quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

MOVIMENTOS DO GOVERNO NA ÁREA FISCAL COLOCAM EM ALERTA AS CONTAS PÚBLICAS

Economistas ouvidos pelo ‘Estadão’ apontam perda de transparência e ‘irrealismo’ orçamentário em meio a medidas que alteram a contabilidade e modificam nova regra fiscal; Fazenda nega.

Por Bianca Lima, Luiz Guilherme Gerbelli e Adriana Fernandes – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Governo e Congresso têm feito movimentos na área fiscal que já colocam em alerta os especialistas em contas públicas. Economistas ouvidos pelo Estadão apontam perda de transparência e “irrealismo” orçamentário em meio a propostas que alteram a contabilidade federal e modificam o novo arcabouço fiscal, antes mesmo de a regra entrar plenamente em vigor. Há quem veja, inclusive, contabilidade criativa.

No rol de medidas, as mais recentes são a tentativa de reduzir o bloqueio de gastos em 2024, para “blindar” os investimentos e emendas em ano de eleição municipal, e a engenharia financeira para viabilizar um novo programa voltado a alunos de baixa renda do ensino médio. A medida educacional é vista como meritória e de custo fiscal relativamente baixo, mas recebe críticas por já ter nascido fora do limite de gastos (leia mais abaixo).

Por enquanto, essas propostas vêm sendo ofuscadas por um cenário externo mais favorável, devido à perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos e na Europa nos primeiros meses de 2024. Isso aumenta o apetite de investidores estrangeiros por ativos emergentes, incluindo o mercado acionário brasileiro – que deve ter o melhor novembro, em saldo de recursos estrangeiros, desde 2020.

Ex-secretário do Tesouro, Kawall vê tentativa de andar para trás no processo de aperfeiçoamento da contabilidade do País.
Ex-secretário do Tesouro, Kawall vê tentativa de andar para trás no processo de aperfeiçoamento da contabilidade do País. Foto: Oriz Partners

O problema, alertam os economistas, será quando essa maré baixar e as fragilidades fiscais – e suas consequências – ficarem mais evidentes. Na avaliação de Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, existe uma tentativa de andar para trás no caminho trilhado ao longo dos últimos anos, de aperfeiçoamento da contabilidade do País.

“Isso não ajuda. A gente já tem uma regra fiscal mais frouxa (o arcabouço, na comparação com o antigo teto de gastos). E agora não temos mais certeza do compromisso do governo com a regra, pelos comentários do presidente (Lula) sobre o contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas)”, afirma Kawall, sócio fundador da Oriz Partners.

“É uma direção errada e contrária ao que houve desde o impeachment (de Dilma Rousseff), em que se buscou o aumento da transparência da contabilidade pública”, diz o economista. No fim de outubro, Lula afirmou a jornalistas que o governo “dificilmente” cumpriria a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024, uma vez que não havia disposição para cortar investimentos.

A fala evidenciou o embate fiscal entre as alas política e econômica e exigiu articulação por parte do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que saiu vitorioso. A meta zero foi mantida, mas com o compromisso de que o contingenciamento ficaria em torno de R$ 23 bilhões – praticamente metade do montante inicialmente previsto, de R$ 53 bilhões.

A saída foi costurada no Congresso Nacional, com o líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), apresentando uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A sugestão feita ao relator da proposta, deputado Danilo Forte (União-CE), é de que o aumento real (acima da inflação) mínimo das despesas, de 0,6%, esteja garantido mesmo que isso signifique não cumprir a meta. Na prática, isso leva a um bloqueio menor de gastos.

Como antecipou o Estadão na última sexta-feira, porém, Forte já disse que vai rejeitar a emenda. “Não quero ser responsável pelo desequilíbrio financeiro do País nem pela insolvência fiscal”, disse o relator, desmentindo Haddad, que horas antes havia dito que o deputado negara a possibilidade de rejeição.

Para Marcos Mendes, pesquisador do Insper, o governo vem apostando em “manobras”. “Não tem como não pensar na contabilidade criativa do período Dilma. O que era? Tira isso do resultado primário (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida); tira aquilo da dívida líquida. Ou seja, massagear a contabilidade para apresentar números que não refletem a realidade”, afirma.

Mendes avalia que as práticas fiscais que considera “criativas” por parte do governo e do Congresso começaram ainda no final de 2022, com a PEC da Transição. A Proposta de Emenda à Constituição determinou que recursos do PIS/Pasep transferidos ao Tesouro fossem contabilizados como receita primária, “na contramão da boa prática contábil”, segundo o economista.

Isso gerou uma discrepância contábil entre o Banco Central e o Tesouro Nacional em relação ao déficit primário. Pelo Tesouro, que usa os valores como receita primária, a expectativa de déficit em 2023 é de 1,7% do PIB. Já pelo Banco Central, que não segue a nova sistemática, a projeção de rombo é maior: 1,9% do PIB.

Arcabouço perde força

economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, avalia que há um viés expansionista na política fiscal, mesmo com um arcabouço que já definiu os limites de gastos. Como exemplo, ele cita o novo programa de incentivo à permanência do estudante do ensino médio na sala de aula, o poupança jovem.

“Em que pese a pertinência do programa, a decisão não foi a de achar uma alternativa dentro do arcabouço. Mas de ajustar o arcabouço para caber o novo programa. É diferente”, diz Megale. “Foi proposto um ajuste no arcabouço, ao invés de seguir as limitações da regra”, ressalta.

Questionado pelo Estadão, o Ministério da Fazenda afirmou que o “Congresso Nacional possui a atribuição de fixar os limites orçamentários, e autorizou a ampliação, respeitando todas as demais regras”. Segundo a pasta, “tecnicamente, não há questionamentos sobre o procedimento, já que não há nenhuma vedação ou mudança contábil nisso”.

Para Megale, economista-chefe da XP, movimentos evidenciam viés expansionista da política fiscal.
Para Megale, economista-chefe da XP, movimentos evidenciam viés expansionista da política fiscal.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Megale destaca, porém, que esta não é a primeira vez. Segundo ele, o crescimento das despesas em 2024 deveria ser menor que os 2,5% previstos e o limite de contingenciamento maior, caso fossem seguidas as diretrizes iniciais.

A discussão sobre a flexibilização da meta de déficit zero e a tentativa de reduzir o contigenciamento vão na mesma direção. Para ele, esses movimentos evidenciam o viés expansionista da política fiscal para, “sempre que preciso, ajustar o arcabouço para acomodar um gasto a mais”.

O economista da XP considera que esse cenário reduz a força do arcabouço recém-criado como “âncora das expectativas”, o que pode impactar as estimativas de inflação de médio prazo. “Os agentes econômicos acabam colocando isso nas suas projeções, o que acaba por limitar o espaço do Banco Central para cortar juros”.

Megale destaca que o País terá um ou dois semestres de crescimento mais baixo, e essa percepção de desaceleração pode levar a um aumento da pressão por estímulos econômicos. Nesse ambiente, ele antevê que o ruído em cima da política econômica tende a aumentar.

Em relação aos limites de contingenciamento, a Fazenda afirmou em nota que “não há qualquer alteração contábil ou fiscal envolvida”.

Fumaça e lacração

Nos bastidores, integrantes da equipe econômica são enfáticos ao rejeitar a avaliação de que o governo tenta fazer “gambiarra” no arcabouço ao querer atrelar o limite de contingenciamento ao piso de 0,6% de alta real (acima da inflação) das despesas.

No entendimento da equipe do ministro Haddad, o parecer jurídico da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que dá essa interpretação, foi assinado por dois dos melhores procuradores da Casa. Além disso, segundo interlocutores, isso não muda em nada o compromisso de responsabilidade fiscal e a busca pelo déficit zero, que foi defendido pelo ministro e mantido pelo presidente Lula.

Um ponto que vem sendo citado pelos integrantes da cúpula da Fazenda é que os próprios analistas do mercado não estavam projetando nas suas contas um contingenciamento expressivo, em torno de R$ 53 bilhões, e que tem havido “muita fumaça por nada e tentativa de lacração” em torno do limite do bloqueio.

Era Arno

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Se na cúpula da Fazenda há confiança no caminho que vem sendo adotado e até otimismo de que as medidas para aumento de arrecadação, mesmo desidratadas, serão aprovadas, entre técnicos entrou no radar a preocupação de que pressões por resultados rápidos promovam mudanças de rota e levem o governo a buscar soluções “criativas” para as contas públicas.

O temor, que é citado entre técnicos experientes, é com a volta da chamada “era Arno”. Uma referência ao ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, que patrocinou uma série de manobras fiscais que minaram a credibilidade da política fiscal do governo Dilma Rousseff.

Confira abaixo algumas das principais preocupações listadas pelos especialistas em contas públicas:

1. Regra do contingenciamento

Economistas veem uma tentativa do governo de “reinterpretar” a lei do arcabouço fiscal para viabilizar um contingenciamento menor em 2024 e, assim, não restringir os investimentos em ano eleitoral. Pela regra atual, sancionada pelo presidente, o governo pode contingenciar até 25% das despesas discricionárias previstas para o ano, o que somaria R$ 53 bilhões em 2024.

A equipe econômica liderada por Haddad busca, porém, reduzir esse valor para R$ 23 bilhões. A saída foi apresentar uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de autoria do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, atrelando o limite de contigenciamento à regra do piso de gastos, que prevê um crescimento mínimo real das despesas de 0,6%. Dessa maneira, o bloqueio seria reduzido para o montante desejado.

2. Financiamento do programa voltado ao ensino médio

A liderança do governo no Senado articulou a aprovação de um projeto de lei complementar que retira do limite de gastos de 2023 as despesas com o novo programa do ensino médio, que tem o objetivo de reduzir a evasão escolar. O projeto também foi relatado pelo senador Randolfe Rodrigues e agora será analisado pela Câmara dos Deputados.

Antes dessa aprovação, o governo editou uma Medida Provisória criando um fundo privado gerido pela Caixa Econômica Federal, com valor de até R$ 20 bilhões, com o objetivo de abastecer esse novo programa. O desenho do fundo rendeu críticas de especialistas em contas públicas, já que abre caminho para aportes via ações de estatais e por meio de receitas obtidas com leilões do pré-sal.

Em nota, o Ministério da Fazenda afirma que a possibilidade de prever contrapartidas ao fundo nos leilões de petróleo não é uma inovação. “Mecanismo de contrapartidas adicionais às outorgas foram usados nos leilões de 5G no ano passado, além de várias concessões realizadas nos últimos anos no Brasil. O mecanismo foi validado pelo TCU e nunca foi considerado como quebra de regras fiscais ou contábeis”, diz a pasta.

Além disso, o ministério ressalta que a possibilidade de aporte de participações acionárias “é praxe na lei de criação de fundos e não há nisso nenhum tipo de implicação nem alteração contábil”. Segundo a Fazenda, isso já ocorre de longa data – constituindo um exemplo o Fundo Garantidor de Exportações –, “sem que se tenha tido qualquer problema ao longo do tempo”.

3. Juros dos precatórios como despesa financeira

Em meio à tentativa de regularizar a situação dos precatórios, dívidas judiciais que passaram a ser roladas após a aprovação da chamada PEC do Calote, a equipe econômica, ao pedir ao Supremo autorização para quitar os débitos, solicitou aval para uma mudança contábil.

A ideia era registrar os juros dessas dívidas como despesa financeira, ou seja, sem entrar na contabilidade do resultado primário, levado em conta para a meta fiscal. O pedido não foi acolhido pela Corte. Mas, na prática, a decisão do relator, ministro Luiz Fux — de permitir o uso de crédito extraordinário (fora do teto e da meta) até 2026 — dá tempo para governo e Congresso discutirem esse ponto.

 

PETISTAS TÊM MEDO DO SURGIMENTO DA LAVA JATO NA NOMEAÇÃO DE PAULO GONET PARA A PGR

 

Petistas criticam indicação de Gonet como novo procurador-geral e temem que uma nova aliança entre os potentes do Planalto recrie as condições de isolamento do partido

Por Marcel Godoy – Jornal Estadão

Lula está sorridente na fotografia. Exibe os polegares em sinal de positivo entre o subprocurador-geral Paulo Gonet e o ministro da Justiça, Flávio Dino, seus indicados à Procuradoria Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, respectivamente. A imagem, que simbolizaria o espírito conciliador de um presidente que se equilibra entre os seus interesses e os do STF e do Senado, despertou, para os companheiros de Lula, um receio: o fantasma da Lava Jato.

Lula indica ministro Flavio Dino para vaga no STF e procurador Paulo Gonet para comandar PGR
Lula indica ministro Flavio Dino para vaga no STF e procurador Paulo Gonet para comandar PGR Foto: RICARDO STUCKERT PRESIDENCIA DA REPUBLICA

Ele ronda o PT desde o começo do terceiro mandato lulista e virou tema de conversas na legenda a partir das recentes escolhas institucionais do presidente. A ameaça não é nova ou estranha. Petistas temem que uma nova aliança entre os potentes do Planalto recrie as condições de isolamento do partido.

“A Lava Jato não foi um desvio do Moro, mas uma concepção que fazia da Justiça um instrumento político”, disse José Genoino. O ex-presidente do partido é uma das vozes que alertam para o risco da nomeação de Gonet para a Procuradoria Geral da República. “Quando se pega um procurador-geral com uma concepção lavajatista – concepção de Ministério Público e de Direito Penal – a qualquer momento, dependendo das circunstâncias, pode surgir (o fantasma da Lava Jato). Em que momento pode aparecer, não sei, mas que é um problema, é.”

É conhecida a diferença entre o PT institucional e o PT social. O historiador Lincoln Secco a retrata em seu livro História do PT. “Há uma relação inversamente proporcional entre a importância interna da linguagem radical e a influência na sociedade.” Genoino ocupou cargos que o aproximavam de posições institucionais da legenda. Hoje, dedica-se a escrever livros – vai lançar um sobre a Constituinte – e diz que voltou à base. É ali que as desconfianças sobre Gonet são maiores. Muitos se recordam das decisões de Gilmar Mendes na Lava Jato e do papel do ministro como apoiador da candidatura de Gonet à PGR.

Na oposição, há quem veja uma forma de se verificar se os receios do PT são verdadeiros. Bastaria acompanhar as manifestações de Gonet nos inquéritos do STF sobre a venda de joias e sobre a falsificação de certificados de vacinas, envolvendo Jair Bolsonaro. Gonet decidirá se denuncia ou não o ex-presidente e se o processo deve prosseguir no STF ou na primeira instância. Lula teve o direito de ver seus casos analisados por quatro instâncias judiciais. Por que agora Bolsonaro, sem foro especial por prerrogativa de função, não teria o mesmo direito?

Moro diria que o fantasma da Lava Jato ronda só os corruptos. Mas a história mostra que esse espectro também pode surgir onde a Justiça é condicionada por interesses políticos.

VENEZUELA AMEAÇA INVADIR A GUIANA E TOMAR POSSE DE ESSEQUIBO

 

Resultado de plebiscito a favor da anexação de Essequibo eleva o temor de conflito militar entre as duas nações; campanha seria complexa e colocaria em risco a ditadura de Nicolas Maduro em caso de derrota

Por Luiz Henrique Gomes – Jornal Estadão

escolha da Venezuela a favor da anexação de Essequibo, área rica em petróleo que corresponde a 70% do território da Guiana, elevou a crise e o temor de um conflito militar entre as duas nações. Apesar de desiguais em poder bélico, com a vantagem para a Venezuela, circunstâncias como a geografia da região e a chance de auxílio americano à Guiana aumentam os riscos para Caracas. E, em caso de uma derrota, a ditadura de Nicolás Maduro estaria ameaçada.

A começar pela separação entre teoria e prática. No papel, as Forças Armadas da Venezuela têm uma capacidade militar considerável na região. Segundo o Anuário Militar de 2023 do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, de Londres), são 123 mil militares na ativa, mais 220 mil paramilitares e equipamentos obtidos da Rússia e da China, duas potências militares globais. Não se sabe, no entanto, se a prática reflete a teoria.

Na análise do professor da ESPM e pesquisador em segurança internacional, Gunther Rudzit, dois aspectos internos colocam a capacidade militar da Venezuela em xeque: a contínua crise econômica do país, que comprometem o uso dos equipamentos; e a atuação militar no governo desde à chegada de Hugo Chávez (1999), que tornou as forças do país mais objetos de sustentação de poder do que de defesa.

Sobre o primeiro aspecto, Rudzit relembra os relatos que indicavam que apenas 2 da frota de 24 caças Sukhoi Su-30, de fabricação russa, estavam aptos para voar três anos atrás. “Ter no papel não significa que eles estejam em condições de combate. Eu tenho muitas dúvidas nessa prontidão operacional desses números que a Venezuela”, afirmou.

Sobre o segundo, o analista destaca o aumento no número de generais no Exército Nacional da Venezuela desde o primeiro governo chavista até o atual, como exemplo de transformação da força. Eram mil generais em 2019. O Brasil, em comparação, possui 175. “Os militares deixaram de ser forças armadas clássicas para participar do governo e ter privilégios, em controle de cargos e empresas. Não é possível afirmar que haja uma experiência em campo”, disse.

Mesmo com essas particularidades, uma comparação com a Guiana coloca a Venezuela em vantagem militar. O país de 750 mil habitantes conta com apenas 3,4 mil soldados, dos quais metade estão em funções na segurança pública. Ou seja, são policiais, sem treinamento de combate. O país também tem poucos equipamentos militares. São seis blindados brasileiros Cascavel-EE9, fabricados pela extinta Engesa em 1984.

Mas, antes de ser dada como vencida, a Guiana tem a seu favor outros fatores.Circunstâncias não-militares e externas

Uma invasão militar venezuelana para a tomada de Essequibo significaria adentrar na selva tropical densa que domina a região. É unanimidade entre analistas que geografias do tipo tornam quase impossível o uso de equipamentos basilares para a tomada de territórios, como veículos blindados. Uma alternativa seria adentrar no território brasileiro e seguir até Georgetown, a capital da Guiana, mas essa é uma possibilidade remota.

O Ministério da Defesa afirmou ter intensificado a presença militar no norte e monitora a crise nos países vizinho e prepara o envio de 20 blindados a Pacaraima, em Roraima, próxima a fronteira com a Venezuela. “Os militares deixam bem claro que não será possível a Venezuela adentrar no território brasileiro para contornar a selva”, disse Rudzit.

Maduro teria a alternativa de um ataque aerotransportado aos centros urbanos da Guiana e um desembarque anfíbio pelo Caribe. Em teoria, tem equipamentos para isso. Mas aí está outra circunstância a ser colocada na balança: a chance de ajuda dos EUA. Essequibo tem uma forte presença de empresas estrangeiras a explorar o petróleo, com a americana ExxonMobil sendo a mais atuante

Os militares americanos e guianenses se reuniram nos dias 27 e 28 de novembro, vésperas do plebiscito da Venezuela, para “discutir os próximos compromissos para incluir sessões de planejamento estratégico e processos para melhorar a prontidão militar e as capacidades de ambos os países para responder a ameaças à segurança”, de acordo com nota da embaixada americana em Guiana.

O quanto os americanos estão dispostos a enviar tropas para ajudar a Guiana é algo que não se sabe. Mas, segundo o analista Gunther Rudzit, a ajuda externa é uma carta que a Venezuela não possui. A Rússia, sua principal aliança militar, está envolvida por completo na invasão à Ucrânia. “É algo que precisa ser considerado quando se pensa no conflito por todas as partes, sem dúvidas”, disse.

Riscos reais de guerra declarada

As circunstâncias relacionadas à Essequibo levantam a pergunta se existe chance ou não de guerra entre os dois países. “Sempre existe o risco de guerra, principalmente quando falamos de uma ditadura, como é o caso da Venezuela. A democracia tem pesos e contrapesos que limitam essa capacidade de entrar em guerra, apesar de não significar que são pacíficas”, declarou Rudzit.

O analista acha mais provável, no entanto, que a agenda em torno da região esteja mais ligada a mobilizar sentimentos nacionalistas nas vésperas da eleição e conquistar apoio interno. Não é raro que isso aconteça: a Guerra das Malvinas é exemplo histórico na Argentina.

Imagem mostra ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, agradecendo aos apoiadores após o resultado do plebiscito a favor da anexação de Essequibo. Analistas afirmam que plebiscito pode servir para reunir apoio interno nas vésperas das eleições
Imagem mostra ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, agradecendo aos apoiadores após o resultado do plebiscito a favor da anexação de Essequibo. Analistas afirmam que plebiscito pode servir para reunir apoio interno nas vésperas das eleições Foto: Pedro Rances Mattey/AFP

Nas vésperas da invasão às ilhas de propriedade britânica, em 1982, a ditadura argentina sofria os maiores protestos contrários a ela. Ao invadir e entrar em guerra com o Reino Unido, a população argentina se uniu e protestos a favor da Argentina, e, como consequência, do governo, começaram a aparecer.

Mas a guerra foi perdida pela Argentina e no ano seguinte a ditadura caiu. O exemplo, disse Rudzit, pode ser mais um alerta para Nicolás Maduro. “A derrota das Malvinas enfraqueceu a ditadura da Argentina. Derrotas militares abalam o poder. A Venezuela corre o mesmo risco, considerando a forte presença militar como sustentação de sua ditadura”, concluiu.

SINGAPURA TEM MUITO A ENSINAR A OUTROS PAÍSES

 

 João Lara Mesquita

 11 de outubro de 2023

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Singapura aumenta seu litoral na contramão do mundo: entenda como

Achei interessante quando vi uma matéria sobre um pequeno país que está fazendo o oposto do mundo. Enquanto a maioria dos países à beira-mar perde terreno para a erosão, acirrada por eventos extremos e aumento do nível do mar, Singapura está aumentando o seu. Situada no Sudeste Asiático, a cidade-Estado tem uma área pequena, cerca de 618 km² de extensão, na maior ilha da península da Malásia, entre a Tailândia e Indonésia. E, além do feito de produzir milionários em série, é o único país até agora a conseguir aumentar seu território ‘alargando’ o litoral. Como é possível? Quem explica é a Bloomberg.

mapa de Singapura.

A luta contra os elementos para economizar US$ 50 bilhões em imóveis

Antes de mais nada, alguns dados sobre como este país, sem recursos naturais e que só  conseguiu sua independência do Império Britânico em 1965, logrou ser hoje uma potência econômica.

Saiba que desde a independência Singapura cresce a uma média de 7,5% ao ano. Seu PIB per capita é 3,5 vezes maior do que o da Malásia, 2,2 vezes maior que o do Reino Unido e 6,6 vezes maior do que o do Brasil.⠀

Singapura é uma cidade verde
Segundo o Euronews, Singapura começou a estabelecer as suas credenciais verdes em 1967, declarando que se tornaria uma “cidade jardim”. Em outras palavras, eles plantam em vez de desmatar.

Lee Kuan Yew, primeiro-ministro que governou desde a independência até 1990, dá a receita: “Abandonamos o modelo de industrialização baseado no protecionismo. Enquanto a maioria dos países do Terceiro Mundo denunciava a exploração das multinacionais ocidentais, nós as convidamos para ir a Singapura. Conseguimos crescimento, tecnologia e conhecimento científico. Estes predicados dispararam nossa produtividade de uma maneira mais intensa e acelerada do que qualquer outra política econômica alternativa poderia ter feito.”

Não resisto em chamar a atenção para o Brasil estatizante de Lula da Silva. De acordo com o site Heritage, ‘A pontuação de liberdade econômica de Singapura é de 83,9, tornando a sua economia a 1ª mais livre no índice de 2023. Enquanto isso, no mesmo período, a pontuação do Brasil é de 53,5, ou o 127º lugar.

A Singapura verde
Imagem, Euronews.

A façanha mais recente

Posto isto, vamos à mais recente façanha. De acordo com a Bloomberg, desde que conquistou a independência, Singapura tem batalhado para aumentar seu território, centímetro por centímetro, com muita dificuldade. Na ponta da península da Malásia, essa cidade-estado foi juntando areia pra expandir a beira do mar e ganhar terra do oceano.

Nesse tempo, Singapura cresceu em tamanho, ficando um quarto maior e ganhando mais do que o dobro do tamanho de Manhattan. E ainda querem mais: planejam crescer mais 4% até 2030. Isso é incrível, especialmente considerando que muitas outras áreas costeiras estão encolhendo por causa das mudanças climáticas.

“Não pretendemos perder permanentemente nenhum centímetro de terra”

A afirmação é de Ho Chai Teck, vice-diretor da PUB, a agência governamental que coordena o esforço para salvar a costa. “Singapura construirá uma linha contínua de defesa ao longo da costa. Isso é algo que levamos muito a sério” (é triste saber que Marina Silva permite acontecer o contrário).

Só para ter uma ideia, saiba que quase um terço do país está a menos de 5 metros acima do nível do mar! E olha só, segundo a Bloomberg, algumas das propriedades mais caras estão em áreas vulneráveis, tipo os arranha-céus em Marina Bay, conhecida por seu luxuoso shopping center e cassino, e as torres que abrigam bancos gigantes.

Bloomberg estima, com base em dados da empresa de imóveis CBRE Group Inc., que as propriedades de alto padrão na cidade valem incríveis US$ 50 bilhões! E o professor Benjamin Horton, da Universidade Tecnológica de Nanyang em Singapura, explicou à agência de notícias:

“O valor real de cada metro quadrado é extraordinário. Este é um país mais suscetível à subida do nível do mar do que praticamente qualquer país do mundo.”

Tanques para retenção de água
Tanques para retenção de água no centro comercial.

Desse modo, em 2019, o primeiro-ministro Lee Hsien Loong disse que Singapura precisaria  gastar 100 bilhões de dólares (de Singapura) nos próximos 100 anos para se proteger contra a subida do nível do mar. Desde então, o governo destinou 5 bilhões de dólares (de Singapura) para um fundo de proteção costeira e contra inundações.

Um dia de passeio de bicicleta pelos caminhos costeiros de Singapura, diz a Bloomberg,  irá levá-lo a passar por arranha-céus brilhantes e represas pitorescas, praias e manguezais – cenas diversas que deixam claro como o país deve adaptar cuidadosamente a sua abordagem.

A  Marina Barrage

Uma das soluções é uma barragem chamada Marina Barrage (vale visitar o site da barragem). No interior, sete bombas gigantes drenam o excesso de água para o mar durante a maré alta e chuvas extremas.

Marina Barrage, Singapura
Marina Barrage. Imagem, www.pub.gov.sg.

Hoje em dia, cerca de 70% da costa de Singapura já tem barreiras feitas pelo homem para proteção. Mas, com o aumento das tempestades tropicais e a elevação do nível do mar, eles vão precisar reforçar e melhorar essas defesas.

“Temos que olhar para isto de uma forma muito dinâmica”, disse Grace Fu, ministra da sustentabilidade e do ambiente (Acorda, Marina!), num evento  de lançamento de um novo instituto de proteção costeira e contra inundações.

Bloomberg diz que outras coisas que podem fazer são aumentar a altura dos diques nos reservatórios à beira-mar, usar comportas de maré que bloqueiam a água e criar mais aterros.

barragem em Singapura
Outro ângulo da barragem. Imagem, www.pub.gov.sg.

As empresas também estão fazendo sua parte. A imobiliária City Developments Ltd. colocou barreiras e sensores de nível de água no hotel St. Regis Singapore, no shopping Palais Renaissance e no arranha-céu Republic Plaza.

A importância dada ao manguezal (desprezado no Brasil) em Singapura

Na Reserva Sungei Buloh Wetland, as raízes dos manguezais têm todos os tipos de configurações.  As árvores tropicais florescem nas águas salgadas das marés. Suas grossas raízes e troncos acima do solo quebram as ondas e retêm sedimentos – formando uma barreira natural à elevação do nível do mar.

replantio de manguezal
Replantio de manguezal na Reserva Sungei Buloh Wetland. Segundo o www.todayonline.com, o replantio vai garantir mais um conjunto com 2 mil árvores de mangue de 35 espécies nativas plantadas progressivamente ao longo de um trecho de APENAS 500 m. Foto: Jason Quah.

Para proteger as praias direito, os manguezais precisariam ser bem extensos, com centenas de metros. Em Singapura, eles conseguem reduzir a altura das ondas de tempestade em mais de 75%. E, ainda por cima, essas florestas de mangue capturam até quatro vezes mais carbono do que as florestas tropicais (viu, Marina?).

O país trabalha em conjunto com as universidades que estudam o problema  e sugerem soluções, como mostra o artigo Mangroves, a crown jewel of Singapore’s coastline (Manguezais, joia da coroa do litoral), da Universidade Nacional de Singapura.

IPCC Singapura

Só que os manguezais sozinhos não dão conta do recado. Singapura está pensando em usar as árvores junto com outras barreiras, tipo revestimentos feitos de pedra ou concreto. Eles estão testando essa combinação no Parque Natural Costeiro de Kranji, perto da reserva de zonas úmidas, e na ilha Pulau Hantu, na costa sul.

Singapura incentiva o crescimento de mais mangais

Os paredões e revestimentos existentes em Singapura não limitam uma solução natural. Singapura incentiva o crescimento de mais habitats de mangais, diz Daisuke Taira, investigador de mangues do Centro de Soluções Climáticas Baseadas na Natureza da Universidade Nacional de Singapura.

mapa da Marina Barrage
A localização da Marina Barrage.

Em Pulau Tekong, que é uma ilha no nordeste de Singapura, eles estão usando máquinas enormes. Os trabalhadores estão lá, firmando o solo e instalando uma rede de drenos e bombas que foram planejadas meticulosamente.

O equipamento coleta e canaliza a água da chuva para um lago. O excesso, então, é bombeado para o oceano. Este sistema, juntamente com os muros marítimos, e manguezais, permite a Singapura fazer algo extraordinário: recuperar terras que estão abaixo do nível do mar.

Subida do nível do mar em Singapura
Ao contrário do Brasil, Singapura não perde tempo. Ilustração, www.straitstimes.com.

No fim das contas, é uma combinação de decisões políticas, ciência e investimentos bem-feitos na hora certa. Singapura largou na frente, e hoje dá exemplo. Enquanto isso, nos últimos quatro anos, muitos manguezais no Brasil foram aterrados por prefeitos sem noção, com apoio total da ganância imobiliária e conivência do governo.

Singapura e o ensino

Acorda Brasil!

O que faz do sistema educativo de Singapura um dos melhores do mundo?

Andreia Lobo – Jornalista – Escola Virtual

O que faz do sistema educativo de Singapura um dos melhores do mundo?

A valorização do trabalho docente, a formação inicial e contínua e a liderança educacional estão frequentemente na base do sucesso escolar dos alunos em Singapura.

Com uma população a rondar os cinco milhões, metade da portuguesa, e uma área oficial de 699 km² (Portugal tem 92 152 km²), Singapura é um dos países mais ricos do mundo. O seu sistema educativo ganhou visibilidade pelos resultados obtidos pelos alunos nas principais avaliações internacionais.

Na edição de 2003 do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), 90% dos alunos do 4.º e do 8.º ano pontuaram acima da média internacional em matemática e ciências. Já nos resultados dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2015 e 2018, os jovens de 15 anos superaram a média obtida pelos 72 países participantes. Isto, pontuando em média 13% acima em leitura e 16% em matemática e 11% em ciência.

A valorização do trabalho docente, a transformação operada ao nível da formação inicial e a ênfase na liderança educacional são frequentemente apontadas como a chave para o sucesso dos alunos. Embora o inglês seja a língua de instrução oficial, o mandarim, o malaio e o tâmil – línguas maternas – são também ensinadas nas escolas.

Um professor em início de carreira ganha o mesmo que um contabilista ou um engenheiro civil. Os estudantes que estão nos cursos de formação de professores não pagam propinas. Os estágios são remunerados. O Ministério da Educação fornece aos futuros docentes apoios para a compra de livros e de portáteis e aos professores já em funções concede bolsas para formação contínua, dentro e fora do país e licenças sabáticas. Os graduados na área de ensino têm colocação assegurada, no final do curso.

“As políticas que atraem jovens para a profissão são as mesmas que mantém os professores na profissão”, lê-se no relatório “Empowered educators: How high-performing systems shape teaching quality around the world”, do National Center on Education and the Economy e que serve de base a este artigo. Outro fator contribui para tornar a profissão atrativa: “Os professores gozam de um estatuto social elevado e são muito respeitados pelo público em geral.”

Lecionar antes do curso

Em Singapura, existe apenas uma instituição responsável pela formação inicial de professores. O processo de candidatura ao National Institute of Education (NIE) é altamente seletivo. Em termos académicos, os candidatos são selecionados entre um terço dos melhores da sua faixa etária e pode ser-lhes pedido um teste adicional de proficiência em inglês.

Os currículos dos estudantes são vistos à lupa. Cursos e qualificações específicas são valorizados. De seguida, explicam os autores do relatório, “uma lista curta de candidatos é entrevistada por reitores experientes que avaliam a apetência para o ensino, as competências comunicacionais e a paixão pela educação”. Um em cada três dos pré-selecionados passa na entrevista.

Para muitos dos candidatos a professores, o treino para lecionar começa antes do ingresso nos cursos de formação inicial. É-lhes requisitada a frequência num programa de introdução ao curso de professor, ministrado pela Academia de Professores de Singapura (AST, em sigla inglesa). É uma forma de os candidatos se conectarem com a experiência da docência antes de começarem a estudar para ser professor. Os conteúdos desenvolvidos incluem o planeamento de aulas, a avaliação das aprendizagens, gestão da sala de aula, introdução às tecnologias e educação e cidadania.
Finalizado o treino na Academia de Professores de Singapura, os candidatos passam alguns meses em escolas, como estagiários contratados. O objetivo é, novamente, proporcionar aos candidatos uma experiência real que lhes permita enquadrar as futuras aprendizagens no NIE. Se o estudante for considerado apto para ingressar na profissão docente e continuar comprometido a estudar para tal pode inscrever-se no NIE e avançar com a formação inicial de professor.

Durante o curso de formação inicial, os futuros professores são avaliados pelo NIE. Mostrando falta de atitude, apetência ou personalidade para serem professores (por norma, um número pequeno) são aconselhados a abandonar o programa. Todo o trabalho é pago. Os candidatos recebem um salário mensal do Ministério da Educação, desde o começo do treino para a docência, pré-requisito para o ingresso na formação inicial.

Colocação garantida

Depois da graduação nos cursos de formação inicial, os recém-diplomados têm de trabalhar três a quatro anos como docentes. O emprego é garantido. As escolas recebem a garantia de que os novos professores estão bem preparados e foram especificamente selecionados para satisfazer as suas necessidades.

A colocação nas escolas é centralizada e da responsabilidade do Ministério da Educação. Acontece anualmente para todos os professores com pelo menos dois anos de serviço completo na sua primeira colocação. Os diretores das escolas têm autonomia para identificar, noutros estabelecimentos de ensino, candidatos adequados ao seu projeto educativo. Mas, a “transferência” tem de ser consentida pela direção das escolas onde os professores estão colocados.

Além de ser responsável pela formação inicial de professores, o NIE ministra formação em contexto de trabalho, programas de graduação, formação contínua para professores líderes e diretores de departamentos, vice-diretores e diretores.

Muita prática pedagógica

A formação inicial de professores baseia-se muito na experiência letiva. Consoante o programa seja uma graduação (de quatro anos) ou uma pós-graduação (de 16 meses), a componente prática varia entre 22 e 10 semanas. Estas práticas – Experiência Escolar, Assistência de Ensino e Práticas de Ensino 1 e 2 –, garantem os autores do relatório, “servem como um recurso crítico para as discussões e reflexões dos alunos-professores em cursos no NIE e são úteis para aprofundar a sua compreensão da teoria e da prática”.

A Experiência Escolar inicia-se no final do primeiro ano de formação inicial. O estudante é colocado uma semana numa escola primária (do 1º ao 6.º ano) e outra numa escola secundária (do 7º ao 12º ano). Cabe-lhe, durante esse período, recolher dados de observações e usar aquando do regresso ao curso. Já o estágio final (Práticas de Ensino 2) tem a duração de 10 semanas tanto nos cursos de quatro anos, como nos de 16 meses. O objetivo do estágio é permitir aos estudantes-professores adquirir as competências necessárias para o início da carreira.

Indução e formação contínua

Quando acabam o curso de formação inicial, os novos professores passam por um período de indução. Este programa de dois anos é gerido pelo Ministério da Educação e desenhado para atender às necessidades da escola. Quando completam o terceiro ano de serviço, os professores iniciantes, passam a ser considerados experientes. Durante o período de indução, é-lhes atribuído 80% da carga de trabalho de um professor experiente. Esta redução destina-se a assegurar que os iniciantes têm tempo adicional para planear aulas, participar nas atividades de acolhimento, observar outros professores e receber mentoria. Todo o seu trabalho é sujeito a uma avaliação. Atingir a categoria de professor experiente equivale a ganhar estabilidade profissional.

A ideia de que os professores precisam de formação contínua está “institucionalizada” nas escolas. Todos os professores têm direito a 100 horas anuais remuneradas para frequentar cursos, ações e atividades.

Cada escola tem um professor responsável pelo desenvolvimento profissional do corpo docente. Cabe-lhe, mediante as necessidades da escola e em parceria com os vários departamentos disciplinares, traçar o plano de desenvolvimento que auxilia a escola a atingir os seus objetivos. As escolas põem ainda em prática ações menos formais de formação: atividades ou seminários de partilha de experiência letiva.

A liderança é vista como a força motriz das escolas. Por essa razão, o Ministério da Educação presta muita atenção e disponibiliza muitos recursos para identificar líderes escolares. Todos os diretores e coordenadores de departamento recebem formação na área da liderança, subsidiada pelo Governo, antes de assumirem esses cargos. Anualmente, os professores são avaliados pelas competências de liderança e de ensino. As avaliações são revistas pelo ministério, juntamente com os diretores das escolas. E é através deste processo que o sistema educativo reconhece e premeia os melhores professores.

DATA DRIVEN AUXILIA NA TOMADA DE DECISÕES DEIXANDO DE LADO SUPOSIÇÕES

por PUCRS Online

Data Driven diz respeito a ter uma base sólida para tomar decisões, deixando de lado suposições. Ou seja, significa o futuro dos negócios orientado a dados.

Tomar decisões eficientes é essencial para alcançar bons resultados nos negócios. Por isso, é imprescindível ter uma base sólida na hora de fazer algumas escolhas. A cultura Data Driven surge para auxiliar nesse processo.

Essa metodologia inovadora visa a utilização de dados e inteligência de negócios para tomar decisões estratégicas nas empresas. Tudo isso com base em inteligência de mercado e processos otimizados de coleta e análise de dados.

Assim, produzir conteúdos embasados nesse conhecimento e tomar decisões orientadas por esses dados, é o que conceitua o termo Data Driven.

Quer saber como aplicar essa nova cultura em seus negócios? Então siga esta leitura e descubra como transformar dados em conhecimento, gerando uma base sólida para tomar decisões na sua empresa.

O que é cultura Data Driven?

Como já falamos anteriormente, usar dados como o centro das decisões corporativas é o que define a cultura Data Driven. Empresas que planejam, executam e gerenciam com base em dados reais, são consideradas organizações que adotam essa cultura.

Algumas empresas já estão apostando nessa inovação, realizando pesquisas de mercado e adequando estruturas, com o objetivo de fundamentar ações com base em informações e conhecimentos coletados.

A ideia é utilizar uma análise computacional que levante um grande volume de dados, o Big Data, e utilizar estas informações na solução de problemas e na obtenção de novas soluções para o seu negócio.

É preciso conseguir extrair, analisar e transformar estes dados coletados em informações, conhecimento e riqueza, caso você queira adotar este modelo na sua empresa e fazer parte dessa transformação digital.

Assim, para que a cultura Data Driven seja possível na gestão empresarial, é preciso estabelecer métodos de coleta e análise de dados eficientes, como: Business Intelligence, Business Analytics e Big Data, consideradas tecnologias de ponta nesse ramo.

Com esse modelo de gestão, sua empresa será capaz de organizar informações reais e fazer planejamentos, otimizando o atendimento aos clientes e visando alcançar maior satisfação e fidelização.

Além disso, ao converter dados em sucesso para empresa, as organizações também crescem mais rápido, saindo à frente da concorrência.

Como aplicar aos negócios

Existem diversas maneiras de fazer parte dessa cultura transformadora. Apostar em tecnologias de ponta, como as que citamos anteriormente, é o primeiro passo para alcançar o caminho do sucesso no seu negócio.

Mas, além dessas, existem também outros elementos que podem contribuir na aplicação da cultura Data Driven na sua empresa. Confira mais algumas dicas:

Tenha boas práticas de coleta e análise de dados. Investir em tecnologia é essencial para uma boa aplicação. Aposte em um sistema tecnológico que seja capaz de captar informações de modo sistemático, organizado, automatizado e rotineiro.

Defina o público alvo que a sua empresa quer atingir. Análises qualificadas e efetivas necessitam de público-alvo bem definido. Essa delimitação é muito importante para o processo de pesquisa e planejamento.

Tenha uma equipe de colaboradores engajada na cultura Data Driven. Certifique-se que o seu time esteja preparado para fazer a estratégia dar certo e alcançar o sucesso do negócio.

Planeje suas ações. Definir objetivos, estabelecer prazos e especificar os tipos de dados que serão coletados e de que forma serão armazenados, é indispensável.

Por fim, não deixe de transformar sua coleta em ideias e decisões criativas. Essas soluções podem ser o que faltava para o seu negócio alcançar um diferencial no mercado.

Afinal, o objetivo da cultura Data Driven é justamente ser esse subsídio para uma tomada de decisões mais segura e precisa.

Descubra o Marketplace Valeon do Vale do Aço: Um Hub de Empresas, Notícias e Diversão para Empreendedores

Moysés Peruhype Carlech – ChatGPT

O Vale do Aço é uma região próspera e empreendedora, conhecida por sua indústria siderúrgica e seu ambiente de negócios dinâmico. Agora imagine ter um único local onde você pode encontrar todas as informações e recursos necessários para ter sucesso nesse ambiente competitivo. Bem-vindo ao Marketplace Valeon do Vale do Aço – um hub online que engloba empresas, notícias, diversão e empreendedorismo, oferecendo uma plataforma única para empresários e gerando leads valiosos.

Um ecossistema empresarial abrangente:

O Marketplace Valeon do Vale do Aço reúne empresas locais de diversos setores em um só lugar. Com uma interface intuitiva, os usuários podem facilmente encontrar e se conectar com fornecedores, parceiros comerciais e clientes potenciais na região. A plataforma oferece uma ampla gama de categorias de negócios, desde indústrias tradicionais até empresas inovadoras, garantindo que todos os empreendedores encontrem as oportunidades certas para expandir seus negócios.

Notícias e insights atualizados:

Além de ser um diretório empresarial, o Marketplace Valeon do Vale do Aço também oferece um fluxo contínuo de notícias e insights relevantes para os empresários da região. Através de parcerias com veículos de comunicação locais e especialistas em negócios, a plataforma mantém os usuários informados sobre as últimas tendências, oportunidades de mercado, mudanças regulatórias e eventos relevantes. Essas informações valiosas ajudam os empresários a tomar decisões informadas e a se manterem à frente da concorrência.

Diversão e engajamento:

Sabemos que a vida empresarial não é só trabalho. O Marketplace Valeon do Vale do Aço também oferece uma seção de entretenimento e lazer, onde os usuários podem descobrir eventos locais, pontos turísticos, restaurantes e muito mais. Essa abordagem holística permite que os empresários equilibrem o trabalho e a diversão, criando uma comunidade unida e fortalecendo os laços na região.

Foco no empreendedorismo:

O Marketplace Valeon do Vale do Aço é uma plataforma que nutre o espírito empreendedor. Além de fornecer informações e recursos valiosos, também oferece orientação e suporte para os empresários que desejam iniciar seus próprios negócios. Com seções dedicadas a tutoriais, estudos de caso inspiradores e conselhos de especialistas, o marketplace incentiva e capacita os empreendedores a alcançarem seus objetivos.

Geração de leads para os empresários:

Uma das maiores vantagens do Marketplace Valeon do Vale do Aço é a capacidade de gerar leads qualificados para os empresários. Com um público-alvo altamente segmentado, a plataforma oferece a oportunidade de se conectar diretamente com potenciais clientes interessados nos produtos e serviços oferecidos pelas empresas cadastradas. Isso significa que os empresários podem aumentar sua visibilidade, expandir sua base de clientes e impulsionar suas vendas de forma eficiente.

Conclusão:

O Vale do Aço é uma região cheia de oportunidades e empreendedorismo, e o Marketplace Valeon do Vale do Aço se torna um recurso indispensável para os empresários locais. Ao oferecer um ecossistema empresarial abrangente, notícias atualizadas, diversão, suporte ao empreendedorismo e a geração de leads qualificados, o Marketplace Valeon se destaca como uma ferramenta poderosa para impulsionar os negócios na região. Não perca a chance de fazer parte dessa comunidade dinâmica e descubra o poder do Marketplace Valeon do Vale do Aço para o seu sucesso empresarial.

A STARTUP VALEON OFERECE SEUS SERVIÇOS AOS EMPRESÁRIOS DO VALE DO AÇO

Moysés Peruhype Carlech

A Startup Valeon, um site marketplace de Ipatinga-MG, que faz divulgação de todas as empresas da região do Vale do Aço, chama a atenção para as seguintes questões:

• O comércio eletrônico vendeu mais de 260 bilhões em 2021 e superou pela primeira vez os shopping centers, que faturou mais de 175 bilhões.

• Estima-se que mais de 35 bilhões de vendas dos shoppings foram migradas

para o online, um sintoma da inadequação do canal ao crescimento digital.

• Ou seja, não existe mais a possibilidade de se trabalhar apenas no offline.

• É hora de migrar para o digital de maneira inteligente, estratégica e intensiva.

• Investir em sistemas inovadores permitirá que o seu negócio se expanda, seja através de mobilidade, geolocalização, comunicação, vendas, etc.

• Temas importantes para discussão dos Shoppings Centers e do Comércio em Geral:

a) Digitalização dos Lojistas;

b) Apoio aos lojistas;

c) Captura e gestão de dados;

d) Arquitetura de experiências;

e) Contribuição maior da área Mall e mídia;

f) Evolução do tenant mix;

g) Propósito, sustentabilidade, diversidade e inclusão;

h) O impacto do universo digital e das novas tecnologias no setor varejista;

i) Convergência do varejo físico e online;

j) Criação de ambientes flexíveis para atrair clientes mais jovens;

k) Aceleração de colaboração entre +varejistas e shoppings;

l) Incorporação da ideia de pontos de distribuição;

m) Surgimento de um cenário mais favorável ao investimento.

Vantagens competitivas da Startup Valeon:

• Toda Startup quando entra no mercado possui o sonho de se tornar rapidamente reconhecida e desenvolvida no seu ramo de atuação e a Startup Valeon não foge disso, fazem dois anos que estamos batalhando para conquistarmos esse mercado aqui do Vale do Aço.

• Essa ascensão fica mais fácil de ser alcançada quando podemos contar com apoio dos parceiros já consolidados no mercado e que estejam dispostos a investir na execução de nossas ideias e a escolha desses parceiros para nós está na preferência dos empresários aqui do Vale do Aço para os nossos serviços.

• Parcerias nesse sentido têm se tornado cada vez mais comuns, pois são capazes de proporcionar vantagens recíprocas aos envolvidos.

• A Startup Valeon é inovadora e focada em produzir soluções em tecnologia e estamos diariamente à procura do inédito.

• O Site desenvolvido pela Startup Valeon, focou nas necessidades do mercado e na falta de um Marketplace para resolver alguns problemas desse mercado e em especial viemos para ser mais um complemento na divulgação de suas Empresas e durante esses dois anos de nosso funcionamento procuramos preencher as lacunas do mercado com tecnologia, inovação com soluções tecnológicas que facilitam a rotina dessa grande empresa. Temos a missão de surpreender constantemente, antecipar tendências, inovar. Precisamos estar em constante evolução para nos manter alinhados com os desejos do consumidor. Por isso, pensamos em como fazer a diferença buscando estar sempre um passo à frente.

• Temos a plena certeza que estamos solucionando vários problemas de divulgação de suas empresas e bem como contribuindo com o seu faturamento através da nossa grande audiência e de muitos acessos ao site (https://valedoacoonline.com.br/) que completou ter mais de 100.000 acessos.

Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:

• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;

• Atraímos visualmente mais clientes;

• Somos mais dinâmicos;

• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;

• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;

• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.

• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as suas vendas.

Proposta:

Nós da Startup Valeon, oferecemos para continuar a divulgação de suas Empresas na nossa máquina de vendas, continuando as atividades de divulgação e propaganda com preços bem competitivos, bem menores do que os valores propostos pelos nossos concorrentes offlines.

Pretendemos ainda, fazer uma página no site da Valeon para cada empresa contendo: fotos, endereços, produtos, promoções, endereços, telefone, WhatsApp, etc.

O site da Valeon é uma HOMENAGEM AO VALE DO AÇO e esperamos que seja também uma SURPRESA para os lojistas dessa nossa região do Vale do Aço.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

  • O Site Valeon é bem elaborado, com layout diferenciado e único, tem bom market fit que agrada ao mercado e aos clientes.
  • A Plataforma Valeon tem imagens diferenciadas com separação das lojas por categorias, com a descrição dos produtos e acesso ao site de cada loja, tudo isso numa vitrine virtual que possibilita a comunicação dos clientes com as lojas.
  • Não se trata da digitalização da compra nas lojas e sim trata-se da integração dos ambientes online e offline na jornada da compra.
  • No país, as lojas online, que também contam com lojas físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
  • O número de visitantes do Site da Valeon (https://valedoacoonline.com.br/)  tem crescido exponencialmente, até o momento, temos mais de 222.000 visitantes e o site (https://valeonnoticias.com.br/) também nosso tem mais de 5.800.000 de visitantes.
  • O site Valeon oferece ao consumidor a oportunidade de comprar da sua loja favorita pelo smartphone ou computador, em casa, e ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez.
  • A Plataforma Comercial da Valeon difere dos outros marketplaces por oferecer além da exposição das empresas, seus produtos e promoções, tem outras formas de atrair a atenção dos internautas como: empresas, serviços, turismo, cinemas e diversão no Shopping, ofertas de produtos dos supermercados, revenda de veículos usados, notícias locais do Brasil e do Mundo, diversão de músicas, rádios e Gossip.

                                                                                                                                                                   Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.

Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?

Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

'REVISÃO DA VIDA TODA' NÃO ATINGE OS APOSENTADOS ANTES DE 2012 O QUE É UM ÊRRO

História por Redação  • Catraca Livre

O julgamento virtual do recurso do INSS acabou suspenso© Reprodução/TSE

Créditos: Reprodução/TSE

O Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu suspender o julgamento sobre a chamada “revisão da vida toda” de aposentadorias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

julgamento em plenário virtual analisava os embargos de declaração protocolados pelo INSS, mas Moraes, que é o relator, pediu destaque do processo. Dessa forma, a análise foi suspensa e o caso deverá começar do zero no plenário físico da Corte.

Em dezembro de 2022, o Supremo validou a revisão da vida toda e permitiu que aposentados possam pedir o recálculo do benefício com base em todas as contribuições feitas ao longo da vida. Antes da decisão, a revisão não estava reconhecida.

O que significa a “revisão da vida toda”?

A “revisão da vida toda” é um termo se refere à possibilidade de recálculo do valor da aposentadoria. Isso ocorre com base em todas as contribuições do trabalhador, mesmo as realizadas antes de julho de 1994. Nessa época, começou a vigorar o Plano Real, e as contribuições anteriores acabaram sendo ignoradas no cálculo da aposentadoria.

Após o reconhecimento do STF, o INSS, que quer considerar apenas as contribuições a partir de 1994, entrou com um recurso para restringir os efeitos da decisão.

Agora, a revisão do STF está sendo analisada em resposta aos embargos apresentados pela autarquia. No momento, a decisão está pendente devido ao pedido de destaque feito pelo ministro Alexandre de Moraes, na sexta-feira, 1º, que optou por levar o caso à análise no plenário físico.

Na prática, isso significa que o processo será reinicializado e todos os temas serão discutidos novamente no plenário físico.

Quem pode pedir revisão do benefício?

A decisão afetará diretamente aqueles que passaram a receber o benefício entre novembro de 1999 e 12 de novembro de 2019, e que contribuíram antes de julho de 1994.

O STF observou que o beneficiário pode optar pelo critério de cálculo que renda o maior valor mensal, cabendo ao aposentado avaliar se a revisão da vida toda pode aumentar ou não o benefício.

Antes da interrupção proposta pelo ministro Moraes, o plenário do STF apresentava um placar de quatro votos para modular os efeitos da decisão. E três em defesa do pedido do INSS para anular a decisão do STJ.

Quais são as opiniões divergentes entre os ministros?

As opiniões dos ministros sobre esse caso são diversas. Por exemplo, Moraes acredita que a decisão que permitiu o recálculo dos pagamentos não deve ser aplicada retroativamente e não abrange benefícios extintos e parcelas já pagas.

Outros ministros, como Rosa Weber, Edson Fachin e Cármen Lúcia, discordam de Moraes. Eles defendem que a decisão do STF deve ter como marco o dia 17 de dezembro de 2019, quando o STJ reconheceu o direito à revisão da vida toda.

No entanto, há uma outra linha de divergência aberta pelo ministro Cristiano Zanin. Ele concorda com a necessidade da modulação, mas acredita que o caso deve voltar ao STJ para novo julgamento.

E agora, qual o próximo passo?

Após a interrupção, ainda não há uma data prevista para a análise dos embargos no plenário físico do Supremo Tribunal Federal.

Apenas os votos dos ministros aposentados estarão sendo aproveitados no novo julgamento, enquanto os demais poderão mudar seu entendimento.

 

NEGOCIAÇÃO MERCOSUL-UE É UMA NEGOCIAÇÃO PERIGOSA?

 

História por CdB  • Correio do Brasil

Não é por acaso, leitor ou leitora, que não se conseguiu fechar esse acordo durante mais de duas décadas de tentativas. Os europeus sempre foram, e continuam, muito resistentes a aceitar uma negociação minimamente equilibrada e insistem, além disso, em cláusulas intrusivas que cerceiam as políticas de desenvolvimento.

Por Paulo Nogueira Batista Jr – de Brasília

As negociações entre União Europeia e Mercosul para um acordo econômico abrangente estão entrando no que parece ser a reta final, com negociadores do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento e da Indústria ansiosos para chegar a um acerto. O presidente Lula tem declarado que quer fechar com os europeus até 7 de dezembro, data em que ele passa a presidência do Mercosul para o Paraguai, mas acrescentou que se não resolver a questão até lá abandonará negociações que já levam mais de 20 anos. Espero que elas sejam realmente abandonadas e saiam de pauta. Vou explicar por quê.

Após encontro com Lula, Macron afirmou ser contra acordo Mercosul-União Europeia© Fornecido por Correio do Brasil

Não é por acaso, leitor ou leitora, que não se conseguiu fechar esse acordo durante mais de duas décadas de tentativas. Os europeus sempre foram, e continuam, muito resistentes a aceitar uma negociação minimamente equilibrada e insistem, além disso, em cláusulas intrusivas que cerceiam as políticas de desenvolvimento. Nem mesmo o governo Fernando Henrique Cardoso, nem mesmo o governo Temer, ambos de inclinação liberal e entreguista, conseguiram concluir essa negociação. Foi preciso a presença de Bolsonaro e Macri para que ocorresse a rendição total e se fechasse, em 2019, um acordo escandalosamente desigual.

O que fazem então os negociadores do governo Lula em 2023? Cometem o erro palmar de retomar as negociações com os europeus aceitando como ponto de partida a herança de Bolsonaro. Colocaram-se, assim, na posição de pedintes de ajustes a um péssimo acordo. Acabaram levantando poucos pontos relevantes, com ambição limitada, não tocando na essência neoliberal do que foi aceito por Bolsonaro. 

Nesse pé estamos. São tão limitados os pontos levantados pelos negociadores do governo Lula que mesmo se fossem aceitos integralmente pela parte europeia não resultariam em algo minimamente aceitável. 

Essência neoliberal do acordo

Qual a essência do acordo? A abertura quase total do mercado brasileiro, via eliminação dos impostos de importação, a uma concorrência desigual com corporações e outras empresas europeias que têm, regra geral, superioridade tecnológica, maior escala de produção, acesso a crédito em condições mais favoráveis, entre outras vantagens. Empresas que, ademais, contam com subvenções dos seus Estados, que dispõem de grande capacidade financeira para apoiar suas empresas industriais, de serviços e agrícolas. 

As empresas brasileiras, por seu lado, sofrem com o conjunto de fatores adversos conhecidos como “custo Brasil”, juros extraordinariamente elevados, crédito escasso, instabilidade cambial e períodos recorrentes de apreciação da moeda, deficiências de infraestrutura e logística. As tarifas de importação, suprimidas por esse acordo, são uma compensação apenas parcial pelos vários fatores que minam a competitividade sistêmica da economia brasileira e suas empresas.

A indústria e a agricultura familiar seriam as grandes derrotadas. Não é à toa que as entidades que representam agricultores familiares se posicionam contra esse acordo. Um dos seus principais problemas reside no fato de liberalizar quase completamente o comércio daquilo que é produzido pelos agricultores familiares brasileiros, inclusive o comércio daqueles bens que permitem um mínimo de agregação de valor no campo. Isso fatalmente prejudicará a produção e o emprego na área rural. Os pequenos agricultores ficarão submetidos à concorrência desimpedida com importações de produtos europeus produzidos, não raro, com o apoio de altos subsídios governamentais. Toda essa parte do acordo herdado do governo Bolsonaro não foi questionada pelos negociadores do governo Lula.

Há muitos motivos para inquietação com essa negociação malconduzida. Um aspecto pouco conhecido é que o acordo com a União Europeia constitui a porta de entrada para outros acordos do mesmo tipo, prontos ou quase prontos, e que apenas aguardam a finalização dos entendimentos com os europeus, os acordos com o Canadá, com a Associação Europeia de Livre Comércio, EFTA, com Singapura e com a Coreia do Sul, todos no formato do acordo com a União Europeia, inspirado por sua vez na Alca, que rejeitamos ainda no primeiro governo Lula. Ressalte-se, ademais, que, dificilmente Estados Unidos, Japão e China, entre outros, ficarão assistindo a isso passivamente. Vão pressionar, cedo ou tarde, pelas mesmas concessões que foram feitas aos europeus – tanto mais que ficará evidente para todos que os europeus as obtiveram sem fazer concessões minimamente significativas ao Mercosul.

A economia brasileira estará amarrada numa teia de acordos neoliberais ultrapassados, que obedecem a doutrinas de liberalização nunca praticadas pelos países desenvolvidos e pelos países emergentes bem-sucedidos, como a China, mas exportadas para países incautos do mundo em desenvolvimento. Hoje em dia, são doutrinas ainda menos aceitas, uma vez que todos os principais países desenvolvidos estão buscando a reindustrialização, a internalização de cadeias produtivas e protegendo a produção em solo nacional ou regional.

O que ganhamos, afinal, com esse acordo? 

A pergunta que não quer calar é a seguinte: o que ganha o Brasil se esse acordo vier a ser concluído? Acesso adicional para nossas exportações? Muito pouco, quase nada. Algumas das principais commodities que exportamos (café em grão, soja, petróleo, entre outros) já não enfrentam barreiras na União Europeia. As cotas oferecidas para alguns outros produtos agropecuários em que somos competitivos (como carne bovina, açúcar e arroz) são pequenas e insuficientes (inferiores ou próximas às exportações atuais); outras são inócuas (dizem respeito a produtos nos quais a capacidade de concorrência europeia dificilmente daria espaço para a produção brasileira, como é o caso da carne suína). 

Quanto a nossas exportações industriais, a redução das tarifas de importação europeias, prevista no acordo, é residual, uma vez que a tarifa média europeia já é muito baixa, em virtude das tarifas consolidadas na OMC e regimes de preferência. 

Será que aumentariam os investimentos europeus aqui? Nunca precisamos desse tipo de acordo para sermos o maior receptor de investimento direto da América Latina e um dos maiores do mundo. O acordo com os europeus tende inclusive a reduzir investimentos ou provocar desinvestimentos no Brasil. Para que investir aqui se eles poderão abastecer o mercado brasileiro a partir das suas matrizes, livres de barreiras tarifárias?

Não se alegue que as associações e os sindicatos empresariais da indústria estão a favor do acordo e que, por isso, não haveria motivo para se preocupar com seus efeitos sobre o setor. As pessoas que comandam e estão representadas nesses sindicatos industriais são em sua maioria industriais fictícios. Alguns são donos ou executivos de maquiladoras que importam produtos e peças industriais e se limitam à montagem com baixa agregação de valor e baixa geração de empregos. Ou pior: são meros importadores que usam suas estruturas de comercialização para colocar no mercado interno os produtos que recebem do exterior. Ou são financistas que dependem mais da receita financeira do que da operacional. Outros são meros burocratas de sindicatos patronais, que fazem carreira nessas entidades e têm pouco ou nenhum peso real em termos empresariais. Além disso, têm forte presença nessas entidades patronais representantes de subsidiárias e filiais de empresas estrangeiras, que obedecem, em última análise, à estratégia da matriz. 

Já os pequenos e médios empresários brasileiros, da indústria e da agricultura, responsáveis por grande parte da produção e do emprego, não são efetivamente representados por essas entidades. 

Para agravar o quadro criado pelo acordo com os europeus, ficaríamos também limitados na possibilidade de controlar e tributar as exportações – algo que pode ser necessário por vários motivos, inclusive de segurança, de desenvolvimento da economia e de proteção de interesses estratégicos. Com poucas exceções, o acordo proíbe restrições quantitativas à exportação. E, no seu formato original, proibia impostos sobre exportações. Pelo que sei, os negociadores brasileiros estão tentando obter dos europeus a concordância para a possibilidade de tributar alguns minerais críticos. Se a lista for pequena vai apenas arranhar o problema. Se for uma lista taxativa, não resolve. Com o rápido desenvolvimento da tecnologia, o mineral que será crítico amanhã, não é percebido como crítico hoje.  

Veja-se a que ponto chegamos! Não temos atualmente qualquer limitação legal para usar o instrumento de tributação de exportações. Mas agora ficamos reduzidos à posição de pedir aos europeus a possiblidade de algumas exceções à proibição de tributar. Em troca de quê? De novo, é a pergunta que não quer calar.

Hora de abandonar uma negociação perigosa

Desde o início do ano, o que está sendo feito pelos negociadores brasileiros é apenas dammage control (controle de danos), e mesmo assim muito incompleto. A equipe negociadora inclui técnicos e diplomatas empenhados em chegar a um resultado e dominados, em sua maior parte, por uma orientação liberalizante completamente anacrônica. Deixam muito a desejar, para não usar palavras mais fortes.

Agora, com a eleição de Milei, surgiu mais um argumento frágil (para dizer o mínimo), o de que a não conclusão de um acordo com os europeus poderia levar à saída da Argentina e ao fim do Mercosul. Ora, campanha é campanha, governo é governo. Muitas bravatas de campanha estão sendo e serão abandonadas por Milei. Há muitos interesses empresariais argentinos que seriam fortemente prejudicados pela saída do país do Mercosul, inclusive importantes financiadores da campanha de Milei. Pelo que sei, não há apoio no Congresso argentino para tirar o país do Mercosul; se governo tentar, será provavelmente derrotado. O presidente eleito já está moderando seu discurso, nesse e em vários outros pontos em que prevaleceram teses estapafúrdias durante a campanha eleitoral. Portanto, esse suposto risco para o Mercosul é história para assustar criancinha.

E mesmo na hipótese altamente improvável de que a Argentina viesse a romper com o Mercosul, isso seria motivo para o Brasil se engajar um acordo nocivo com os europeus? 

Francamente, não consigo entender como esse acordo ainda está em pauta. Já teríamos de ter feito o que recentemente fez a Austrália, que abandonou negociações semelhantes em razão da intransigência dos europeus. Enquanto a Austrália age com soberania, o Brasil vacila diante da União Europeia.

Paulo Nogueira Batista Jr., é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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