É comum ouvir que o alto salário no Judiciário se
justifica pelo alto nível requerido pelos cargos. “Miserê”, “humilhados
e agachados”, são alguns relatos de servidores do alto escalão sobre
seus salários. “Eu poderia ganhar muito mais em um escritório de
advocacia”, bradou um conhecido em uma conversa sobre os supersalários
do Judiciário no Brasil.
Os salários do Judiciário trazem um incômodo para os funcionários públicos e para a população em geral. Esta semana o STF vai
decidir sobre teto salarial das universidades públicas paulistas USP,
Unicamp e Unesp. Os docentes destas universidades recebem hoje até R$
44.008,52, que é o teto federal. Se a medida cautelar que foi deferida
em 2020 não for acatada pelo STF, os salários dos professores cairiam
para o limite estadual de R$ 34.572. A medida deve impactar pouco
professores contratados nos últimos anos – que raramente atingem o teto
estadual. O debate chama a atenção porque os penduricalhos do Judiciário
não estão sendo, e nunca são, debatidos. Há um conflito de interesses
inerente ao deixar nas mãos do próprio Judiciário este debate. Nem todos
os servidores públicos possuem acesso às chaves do cofre.
Eu adicionaria que qualquer reforma, ou apenas fazer valer regulações
já existentes, deveria ter como princípio fundamental um Estado não
indutor de desigualdades. Em 2021 escrevi uma coluna intitulada
exatamente Estado indutor de desigualdade. Nela, deixei
um exemplo que é sempre útil e replico aqui. No TJSP, juízes têm
direito a garrafinhas de água. A “serventia”, como são chamados os
outros funcionários, não. Na ocasião, descrevi o fato como uma das
“pequenezas que se amontoam e escancaram o Estado como indutor de
desigualdade por convicção”.
Prédio do TJ-SP; no local, apenas juízes tem direito a garrafinhas de água, servidores não Foto: Antonio Carreta/TJSP
Todos os salários debatidos aqui nesta coluna são, claro, muito
maiores do que a média de salário dos trabalhadores no Brasil, que não
chega a R$ 3 mil mensais. O debate explicita este conflito de interesses
entre servidores públicos e as benesses do Judiciário. Mas, além disso,
escancara uma escolha social. O Brasil escolhe ser um país de
burocratas, não de intelectuais ou cientistas.
Há um ano inteiro, dia e noite, todos os recursos da imensa máquina
do Estado brasileiro se concentram em demonstrar que houve uma tentativa
de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Prenderam
1.500 pessoas, um recorde na história da segurança pública no Brasil. Os
réus estão sendo condenados a até 17 anos de cadeia, pelos crimes
simultâneos de “golpe de Estado” e “abolição violenta do Estado de
direito.”
Policiais Federais deixam o edifício do Brasil-21 em Brasília DF, local que fica a sede do partido do PL Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Seus direitos civis, a começar pelo direito de defesa, foram
abolidos. Há condenados que não estavam fisicamente no local do
quebra-quebra na Praça dos Três Poderes. Há um cidadão que foi condenado
por ter o mesmo nome de um dos participantes. Há outro que morreu na
prisão por falta de atendimento médico adequado, negado pelo ministro Alexandre de Moraes.
Uma senhora foi condenada porque a Polícia Federal descobriu, através
de exames de DNA, que sua digital estava numa garrafa de plástico
descoberta no local. A mesma polícia revelou que as armas do golpe eram
estilingues e bolinhas de gude. O que ninguém conseguiu, no governo ou
na vara penal do ministro Moraes, foi descobrir um único átomo de prova
de que houve uma tentativa de golpe – um ano de trabalho, barulho e
despesa e, até agora, nada.
O regime, seja lá como for, não desiste do que parece, cada vez mais,
ser o seu grande projeto estratégico: transformar o mencionado golpe em
verdade oficial e condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro como o
mandante do crime. Seria o primeiro caso na história, provavelmente, de
um presidente que não dá o golpe enquanto está no poder – e tem, entre
outras facilidades, o comando supremo das forças armadas. Ele espera
sair do governo e oito dias depois, quando está nos Estados Unidos,
lança a sua operação – sem tanque de guerra, avião de caça ou fuzileiro
naval.
É essa, de qualquer forma, a história contada na área
Lula-polícia-STF. Por conta do seu último surto de atividade, Bolsonaro,
que já responde a um inquérito pela suspeita de incomodar baleias, está
intimado a entregar o seu passaporte. Lula, inclusive, disse em público
que tem certeza de que Bolsonaro “participou da tentativa de golpe”.
Após um ano de governo, essa parece ser a única ideia que Lula
conseguiu colocar de pé: Bolsonaro, que já foi declarado inelegível
pelos próximos oito anos, e não tem a mais remota influência em
absolutamente nenhuma decisão do poder público, é o grande problema do
Brasil. Dia após dia ele é empurrado ao topo do noticiário por Lula, o
PT e o sistema à sua volta; é um ex-presidente que não manda em nada,
mas parece ser, cada vez mais, a figura política mais importante do
país.
Esse último corre-corre ajuda, sem dúvida a jogar para o segundo
plano a exposição internacional do ministro Dias Toffoli em particular e
do STF em geral como protetores de empresas que corrompem a máquina
estatal – um momento ruim para o governo. Mas é um incentivo de primeira
classe para a perpetuação do bolsonarismo.
Abrir graduações pela via dos tribunais
desorganiza fila regular e reduz qualidade da formação, dizem
especialistas; parte das faculdades privadas fala em regra engessada do
governo
Por Paula Ferreira
O Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar nesta semana ação
que deve impactar a abertura de novos cursos de Medicina no País. Os
ministros vão analisar quais regras são válidas para a liberação de
graduações do setor.
Uma parte das faculdades particulares tem recorrido à Justiça em
reação a duas determinações federais. A primeira, conhecida como regra
do Mais Médicos, vigora desde 2013 e prevê que a oferta de novas
graduações priorize regiões carentes de profissionais de saúde e com
menor relação de médicos por habitante.
A segunda foi a proibição adotada em 2018, na gestão Michel Temer
(MDB), de abrir vagas por cinco anos. O argumento para a moratória na
época era a necessidade de controlar a expansão para garantir a
qualidade.
Portaria
do Ministério da Educação define regras para análise dos pedidos
administrativos judicializados para abertura e aumento de vagas de curso
de medicina. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ainda assim, liminares obtidas pelas universidades autorizaram cerca
de 6 mil novas vagas nesse período da moratória. O Ministério da
Educação (MEC) tem hoje na mesa ao menos 335 pedidos de abertura de
cursos que também foram parar na Justiça e somam 60,5 mil vagas.
De um lado, parte do ensino superior privado reclama de engessamento
da abertura de vagas apenas pela via do Mais Médicos. Do outro,
especialistas e entidades do setor, como o Conselho Federal de Medicina
(CFM), veem riscos de precarizar a formação e criar vagas em cidades
onde já existe oferta suficiente.
“O ideal seria o ministérios criar critérios sérios, difíceis, para
que só as boas faculdades pudessem funcionar. E talvez ter um sistema
independente de acreditação para fugir de ingerências políticas e
econômicas, que são enormes”, analisa o professor de Cirurgia da
Faculdade de Medicina da USP e membro da Academia Nacional de Medicina,
Raul Cutait.
Como está a discussão no Supremo?
A ação foi movida pela Associação Nacional das Universidades
Particulares (Anup). A entidade pede que a abertura de cursos siga a
regra do Mais Médicos, de 2013.
Mas o setor de ensino superior privado está dividido. Há outras
entidades, como a Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino
Superior (Abmes), que defendem alternativas para autorizar novas
graduações – e que o Mais Médicos não seja a única via.
Em agosto, o ministro Gilmar Mendes, relator do tema no STF, atendeu
ao pedido da Anup, em caráter liminar. O ministro André Mendonça pediu
vista e o caso voltará a ser analisado no plenário virtual do STF, de 9 a
20 de fevereiro.
Dados da pesquisa Demografia Médica no Brasil, conduzida pela
Faculdade de Medicina da USP e Associação Médica Brasileira (AMB),
publicada no ano passado, mostram a disparidade regional. Enquanto no
Distrito Federal há 6,13 médicos para cada mil habitantes, no Maranhão
há 1,17 profissionais para cada mil habitantes.
As 41 cidades do Brasil com mais de 500 mil habitantes, onde vivem 29% da população do País, concentram 61,5% dos médicos.
A norma do Mais Médicos estabelece critérios sobre infraestrutura
adequada, corpo docente e projeto pedagógico. Para Elizabeth Guedes,
presidente da Anup, sem essa regra “haveria número reduzido de
exigências estruturais, incluindo a disponibilidade prévia de leitos do
SUS para prática médica, requisito essencial para formar novos médicos”.
A Abmes concorda que a regra dos Mais Médicos seja usada para a
criação de cursos, mas defende que não seja a única via. “Projetos de
excelência devem ser analisados independentemente do chamamento do Mais
Médicos”, afirma Celso Niskier, presidente da entidade.
Assessor jurídico da Associação Brasileira das Mantenedoras de
Faculdades (Abrafi), Daniel Cavalcante defende que o STF mantenha a
análise dos pedidos de abertura que foram judicializados que já
superaram a fase de documentação.
“Seriam retrocesso e prejuízo grandes não acatar a tramitação desses
processos”, afirma. “Não há falta de interesse das instituições, porque
ainda assim há demanda reprimida nos locais de difícil acesso”,
acrescenta.
Falta de estrutura
Dados do CFM estimam que apenas 17% das escolas médicas estão em
municípios que atendem a todos os parâmetros necessários para abrir um
curso de Medicina, como quantidade mínima de leitos por aluno, estrutura
hospitalar e número de estudantes por equipe de saúde.
Em outubro, o MEC lançou edital para permitir novos cursos de
Medicina conforme as regras do Mais Médicos. A pasta pré-selecionou
1.719 municípios aptos a receberem universidades a partir dos critérios
do programa.
Dados da pesquisa Demografia Médica mostram que o Brasil ainda tem
quantidade de médicos por habitante abaixo da média da OCDE. O País tem
taxa de 2,7 médicos por mil habitantes, enquanto na OCDE a média é de
3,7 médicos por mil habitantes. A meta do governo federal é ampliar a
formação médica em dez anos até que o país alcance o patamar dos países
do bloco.
“A formação médica é complexa e exige parte prática intensa. O
estudante de Medicina deve entrar em contato com pacientes, ter a
vivência do pronto-socorro, porque vai lidar com a vida humana e tem de
sair da universidade preparado”, afirma Jeancarlo Fernandes Cavalcante,
1º vice-presidente do CFM. “Sabemos que há faculdades de Medicina que
não têm câmpus de estágio onde o aluno possa praticar o conhecimento
teórico que adquiriu.”
Ele argumenta ainda que a simples criação de vagas no interior não
garante melhor distribuição dos médicos. Cavalcante diz que é preciso
proporcionar boas condições de trabalho e um plano de carreira
estruturado que incentive os profissionais a ficarem nas regiões mais
remotas.
Nos bastidores, a expectativa do governo é de que o plenário do STF
corrobore a posição principal do ministro Gilmar Mendes de que os cursos
devem ser abertos por chamamento público levando em conta a lei do Mais
Médicos.
Um dos maiores pontos de interesse é a modulação da decisão, que
ainda encontra divergência entre os juízes da Corte. Enquanto Mendes e
Luiz Fux votaram para que processos pendentes que já passaram da fase
inicial de documentação continuem tramitando, Rosa Weber e Edson Fachin
votaram para que esses procedimentos sejam suspensos.
O argumento utilizado por Fachin é de que a continuidade desses
pedidos faria com que essas universidades não tivessem interesse em
abrir cursos por meio de chamamento público, já que o processo é mais
rigoroso.
O magistrado destacou ainda que a manutenção desses processos
significaria abertura de 50% a mais de cursos em relação aos que já
existem. Entidades médicas se alinham a essa visão.
Avaliação
Projeções estimam que em um cenário mais conservador, no qual a
expansão dos cursos estivesse restrita, o Brasil tende a ultrapassar a
marca de um milhão de médicos até 2035. Em outro cenário mais
permissivo, com abertura em larga escala de cursos, o País atingiria o
patamar de 1,3 milhões de médicos em 2035. Especialistas defendem que é
preciso melhorar os mecanismos de avaliação.
“É preciso avaliar as faculdades de Medicina. Não pode ser solto. Com
isso, sendo identificados bons indicadores e critérios, conseguiremos
fazer com que faculdades ruins não se perpetuem e valorizaremos as que
são melhores”, diz Raul Cutait.
Para ele, houve três erros principais na proposta do Mais Médicos na
educação médica. “Primeiro: os médicos não vão ficar onde estudam. Vão
procurar outros lugares. Isso aconteceu em outros países. Segundo, não
pode abrir faculdade de Medicina sem ter professores. Os professores têm
que estar prontos para lecionar. E não é ir só lá e dar aula, é estar
presente.”
O terceiro, diz. é em relação à estrutura. Muitas vezes, segundo
Cutait, a instituição pública tem problemas para servir de
hospital-escola, diante da restrição de exames, por exemplo.
Hoje, os cursos são avaliados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC. Procurada, a
pasta afirmou que “aguarda o posicionamento final do STF”.
Um dos indicadores construídos a partir da avaliação é o Conceito
Preliminar de Curso (CPC), que dá nota de 1 a 5 para as graduações. A
nota é construída a partir de outros elementos, como o desempenho dos
estudantes na prova Enade, aplicado pelo governo, dados sobre o corpo
docente; percepção dos alunos sobre a infraestrutura do curso; e a
evolução do aluno levando em conta o Indicador de Diferença entre os
Desempenhos Observado e Esperado (IDD).
Na última rodada de avaliação dos cursos de saúde, em 2019, só 1,7%
dos 232 cursos avaliados alcançaram a nota máxima. A maior parte dos
cursos de Medicina do país, 56%, está concentrada no conceito 4. Depois,
35,8% dos cursos receberam nota 3. Segundo o Inep, 6,5% receberam nota 2
e nenhum ficou com o conceito 1.
Autoridades americanas reconhecem que não
há nada no horizonte capaz de se equiparar ao poder de uma nova dotação
de US$ 60 bilhões do Congresso para apoiar Kiev contra a agressão russa
Por David E. Sanger – Jornal Estadão
THE NEW YORK TIMES – Um ano atrás, quando Washington e grande parte da Europa ainda inundavam-se de otimismo considerando que a Ucrânia estava prestes a repelir a Rússia de seu território, parecia inconcebível os Estados Unidos voltarem as costas para a vítima da agressão de Vladimir Putin.
Agora, mesmo que os senadores democratas tentem preservar um pacote de ajuda para a Ucrânia,
essa possibilidade permanece real. E o momento político parece
imensamente diferente do ambiente de 14 meses atrás, quando o presidente
ucraniano, Volodmir Zelenski,
compareceu a uma sessão conjunta do Congresso trajando seu
característico suéter verde-musgo, em que os congressistas o aplaudiram
de pé, numa ovação de um minuto.
A reviravolta surpreendeu a Casa Branca. Mesmo que o Senado consiga
prover a ajuda militar, ainda há várias razões para duvidar que o
dinheiro sairá, incluindo uma profunda oposição entre os republicanos na
Câmara dos Deputados e a pressão do ex-presidente Donald Trump por uma posição mais isolacionista.
Sepulturas
em Lviv, Ucrânia, no mês passado. Autoridades americanas dizem que o
simbolismo da retirada dos EUA agora pode ser profundo para a guerra Foto: Finbarr O’Reilly/NYT
Os conselheiros do presidente Joe Biden insistem
que ainda não consideram outras opções. “Nosso foco não está no Plano
B”, afirmou o conselheiro de segurança nacional do presidente, Jake Sullivan,
em Bruxelas, na quarta-feira, depois de uma reunião da Otan com seus
homólogos. “Nosso foco é o Plano A”, disse ele, que significa aprovar um
pacote de ajuda bipartidário que possibilitará à Ucrânia “defender-se
eficazmente e recuperar território que a Rússia ocupa atualmente”.
Mas nos bastidores há muita discussão, em Washington e na Europa,
sobre outras opções, incluindo confiscar mais de US$ 300 bilhões em
ativos do Banco Central russo depositados em nações ocidentais — um
processo que está se mostrando mais complicado do que pareceu
inicialmente.
Ainda assim, autoridades americanas reconhecem que não há nada no
horizonte capaz de se equiparar ao poder de uma nova dotação de US$ 60
bilhões do Congresso, que poderia permitir a Kiev comprar defesas aéreas
reforçadas, mais tanques e mísseis e uma enorme provisão de munições.
E, acrescentaram as fontes, o simbolismo dos EUA se retirarem neste momento poderia ser profundo.
Autoridades europeias que temem a possibilidade de Trump ser eleito
novamente e cumprir sua promessa de retirar os EUA da Otan estão
começando a questionar, pelo menos privadamente, a confiabilidade dos
EUA não importando quem seja seu presidente.
Se os republicanos estiverem dispostos a acatar a exigência de Trump
para que eles votem contra a continuidade da ajuda à Ucrânia, questionou
um graduado diplomata em Berlim, na quarta-feira, por que a Europa
confiaria na garantia de Biden afirmando que os EUA “defenderiam cada
centímetro” de território da Otan? Mesmo alguns dos ex-conselheiros de
segurança nacional de Trump — aqueles com quem ele rompeu há muito —
estão começando a afirmar que a ausência do financiamento à Ucrânia
representaria uma vitória estratégica enorme para Putin.
“Os EUA têm uma escolha clara: armar os ucranianos com os armamentos
que eles precisam para se defender ou cortar a ajuda e abandonar a
Ucrânia democrática em sua luta por sobrevivência nacional contra a
agressão de Putin”, disse na segunda-feira H.R. McMaster, que serviu por
um ano como o segundo dos quatro conselheiros de segurança nacional de
Trump. Ele notou que enquanto o Congresso debatesse, “o abandono de Kiev
seria um presente para o eixo Moscou-Teerã-Pequim-Pyongyang de
agressores. Aliados e parceiros perderiam a confiança nos EUA conforme
esses agressores fossem encorajados”.
A ameaça do Congresso de
descarrilar a ajuda surge precisamente no momento em que a Europa
comprometeu 54 bilhões de dólares para a reconstrução do país Foto: Tyler Hicks/NYT
Curiosamente, a ameaça do Congresso de terminar a ajuda ocorre justo no momento em que a Europa empenhou US$ 54 bilhões para a reconstrução da Ucrânia ao longo dos próximos quatro anos, e países como Noruega e Alemanha estão
determinando uma nova ajuda militar a Kiev. “Foi notável a rapidez com
que a Europa se movimentou no sentido de um novo e substantivo apoio de
vários anos para a Ucrânia”, afirmou Christoph Trebesch, que dirige o
banco de dados Ukraine Support Tracker, do Instituto Kiel para Economia
Mundial, no norte da Alemanha. “Pela primeira vez, agora os EUA estão
atrás por uma grande margem” em comparação com a ajuda europeia, afirmou
ele.
“Não se trata de caridade; isso atende ao nosso próprio interesse de segurança”, afirmou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg,
na sede da aliança, na quarta-feira, numa conferência de imprensa
concedida juntamente com Sullivan. Uma vitória da Rússia, acrescentou
ele, seria “um problema para a segurança da Europa e para a segurança
dos EUA”.
Mas o argumento de que o Ocidente deve fazer a Rússia recuar na
Ucrânia ou encarar a possibilidade de enfrentar Moscou no território da
Otan parece estar perdendo eficácia no Congresso. E alguns congressistas
republicanos ainda estão acusando a Europa de não assumir
responsabilidades que lhe cabem mesmo que os comprometimentos
financeiros mais recentes alterem a equação.
Mas nenhum desses argumentos, afirmam autoridades americanas e
europeias, é capaz de superar a seguinte realidade: se os EUA encerrarem
seu apoio financeiro para a guerra, muitas das necessidades militares
cotidianas desapareceriam — começando pelas defesas antiaéreas contra as
barragens de mísseis quase diárias, os ataques de drones e as ofensivas
com outros armamentos mirando centros urbanos e infraestruturas
críticas, como a rede de transmissão de eletricidade. E se a economia
ucraniana ruir, um esforço de dois anos para salvar uma democracia
recente, mesmo que repleta de imperfeições, se encerrará.
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Se os Estados Unidos interromperem o seu apoio à guerra, muitas das necessidades militares do dia a dia desaparecerão Foto: Tyler Hicks/NYT
Os republicanos que se opõem à ajuda não argumentam diretamente com
essa lógica, mas muitos insistem que despejar bilhões de dólares em um
país com um histórico profundo de corrupção é um convite à prevaricação.
Em vez disso, o argumento primário é que o dinheiro deveria ser gasto
domesticamente, na fronteira sul, e não nas terras ucranianas
fronteiriças à Rússia. Os oponentes mais expansivos, incluindo os
congressistas Marjorie Greene, da Geórgia, e Matt Gaetz, da Flórida,
argumentam que a Ucrânia “coloca os EUA em último”.
Por meses, a Casa Branca considerou-os um grupo periférico. Mas
pesquisas mostram que a porcentagem de eleitores republicanos afirmando
que os EUA gastaram demais na defesa da Ucrânia foi às alturas. E agora
muitos republicanos ficaram mais resistentes, alinhando suas próprias
visões com a posição defendida há muito por Trump, que na campanha de
2016 afirmou que não defenderia a Ucrânia. Oito anos depois, ele insiste
— sem fornecer nenhum detalhe — que poria fim à guerra em 24 horas.
Agora essa oposição se consolidou tanto que até o líder republicano no Senado, Mitch McConnell,
do Kentucky, que declarou em diversas ocasiões que financiar a guerra
na Ucrânia era uma de suas prioridades, parece estar voltando atrás.
Enquanto isso, os conselheiros de Biden tentam descobrir como pagar
pelas armas se o Congresso seguir paralisado. O plano de confiscar
ativos russos tem complicações. Não está claro se essas reservas
poderiam ser usadas para pagar por defesa antiaérea e artilharia. Até
isso, afirmam autoridades do governo, poderia requerer aprovação no
Congresso — apesar de presumivelmente haver mais votos na Câmara e no
Senado favoráveis a gastar dinheiro da Rússia do que dinheiro dos EUA.
À medida que a guerra entra no seu terceiro ano, os ucranianos enfrentam mais dificuldades no conflito Foto: Finbarr O’Reilly/NYT
Há também uma discussão a respeito da condução de trocas de
armamentos complexas, similares às que Japão e Coreia do Sul fizeram, em
que os países forneceram seus projéteis de artilharia para os EUA
permitindo a Washington dar mais para a Ucrânia. (Ambos os países
afirmaram que não poderiam exportar diretamente para uma zona de
guerra.) Ou talvez fazer os países europeus pagar por armamentos
americanos e os transportar para a Ucrânia.
Mas a Europa claramente não tem capacidade de fornecer muito mais
munição. Durante os 30 anos de uma relação crescentemente intranquila
com a Rússia, a Europa desmantelou grande parte de sua capacidade de
produção. A presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen,
afirmou em um discurso recente que “nós teremos entregado mais de meio
milhão de projéteis de artilharia até o próximo mês” e “mais de um
milhão até o fim do ano”, mas ela reconheceu que “isso certamente não é
suficiente”.
A Europa também tem pouco a contribuir na fabricação de drones. E a
Alemanha continua relutante em entregar seus mísseis de cruzeiro Taurus,
seus projéteis de longo alcance mais poderosos de lançamento aéreo, por
temer que o armamento seja usado para atingir alvos profundos dentro do
território russo. O papel da Alemanha deverá estar no centro da reunião
entre o chanceler Olaf Scholz e Biden na Casa Branca, na sexta-feira.
Sullivan, de sua parte, insiste que, se seguir com sua estratégia, o
governo triunfará. “Sair da Ucrânia neste momento, nesta hora, seria
fundamentalmente equivocado do ponto de vista da nossa segurança
nacional básica nos EUA e também para os nossos aliados da Otan”,
afirmou ele na quarta-feira. “E nós achamos que continuaremos a vencer
essa discussão.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
Para o head de vendas da Nexaas, Andrei Dias, é hora de o Brasil
deixar de lado pragmatismos e enxergar a tecnologia como investimento
A maior e mais tradicional feira de varejo do mundo, a NRF (National
Retail Federation), que ocorre anualmente em Nova York, será realizada
entre os dias 14 e 16 de janeiro, apresentando mais de 450 palestrantes
aos mais de 40 mil participantes em sua 114ª edição. Com muitos cases e
insights do setor, o evento é responsável por ditar as principais
tendências para o ano, além de apresentar novas tecnologias disruptivas.
No entanto, nem tudo que é apresentado na feira chega ao Brasil com a
mesma força que em outros países, como Estados Unidos e China. O porquê
disso, para o especialista no setor e head de vendas da Nexaas, Andrei
Dias, é o pragmatismo brasileiro ao enxergar a tecnologia como complexa e
cara demais.
Trazendo mais uma vez a experiência do cliente como foco dos
negócios, a NRF 2024 traz a Inteligência Artificial como grande aliada
para a proporção de uma jornada mais valiosa. E, enquanto grandes marcas
brasileiras já trataram de implementar a tecnologia em seus negócios
desde o ano passado, tanto em lojas físicas como online, médias e
pequenas empresas vêem este presente como algo distante, ressalta
Andrei.
“No Brasil, naturalmente já sofremos um delay quanto às tendências do
varejo mundial, como é o caso dos caixas de autoatendimento, que
chegaram aqui muito mais tarde do que na Europa e nos Estados Unidos.
Agora, o que vejo é, mais uma vez, o receio de médios e pequenos
empresários do setor com a IA, mesmo havendo diversas alternativas de
serviços por um custo acessível, principalmente proporcionadas por
startups. Devemos olhar isso como um investimento, não uma despesa.”
Capaz de sugerir com mais precisão produtos que possam ser do gosto
do consumidor, com base em machine learning, a IA se popularizou com
força no ano passado, por meio de chatbots responsivos. No varejo, tanto
no online quanto no físico, a tecnologia tem o poder de encaminhar aos
consumidores produtos que eles possam gostar, adotando estratégias
omnichannel.
“Já existem lojas com sensores de IA nas vitrines, que captam o
produto que o cliente está olhando e depois mandam uma mensagem no
e-mail oferecendo cupom de desconto da peça, oferecendo experiências
multicanais com assertividade e aumentando as chances de retenção de
consumidores”, afirma o especialista.
Apesar de acreditar que o Brasil ainda precisa ultrapassar seus medos
com investimentos no varejo, Andrei é esperançoso. Ele acredita que
estamos num momento de transformação, e que, em breve, o delay que
sofremos quanto às tendências se encurtará. “Este será um ano
interessante para o varejo brasileiro, mais estável, acredito eu, e com
mais ousadia por parte dos empresários.”
O que é marketplace e por que investir nessa plataforma
ÚnicaPropaganda e Moysés Peruhype Carlech
Milhares de internautas utilizam o marketplace diariamente para fazer
compras virtuais. Mas muitos ainda desconhecem seu conceito e como ele
funciona na compra e venda de produtos.
Afinal, o que é marketplace?
O marketplace é um modelo de negócio online que pode ter seu funcionamento comparado ao de um shopping center.
Ao entrar em um shopping com a intenção de comprar um produto
específico, você encontra dezenas de lojas, o que lhe permite pesquisar
as opções e os preços disponibilizados por cada uma delas. Além de
comprar o que você planejou inicialmente, também é possível consumir
outros produtos, de diferentes lojas, marcas e segmentos.
Leve isso ao mundo virtual e você entenderá o conceito de
marketplace: um lugar que reúne produtos de diversas lojas, marcas e
segmentos. A diferença é que no ambiente virtual é mais fácil buscar
produtos, e existe a facilidade de comprar todos eles com um pagamento
unificado.
Os principais marketplaces do Brasil
A Amazon foi a primeira a popularizar esse modelo de negócio pelo mundo, e até hoje é a maior referência no assunto
No Brasil, o marketplace teve início em 2012. Quem tornou a
plataforma mais conhecida foi a CNova, responsável pelas operações
digitais da Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, entre outras lojas.
Hoje, alguns nomes conhecidos no marketplace B2C são: Americanas,
Magazine Luiza, Netshoes, Shoptime, Submarino e Walmart. No modelo C2C,
estão nomes como Mercado Livre e OLX. Conheça os resultados de algumas
dessas e de outras lojas no comércio eletrônico brasileiro.
Aqui no Vale do Aço temos o marketplace da Startup Valeon que é uma
Plataforma Comercial de divulgação de Empresas, Serviços e Profissionais
Liberais que surgiu para revolucionar o comércio do Vale do Aço através
de sua divulgação online.
Como escolher o marketplace ideal para sua loja
Para ingressar em um marketplace, é preciso cadastrar sua loja,
definir os produtos que serão vendidos e iniciar a divulgação. Mas é
fundamental levar em consideração alguns pontos importantes antes de
decidir onde incluir sua marca:
Forma de cobrança: cada marketplace possui seu modelo de comissão
sobre as vendas realizadas, que pode variar de 9,5% a 30%. O que
determina isso é a menor ou maior visibilidade que o fornecedor
atribuirá a seus produtos. Ou seja, o lojista que quer obter mais
anúncios para seus produtos e as melhores posições em pesquisas pagará
uma comissão maior.
Na Startup Valeon não cobramos comissão e sim uma pequena mensalidade para a divulgação de seus anúncios.
Público-alvo: ao definir onde cadastrar sua loja, é essencial
identificar em quais marketplaces o seu público está mais presente.
Garantimos que na Valeon seu público alvo estará presente.
Concorrentes: avalie também quais são as lojas do mesmo segmento que
já fazem parte da plataforma e se os seus produtos têm potencial para
competir com os ofertados por elas.
Felizmente não temos concorrentes e disponibilizamos para você cliente e consumidores o melhor marketplace que possa existir.
Reputação: para um marketplace obter tráfego e melhorar seus
resultados em vendas precisa contar com parceiros que cumpram suas
promessas e atendam aos compradores conforme o esperado. Atrasos na
entrega, produtos com qualidade inferior à prometida e atendimento
ineficiente são fatores que afastam os usuários que costumam comprar
naquele ambiente virtual. Ao ingressar em um marketplace, certifique-se
de que a sua loja irá contribuir com a boa reputação da plataforma e
pesquise as opiniões de compradores referentes às outras lojas já
cadastradas.
Temos uma ótima reputação junto ao mercado e consumidores devido a seriedade que conduzimos o nosso negócio.
Vantagens do marketplace
A plataforma da Valeon oferece vantagens para todos os envolvidos no comércio eletrônico. Confira abaixo algumas delas.
Para o consumidor
Encontrar produtos de diversos segmentos e preços competitivos em um único ambiente;
Efetuar o pagamento pelos produtos de diferentes lojistas em uma única transação.
Para o lojista
Ingressar em um comércio eletrônico bem visitado e com credibilidade, o que eleva a visibilidade de seus produtos;
Fazer parte de uma estrutura completa de atendimento e operação de
vendas com um menor investimento, considerando que não será necessário
pagar um custo fixo básico, como aconteceria no caso de investir na
abertura de uma loja física ou online.
Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:
• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;
• Atraímos visualmente mais clientes;
• Somos mais dinâmicos;
• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;
• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;
• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.
• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em
buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para
impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as
suas vendas.
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Em sua exposição, Barroso ressaltou que, nos últimos 30 anos, o STF
está analisando questões políticas, sociais e morais de grande
relevância nacional. Antes, segundo ele, estes temas eram restritos ao
poder Legislativo e Executivo. Esta mudança, de acordo com o presidente
do STF, é fruto da promulgação da Constituição Federal de 1988, que possui um texto abrangente e detalhista, em sua visão.
Além disso, o ministro ainda salientou que o STF assegura acesso
amplo à população. Segundo ele, as controvérsias legislativas podem ser
submetidas à análise da Corte. Esse acesso ao STF pode se dar por meio
de recursos contra decisões de outros tribunais ou também por ações
diretas questionando a validade de leis e atos normativos.
Palestra na Unesco
Além da palestra na principal universidade francesa, Barroso também
discursou durante a Conferência Judicial das Supremas Cortes do G20, que
ocorreu na sede da Unesco – agência das Nações Unidas para educação,
ciência e cultura. Nesta ocasião, o magistrado falou sobre Inteligência Artificial (IA),
que pode, segundo ele, ser muito útil para os tribunais, sobretudo para
combater a morosidade judicial, mas deve ser regulada para proteger os
direitos fundamentais, a democracia, a segurança e a governança.
Segundo o presidente do STF, a IA tem a capacidade de afetar de
maneira expressiva a democracia, os direitos fundamentais e o bem-estar
social, tanto positiva quanto negativamente. Contudo, é preciso lembrar
que ela opera com dados, instruções e valores fornecidos pela condição
humana.
Entre as preocupações e riscos do avanço da IA, o mais óbvio, no
entendimento de Barroso, é o impacto sobre o mercado de trabalho, com o
fim de muitas profissões. Isso, segundo ele, exigirá a capacitação das
pessoas e o desenvolvimento de uma rede de proteção social pelos
governos.
Nesta quinta-feira, 7, ocorrerá a última agenda de Luís Roberto
Barroso na França. O magistrado fará uma preleção na Corte
Constitucional Francesa, que está sediando a Conferência Internacional
sobre Gerações Futuras e Desenvolvimento Sustentável. Integrante do
painel que trata do acesso à Justiça de jovens e de futuras gerações,
Barroso apresentará as bases legislativas brasileiras que garantem este
direito à juventude, bem como decisões recentes da justiça brasileira
em matéria ambiental e de mudança do clima
Supremo Tribunal Federal adere à campanha Novembro Azul. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF (07/11/2019)
O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta quarta-feira (7)
julgamento em que irá decidir se é constitucional a demissão de
funcionário público, admitido por concurso público, de estatais e
empresas de sociedade de economia mista.
Os ministros julgam recurso apresentado por empregados do Banco do
Brasil, demitidos em 1997 sem justa causa. Na ação, os ex-funcionários
pedem que o banco seja condenado a reintegrar o grupo e pagar uma
indenização pelos anos não trabalhados desde a demissão. O recurso foi
negado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Desta forma, os
proponentes recorreram ao Supremo.
O primeiro a votar foi o relator da ação, ministro Alexandre de
Moraes, que rejeitou o recurso. Para o ministro, não há necessidade de
se apresentar um motivo para dispensa de funcionários de estatais e
empresas de economia mista, pois essas concorrem com empresas privadas,
que não são obrigadas a demitir com justa causa.
“A dispensa sem justa causa, por mais que não gostemos, não é uma
dispensa arbitrária. Não pode ser comparada a uma perseguição. É uma
dispensa gerencial”, disse o relator.
Sustentação
Antes do voto de Moraes, os advogados dos ex-funcionários e do Banco
do Brasil apresentaram seus argumentos aos ministros da Corte.
Na sustentação, o advogado dos trabalhadores, Eduardo Marques,
argumentou que as empresas públicas e sociedades de economia mista
estão submetidas aos princípios da legalidade, moralidade e publicidade
previstos no Artigo 37 da Constituição Federal, e, por isso, não podem
dispensar o concursado público sem motivação.
Já a defesa do Banco do Brasil, conduzida pela advogada Grace Maria
Fernandes, sustenta que a instituição exerce atividade econômica de
mercado e competitiva, sendo regida pelas regras aplicadas à iniciativa
privada quanto aos deveres e direitos civis, tributários, comerciais e
trabalhistas. Desta forma, não há necessidade de apresentar motivação
para demitir funcionários. Outra alegação é que a manutenção de tal
regra lhe garante possibilidade de competir em igualdade com os bancos
privados.
Após o voto do relator, o julgamento foi interrompido e terá
continuidade na sessão desta quinta-feira (8). O próximo a votar é o
ministro Cristiano Zanin.
Se a Suprema Corte considerar constitucional a demissão imotivada de
funcionário público, a decisão terá repercussão geral, ou seja, deverá
ser seguida por todos os magistrados do país.
História de CATIA SEABRA, MARIANNA HOLANDA E THAÍSA OLIVEIRA • Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS0 – O presidente Lula (PT) intensificou a
aposta na relação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
em meio ao acirramento da tensão na Câmara dos Deputados sob a
presidência do deputado Arthur Lira (PP-AL).
A viagem do petista a Minas Gerais nesta quinta-feira (8), em que
Pacheco ocupará posição de destaque, deve consolidar a aliança dos dois e
a estratégia do Palácio do Planalto em usar o Senado para contornar a
turbulência na Câmara.
Nesta semana, Lira tornou públicas suas queixas ao Planalto,
reverberando também a insatisfação de deputados com o ritmo de liberação
de emendas.
Mas o presidente da Câmara já afirmou a aliados que não pautará
projetos de interesse do governo caso o ministro-chefe da Secretaria de
Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), seja mantido no cargo.
Pacheco e Lula vêm se aproximando desde o ano passado, mas as ameaças
de Lira fizeram o Planalto reforçar o movimento para tentar equilibrar a
correlação de forças no Parlamento. Como presidente do Congresso
Nacional, cabe ao mineiro, por exemplo, convocar ou não sessão para
analisar vetos presidenciais.
Uma das críticas de Lira foi justamente sobre o veto de Lula a R$ 5,6
bilhões em emendas parlamentares no orçamento. Integrantes das duas
Casas ameaçam derrubar a decisão de Lula.
Na segunda-feira (5), Lula recebeu Pacheco no Palácio do Planalto
logo após o duro discurso de Lira na cerimônia de abertura do ano
legislativo. A reunião foi acompanhada pelo alvo das críticas do
presidente da Câmara, Padilha. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa
(PT) também participou da conversa.
O encontro, fora da agenda oficial, serviu para que Lula e Pacheco
discutissem anúncios programados para a viagem presidencial a Minas
nesta quinta.
A intenção é que Pacheco seja apresentado como um dos idealizadores
do plano de investimentos e financiamento para o estado. O presidente do
Senado também deve ser colocado como o principal formulador de medidas
para resolver a dívida bilionária do governo mineiro com a União.
Esta será a primeira ida de Lula em seu terceiro mandato ao estado,
que foi crucial para garantir a vitória em 2022. Assim, o Executivo
prepara um grande evento, com autoridades e lideranças da sociedade
civil e do empresariado, chegando a cerca de 600 convidados.
Além de Rui, o evento contará com a presença dos ministros de Minas e
Energia, Alexandre Silveira -que também é mineiro-, dos Transportes,
Renan Filho (MDB), da Educação, Camilo Santana (PT), da Saúde, Nísia
Trindade, e da Gestão e Inovação, Esther Dweck.
A ideia é fazer uma prestação de contas do que já foi feito no estado
e anunciar mais investimentos. Lula deve ir de novo a Minas em março,
segundo aliados, para lançar obras.
Dentre os anúncios previstos para esta quinta, está a cessão de um
terreno próximo ao aeroporto para a Prefeitura de Belo Horizonte. As
obras do anel rodoviário da BR-318 também estão na lista de previsões.
Além da reunião de segunda, Pacheco já esteve com o presidente ao
menos sete vezes no Planalto, segundo registros da agenda oficial.
Lula e Pacheco se conheceram durante a corrida eleitoral de 2022, mas
têm estreitado as relações desde então. A aliança é também pragmática
eleitoralmente, já que o PT ainda tem dificuldades em voltar a se firmar
em Minas -hoje dividido e com fortes bases bolsonaristas.
Em Belo Horizonte, a expectativa é de que o deputado federal Rogério
Correia (PT-MG) se confirme como pré-candidato à prefeitura. Mas
estadualmente o partido não tem um nome forte para disputar.
Pacheco é um aliado de centro e, segundo relatos, forte candidato a
ter o apoio do PT para disputar o governo do estado em 2026.
Interlocutores do senador dizem que o próprio Lula já discutiu o tema
com ele.
“O PT acha caminho natural [ter] o Pacheco no governo do estado. Já
fizemos alianças antes”, disse Correia à reportagem. “Ele tem boa
relação com a gente, desde que foi deputado federal. Antes mesmo, quando
era da OAB. Sempre foi companheiro nosso”, completou.
Lula também tem convidado o senador mineiro para agendas fora do
país. Em dezembro, ao voltar da conferência da ONU sobre mudanças
climáticas, Pacheco contou a senadores próximos que ficou impressionado
com a forma calorosa com que o presidente era cumprimentado por líderes
globais como Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, e Emmanuel Macron,
presidente da França.
O petista também pediu para que o presidente do Senado cancelasse uma
viagem de férias que ele havia combinado com a família para participar
da solenidade que marcou o atentado de um ano às sedes dos Três Poderes.
Lira faltou ao evento.
Na posse de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça e Segurança
Pública, Pacheco acompanhou o presidente na descida de seu gabinete ao
salão do Palácio do Planalto.
Segundo aliados do petista, Lula espera contar com o apoio de Pacheco
para postergar até a segunda quinzena de março a convocação da sessão
do Congresso em que deverão ser votados os vetos presidenciais ao
Orçamento de 2024.
Até lá, a equipe econômica deve ganhar tempo para negociar as medidas
de interesse do governo. A avaliação do Palácio do Planalto é que
parlamentares, liderados por Lira, ainda se lamentam pela perda do
controle maior do orçamento em relação ao que tinham no governo de Jair
Bolsonaro (PL).
Um palaciano disse se tratar de “desmame” de emendas parlamentares, que bateram recordes nos últimos anos.
Durante a solenidade de segunda-feira (5), Lira fez questão de
mostrar seu descontentamento com a articulação política do Governo. Já
na chegada, Lira acompanhou Rui no acesso ao plenário da Câmara,
deixando Padilha para trás.
Lira conversou animadamente com o chefe da Casa Civil ao longo da
cerimônia, chegando a cochichar no ouvido de Rui, enquanto Padilha
estava sentado na ponta da mesa.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A poucos dias de tomar posse como
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-ministro da Justiça
Flávio Dino (PSB) discursou da tribuna do Senado nesta quarta-feira (7) e
saiu em defesa da corte e de seu futuro colega de tribunal Alexandre de
Moraes.
Durante quase uma hora, Dino disse que vê com preocupação “falsas
soluções” como o impeachment de ministros do Supremo e ressaltou que foi
o próprio Congresso quem decidiu que o STF tem poder para julgar
parlamentares.
“Vejo, às vezes, estranhamento com o fato de o Supremo Tribunal
Federal julgar parlamentares”, disse. “O Congresso Nacional que permitiu
que o Supremo processasse e julgasse parlamentares sem a necessidade de
autorização da Casa respectiva.”
Desde a operação da Polícia Federal contra o líder da oposição na
Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), bolsonaristas têm cobrado uma resposta
mais dura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), contra
Moraes e ações de busca no Congresso.
Depois de Jordy, o alvo da PF na Câmara foi o deputado federal
Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro. As duas
operações foram autorizadas por Moraes.
Ao defender o magistrado, o ex-ministro da Justiça de Lula (PT)
afirmou que ataques pessoais a ministros do Supremo são injustos e
perigosos, mas estão se vulgarizando no país —e que, a seu ver, Moraes
tem sido o alvo mais frequente.
“Pergunto: as decisões do ministro Alexandre são irrecorríveis? Não.
Qual a decisão do Ministro Alexandre de Moraes que foi revista pelo
Plenário do Supremo? Nenhuma. Então, por que fazer ataque pessoal a um
ministro, se as decisões estão respaldadas pelo colegiado?”, questionou.
“Ouvi aqui desta tribuna a ideia de que os inquéritos não acabam.
Senhoras, senhores, os inquéritos e os processos relativos à invasão do
Capitólio, nos Estados Unidos, tampouco acabaram. E será que os Estados
Unidos se converteram agora, aos olhos de alguns, em modelo de
ditadura?”, completou.
O senador também apontou contradições na definição de mandatos para
ministros do Supremo, proposta que pode ser votada pelo Senado neste
ano. Dino disse que ministros dos Estados Unidos passam mais de 30 anos
na Suprema Corte e que isso não torna o tribunal antidemocrático.
Desde que saiu do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Dino
reassumiu o mandato no Senado, apresentou projetos de lei e fez seu
primeiro discurso nesta terça (6). A posse dele no Supremo está marcada
para 22 de fevereiro.
No discurso desta terça, o senador sinalizou mais uma vez que pode
voltar à política após sua passagem pelo Supremo, onde a aposentadoria é
obrigatória aos 75 anos.
Depois de o senador Esperidião Amin (PP-SC) dizer que não havia
votado nele, Dino brincou que “todas as pessoas têm os seus defeitos” e
completou: “Haverá oportunidade de o senhor corrigir este em algum
momento”.
Pacheco chegou a agradecer a Dino pela presença no Senado nesta
quarta. “Espero que esteja gostando do Senado, mas não a ponto de deixar
de ir para o Supremo”, disse, destacando que o senador terá passado
pelos três Poderes em menos de um mês.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), vai dividir palanque
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um evento em Belo
Horizonte na manhã nesta quinta-feira, 8. Segundo Zema, que é aliado do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o petista será “bem recebido” por ele
e pelos servidores da administração estadual.
No início deste mês de fevereiro, o petista foca em viagens nos três
principais colégios eleitorais do País e que são governados por aliados
do ex-presidente: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na última
sexta-feira, 2, Lula fez afagos ao chefe do Executivo paulista, Tarcísio
de Freitas (Republicanos). Nesta terça-feira, 6, o presidente fez
acenos ao governador fluminense Cláudio Castro (PL).
As visitas de Lula fazem parte de uma estratégia para as eleições
municipais de outubro. O petista busca aumentar a sua popularidade no
País e intensificar a sua presença em cidades com mais de 100 mil
habitantes .A estratégia teve início no Nordeste, tradicional reduto
petista, com visitas em Recife, Salvador e Fortaleza.
O PT pretende lançar candidatos próprios a prefeito em mais de 500
municípios e entre 11 a 14 das 26 capitais do País. Além das viagens do
presidente e a sua presença para impulsionar a candidatura de aliados,
os petistas apostam na fatia de R$ 603 milhões do fundo eleitoral
turbinado de R$ 4,9 bilhões, sancionado por Lula no último dia 23.
Segundo o Palácio do Planalto, Lula e Zema estarão juntos em um
evento em Belo Horizonte pela manhã que anunciará recursos para a
BR-381, mais conhecida como “rodovia da morte”, que liga a capital
mineira ao município de Caeté.
Além disso, está prevista uma reunião particular entre os mandatários
para discutir a crise financeira que hà uma década atinge Minas. O
valor do débito gira em torno de R$ 160 bilhões.
Em uma entrevista para a CNN Brasil nesta quarta-feira, 7, Zema
criticou a postura do Planalto nas tratativas sobre a quitação da dívida
e afirmou que o governo federal mais parece um “banco” do que um ente
federativo por cobrar juros que, segundo ele, inviabilizam o pagamento.
“A União tem procedido como um banco e não como um ente federativo. A
dívida precisa ser corrigida, mas cobrar taxa de juros realmente é
inviabilizar o pagamento e Minas Gerais, e outros Estados, tem sido e
muito prejudicados, ficando sem capacidade de dar uma saúde adequada e
de melhorar as suas estradas devido a esse pagamento muito elevado”,
afirmou.
Lula será bem recebido, afirma Zema
À CNN, o governador mineiro afirmou que Lula será “bem recebido” no
Estado e “respeitado” por ele e por sua equipe do Palácio Tiradentes.
“Nós temos posicionamentos que muitas vezes podem ser contrários ao do
presidente e ao governo federal, e isso faz parte da democracia”, disse.
¨Ele é presidente e eu sou governador. Eu tenho contato com todos os
prefeitos de Minas. Nós temos prefeitos de todos os partidos. Você não
pode discriminar ninguém, nem abaixo, nem acima, devido a alguma questão
partidária. Ele vai em Minas e eu não vou recebê-lo?¨, afirmou o
governador à CNN.
Na entrevista, Zema também defendeu uma parceria com Lula para
discutir melhorias para as estradas federais e no pagamento de vítimas
do desastre ambiental de Mariana, que ocorreu em novembro de 2015.
Lula aposta em afagos a governadores bolsonaristas
Desde que assumiu a Presidência no ano passado, Lula aposta no
pragmatismo ao posar para fotos e fazer afagos a adversários políticos.
Quando esteve em São Paulo na última sexta, Lula convidou Tarcísio para
um evento que anunciou investimentos para o túnel Santos-Guarujá.
Durante o evento, um um homem gritou: “Volta para o PT, Tarcísio”,
arrancando gargalhadas do governador. Em outro momento, o petista disse
que iria se “preparar” para derrotar o mandatário paulista em uma futura
corrida presidencial.
Nesta terça-feira, 6, os afagos foram para Cláudio Castro, que
participou de uma cerimônia de entrega de residências do Minha Casa,
Minha Vida em Magé, na Baixada Fluminense. O governador foi vaiado e o
público gritou ‘Fora, Bolsonaro’, mas Lula ignorou as reações. Em
retribuição, o aliado do ex-presidente afirmou que as “eleições
acabaram”. “Temos que trabalhar juntos independentemente da coloração
partidária e das bandeiras ideológicas”, disse.