Empossado nesta quinta-feira, 22, o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, ao assumir a cadeira deixada pela ministra aposentada Rosa Weber,
também herdará o acervo de 340 processos que estavam sob a relatoria
dela. Compõem esse montante 235 processos que iniciaram sua tramitação
diretamente no STF, e outros 105 recursais – ou seja, aqueles que vieram
de outros tribunais ou juízos. A “herança” representa apenas 1,3% do
acervo geral da Suprema Corte, que conta com 25.242 processos em
tramitação.
O presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, lidera o ranking, com 5.721 processos sob sua relatoria. Na sequência vem André Mendonça, com 3.162.
Quando sabatinado, em dezembro, Dino tinha a previsão de receber 344
processos. A diferença no número de matérias pode ser explicada porque o
Regimento Interno do STF prevê que questões urgentes ou cautelares
podem ser distribuídas para outros ministros, que demandaram julgamento
em plantão, por exemplo.
Entre os processos que Dino receberá estão o sobre a legalidade do indulto de Natal concedido por Jair Bolsonaro (PL) em 2023, uma ação da CPI da Covid-19 contra
o ex-presidente que apura se ele e outros agentes públicos incitaram a
população a adotar comportamentos supostamente inadequados para o
combate da pandemia, e aquele em que o Partido Liberal (PL) pede que a
punição para abortos provocados por terceiros seja equiparada à do crime de homicídio qualificado.
Dino também será relator de casos de grande repercussão envolvendo
figuras políticas com quem conviveu, como o inquérito contra o ministro
das Comunicações, Juscelino Filho, investigado pela Polícia Federal em operação baseada em reportagens do Estadão, em que é acusado de desvios de verbas públicas da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba.
Além desse caso, o novo ministro será relator de processos contra outros aliados, como os senadores Chico Rodrigues (PSB-RR) – seu colega de partido – e Telmário Mota (PROS-RR).
O inquérito em questão apura o possível envolvimento dos dois em um
esquema de fraudes e desvio de verbas federais destinadas ao combate da
pandemia em Roraima.
Já no caso da ADPF 442, ação de arguição de descumprimento de preceito fundamental, que trata da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez até 12 semanas,
e que também estava sob relatoria de Rosa Weber, Dino não votará. Isso
porque a ex-ministra já colocou sua posição na sessão virtual de
julgamento, suspenso por pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso.
Esse processo foi proposto pelo PSOL em
2017. O pedido principal da ação é que o STF declare que dois artigos
do Código Penal – 124 e 126, que tratam dos casos em que a mulher decide
interromper a própria gestação – não são compatíveis com a Constituição
e, por isso, sejam retirados da lei. Está de fora da ação o artigo 125,
que trata do aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da mulher.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
voltou a criticar nesta quarta (21) os inquéritos dos quais é alvo e
disse que o ato que convocou para o próximo domingo (25) terá poucos
discursos.
“Não podemos continuar vivendo aqui naquele impasse. ‘Ah, o Bolsonaro
vai ser preso amanhã. Pode ser preso a qualquer momento’. Qual crime eu
cometi?”, disse ele. O ex-presidente concedeu entrevista a Esmael
Morais, que se apresenta como um blogueiro de esquerda.
Sobre a manifestação de domingo, Bolsonaro afirmou na entrevista que será um ato pacífico e pedindo respeito à Constituição.
Também disse que poucas pessoas devem falar no evento. “A senhora
Michelle [Bolsonaro] fazendo uma oração. Seria o governador Tarcísio [de
Freitas] o próprio pastor Silas Malafaia e eu. A princípio apenas essas
pessoas falarão. Qual o recado ali? Em defesa do Estado democrático de
Direito, da nossa liberdade e um retrato para o Brasil e imagens para o
mundo do que nós, de verde e amarelo, queremos: Deus, pátria, família e
liberdade.”
Bolsonaro também disse que não vai responder a perguntas nesta quinta
(22) em depoimento marcado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF
(Supremo Tribunal Federal), porque seus advogados ainda não tiveram
acesso aos autos da investigação sobre golpismo.
“Pelo processo legal, eu tenho que saber do que estou sendo acusado. Eu tenho que ter acesso ao processo.”
Na entrevista, ele se disse vítima de uma “perseguição sem tamanho” do governo Lula e de “outros setores”.
“Na transição, ninguém reclamou. Foi feita uma transição pacífica. No
penúltimo dia, fui embora para os Estados Unidos. Resolvi não passar a
faixa, é um direito meu. Não é porque [João] Figueiredo não passou a
faixa para [José] Sarney lá atrás. É um direito meu. Não sou obrigado a
fazer isso aí.”
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Senado aprovou nesta quarta-feira (21)
projeto que estabelece que os julgamentos de matéria penal em tribunais
superiores que terminarem em empate devem favorecer o réu. Hoje, os
tribunais superiores adotam esse entendimento apenas para a concessão de
habeas corpus.
O texto foi aprovado de forma simbólica –sem a contagem de votos– e volta, agora, à Câmara dos Deputados.
Quando tramitou na Câmara, a proposta gerou críticas de parlamentares defensores da Operação Lava Jato.
O então deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da
força-tarefa da operação até 2020, disse que a medida favorece bandidos e
criminosos e apelidou o projeto de Cristiano Zanin –em referência ao
ex-advogado do presidente Lula (PT) e hoje ministro do STF.
No Senado, no entanto, o relator do texto, Weverton Rocha (PDT-MA),
aceitou uma emenda para evitar “empates artificiais” a favor do réu.
“O empate continua beneficiando o réu em habeas corpus, em qualquer
circunstância, mas, nos outros casos de recurso, vai se buscar o quórum
necessário para não ter empate”, disse o senador Alessandro Vieira
(MDB-SE).
“As turmas são formadas com a quantidade ímpar para não ter empate. E
o que se quer é evitar empates artificiais que possam gerar benefícios e
distorções”, completou o senador.
Pela proposta, a análise da ação será adiada por até três meses até
que o colégio recursal, tribunal, câmara, turma ou seção esteja
completa. O texto também estabelece que, havendo empate, o presidente do
grupo proferirá o voto de desempate.
“Houve empate, vamos supor 4 [julgadores]: 2 e 2. E faltou o quinto.
Na ausência momentânea, se espera a volta desse integrante para
desempatar”, afirmou o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da
Lava Jato, sobre a emenda aceita pelo relator.
“E colocamos também que se essa ausência for decorrente de
impedimento, suspensão ou uma causa de afastamento superior a três meses
aí desde logo se chamam substituto na forma do Regimento Interno.
Acabamos evitando, o que pode acontecer, é exceção, mas pode acontecer,
eventuais manobras para buscar um resultado na ausência momentânea do
julgador.”
Além do tema do empate, o projeto também trata da expedição de habeas
corpus de ofício quando a autoridade judicial verificar que “alguém
sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal”.
É desanimador que, desde os anos 70, o País
siga desperdiçando negócios de amplo interesse nacional na África; em
recente visita, Lula provou que de lá quer só o eco a suas ambições
internacionais
Por Notas & Informações – Jornal Estadão
O presidente Lula da Silva não mencionou a palavra “comércio” ao
discursar aos líderes da União Africana reunidos na Etiópia, no último
dia 17. Preferiu fazer um chamado para a organização integrar o G-20,
presidido pelo Brasil neste ano sob o pilar do combate à fome, e
atraí-los para os objetivos da agenda de transição energética e digital
do Sul Global. O ativismo pela mudança da ordem mundial prevaleceu, em
sua fala, sobre o melhor interesse nacional no aprofundamento da relação
econômico-comercial entre os dois lados do Atlântico. Embarcou para o
Egito e a Etiópia sem entender o atual contexto africano e seu
potencial. De lá, retornou sem ter apresentado um plano estratégico –
nem ao mesmo um esboço sobre como retomar a intensidade que o comércio
Brasil-África um dia já teve.
O Brasil visivelmente perdeu terreno no outro lado do Atlântico,
depois do impulso nos dois primeiros mandatos de Lula da Silva. Se em
2012 as exportações brasileiras para a África representaram 5% do total
de embarques do País, em 2023 houve recuo para 3,9%. Na outra mão não
foi diferente. A participação de bens africanos no total importado pelo
País minguou em 2,5 pontos porcentuais. Com ambos os protagonistas mais
interessados em atender à demanda da China, o intercâmbio comercial não
chegou a US$ 25 bilhões no ano passado. Lula provou estar ciente do
declínio do comércio Brasil-África – ou não teria mencionado à imprensa,
ainda em Adis Abeba, a queda substancial nas trocas de bens brasileiros
com a Nigéria. Mas, diante do quadro desalentador, repetiu sua velha
panaceia: transformar os poucos diplomatas brasileiros no continente em
mascates.
Com todas as suas mazelas e conflitos, a população, a economia e a
renda da África crescem, ao contrário de outras regiões do globo, e
contribuem para que, até 2030, o consumo aumente em US$ 3 trilhões no
continente, segundo estudo da consultoria McKinsey. O impulso econômico
da região na última década foi alavancado, sobretudo, por investimentos
da China. Embora tardia, atualmente há convicção na maioria das nações
africanas que a parceria com Pequim não passava de uma armadilha.
Resultou na dívida total de US$ 170,1 bilhões de 49 dos 54 países da
região, cobrada com métodos de agiotagem, na alta dependência do
comércio chinês e no risco de inadimplência.
Tal contexto abre uma nova dimensão para a aproximação do Brasil com a
África que, aparentemente, Lula da Silva não parece enxergar. Não se
trata de despejar nos países africanos volumes de investimentos públicos
que o Brasil mal consegue destinar a seus setores. Basta ao governo
readequar seus instrumentos de soft power, aproveitar políticas
públicas já existentes, como os incentivos da Nova Indústria Brasil, e
reestruturar as redes de financiamento e de seguro para alavancar a
presença do empresariado nacional na África com menores riscos.
Essencialmente, é preciso estimular o setor privado, ausente na comitiva
presidencial no Egito e na Etiópia, a prospectar negócios e estabelecer
elos por suas próprias pernas.
Os acordos assinados pelo governo brasileiro com o Egito e a Etiópia
evidenciaram sua incapacidade de avaliar o potencial econômico-comercial
da África nas próximas décadas e de oferecer o que já está à
disposição. A cooperação em educação, agricultura, ciência e tecnologia e
saúde obviamente tem seu valor na estratégia política e pode
desdobrar-se em futuros negócios, mas nada que se compare aos resultados
de uma consistente ofensiva comercial.
É desanimador observar que, desde os anos 1970, o Brasil tenha
desperdiçado parcerias longevas e com alto potencial de atender aos
interesses nacionais na África para lá buscar apenas o eco a suas
ambições na seara política global. Lula da Silva apostou em demasia no
seu carisma, um elemento importante nas suas visitas do passado ao
continente, e em propostas retóricas e sem fundamento. Esqueceu-se de
que a África não é mais a mesma de 20 anos atrás – isto é, não será o
mesmo peão de sua ambição internacional nem cativa de sua retórica
terceiro-mundista.
O presidente Lula é um grande especialista em utilizar sua própria
falta de cultura, que ele insiste em manter intacta, para fazer o mal – é
o que se chama de ignorância mal-intencionada. Acaba de dar mais um
espetáculo do gênero numa conferência de chefes de Estado na África.
Como se entendesse alguma coisa de história – ele, que já foi capaz
de dizer em detalhes que Napoleão esteve na China – revelou ao mundo que
nunca houve “um momento histórico” como o da operação militar de Israel
em Gaza.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou ação militar de Israel na Palestina ao Holocausto de judeus na Alemanha nazista Foto: EVARISTO SA / AFP
É uma estupidez em estado bruto, mas Lula aproveitou, como é seu
hábito, para enfiar um propósito maligno na asneira que estava falando.
“Só Hitler”, segundo ele, fez coisa parecida, “com os judeus”. Igualar
os crimes incomparáveis do Holocausto nazista com a reação armada de
Israel ao ataque terrorista que sofreu cinco meses atrás é dizer que o
carrasco e as vítimas têm culpa igual – uma falsidade 100% desonesta,
que atiça o antissemitismo e cobre de infâmia o nome do Brasil no mundo.
Lula, na verdade, não faz uma política externa destinada a defender
os interesses do Brasil. Só pensa, desde que chegou ao cargo, em servir a
seus propósitos pessoais – uma coleção deformada de recalques,
rancores, ideias mortas e um ódio incurável à liberdade econômica, aos
Estados Unidos e às democracias ocidentais. No conflito atual, desde o
primeiro minuto, tomou de maneira quase-oficial o partido do terrorismo
contra Israel. Não pediu licença, nem conselho, a ninguém para fazer o
que está fazendo. Apenas impôs a sua posição pessoal como posição do
Brasil, e não tem o direito de fazer isso. O presidente da República é o
responsável pela execução da política externa, sem dúvida. Mas ele é
mais responsável ainda perante o povo brasileiro.
Desde quando o Brasil acha, como Lula, que a Rússia tem direito de
invadir a Ucrânia – ou que Venezuela, Cuba e Nicarágua são democracias?
Quem o autorizou a colocar o Brasil a favor de um candidato na eleição
da Argentina – que perdeu, aliás? Como fica chorando o tempo todo com a
“falta de recursos” e doa bilhões de dinheiro público às ditaduras
caloteiras que batem palmas para ele?
No caso do atual conflito entre Israel e o Hamas sua arrogância em
confundir aquilo que quer com aquilo que o Brasil precisa é mais
agressiva ainda. Ele quer que o povo brasileiro considere como vítimas
de “genocídio” os que pregam abertamente o genocídio contra os judeus de
Israel. Usa as mortes de civis em Gaza, resultado direto do assassinato
de 1.200 israelenses inocentes por parte do Hamas, para promover a sua
política pró terrorismo, disfarçada de “pró Palestina”. Diz que está
“contra Israel, não contra os judeus” – o que diria, então, sobre quem
viesse a declarar, por exemplo, que quer destruir “o Brasil”, mas não
“os brasileiros”? É o pior momento na calamidade histórica da sua
política externa.
Aprendi que a avaliação humana é falível e oscilante. Ao estudar a
prova penal, convenci-me do acerto de quem rotula o testemunho como “a
prostituta das provas”. Um depoimento depende de inúmeros fatores. As
pessoas têm distintos graus de apreensão, de memorizar, de reproduzir
com palavras a cena presenciada. Somos nós e nossas circunstâncias, na
reiterada visão de Ortega Y Gasset. Prendemo-nos a detalhes que podem
subverter o que poderia ser chamado “verdade”.
O certo é confiar desconfiando. Assim como não se poderia permanecer
com o testemunho de um só dos cinco cegos que descrevem um elefante ao
qual tiveram acesso por palpadelas.
Mas por que tudo isso?
Li o livro “Justiça”, escrito por José Carlos de Macedo Soares, em
sua defesa quando do processo que a União Federal lhe moveu, diante de
sua participação no episódio sangrento ocorrido em São Paulo entre 5 e
28 de julho de 1924.
Acreditei na veracidade da narrativa. Para mim, Macedo Soares, o
arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva e alguns mais foram heróis,
enquanto o Presidente do Estado e um outro grupo, muito superior em
número ao dos heróis, falharam ao permitir que a capital fosse
bombardeada, metralhada, retalhada e sua população tivesse de fugir para
o interior e para o litoral.
Interessei-me por ler outros livros sobre 1924. Moacir Amâncio é um
especialista nisso e com ele ainda manterei contato pessoal para saber
mais sobre o que precisaremos celebrar no ano que vem. Mas, dentre
outros, li “Revolução de 1924″, de Euclydes Castro Carvalho, “Sob a
metralha”, de Cyro Costa e Eurico de Goes e “Dias de Pavor”, de
Aureliano Leite.
O mineiro de Ouro Fino foi advogado, político e escritor. Aureliano
Leite (1886-1976) integrou a Academia Paulista de Letras, assim como
José Carlos de Macedo Soares. Enquanto este chegou a elogiar o
responsável pela Revolução de 1924, o General Isidoro Dias Lopes, que se
mostrou mais sensível e humano do que o Ministro da Guerra, General
Setembrino de Carvalho e o Presidente da República Arthur Bernardes,
Aureliano Leite o detona. Logo nas primeiras páginas de seu livro, fala
sobre os “despretensiosos escritos quotidianos, episódios de oportuno
interesse, nascidos dos vinte e três dias de tirania, a que nos arrastou
a espada covarde do mais indigno dos generais, que a geração hodierna
há de registrar: Isidoro Dias Lopes”.
E prossegue nesse tom: “Delinquente de todos os crimes do código, não
militando a seu favor uma única atenuante da lei penal e tendo contra
si a totalidade de suas agravantes, Isidoro há de passar à história como
um dos mais tristes vilões que enlutaram a humanidade”.
De imediato, ressalve-se o exagero: “todos os crimes do código”,
ausência de qualquer atenuante e presença da totalidade das agravantes, é
algo impensável. Evidencia animosidade incompatível com a reta
observação dos fatos.
Exatamente as figuras que nos demais livros deixam a desejar em
termos de reação adequada aos bombardeios ordenados pelo governo
federal, são as que Aureliano Leite reverencia: “queremos começar por
destacar…duas figuras notáveis da revolta, além das outras, como Arthur
Bernardes, Carlos de Campos, Setembrino, Pedro Dias, Sócrates,
Potiguara, Bento Bueno e tantas mais, que penas fulgentes, molhadas em
tinta de ouro, hão de imortalizar: Firmiano Pinto e Alberto Americano”.
Firmiano Pinto era o Prefeito da capital e, honra seja feita, não
fugiu como o então governador – que à época se chamava presidente -,
deixando os Campos Elíseos à sanha de saqueadores. Alberto Americano era
um adolescente, filho de Luís Americano, que lutara na Guerra do
Paraguai, cuja façanha foi acompanhar Aureliano Leite até à sede da
Polícia Central, mal estourado o levante. Também teria feito Miguel
Costa, o comandante da Força Pública sublevada, pensar que ele aderia
aos revoltosos, quando era legalista e estava ao lado de Arthur
Bernardes.
Aureliano Leite ainda ridiculariza Isidoro Dias Lopes, quando este
comparece a uma reunião convocada por Macedo Soares: depois de
descrevê-lo como “minguado velhinho, risonho, galhofeiro mesmo”,
completa: “Seria crível que em tão pequena e jovial pessoa coubesse
tanta malvadeza e tamanha audácia?”.
Enfim, hoje só nos é dado rememorar a Revolução de 1924 mediante a
leitura de quem se propôs a escrever sobre ela. Façamos a nossa leitura e
o nosso juízo. Com quem estará a verdade?
Há alguns dias, um levantamento da Paraná Pesquisas mostrou que 73,4%
dos brasileiros não sabem citar uma medida ou benefício à população
realizado pelo atual governo. É claro que, quando falamos de pesquisa,
tudo depende de como as perguntas são feitas, e também não conseguimos
saber quanto seria essa porcentagem em outros governos, quando feitas as
mesmas perguntas. Porém, esse dado preocupa.
Para quem lidera um país como o Brasil, com tantos desafios, é
importante entender que, além dos desafios de manter a democracia em pé,
que foi um esforço conjunto com os outros Poderes durante o ano
passado, agora é hora de ir em frente, e fazer realmente com que haja
não só a percepção pela população, mas que aspectos fundamentais que
ameaçam diariamente a vida dos brasileiros sejam realmente objeto de
planejamento e de ação. Passado o carnaval do segundo ano de governo,
com quase 30% do mandato cumprido, é importante que se tenha um caminho a
ser percorrido.
Aponto aqui dois aspectos fundamentais para que se tenha a percepção
de que o governo está trabalhando: a geração de empregos de qualidade,
que garantam renda, e a segurança pública. São duas áreas que se
entrelaçam e dependem de ação momentânea e de uma preocupação que
ultrapasse os quatro (ou oito) anos de mandato de Lula, E isso inclui
conversas com governadores, que têm funções importantes nessas áreas.
É claro que o governo já começou a falar sobre esses assuntos, quando
apresentou o plano de inovação e reindustrialização capitaneado e
comunicado pelo ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas, além da
intenção do governo, é crucial que se tenha um governo integrado nessa
preocupação, que vai muito além de um ministério.
Por exemplo, quando olhamos para o nosso agronegócio, que tem um
papel essencial no nosso PIB, a geração de empregos de qualidade é
mínima. Afinal, em vez de agregarmos valor aos produtos, somos
importantes players na venda de commodities. Dando um antigo exemplo,
enquanto a Suíça vende cápsulas de café com alto valor agregado, nós
continuamos vendendo sacas.
Vender soja para alimentar gado na Europa faz com que esses países
possam se orgulhar da produção nacional de carne, agregando valor até
mesmo pelo fato de conseguir fazer isso em condições nem sempre
favoráveis, como em lugares com invernos rigorosos. Não seria importante
brigar ainda mais com a União Europeia para vender carne de qualidade
para eles?
Enquanto isso, criamos condições para a importação de produtos
industrializados que invadem o nosso dia a dia. Os investimentos de
algumas indústrias atualmente no Brasil, comunicados com grandes
conquistas, apenas tentam impedir que percamos ainda mais postos de
trabalho com uma remuneração mais digna.
É só olhar para regiões como o Grande ABC, em São Paulo, para
notarmos hoje que as antigas fábricas viraram hipermercados ou
atacarejos, que geram empregos com menor remuneração do que as
indústrias que lá estavam antes.
Além da área econômica, a educação é mais um dos aspectos (talvez o
principal) para que essa tendência de conquista de empregos de qualidade
apareça. Se qualquer plano de reindustrialização e de inovação não
tiver conexão direta com a formação de mão de obra realmente necessária
para as empresas, vamos criar ainda mais frustração com planos de
educação superior que cria expectativa ao possibilitar que se tenha
diplomas, mas leva essas pessoas para o trabalho informal dos carros por
aplicativo e das entregas de comida e de produtos importados.
E, sim, todo esse cenário se conecta com a crise de segurança
pública, que precisa ser encarada pelo novo Ministro da Justiça (e
Segurança Pública), já que o anterior estava muito ocupado com a defesa
do governo e a briga (que foi importante) com a atual oposição, que
esteve no Planalto até o fim de 2022. Porém, sem ações concretas, que
modifiquem a sensação que as pessoas têm todos os dias, não somente nas
grandes cidades, não há possibilidade de que se possa fazer a diferença
na vida dos cidadãos que precisam sair de casa sem a sensação de que
podem não voltar.
Encarar as milícias, a presença do estado paralelo que se instalou
pelo país, as facções que controlam o tráfico de drogas, além de debelar
o mercado de receptação de telefones celulares e outros eletrônicos,
tanto o que ocorre dentro do país quanto o que vai para fora, devem ser
ações imediatas.
Justamente pelo fato de não haver empregos de qualidade, os grupos
criminosos de todos os tipos encontram com facilidade mão de obra em
todo o país, principalmente entre jovens que não conseguem encontrar as
suas necessidades de consumo atendidas pelos empregos formais, quando
conseguem ter, nem pelos informais que não estejam relacionados com
atividades criminosas.
Sem encarar principalmente esses fatos, o atual governo não vai
deixar nenhum legado, e vai contribuir para aprofundar a crise social
que toma conta do país.
Já que o carnaval passou, que tal começar a encarar essas questões e criar alguma marca para o atual governo?
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a)
autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção
(Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o
Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica
Os desafios levam em consideração que experiência do cliente passou
de uma mera prioridade e se tornou um fator estratégico para as
empresas.
O papel fundamental da Experiência do Cliente (CX) nas interações
entre consumidores e marcas não apenas se mantém, mas se intensifica em
2024. Hoje, 80% dos clientes valorizam mais a experiência do que os
produtos e serviços, evidenciando a necessidade crescente de um
atendimento excepcional, segundo pesquisa da Foundever, empresa global
líder no setor. Apenas 6% dos clientes afirmam que a experiência do
cliente não desempenha nenhum papel em suas decisões de compra.
Surpreendentemente, enquanto 3 em cada 4 empresas de tecnologia
acreditam que atendem as expectativas de CX, os clientes discordam,
revelando uma lacuna relevante entre percepções.
O CEO da Foundever no Brasil, Laurent Delache, destaca a importância
desses dados: “A experiência do cliente tornou-se o diferencial
competitivo mais crucial para as marcas. Ignorar isso é correr o risco
de perder não apenas vendas, mas a lealdade do cliente.”
Dessa maneira, a Foundever enumerou 7 desafios que as empresas devem
considerar em 2024 para continuar acompanhando as mudanças do mercado,
atendendo e superando as expectativas dos consumidores por meio dos seus
produtos e serviços.
Desafio 1: Identificação do cliente
Consumindo de 10% a 20% do tempo do associado, a identificação do
cliente, embora fundamental, é muitas vezes negligenciada. Problemas
frequentes, enfrentados por uma em cada quatro marcas, revelam a
necessidade de simplificar o processo. Laurent Delache destaca que “a
identificação é a base do CX, impactando satisfação, eficiência e
custos. Inovação é crucial para garantir segurança dos dados. Devemos
buscar meios eficientes, mantendo elevado padrão.”
Desafio 2: Domínio e conhecimento de dados
No segundo desafio, a Foundever destaca que o conhecimento, crucial
para atendimento de qualidade, enfrenta a barreira da gestão de grandes
volumes de informações. Delache observa que a integração, estruturação e
compartilhamento eficientes desse conhecimento são essenciais.
Ele aconselha a avaliação e modernização do conteúdo, a incorporação
de novos canais e a criação de um ambiente de aprendizagem estimulante.
“A busca pela eficiência operacional requer equilíbrio na adoção de
novas ferramentas, otimização de conteúdo existente e estímulo ao
aprendizado contínuo”, destaca Delache. Essa abordagem estratégica é
vital para superar o desafio da gestão de dados e garantir que a
informação se traduza em eficácia operacional, promovendo uma
experiência do cliente aprimorada.
Desafio 3: Criação de um relacionamento contínuo
O terceiro desafio vai em direção à evolução das expectativas dos
clientes, que buscam relacionamentos contínuos com as marcas. A
Foundever destaca que conversas que se estendem além de um único contato
geram oportunidades de upsell e aumentam a satisfação do cliente.
Laurent Delache ressalta que, em 2024, é essencial oferecer uma
experiência que vá além de interações pontuais, criando laços
duradouros.
Ele enfatiza que a continuidade nas interações não apenas impulsiona a
satisfação, mas também reduz contatos repetidos. Portanto, o desafio
não é apenas manter, mas aprimorar a qualidade das conversas para
atender às crescentes expectativas dos consumidores.
Desafio 4: Aproveitar o potencial da IA generativa
Segundo a Foundever, a tecnologia da IA generativa revoluciona as
interações, oferecendo respostas mais naturais e personalizadas. Laurent
Delache ressalta que o GenAI não apenas aprimora a resolução de
solicitações, mas também amplia as capacidades dos assistentes virtuais,
proporcionando suporte em tempo real.
A inovação, portanto, reside na capacidade de ir além das respostas
padrão, melhorando significativamente a experiência do cliente. Integrar
efetivamente a IA generativa é essencial para empresas que buscam
destacar-se na personalização e eficiência da interação com o cliente em
2024.
Desafio 5: Integrar a imersão nas operações de atendimento ao cliente
Com apenas 13% das marcas utilizando tecnologias imersivas nas
operações de atendimento, a Foundever destaca sua subutilização devido a
razões como conhecimento inadequado e preocupações de segurança.
Laurent Delache aponta que a imersão não apenas aprimora a compreensão
do cliente, mas também aumenta as taxas de resolução.
Em 2024, superar esse desafio significa explorar e adotar soluções
imersivas de forma estratégica, ampliando a comunicação para além dos
canais tradicionais e atendendo às crescentes expectativas dos clientes.
Desafio 6: Criar uma dinâmica de engajamento dos colaboradores
A Foundever pondera no sexto desafio a importância de equilibrar
humanos, tecnologia e organização para um atendimento excepcional ao
cliente. Laurent Delache comenta que, em um ambiente em constante
mudança, o engajamento dos colaboradores é vital.
O relatório da Gallup destaca que quase 60% dos colaboradores estão
psicologicamente desligados do trabalho. Delache reforça que esse
desafio exige o apoio às competências gerenciais, incluindo liderança,
habilidades gerenciais e conhecimento. Investir em ferramentas
tecnológicas e uma estrutura organizacional que sustentem essas
competências é essencial para enfrentar os desafios de 2024.
Desafio 7: Gerar valor com operações de atendimento ao cliente
No sétimo desafio, a Foundever propõe ao mercado uma transformação na
percepção das operações de atendimento. Laurent Delache orienta que
essas operações não podem ser vistas apenas como centro de custos, mas
como uma peça crucial na decisão de compra do cliente.
A geração de valor, segundo Delache, envolve investir sabiamente,
focar na simplicidade e adotar quatro chaves transformadoras: autonomia,
velocidade de resolução, eficiência e continuidade. Transformar o
atendimento ao cliente em uma unidade de geração de valor é uma
estratégia indispensável para enfrentar os desafios e destacar-se em
2024.
Em 2024, experiência do cliente passou de uma mera prioridade e se tornou um fator estratégico para as empresas.
Para Delache, as marcas que enfrentam e superam esses desafios não
apenas atendem às expectativas, mas, também, moldam positivamente as
percepções dos clientes. “A evolução constante e inovadora na
experiência do consumidor é o caminho para o sucesso duradouro.”,
conclui o CEO.
STARTUP VALEON UMA HOMENAGEM AO VALE DO AÇO
Moysés Peruhype Carlech
Por que as grandes empresas querem se aproximar de startups?
Se pensarmos bem, é muito estranho pensar que um conglomerado
multibilionário poderia ganhar algo ao se associar de alguma forma a
pequenos empresários que ganham basicamente nada e tem um produto recém
lançado no mercado. Existe algo a ser aprendido ali? Algum valor a ser
capturado? Os executivos destas empresas definitivamente acreditam que
sim.
Os ciclos de desenvolvimento de produto são longos, com taxas
de sucesso bastante questionáveis e ações de marketing que geram cada
vez menos retorno. Ao mesmo tempo vemos diariamente na mídia casos de
jovens empresas inovando, quebrando paradigmas e criando novos mercados.
Empresas que há poucos anos não existiam e hoje criam verdadeiras
revoluções nos mercados onde entram. Casos como o Uber, Facebook, AirBnb
e tantos outros não param de surgir.
E as grandes empresas começam a questionar.
O que estamos fazendo de errado?
Por que não conseguimos inovar no mesmo ritmo que uma startup?
Qual a solução para resolver este problema?
A partir deste terceiro questionamento, surgem as primeiras
ideias de aproximação com o mundo empreendedor. “Precisamos entender
melhor como funciona este mundo e como nos inserimos!” E daí surgem os
onipresentes e envio de funcionários para fazer tour no Vale e a rodada
de reuniões com os agentes do ecossistema. Durante esta fase, geralmente
é feito um relatório para os executivos, ou pelas equipes de inovação
ou por uma empresa (cara) de consultoria, que entrega as seguintes
conclusões:
* O mundo está mudando. O ritmo da inovação é acelerado.
* Estes caras (startups) trabalham de um jeito diferente, portanto colhem resultados diferentes.
* Precisamos entender estas novas metodologias, para aplicar dentro de casa;
* É fundamental nos aproximarmos das startups, ou vamos morrer na praia.
* Somos lentos e burocráticos, e isso impede que a inovação aconteça da forma que queremos.
O plano de ação desenhado geralmente passa por alguma ação
conduzida pela área de marketing ou de inovação, envolvendo projetos de
aproximação com o mundo das startups.
Olhando sob a ótica da startup, uma grande empresa pode ser
aquela bala de prata que estávamos esperando para conseguir ganhar
tração. Com milhares de clientes e uma máquina de distribuição, se
atingirmos apenas um percentual pequeno já conseguimos chegar a outro
patamar. Mas o projeto não acontece desta forma. Ele demora. São
milhares de reuniões, sem conseguirmos fechar contrato ou sequer começar
um piloto.
Embora as grandes empresas tenham a ilusão que serão mais
inovadoras se conviverem mais com startups, o que acaba acontecendo é o
oposto. Existe uma expectativa de que o pozinho “pirlimpimpim” da
startup vá respingar na empresa e ela se tornará mais ágil, enxuta,
tomará mais riscos.
Muitas vezes não se sabe o que fazer com as startups, uma vez
se aproximando delas. Devemos colocar dinheiro? Assinar um contrato de
exclusividade? Contratar a empresa? A maioria dos acordos acaba virando
uma “parceria”, que demora para sair e tem resultados frustrantes. Esta
falta de uma “estratégia de casamento” é uma coisa muito comum.
As empresas querem controle. Não estão acostumadas a deixar a
startup ter liberdade para determinar o seu próprio rumo. E é um
paradoxo, pois se as empresas soubessem o que deveria ser feito elas
estariam fazendo e não gastando tempo tentando encontrar startups.
As empresas acham que sabem o que precisam. Para mim, o maior
teste é quando uma empresa olha para uma startup e pensa: “nossa, é
exatamente o que precisamos para o projeto X ou Y”.
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Proposta será enviada à Câmara para votação antes de ir para sanção do presidente da República
Por Levy Teles – Jornl Estadão
BRASÍLIA — O Senado Federal aprovou o fim da “saidinha” para presos no Brasil. O novo texto, de relatoria de Flávio Bolsonaro (PL-RJ),
faz alterações na legislação que atualmente veda esse benefício apenas
para condenados por crime hediondo. Pela proposta, qualquer preso que
cometeu crime com violência ou grave ameaça não terá direito à saída
temporária.
O texto aprovado, seguindo uma sugestão do senador Sérgio Moro
(União-PR), eliminou o direito de presos de saírem para visitar a
família ou participar de eventos que pudessem ser considerados de
ressocialização. O projeto permite apenas que o detendo de bom
comportamento saía para fazer curso profissionalizante.
A proposta ainda vai para o plenário da Câmara para analisar
alterações feitas no texto antes de a matéria ir a sanção ou veto do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Integrantes
da bancada da bala acompanharam votação do PL que acaba com
‘saidinhas’; na foto, o deputado Rodolfo Nogueira conversa com o senador
Sérgio Moro Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O projeto também estabelece que condenados terão que fazer exame
criminológico para ter direito a progressão de sua pena. O texto também
amplia o uso do monitoramento eletrônico de presos em liberdade
condicional.
Entenda os principais pontos:
Como é a lei em vigor
A legislação em vigor proíbe a “saidinha” para condenados por crime
hediondo, mas concede o benefício para detentos que tenham cumprido ao
menos um sexto da pena, no caso de primeira condenação, e um quarto, em
caso de reincidência.
O benefício ocorre até cinco vezes por ano e não podem ultrapassar o
período de sete dias. A lei permite presos de bom comportamento em
regime semiaberto deixem a prisão para estudar, realizar funções do
trabalho e visitar familiares durante feriados.
Projeto aprova só permite “saidinha” para uma situação
O texto chegou ao Senado abolindo a “saidinha” em qualquer caso.
Atendendo à emenda de Moro, Flávio Bolsonaro estabeleceu a vedação do
benefício para presos condenados por qualquer crime cometido com
violência ou grave ameaça. O projeto também mantém a vedação para crimes
hediondos.
O direito à “saidinha” só vale para aqueles que estão no regime
semiaberto e precisam frequentar curso profissionalizante ou do Ensino
Médio ou Superior.
Obrigação para monitoramento eletrônico
para quem estiver liberdade condicional e possibilidade de monitoramento
eletrônico para quem passar para o regime aberto
O novo texto também propõe a obrigação de monitoramento eletrônico
para quem está em liberdade condicional e abre a possibilidade do juiz
realizar fiscalização por monitoramento eletrônico para quem estiver em
regime aberto.
No geral, não há previsão de vigilância aos detentos que saem. O texto também prevê isso para quem estiver no regime semiaberto.
Exame criminológico como requisito para progressão de regime
O texto aprovado pelo Senado permite o benefício da progressão de
regime apenas para quem tiver “boa conduta carcerária” avaliada pelo
diretor da prisão e após o resulto de um exame criminológico, que se
baseia em critérios como autodisciplina, baixa periculosidade e senso de
responsabilidade do detento.
A proposta também prevê a exigência de exames criminológicos para a
progressão de regime penal e o monitoramento eletrônico obrigatório dos
detentos que passam para os regimes semiaberto e aberto. O exame avalia
“autodisciplina, baixa periculosidade e senso de responsabilidade”.
Presidente é alvo de pedido de impedimento
assinado por deputados federais de oposição após comparar ação
israelense contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza ao
Holocausto
A movimentação política de deputados que fazem oposição ao governo
federal, no entanto, não se sustenta juridicamente, segundo
especialistas ouvidos pelo Estadão. Advogados e
juristas não veem no pedido dos parlamentares fundamentos que se
enquadrem na Lei 1.079, que define os crimes de responsabilidade e
regula o respectivo processo de julgamento de impeachment.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante coletiva de imprensa na Etiópia Foto: Stringer/Reuters
De acordo com o pedido redigido pela oposição, Lula teria infringido o
artigo quinto da Lei do Impeachment que classifica como crime de
responsabilidade “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira,
expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a
neutralidade”.
Os parlamentares dizem que a afirmação de Lula é “injustificável,
leviana e absurda”. “É uma afronta aos judeus, aos descendentes do
horror do nazismo e algo que só fomenta o crescimento do antissemitismo
no Brasil”, diz o texto.
Para o especialista em Direito Eleitoral Alberto Rollo, apesar de
“desastrosa”, “infeliz” e “ignorante”, a declaração do presidente não se
enquadra como crime. Segundo Rollo, não há fundamento jurídico no
pedido e o texto só deve avançar no Congresso em caso de perda de
sustentação política do presidente.
“A pessoa comete o crime quando ela pratica os verbos que estão
descritos na lei. É assim que a gente analisa juridicamente. No artigo
quinto está “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira”. Ele (Lula) foi
infeliz na fala, foi desastroso, mas isso não chega a ser uma
hostilidade. O presidente foi deselegante. É uma opinião errada, seja
por ignorância ou por desconhecimento da história. Entendo que ato de
hostilidade é você praticar alguma ação na prática, uma provocação, uma
ameaça…”, disse Alberto Rollo.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel Foto: Ohad Zwigenberg/EFE
Em resposta à fala de Lula, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que “comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha”.
“As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São
sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito
israelense de se defender.”
Outro trecho do artigo da lei usado como base do pedido de
impeachment cita a responsabilização por expor a “República ao perigo da
guerra” ou por “comprometer a neutralidade”. Para o advogado Alberto
Rollo, as declarações de Lula também não se enquadram na lei.
“O Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) declarou Lula persona non grata,
mas não há uma sinalização ou discussão de que ele vá se voltar
belicamente contra o Brasil, declarar guerra. O terceiro item, sobre o
comprometimento da neutralidade, não há ações práticas por parte do
presidente, é uma opinião”, disse.
Já o doutor em Direito Constitucional Acacio Miranda enfatiza o
caráter político do processo de impeachment e sustenta que, no momento,
“não há vontade política”.
“O pedido de impeachment é, pela sua própria natureza, um julgamento
político. De nada adianta termos a subsunção do fato à norma, se não
houver vontade política. Sobre o prisma jurídico, é possível relacionar.
Como o impeachment depende de um julgamento político, não há vontade
política. Se compararmos com os processos contra Collor e Dilma,
enfrentávamos problemas econômicos e havia um desgaste do governo
perante à sociedade”, disse.
Miranda explica ainda que, mesmo que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aceite o pedido, o governo mantém maioria nas comissões e no plenário.
“O governo tem uma maioria sólida, por mais que exista uma queda de
braço entre o Arthur Lira e o núcleo de organização política do governo.
Lira é um político experiente, não entraria em uma aventura sabendo que
irá perder”, afirmou.
Presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) Foto: Zeca Ribeiro
O doutor em Direito Constitucional Flávio de Leão Bastos, professor
da Faculdade de Direito do Mackenzie, diz que, ainda que a afirmação do
presidente Lula seja “insustentável do ponto de vista histórico”, não
expõe a República a uma situação de guerra.
“Eu não vejo, sobre uma perspectiva puramente jurídica, qualquer
embasamento nesse pedido. Me parece muito mais um pedido político
voltado para a bolha ou a base eleitoral desses membros do que um
embasamento jurídico. O Brasil não cometeu nem o presidente Lula, muito
menos, qualquer ato de hostilidade contra nação estrangeira”, disse.