domingo, 25 de fevereiro de 2024

A MANIFESTAÇÃO DE BOLSONARO IMITA UM POUCO A MANIFESTAÇÃO DE COLLOR

 

História de ANA LUIZA ALBUQUERQUE • Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era 13 de agosto de 1992, e o então presidente Fernando Collor estava exaltado. Encurralado em meio a um escândalo de corrupção e uma profunda crise econômica, Collor transformou um anúncio oficial em Brasília em um comício em sua defesa.

Na beira do precipício, fez uma jogada arriscada: conclamou os brasileiros a irem às ruas de verde e amarelo para demonstrar apoio ao governo e afastar a possibilidade de impeachment. “No prósimo domingo estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria”, bradou o presidente.

O domingo em questão não se desenrolou como Collor calculava. Milhares de pessoas foram às ruas -mas vestidas de preto, para pedir o seu afastamento. Pouco mais de um mês depois, a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment. Em dezembro, Collor renunciou.

Neste domingo (25), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) irá revisitar a estratégia populista de Collor, torcendo por um resultado melhor.

Investigado pela Polícia Federal em procedimento que apura uma tentativa de golpe para mantê-lo no poder, Bolsonaro convocou manifestação em sua defesa. Cientistas políticos avaliam que o ex-presidente tentará instrumentalizar o apoio dos seguidores para se blindar de possíveis desdobramentos prejudiciais.

“Ele quer manter seu eleitorado mobilizado para mostrar que tem apoio popular, que as pessoas acreditam nele e que colocá-lo na cadeia pode incendiar o país”, afirma Caio Marcondes Barbosa, doutor em ciência política e pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP.

Em vídeo divulgado a apoiadores, Bolsonaro os conclamou a vestir verde e amarelo e disse que queria uma fotografia de todos: “Para mostrarmos ao Brasil e ao mundo a nossa união”.

Para o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a busca por essa imagem é uma tentativa de fazer pressão contra o STF (Supremo Tribunal Federal) em meio à investigação.

“Na hora em que ele procura mostrar que goza de legitimidade e que se contrapõe à legitimidade daqueles que [supostamente] o perseguem, ele está se contrapondo ao próprio Supremo”, diz.

Bolsonaro continua a insuflar suas bases em busca de uma demonstração de força política, repetindo a tônica de campanha eleitoral que foi mantida ao longo do governo. Outros líderes da nova leva de populistas que ascendeu ao poder nas últimas décadas, como o americano Donald Trump, fazem o mesmo.

“Políticos populistas tendem a mostrar que eles são representantes legítimos do povo. Sendo assim, é importante que esses políticos mostrem constantemente que o povo está ao lado deles”, afirma Barbosa.

Coautor do livro “Do que Falamos Quando Falamos de Populismo”, o cientista político Thomás Zicman de Barros diz que esse tipo de ato conclamado por Bolsonaro tem como objetivo demonstrar força e acuar determinadas instituições.

Ele afirma que a direita percebeu, especialmente a partir de 2013, que poderia utilizar estratégias populistas para disputar o poder. Nessa esteira, Bolsonaro se elegeu ao se posicionar como um candidato antissistema que rompia com as regras tradicionais da política.

“A direita até 2013 não tinha essa vocação, era uma direita bem comportada. Os candidatos não tinham muito esse apelo popular. O que se vê desde então é que cada vez mais cresce essa ideia de que a direita também pode ser transgressiva, ocupar a rua, fazer bagunça em alguma medida.”

Bolsonaro pediu que neste domingo haja apenas uma manifestação –a da avenida Paulista–, buscando concentrar seus eleitores em um único local para mostrar que ainda tem força política. Mas essa estratégia de usar o apoio das ruas como blindagem pode sair pela culatra, como mostra a história recente.

“É uma aposta arriscada. Se não impressionar, vai mostrar fraqueza e que o mundo político seguirá em frente se ele for preso”, diz Barbosa.

O ex-presidente também pediu que os apoiadores não levem cartazes com ataques “contra quem quer que seja”, sugerindo que não fará críticas diretas a ministros do Supremo, como aconteceu em manifestações anteriores, ainda durante seu governo.

“O ponto é reforçar a narrativa de que ele é vítima de um processo de perseguição e que os golpistas são os outros, que o perseguem”, afirma Gonçalves Couto, da FGV.

Cientistas políticos avaliam que o ato deste domingo, diferentemente de outros anteriores, não tem um caráter golpista.

“Embora ele tenha promovido esse ato como defesa do Estado democrático de Direito, o que chega a ser irônico porque ele está sendo investigado justamente por atacá-lo, o ato é em defesa de Bolsonaro. O objetivo realmente é mostrar a quantidade de pessoas dispostas a defendê-lo e que ele ainda é um grande ator da direita no Brasil”, diz Barbosa.

Gonçalves Couto afirma que Bolsonaro tentar se defender faz parte do jogo. “Aqueles que pediam intervenção militar, impeachment de ministros do STF, fechamento do Congresso, eram casos realmente de discurso golpista.”

Ele diz que não dá para ter certeza do tom que Bolsonaro adotará no domingo, mas lembra que o ex-presidente costuma recuar quando está em risco.

“Eu não acredito em Bolsonaro moderado, ele é um extremista por definição. Mas existe um Bolsonaro que recua quando está acuado. Ele é um cara meio medroso. Quando percebe que a coisa está complicada, baixa o tom.”

O GOVERNADOR DE S.PAULO E OUTROS GOVERNADORES IRÃO À MANIFESTAÇÃO DE BOLSONARO

Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou na última semana que sempre estará ao lado de Jair Bolsonaro (PL), inclusive na manifestação organizada pelo ex-presidente para este domingo (25).

A demonstração de lealdade do ex-ministro de Bolsonaro não é inédita -veja outras vezes em que Tarcísio saiu em defesa do aliado em meio a acusações de que ele estaria minando a democracia.

‘DEFESA É CONSIDERADA ATAQUE’

Em maio de 2022, ano em que disputou a eleição ao Governo de São Paulo, Tarcísio foi questionado em sabatina Folha/UOL sobre os ataques de Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele respondeu que “muitas vezes ele se defende, e essa defesa é considerada um ataque”. O ex-ministro deu como exemplo o indulto concedido pelo ex-presidente ao ex-deputado federal Daniel Silveira -ao qual se referiu como um “remédio constitucional”.

Ele também foi questionado sobre a participação de Bolsonaro no 7 de setembro, e a afirmação do ex-presidente de que não respeitaria decisões do Supremo. Tarcísio respondeu: “No final das contas, nada disso aconteceu, teve uma situação de acirramento, de ânimos, e logo depois a gente teve um gesto. E considero que essa questão do 7 de setembro é superada”.

‘FRUTO DA DEMOCRACIA’

Em junho de 2022, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Tarcísio foi questionado se ainda apoiaria Bolsonaro no caso de uma invasão ao Congresso semelhante ao ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. “Isso não vai acontecer no Brasil. Não vai acontecer. O presidente é fruto da democracia”, o atual governador respondeu.

A jornalista e apresentadora Vera Magalhães o interpelou, dizendo que Bolsonaro defendia a ditadura. Tarcísio respondeu que não via o aliado “fazer defesa da ditadura”. “No final das contas, nós temos um sistema democrático maduro que não corre risco de ruptura. A gente vai ter um processo democrático agora no final do ano, as eleições vão transcorrer tranquilamente, vamos ter os vencedores tomando posse”, afirmou.

Tarcísio também disse que estava seguro de que as eleições aconteceriam normalmente e que não haveria questionamentos sobre o resultado.

‘FIM DA PICADA’

Em agosto de 2022, Tarcísio afirmou que a carta pela democracia lida na faculdade de Direito da USP, em resposta aos ataques golpistas de Bolsonaro, não fazia o menor sentido. Em sabatina promovida pelo jornal o Estado de S. Paulo em parceria com a Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), ele afirmou que achava “o fim da picada” que alguns signatários da carta se diziam defensores da democracia no Brasil, mas apoiavam os regimes da Nicarágua e da Venezuela.

Questionado se ficava constrangido com os ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, Tarcísio respondeu que constrangedor era ter um “ex-preso” concorrendo à Presidência, em referência ao atual presidente Lula (PT).

‘LIDERANÇA INQUESTIONÁVEL’

Em junho de 2023, depois que Bolsonaro foi considerado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Tarcísio saiu em defesa do aliado nas redes sociais. O ex-presidente foi condenado por ter feito falsas acusações contra o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores estrangeiros.

“A liderança do presidente Jair Bolsonaro como representante da direita brasileira é inquestionável e perdura. Dezenas de milhões de brasileiros contam com a sua voz. Seguimos juntos, presidente”, escreveu o atual governador.

SILÊNCIO

Apesar de ter afirmado durante a campanha eleitoral que discordou de Bolsonaro quanto à aplicação das vacinas contra a Covid-19, Tarcísio participou de ao menos duas lives em que o aliado fez críticas aos imunizantes e não o interpelou em nenhum momento. “Quem já contraiu o vírus tem mais anticorpos do que qualquer pessoa que já tenha tomado qualquer vacina. Por que essa pressão por vacina? Será por interesse comercial?”, disse Bolsonaro em uma delas, em setembro de 2021, com Tarcísio ao seu lado, em silêncio.

Já governador, em fevereiro de 2023, Tarcísio sancionou projeto de lei que proibia a exigência do comprovante de vacinação. Além disso, ele enviou à Assembleia outro projeto, que acabou aprovado, incluindo anistia às multas aplicadas na pandemia de Covid-19, beneficiando Bolsonaro.

 

A PRISÃO DE BOLSONARO PODE GERAR UMA GUERRA CIVIL

 

História de RENATA GALF • Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao mesmo tempo em que convocações para o ato deste domingo (25) em São Paulo repetem o pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que não haja cartazes ou alvos específicos na manifestação, mensagens de tom violento e teorias da conspiração seguem sendo compartilhadas em grupos públicos bolsonaristas, ainda que sem citar o protesto.

O levantamento feito pela empresa de tecnologia Palver buscou capturar o que estava sendo dito após a operação da Polícia Federal de 8 de fevereiro que mirou Bolsonaro e aliados acerca de trama golpista engendrada em sua gestão. Além disso, analisou também como reverberou a convocação do ex-presidente, feita no dia 12, para ato na avenida Paulista.

Mensagens citando Bolsonaro e falando em “guerra civil” ou “revolução” teve certo aumento após a ordem de apreensão de passaporte contra o ex-presidente. Este tipo de conteúdo mais inflamado, porém, não cita a manifestação de 25 de fevereiro e já vinha aparecendo anteriormente nos grupos.

Uma mensagem diz, por exemplo, que “estão inventando uma prisão a qualquer custo para Bolsonaro” e fala que “vai ter guerra civil”. O texto, que é longo, diz ainda que “ninguém sairá de dentro do Congresso até que todos sejam presos” e que “ninguém nos deterá”. Ao final, demanda “providências contra esses abusos de autoridades do STF” e diz que “isso não vai continuar assim”.

“Guerra civil à vista”, diz outro conteúdo compartilhado, acompanhado de uma teoria da conspiração: “PT mandou o TSE cassar os mandatos e tornar inelegíveis todos os deputados do PL. É imprescindível fazer este vídeo chegar a cada brasileiro”.

Um outro caso traz o rosto de Bolsonaro junto do aviso: “Estamos atentos, não encostem nele!”. Na sequência, diz que se o ex-presidente for preso todos devem sair às ruas. “Vamos parar o país. Revolução civil em todo o Brasil. Encostem no Bolsonaro e é isso que terão”, diz o conteúdo.

Um outro vídeo traz áudios supostamente de pessoas ligadas ao Exército falando também em guerra civil e junto dos termos de que o Brasil estaria em alerta e de que faltariam poucos dias.

Todos estes exemplos estavam marcados como encaminhados com frequência no WhatsApp, segundo a Palver. Essas mensagens não citam o ato do dia 25 de fevereiro, mas seguem sendo encaminhadas nos grupos.

Há ainda outras mensagens dizendo que houve fraude em 2022, além de textos aventando novas teorias da conspiração das instituições contra Bolsonaro e incutindo ainda a ideia de que as Forças Armadas podem vir a agir nestes casos.

Os novos indícios, que vieram à tona com a recente decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF), não são destaque nas conversas tampouco alteraram a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo perseguido.

As minutas de golpe, por exemplo, foram pouco mencionadas, o que ficou restrito a poucas ocorrências de um vídeo do advogado de Bolsonaro justificando o documento encontrado na sede do PL e a um texto de Ives Gandra dizendo que um dos arquivos encontrados no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente, era de 2017.

Nos segmentos bolsonaristas, a principal crítica segue sendo a órgãos de Justiça, como o Supremo e ao atual governo.

O vídeo divulgado por Bolsonaro convocando para um ato na avenida Paulista, por sua vez, repercutiu positivamente nos grupos de WhatsApp, segundo a Palver.

No gráfico, aparecem algumas ocorrências pontuais anteriores ao dia 12, isso se deve ao fato de a busca capturar termos gerais —além disso, foram consideradas apenas mensagens em português.

Ao analisar a quantidade de mensagens destacando a fala do ex-presidente para que não houvesse cartazes ou para que o ato fosse pacífico e se evitasse xingamento a opositores, as menções são menos relevantes.

No vídeo, Bolsonaro pediu a apoiadores que não levem faixas e cartazes contra ninguém e fala em ato de apoio ao que chama de “Estado democrático de Direito”. “Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses”, afirmou.

Os textos em geral recomendam que as pessoas vistam verde e amarelo, há também recomendação para que levem seus familiares e fazer lives e fotos. “A nação brasileira precisa colocar a cara do lado de fora e deixar claro que já não tolera mais nenhuma espécie de ditadura.”

Há também mensagens sobre ônibus partindo para a capital paulista, como uma que diz que o ônibus sairá do Leme no Rio de Janeiro no domingo de manhã por R$ 200 —adicionando que não será permitida a entrada com faixas e cartazes bem como com objetos como facas e armas.

Segundo Maria Cruz, analista da Palver, será preciso avaliar o quanto as convocações encaminhadas nos grupos resultarão em aderência aos atos, considerando o fato do chamamento do Bolsonaro.

Ela ressalta que em mobilizações mais recentes a aderência teria sido abaixo do que os grupos esperavam, resultando em discussões sobre possíveis falhas.

Uma mensagem que foi bastante encaminhada divulga uma concentração em Manaus no domingo. O perfil do movimento conservador da cidade porém já divulgou que o ato foi cancelado, dado a instrução de Bolsonaro para que tudo fosse centralizado em São Paulo.

Nos grupos aparecem ainda fake news como a de que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente argentino, Javier Milei compareceriam aos atos.

O PT, partidos do campo governista e movimentos ligados ao presidente Lula decidiram preparar um manifesto em reação ao ato —o grupo quer denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar o apoio à democracia.

EMENDAS PARLAMENTARES LEVAM QUASE O QUE SOBRA DO ORÇAMENTO

 

História de Redação • IstoÉ Dinheiro

A tensão entre Executivo e Legislativo, após o veto presidencial de R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares no início de 2024, representa mais um episódio do contínuo embate entre os dois Poderes pela hegemonia no controle do Orçamento.

A disputa não é recente e remonta a períodos anteriores marcados por crises políticas e manobras regimentais que propiciaram não apenas a ampliação das prerrogativas dos congressistas na definição dos gastos, mas também levaram a um elevado nível de distribuição de recursos, que por vezes carecem de transparência, resultando em casos de corrupção e distorções na indicação do destino do dinheiro público

O conflito entre Executivo e Legislativo tem como ponto de partida a rigidez do Orçamento, no qual cerca de 93% das despesas são classificadas como obrigatórias (aposentadorias, salários, etc), restando apenas 7% de recursos livres para escolha de como gastar. É dessa pequena fatia que saem os valores para custear as emendas parlamentares – instrumento legal pelo qual deputados e senadores direcionam recursos orçamentários para suas bases eleitorais.

Na prática, as emendas parlamentares e a definição dos ministérios do governo para gastos disputam a prioridade de execução em um cenário orçamentário restrito. Até 2014, entretanto, o governo federal tinha uma ampla liberdade para escolher para onde o dinheiro deveria ir e ainda gozava de autonomia para não executar as emendas, mesmo aquelas já aprovadas. Em reação, os congressistas promoveram uma série de mudanças legislativas para garantir que essas programações orçamentárias fossem efetivamente pagas.

Mudanças legislativas e o alto volume das Emendas Individuais

Liderado pelo Centrão, o processo de redesenho orçamentário foi consolidado em 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, articulou a aprovação da Emenda Constitucional nº 86. A partir dali, o governo passou a ser obrigado a destinar os recursos das emendas individuais dos parlamentares conforme indicado por eles. A emenda também estabeleceu que 1,2% de toda a receita corrente líquida do governo fosse destinada à indicação dos congressistas – com a PEC da Transição, de 2022, o montante foi ampliado para 2%.

As mudanças nas leis orçamentárias provocaram um aumento significativo no número das emendas individuais, resultando em pagamentos recordes de cerca de R$ 22 bilhões em 2023, ante R$ 3,7 bilhões em 2015.

Na avaliação do economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper, o elevado volume de recursos dificulta a realização de uma fiscalização adequada por parte dos órgãos de controle. “Em nenhum lugar no mundo tem uma quantidade de emendas tão grande como no Brasil, isso dá margem para a corrupção. Com esse alto volume não dá para saber onde está sendo gasto.”

Descaracterização das emendas apresentadas por bancadas parlamentares

Em 2019, o Centrão reforçou sua influência sobre o Orçamento com a aprovação da Emenda Constitucional nº 100, que ampliou o orçamento impositivo, tornando obrigatório também o pagamento das emendas de bancada, aquelas de autoria coletiva e que reúnem os parlamentares do mesmo Estado ou do Distrito Federal, mesmo que sejam filiados a partidos diferentes.

Apesar da natureza coletiva, as emendas de bancada acabaram descaracterizadas, assumindo por vezes a lógica particularista das emendas individuais. Não por acaso, em 2023, um estudo realizado pelos consultores do Orçamento da Câmara dos Deputados revelou que apenas 10% das transferências feitas por meio desse tipo de emenda eram direcionadas a obras e serviços voltados para infraestrutura e setores relevantes, que deveriam ser o principal foco da modalidade.

A depender do tamanho da bancada, surgem também os chamados “rachadão” e “rachadinha”. O primeiro é uma prática na qual os congressistas distribuem informalmente entre si o total de emendas disponíveis na bancada, ocorrendo especialmente nos Estados que possuem um número maior de emendas do que o total de parlamentares. Em outras palavras, cada deputado ou senador pode patrocinar pelo menos uma emenda dentro de uma lógica semelhante à da emenda individual, ampliando o direcionamento de recursos para suas bases eleitorais.

No segundo, os parlamentares utilizam uma única emenda de bancada para contemplar diferentes obras ou transferir recursos para mais de um município. Ao contrário do “rachadão”, a “rachadinha” ocorre em bancadas estaduais maiores, onde há mais parlamentares do que emendas disponíveis.

As emendas de bancada também experimentaram um aumento nos recursos pagos. Em 2017, o montante pago era de 1,1 bilhão. No último ano, por sua vez, esse valor aumentou significativamente, atingindo cerca de R$ 6,6 bilhões.

Emenda Pix, orçamento secreto e a falta de transparência

Também no ano de 2019, o Congresso implementou novos mecanismos para ampliar suas prerrogativas em matéria orçamentária através da Emenda Constitucional nº 105, que instituiu a modalidade da emenda Pix, caso revelado pelo Estadão. A inovação orçamentária permitiu aos parlamentares transferir dinheiro federal diretamente para Estados ou municípios, sem vinculação a nenhum projeto específico de política pública e antes mesmo de qualquer obra ou serviço ser entregue, ou seja, não se sabe com o que os recursos foram efetivamente gastos.

A modalidade de emenda, que em 2023 destinou R$ 8,9 bilhões, é alvo de críticas justamente devido à falta de transparência no momento da prestação de contas. “Essas transferências são pouco passíveis de controle efetivo, o que é bastante ruim do ponto de vista do próprio processo democrático”, diz Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos e ex-secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo.

Considerado o ápice da reconfiguração orçamentária, o final do primeiro ano do governo Bolsonaro também ficou marcado pelo estabelecimento das emendas que tinham o código “RP-9?, conhecido como Orçamento Secreto, caso também revelado pelo Estadão. Embora essa modalidade de emenda já existisse no Congresso, foi necessário aprovar outras leis para permitir ao relator-geral do Orçamento manejar elevados volumes de recursos.

No Orçamento Secreto, o relator, após ter os seus poderes ampliados, passou a liberar valores do Orçamento a pedido de deputados e senadores, especialmente para aqueles da base aliada do governo. Nos registros do Congresso, não constavam a identificação dos parlamentares beneficiados, apenas o nome do relator. Ou seja, os órgãos de controle podiam verificar quem indicou a verba.

É justamente, a partir da vigência do Orçamento Secreto que as emendas pagas atingiram os maiores patamares. Durante esse período, o Planalto destinou bilhões de reais para essas emendas de relator, o que foi interpretado como uma forma de fazer barganha política com o Legislativo.

Para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Bertholini, todas essas alterações de 2019 foram viabilizadas devido à renúncia do governo Bolsonaro em relação às prerrogativas orçamentárias, terceirizando o direcionamento de recursos para o Congresso, o que culminou em uma maior influência dos parlamentares sobre o Orçamento. “A crise entre Executivo e Legislativo se aprofundou com Bolsonaro, que delegou a atribuição de gerenciar o orçamento para a coalizão de (Arthur) Lira e para o Centrão.”

No final de 2022, o Orçamento Secreto foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido à falta de transparência na indicação de seus beneficiários. Mesmo com o fim do mecanismo, o governo Lula pagou R$ 34,5 bilhões em emendas no primeiro ano de governo, em 2023.

A decisão do STF pela inconstitucionalidade do mecanismo, segundo Bertholini, não sinaliza o término do avanço das prerrogativas orçamentárias do Centrão. “Essas conquistas são difíceis de serem retiradas.”

Emendas de Comissão e a reprodução do sistema do orçamento secreto

Não é à toa que o Centrão turbinou, por meio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, as emendas de comissão, aquelas que os recursos são indicados pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado. No fim do ano passado, foram aprovados R$ 16,7 bilhões para este tipo de emenda. O movimento é visto como uma tentativa de reproduzir o sistema do orçamento secreto.

A operação segue o mesmo modelo: os nomes dos parlamentares que fazem as indicações são omitidos – tudo o que aparece é o nome do colegiado, e não do parlamentar que patrocinou o envio dos recursos, numa situação similar à do orçamento secreto. Agora, porém, o procedimento será centralizado nas comissões, por meio dos presidentes de cada colegiado, e não mais no relator-geral do Orçamento.

“Essas emendas têm ganhado grande espaço no Orçamento, o que representa um retrocesso, pois têm menos transparência e rastreabilidade. São neste tipo de emenda que há mais risco de corrupção”, analisa o cientista político Lucio Rennó, pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comportamento Político, Instituições e Políticas Públicas (LAPCIPP) e especializado em comportamento legislativo.

Conforme o Estadão revelou, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer emplacar emendas do orçamento secreto com o carimbo da Mesa Diretora da Casa, uma das comissões do Congresso.

O MERCADO TEM CARROS ELÉTRICOS, HÍBRIDOS E A COMBUSTÃO QUAL VOCÊ PREFERE?

Pesquisa da OLX mostra que os brasileiros estão mais interessados em modelos não tradicionais

JENNE ANDRADEjennefer.andrade@estadao.com – Jornal Estadão

Carro elétrico, híbrido ou a combustão? Veja o que vale mais a pena
Participantes da pesquisa demonstram preferência por híbridos e elétricos. Foto: Envato Elements
  • Uma pesquisa feita pela OLX em parceria com a MindMiners, e enviada em primeira mão ao E-Investidor, apontou que cerca de 71% dos 500 entrevistados avaliam a compra de um modelo híbrido ou elétrico em 2024
  • O levantamento teve 52% de participantes mulheres e 48% de homens, com pelo menos 18 anos, de todas as classes sociais
  • A economia com carros elétricos e híbridos é notória – esses modelos fazem cerca de 300 a 400 quilômetros por carga, segundo Alexandre Ripamonti, professor de finanças e economia da ESPM. Cada carga pode custar entre R$ 30 a R$ 90, dependendo do local de abastecimento

O interesse por carros híbridos e elétricos vem crescendo no Brasil. Uma pesquisa feita pela OLX em parceria com a MindMiners, e enviada em primeira mão ao E-Investidor, apontou que cerca de 71% dos 500 entrevistados avaliam a compra de um modelo híbrido (abastecido tanto com eletricidade quanto combustível comum) e/ou elétrico em 2024.

Carro mais barato: especialistas dão dicas de como gastar menos

Entre estes, 14% pensam em adquirir um veículo 100% elétrico, 27% somente híbrido e 30% considera os dois modelos. Na outra ponta, apenas 29% afirmou não ter pretensão de obter nenhuma das duas categorias. O levantamento teve 52% de participantes mulheres e 48% de homens, com pelo menos 18 anos, de todas as classes sociais.

De acordo com Alexandre Ripamonti, professor de finanças e economia da ESPM, esse panorama não é uma surpresa. Isto porque, apesar de em média 50% mais caros do que os carros à combustão, os elétricos e híbridos tendem a promover uma grande economia ao proprietário.

Segundo Ripamonti, atualmente um carro 100% elétrico faz, em média, de 300 a 400 quilômetros por carga. O custo de cada carga pode variar entre R$ 30 a R$ 50, em caso de utilização de energia da própria residência em carregador específico para a recarga, a cerca de R$ 90 para carregamento em postos de carga rápida.

Para rodar a mesma distância com um veículo à combustão, o gasto ficaria entre R$ 166,8 e R$ 222,40, considerando o consumo médio de 10 km por litro e o preço médio do litro de gasolina no Brasil a R$ 5,56, de acordo com dados da Petrobras.

“Entre os três modelos, mais vantajoso financeiramente é o 100% elétrico”, afirma Ripamonti. Entretanto, a desvantagem destes carros é de que os postos de recarga são limitados e concentrados principalmente no Sudeste do país. Vale lembrar que, entre os respondentes da pesquisa da OLX, cerca de 48% dos respondentes são do sudeste, 23% do nordeste, 15% do sul, 9% moram no centro oeste e 5% no norte.

“Essa rede de carregamento para carros elétricos está se expandindo agora, mas ainda é muito restrita. Então, se você tiver um carro elétrico e quiser ir para um lugar mais longe, terá que se programar muito bem antes para, no caminho, saber quais são os pontos de recarga”, diz Ripamonti.

É também preciso entender que cada marca de carro elétrico possui um modelo de recarga específico. “De uma forma geral, isto dificulta a recarga dos carros puramente elétricos, porque você precisa ter estações distribuídas. A não ser que você faça percursos pequenos e tenha condições até mesmo de abastecer em uma única cidade”, ressalta Antônio Jorge Martins, professor de MBAs da FGV.

Por isso que o modelo híbrido parece ser mais interessante para quem quer unir economia no dia a dia e não precisar se preocupar em depender de postos específicos de recarga, principalmente em uma viagem mais longa. Contudo, essa categoria é ainda mais cara do que os 100% elétricos – o veículo híbrido mais barato do Brasil, o Hyundai Ioniq, custa R$ 149 mil. Já o elétrico mais barato, o Caoa Chery iCar, custa cerca de R$ 119,9 mil, segundo levantamento feito pelo Jornal do Carro, do Estadão.

Segundo Antônio Jorge Martins, professor de MBAs da FGV, outro ponto a ser considerado é o custo de manutenção dos elétricos e híbridos, que tende a ser mais elevado. O especialista ressalta que o preço de uma bateria pode representar de 40% a 60% do preço do veículo, dependendo da marca.

Fim do carro à combustão?

A diferença de preço de um carro híbrido ou 100% elétrico para um carro à combustão ainda é considerável. Segundo o Jornal do Carro, o veículo comum mais barato do Brasil em 2024 é o Renault Kwid, de R$ 71,1 mil. Entretanto, fatores como a economia no abastecimento estão pesando mais na escolha dos consumidores.

“A pesquisa aponta que 66% dos entrevistados consideram a possibilidade de pagar mais caro por um veículo híbrido ou elétrico e, dentre os consumidores da Geração Z, chega a 73%. Isso nos leva a concluir que, apesar dos desafios econômicos, os brasileiros preferem investir em carro mais caro, mas que tenha combustível mais barato e tecnologia avançada”, afirma o VP Comercial de Autos do Grupo OLX, Flávio Passos.

Para 68% dos entrevistados, por exemplo, o consumo de combustível é o fator mais importante na hora de escolher um carro novo. O custo de manutenção é a segunda resposta mais citada, apontado por 66%. As principais motivações técnicas para trocar de carro, por sua vez, são a necessidade de um carro melhor (37%), seguido pelo fato de o veículo estar velho (35%) e a busca por novas tecnologias (33%) – quesito que contempla a questão dos novos carros elétricos e híbridos.

Perguntados sobre o quão mais estão dispostos a pagar, a maioria (36%) pensa em um custo adicional de 20%, isto entre os que já têm carros e os que não tem.

“Os fabricantes de carros à combustão estão com um enorme desafio, que é conseguir um carro à combustão que seja mais eficiente e não polua o meio ambiente. É um desafio tecnológico, que mudaria toda a estrutura de produção desses carros”, afirma Ripamonti. “Mas como é uma tendência mundial e está ligada com as metas de desenvolvimento sustentável da ONU, eu acredito que os carros a combustão, pelo menos nos principais mercados, Estados Unidos e Europa, tendam a diminuir muito de quantidade.”

Se os veículos à combustão tendem a perder espaço, o aumento da concorrência entre fabricantes de elétricos e híbridos deve fazer com que os preços destes modelos encolham com o passar dos anos. Hoje, existem fabricantes como a BYD, Renault, Caoa Chery, Volvo e Renault atuando no Brasil. A expectativa é de que cada vez mais fábricas passem a ter opções de elétricos e híbridos, especialmente as fabricantes chinesas.

“Espera-se que agora, no início de 2024, a BYD lance um veículo elétrico de pequeno porte e com preço da ordem de R$ 100 mil”, afirma Jorge Martins, professor de MBAs da FGV. “ Antes mesmo do lançamento desse novo veículo da BYD, já vejo outras montadoras reduzindo o preço do seu veículo elétrico.”

Um sonho distante?

Apesar da preferência por elétricos e híbridos, a maior parte dos respondentes pretende investir na compra um valor substancialmente abaixo dos preços atuais desses carros no mercado. Entre os entrevistados que não têm veículo e planejam comprar um, 42% pretendem investir até R$ 30 mil. Já entre as pessoas proprietárias, a maioria pretende investir entre R$ 31 mil e R$ 80 mil.

De acordo com a pesquisa da OLX, a modalidade de financiamento parcial é o mais visado pelos proprietários de veículos (47%), uma vez que podem utilizar o atual automóvel como parte do pagamento. A maior parte desses participantes (82%) disse que pretende usar o valor da venda para esse fim.

Entre os que ainda não têm carro, 31% preferem o financiamento parcial, 30% pretendem pagar à vista e 29% almejam o financiamento total.

 

QUEM ACORDA 20 ANOS DO COMA NÃO TEM MAIS LUGAR NESSE MUNDO

 

Tudo tem seu tempo e sua hora e, mesmo a esperança, num dia, deve dar lugar a outras formas

Por Leandro Karnal

Após um desmaio súbito, em 2003, Dona Antônia foi internada às pressas. Tinha 70 anos. O quadro parecia grave. Para os quatro filhos assustados, o médico informou que ela tinha entrado em coma. Teve um derrame, e o desenlace era previsto para pouco tempo. Lágrimas intensas na sala de espera… Dona Antônia era muito amada por amigos e parentes.

O corpo humano é complexo, a medicina sabe algumas coisas e desconhece muitas, as orações foram fortes, o plano de saúde ainda mais robusto, e os dias vieram sem o passamento. O quadro comatoso se prolongou. Incríveis 20 verões iluminaram o corpo magro da imóvel senhora no leito. Um milagre!

Tão inexplicável foi a sobrevivência quanto o despertar surpreendente. Dois dias após completar 90 anos, a matriarca abriu os olhos e pediu água. Gritos no hospital! Família convocada. Como um rastilho de pólvora incendiada, o quarto foi enchendo-se de júbilo e de lágrimas.

Eram duas décadas de saudade! Passado o susto, lá estava dona Antônia, reinstalada na sala do Jardim América, em São Paulo. Alegria! Festas! Beijos e choro. Ninguém sabia nem queria a explicação. Bastava vovó estar consciente. Havia netos a conhecer, genros e noras novos, anos de notícias familiares. Os filhos estavam extasiados; os netos acharam a notícia interessante; os genros e noras classificaram como bizarra a história.

Pelo fato de ela ter “dormido” por duas décadas, não restara mais nenhuma amiga da sua geração. Também estava extinta a linhagem de irmãos. Ela ressuscitara solitária. Só havia dados novos à frente, nada para trás.

Os primeiros dias foram de euforia. Velhas fotografias, brindes, narrativas pungentes e muitas, muitas lágrimas. Não havia intimidade ou histórias com os netos. Nenhum convivera com ela. Era uma estranha para os nascidos no século 21. Os filhos de dona Antônia tinham viva saudade da mãe. Conversaram muito e, depois dos diálogos, começaram a retornar a seus mundos. Todos tinham uma vida.

A velha casa dela estava ocupada pela primogênita, Dulce. Ela era a mais entusiasmada, mas reconhecia que não tinha como atender integralmente a veneranda figura ressurgida. Um a um, nas semanas seguintes, os filhos deram-se conta de que ninguém possuía estrutura bastante para o acolhimento permanente. Ela voltara, mas era uma nonagenária que precisaria de remédios e de cuidados. Havia sequelas.

A novidade tornou-se um fardo. Todos tinham perdido o hábito do convívio. Cada filho tinha seguido com a vida após uma espécie de luto com a mãe viva dos primeiros anos. Poucos a visitavam no hospital. Todos tinham filhos. Dulce já contava com dois netos. Dona Antônia era amada em coma, mas incomodava consciente. Como no livro Incidente em Antares, de Erico Verissimo, a volta dela pegara-os desprevenidos. Era um cadáver que andava, uma nova Quitéria Campolargo emergida das páginas do autor gaúcho.

Sensível, a velha senhora percebeu o clima ao redor. Sorriam quando ela entrava, ofereciam cadeira, traziam chás. Era como uma visita querida, que todos amavam, mas que quebrava o ritmo e a intimidade da casa que, num dia, fora dela. Irônica, ela se lembrou de ter ensinado aos filhos que os hóspedes “se assemelhavam aos peixes; depois de três dias, fediam de forma insuportável”. Viva, rediviva, dona Antônia estragava o olfato das conveniências.

Pessoas utilizando celulares
Pessoas utilizando celulares Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Os murmúrios começaram. Os jovens reclamavam. Vovó não tinha celular, não era fã de Taylor Swift, não comia sushi e não conhecia nenhuma série. Era impossível conversar com ela! Os mais velhos repreendiam os infantes e falavam de genealogia: “Vocês não estariam vivos se ela não tivesse existido”. O mais cínico dos netos respondeu: “Ela existiu e, agora, poderia desexistir, né?” O neologismo ácido, “desexistir”, foi recebido com repreensões, porém não saiu da cabeça deles. Aquele velho tronco, germinado de novo, atrapalhava os brotos e flores exuberantes.

O que fazer? Alguém citou o filme Parente É Serpente, mas foi apupado. Assassinada? Você está louco? Bem, não se pode matar alguém que, no fundo, tinha estado morta. E começava a hermenêutica jurídica.

Dona Antônia sentia-se solitária na própria casa. Sua chegada interrompia as conversas. Os netos fugiam. Pensou em Eclesiastes 3: tudo teria seu tempo e sua hora… Há um tempo de nascer e um tempo de morrer. Ela quebrara a ordem e renascera depois de morrer. Sua existência violentava a ordem das coisas. Ela deveria ter falecido há tempo. A ciência a manteve, o acaso a ressuscitou, o tempo a tinha sepultado por completo. Camadas de memórias haviam sido submersas. Ela não deveria estar ali.

Dona Antônia ficou sem esperança. Resignada, pediu a um neto que chamasse aquele negócio… um tal de Uber. Entrou no táxi, voltou ao hospital. Foi recebida com festa, fora personagem silenciosa ali por duas décadas. Pediu para ver a cama onde estivera. Quis ficar sozinha e deitou-se lá, adormecendo profundamente e tranquila, morrendo uma segunda vez. Somos mortais. Tudo tem seu tempo e sua hora e, mesmo a esperança, num dia, deve dar lugar a outras formas. Ressurreição sim, desde que o ressuscitado suba logo ao céu, como fez Jesus.

COMPLEXIDADE DO CENÁRIO VAREJISTA COM CONSUMIDORES MAIS EXIGENTES E CONSCIENTES

Por Julio Bastos e Fernanda Dalben

Em um cenário onde a dinâmica do comércio está em constante metamorfose, o recente Congresso de Tendências no Varejo, a NRF Retail’s Big Show 2024, em janeiro, emergiu como um palco vital, onde empresas líderes não apenas compartilharam insights, mas também delinearam estratégias inovadoras que moldarão o futuro desse setor em constante transformação.

Dentre as vozes proeminentes que ressoaram, a IKEA surge como uma pioneira ao destacar o revolucionário conceito de Unified Commerce. Essa abordagem visa a transcender as fronteiras entre compras online e experiências em lojas físicas. Para a IKEA, a essência da integração total da experiência do cliente torna-se crucial em um contexto onde a conveniência não é apenas uma escolha, mas uma virtude essencial.

Os Consumer Insights oferecidos pela renomada WGSN trouxeram à luz mudanças sociais substanciais, com a ascensão de famílias multigeracionais influenciando significativamente as adaptações tanto de varejistas quanto de produtos. Estratégias inovadoras incluem a oferta de produtos inclusivos, a redefinição de ocasiões de presentes e uma abordagem focada em atender às necessidades específicas de diferentes estágios da vida. Além disso, a crescente demanda por produtos éticos e sustentáveis reflete não apenas uma escolha de consumo, mas um reflexo do impacto cada vez mais premente da crise climática na consciência do consumidor.

As estratégias de crescimento compartilhadas pelo Sam’s Club colocam em destaque o foco inabalável em entregas rápidas e na expansão cuidadosa da variedade de produtos disponíveis. O sucesso excepcional dessa abordagem, especialmente entre os millennials e a Geração Z, é impulsionado por um compromisso digital robusto. O Sam’s Club não apenas acompanha as tendências, mas lidera com o lançamento de novos recursos digitais, aprimorando assim a experiência do cliente.

As tendências e oportunidades na indústria varejista ressaltam a necessidade premente de uma adaptação ágil às mudanças. Construir relacionamentos sólidos com os compradores, desenvolver marcas próprias e permanecer na vanguarda das tendências tecnológicas são elementos centrais. A importância dos programas de fidelidade é sublinhada, particularmente para a Geração Z, que valoriza opções econômicas e que poupem tempo.

As valiosas dicas empresariais compartilhadas por Magic Johnson servem como faróis orientadores nesse oceano complexo do varejo. Definir metas a curto prazo, possuir um plano de negócios sólido, buscar mentores e estar aberto a críticas construtivas são os pilares que sustentam o caminho árduo para o sucesso, conforme enfatizado por Johnson.

No contexto de Retail Media, uma revolução significativa está em curso. Empresas estão explorando a Retail Media 2.0, fundamentada em dados próprios, e começando a enxergar o varejo físico como um novo e poderoso canal de mídia. Este cenário desafia os varejistas não apenas a gerar conteúdo relevante, mas a inovar, liderar e investir em tecnologia para aproveitar oportunidades além de seus ecossistemas próprios.

A Geração Z, um foco crucial para muitos varejistas, valoriza a experiência de compra em lojas físicas, buscando personalização e socialização. Os programas de lealdade devem transcender o meramente transacional, oferecendo experiências únicas, ofertas exclusivas e acesso a eventos especiais.

A UltaBeauty, ao destacar o envolvimento encorajador dos consumidores mais jovens, reconhece a importância da beleza como uma expressão única. O consumidor mais jovem não busca apenas produtos, mas sim formas inovadoras de se expressar, contribuindo assim para a progressão da categoria de beleza.

As Tendências do Consumidor Digital apontam para um comércio intuitivo, a ascensão da economia do TikTok, o aumento das compras de segunda mão com um foco acentuado em sustentabilidade, e o crescimento contínuo do comércio online, com especial destaque para as devoluções eficientes.

As Forças que Moldam o Futuro do varejo incluem mudanças demográficas, avanços tecnológicos, fatores ambientais, mudanças sociais e culturais, além da disrupção na indústria e mudanças econômicas. Esses fatores convergentes influenciam diretamente o comportamento do consumidor e, por conseguinte, moldam estratégias de negócios inovadoras.

Além disso, o texto destaca as mega tendências apresentadas na NRF, desde a Human AI até a Síndrome de Nárnia, refletindo a fluidez cada vez maior entre os reinos físico e digital na Geração Z. Isso ressalta a necessidade premente de adaptação às novas dinâmicas de consumo, onde as fronteiras entre experiências online e offline tornam-se cada vez mais tênues.

Essas reflexões coletivas evidenciam a complexidade do cenário varejista contemporâneo e reforçam a importância de estratégias inovadoras para atender às demandas em constante evolução dos consumidores, que agora são mais exigentes e conscientes do que nunca. O futuro do varejo não é apenas um espaço de transações comerciais, mas um ecossistema dinâmico que se transforma continuamente com a interação entre as aspirações dos consumidores e as visões ousadas das empresas.

Julio Bastos é gerente de outsourcing da C2C, unidade de Trade Marketing e Vendas da Gi Group Holding

COMO DEVEM SER OS PARCEIROS NOS NEGÓCIOS

“Parceiros chegam de várias formas. Se juntam por diferentes motivos”.

Eu sei, é clichê, rss. E se a frase fosse minha eu acrescentaria: “O que eles tem em comum é o fato de acreditarem no que nós acreditamos”.

Parceria é a arte de administrar conflitos de interesses e conexões de interesses, visando resultados benéficos para ambas as empresas”.

É por isso que eu costumo comparar parceria com casamento. Quem é casado sabe que administrar conflitos é fundamental para ambos terem resultados nessa aliança.

Assim como no casamento, o parceiro não precisa ser igual a nós, mas tem que ter o nosso ‘jeitão’! Nas parcerias eu defendo que o parceiro precisa ter o DNA de inovação, a inquietude pra sair da zona de conforto e uma preocupação muito grande com o cliente, não apenas no discurso, mas na prática. É claro que no processo de análise do possível parceiro, nós avaliamos o potencial financeiro e de escala da aliança, a estrutura e o tamanho da empresa. Mas, tem um fator humano que não pode ser desconsiderado, já que empresas são, na sua essência, pessoas. É por isso, que normalmente, os parceiros   são empresas formadas por pessoas do bem, pessoas com propósito, que tem tanto o caráter quanto a lealdade de continuar de mãos dadas, mesmo nos momentos mais difíceis. É como um casamento mesmo!

É importante também que os parceiros tenham know how e competências complementares, que potencializem nossas fragilidades e deem mais peso aos nossos pontos fortes. E como eu acredito que o primeiro approach de uma boa parceria acontece no plano humano (onde existe emoção), e não no corporativo, eu gosto muito da histórica da parceria entre Steve Jobs Steve Wozniak. Os dois Steves tornaram-se amigos durante um emprego de verão em 1970. Woz estava ocupado construindo um computador e Jobs viu o potencial para vendê-lo. Em uma entrevista de 2006 ao Seattle Times, Woz, explicou:

“Eu só estava fazendo algo em que era muito bom, e a única coisa que eu era bom acabou por ser a coisa que ia mudar o mundo… Steve (Jobs) pensava muito além. Quando eu projetava coisas boas, às vezes ele dizia: ‘Nós podemos vender isso’. E nós vendíamos mesmo. Ele estava pensando em como criar uma empresa, mas talvez ele estivesse mesmo pensando: ‘Como eu posso mudar o mundo?’”.

Por que essa parceria deu certo? Habilidades e competências complementares.

As habilidades técnicas de Woz juntamente com a visão de Jobs fizeram dos dois a parceria perfeita nos negócios.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

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A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

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sábado, 24 de fevereiro de 2024

CHANCELER ARGENTINA ALERTA AO BRASIL SOBRE FORMAS DE COOPERAÇÃO COM SÓCIOS INTERNACIONAIS

 

Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após viagem ao Brasil para a cúpula do G20, em uma visita dominada por questionamentos sobre as visões antagônicas de Brasília e Washington em relação à guerra em Gaza, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, esteve nesta sexta (23) na Argentina

Após se reunir com o presidente Javier Milei, o secretário de Estado concedeu entrevista coletiva ao lado da chanceler argentina, Diana Mondino, na Casa Rosada, e o Brasil surgiu na conversa.

Questionado sobre se as declarações do presidente Lula (PT) acerca de Rússia, China e Israel podem fazer com o país perca para a Argentina o posto de principal parceiro dos EUA na região, ele desvencilhou.

“Não temos associações exclusivas. O trabalho com qualquer país com interesses e valores comuns é bem-vindo”, afirmou.

E seguiu: “Em mais de 30 anos na diplomacia, não me lembro de um momento com tantas ameaças complexas e interconectadas. Isso sublinha que é absolutamente importante termos novas formas de cooperar com sócios internacionais”.

O que mais chamou a atenção, no entanto, foi a fala de Mondino que, mesmo não tendo recebido a pergunta como direcionada a ela, pediu a palavra e fez indireta sutil a Lula.

“O Brasil é o principal sócio comercial da Argentina, mas não importa ser o principal. Como diziam: não importa ser o melhor, mas ser melhor do que era ontem e nem tanto quanto será amanhã.”

Desde a eleição de Milei no ano passado, Argentina e Brasil têm dito que, a despeito das diferenças ideológicas entre os dois governos hoje no cargo, a cooperação diplomática e comercial seguirá.

Como forma de colocar panos quentes em ataques que o próprio Milei fez a Lula na época de campanha, Mondino escolheu o Brasil como sua primeira viagem oficial antes mesmo de assumir o posto de chanceler.

Já no caso das relações Brasil-EUA, alargadas nas áreas ambiental e trabalhista após uma visita de Lula à Casa Branca, há diferenças em torno de temas importantes da política internacional.

Enquanto os EUA travam uma espécie de Guerra Fria 2.0 com a China, o Brasil estreita laços econômicos com o gigante asiático e evita críticas em fóruns internacionais. Em relação à Rússia, contra quem Washington voltou a aplicar um pacote de sanções nesta sexta-feira, o Brasil também evita críticas, mesmo em meio à Guerra da Ucrânia.

A rusga mais recente ocorreu no tema da guerra Israel-Hamas, quando Lula comparou as ações militares de Tel Aviv em Gaza ao Holocausto nazista e as descreveu como genocídio.

Os EUA são os principais parceiros internacionais de Israel, e o próprio Blinken disse discordar de que haja genocídio na Faixa.

Ainda na entrevista coletiva desta sexta-feira, ele foi questionado sobre a razão para os EUA designarem as ações da China em relação à minoria muçulmana uigur como genocídio, mas não empregarem o termo para as ações israelenses em Gaza.

Blinken disse em linhas gerais que não há comparação entre o que seria uma resposta militar a um ataque (do Hamas em 7 de outubro) e a tentativa de Pequim de suprimir a autonomia e os costumes dos uigures de Xinjiang.

No mais, o secretário de Estado americano também reforçou o interesse de Washington no lítio presente em território argentino e agradeceu Buenos Aires por apoiar a Ucrânia e Israel nos fóruns internacionais. Milei recentemente foi ao país do Oriente Médio e chegou a dizer que quer transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém, numa imitação do ex-presidente Donald Trump.

Blinken declinou de comentar sobre o plano apresentado nesta quinta (22) pelo premiê Binyamin Netanyahu para a Gaza pós-guerra, afirmando ainda não tê-lo lido completamente. Mas salientou que as linhas gerais de “eliminar o terrorismo” da faixa palestina combinam com os interesses da Casa Branca.

Por último, voltou a condenar as tentativas de voltar a estabelecer assentamentos judeus em Gaza, como hoje há na Cisjordânia.

Entre outros, o plano é defendido por ministros da ala mais radical do governo de Netanyahu. “Novos assentamentos não são congruentes com a ideia de paz duradoura. Eles debilitam a paz e não fortalecem, a segurança de Israel”, disse Blinken.

OPOSIÇÃO VAI ENTRAR COM PEDIDO DE IMPEACHMENT DE LULA NA SEGUNDA-FEIRA

 

História de Gabriel de Sousa • Jornal Estadão

BRASÍLIA – O pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protocolado pela oposição nesta quinta-feira, 22, após ele ter ter comparado os ataques israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto, alega que as relações comerciais entre o Brasil e Israel nunca mais serão as mesmas e que o chefe do Executivo “comprometeu a neutralidade” do País.

O requerimento, encabeçado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e assinado por 139 parlamentares, precisa do aval do presidente da CâmaraArthur Lira (PP-AL), para avançar.

Pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que ele comprometeu "neutralidade do País" Foto: Wilton Junior/Estadão

Pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que ele comprometeu “neutralidade do País” Foto: Wilton Junior/Estadão© Fornecido por Estadão

No pedido de impeachment, que possui 49 páginas, os deputados bolsonaristas afirmam que Lula cometeu um “ato de hostilidade contra Israel” por meio de “declarações de cunho antissemita”. Segundo eles, as falas teriam comprometido as relações comerciais entre Brasil e Israel e a neutralidade brasileira, o que é um dos crimes de responsabilidade tipificados pela Lei do Impeachment.

“A conduta do denunciado (Lula) consiste na prática de ato de hostilidade contra o Estado de Israel, por meio de declarações de cunho antissemita, comprometendo a neutralidade do país. Esse crime de responsabilidade é previsto no art. 5º, item 3, da Lei nº 1.079/1950, e caracteriza crime contra a existência da União, recepcionado pela Constituição Federal”, afirma um trecho do requerimento.

No domingo, 18, durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, Lula criticou a incursão de Israel em Gaza e fez uma comparação entre a morte de palestinos e o extermínio de judeus promovido por Adolph Hitler, ditador da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

“O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula, que respondia a uma pergunta sobre o aumento do montante destinado pelo Brasil à Agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos. “Não é guerra, é genocídio”, completou o presidente brasileiro.

Após a declaração do presidente, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que Lula “cruzou a linha vermelha” ao fazer o paralelo entre os dois momentos e cobrou publicamente um pedido de desculpas. O chanceler israelense, Israel Katz, levou o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, para o Museu do Holocausto, em Jerusalém, onde anunciou publicamente o título de “persona non grata” para o petista.

Para a oposição, as palavras de Lula “vilipendiaram a memória” das vítimas do Holocausto e “atentam contra o povo judeu”. “Uma declaração absolutamente reprovável e criminosa de um dirigente de Estado que se diz democrático, progressista e combatente do fascismo”, diz o texto.

Um dos assinantes do documento foi o deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) que disse ao Estadão que Lula deveria “renunciar ao seu mandato” por conta da fala sobre o conflito em Gaza. ”Não podemos aceitar que o presidente da República trate uma nação amiga dessa forma”, disse.

Documento será aditado por Carla Zambelli

Em entrevista ao Estadão nesta sexta-feira, 23, Zambelli afirmou que vai incluir no pedido nesta segunda-feira, 26, outro delito atribuído a Lula, que não está presente no documento. De acordo com a parlamentar, o presidente será denunciado também por ter agido de “modo incompatível com o decoro do cargo”, outro dispositivo que pode levar ao impedimento do presidente da República.

Além disso, Zambelli informou que vai incluir o nome de outros cinco parlamentares nas assinaturas do pedido. São eles: Pedro Lupion (PP-PR), Giacobo (PL-PR), Sargento Portugal (Podemos-RJ), Alex Santana (Republicanos-BA) e Lúcio Mosquini (MDB-RO).

Também está previsto para a semana que vem a realização de uma solenidade para oficializar o envio do pedido de impeachment para Lira.

Documento também cita Celso Amorim e José Genoino

O documento dos parlamentares da oposição também pontua que outros membros do governo federal e do Partido dos Trabalhadores endossaram críticas a Israel. Um dos citados foi o assessor especial da Presidência, Celso Amorimque disse que o Estado israelense seria uma persona non grata, e não Lula.

O requerimento também relembra uma fala do ex-presidente do PT José Genoino que, no mês passado, disse, em uma transmissão ao vivo, achar interessante “a ideia de boicote” a “determinadas empresas de judeus” e a “empresas vinculadas ao estado de Israel”.

“No dia seguinte às declarações do presidente, Celso Amorim ainda afirmou que Israel que seria persona non grata e não o denunciado. As manifestações antissemitas dos aliados políticos do presidente da República não param por aí. Um de seus maiores aliados e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino, defendeu que empresas de judeus ou vinculados ao Estado de Israel deveriam sofrer campanhas de boicote”, diz outro trecho do requerimento.

Deputados de partidos da base governista assinaram o documento

O requerimento de impeachment foi assinado até por parlamentares que integram siglas que comandam ministérios de Lula. Apesar de os partidos integrarem a base de apoio, os deputados fazem oposição ao governo na Câmara.

União Brasil, que possui dois ministérios (Comunicação e Turismo), tem 17 deputados entre os signatários; o PSD, com três ministérios (Agricultura, Minas e Energia e Pesca), é a sigla de cinco parlamentares que assinaram o pedido; e o MDB, que também possui três pastas no governo federal (Cidades, Planejamento e Transportes), é a legenda de quatro signatários. O PP, que chefia os Esportes, teve 14 e o Republicanos, que comanda Portos e Aeroportos teve sete.

Para o pedido de impeachment prosseguir na Câmara, é necessária uma decisão do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O deputado não é obrigado a analisar o requerimento em um prazo específico, e o pedido de impeachment pode permanecer sem avanço.

No governo passado, Lira não deferiu nenhum dos pedidos de impeachment do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula já foi alvo de outros pedidos de impeachment que permanecem engavetados pelo presidente da Câmara. Durante os seis primeiros meses de mandato, o petista foi alvo de 11 requerimentos de impeachment, superando o recorde que, até então, pertencia a Bolsonaro.

Confira os deputados que assinaram o pedido de impeachment contra Lula

  1. Abilio Brunini (PL-MT)
  2. Adilson Barroso (PL-SP)
  3. Adriana Ventura (Novo-SP)
  4. Afonso Hamm (PP-RS)
  5. Alberto Fraga (PL-DF)
  6. Alfredo Gaspar (União Brasil-AL)
  7. Amália Barros (PL-MT)
  8. Amaro Neto (Republicanos-ES)
  9. Ana Paula Leão (PP-MG)
  10. André Fernandes (PL-CE)
  11. André Ferreira (PL-PE)
  12. Any Ortiz (Cidadania-RS)
  13. Bia Kicis (PL-DF)
  14. Bibo Nunes (PL-RS)
  15. Cabo Gilberto Silva (PL-PB)
  16. Capitão Alberto Neto (PL-AM)
  17. Capitão Alden (PL-BA)
  18. Capitão Augusto (PL-SP)
  19. Carla Zambelli (PL-SP)
  20. Carlos Jordy (PL-RJ)
  21. Carlos Sampaio (PSDB-SP)
  22. Carol de Toni (PL-SC)
  23. Cel Chrisóstomo (PL-RO)
  24. Chris Tonietto (PL-RJ)
  25. Clarissa Tercio (PP-PE)
  26. Coronel Assis (União Brasil-MT)
  27. Coronel Fernanda (PL-MT)
  28. Coronel Meira (PL-PE)
  29. Coronel Telhada (PP-SP)
  30. Coronel Ulysses (União Brasil-AC)
  31. Covatti Filho (PP-RS)
  32. Cristiane Lopes (União Brasil-RO)
  33. Da Vitória (PP-ES)
  34. Daniel Agrobom (PL-GO)
  35. Daniel Freitas (PL-SC)
  36. Daniel Trzeciak (PSDB-RS)
  37. Daniela Reinehr (PL-SC)
  38. Darci de Matos (PSD-SC)
  39. Dayany Bittencourt (União Brasil-CE)
  40. Delegada Ione (Avante-MG)
  41. Delegado Caveira (PL-PA)
  42. Delegado Éder Mauro (PL-PA)
  43. Delegado Fabio Costa (PP-AL)
  44. Delegado Palumbo (MDB-SP)
  45. Diego Garcia (Republicanos-PR)
  46. Dilceu Sperafico (PP-PR)
  47. Domingos Sávio (PL-MG)
  48. Dr Fernando Maximo (União Brasil-RO)
  49. Dr Frederico (PRD-MG)
  50. Dr. Jaziel (PL-CE)
  51. Dr. Luiz Ovando (PP-MS)
  52. Dr. Zacharias Calil (União Brasil-GO)
  53. Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
  54. Eli Borges (PL-TO)
  55. Emidinho Madeira (PL-MG)
  56. Eros Biondini (PL-MG)
  57. Evair Vieira de Melo (PP-ES)
  58. Felipe Francischini (União-PR)
  59. Felipe Saliba (PRD-MG)
  60. Fernando Rodolfo (PL-PE)
  61. Filipe Barros (PL-PR)
  62. Filipe Martins (PL-TO)
  63. Franciane Bayer (Republicanos-RS)
  64. Fred Linhares (Republicanos-DF)
  65. General Girão (PL-RN)
  66. General Pazuello (PL-RJ)
  67. Geovania de Sá (PSDB-SC)
  68. Gerlen Diniz (PP-AC)
  69. Gilson Marques (Novo-SC)
  70. Gilvan da Federal (PL-ES)
  71. Giovani Cherini (PL-RS)
  72. Greyce Elias (Avante-MG)
  73. Gustavo Gayer (PL-GO)
  74. Hélio Lopes (PL-RJ)
  75. Ismael dos Santos (PSD-SC)
  76. Jefferson Campos (PL-SP)
  77. Joaquim Passarinho (PL-PA)
  78. José Medeiros (PL-MT)
  79. Julia Zanatta (PL-SC)
  80. Junio Amaral (PL-MG)
  81. Kim Kataguiri (União Brasil-SP)
  82. Lincoln Portela (PL-MG)
  83. Lucas Redecker (PSDB-RS)
  84. Luciano Galego (PL-MA)
  85. Luiz Lima (PL-RJ)
  86. Luiz Philippe (PL-SP)
  87. Magda Mofatto (PL-GO)
  88. Marcel Van Hattem (Novo-RS)
  89. Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG)
  90. Marcelo Moraes (PL-RS)
  91. Marcio Alvino (PL-SP)
  92. Marco Brasil (PP-PR)
  93. Marco Feliciano (PL-SP)
  94. Marcos Pollon (PL-MS)
  95. Mariana Carvalho (Republicanos-MA)
  96. Mario Frias (PL-SP)
  97. Mauricio Carvalho (União Brasil-RO)
  98. Maurício Marcon (Podemos-RS)
  99. Maurício Souza (PL-MG)
  100. Mendonça Filho (União Brasil-PE)
  101. Messias Donato (Republicanos)
  102. Miguel Lombardi (PL-SP)
  103. Nelsinho Padovani (União Brasil-PR)
  104. Nicoletti (União Brasil-RR)
  105. Nikolas Ferreira (PL-MG)
  106. Osmar Terra (MDB-RS)
  107. Pastor Diniz (União-RR)
  108. Pastor Eurico (PL-PE)
  109. Paulinho Freire (União Brasil-RN)
  110. Paulo Bilynskyj (PL-SP)
  111. Paulo Freire Costa (PL-SP)
  112. Pedro Aihara (PRD-MG)
  113. Pedro Westphalen (PP-RS)
  114. Pezenti (MDB-PR)
  115. Professor Alcides (PL-GO)
  116. Ramagem (PL-RJ)
  117. Reinhold Stephanes Jr. (PSD-PR)
  118. Ricardo Salles (PL-SP)
  119. Roberta Roma (PL-BA)
  120. Roberto Duarte (Republicanos-AC)
  121. Roberto Monteiro (PL-RJ)
  122. Rodolfo Nogueira (PL-MS)
  123. Rodrigo Valadares (União Brasil-SE)
  124. Rosana Valle (PL-SP)
  125. Rosangela Moro (União Brasil-SP)
  126. Sanderson (PL-RS)
  127. Sargento Fahur (PSD-PR)
  128. Sargento Gonçalves (PL-RN)
  129. Silvia Cristina (PL-RO)
  130. Silvia Waiãpi (PL-AP)
  131. Silvio Antonio (PL-MA)
  132. Sostenes Cavalcante (PL-RJ)
  133. Stefano Aguiar (PSD-MG)
  134. Thiago Flores (MDB-RO)
  135. Vermelho Maria (PL-PR)
  136. Vicentinho Júnior (PP-TO)
  137. Zé Trovão (PL-SC)
  138. Zé Vitor (PL-MG)
  139. Zucco (PL-RS)

PREVISTO MUITAS CARAVANAS DE OUTROS ESTADOS NO ATO DE BOLSONARO NA PAULISTA

 

História de Levy Teles • Jornal Estadão

BRASÍLIA – Dezenas de caravanas formadas para levar apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de diferentes Estados do Brasil para a manifestação na Avenida Paulista neste domingo, 15, estão lotadas e com demanda extra. Há até um caso, em Minas Gerais, em que um diretório municipal organiza por ele mesmo as manifestações.

Estadão acompanhou cinco grupos no WhatsApp e seguiu movimentações de dezenas de outros organizadores e identificou movimentações de ônibus e vans para São Paulo. As passagens variam entre R$ 60 e R$ 300.

Bolsonaro gravou vídeo convocando ato na Paulista e em pouco menos de duas semanas dezenas de caravanas partirão de diferentes lugares do Brasil para São Paulo Foto: Reprodução @delegadoramagem via Instagram

Bolsonaro gravou vídeo convocando ato na Paulista e em pouco menos de duas semanas dezenas de caravanas partirão de diferentes lugares do Brasil para São Paulo Foto: Reprodução @delegadoramagem via Instagram© Fornecido por Estadão

Foram identificadas mobilizações em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Mato Grosso e no Distrito Federal. São 34 caravanas somadas.

A demanda cresceu a ponto de organizadores precisarem de mais de um ônibus para levar os manifestantes. Há pessoas que estão ajudando a custear a passagem de quem não pode ir.

A reportagem identificou casos do tipo em diferentes grupos. Em um deles, no Rio Grande do Sul, uma pessoa que disse que não poderia ir, pagou a viagem de cinco pessoas e delegou uma terceira pessoa para articular o pagamento.

Esse articulador se chama Ricardo de Oliveira. Ele ocupa a função de secretário do diretório do PL em Dois Irmãos (RS). Ele nega que o diretório do partido tenha envolvimento e diz apenas ter feito uma sondagem pessoal no grupo.

“Ninguém do PL de Dois Irmãos irá na manifestação”, disse. Ele afirma que cogitou ir com um grupo de amigos e desistiu. “Foi sondagem, eu pensei em ir com um grupo de amigos que não são de Dois Irmãos, mas cidades próximas.”

A reportagem detectou um outro caso em que um diretório municipal está organizando uma caravana. Em Ribeirão das Neves (MG), o PL organiza uma caravana a R$ 175.

Um cartaz foi divulgado nas redes sociais para um telefone do diretório do partido na cidade, que está atendendo às demandas de quem quiser participar da manifestação.

O ônibus está lotado e com 18 pessoas querendo ir, segundo o próprio partido. Procurado, o diretório, presidido por Keila Karina Ferreira Oliveira, não respondeu às perguntas do Estadão.

O especialista em Direito Eleitoral Alberto Rollo diz que não há problemas em o partido levantar recursos para organizar uma caravana. O que não poderia ser feito, nesse caso, é usar dinheiro do partido.

Em alguns casos, há caravanas que levarão centenas de pessoas de diferentes cidades para São Paulo. Apenas no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, foram identificados uma caravana com quatro ônibus, outra caravana com dois ônibus e mais sete outras caravanas de diferentes cidades – em sua grande maioria, já lotadas.

A reportagem procurou uma dessas organizadoras fluminenses para saber como estavam as vagas. No caso dela, havia fila por demanda extra.

“Pessoal de Petrópolis e Niterói estão desesperados que não tem mais passagem na rodoviária”, respondeu. Esse cenário se repetiu com outras pessoas procuradas, mesmo em outros Estados.

Como mostrou o Estadãohá interesse eleitoral na organização das caravanas. Foram identificados pelo menos seis mobilizadores que foram candidatos a algum cargo político em 2020 ou em 2022. Em 2024 haverá eleições para prefeituras e câmaras municipais pelo País.

Em pouco tempo, a rede bolsonarista conseguiu se articular e garantir apoio necessário para fortalecer, especialmente nas redes sociais. É o que aponta relatório feito pelo Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia, em parceria com o InternetLab.

“A rede de apoiadores bolsonaristas do Telegram demonstrou estar a favor e apta a participar da manifestação”, diz o documento, “relembrando os atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, eles afirmam que o evento se trata de uma chance importante para mostrar aos ‘inimigos’ a força que Bolsonaro ainda possui entre o povo.”

O grupo analisou o conteúdo de 3.698 mensagens em 134 grupos e 167 canais bolsonaristas e notou a mesma tendência que aconteceu nos primeiros dias após o apelo do ex-presidente.

O pedido por uma mobilização organizada de caminheiros, de integrantes do agronegócio, cristãos e indígenas. Mensagens levantam teorias da conspiração e até levantam o receio de que Bolsonaro possa ser preso ainda durante a manifestação.

Como também mostrou o Estadão, Israel pretende ser usado como tema “secundário” durante o ato. Deputados ouvidos falam isso e a própria crença de que o país asiático estaria ao lado dos manifestantes está sendo usada para reenergizar bolsonaristas desmotivados.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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