, afirma Barbosa.
Coautor do livro “Do que Falamos Quando Falamos de Populismo”, o
cientista político Thomás Zicman de Barros diz que esse tipo de ato
conclamado por Bolsonaro tem como objetivo demonstrar força e acuar
determinadas instituições.
Ele afirma que a direita percebeu, especialmente a partir de 2013,
que poderia utilizar estratégias populistas para disputar o poder. Nessa
esteira, Bolsonaro se elegeu ao se posicionar como um candidato
antissistema que rompia com as regras tradicionais da política.
“A direita até 2013 não tinha essa vocação, era uma direita bem
comportada. Os candidatos não tinham muito esse apelo popular. O que se
vê desde então é que cada vez mais cresce essa ideia de que a direita
também pode ser transgressiva, ocupar a rua, fazer bagunça em alguma
medida.”
Bolsonaro pediu que neste domingo haja apenas uma manifestação –a da
avenida Paulista–, buscando concentrar seus eleitores em um único local
para mostrar que ainda tem força política. Mas essa estratégia de usar o
apoio das ruas como blindagem pode sair pela culatra, como mostra a
história recente.
“É uma aposta arriscada. Se não impressionar, vai mostrar fraqueza e
que o mundo político seguirá em frente se ele for preso”, diz Barbosa.
O ex-presidente também pediu que os apoiadores não levem cartazes com
ataques “contra quem quer que seja”, sugerindo que não fará críticas
diretas a ministros do Supremo, como aconteceu em manifestações
anteriores, ainda durante seu governo.
“O ponto é reforçar a narrativa de que ele é vítima de um processo de
perseguição e que os golpistas são os outros, que o perseguem”, afirma
Gonçalves Couto, da FGV.
Cientistas políticos avaliam que o ato deste domingo, diferentemente de outros anteriores, não tem um caráter golpista.
“Embora ele tenha promovido esse ato como defesa do Estado
democrático de Direito, o que chega a ser irônico porque ele está sendo
investigado justamente por atacá-lo, o ato é em defesa de Bolsonaro. O
objetivo realmente é mostrar a quantidade de pessoas dispostas a
defendê-lo e que ele ainda é um grande ator da direita no Brasil”, diz
Barbosa.
Gonçalves Couto afirma que Bolsonaro tentar se defender faz parte do
jogo. “Aqueles que pediam intervenção militar, impeachment de ministros
do STF, fechamento do Congresso, eram casos realmente de discurso
golpista.”
Ele diz que não dá para ter certeza do tom que Bolsonaro adotará no
domingo, mas lembra que o ex-presidente costuma recuar quando está em
risco.
“Eu não acredito em Bolsonaro moderado, ele é um extremista por
definição. Mas existe um Bolsonaro que recua quando está acuado. Ele é
um cara meio medroso. Quando percebe que a coisa está complicada, baixa o
tom.”
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), afirmou na última semana que sempre estará ao
lado de Jair Bolsonaro (PL), inclusive na manifestação organizada pelo
ex-presidente para este domingo (25).
A demonstração de lealdade do ex-ministro de Bolsonaro não é inédita
-veja outras vezes em que Tarcísio saiu em defesa do aliado em meio a
acusações de que ele estaria minando a democracia.
‘DEFESA É CONSIDERADA ATAQUE’
Em maio de 2022, ano em que disputou a eleição ao Governo de São
Paulo, Tarcísio foi questionado em sabatina Folha/UOL sobre os ataques
de Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele respondeu que
“muitas vezes ele se defende, e essa defesa é considerada um ataque”. O
ex-ministro deu como exemplo o indulto concedido pelo ex-presidente ao
ex-deputado federal Daniel Silveira -ao qual se referiu como um “remédio
constitucional”.
Ele também foi questionado sobre a participação de Bolsonaro no 7 de
setembro, e a afirmação do ex-presidente de que não respeitaria decisões
do Supremo. Tarcísio respondeu: “No final das contas, nada disso
aconteceu, teve uma situação de acirramento, de ânimos, e logo depois a
gente teve um gesto. E considero que essa questão do 7 de setembro é
superada”.
‘FRUTO DA DEMOCRACIA’
Em junho de 2022, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura,
Tarcísio foi questionado se ainda apoiaria Bolsonaro no caso de uma
invasão ao Congresso semelhante ao ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro
de 2021. “Isso não vai acontecer no Brasil. Não vai acontecer. O
presidente é fruto da democracia”, o atual governador respondeu.
A jornalista e apresentadora Vera Magalhães o interpelou, dizendo que
Bolsonaro defendia a ditadura. Tarcísio respondeu que não via o aliado
“fazer defesa da ditadura”. “No final das contas, nós temos um sistema
democrático maduro que não corre risco de ruptura. A gente vai ter um
processo democrático agora no final do ano, as eleições vão transcorrer
tranquilamente, vamos ter os vencedores tomando posse”, afirmou.
Tarcísio também disse que estava seguro de que as eleições
aconteceriam normalmente e que não haveria questionamentos sobre o
resultado.
‘FIM DA PICADA’
Em agosto de 2022, Tarcísio afirmou que a carta pela democracia lida
na faculdade de Direito da USP, em resposta aos ataques golpistas de
Bolsonaro, não fazia o menor sentido. Em sabatina promovida pelo jornal o
Estado de S. Paulo em parceria com a Faap (Fundação Armando Alvares
Penteado), ele afirmou que achava “o fim da picada” que alguns
signatários da carta se diziam defensores da democracia no Brasil, mas
apoiavam os regimes da Nicarágua e da Venezuela.
Questionado se ficava constrangido com os ataques de Bolsonaro contra
as urnas eletrônicas, Tarcísio respondeu que constrangedor era ter um
“ex-preso” concorrendo à Presidência, em referência ao atual presidente
Lula (PT).
‘LIDERANÇA INQUESTIONÁVEL’
Em junho de 2023, depois que Bolsonaro foi considerado inelegível
pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Tarcísio saiu em defesa do
aliado nas redes sociais. O ex-presidente foi condenado por ter feito
falsas acusações contra o sistema eleitoral em uma reunião com
embaixadores estrangeiros.
“A liderança do presidente Jair Bolsonaro como representante da
direita brasileira é inquestionável e perdura. Dezenas de milhões de
brasileiros contam com a sua voz. Seguimos juntos, presidente”, escreveu
o atual governador.
SILÊNCIO
Apesar de ter afirmado durante a campanha eleitoral que discordou de
Bolsonaro quanto à aplicação das vacinas contra a Covid-19, Tarcísio
participou de ao menos duas lives em que o aliado fez críticas aos
imunizantes e não o interpelou em nenhum momento. “Quem já contraiu o
vírus tem mais anticorpos do que qualquer pessoa que já tenha tomado
qualquer vacina. Por que essa pressão por vacina? Será por interesse
comercial?”, disse Bolsonaro em uma delas, em setembro de 2021, com
Tarcísio ao seu lado, em silêncio.
Já governador, em fevereiro de 2023, Tarcísio sancionou projeto de
lei que proibia a exigência do comprovante de vacinação. Além disso, ele
enviou à Assembleia outro projeto, que acabou aprovado, incluindo
anistia às multas aplicadas na pandemia de Covid-19, beneficiando
Bolsonaro.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao mesmo tempo em que convocações para o
ato deste domingo (25) em São Paulo repetem o pedido do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) para que não haja cartazes ou alvos específicos na
manifestação, mensagens de tom violento e teorias da conspiração seguem
sendo compartilhadas em grupos públicos bolsonaristas, ainda que sem
citar o protesto.
O levantamento feito pela empresa de tecnologia Palver buscou
capturar o que estava sendo dito após a operação da Polícia Federal de 8
de fevereiro que mirou Bolsonaro e aliados acerca de trama golpista
engendrada em sua gestão. Além disso, analisou também como reverberou a
convocação do ex-presidente, feita no dia 12, para ato na avenida
Paulista.
Mensagens citando Bolsonaro e falando em “guerra civil” ou
“revolução” teve certo aumento após a ordem de apreensão de passaporte
contra o ex-presidente. Este tipo de conteúdo mais inflamado, porém, não
cita a manifestação de 25 de fevereiro e já vinha aparecendo
anteriormente nos grupos.
Uma mensagem diz, por exemplo, que “estão inventando uma prisão a
qualquer custo para Bolsonaro” e fala que “vai ter guerra civil”. O
texto, que é longo, diz ainda que “ninguém sairá de dentro do Congresso
até que todos sejam presos” e que “ninguém nos deterá”. Ao final,
demanda “providências contra esses abusos de autoridades do STF” e diz
que “isso não vai continuar assim”.
“Guerra civil à vista”, diz outro conteúdo compartilhado, acompanhado
de uma teoria da conspiração: “PT mandou o TSE cassar os mandatos e
tornar inelegíveis todos os deputados do PL. É imprescindível fazer este
vídeo chegar a cada brasileiro”.
Um outro caso traz o rosto de Bolsonaro junto do aviso: “Estamos
atentos, não encostem nele!”. Na sequência, diz que se o ex-presidente
for preso todos devem sair às ruas. “Vamos parar o país. Revolução civil
em todo o Brasil. Encostem no Bolsonaro e é isso que terão”, diz o
conteúdo.
Um outro vídeo traz áudios supostamente de pessoas ligadas ao
Exército falando também em guerra civil e junto dos termos de que o
Brasil estaria em alerta e de que faltariam poucos dias.
Todos estes exemplos estavam marcados como encaminhados com
frequência no WhatsApp, segundo a Palver. Essas mensagens não citam o
ato do dia 25 de fevereiro, mas seguem sendo encaminhadas nos grupos.
Há ainda outras mensagens dizendo que houve fraude em 2022, além de
textos aventando novas teorias da conspiração das instituições contra
Bolsonaro e incutindo ainda a ideia de que as Forças Armadas podem vir a
agir nestes casos.
Os novos indícios, que vieram à tona com a recente decisão do
ministro Alexandre de Moraes (STF), não são destaque nas conversas
tampouco alteraram a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo
perseguido.
As minutas de golpe, por exemplo, foram pouco mencionadas, o que
ficou restrito a poucas ocorrências de um vídeo do advogado de Bolsonaro
justificando o documento encontrado na sede do PL e a um texto de Ives
Gandra dizendo que um dos arquivos encontrados no celular de Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens do então presidente, era de 2017.
Nos segmentos bolsonaristas, a principal crítica segue sendo a órgãos de Justiça, como o Supremo e ao atual governo.
O vídeo divulgado por Bolsonaro convocando para um ato na avenida
Paulista, por sua vez, repercutiu positivamente nos grupos de WhatsApp,
segundo a Palver.
No gráfico, aparecem algumas ocorrências pontuais anteriores ao dia
12, isso se deve ao fato de a busca capturar termos gerais além disso,
foram consideradas apenas mensagens em português.
Ao analisar a quantidade de mensagens destacando a fala do
ex-presidente para que não houvesse cartazes ou para que o ato fosse
pacífico e se evitasse xingamento a opositores, as menções são menos
relevantes.
No vídeo, Bolsonaro pediu a apoiadores que não levem faixas e
cartazes contra ninguém e fala em ato de apoio ao que chama de “Estado
democrático de Direito”. “Nesse evento eu quero me defender de todas as
acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses”,
afirmou.
Os textos em geral recomendam que as pessoas vistam verde e amarelo,
há também recomendação para que levem seus familiares e fazer lives e
fotos. “A nação brasileira precisa colocar a cara do lado de fora e
deixar claro que já não tolera mais nenhuma espécie de ditadura.”
Há também mensagens sobre ônibus partindo para a capital paulista,
como uma que diz que o ônibus sairá do Leme no Rio de Janeiro no domingo
de manhã por R$ 200 adicionando que não será permitida a entrada com
faixas e cartazes bem como com objetos como facas e armas.
Segundo Maria Cruz, analista da Palver, será preciso avaliar o quanto
as convocações encaminhadas nos grupos resultarão em aderência aos
atos, considerando o fato do chamamento do Bolsonaro.
Ela ressalta que em mobilizações mais recentes a aderência teria sido
abaixo do que os grupos esperavam, resultando em discussões sobre
possíveis falhas.
Uma mensagem que foi bastante encaminhada divulga uma concentração em
Manaus no domingo. O perfil do movimento conservador da cidade porém já
divulgou que o ato foi cancelado, dado a instrução de Bolsonaro para
que tudo fosse centralizado em São Paulo.
Nos grupos aparecem ainda fake news como a de que o ex-presidente dos
Estados Unidos Donald Trump e o presidente argentino, Javier Milei
compareceriam aos atos.
O PT, partidos do campo governista e movimentos ligados ao presidente
Lula decidiram preparar um manifesto em reação ao ato o grupo quer
denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar o apoio à democracia.