História por ANA CAROLINA AMARAL • Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao decidir que o mundo deve “transitar
dos combustíveis fósseis”, a COP28, conferência do clima da ONU
concluída na última quarta-feira (13), deu um passo histórico nas
negociações e deve orientar a revisão das metas climáticas dos países
nos próximos dois anos. No entanto, o texto, negociado também entre
grandes produtores de petróleo, deixa brechas que beneficiam o setor de
óleo e gás.
“Transitar dos combustíveis fósseis, de uma forma justa, ordenada e
equitativa, acelerando a ação nesta década crítica para atingir emissões
líquidas zero em 2050, mantendo-se junto à ciência”, diz o principal
trecho da decisão.
De acordo com negociadores da COP28, a frase pode gerar uma ilusão de
que se estabeleceu um prazo –o ano de 2050– para o setor de
combustíveis fósseis. No entanto, o conceito de zerar “emissões
líquidas” implica em compensações das emissões realizadas através de
atividades que capturam carbono. Essas remoções se dão em outros
setores, como florestas, oceanos e geotecnologias.
Em outro trecho, a decisão prevê o uso de combustíveis zero carbono
ou baixo carbono por volta do meio do século. No entanto, não há uma
definição clara do que seja “baixo carbono”, segundo observadores das
negociações. Uma indústria petroleira pode se dizer de baixo carbono em
relação a uma concorrente, por exemplo, caso sua tecnologia emita
qualquer quantidade de carbono menor que a outra.
Em julho, a Organização Marítima Internacional chegou a um termo mais
claro do que “baixo carbono” para se referir à transição energética dos
combustíveis dos navios: tecnologias de emissão zero ou próximo de
zero.
Outros dois itens repetem decisões expressas na COP26, de 2021, sem acrescentar detalhes ou compromissos.
O primeiro é a decisão de reduzir o carvão de emissões não abatidas
ou compensadas –“abatement”, termo em inglês para se referir ao
abatimento de emissões, é outro exemplo de linguagem vaga que dá amplo
espaço para o setor de combustíveis fósseis reportar redução ou
compensação de emissões, sem quaisquer parâmetros ou critérios comuns.
O segundo é a previsão de eliminar gradualmente os subsídios
“ineficientes” –outro adjetivo que permite interpretação livre. Embora
já estivesse prevista na COP26, essa diretriz ganhou complementos que
ampliam o espaço para justificar a sua falta de implementação, passando a
valer apenas para subsídios que não tratem de pobreza energética ou
transições justas.
A decisão também legitima a controversa geotecnologia do CCS (“carbon
capture and storage”, na sigla em inglês), que tem sido forçosamente
incluída em relatórios do painel do clima da ONU e nas negociações das
COPs do clima, embora ainda não apresente estudos suficientes sobre sua
segurança. A proposta usa a mesma expertise e tecnologia da indústria
petroleira –e por isso conta com seu apoio– para absorver carbono da
atmosfera e estocá-lo em solos profundos ou no fundo do mar.
“Acelerar tecnologias com zero ou baixas emissões, incluindo, entre
outras, energias renováveis, nuclear, tecnologias de redução e remoção,
como captura de carbono e utilização e armazenamento, especialmente em
setores difíceis de abate, e hidrogênio com baixo teor de carbono”, diz o
trecho da decisão, que inclui outros dois temas controversos: a energia
nuclear e o hidrogênio “de baixo carbono”.
Diferente do hidrogênio verde, produzido com fontes renováveis, o “de
baixo carbono” pode ser produzido com combustíveis fósseis, como o gás,
com compensação de emissões, por exemplo.
O gás é considerado um combustível de transição para países
dependentes de petróleo, por ter emissões cerca de 20% menores. A
decisão da COP28 dedica um parágrafo ao reconhecimento de que “os
combustíveis de transição podem desempenhar um papel na facilitação da
transição energética, garantindo ao mesmo tempo a segurança energética”.
O trecho é interpretado por observadores das negociações como uma
licença para a abertura de novas frentes de exploração de gás –o que vai
na contramão da transição energética, ameaçando o cenário de manter o
aquecimento global limitado a 1,5°C.
Segundo o painel do clima da ONU, as explorações atuais de
combustíveis fósseis já têm potencial de emitir mais do que o orçamento
de carbono do cenário de 1,5°C permitiria.
Apesar das brechas, a avaliação sobre a decisão da COP28 é bastante
positiva por se tratar de um sinal político dado ao setor e aos países,
que agora são incumbidos de incorporá-lo às suas políticas domésticas.
“A decisão não é impecável e há brechas complicadas nela, mas ela é
tudo que eles [das indústrias de energias fósseis] não queriam”, avalia
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. “Eles perderam,
pois a decisão não ficou circunscrita a emissões, que é a costumeira
linha de defesa saudita, tampouco ficou limitada a um tipo de
combustível fóssil”, conclui.
Mark Lutes, conselheiro global de política climática do WWF, vê na
decisão “um sinal importante”. “Mas todo o resto precisa ser definido:
ritmos, prazos e diferenciação entre os países”, afirma.
Segundo ele, os atores do setor de combustíveis fósseis ainda podem
fingir que o sinal não foi dado e continuar com seus negócios
convencionais, enquanto outros vão acelerar a exploração de combustíveis
fósseis. “Agora, os países precisam se posicionar”, indica.
Ana Toni, secretária de clima do Ministério do Meio Ambiente, avalia
que a COP28 dá uma mensagem clara aos investidores. “Não podemos perder
de vista a mensagem política que foi dada nesta COP, reconhecer o
‘começo do fim’, reconhecer que não tem volta, reconhecer que vamos ter
que acelerar a trajetória da descarbonização e que temos que rever a
dependência das nossas economias aos combustíveis fósseis”, afirma.
Já para um negociador ouvido pela reportagem, é preciso dimensionar a
decisão da COP28 como um sinal político, não como uma determinação.
Segundo ele, se as decisões fossem determinísticas, o preço das
petroleiras teria despencado no mercado de ações no dia seguinte à
COP28, o que não aconteceu.
Medida pode fazer atributos sustentáveis do país serem reconhecidos e
recompensados. Regulamentação tem potencial de impulsionar mercado
voluntário e promover verdadeiro boom econômico verde.Descarbonizar é o
grande desafio para frear as mudanças climáticas. E uma das estratégias
que o mundo adotou foi atribuir um valor econômico à redução das
emissões. Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2)
corresponde a um crédito de carbono, que pode ser negociado no mercado
internacional. A redução da emissão de outros gases geradores de efeito
estufa também pode ser convertida em créditos de carbono, utilizando-se o
conceito de carbono equivalente. Assim, uma empresa ou governo pode
compensar parte das suas emissões pagando à outra entidade que polui
menos. O recebedor do dinheiro deve investi-lo em fontes de energia
renováveis e projetos de conservação ambiental.
Em outubro passado, a Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal
aprovou o projeto de lei que cria o Sistema Brasileiro do Comércio de
Emissões (SBCE) e regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O PL
412/2022 ainda precisa ser aprovado na Câmara.
O país se encontra num momento crucial rumo à descarbonização de sua
economia. Além da estreia no mercado regulado de carbono estar num
horizonte próximo, o governo lançou em setembro o Programa Combustível
do Futuro, que traz um conjunto de iniciativas para promover a
mobilidade sustentável de baixo carbono, e a Câmara dos Deputados
aprovou projeto de lei, originado e aprovado no Senado, estabelecendo o
marco legal das atividades de captura e armazenamento de dióxido de
carbono (CCS) em reservatórios geológicos no país.
A precificação do carbono e os tipos de mercado
A ideia nasceu a partir do Protocolo de Kyoto, de 1997, que formulou o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um instrumento que permitia
que países desenvolvidos financiassem projetos para redução de emissões
em países emergentes. Colocado em prática a partir de 2005 na Europa, o
MDL acabou perdendo credibilidade, em meio a dúvidas sobre sua
eficiência.
O MDL era baseado estritamente na compensação, e os preços baixos das
licenças também foram um dos motivos de seu declínio. Créditos já
gerados pelo programa continuam em vigor e sendo negociados, mas novos
certificados não são mais expedidos desde 2021. Os instrumentos de
comercialização de carbono, no entanto, seguiram paralelamente em
constante amadurecimento, e o modelo vigente na União Europeia virou o
paradigma de referência.
Os mecanismos em pleno funcionamento são os sistemas de comércio de
emissões que operam numa lógica conhecida como “cap-and-trade”. Nela, o
governo instaura cotas para emissões: há um limite de quanto as empresas
podem poluir. Quando uma empresa reduz suas emissões, ela pode vender
as cotas que sobraram para empresas que não conseguiram cumprir suas
metas. O sistema geralmente é aplicado a indústrias pesadas e empresas
do setor energético, instâncias que já são normalmente reguladas pelo
Estado.
A União Europeia tem o maior mercado de carbono do mundo, tendo
movimentado 752 bilhões de euros em créditos de CO2 equivalente em 2022.
O segundo maior mercado regulado é o da Califórnia. Sistemas
cap-and-trade também estão presentes na China, na Nova Zelândia,
Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, México, Cazaquistão, Japão, Coreia
do Sul, Indonésia e alguns estados americanos. De acordo com o Banco
Mundial, existem hoje 72 iniciativas nacionais ou subnacionais de
precificação de carbono em vigor no mundo, incluindo não apenas comércio
de créditos via mercados regulados de carbono, mas também medidas de
taxação de carbono.
Já o mercado voluntário foi desenvolvendo-se paralelamente ao
regulado. Em vez de guiar-se por regras e metas estabelecidas por
governos, essa geração de créditos parte da iniciativa das próprias
empresas, que buscam agregar valor aos seus produtos por meio de
práticas de sustentabilidade. Créditos de compensação voluntária são
certificados por certificadoras internacionais. A maior delas é a Verra,
uma organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos.
A proposta brasileira
O projeto brasileiro está alinhado com o modelo cap-and-trade e impõe
um limite de emissões para empresas que emitem mais de 25 mil toneladas
de gases de efeito estufa por ano. Além disso, empresas que emitem
acima de 10 mil toneladas de gases do efeito estufa terão de apresentar
relatórios e cumprir com planos de monitoramento e redução menos
rígidos. Quando ultrapassam o limite imposto, as empresas têm de
adquirir cota excedente de outra companhia ou adquirir créditos de
carbono reconhecidos no SBCE. Contudo, a lei prevê um teto para essa
compensação.
O projeto de lei propõe a criação de um órgão gestor que deve definir
quais atividades, instalações, fontes e gases serão regulados e quais
os patamares de emissão e mensuração das emissões. No entanto, o
funcionamento desse órgão gestor ainda não está completamente definido
pelo texto. O projeto estabelece um período de transição de dois anos.
“O país está avançando muito, reconhecendo a importância do tema com um
diálogo que está envolvendo diversos setores”, aponta Daniel Vargas,
coordenador do Observatório de Bioeconomia da FGV.
A primeira expectativa quanto à regulação do mercado de carbono é a
criação de uma nova demanda por créditos. Certos setores, como o da
aviação, por exemplo, não têm uma margem ampla para reduzir sua pegada
ambiental. Por isso, Vargas avalia que a necessidade de abater emissões
criará uma nova procura por créditos e um mercado com grande potencial.
Para Isabela Morbach, advogada especialista em energia e fundadora e
diretora da CCS Brasil, a grande vantagem de se estabelecer um mercado
de carbono regulado no país é a previsibilidade e segurança que ele pode
trazer às indústrias que visam a sustentabilidade. “Se não há
obrigações para todos, as indústrias que investem na sua descarbonização
podem ter produtos mais caros. Mas com o mercado regulado, as
indústrias podem se movimentar de forma que não fiquem prejudicadas
concorrencialmente”, afirma. Além disso, ela acredita que a entrada em
vigor do mercado regulado brasileiro pode trazer maior competitividade
aos produtos nacionais no mercado externo. “Estamos vendo taxação de
fronteira por emissão de carbono no mercado europeu. Estamos vendo
surgir a mesma taxação no Canadá, e a tendência é que essas taxações vão
se multiplicando”, explica Isabela.
O projeto foi criticado por alguns setores por não incluir na
regulamentação o agronegócio — um dos ramos que mais emitem gases de
efeito estufa no país. Vargas argumenta que existem limites científicos e
institucionais que tornam a adoção do mercado regulado de carbono na
agricultura algo indesejável e contraproducente. “Podemos ingressar em
uma fazenda e fazer um buraco por hectare no chão, mandar pra um
laboratório e pagar 300, 400 reais por amostra para conseguir medir sua
pegada de carbono. Porém, carecemos dessa infraestrutura no país e em
todo o mundo para fazer isso de forma automatizada e generalizada.
Quando se busca um instrumento regulatório cujo objetivo é por um custo
sobre a produção, precisa ser capaz de individualizar esse custo”,
explica Vargas.
Vale lembrar que nenhum mercado regulamentado de carbono no mundo
inclui a agricultura no seu regime. Os mecanismos costumam ser adotados
em setores que já são previamente regulados: agrega-se uma complexidade a
uma estrutura pré-existente.
O atual mercado voluntário no país
O mercado voluntário de carbono no Brasil é, em geral, incipiente,
mas está em crescimento. É o que aponta um estudo realizado em 2022 pelo
laboratório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargar (FGV), que mapeou
a existência de cerca de 150 projetos certificados internacionalmente,
sendo que mais de 90% certificados pela Verra.
A maior parte dos projetos concentra-se na região Norte e na Amazônia
brasileira. Apesar de 63% dos projetos estarem ligados ao setor
energético, com a substituição de matriz fóssil por limpa, o maior
volume de créditos, 65,5%, é gerado através de um mecanismo de
compensação voltado especificamente para florestas, conhecido como
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+).
“Muitos projetos são ligados a grandes propriedades de terra, em
geral com mais de 10 mil hectares, que possuem excedente de reserva
legal e que geram REDD para manutenção dessa floresta, em vez de exercer
a opção do desmatamento que a lei garante”, explica Daniel Vargas.
Recentemente, dois nomes de impacto fizeram suas primeiras compras de
crédito de carbono no mercado voluntário: Petrobras e Banco do Brasil. A
petroleira adquiriu créditos equivalentes a 175 mil toneladas de gases
de efeito estufa junto ao Projeto Envira Amazônia, sediado no município
de Feijó, no Acre. A ação corresponde à preservação de uma área de 570
hectares da Floresta Amazônica. Já o Banco do Brasil comprou 5 mil
créditos de carbono no mesmo projeto, Envira. Além disso, o banco passou
a aceitar créditos de carbono como pagamento em leilões de imóveis
rurais, em um claro sinal de investimento no setor de carbono como um
novo ativo.
Para o professor da FGV, um dos grandes ganhos que a instauração do
mercado regulado pode trazer é o seu potencial de impulsionar também o
mercado voluntário. “À medida que o Brasil regulamenta seu mercado de
carbono e cria critérios mais rigorosos para padronização e registro de
metodologias, também ajuda a estruturar e tornar mais robusto, seguro e
abrangente o mercado voluntário.”
Limitações e fragilidades
Os mercados de carbono existentes baseiam-se no princípio da
“adicionalidade” para validar sua efetividade. Para ser considerado
adicional, um projeto precisa provar que as reduções de emissões de
gases de efeito estufa geradas por meio de crédito de carbono não teriam
ocorrido de qualquer maneira sem os recursos aplicados diretamente por
ele. É preciso ter a certeza de que é graças aos créditos que certa
conservação de floresta, painel solar, preservação de bioma ou fonte
eólica existe.
Muitas denúncias de que os créditos de carbono não promovem o
benefício climático que alardeiam vieram a público nos últimos anos.
Demonstrar e verificar a adicionalidade na prática pode ser uma tarefa
complexa. Em uma investigação divulgada em 2019, a ProPublica,
organização americana de jornalismo investigativo independente, apontou
que os créditos de carbono não compensaram a quantidade de poluição que
se esperava ou trouxeram ganhos que foram rapidamente revertidos ou que
não podiam ser comprovados e medidos. Além disso, a organização destacou
um estudo apontando que 37% dos projetos de REDD foram implementados em
terras que já são protegidas, como parques nacionais.
Projetos de compensação florestal enfrentam vários desafios para
avaliação de seu impacto. Há problemas de monitoramento de florestas e o
cálculo de quanto desmatamento haveria sem compensação é complexo. Além
disso, muitas vezes proteger um pedaço de terra aumenta a pressão de
desmatamento em outro ponto. A degradação da floresta pode ser apenas
redirecionada.
Outro fator é que esses projetos têm em geral como alvo moradores de
zonas rurais que cortam árvores para algum fim de sustento, como a
agricultura. Para que deixem de ter esse ganho econômico, as vendas de
crédito de carbono precisam ser uma alternativa tão lucrativa quanto, o
que nem sempre é o caso. Uma pesquisa da Universidade de Berkeley
financiada pela ONG Carbon Market Watch apontou que créditos de carbono
não eram adequados para compensar emissões na Amazônia.
Neste ano, a Defensoria Pública do Estado do Pará identificou que
cinco empresas brasileiras e três estrangeiras usaram terras públicas
como se fossem particulares para vender créditos de carbono na Amazônia.
Os responsáveis alegaram que os projetos estavam em propriedades
particulares, mas, na verdade, funcionavam em terras estaduais e teriam,
portanto, de ter autorização dos órgãos do governo para operar, assim
como das comunidades locais.
Alguns ativistas climáticos apontam que créditos de carbono são uma
solução mais barata e imediatista que atrasa as empresas na sua busca
por alternativas sustentáveis. Não vão naraiz do problemae podem abrir
margem para a “lavagem verde”. De acordo com levantamento da
BloombergNEF, dúvidas sobre qualidade de projetos levaram a uma queda de
4% no mercado voluntário de créditos de carbono em 2022, quando
comparado com o mesmo período de 2021. Já defensores do modelo apontam
que casos pontuais não invalidam todo o mecanismo que, segundo eles,
deve ser constantemente aprimorado.
Para a diretora do CCS Brasil, a proposta do mercado regulado
brasileiro apresenta ferramentas que impedem a sua operação apenas como
uma fachada, sem ganhos reais em sustentabilidade. “Só seria verdade se o
limite de compensação fosse infinito, mas minuta da lei vigente hoje
coloca limite na compensação. Ao que tudo indica, o limite será de 10 a
15%, não é muito alto.”
“É evidente que a compensação tem um papel, mas se um dos objetivos é
estimular o desenvolvimento de tecnologias, ela não pode ser um
substituto para as exigências impostas às atividades reguladas”,
enfatiza Vargas.
“Não dá pra cravar que não vai ter greenwashing. Vai depender da
fiscalização e operação desse mercado. Mas temos que ser otimistas de
que vai ser um mecanismo de comando e controle que vai fazer sua
função”, frisa Isabela.
Caminho de oportunidades
Na economia internacional, a baixa pegada de carbono é cada vez mais
percebida como sinônimo de qualidade do produto. Assim, há uma tendência
do mercado de pagar um prêmio por processos produtivos que obedecem a
boas práticas.
À medida que o mercado regulado opera e seus paradigmas se disseminam
por outros espaços da economia, outros setores não regulados podem
incorporar a agenda ambiental como um ativo. Vargas acredita que a
agricultura e o setor de alimentos do país podem ser os maiores
beneficiados com essa mudança. “É um setor que acaba muitas vezes
recebendo injustamente e imprecisamente atribuições de responsabilidade
por emissões que não são associadas diretamente a eles. Mas acabam sendo
colocados sobre sua conta por critérios de responsabilidade
generalistas, que tratam aos diferentes como iguais.”
Existe, portanto, um interesse em qualificar e aprofundar a discussão
e avaliação de um setor que é o carro-chefe das exportações do país e
encontra-se bastante exposto às exigências internacionais. “É preciso
mostrar como a vasta maioria dos produtores faz um trabalho
ambientalmente correto, e, portanto, não podem ser colocados no mesmo
balaio daqueles que não fazem”, diz.
Para Vargas, a produção de alimentos no Brasil tem uma grande
vantagem sustentável: práticas como a existência de reservas legais sob a
responsabilidade do produtor, plantio direto, integração
lavoura-pecuária-floresta, múltiplas safras no mesmo território, demanda
decrescente no uso de químicos e incorporação contínua de novas
tecnologias. “Hoje, um produtor que vende uma saca de soja para a
Europa, carrega consigo nessa saca de soja pelo menos 20% de reserva
embutida. Isso até agora não tem valor ou não tem precificação.”
O especialista acredita que o que deve nortear a regulamentação do
mercado de carbono é sua possibilidade de fazer atributos sustentáveis
do país serem reconhecidos e computados. “Na história e na prática
produtiva de países tropicais como o Brasil, as nossas virtudes são
imensamente mais significativas do que nossos vícios. Precisam aprender a
olhar o meio ambiente, não apenas como um custo, uma obrigação moral,
uma tarefa global e individual, mas como uma oportunidade para se
produzir com mais qualidade, e ser recompensado por isso”.
Vargas defende que o modelo de regulamentação brasileiro seja um
mecanismo que estimule o “sim” mais do que o “não”: “Nosso objetivo não
pode ser punir um ou outro setor com um instrumento ideológico de caça
às bruxas. É uma política de Estado, cujo objetivo não pode ser a
arrecadação pública ou criar um segundo Ibama, para sair multando e
colocando gente na cadeia. O objetivo tem de ser estimular a inovação
para fomentar a competitividade via sustentabilidade, como está sendo
feito na Europa e na Califórnia.”
Alessandro Buonopane – CEO Brasil da GFT Technologies
Chegamos ao último mês de um ano bastante desafiador no mundo da
tecnologia, com muitas análises sobre o que passou e o que virá no
futuro. Diante da velocidade do ambiente de inovação, é cada vez mais
difícil fazer previsões certeiras, mas eu me arrisco a fazer uma aqui:
em 2024, a Inteligência Artificial (IA) seguirá soberana e intensamente
integrada aos negócios e à vida das pessoas.
Ou seja, não há tendência possível em tech que não tenha a
participação da IA em algum nível. De acordo com um estudo recente, mais
de US$ 500 bilhões deverão ser gastos em todo o mundo em 2027 com essa
ferramenta. Isto ajuda a entender o motivo de que especialistas apontem
que até 70% das tomadas de decisão e seus processos tenham a
participação da IA até 2030. A expectativa é de que, até lá, já exista
uma consolidação do movimento em torno dos grandes modelos de linguagem
(LLMs), que caminham para se tornar menores e com maior desempenho.
Quando vamos aos detalhes para onde a IA caminha, aparecem várias
dúvidas. Uma primeira envolve as iniciativas de código fechado e mais
comerciais, as quais estão em desenvolvimento em algumas das principais
companhias do mundo, e outra por modelos de IA com código aberto, com
múltiplas contribuições de forma menos comercial – e, em alguns casos,
com resultados semelhantes aos concorrentes. Em comum, a busca por uma
linguagem cada vez mais natural nas interações entre homem e máquina.
Quando falamos em plataformas e em linguagens, não podemos perder de
vista os dados. Instituições com amplos bancos de informações aparentam
estar em vantagem, porém a adaptação para os diversos ambientes digitais
é um elemento a sempre estar em consideração estratégica, pois a
valoração de dados nos negócios por meio da IA Generativa ganha corpo e
forma quase sempre com o seu enriquecimento, unindo passado e futuro,
sejam nas informações ou nas tecnologias empregadas.
Feita essa ressalva, não seria de se espantar que tenhamos vendas e
aquisições em razão de bancos de dados mais ricos, amplos e eficientes,
de acordo com a estratégia de cada empresa. Ainda na esfera corporativa,
a aplicação cada vez maior da IA em alinhamento com políticas ESG –
como, por exemplo, a redução das emissões de carbono – é outro aspecto
com espaço para expansão, enquanto fabricantes de chips prometem novos
lançamentos a curto, médio e longo prazo que entreguem mais resultados
consumindo menos energia.
Além de analisar e valorar dados, a IA também já produz conteúdo e
informações multiplataforma. Por isso, existe uma preocupação por parte
de autoridades e órgãos reguladores sobre o que é real, criado por
humanos, e o que é feito por plataformas de IA, com base em métodos de
aprendizagem. É um debate intenso que não irá embora tão cedo, mas que
eu acredito que não possa bloquear o caminho da inovação – é a minha
única certeza no momento.
Diante das muitas oportunidades que, como se vê, a IA abre e
possibilitará nos próximos anos, será preciso investir na educação, seja
dentro das empresas que adotem essa tecnologia em suas cadeias
produtivas, ou até mesmo para a população global que, sem dúvida, terá
oportunidades de experimentar benefícios. Fazer compras no Metaverso,
ter diagnosticadas doenças de forma preditiva e remota ou fazer
investimentos com a ajuda da análise prévia feita pela IA: nada vai
escapar ao olhar dos algoritmos e dos LLMs.
Logicamente, vemos no nosso trabalho diário a ansiedade dos nossos
clientes de absorver a IA dentro das suas companhias. A possibilidade de
usar a IA de maneira Preditiva, assim como a Generativa, é um chamariz
interessante, mas que demanda estratégia para entregar os ambicionados
resultados positivos. O Customer Experience (CX) deve seguir em alta,
sobretudo com a amplitude que o universo Open (Open Banking, Open
Finance, Open Insurance, Open Investment, Open Telecom e afins) e os
seus compartilhamentos de dados dos seus respectivos clientes podem
causar no mercado nacional e internacional.
Para os executivos, o meu conselho segue sendo o mesmo: encontre qual
modelo é o mais estratégico para ser utilizado no seu ramo de atuação,
considerando o perfil cultural da sua empresa. Um erro de diagnóstico
aqui pode sepultar qualquer tentativa de sucesso com a IA. Além disso,
ter ricos e amplos bancos de dados não são garantia, já que tenho
conhecimento de casos concretos que envolveram ajustes e consertos
nessas bases para então ser possível extrair valor – e construir
arquitetura tecnológicas seguras, já que o uso de IA por “jailbreaks”
existe e deve ser combatido com boas práticas de cibersegurança.
Velocidade e agilidade impulsionam a inovação, eis algo que a IA nos
mostra com vigor diariamente. Entretanto, não podemos embarcar nessa e
em quaisquer tendências sem o devido cuidado e responsabilidade. Uma
melhor produtividade já é visível, trabalhadores e clientes estão cada
vez mais envolvidos com a tecnologia – seja operando ou consumindo –, e
novas possibilidades de ofertas e negócios (algumas que ainda serão
criadas) estão saindo do forno. O quanto fina será essa sintonia entre
homem e máquina, real e digital, é algo que devemos esperar para ver.
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as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
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também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
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potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
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novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de
suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás,
já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea
vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja
oficializada.
A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o
ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores
marcas do varejo e um mix de opções.
O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o
cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de
compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.
Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o
máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A
começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do
valor praticado pelo mercado.
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único, tem bom market fit que agrada ao mercado e aos clientes.
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separação das lojas por categorias, com a descrição dos produtos e
acesso ao site de cada loja, tudo isso numa vitrine virtual que
possibilita a comunicação dos clientes com as lojas.
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trata-se da integração dos ambientes online e offline na jornada da
compra.
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físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com
relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que
compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
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comprar da sua loja favorita pelo smartphone ou computador, em casa, e
ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez.
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marketplaces por oferecer além da exposição das empresas, seus produtos e
promoções, tem outras formas de atrair a atenção dos internautas como:
empresas, serviços, turismo, cinemas e diversão no Shopping, ofertas de
produtos dos supermercados, revenda de veículos usados, notícias locais
do Brasil e do Mundo, diversão de músicas, rádios e Gossip.
Nós
somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos
tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história
ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.
Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?
Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
BRASÍLIA (Reuters) -A Câmara dos Deputados aprovou nesta sexta-feira,
em primeiro turno e por larga margem de votos, o texto principal da
reforma tributária, avançando mais um passo na intenção do Congresso de
promulgá-la ainda este ano após um acordo com o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto-base, que ainda pode ser alterado por emendas a serem votadas
separadamente, foi aprovado com 371 votos favoráveis, bem acima do
mínimo necessário de 308. Outros 121 deputados votaram contra e 3 se
abstiveram.
O parecer aprovado preserva a estrutura central da proposta, mas
suprime alguns trechos incluídos pelos senadores após uma primeira
análise da Câmara, onde teve sua tramitação iniciada.
Depois da votação em primeiro turno, deputados ainda precisarão
deliberar a proposta em uma segunda rodada de votação, também prevista
para esta sexta-feira — dia incomum para votações no Congresso.
A ideia dos parlamentares que negociam a aprovação da Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) é promover apenas supressões de dispositivos
para garantir que o texto não precise retornar ao Senado e seja
promulgado após aprovação dos deputados, ainda neste ano.
A votação da proposta foi acelarada após um acordo firmado em almoço
na terça-feira entre o presidente Lula, o presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo reportagem da Reuters publicada na quinta, o governo
concordou com a derrubada de veto ao trecho do arcabouço fiscal que
permitia o contingenciamento das emendas de comissão em troca das
aprovações da reforma tributária e de outras matérias da pauta
econômica.
A expressiva liberação de emendas parlamentares na reta final dessas
negociações também contribuiu, segundo fontes do Congresso, para
aumentar a disposição de deputados e senadores em promover as votações.
EXCLUSÕES
O relator da proposta, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), excluiu da
proposta alguns regimes tributários diferenciados adicionados pelo
Senado a setores específicos, como saneamento, concessão de rodovias,
transporte aéreo, economia circular, energia solar e combustíveis.
“Não podemos perder de vista que a redução da alíquota para um bem ou
serviço adquirido pelo consumidor final implicará o aumento da alíquota
para o restante da economia”, argumentou o relator, no parecer.
Em outra alteração, foi eliminada a regra que previa a criação de uma
cesta básica estendida com desconto de 60% na tributação. Esse
benefício seria complementar à cesta básica principal, isenta do
tributo.
O texto do Senado previa a criação de uma Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico) para estimular a competitividade da
Zona Franca de Manaus, mas o dispositivo foi suprimido por Ribeiro. Será
mantida previsão de cobrança de IPI para essa finalidade.
“Diante da forte rejeição à ideia de tributar as demais unidades da
Federação com uma Cide, com o objetivo de aumentar a competitividade da
região amazônica, e ainda direcionar os recursos desse tributo para a
mesma região, chegou-se ao consenso de se alterar o modelo de benefício
da ZFM, mantendo a vantagem competitiva da região com o uso do IPI e não
da Cide”, explicou o deputado no relatório.
Ainda em relação à Zona Franca, foi eliminada a possibilidade de
empresas da região importarem combustíveis com favorecimento tributário.
Outra supressão diz respeito a dispositivo que premiaria Estados que
ampliassem sua arrecadação durante o período de transição da reforma. O
dispositivo havia sido alvo de críticas de governadores, que passaram a
anunciar aumentos de tributos estaduais em busca de turbinar receitas.
Também foi suprimida do texto a isenção da alíquota na compra de
medicamentos e dispositivos médicos por entidades de assistência social
sem fins lucrativos.
O relator eliminou ainda artigo que autorizaria servidores públicos
estaduais e municipais a alcançar o limite remuneratório dos servidores
federais, que é mais alto.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Bernardo CaramEdição de Pedro Fonseca)
O Senado, mais uma vez, se eximiu de cumprir uma de suas mais
importantes obrigações constitucionais, que é sabatinar com seriedade e
espírito público o indicado pelo presidente da República para exercer o
cargo de procurador-geral da República. Convenhamos que, no dia 13
passado, não houve propriamente sabatina de Paulo Gonet Branco.
O pouco que se sabe da compreensão do futuro procurador-geral da
República sobre o papel do Ministério Público Federal (MPF), sobre os
grandes desafios do País e como o parquet pode ajudar a
superá-los veio de reportagens da imprensa e de algumas manifestações de
Gonet durante as sessões de julgamento transmitidas pela TV Justiça das
quais participou.
A imprensa é essencial para informar a sociedade sobre os indicados
pelo presidente da República a cargos como o de procurador-geral da
República, mas, se o noticiário bastasse, não haveria necessidade de
sabatina no Senado. A Constituição atribui ao Senado a tarefa de
inquirir esses indicados não somente para que a população possa conhecer
sua compreensão do Direito e seu efetivo compromisso com o Estado
Democrático de Direito, mas para que eles sejam avaliados, de forma
pública e solene, em relação aos requisitos constitucionais previstos
para o cargo. Nessas funções públicas, eles não vão exercer suas
vontades e idiossincrasias, mas aplicar e defender o Direito. Eis então
que a sabatina não é uma etapa meramente burocrática da nomeação de
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do procurador-geral da
República. É uma demonstração de respeito pelos cidadãos e de reverência
institucional.
Reconheça-se que os senadores pouco podiam fazer durante uma sabatina
cujo formato exótico – feita simultaneamente com Gonet e com Flávio
Dino, indicado ao STF – impediu que os senadores se concentrassem
exclusivamente no candidato à PGR. Como Dino era a estrela do momento
por diversas razões, dominou amplamente as atenções dos parlamentares.
Já Gonet se limitou a dar respostas evasivas às poucas perguntas que lhe
foram dirigidas. Simplesmente ele não foi sabatinado.
O momento em que Gonet assume a PGR é delicado. A PGR foi jogada na
sarjeta durante os mandatos de alguns de seus antecessores, em
particular durante as gestões dos ex-procuradores-gerais Rodrigo Janot e
Augusto Aras. Cada um a seu modo, ambos reduziram a PGR a instrumento
de joguetes políticos e corporativos particulares. O País paga até hoje
um alto preço pelos desatinos de um e pela vassalagem de outro.
Com o que se sabe hoje, nada indica que Gonet tomará direções
extremadas à frente da PGR. Mas eis o ponto principal. Não há
informações suficientes à disposição da sociedade que permitam assegurar
que isso não tornará a acontecer. Apenas se torce pelo melhor, para
que, sob Gonet, desconhecido da maioria da população até pouquíssimo
tempo atrás, a PGR voltará a defender a ordem jurídica, o regime
democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis com
técnica, discrição e espírito público.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pagou R$ 10
bilhões em emendas parlamentares nos dias 11 e 12 de dezembro, um
recorde histórico para um período de 48 horas.
Com isso, o total de emendas pagas em 2023 chega a R$ 39 bilhões,
incluindo restos a pagar de emendas apresentadas por congressistas em
mandatos anteriores.
A liberação das emendas foi antecipada pelo governo para tentar
garantir apoio do Congresso Nacional para a aprovação de projetos
prioritários, como a medida provisória (MP) 1.185, que cria um subsídio
para o ICMS de combustíveis, e a proposta de emenda à Constituição (PEC)
da reforma tributária.
A MP 1.185 pode arrecadar R$ 35 bilhões em 2024, mas deverá ser desidratada para garantir a aprovação no Congresso.
Como a PEC da reforma tributária, que foi votada pelo Senado e
precisa da palavra final da Câmara dos Deputados para ser promulgada
ainda em 2023.
Porém, o pagamento de emendas parlamentares é legal e legítimo, mas é
frequentemente criticado por ser usado como uma forma de compra de
votos.
Com isso, o pagamento recorde de emendas parlamentares pelo governo
Lula reforça as suspeitas de que o Executivo está usando a fisiologia
para garantir apoio do Congresso Nacional.
O Brasil tem, certamente, o pior modelo de tributação do
consumo dentre os países do mundo ocidental. Nosso modelo de tributação
foi instituído em 1965 (EC nº 18/65) e poucas mudanças ocorreram de lá
para cá, apesar de a economia ter mudado bastante. Em um mundo analógico
dos anos 1960 nem se cogitava sobre economia digital. As maiores
empresas do mundo vendiam petróleo e automóveis. Hoje, os maiores grupos
vendem tecnologia.
Perdeu-se uma grande oportunidade em 1965 de se passar para a União a
tributação do consumo, concentrada em único imposto, o IVA (Imposto
sobre Valor Agregado), praticado em mais de 170 países. Eventual
concentração de competência tributária no âmbito da União não
significaria, a priori, ofensa ao federalismo, principal argumento
contrário ao IVA nacional, uma vez que o importante é que os entes
federados tenham autonomia financeira e regras claras na Constituição de
repartição de receitas.
A Constituição de 1988 ressaltou a anomalia do nosso sistema, reforçando o ICMS como
o maior imposto sobre o consumo na competência Estados-membros.
Manteve-se ainda a tributação repartida entre a União (IPI, PIS e
Cofins), Estados, Distrito Federal (ICMS) e municípios (ISS) gerando
litigiosidade, insegurança, conflito entre os entes federais e guerra
fiscal.
Certo é que depois de muitos debates, idas e vindas, a PEC 45 foi aprovada no Congresso, devendo ser, na sequência, promulgada.
Não teremos um IVA único, mas um IVA dual — CBS (da União) e IBS
(compartilhado entre Estados e municípios) —, a tributação será no
destino, a base será ampla, menos variedade de alíquotas e uma
não-cumulatividade plena. Cinco tributos serão extintos, bem como os
atuais benefícios fiscais. Será criado ainda um imposto seletivo sobre
produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. A transição será
longa, até 2032, e teremos uma regulamentação por lei complementar e
leis ordinárias pela frente.
Mas a aprovação da reforma merece ser celebrada. O Brasil vai
aproximar a sua tributação do consumo dos principais parceiros
comerciais da Europa, da América Latina, da África e da Ásia. Não se
deve esperar que o cidadão sinta no bolso os efeitos da reforma, nem que
a carga irá diminuir. Em alguns setores, como o de serviços,
provavelmente irá aumentar.
Muitas das críticas à reforma decorrem de se enxergar o novo IVA dual
com as lentes dos tributos que serão extintos. Por exemplo, quando se
fala em uma alíquota de 27% como o maior IVA do mundo, esquece-se de que
a somatória das alíquotas atuais do ICMS, IPI, PIS, Cofins podem
ultrapassar com folga os 27%.
Ora, tomando por base somente a alíquota padrão do ICMS, 18%, que é
calculado por dentro, equivaleria a 22%, se calculado por fora, como
será o método de cálculo do novo IVA. Além do mais, com a
não-cumulatividade plena do novo IVA, o repasse da carga para o elo
seguinte da cadeia produtivo será mais efetivo.
Lembramos, por fim, que o Simples será mantido, o que representa a
manutenção da carga atual para um expressivo número de contribuintes
pessoas jurídicas, prestadores de serviço especialmente.
Simplicidade, transparência e menos litigiosidade é o que se espera! E
vamos sentir um vento soprando a favor da economia, antes mesmo da
implementação definitiva da reforma. Que assim seja!
Professor de direito tributário da UFRJ, ex-presidente da
Comissão de Direito Tributário da OAB e coordenador de Direito
Tributário da ESA Nacional
Nesta quarta-feira, 13, circulou nas redes sociais um vídeo onde uma
passageira não identificada questionou Dilma em um tom jocoso: “De
primeira classe?”. Dilma retrucou: “Lógico, querida. Eu sou presidente
de banco. Como você acha que viaja presidente de banco?”. A
ex-presidente estava no Brasil para compromissos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Mercosul na semana passada.
Além do salário de R$ 290 mil, o Banco dos BRICS também oferece para
ex-presidente benefícios como transporte aéreo, assistência médica,
auxílio viagem para o país de origem e subsídios para mudança em caso de
contratação e desligamento.
O rendimento mensal de Dilma no Banco dos BRICS é quase dez vezes maior do que o salário que ela recebia quando estava no Palácio do Planalto. Em 2016, quando ela sofreu um processo de impeachment, o seu vencimento para a chefe do Executivo era de R$ 30.471.
No ano, Presidência custeou R$ 1,7 milhões em gastos da ex-presidente
Além do salário no Banco dos BRICS, a ex-presidente ainda tem
benefícios recebidos juntos a outros ex-presidentes da República vivos.
A Presidência custeia
gastos passagens aéreas, auxílio moradia e diárias no exterior,
auxílio-combustível, manutenção de veículos e serviços de
telecomunicações. Além disso, Dilma tem direito a ter oito servidores,
sendo seis de apoio pessoal e dois motoristas junto a veículos
pertencentes à União.
Segundo os Dados Abertos da Presidência da República, os gastos de
Dilma custeados pela Presidência da República do início do ano até este
mês de dezembro somam R$ 1.728.620. Por mês, a média dos custos é de R$
144.051.
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Insatisfação com um salário médio
de R$ 28 mil, episódios de abuso de autoridade e acúmulo de
penduricalhos ajudam a explicar por que especialistas afirmam que muitos
juízes não se consideram servidores, mas uma classe à parte no setor
público.
No Judiciário federal, por exemplo, magistrados ganham, em média, até
sete vezes mais do que os demais funcionários. A remuneração dos
servidores vai de R$ 4.124, salário inicial de auxiliares jurídicos, a
R$ 19,8 mil, valor mais alto para analistas.
Já entre os juízes, a média salarial é de R$ 28 mil, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de setembro.
Mesmo recebendo valores maiores, magistrados estão mais insatisfeitos
com a remuneração. Para aproximadamente 74%, o salário que recebem não
condiz com o trabalho. Entre os servidores, a taxa é de 46%.
Os dados são do censo do CNJ divulgado neste ano. As respostas foram
coletadas por formulário eletrônico. Participaram 63,2 mil servidores e
6.100 magistrados.
Em nota, a Associação dos Magistrados Brasileiros diz que a categoria
enfrenta desvalorização e, por isso, mais juízes deixam a carreira em
busca de melhores condições no mercado privado.
Segundo a entidade, a falta de correção dos subsídios afeta a
qualidade de vida dos magistrados e o acesso à Justiça só vai ser
garantido com investimentos na prestação jurisdicional.
“Juízes não se veem como servidores, mas como uma categoria especial
que enseja prerrogativas próprias, para além daquelas dos funcionários
públicos”, afirma Vitor Rhein Schirato, professor da Faculdade de
Direito da USP.
Diferentemente dos outros servidores, magistrados têm direito a duas
férias por ano. Muitos também recebem valores consideráveis em
benefícios, incluindo auxílios-moradia e adicionais por acúmulo de
função, que são acrescidos à remuneração. Em setembro, 226 juízes
federais receberam acima do teto constitucional (R$ 41.650,92).
Casos como o protagonizado pela juíza Kismara Brustolin, da Vara de
Trabalho de Xanxerê, em Santa Catarina, escancaram a maneira como os
magistrados veem a própria autoridade. No fim de novembro, Brustolin
gritou com uma testemunha, exigindo ser chamada de “excelência’. O CNJ
apura a conduta da juíza, que pediu afastamento por motivos de saúde.
Mesmo a perda de cargo e penalidades é diferente entre magistrados e
servidores. Isso porque profissionais públicos e membros de Poder, como
juízes e promotores, são regidos por artigos distintos da Constituição,
segundo Wallace Corbo, professor de direito constitucional da Uerj
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da FGV (Fundação Getúlio
Vargas).
A estabilidade, por exemplo, é dada a servidores após três anos de
estágio probatório. Para magistrados, é dada a vitaliciedade depois de
dois anos.
Por essa diferença, um juiz ou um desembargador só deixa o cargo por
ação judicial, enquanto o servidor pode ser exonerado por processo
administrativo interno. No geral, a penalidade máxima dada aos
magistrados é a aposentadoria compulsória, em que eles continuam
recebendo salário.
“Isso explica por que magistrados, muitas vezes, não se veem como
servidores, e sim como membros de poder que de fato tem um tratamento
diferenciado na Constituição, mas que não justifica a visão elitista”,
afirma Corbo.
Vitor Rhein Schirato, da USP, atribui essa percepção ao fato de a
magistratura ser historicamente ocupada por classes mais altas, o que
tornou a carreira elitizada.
O censo do CNJ não apresenta informações sobre a renda da família de
origem dos juízes, mas mostra que em torno de 45% têm pai e mãe com
ensino superior completo. Entre os outros funcionários do Judiciário, a
mesma taxa cai para aproximadamente 29%.
Além disso, a magistratura é pouco diversa, composta principalmente
por homens (60%) e brancos (82%), o que a torna ainda mais elitizada.
Apenas 15% dos juízes são negros.
Entre os outros servidores do Judiciário, a cifra de pretos e pardos sobe para 26,5%. Mulheres são maioria, cerca de 54%.
Segundo Juliana Teixeira Esteves, professora da Faculdade de Direito
da Universidade Federal de Pernambuco, a falta de representatividade
afasta os magistrados da função de atender à população.
“No passado, o acesso ao ensino superior teve problemas ligados a
questões de raça e gênero. Por isso, a magistratura hoje não reflete o
perfil da sociedade brasileira e perpetua estruturas prévias, muitas
vezes preconceituosas. Alguns juízes reproduzem essas desigualdades”,
afirma.
Ela diz ainda que, embora a responsabilidade dos magistrados seja
maior, o acúmulo de trabalho é constante em todos os níveis do
Judiciário. De acordo com a professora, a sobrecarga entre técnicos,
auxiliares e analistas jurídicos aumentou nos últimos anos, devido à
redução de concursos públicos.
Mas a satisfação com a carreira é diferente para juízes e demais
funcionários. Os dados do CNJ mostram que 91% dos servidores estão
felizes em trabalhar no Judiciário, cifra que cai para 69% entre
magistrados. Aproximadamente 47% dos juízes estão insatisfeitos com a
carreira.
Mesmo em desacordo com a situação da magistratura, juízes não pensam
em mudar de carreira. Quase 88% não querem prestar concurso para outras
áreas, segundo o censo do CNJ.
CARREIRA TERÁ MAIS UMA ETAPA
O Exame Nacional da Magistratura, aprovado em novembro pelo CNJ, visa
mudar o paradigma da carreira. A prova, de caráter eliminatório, tem
como um dos objetivos tornar a carreira mais diversa, o que romperia com
a elitização.
Após aprovado, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal) e do CNJ, disse que o exame vai acabar com
suspeitas de favorecimento, em que membros de Judiciários locais
influenciam resultados do concurso para privilegiar amigos e parentes.
Depois da prova, os candidatos ainda vão passar pelas fases seguintes
dos tribunais regionais. O exame terá exigência de pontuação menor para
pessoas negras e indígenas, de 50%, enquanto os demais candidatos
deverão ter uma taxa de acertos de 70%.
Segundo Wallace Corbo, professor da Uerj e da FGV, adicionar uma
etapa no concurso pode elevar os obstáculos para pessoas mais
vulneráveis. Ele diz que, ao mesmo tempo, a prova pode fazer com que
tribunais locais simplifiquem as fases seguintes.
“Se não for associado a um projeto mais amplo, como por exemplo
bolsas para cursos preparatórios para candidatos negros, como pretende o
ministro Barroso, o exame pode complicar a vida de quem mais tem
dificuldade de acesso ao poder Judiciário.”
O CEO da Azul Linhas Aéreas, John Rodgerson, disse nesta 6ª feira
(15.dez.2023) que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) tem sido negligente em relação ao fomento da aviação nacional.
Para o executivo, o banco tem errado em fechar parcerias com empresas
norte-americanas do setor ao invés de oferecer linhas de crédito para as
companhias brasileiras.
Em conversa com jornalistas, Rodgerson declarou que nos últimos anos o
banco de desenvolvimento brasileiro privilegiou parcerias com a
American Airlines e com a Fedex, empresas estrangeiras que já são
competitivas por meio de subsídios do próprio governo norte-americano.
“Nos últimos 2, 3 anos, o BNDES financiou empresas americanas, mas
nenhuma empresa brasileira de aviação. Então imaginem isso, nossos
impostos estão financiando ativos para a American Airlines, para a
Fedex, para essas empresas subsidiadas pelo governo deles, e aqui zero
para as empresas brasileiras. Eles estão financiando o país errado”,
declarou o CEO da Azul.
Na visão de Rodgerson, o BNDES deveria financiar as empresas que mais
criam empregos no país ao invés de favorecer as que já tem uma forte
ajuda do governo norte-americano. Para o executivo, a condução das
políticas econômicas do banco para a aviação no Brasil é uma “loucura”.
“Eu acho que o BNDES deve financiar a Azul, a Gol, a Latam, porque
nós estamos ajudando o Brasil, criando empregos no Norte, no Nordeste,
mas financiar uma empresa aérea dos Estados Unidos, poxa, que loucura”,
disse o executivo.
Segundo Rodgerson, o acesso a linhas de crédito pelas empresas é um
dos 3 maiores desafios que a aviação civil enfrenta no Brasil. As altas
taxas de judicialização do setor e o combustível de aviação mais caro do
mundo fecham esse tripé de dificuldades.