A “centro-direita liberal” está se movimentando para ter um projeto que possa chamar de seu em 2026. A largada aconteceu com as mudanças no União Brasil,
previstas para serem consumadas no dia 29 de fevereiro, com a troca do
comando da sigla, que foi antecipada, pois estava prevista somente para
maio. Sai o atual presidente Luciano Bivar, que validou a entrada de
membros do partido no governo Lula, com três ministérios (Juscelino Filho, nas Comunicações; Celso Sabino, no Turismo, e Waldez Góes, na Integração e Desenvolvimento Regional), e deve entrar o advogado e vice-presidente do partido Antonio Rueda.
Bivar vinha de um processo de disputas, brigas e intrigas desde a fusão entre PSL e DEM, que aconteceu há dois anos. Rueda – que terá um mandato até 2028 – tem laços mais fortes com o grupo do antigo Democratas e
assumirá com o projeto de delinear estratégias, estimular novas
filiações e já organizar o União para as eleições municipais de
prefeitos e vereadores em outubro. O partido é o terceiro na relação dos
que mais recebem recursos do fundo partidário. De janeiro a setembro, a
legenda obteve R$ 71 milhões, atrás apenas justamente do PL (R$ 100
milhões) e do PT (R$ 83 milhões), que encabeçam a polarização.
A estratégia tem reunido um grupo de políticos, com ou sem mandato, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o deputado federal e ex-ministro Mendonça Filho, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto e
vários outros que veem espaço na atual conjuntura para traçar um
projeto que, na visão deles, seja consistente. O plano pretende
reorganizar grupos do antigo PFL, DEM, mas está aberto ao PSDB e PP e
acena principalmente aos tucanos de centro que viram o partido minguar
nos últimos anos. “Somos um grupo liberal, com algumas ideias
conservadoras, mas não como o bolsonarismo”, define Mendonça Filho.
São ideias e propostas para serem defendidas por esse grupo
ideológico que ficou à margem da política nacional com a polarização
registrada nos últimos anos entre PT e o bolsonarismo. Passam por
questões como segurança, um tema que o governador de Goiás trata com
extrema atenção e costuma apontar falhas na política nacional, como, a
“liberalidade com que se trata o crime organizado” por exemplo, até a
reforma trabalhista e a base nacional curricular.
“A política e o Brasil foram dragadas por essa combinação de
extrema-direita-esquerda. Temos que recuperar nosso espaço, que não é
nem o petismo nem a direita do ex-presidente Jair Bolsonaro”, diz
Mendonça Filho. Na prática, o grande passo para que esse grupo começasse
a se reorganizar não foi dado pela política. Mas pela Justiça
Eleitoral, ao tornar Bolsonaro inelegível pelos próximos anos. Abriu-se
assim um espaço para aqueles que concordavam com seu projeto liberal na
economia, mas discordavam da forma dele de agir.
As conversas têm avançado também com os governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Partido Novo), de Minas Gerais, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná e até, embora um pouco mais distante, com o tucano Eduardo Leite,
do Rio Grande do Sul. Tarcísio, aliado de primeira hora e ex-ministro
de Bolsonaro, segundo esse grupo, é o primeiro nome que se coloca quando
se pensa em um projeto para 2026.
Mas, até lá, primeiro será preciso convencer o governador de São
Paulo. Não só por que se estiver bem no governo e Lula for candidato à
reeleição, ele tem dito reservadamente que prefere disputar mais um
mandato, como também porque será difícil para alguém que foi e,
aparentemente, ainda é tão próximo de Bolsonaro, descartar o
ex-presidente. Sem falar que Bolsonaro deve ser o maior eleitor da
direita em 2026.
Tanto é que, passado o pior momento das CPIs e das investigações no
STF quando se pensou que Bolsonaro poderia ser preso, ele retomou sua
agenda, circulando com desenvoltura e alinhavando acordos para a eleição
municipal. Entre eles, está, por exemplo, o governador do Rio, Claudio
Castro (PL), que anunciou apoio e prometeu trabalhar pelo candidato à
prefeitura, o ex-diretor da Agencia Brasileira de Inteligência (Abin), o
deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).
O planejamento do grupo passa ainda pela eleição das mesas da Câmara e
do Senado em 2025. Já há dois candidatos colocados com o apoio do
grupo, o deputado baiano Elmar Nascimento (União) e o senador Davi
Alcolumbre (União-AP). O problema é que, reza a tradição, dificilmente
as duas Casas são comandadas por membros do mesmo partido. Na hora em
que for feito um acordo para valer, um deles, provavelmente, deverá
abrir mão da disputa.
Presente à Conferência do Clima em Dubai, cartel articulou o bloqueio
de restrições aos combustíveis fósseis, principal motor do aquecimento
global. Brasil se juntou ao grupo como membro associado.Qualificando
como “pressão indevida e desproporcional” as discussões da comunidade
científica sobre a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis para
conter o colapso do clima, o secretário-geral da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham al-Ghais, exortou os
estados-membros da entidade a bloquearem “proativamente qualquer texto
ou formulação” neste sentido na Conferência do Clima em Dubai (COP28),
afirmando em carta endereçada aos estados-membros da entidade que a
questão é de “extrema urgência”.
“Parece que a pressão indevida e desproporcional contra energias
fósseis pode chegar a um ponto de virada com consequências
irreversíveis”, escreveu al-Ghais em documento obtido pela agência de
notícias AFP.
Após o lobby da Opep, países se dividiram em Dubai sobre um possível acordo para o abandono gradual dos combustíveis fósseis.
A entidade reúne 13 países – Argélia, Angola, Guiné Equatorial,
Gabão, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Emirados
Árabes Unidos e Venezuela, sob a liderança da Arábia Saudita. Pelo seu
peso no mercado internacional de petróleo, o grupo exerce forte
influência nos preços globais de petróleo, detendo 80% das reservas
globais de petróleo e tendo produzido 40% de tudo que o mundo consumiu
na última década.
Observadores das negociações na COP28 afirmam que Arábia Saudita e
Rússia, dentre outros países, estão insistindo para que a cúpula foque
apenas em reduzir a poluição do clima, em vez dos combustíveis
responsáveis pelo atual quadro – uma aposta, ao que tudo indica, na
captura e armazenamento de CO2, as chamadas tecnologias CCS.
Aposta na tecnologia CCS não é solução realista
Ao menos 80 países na COP28 – entre eles União Europeia e Estados
Unidos, mas também as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas –
apoiam um acordo para abandonar os combustíveis fósseis e cumprir a meta
de limitar o aquecimento global a 1,5º C em relação à era
pré-industrial.
Países dependentes de petróleo e gás, contudo, se opõem à ideia. É o
caso da Arábia Saudita, país-sede da COP28 e um dos grandes exportadores
internacionais de petróleo, que trabalha em Dubai para, ao menos,
enfraquecer as decisões desta cúpula do clima ao pressionar pela
continuidade da exploração de petróleo e gás mediante a captura e o
armazenamento de CO2 por meio das tecnologias CCS – uma contrapartida
ainda cara e inadequada para resolver, sozinha, o problema das emissões.
Outros países, como Índia e China, não apoiaram explicitamente o fim
dos combustíveis fósseis, mas têm engrossado o coro em prol das energias
renováveis.
Cientistas dizem que a humanidade precisa reduzir suas emissões de
CO2 à quase a metade dos valores atuais até 2030 se quiser ter alguma
chance de limitar o aquecimento global a 1,5º C, e compensá-las
completamente para zerá-las até 2050.
Mediador das negociações na COP28 e mais alto executivo da estatal de
petróleo saudita, Sultan Al Jaber chegou a negar, antes da cúpula, a
ciência por trás dos apelos ao abandono de combustíveis fósseis.
Brasil se juntou à Opep+ durante a COP28
Recentemente, ainda nos primeiros dias da COP28, o Brasil confirmou
que aceitou o convite para integrar a Opep+, espécie de extensão
turbinada do cartel, com a presença de membros associados que participam
da discussão de políticas internacionais para o setor petrolífero.
Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desconversou
ao ser perguntado sobre a adesão, afirmando que o país se juntaria à
entidade para advogar pela transição energética.
Reação
À frente da presidência rotativa da União Europeia (UE), a Espanha
reagiu à movimentação da Opep por meio de sua ministra do Meio Ambiente,
Teresa Ribera, que chamou de “repugnante” a oposição a resoluções
ambiciosas nas negociações climáticas.
Ambientalistas também reagiram com indignação à posição da Opep.
Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock fez
um apelo na sexta-feira aos países produtores de petróleo, argumentando
que já há exemplos bem sucedidos pelo mundo de que é possível aliar a
proteção do clima ao desenvolvimento econômico, e que se comprometer com
essa agenda é também uma questão de justiça social.
“Aqui em Dubai, temos a chance de ter pela primeira vez não uma
aliança do antigo mundo dos combustíveis fósseis, mas uma aliança
daqueles que querem dar passos concretos rumo ao futuro”, disse
Baerbock.
Segundo ela, a transição para uma economia de baixo carbono é um
grande desafio porque “ainda há aqueles que querem dar continuidade à
sua política de poder do passado também no futuro”, valendo-se inclusive
de combustíveis fósseis para isso.
A 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas deve terminar na próxima
terça-feira (12/12). Em eventos anteriores, as negociações foram
estendidas por um período maior devido à falta de consenso em torno de
questões centrais.
A próxima COP deverá ser realizada no Azerbaijão, outro país cuja economia é altamente dependente do petróleo.
Após ser eleito, Milei nomeou para o
governo pessoas ligadas a políticos que sempre criticou. Além disso,
precisará negociar muito com o Legislativo — e possivelmente fazer
concessões— para aprovar medidas.
Por Felipe Gutierrez – g1 Mundo
Javier Milei, que foi eleito presidente da Argentina — Foto: Reuters
O presidente eleito Javier Milei toma posse neste domingo (10) na
Argentina para um mandato de quatro anos, e uma pergunta se impõe: qual é
o Milei que irá governar?
Os sinais são ambíguos: enquanto o Milei da campanha se apresentava como um político da direita não tradicional que
vociferava contra a “casta” política, o Milei eleito tem se aproximado
de nomes do establishment e montou uma equipe composta tanto por
egressos do governo de Maurício Macri, de direita, como de Alberto
Fernández, de esquerda.
“Não sabemos como será ele no governo. No período do segundo turno
houve uma transição muito relevante de estilo e de agenda”, diz Federico
Zapata, diretor da consultoria argentina Escenarios.
Milei, afirma o analista, montou um governo mais plural do que se
imaginava: além de políticos do partido de Macri, o Proposta
Republicana, há alguns peronistas não-kirchneristas, caso de Daniel
Scioli, o embaixador da Argentina em Brasília, que permanecerá no cargo.
“Eles não vão se sentir traídos; eles têm uma relação afetiva muito
forte com Milei, ele os fidelizou e a consegue fazer essas mudanças de
rumo se for necessário”, diz o consultor.
Diferenças em relação a Bolsonaro
Autor do livro “A nova direita argentina e a democracia sem
política”, o professor Sergio Morresi, da Universidad Nacional de
General Sarmiento, afirma que Milei tem se moderado em relação ao
discurso de campanha, embora ainda mantenha a raiz radical.
Morresi afirma que a direita tradicional e a direita antissistema na
Argentina têm se aproximado. A tendência do movimento, porém, é em
direção ao extremo, não ao centro.
Em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, ele vê contextos diferentes.
Aqui, havia expectativa de que o presidente se moderasse ao longo do
mandato, o que não ocorreu. Bolsonaro, além disso, tinha apoio
consistente nas Forças Armadas e conquistou parte do empresariado. Na
Argentina, por outro lado, as Forças Armadas não têm o poder e a
influência como no Brasil, e Milei não atraiu tantos empresários como
Bolsonaro.
Isso é semelhante ao que acontece no Brasil, mas a organização
política da Argentina tem diferenças marcantes em comparação com a
nossa.
A principal delas é que, na Argentina, a eleição para o Legislativo é
em lista fechada —ou seja, os dirigentes de partido controlam quem
estará no topo da lista e no fim da lista. Na prática, os “chefes” de
partido das províncias têm mais poder de barganha com o Executivo
nacional.
“O presidente é obrigado a barganhar com governadores, e é isso que o
Milei está fazendo. Ele tem que negociar com as lideranças do peronismo
não kirchenerista e da direita tradicional, mas também vai precisar
negociar com governadores”, diz Morresi.
Segundo o pesquisador, a estratégia de Milei tem sido “fechar a porta
na cara” dos governadores para depois negociar uma abertura. Ou seja,
ele afirmou que não vai haver verba federal para obras em províncias
para depois negociar isso em troca de apoio parlamentar.
O professor afirma que, entre os apoiadores de Milei. há pessoas que
acreditam que a vitória no segundo turno foi tão significativa que os
legisladores vão ter receio de se opor às políticas do novo presidente e
vão se alinhar só por essa razão. Morresi vê essa possibilidade como
pouco provável.
A Liberdade Avança (LLA), partido de Milei, tem 40 das 257cadeiras da Câmara dos Deputados e 7 dos 72 assentos do Senado.
O peronismo tem 105 deputados e 33 senadores,
Entre os prováveis aliados que Milei na Câmara está o partido do ex-presidente Mauricio Macri, com 40 cadeiras, e, talvez, a União Cívica Radical, com 35.
E aquelas propostas?
Para os analistas políticos, algumas reformas econômicas na
Argentina, como da moeda, seriam feitas por quem quer que fosse o
presidente.
“Parece que a sociedade vai dar um período de tempo para que ele
consiga fazer reformas. A questão é se ele vai ter maioria legislativa e
se essas reformas vão surtir efeitos que permitam que ele consolide
poder político”, afirma Zapata.
O discurso mais tradicional de Milei sobre o dólar não é exatamente
impor uma conversão entre peso e dólar ou passar a usar o dólar como
moeda corrente no país, como é, por exemplo, no Equador. A ideia é
liberar transações com o dólar –hoje há diversas proibições legais, que
os argentinos chamam de “cepo”, para que se use o dólar como referência
de valor. É proibido, por exemplo, fazer contratos em dólar.
A ideia de Milei é tirar todas essas proibições. A lógica é que as
pessoas vão passar a pensar e dar preços às coisas em dólares e, na
prática, a economia vai caminhar para uma dolarização.
Javier Milei anuncia primeiros nomes do governo e reforça desejo por privatizações
O fechamento do Banco Central
Segundo o pesquisador Sergio Morresi, Milei realmente acredita mesmo
na ideia de fechar o Banco Central. “Ele diz isso nos livros e artigos
antigos”. Mas também há uma sutileza. A ideia é, acima de tudo, acabar
com as funções de regulador de mercado financeiro que os Bancos Centrais
têm. Grosso modo, Milei quer um mundo financeiro mais livre, com
circulação de diferentes moedas e menos intervenção no sistema
financeiro.
“Quando ele falava isso ainda no mundo utópico, esse seria um ideal.
Desde que ele virou político, ele continua falando isso, mas ora vai
para um lado ora para outro”, afirma o pesquisador.
Pouco antes do Dia de Ação de Graças, um gigante do Vale do Silício
pareceu implodir diante dos nossos olhos. Um golpe na diretoria da
OpenAI, a empresa de inteligência artificial mais importante do mundo,
derrubou seu carismático líder, Sam Altman.
Na época, a demissão – e a viagem de montanha-russa de Altman para
recuperar seu cargo como CEO – pareceu repentina. Na realidade, levou
mais de uma década para ser feito. A IA estava fervendo no mundo da
tecnologia, à medida que figuras poderosas investiam dinheiro em
pesquisas e lutavam entre si por questões inebriantes de humanidade,
filosofia e poder.
Esta semana, com nossos colegas Mike Isaac e Nico Grant, publicamos
uma série contando a história recente da IA e olhando para o seu
futuro. Na newsletter de hoje, explicamos o que aprendemos.
Egos e avanços
Líderes tecnológicos poderosos – incluindo Altman, Elon Musk e o
cofundador do Google, Larry Page – desenvolveram sistemas de IA durante
anos antes de a tecnologia se tornar popular. Os homens discutiram se
isso acabaria prejudicando o mundo; alguns, incluindo Musk, temiam que a
IA transformasse a ficção científica distópica em realidade, com os
computadores a tornarem-se suficientemente inteligentes para escapar ao
controlo humano.
No centro destas divergências estava um paradoxo que amplia o
cérebro: os homens que disseram estar mais preocupados com a IA estavam
entre os mais determinados a criá-la. Eles justificaram essa ambição
dizendo que só eles tinham a moral e a habilidade para evitar que as
ferramentas de IA se tornassem máquinas nocivas que poderiam pôr a
humanidade em perigo.
Eventualmente, essas disputas os levaram a se separar e formar seus
próprios laboratórios de IA. Cada cisma criou mais concorrência, o que
levou as empresas a avançarem na IA ainda mais rapidamente.
Um ‘erro fatal’
Os recém-formados laboratórios de IA aprimoraram sua tecnologia ao
longo dos anos. Mas nada chamou mais a atenção do público como o
ChatGPT, chatbot da OpenAI, que estreou no ano passado. Foi um enorme
sucesso, atraindo milhões de usuários com sua capacidade de escrever
poesia, resumir pesquisas e imitar conversas cotidianas.
Nosso relatório descobriu que Altman e OpenAI não gostaram do que
estavam prestes a lançar quando lançaram o ChatGPT. Internamente, a
empresa chamou o chatbot de “prévia de pesquisa discreta”. Os
pesquisadores e engenheiros da OpenAI concentraram-se no desenvolvimento
de tecnologias mais avançadas.
A popularidade do ChatGPT impulsionou a concorrência de grandes
empresas de tecnologia como Google e Meta, controladora do Facebook, que
correram para lançar seus próprios produtos no mundo.
Embora as empresas estivessem preocupadas com o fato de seus chatbots
de IA serem imprecisos ou tendenciosos, elas deixaram essas
preocupações de lado – pelo menos por enquanto. Como escreveu um
executivo da Microsoft num e-mail interno, “a velocidade é ainda mais
importante do que nunca”. Seria, acrescentou, um “erro absolutamente
fatal neste momento preocupar-se com coisas que podem ser corrigidas
mais tarde”.
Desde então, a IA entrou sorrateiramente na vida cotidiana, por meio
de chatbots e geradores de imagens, nos programas de processamento de
texto que você pode usar no trabalho e nos agentes de atendimento ao
cliente aparentemente humanos com quem você conversa on-line para
devolver uma compra. As pessoas já o usaram para criar e-mails de
phishing sofisticados, trapacear em trabalhos escolares e espalhar
desinformação.
Deputados ao Parlamento Europeu vistos de cima, de fato e blazer, com muitos a levantarem as mãos.
Deputados do Parlamento Europeu. Frederick Florin/Agência France-Presse — Getty Images
Velocidade vs. segurança
Embora a OpenAI tenha sido fundada como uma organização sem fins
lucrativos, Altman transformou-a numa operação comercial que os
investidores avaliam agora em mais de 80 mil milhões de dólares.
Enquanto Altman corria para desenvolver a tecnologia, alguns diretores
do conselho da organização sem fins lucrativos temiam que ele não
estivesse sendo honesto com eles e sentiam que não podiam mais confiar
nele para priorizar a segurança.
O facto de uma pessoa poder ser tão central para o futuro da IA – e
talvez da humanidade – é um sintoma da falta de supervisão
significativa da indústria.
Os sistemas de IA estão a avançar tão rápida e imprevisivelmente que,
mesmo nas raras ocasiões em que legisladores e reguladores tentaram
enfrentá-los, as suas propostas rapidamente se tornaram obsoletas, como
descobriram os nossos colegas Adam Satariano e Cecilia Kang . Por
exemplo, os reguladores europeus propuseram regras “preparadas para o
futuro” em meados de 2021 que limitavam a forma como a IA poderia ser
utilizada em casos sensíveis, como nas decisões de contratação e na
aplicação da lei. Mas a regulamentação não contemplava os avanços do
ChatGPT, lançado um ano e meio depois.
A ausência de regras deixou um vácuo. As principais empresas de IA
propuseram algumas diretrizes voluntárias – como o uso de marcas d’água
para ajudar os consumidores a identificar material gerado por IA – mas
não está claro até que ponto elas serão importantes.
Os reguladores europeus estão esta semana em sessões de maratona para
redigir os regulamentos de IA mais rigorosos do mundo, e valerá a pena
observá-los. Enquanto isso, as empresas continuam avançando. Na
quarta-feira, o Google demonstrou um novo e poderoso sistema de IA
chamado Gemini Ultra, embora o Google ainda não tenha concluído seus
testes de segurança habituais. A empresa prometeu que seria lançado ao
mundo no início do próximo ano.
A importância do bom site da Valeon para o seu negócio
Moysés Peruhype Carlech
Antigamente, quando um cliente precisava de um serviço, buscava
contatos de empresas na Lista Telefônica, um catálogo que era entregue
anualmente ou comprado em bancas de jornais que listava os negócios por
áreas de atuação, ordem alfabética e região de atuação.
De certa forma, todos os concorrentes tinham as mesmas chances de
serem encontrados pelos clientes, mas existiam algumas estratégias para
que os nomes viessem listados primeiro, como criar nomes fantasia com as
primeiras letras do alfabeto.
As listas telefônicas ficaram no passado, e, na atualidade, quando um
cliente deseja procurar uma solução para sua demanda, dentre outros
recursos, ele pesquisa por informações na internet.
O site da Valeon é essencial para que sua empresa seja encontrada
pelos seus clientes e ter informações sobre a empresa e seus produtos 24
horas por dia. Criamos uma marca forte, persuasiva e, principalmente,
com identidade para ser reconhecida na internet.
Investimos nas redes sociais procurando interagir com o nosso público
através do Facebook, Google, Mozilla e Instagram. Dessa forma, os
motivos pelos quais as redes sociais ajudam a sua empresa são inúmeros
devido a possibilidade de interação constante e facilitado como o
público-alvo e também a garantia de posicionamento no segmento de
marketplaces do mercado, o que faz com que o nosso cliente sempre acha o
produto ou a empresa procurada.
A Plataforma Comercial site Marketplace da Startup Valeon está apta a
resolver os problemas e as dificuldades das empresas e dos consumidores
que andavam de há muito tempo tentando resolver, sem sucesso, e o
surgimento da Valeon possibilitou a solução desse problema de na região
do Vale do Aço não ter um Marketplace que Justamente por reunir uma
vasta gama de produtos de diferentes segmentos e o marketplace Valeon
atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao
lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não
conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa
vitrine virtual. Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de
diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e
volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de
visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e
acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual.
Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das
plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping
center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais
diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também
possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a
uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com
diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do
faturamento no e-commerce brasileiro em 2020.
Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que
são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e
escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é
possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua
marca.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que
tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
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profissionais capacitados e com experiência de mercado que podem
potencializar consideravelmente os resultados do seu e-commerce e isto
resulta em mais vendas.
Quando você deve contratar a Startup Valeon para cuidar da sua Publicidade online?
A decisão de nos contratar pode ser tomada em qualquer estágio do seu
projeto de vendas, mas, aproveitamos para tecermos algumas
considerações importantes:
Vantagens da Propaganda Online
Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis
nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas
por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em
mídia digital.
Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é
claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco
dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é
mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda
mais barato.
Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar
uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em
uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança,
voltando para o original quando for conveniente.
Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo
real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a
campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de
visualizações e de comentários que a ela recebeu.
A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o
material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é
possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver
se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.
Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio
publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não
permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio
digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que
ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a
empresa.
Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o
seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela
esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.
Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma
permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão
interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não
estão.
Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.
A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar
potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos:
computadores, portáteis, tablets e smartphones.
Vantagens do Marketplace Valeon
Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com
publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as
marcas exporem seus produtos e receberem acessos.
Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes
segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de
público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos
consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro
contato por meio dessa vitrine virtual.
Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes
queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência
pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente.
Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas
compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos
diferentes.
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abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das
pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua
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chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma,
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possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a
uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com
diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do
faturamento no e-commerce brasileiro em 2020.
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agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta
diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa
e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores
como:
A expectativa de um aumento salarial no INSS para milhões de
aposentados e pensionistas foi adiada, trazendo decepção diante da
decisão judicial que impôs uma análise mais criteriosa sobre as
mudanças. Previstas para ocorrerem somente em 2024, as alterações no
cálculo salarial no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) se tornaram objeto de discussão em razão da chamada “revisão da vida toda”.
A revisão da vida toda, originada por meio de uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI), questiona a legalidade do cálculo de
pagamento de aposentadorias e pensões, propondo incluir todas as
contribuições previdenciárias, inclusive as anteriores a 1999, na soma
dos valores pagos como salário. Essa medida poderia potencializar e
reajustar significativamente os pagamentos, beneficiando aqueles que
fizeram contribuições ao longo dos anos.
O cerne do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) gira em
torno da possibilidade de incluir todas as contribuições feitas ao INSS,
mesmo as anteriores a 1999, no cálculo de pagamento da aposentadoria ou
pensão. Caso a decisão seja favorável, além do aumento no valor atual,
há a perspectiva de indenização para aqueles que se aposentaram nos
últimos dez anos, considerando as contribuições antigas que não foram
utilizadas no cálculo.
A espera por essa decisão foi prolongada devido a um pedido de
destaque feito pelo ministro Alexandre de Moraes. Isso resultou na
suspensão do julgamento da revisão da vida toda, originalmente previsto
para encerrar no último dia útil. O ministro solicitou que o julgamento
aconteça de maneira presencial, adiando ainda mais a análise desse
importante tema, sem definição de uma data específica para sua retomada.
A revisão da vida toda tornou-se uma pauta crucial para aposentados e
pensionistas, pois oferece a possibilidade de correção nos cálculos de
pagamento, considerando as contribuições ao INSS ao
longo de suas carreiras. Além do potencial aumento nos valores mensais,
a perspectiva de indenização retroativa é vista como uma forma de
compensar o que não foi considerado nos cálculos anteriores.
Decisão do STF
A decisão do STF em suspender o julgamento ressalta a complexidade do
tema e a importância de uma análise cuidadosa antes de implementar
mudanças significativas no sistema previdenciário. Enquanto a justiça
avalia os impactos e a legalidade da revisão da vida toda, os
beneficiários do INSS aguardam ansiosamente por uma resolução que poderá
influenciar diretamente em suas finanças e qualidade de vida.
Ainda que a espera tenha sido estendida, é crucial que os
interessados continuem acompanhando as atualizações sobre o tema. As
implicações dessa revisão podem ser substanciais para muitos brasileiros
que dependem dos benefícios previdenciários do INSS. A decisão final,
quando ocorrer, certamente terá um impacto significativo na vida
financeira de aposentados e pensionistas, moldando o cenário para os
próximos a
A legislação em questão é a Lei 13.964, de 2019, também conhecida como pacote anticrime, que entrou em vigor no primeiro ano da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro(PL).
A medida criou dificuldades extremas para a facção, endurecendo o
regime carcerário e dificultando o comando dos líderes das facções no
interior do sistema prisional.
Após a lei entrar em vigor, o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou
uma ação que visava a derrubada dos seus dispositivos. Isso motivou as
lideranças do PCC a planejar ações violentas, como “as hipóteses de
tentativa de resgate de lideranças ou ainda partir para atentados contra
autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como
do Ministério Público”.
A facção mobilizou uma célula com três de seus integrantes e bancou
seus custos – cerca de R$ 44 mil –, como estadia, celulares, aluguéis,
seguro, IPTU, mobília, transporte e até compra de eletrodomésticos. Os
investigadores também encontraram explosivos que seriam usados em um
atentado a bomba contra Moro.
O que é o pacote anticrime?
O pacote foi uma das promessas de campanha do ex-presidente durante
as eleições de 2018. Bolsonaro defendeu um endurecimento no combate às
facções criminosas e ao crime organizado, e personalizou o seu programa
de governo nesta área a partir da indicação de Moro ao Ministério da Justiça.
Os pontos presentes no projeto foram idealizados por Moro e apresentados em fevereiro ao Congresso Nacional. A legislação endurece pontos do Código Penal e
da Lei de Execução Penal, como o aumento de crimes considerados
hediondos e ampliação de penas para diferentes modalidades de delitos.
Uma das mudanças feitas pela lei que atingiram diretamente o PCC foi o
aumento do tempo máximo de permanência de líderes de facções criminosas
em presídios federais. Antes, o prazo era de 360 dias, mas foi ampliado
para três anos, com possibilidade de renovação.
Também foram endurecidas as condições para que um preso condenado
seja colocado em liberdade condicional. Antes, condenador com
comportamento considerado satisfatório tinha como obter o direito.
Depois da lei, era necessário ter um comportamento satisfatório e não
ter uma falta grave nos 12 meses anteriores à soltura.
Pacote foi ‘desidratado’ e aprovado com folga no Congresso
As propostas do então ministro da Justiça foram costuradas por
deputados aliados do ex-presidente com trechos de outra proposta, que
foi elaborada em 2018 por uma comissão de juristas coordenada pelo
ministro do STF Alexandre de Moraes.
O economista libertário Javier Milei toma posse neste domingo (10/12) como presidente argentino sem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem fez duras críticas durante sua campanha.
Apesar de o argentino ter suavizado o tom contra o petista após sua
eleição, o governo brasileiro será representado pelo ministro das
Relações Exteriores, Mauro Vieira, algo raro, dada a importância da
relação dos dois países.
A cerimônia, ao mesmo tempo, será prestigiada por uma comitiva de
representantes da direita brasileira, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem Milei é declarado admirador. Ambos já se reuniram em Buenos Aires na sexta-feira.
A vitória de Milei nas urnas tem sido comparada com a eleição de Bolsonaro em 2018, já que ambos se projetaram como líderes controversos do campo conservador,
com propostas radicais e uma postura “antissistema”, embora o
brasileiro tenha sido parlamentar por três décadas antes de conquistar o
Palácio do Planalto, enquanto Milei exerceu um mandato de deputado
federal.
Para analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil, porém, a
eleição do novo presidente argentino não deve ser lida apenas como uma
“repetição” da política brasileira de cinco anos antes, mas traz
reflexões sobre os desafios que se colocam à frente para o governo Lula e
o campo bolsonarista.
Por um lado, o resultado da eleição argentina é visto como um recado
para o Palácio do Planalto ao evidenciar a dificuldade que governos têm
tido para se manter no poder na América Latina. Na grande maioria das
disputas presidenciais dos últimos cinco anos, foi a oposição que se
saiu vitoriosa.
Por outro lado, a vitória de Milei também é lida como um risco para o
campo da direita. Embora sua eleição seja mais um sinal da força da
ultradireita no continente, suas chances de êxito ainda seguem muito
incertas, dado o tamanho da crise econômica argentina e a complexidade
das propostas que o elegeram, como a ideia de dolarizar a economia e
acabar com o Banco Central.
Reeleição em queda na América Latina
Para o diretor do instituto de pesquisas Quaest, o cientista político
Felipe Nunes, a vitória de Milei traz uma importante mensagem para
Lula, não tanto no sentido de evidenciar a força do campo conservador,
que não é novidade no Brasil, mas de ser mais um exemplo da dificuldade
que mandatários têm tido em diferentes países para se reeleger ou eleger
um sucessor, independentemente do campo que representam.
Um levantamento do cientista político argentino Gerardo Munck,
professor da University of Southern California (Estados Unidos)
corrobora essa tese: de 18 eleições disputadas na América Latina desde
2019, o candidato governista venceu apenas no pleito realizado neste ano
no Paraguai – o país é um caso particular da falta de alternância de
poder, já que o Colorado, partido de centro-direita, perdeu apenas uma
disputa presidencial em 76 anos, quando Fernando Lugo venceu em 2008.
O caso argentino ilustra bem a dificuldade governista nos últimos
anos, especialmente impactada pela duradoura crise econômica. O
presidente de direita Mauricio Macri não conseguiu renovar seu mandato
em 2019, quando foi derrotado pelo candidato de esquerda, Alberto
Fernández. Este, por sua vez, não foi capaz nem mesmo de viabilizar sua
candidatura à reeleição, lançando seu ministro da Fazenda, Sergio Massa,
para disputar a sucessão, no pleito vencido por Milei.
Já no Brasil, Bolsonaro foi o primeiro presidente a não conseguir se
reeleger desde a redemocratização, ao perder a disputa de 2022 por
margem apertada para Lula.
“A América Latina tem sido marcada nos últimos anos por um processo
muito claro de rejeição aos governos, mais do que uma tendência
pró-direita ou antiesquerda. As pessoas estão cada vez mais
insatisfeitas com a maneira como os governos estão operando, o que para
mim é uma demonstração da crise da representação política que a gente
vive no mundo todo, mas especialmente na América Latina”, afirma o
diretor da Quaest.
Para Nunes, esse cenário vem com um desafio a mais no caso de Lula,
devido à resiliência do campo bolsonarista. Na sua visão, a polarização
da política brasileira está tão forte que se calcificou na sociedade,
processo que ele analisa com o jornalista Thomas Traumann no livro
recém-lançado Biografia do Abismo, como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil.
“As pessoas estão mais exigentes, estão cobrando mais dos seus
governantes. E o alerta que fica para o Lula é de que, por um lado, essa
cobrança, que é generalizada, também é brasileira, mas com uma nuance
muito nossa que tem a ver com a tese da calcificação política que
defendemos no livro”, disse à reportagem.
“Se a gente está vendo na América Latina os governos sendo
consistentemente não aprovados, por outro lado a gente vê no Brasil uma
força muito grande do eleitor bolsonarista, há uma resiliência nesse
sentimento antipetista que vai merecer muita atenção por parte do atual
governo no Brasil”, acrescenta.
Na avaliação de Nunes, a vitória de Milei não é um elemento em si
capaz de impulsionar a direita brasileira, mas o resultado da eleição
americana de 2024 terá impacto relevante.
Nos Estados Unidos, o líder da direita conservadora Donald Trump, do
partido Republicano, também não conseguiu a reeleição em 2020, quando
foi derrotado pelo atual presidente, o democrata Joe Biden. O resultado,
lembra o diretor da Quaest, foi fundamental para ditar uma postura mais
dura do governo americano contra movimentações do campo bolsonarista de
contestação ao sistema eleitoral brasileiro.
Uma nova vitória de Biden ou outro candidato democrata, porém, está
longe de estar garantida, com Trump ganhando apoio popular para disputar
novamente a Casa Branca. O republicano, porém, ainda enfrenta acusações
na Justiça com potencial de impedir sua candidatura.
“Seja quais forem os candidatos, a eleição dos Estados Unidos vai ser
decidida na margem. O resultado, sem dúvida alguma, tem efeitos e
consequências sobre a política no Brasil”, acredita.
“Então, uma vitória do Trump nos Estados Unidos (em 2024) acho que
alimenta o sentimento de revanche no Brasil, porque já teve Milei
vencendo (na Argentina), tem outros candidatos de direita em países da
América Latina. Por outro lado, uma vitória do Biden também acaba sendo
um incentivo para a esquerda brasileira”, avalia.
Pesquisas de opinião têm mostrado que a gestão Lula enfrenta
dificuldades para ampliar seu apoio, após a vitória apertada.
Levantamento do Datafolha divulgado na quinta-feira (7/12) mostrou que o
petista terminou 2023 com 38% de aprovação dos brasileiros. Outros 30%
da população consideram seu trabalho regular, e o mesmo número avalia
sua gestão como ruim ou péssima.
Para Nunes, as ações do governo Lula no primeiro ano focaram mais em
consolidar sua base de eleitores do que em tentar conquistar o eleitor
bolsonarista. Ele cita como exemplo o foco em políticas sociais como a
ampliação do Bolsa Família e a retomada do Mais Médicos, que atendem a
população de menor renda.
O cientista político acredita que o presidente tem pouco espaço para
conquistar três grupos que apoiam Bolsonaro: o eleitorado evangélico, o
segmento ruralista e aqueles bolsonaristas mais radicais com viés
autoritário.
Um quarto grupo, porém, seria mais suscetível a apoiar Lula – é o que
Nunes e Traumman no livro chamam de “empreendedores, uma classe média
urbana que gera empregos”. Na sua avaliação, programas como o Desenrola –
de renegociação de dívida – podem atrair a simpatia de parte desse
grupo para o governo.
‘Milei pode ser espantalho para direita’
Apesar do furor do campo bolsonarista com a vitória de Milei, o
professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes vê o risco de seu governo ter um
resultado negativo, a ponto de distanciar parte do eleitor brasileiro da
ultradireita.
Entre suas promessas mais radicais e de difícil execução estão o fim do Banco Central e
a dolarização da economia argentina. Durante a campanha, também
sinalizou para um afastamento de Brasil e China, os dois maiores
parceiros comerciais do país.
Após sua vitória, porém, Milei tem moderado o tom.
“É possível imaginar a relação oposta: em vez de a Argentina de Milei
servir de vitrine para ser emulada pelo Brasil no futuro, pode ser o
contrário: Milei pode ser um espantalho pra volta da ultradireita”,
pondera Belém.
Para o professor da UFMG, os indicadores econômicos brasileiros serão o fator determinante para a eleição de 2026.
“Se o Brasil conseguir manter um bom rendimento da sua economia, boas
condições socioeconômicas da sua população de modo geral, é difícil
imaginar que a oposição no Brasil consiga se viabilizar e ganhar a
eleição de 2026”, disse.
“É claro, a oposição está bem estruturada, vai conseguir vitórias
parciais no nível municipal, no nível estadual. Mas no nível Federal
teria que haver uma queda na performance do governo em relação ao que
está acontecendo em 2023. Pode, mas nada indica que vai”, acredita.
‘Consolidação da ultradireita’
Professora no departamento de Política e Governo da Universidade
Alberto Hurtado, em Santiago do Chile, a cientista política brasileira
Talita São Thiago Tanscheit vê a vitória de Milei como um sinal de
“consolidação” das forças de ultradireita na América Latina.
“Se a eleição de 2018 do Bolsonaro ocorreu sobre um processo de
ascensão da ultradireita na América Latina com um futuro ainda incerto,
eu acho que a eleição do Milei já não é sobre ascensão, é sobre
consolidação, na medida em que já existiram experiências de governo de
direita em outros países da região”, destaca.
“E, mesmo onde não foi governo, a ultradireita tem disputado a
eleição e tem conseguido parcelas significativas do eleitorado”,
reforça.
Ela cita como exemplos o caso do próprio Brasil, em que Bolsonaro
governou e perdeu a reeleição por uma margem pequena, o de El Salvador,
governado desde 2019 por Nayib Bukele, ou mesmo o do Chile, em que o
presidente de esquerda Gabriel Boric, eleito em 2022, sofreu forte queda
de popularidade e viu o campo conservador avançar.
Hoje, é a ultradireita, ressalta Tanscheit, que controla o Conselho
Constitucional chileno, eleito para escrever a nova Constituição do
país, depois que uma primeira assembleia de viés progressista teve seu
texto final rejeitado em votação popular. A nova proposta de
Constituição, agora em versão conservadora, será submetida à população
em 17 de dezembro.
Na sua leitura, o campo da ultradireita tem crescido na região
seguindo uma onda global de “frustração com as promessas não cumpridas
da democracia ou com aquilo que as pessoas achavam que a democracia
deveria cumprir”, o que resultou em desconfiança na política e nas
instituições.
Para Tanscheit, cada vez mais as disputas eleitorais na América
Latina terão como um dos polos de disputa a ultradireita, que vem
mobilizando o campo conservador no lugar antes ocupado por uma direita
mais moderada.
Na sua visão, o campo bolsonarista será competitivo na disputa
presidencial de 2026, mesmo com Jair Bolsonaro impedido de se
candidatar, após ter sido condenado pela Justiça Eleitoral.
Já o campo de Lula terá mais força caso seu governo entregue
resultados efetivos, especialmente para a população mais pobre, avalia.
“A ultradireita segue viva com uma presença importante na Câmara de
Deputados, no Senado Federal, e com os governo estaduais de São Paulo e
de Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do Brasil. O que
está em aberto é quem será o líder desse campo político (em 2026), mas
que eles vão ser competitivos não tenho nenhuma dúvida”, prevê.
“Agora, a Lula e à esquerda cabe fazer um bom governo. Fazendo um bom
governo, com benefícios especialmente para a população mais pobre,
diminui as chances dessas aventuras acabaram sendo vitoriosas”, avalia.
A antiga controvérsia entre os dois países pelo
território chamado Essequibo – que a Venezuela afirma ter sido
erroneamente tomado por uma sentença arbitral emitida em 1899 e, na
verdade, representa dois terços do território da Guiana – provocou uma
profunda crise entre os dois vizinhos
Em 1966, as partes se comprometeram a buscar uma solução prática e satisfatória para a controvérsia, por meio do chamado Acordo de Genebra.
Mas, como o mecanismo amigável não permitiu que se chegasse a uma
solução, mais de um quarto de século depois, a Guiana solicitou que o
caso fosse levado para a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que
emitirá uma decisão sobre a disputa.
Paralelamente, a Guiana começou a outorgar concessões de exploração
de petróleo em águas não delimitadas, sobre as quais a Venezuela
acredita ter direito.
No último dia 3 de dezembro, o governo do presidente venezuelano
Nicolás Maduro realizou um referendo sobre Essequibo. E, após o anúncio
dos resultados favoráveis, vem promovendo uma lei que permita a anexação
do território à Venezuela.
Este anúncio causou preocupação na Guiana. O presidente do país,
Irfaan Ali, declarou que suas forças de defesa se encontram em alerta
total e em comunicação com o Comando Sul dos Estados Unidos.
Maduro também acusou a petrolífera norte-americana ExxonMobil,
principal produtora de petróleo na Guiana, de financiar políticos da
oposição venezuelana.
De fato, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, ordenou
a detenção de 14 pessoas (incluindo diversos políticos opositores)
acusadas de traição à pátria por uma suposta “trama de financiamento e
conspiração relacionada à ExxonMobil contra a Venezuela”.
A empresa norte-americana afirmou que a acusação é ridícula e sem
fundamento. E diversos analistas defendem que as ações de Maduro em
relação a Essequibo são parte de uma tentativa de enfraquecer a oposição
venezuelana antes das eleições presidenciais do país, previstas para
2024.
Neste contexto, a BBC News Mundo – o serviço em espanhol da BBC –
conversou com Sadio Garavini di Turno. Ele foi embaixador da Venezuela
na capital da Guiana, Georgetown, entre 1980 e 1984.
Garavini se dedicou ao estudo do conflito territorial sobre Essequibo
durante décadas, não só como diplomata, mas também como acadêmico.
O ex-embaixador é doutor em Ciência Política, professor universitário
e autor de diversas publicações sobre a política externa da Venezuela e
da Guiana. Confira a entrevista abaixo.
BBC News Mundo: O governo de Nicolás Maduro anunciou que irá
criar um Estado venezuelano em Essequibo e conceder concessões de
petróleo no território controlado pela Guiana. Como se explica isso?
Sadio Garavini di Turno: Isso é ridículo em nível internacional porque, obviamente, o que isso significa?
Maduro nomeou um general como encarregado pela defesa da Guiana
Essequiba, mas com sede em Tumeremo, que é uma cidade venezuelana no sul
do Estado de Bolívar. Ele decidiu que a PDVSA [Petróleos de Venezuela
S. A.] irá contar com uma filial para investir na Guiana Essequiba.
Bem, a pergunta é: como irá fazer? Isso evidentemente implicaria uma ação de força.
Em relação à PDVSA, a empresa não tem dinheiro sequer para investir
na “Venezuela atual” e gostaria de ver se ela tem fundos para fazê-lo em
águas marítimas e submarinas na costa de Essequibo.
BBC: Por que a Venezuela assume agora esta atitude?
Garavini: Tudo isso é uma manobra de política
interna frente a um tema de caráter internacional, para tentar mostrar
que está fazendo algo em relação à reivindicação de Essequibo depois do
referendo – que foi outra manobra de política interna para tentar fazer
cair no esquecimento o sucesso da oposição nas eleições primárias.
Em termos internacionais, a única forma de exercer a soberania sobre a
Guiana Essequiba da forma em que estão dizendo, que irão fazer um novo
mapa da Venezuela incluindo Essequibo, antes uma região reivindicada,
bem, deveria ser uma ação militar para exercer a soberania sobre o
território.
BBC: É possível essa ação militar?
Garavini: Acredito que as Forças Armadas
venezuelanas não têm capacidade de fazê-lo, devido ao desastre em que se
encontram. Além disso, não existem estradas e, por isso, elas deveriam
seguir através da floresta, desembarcar por mar ou enviar paraquedistas,
o que implica em total incapacidade.
Na verdade, do ponto de vista internacional, o que estão fazendo é
algo irresponsável, pois nos prejudica muito na Corte Internacional de
Justiça, onde o assunto está em andamento.
O que o governo deveria fazer seria preparar-se para defender os direitos da Venezuela na Corte Internacional de Justiça.
BBC: Qual é a importância de Essequibo para a Venezuela?
Garavini: Para a Venezuela, é fundamental defender a
saída ao Atlântico, a projeção da sua zona econômica exclusiva e sua
plataforma continental, não apenas a gerada pela reivindicação de
Essequibo, mas a do Delta Amacuro [Estado venezuelano localizado no
extremo nordeste do país, em frente ao Oceano Atlântico e ao lado de
Essequibo].
A Guiana demarcou arbitrariamente uma linha que supostamente assinala
a fronteira com a Venezuela e que não é aceitável, porque cerceia a
nossa projeção na zona econômica exclusiva e a plataforma continental do
Estado Delta Amacuro. É isso é inaceitável.
Em termos de Essequibo propriamente dito, é preciso recordar que ele
representa dois terços do território que a Guiana considera seu,
controla e administra desde a sentença arbitral de 1899.
O Acordo de Genebra fala em uma solução prática e satisfatória para ambos.
Se precisássemos chegar a um acordo com base nele, é óbvio que um
acordo satisfatório para a Guiana nunca contemplaria a entrega de dois
terços do seu território. É preciso entender isso com uma boa leitura do
Acordo de Genebra.
O que se pode conseguir com o Acordo de Genebra é uma compensação
territorial sensata que, certamente, é muito difícil de definir de comum
acordo entre as duas partes. Portanto, muito provavelmente, será
necessária a intervenção de um terceiro.
Por isso, destaco as áreas marítimas e submarinas de uma região rica
em petróleo e nem tanto o território em si, pois, segundo o Acordo de
Genebra, obviamente apenas uma parte dele poderia retornar à Venezuela.
BBC: Como essa delimitação marítima feita pela Guiana prejudica a Venezuela?
Garavini: Ela cerceia centenas de milhares de
quilômetros quadrados de áreas marítimas e submarinas, ricas em
petróleo, gás e pesca, além da própria saída para o Atlântico. Se essa
linha for aceita, deveríamos pedir permissão para sair ao Atlântico, o
que é evidentemente inaceitável.
Mas isso tem relação secundária com a questão de Essequibo. Tem
relação porque a Guiana traçou essa linha de forma arbitrária a partir
de Punta Barima, que é o limite do território de Essequibo. Mas isso
deverá ser debatido no final.
É irresponsabilidade do governo de Maduro desconhecer a Corte
Internacional de Justiça. Agora, o governo está dizendo que a CIJ está a
mando da Exxon.
Ali, na Corte Internacional de Justiça, é onde precisaremos resolver o
problema da delimitação de áreas marítimas e submarinas, depois que for
solucionada a questão de Essequibo.
BBC: Qual mecanismo ou estratégia a Venezuela deveria usar para fazer valer os direitos que afirma ter sobre Essequibo?
Garavini: Agora, já não há alternativa.
As pessoas não entendem que dois secretários-gerais das Nações Unidas
e o último mediador decidiram levar o tema à Corte Internacional de
Justiça.
Se não houver acordo entre as partes, o Acordo de Genebra concede ao
secretário-geral a capacidade de decidir qual mecanismo de solução
pacífica de controvérsias deve ser aplicado. Por isso, não há por onde
fugir, do ponto de vista do direito público internacional.
Precisamos nos defender na Corte Internacional de Justiça e o governo
não está fazendo sua tarefa, que consiste em preparar nossas
argumentações, para defender nossos direitos.
Temos argumentos para demonstrar que a sentença arbitral de 1899 foi
injusta, como produto de um acordo político entre o presidente russo e
os dois membros britânicos do tribunal. É isso que deveríamos fazer com
os maiores especialistas nacionais e internacionais.
BBC: A comunidade internacional parece apoiar o status quo
atual. A Guiana afirma que conta com o apoio da OEA, do Caricom (a
Comunidade do Caribe), da Comunidade Britânica, dos EUA e do Reino
Unido, entre outros. Por que não se ouvem outras vozes apoiando a
Venezuela?
Garavini: A Guiana sempre contou com o apoio do
Caricom e da Comunidade Britânica de Nações. A sede do Caricom está em
Georgetown e a Guiana é membro da Commonwealth.
Mas o restante, a imensa maioria da comunidade internacional, não
apoia a Guiana. Ela apoia que o problema seja solucionado pacificamente
na Corte Internacional de Justiça, como já decidiram dois
secretários-gerais da ONU, segundo o Acordo de Genebra.
A campanha de desinformação do governo de Maduro faz crer que o
Acordo de Genebra é uma coisa e a Corte Internacional de Justiça é
outra. Mas estamos na Corte Internacional de Justiça devido ao Acordo de
Genebra.
BBC: Afirma-se que a estratégia de evitar a CIJ e tentar
resolver a disputa com a Guiana de forma bilateral é a que mais convém à
Venezuela. Neste caso, não seria lógico que Maduro tentasse evitar ir à
CIJ?
Garavini: Claro, mas devia ter feito isso muito antes.
O gravíssimo erro do governo venezuelano ocorreu em dezembro de 2013,
quando a então chanceler da Guiana, Carolyn Rodrigues-Birkett, afirmou
que, depois de 26 anos de negociações bilaterais assistidas pelo
mediador e muitos anos mais desde o Acordo de Genebra, havia chegado o
momento de encerrar a delimitação do território, em suas áreas marítimas
e submarinas, e definir de uma vez a controvérsia.
Por quê? Porque, entre 2010 e 2013, houve as grandes descobertas de
riquezas na Guiana, foram feitas as grandes concessões, houve a crise do
Teknik Perdana – o famoso navio de exploração sísmica petrolífera que
foi detido pela marinha venezuelana – e a Guiana disse “basta”. E foi
falar com o secretário-geral da ONU para solicitar o encaminhamento à
CIJ.
O gravíssimo erro da Venezuela foi insistir obstinadamente com o
secretário-geral, dizendo que queríamos continuar com a negociação
bilateral assistida por um mediador.
Como esse mecanismo não havia funcionado, se nos colocarmos no lugar
do secretário-geral, entenderemos por que ele deu razão à Guiana e não à
Venezuela.
O que a Venezuela deveria ter feito seria propor uma mediação, uma
conciliação ou arbitragem, ou seja, recorrer a outros meios de solução
pacífica de controvérsias previstos na Carta da ONU e que não contemplam
a CIJ, que é mais conveniente para a Guiana.
Quando existe uma mediação, as partes procuram uma solução justa e
prática. Na CIJ, o tema é estritamente jurídico. Ali será definido se a
sentença arbitral de 1899 é ou não válida. E demonstrar isso é muito
caro e complicado.
É um tema que nós sempre quisemos evitar. Quando existe algo julgado, os juízes tendem a defender que o assunto foi encerrado.
Nós temos o argumento de que foi assinado o Acordo de Genebra e, por
isso, é preciso buscar uma solução prática, mas é o que nós deveríamos
ter promovido.