domingo, 3 de dezembro de 2023

BOLSA FAMÍLIA DÁ UM PREJUÍZO DE 34 BILHÕES AO GOVERNO EM 2023

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou inconsistências de renda e de composição em, respectivamente, 40% e 33% das famílias registradas no Cadastro Único que recebem o Bolsa Família. A Corte estima que quase uma em cada quatro famílias seja inelegível, implicando um desperdício, em 2023, de R$ 34 bilhões que poderiam ter sido gastos para ajudar quem realmente precisa. Em meados deste ano, por exemplo, havia 438 mil famílias na fila do programa – famílias aprovadas, mas que não recebiam os pagamentos por “falta de recursos”. E isso só no Bolsa Família. O Cadastro é a base de outros 30 programas.

Decerto, a maior parcela de responsabilidade cabe ao governo Bolsonaro. Nas gestões do PT, os programas de transferência de renda eram razoavelmente bem-sucedidos em ajudar os miseráveis e alavancar votos. Isso se fez com programas pela metade, que privilegiavam a distribuição de dinheiro ao mesmo tempo que negligenciavam mecanismos de inclusão, perpetuando uma massa de dependentes que serviram de curral eleitoral. Um estadista teria eliminado os aspectos que fazem desses programas máquinas eleitorais e potencializado os que fazem deles máquinas de emancipação. Ao desfigurar o Bolsa Família, transformando-o no teratológico Auxílio Brasil, Bolsonaro fez o contrário.

Sem estudo prévio, driblando regras eleitorais e fiscais, Bolsonaro eliminou todas as contrapartidas – como a obrigação de cumprir o currículo escolar e o calendário vacinal –, criou um benefício único distribuído indiscriminadamente – o mesmo para uma pessoa e uma mãe solo com três filhos, por exemplo –, e desmantelou o Cadastro, abrindo espaço a todo tipo de fraude. Ao resgatar o Bolsa Família, o governo Lula saneou parcialmente essas distorções, mas o desarranjo cadastral ainda se faz sentir.

Estima-se que a maior fonte de fraudes seja o incentivo à fragmentação familiar em decorrência do valor mínimo de R$ 600, conferido independentemente do número de membros da família. Desde 2020, em descompasso com a demografia, as famílias cadastradas de uma só pessoa cresceram 224%. Há municípios onde mais de 50% das famílias são unipessoais. Há ainda equívocos em 15% dos endereços, cerca de 30 mil CPFs inválidos e mais de 280 mil que podem ser de pessoas falecidas.

A cadeia de irresponsabilidades extrapola o governo federal. Em relação ao Cadastro, a União tem o papel de “gerente”; os Estados, de “apoiadores”; e os municípios, de “executores”. Entre as causas das inconsistências estão a predominância da autodeclaração nos cadastros, a checagem frágil das informações em outras bases de dados e a negligência de visitas domiciliares pelos agentes públicos. Além dos protocolos frouxos, o TCU aponta que a União e os Estados não desempenham satisfatoriamente a orientação, supervisão e fiscalização dos municípios.

São alguns dos fatores que explicam um aparente paradoxo. Nunca o País gastou tanto e com tantas famílias – em cinco anos, o orçamento do Bolsa Família saltou de R$ 30 bilhões para R$ 175 bilhões; as famílias beneficiadas, de 14 milhões para 21 milhões; e o valor médio do benefício, de R$ 190 para quase R$ 700. Ainda assim, segundo o Ipea, as famílias em extrema pobreza, que em 2014 eram 2,8% do total, hoje são cerca de 4%.

Muito precisa ser feito para racionalizar os programas sociais a fim de que foquem nas pessoas vulneráveis e as ajudem a conquistar sua independência, por exemplo, distinguindo necessidades de pessoas em condição de miséria daquelas em situação de informalidade, criando incentivos para os jovens se desenvolverem nos estudos e prestando outras formas de assistência além da transferência de renda. E tudo de maneira fiscalmente responsável. É o que contempla, por exemplo, o projeto da Lei de Responsabilidade Social, que jaz em algum escaninho do Congresso.

É possível fazer muito mais com menos. Mas, por ora, é preciso fazer melhor com o que se tem, a começar por não torrar bilhões com quem não precisa em prejuízo de quem precisa. Aprimorar os protocolos e a execução do Cadastro Único é tarefa para já.

PETROBRAS VAI FAZER PARTE DA OPEP

 

História por CdB  • Correio do Brasil

As declarações de Prates, confirmadas pela reportagem do Correio do Brasil na manhã deste sábado, vêm um dia depois de o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmar que o país pretende aderir ao acordo de cooperação da Opep+, uma plataforma de diálogo aberta a todos os países produtores de petróleo, sem as obrigações de quotas dos membros do grupo.

Por Redação, com Bloomberg – de Dubai

A Petrobras avalia abrir uma unidade no Oriente Médio depois da indicação do Brasil de que vai aderir ao acordo de cooperação com a Opep+. A estatal iniciará este mês o estudo de uma subsidiária destinada a fortalecer os laços comerciais na região do Golfo Pérsico, disse o presidente da companhia, Jean Paul Prates, em mensagem de texto para a agência norte-americana de notícias Bloomberg News, na noite passada.

Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates estuda a abertura de subsidiária da companhia no Oriente Médio© Fornecido por Correio do Brasil

As declarações de Prates, confirmadas pela reportagem do Correio do Brasil na manhã deste sábado, vêm um dia depois de o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmar que o país pretende aderir ao acordo de cooperação da Opep+, uma plataforma de diálogo aberta a todos os países produtores de petróleo, sem as obrigações de quotas dos membros do grupo.

“Vamos analisar a viabilidade de estabelecer uma subsidiária integral no Golfo: Petrobras Arábia”, disse Prates na mensagem de texto.

Produção

O Brasil produz mais de 3 milhões de barris de petróleo por dia, aproximadamente o mesmo que Irã e Emirados Árabes Unidos, que são membros da OPEP.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado os laços com a OPEP+, como parte de sua agenda mais ampla de representar o mundo em desenvolvimento em geral. Prates viajou a Viena em julho para um evento da OPEP+ e ajudou a intermediar a visita ao Brasil do secretário-geral do cartel, Haitham Al-Ghais, em outubro, para reunião com Lula.

A Petrobras explorará “empreendimentos mutuamente complementares” com membros da OPEP+, tanto no Golfo Pérsico como no Brasil, escreveu Prates. A petrolífera já estuda a criação de uma subsidiária chinesa como parte dos planos de expansão internacional de Prates.

COP-30 EM BELÉM SERÁ A CARA DO BRASIL

 

História por Paula Ferreira e Karla Spotorno  • Jornal Estadão

ENVIADAS A DUBAI – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não será possível repetir o luxo e a riqueza da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-28) de Dubai. Belém, capital do Pará, vai sediar a COP-30 em 2025. “Alertei as pessoas para que ninguém fique imaginado que vai ser possível repetir uma COP como essa, com esse luxo, essa riqueza”, disse o presidente em entrevista coletiva neste domingo, 3, antes de embarcar para Berlim, na Alemanha.

“Não é possível fazer isso em outro País, a não ser que seja outro país árabe ou quem sabe no Principado de Mônaco”, disse Lula, que encerou no sábado a sua participação na COP-28, que começou na última quinta-feira, 30, e vai até 12 de dezembro.

Lula afirmou que o Brasil vai fazer uma COP “com a cara do Brasil”. “Vamos fazer num Estado amazônico que vai ser a grande novidade”, disse. “Se tem aqui o palácio para fazer uma reunião, a gente pode fazer embaixo da copa de uma árvore e discutir assuntos numa canoa num igarapé. Essa vai ser a nossa COP, no Brasil, em 2025?, afirmou.

Líderes mundiais posam para foto na COP-28 em Dubai. Foto: Peter Dejong/AP© Fornecido por Estadão

O presidente anunciou em maio a escolha de Belém pela ONU como sede da COP. Na ocasião, disse: “Eu já participei de COP no Egito, em Paris, em Copenhague. E o pessoal só fala da Amazônia. E eu dizia assim: ‘por que, então, não fazer a COP em um Estado da Amazônia para vocês conhecerem o que é a Amazônia? Verem o que são os rios da Amazônia, as florestas da Amazônia, a fauna da Amazônia’”.

Como mostrou reportagem do Estadão, o Pará vira palco de debates sobre o futuro climático do planeta, mas também precisa resolver seus próprios gargalos ambientais, como desmatamento, garimpo ilegal e deficiências de saneamento básico, com canais com despejo de esgoto visíveis.

*A repórter Paula Ferreira viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

DECISÕES DE HOJE DA PETROBRAS SÃO AS MESMAS DO PASSADO

 

História por ALEXA SALOMÃO  • Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Lenta volta ao passado. É assim que especialistas da área de óleo e gás definem os movimentos da Petrobras na largada do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As mudanças ficaram mais claras nas últimas semanas, com a divulgação do Plano Estratégico 2024-2028. O sinal amarelo do ano foi acionado apenas na quinta-feira (30).

A União é majoritária no capital votante e, em assembleia de acionistas, aprovou a supressão de trechos do estatuto da companhia que blindavam indicações políticas à alta chefia da estatal.

No mercado, há quem chame a mudança de risco Lava Jato, em uma associação ao temor de que a estatal volte a ter os loteamentos que no passado propiciaram desvios de conduta e de bilhões de reais, apurados pela operação.

“Foi uma mudança intempestiva, inoportuna e que abre margem para especulações desnecessárias”, afirma Helder Queiroz, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ que foi diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo).

A primeira alteração relevante, anunciada ainda na campanha, foi a suspensão do PPI (preço de paridade de importação), que fazia o reajuste automático no mercado interno em relação ao valor internacional. Adotou-se uma espécie de “PPI light”, em que o repasse ocorre, mas de forma mais gradual, seja para cima, seja para baixo.

A leitura no mercado é que a gestão dos preços dos combustíveis tem sido profissional, mas ninguém arrisca cravar o que pode ocorrer em caso de repique nas cotações internacionais do óleo, momento em que a tensão para segurar a alta sempre aparece.

Ainda prevalece um certo desconforto com a imprevisibilidade e a falta de transparência na formação dos valores que chegam à bomba.

“A Petrobras é o price maker [fazedor de preços] e baliza o comportamento de outros integrantes do mercado, como os importadores” diz Queiroz.

“Fica todo o mundo, inclusive o governo, aguardando se, quando e de quanto pode ser o reajuste. Eu mesmo, que sou da área, confesso que, a cada reajuste, até tento calcular algum critério ou parâmetro, mas não consigo encontrar.”

O sinal forte de revisão de rota é o aumento dos investimentos.

Como a Petrobras é uma empresa listada em Bolsa, há consenso no setor de que deve remunerar os acionistas. Efeitos positivos sobre a economia –geração de emprego e fomento da indústria– não seriam um fim, mas uma consequência de seu sucesso empresarial. Como o governo é acionista, pode usar os seus dividendos para fazer política pública.

Historicamente, no entanto, as gestões petistas veem a Petrobras como um agente indutor de política pública. Reduzem a distribuição de dividendos para que a companhia possa investir mais.

O auge dessa estratégia ocorreu no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). A estatal investiu R$ 565 bilhões e distribuiu R$ 335 milhões em dividendos.

Vieram, então, a fase dos excessos e a crise financeira. Congelamentos do preço de combustíveis, superinvestimentos nos mais diversos setores com baixo retorno, denúncias de corrupção e a Lava Jato comprometeram os resultados. A petroleira registrou prejuízo bilionário de 2014 a 2017, período em que teve uma das maiores dívidas corporativas do mundo, que chegou a US$ 133 bilhões (R$ 654 bilhões).

Ao assumir a Presidência, Michel Temer (MDB) iniciou uma reversão dessa lógica, que foi levada ao extremo oposto por Jair Bolsonaro (PL). O governo passado distribuiu R$ 299 bilhões em dividendos, cerca de seis vezes mais do que a média dos quatro governos anteriores, e investiu R$ 133 bilhões.

O plano da companhia para os próximos cinco anos resgata o protagonismo da estatal. De 2024 a 2028, prevê o desembolso de US$ 102 bilhões (R$ 501,7 bilhões), um aumento de 30,7% em relação à proposta anterior.

Quem acompanha a Bolsa já identificou o efeito sobre o retorno para os acionistas.

“Os números mostram que os dividendos ainda são altos, mas já indicam uma reversão na relação com os investimentos”, afirma o consultor de dados financeiros Einar Rivero (veja infográfico).

lula/infografico1.html *** A reformulação dos negócios está dada também. O governo anterior priorizou a exploração de grandes poços do pré-sal, elevando a geração de caixa e a rentabilidade. Agora, volta a diversificação, que tende a reduzir o retorno.

Está no radar a retomada da atuação internacional, que tinha sido quase suspensa. América do Sul e África são o foco. A Petrobras planeja ainda para 2024 a licitação de 36 embarcações de estaleiros nacionais.

A companhia anunciou a volta aos fertilizantes, com a retomada das obras da fábrica de nitrogenados em Três Lagoas (MS), interrompidas em 2014. O refino já está em expansão.

Neste ano, a estatal intensificou a produção nacional de diesel. É uma tentativa para reduzir a dependência externa. O país importa de 23% a 27% do diesel que consome. Em 2023, a produção desse combustível bateu dois recordes, indo em outubro a 2,38 milhões de metros cúbicos.

Galeria Nova chance para a indústria naval Governo tenta reativar setor que foi alvo de conturbada política de apoio em gestões anteriores https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1778047305360730-nova-chance-para-a-industria-naval *** Esse esforço poderia ocorrer com a atração de empresas privadas, mas já se configurou a opção por concentrar a atividade –e tanto é assim que a companhia tenta rever os parâmetros do plano de desinvestimento fixados em 2019 em um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

O termo de compromisso estabeleceu a venda de oito refinarias justamente para reduzir a concentração da Petrobras nesse segmento e atrair investidores internacionais.

“As grandes refinarias da Petrobras estão no Sudeste. Essas incluídas no acordo do Cade para desinvestimento são menores. Do ponto de vista do grupo, a venda não gera perda substancial de valor econômico para a companhia”, afirma Marcio Couto, pesquisador da FGV Energia (Instituto de Estudos em Energia da Fundação Getulio Vargas).

“Mas existe uma orientação no sentido de ter a Petrobras inteira. Ou seja, é muito mais uma opção de política pública do novo governo do que uma discussão econômica do ponto de vista de negócio da empresa.”

Citação Foi uma mudança [no estatuto] intempestiva, inoportuna e que abre margem para especulações desnecessárias Helder Queiroz professor da UFRJ e ex-diretor da ANP **** As refinarias que já foram privatizadas estão na mira da estatal. A Lubnor (Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste), em Fortaleza, uma operação pequena, teve a venda suspensa.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sinalizou que pode negociar com o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes, a recompra da refinaria Mataripe Acelen, na Bahia.

No mercado se diz que quem compra Petrobras compra risco político. Em termos econômicos, o pagamento de dividendos continua em alta e as mudanças de rota até agora estão ocorrendo dentro do esperado para um governo do PT. O comportamento das ações, em alta de 60% desde a eleição, é o sinal disso.

Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://arte.folha.uol.com.br/mercado/2023/12/02/petrobras-desde-eleicao-lula/infografico2.html *** É consenso que há uma mudança importante que mira o futuro: o ingresso da Petrobras na transição energética.

A empresa criou uma diretoria só para essa área e colocou no comando Mauricio Tolmasquim, um técnico respeitado. A estatal vai investir em eólicas em alto-mar, por exemplo.

Ao mesmo tempo, mostra que não vai frear a exploração de energias fósseis. A estimativa é que as reservas do pré-sal podem durar uns 15 anos antes de decaírem. A estatal busca alternativas.

Na lista está prospectar a margem equatorial, trecho entre a foz do rio Oiapoque e o litoral norte do Rio Grande do Norte, o que já gerou divergências com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

O mercado também aguarda com expectativa como a Petrobras vai proceder o leilão da bacia de Pelotas, que fica entre Santa Catarina e o extremo do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai. O certame está marcado para o dia 15 de dezembro.

Como a diretriz será implementada é outra questão. Já se criam dúvidas sobre a permanência de Prates. O mercado já percebe que o executivo é alvo do fogo amigo e de opositores. “Mas até agora tem demonstrado capacidade para equilibrar divergências”, afirma Couto.

*Outro lado: Ações são voltadas para o futuro, diz Petrobras*

Prates tem ido a público para contemporizar críticas a esses movimentos. Em resposta à Folha, a assessoria de imprensa enviou um dos vídeos que ele gravou e distribuiu sobre os temas no trajeto para a COP28 –28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Galeria Refinarias a serem alienadas conforme acordo entre Petrobras e Cade: Estatal precisará pedir mais tempo ao Cade para vender ativos https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1734654075496863-refinarias *** Sobre a alteração no estatuto que poderia abrir margem a indicações políticas, Prates disse foi retirado um trecho que estava duplicado.

“O item basicamente repete o que está na Lei das Estatais, e repetir não faz sentido”, afirmou. No entanto, ele admite que esse item está suspenso por liminar do STF (Supremo Tribunal Federal). Se cair por decisão da corte, a Petrobras perde a blindagem.

“No Cade, não está havendo qualquer tipo de discussão sobre retomada de refinaria”, afirmou.

“Estamos discutindo o aprimoramento e a atualização dos termos de conduta relacionados às atividades de refino e gás natural. Esse processo está em curso há muitos meses.”

Ele também negou que tenha ocorrido uma reestatização da refinaria no Ceará. Disse que não houve, dentro do prazo previsto no contrato, uma regularização fundiária importante para a conclusão do negócio, o que levou à devolução do ativo. “A Lubnor fica com a Petrobras. A Petrobras fica no Ceará.”

Em nota, a assessoria reforçou o posicionamento afirmando que as mudanças em curso olham para a frente.

“Entendemos que as ações adotadas pela gestão da Petrobras neste ano visam preparar a companhia para o futuro de forma responsável, contribuindo para o desenvolvimento do país, garantindo a sustentabilidade da empresa e o retorno para seus acionistas a longo prazo.”

Destacou que o fim da paridade trouxe benefícios para o país. “Foi possível promover períodos de estabilidade para os brasileiros.”

Disse ainda que nova gestão dinamizou a operação para atuar em plena capacidade e fortaleceu a governança.

“As alterações no estatuto aprovadas em assembleia na quinta-feira em nada reduzem o alinhamento da companhia à legislação vigente. A Petrobras continuará a seguir todos os requisitos da Lei das Estatais para a indicação dos administradores.”

SINAIS DA MUDANÇA

*Adoção do PPI light*

O PPI (preço de paridade de importação) foi adaptado, com a troca do repasse automático por reajustes mais graduais, mas imprevisíveis

*Ampliação do investimentos*

Entre 2024 e 2028, a petroleira prevê o desembolso de US$ 102 bilhões, aumento de 30,7% ante o plano em vigor; a tendência é de redução da distribuição dos dividendos

*Revisão do desinvestimento*

Estatal foi ao Cade para reavaliar a venda de oito refinarias e a atuação na logística de transporte

*Diversificação dos negócios*

Depois de focar na exploração em grande poços no pré-sal, volta a áreas como fertilizantes, da qual tinha se retirado, e amplia operações de refino

NA COP-28 PELA PRIMEIRA VEZ A FLORESTA FALA POR SI

 

História por Ana Carolina Peliz  • RFI

COP28: Lula se emociona em evento com Maria Silva; “pela primeira vez, a floresta fala por si”© REUTERS – THAIER AL-SUDANI

Durante o evento “Florestas: protegendo a natureza para o clima”, neste sábado (2), durante a Conferência da ONU para o clima, a COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu a palavra a Marina Silva, se emocionou e chorou ao falar sobre o percurso da ministra do Meio Ambiente. 

Ao se levantar para discursar no palco do evento, Lula chamou Marina Silva para acompanhá-lo. Logo de início, o presidente pediu licença para “quebrar o protocolo”. “Aqui está tudo muito arrumado, tudo muito burocrático”, disse ele.

“Eu, embora seja o presidente do Brasil, não vou falar sobre floresta porque eu acho que esse encontro de hoje é uma reunião sem precedentes na história das COPs”, disse Lula. 

“Nós precisamos 28 edições da COP para que pela primeira vez a floresta viesse falar por si só. E eu não poderia utilizar a palavra sobre a floresta se eu tenho no meu governo, uma pessoa da floresta. A Marina, nasceu na floresta, se alfabetizou aos 16 anos”, neste momento, o presidente não conteve as lágrimas e foi abraçado por Marina Silva.

“Eu acho que é justo, que para falar da floresta, ao invés de falar o presidente que é do Estado, que não é da floresta, a gente tenha que ouvir ela que é responsável pelo sucesso da política de preservação ambiental que nós estamos fazendo no Brasil”, disse abraçado à ministra.

“A Marina tem um discurso por escrito aqui que ela pode ler, mas eu acho que você deveria falar com o seu coração sobre a floresta, porque o encontro de hoje é inédito, porque é a primeira vez que a floresta vem falar por si. É a primeira vez que nós estamos dizendo, não basta evitar o desmatamento, é preciso cuidar da floresta, cuidar das pessoas que moram na floresta e cuidar da biodiversidade da floresta. Isso custa muito dinheiro e os países ricos tem que ajudar a pagar essa conta”, disse o presidente, ao ceder a palavra à ministra do Meio Ambiente. 

Por sua vez, Marina Silva agradeceu Lula. “Muito obrigada por essa honraria presidente, e eu vou dizer, que tudo que está acontecendo no Brasil, é graças ao seu compromisso, com a democracia, com o combate à desigualdade e com a proteção do meio ambiente, e o enfrentamento da mudança do clima”, afirmou. 

Ela disse que se sentia honrada pelo espaço cedido por Lula no evento e lembrou que eles começaram a trabalhar juntos, “quando eu tinha 18 anos”. 

Vitórias e derrotas 

Marina foi escolhida por Lula para mostrar à Comunidade Internacional seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a batalha contra a emergência climática. Mas já durante este ano, ela teve embates com o Congresso e colegas do governo. 

Ministra pela terceira vez em um governo de Lula, desde o começo deste mandato do presidente e de sua volta ao ministério do Meio Ambiente, em janeiro deste ano, Marina não colecionou apenas vitórias. 

Ela conseguiu relançar o Plano de Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), desativado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ressuscitou o Fundo Amazônia e já conseguiu, apenas neste ano, a redução de 22% do desmatamento da floresta, segundo o PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, além de 59% da Mata Atlântica. 

Mas a ministra perdeu parte das funções de seu ministério, após a  aprovação da medida provisória da reestruturação do governo, entre elas, o Cadastro Ambiental Rural, levado par ao ministério da Gestão. 

O presidente brasileiro não foi o primeiro líder a se emocionar e chorar durante uma Conferência da ONU pelo clima. Em 2009, o choro de Ian Fry, negociador do Tuvalu, uma pequena ilha do Pacífico, entrou para a história como um dos momentos mais célebres da COP 15, realizada em Copenhague, na Dinamarca.

O STF VAI PUNIR A IMPRENSA POR FALA DE ENTREVISTADO

 

A liberdade deixou de ser um direito universal e passou a ser uma concessão do Estado, como um alvará para se abrir uma loja

Por J.R. Guzzo – Jornal Estadão

Um ataque do poder público à liberdade, quando é tratado como a coisa mais normal do mundo, tem a tendência de levar a outro ataque – e este a um outro ainda pior, e a mais outro, até se chegar à democracia que o ministro Alexandre de Moraes e seus colegas de STF impuseram ao Brasil de hoje. A liberdade deixou de ser um direito universal. Passou a ser uma concessão do Estado, como um alvará para se abrir uma loja. Seu uso virou uma espécie de “ameaça” à sociedade. Precisa ser combatido com medidas de prevenção, como um vírus – pois no entender do Supremo e de quem exige o “controle social” dos meios de comunicação, a pior delinquência que um cidadão brasileiro pode cometer hoje em dia é “usar mal” a liberdade. Quando se trata da liberdade de expressão, então, exige-se o cuidado que se deve às advertências de uma bula de remédio tarja preta. Tudo é contraindicado.

Decisões do STF colocam em risco a liberdade no Brasil
Decisões do STF colocam em risco a liberdade no Brasil Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Brasil vive a ficção de que o STF é um tribunal de justiça como os que existem nos países democráticos, com magistrados sábios e imparciais como o Rei Salomão. Não é nada disso. Eles querem, em parceria com Lula e a esquerda nacional, um Brasil que se submeta aos seus desejos. A liberdade de expressão está atrapalhando muito esse “projeto de país”? A saída é reprimir ao máximo a atividade jornalística – e ninguém se dedica tanto a isso como o ministro Alexandre de Moraes.

O ministro acaba de tomar uma das suas decisões mais assombrosas: em cima de um caso ocorrido 30 anos atrás, determinou que os órgãos de imprensa agora são responsáveis pelo que dizem os seus entrevistados. Veículos têm de responder, é claro, pelas afirmações que fazem – mas não pelas afirmações dos outros. Moraes disse que a “proteção constitucional” à imprensa se baseia no “binômio liberdade com responsabilidade”. Que binômio? Não há “binômio” nenhum na Constituição. Não se diz ali, como quer o ministro, que a imprensa tem de ser “responsável”. Não diz que tem de “checar” nada. Não diz que tem de tomar cuidado, ou de dizer a verdade. Diz apenas, nos artigos 5 e 220, que a imprensa é livre, sendo vedado o anonimato, e que a informação, “sob qualquer forma”, não pode sofrer restrições.

Constituição brasileira é incompatível com regime STF-Lula. “Esse tempo da liberdade de expressão como um valor absoluto acabou no Brasil”, já disse o futuro ministro Flávio Dino, com voz de deboche nas palavras “liberdade de expressão”. A ministra da Saúde acaba de dizer na Câmara de Deputados que “as dúvidas” sobre a vacina anti-Covid para crianças “são criminosas”. Vem agora o ministro Moraes com a censura para as entrevistas. Cada vez mais, é proibido pensar.

LIÇÕES DE CHARLIE MUNGER OFERECEM UMA RICA FONTE DE SABEDORIA PARA OS QUE BUSCAM O SUCESSO

 

Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria

Charlie Munger, um ícone no mundo dos negócios e investimentos, foi uma figura que personificou a interseção de inteligência, trabalho duro e temperança. Sua parceria de longa data com Warren Buffet, na Berkshire Hathaway, e sua abordagem perspicaz nos negócios o destacaram como uma influência duradoura.

Neste texto, exploro não apenas a história de Munger, mas como suas lições continuam a ressoar, oferecendo uma rica fonte de sabedoria para os que buscam acelerar suas carreiras e alcançar sucesso sustentável.

Quem foi Charlie Munger?

Charlie Munger, formado em Direito pela Harvard Law School, construiu uma carreira impressionante não apenas como advogado, mas também como investidor e empresário. Ele é conhecido por seu foco em investimentos de longo prazo e sua filosofia de “paciência e disciplina”.

Lições de Munger para acelerar a carreira

Aqui, listo seis principais lições do empresário que podem ajudar na carreira de qualquer profissional:

1. Constância de propósito: Munger sempre enfatizou a importância da perseverança, o que se traduz em estabelecer metas claras de carreira e se manter firme no caminho para alcançá-las, mesmo diante de obstáculos;

2. Trabalho duro e preparação: dedicar tempo ao aprendizado contínuo e ao desenvolvimento de habilidades;

3. Temperança: manter a calma sob pressão e tomar decisões ponderadas, uma habilidade crucial para qualquer profissional em ascensão;

4. Aprendizado interdisciplinar: para alunos e profissionais de qualquer campo, isso implica em buscar aprender além de sua área de especialização, entendendo como diferentes campos de conhecimento se conectam;

5. Realismo e honestidade: é importante ser realista e honesto, principalmente em relação às próprias competências e limitações. Isso é crucial para o desenvolvimento pessoal e profissional;

6. Investimento em si mesmo: transpondo à carreira, é investir tempo e recursos em educação e desenvolvimento pessoal.

A partida de um visionário

No dia 28 de novembro, Charlie Munger partiu aos 99 anos, deixando um legado não apenas como uma lenda nos investimentos, mas como um exemplo brilhante de como trabalho duro, dedicação e uma mentalidade equilibrada podem levar ao sucesso a longo prazo. Suas lições continuam relevantes para qualquer pessoa que busca excelência em sua carreira, servindo como um guia valioso para o desenvolvimento pessoal e profissional.

À medida que nos despedimos de um visionário, suas lições nos instigam a refletir sobre como podemos aplicar seu legado em um mundo de negócios em constante evolução. Seja na constância de propósito, no trabalho árduo ou na busca constante pelo conhecimento, Munger nos deixa um caminho valioso para acelerar nosso crescimento profissional e alcançar objetivos sustentáveis. Ele foi a prova viva de que o sucesso é um processo contínuo de aprendizado, adaptação e perseverança.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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sábado, 2 de dezembro de 2023

PROJETO APROVADO NO SENADO QUE LIMITA O PODER DO STF PODE SER MODIFICADO NA CÂMARA

 

História por Gabriel de Sousa  • Jornal Estadão

BRASÍLIA – Para tentar segurar o máximo possível a votação da proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2021, que limita os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), busca resgatar um projeto de lei alternativo que é mais ameno do que o texto aprovado no Senado no último dia 22 de outubro.

Em resposta a aprovação da PEC 8/2021 pelo Senado, Lira busca resgatar PL alternativo mais brando Foto: DIV© Fornecido por Estadão

O projeto de lei em questão é o 3.640/2023, que foi apelidada como a “PL da Moderação dos Poderes”. A proposta é de autoria do vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), e surgiu como resultado de sugestões feitas em 2020 por uma comissão de juristas presidida pelo ministro do STF Gilmar Mendes. O magistrado tem feito reuniões com Lira na tentativa de engavetar a PEC.

A PEC aprovada no Senado é de autoria do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e impõe que os ministros do STF se tornem impedidos de suspender, por meio de decisões individuais, a vigência de leis aprovadas pelo Legislativo. Para que essas ações sejam feitas, pelo menos seis dos 11 magistrados devem votar em conjunto.

Já o texto de Pereira é bem mais ameno e não impede que as decisões monocráticas aconteçam. O projeto de lei discorre que essas ações dos ministros devem ocorrer apenas em situações “de extrema urgência, perigo de lesão grave, excepcional interesse social ou, ainda, em período de recesso”.

Além disso, o projeto estabelece que a decisão individual deve ser pautada automaticamente para a sessão seguinte do STF, onde necessitará da aprovação da maioria do magistrados para que possa continuar em vigor.

Enquanto que a PEC do Senado busca alterar a Constituição Federal a partir de uma emenda, as mudanças propostas pelo projeto de lei alternativo pretende modificar a Lei nº 13.105, de 2015, do Código de Processo Civil, que discorre sobre as decisões monocráticas em tribunais.

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A proposta do vice-presidente da Câmara também prevê a possibilidade de resolução de ações no STF a partir de acordos entre as partes. Também é priorizada a intervenção de outras instituições nos processos a partir de convites do relator, o chamado amici curiae. A prática busca garantir a participação de múltiplos setores da sociedade nas decisões do Supremo.

O relator do projeto é o deputado Alex Manente (Cidadania-SP). O parlamentar afirmou que o texto deve entrar na pauta da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do próximo dia 12. O PL tem caráter terminativo, isto é, caso seja aprovado pelo colegiado ele não precisará passar pelo plenário da Casa, indo direto para o Senado.

Proposta permite aumentar o ‘sarrafo’ para partidos pequenos, o que é desejado por Lira

A proposta também dificulta que partidos pequenos possam ingressar no STF com Ações de Declaração de Inconstitucionalidade (ADI’s) e Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC’s).

Segundo o texto do PL, somente terão direito a acionar o STF as siglas que alcançaram nas eleições gerais mais recentes o percentual de 3% dos votos válidos ou quinze deputados federais distribuídos em pelo menos um terço dos Estados.

No dia 6 de novembro, Lira disse que seria necessário “subir o sarrafo” para quem tem direito aos recursos no Supremo. Na época, o presidente da Câmara defendeu que um partido político somente deveria ter o direito de apresentar uma ação direta de inconstitucionalidade se conseguisse o apoio de um quinto dos membros do Legislativo.

A declaração de Lira foi rechaçada pela presidente do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Segundo Gleisi, a limitação da atuação dos partidos pequenos contraria a “legitimidade e a autonomia” das legendas.

“Uma coisa é estabelecer cláusulas para o funcionamento legislativo dos partidos, seu acesso aos fundos públicos e tempo de propaganda. Outra, bem diferente, é retroagir no direito de livre organização e representação, inclusive o direito, importante, de provocar a ação do STF. Não se confunde Centrão com Constituição!”, afirmou a presidente do PT.

Lira deve segurar votação da PEC até o fim do recesso parlamentar

A PEC 8/2021 foi aprovada por 52 votos a 18 no Senado e aguarda por uma aprovação da Câmara dos Deputados para entrar em vigor. Em conversas reservadas, Lira disse que deve segurar a apreciação da proposta até o fim do recesso parlamentar. Aliados do presidente da Câmara avaliam que ele não deve entrar em confronto com o STF.

A proposta aprovada no Senado não é o texto original de Oriovisto e sofreu alterações do relator, senador Esperidião Amin (PP-SC). A versão inicial da previa que as medidas administrativas do governo só poderiam ser derrubadas pela maioria do STF e também estabelecia um prazo de validade de 180 dias para pedidos de vista. Ambos os trechos foram removidos.

Os ministros da Suprema Corte receiam que, com a aprovação da PEC, investidas mais radicais sejam feitas contra o Judiciário, como pedidos de impeachment de ministros da Corte. Após a votação no Senado, ministros do Supremo reagiram durante uma sessão, classificando a proposta de emenda como uma afronta aos magistrados. Em resposta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a reação foi ‘desproporcional’.

O ministro Gilmar Mendes chegou a reclamar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da posição do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que votou a favor da proposta.

STF DECIDE PUNIR A IMPRENSA E AO MESMO TEMPO FALA QUE ISSO NÃO IMPEDE A LIBERDADE DA IMPRENSA

 

História por Marina Amaral  • Agência Pública

Liberdade de imprensa não se discute; erros, sim© Fornecido por Agência Pública

Depois de uma semana carregada de troca de acusações entre os próprios jornalistas, que transformaram críticas em ofensas nas redes sociais, a notícia de que o STF decidiu que a imprensa pode ser responsável por falas de seus entrevistados deixou gregos e troianos apreensivos. 

Acredito que a maioria dos brasileiros – e de jornalistas – endossa a tese do ministro Alexandre de Moraes, aprovada pelo tribunal, de que a liberdade de imprensa não é um valor absoluto, tem de ser exercida “com responsabilidade”. 

Mas o ministro defende também, embora não admita censura prévia, que é possível retirar conteúdo do ar e responsabilizar a publicação por “informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas”. 

Ok. Mas, se as ações contra jornalistas e publicações já são corriqueiras – quando não se configuram em verdadeiro assédio judicial –, por que então uma decisão que restringe ainda mais a liberdade de imprensa? 

O caso em julgamento no plenário do STF era a publicação de uma entrevista em 1995 com imputações falsas de terrorismo feitas por um entrevistado a um militante de esquerda durante a ditadura, que morreu antes de o processo ser concluído. A decisão foi pela condenação do jornal que divulgou a entrevista, o Diário de Pernambuco

Uma decisão que parece adequada nesse caso, até porque o entrevistado era envolvido com a repressão, inimigo dos militantes contra a ditadura, e, portanto, longe de ser fonte confiável e isenta para uma acusação desse quilate – publicada e não investigada.  

A questão é: como a tese aprovada é de repercussão geral, os juízes de primeira e segunda instância vão julgar toda a imprensa e todas as reportagens e entrevistas com base na tese do STF, que peca, também, por não trazer critérios suficientemente claros. 

A partir de agora, todos os veículos podem ser punidos pelo que dizem seus entrevistados se: “i) à época da divulgação, havia indícios concretos da falsidade da imputação; ii) se o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos fatos e na divulgação da existência de tais indícios” (os negritos são meus).

A imprensa reagiu. “STF decide por liberdade de imprensa vigiada”, tascou o jornal condenado em sua manchete de ontem. A Associação Nacional dos Jornais (patronal), mais discreta, disse que a aprovação da tese é um “avanço”, mas fez ressalvas em nota publicada na quarta-feira. “A modulação dos votos reforça a natural responsabilidade dos veículos com o que divulgam, mas ainda pairam dúvidas sobre como podem vir a ser interpretados juridicamente os citados ‘indícios concretos de falsidade’, e a extensão do chamado ‘dever de cuidado’.”

Para além da conhecida falta de autocrítica da imprensa e da arrogância das empresas de mídia, vale a pena prestar atenção nesses pontos, também levantados pelas organizações de jornalistas. Em especial, a possibilidade de ter que retirar entrevistas do ar antes mesmo do final do julgamento – o que pode ser visto, sim, como censura – e a subjetividade dos critérios estabelecidos: afinal, quem vai determinar, por exemplo, o que são “indícios concretos de falsidade” ou se o veículo deixou de observar o “dever de cuidado”? E como fica o contraponto ao que diz o entrevistado no caso de entrevistas ao vivo?

Indo um pouco mais além do que disseram as entidades de jornalismo: e as denúncias de mulheres estupradas, comunidades atacadas, trabalhadores que relatam atos ilícitos de empresas? Terão que provar o que dizem, o que inviabilizaria muitas denúncias, às vezes sem outras testemunhas? A imprensa não pode ser obrigada a seguir o rito dos inquéritos policiais e processos judiciais. Isso é com os operadores da Justiça. 

Claro que é obrigatório ouvir o outro lado e investigar ao máximo e o mais profundamente possível, além de publicar todas as informações apuradas. Mas quem vai avaliar se o trabalho jornalístico foi o suficiente ou se cumpriu “o dever de cuidado”? O juiz?

Ontem mesmo a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) anunciaram que vão enviar um informe endereçado ao relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (vinculada à Organização dos Estados Americanos, OEA) sobre a intromissão do STF nos limites da liberdade da imprensa no país. 

Paralelamente a isso, porém, jornalistas e sociedade têm que se entender sobre a importância da liberdade de imprensa para a democracia, unidos na exigência pela qualidade da informação e pela necessidade de o jornalismo ter o interesse público como o seu único norte. 

Não cabe ao STF aprovar tese de repercussão geral que restringe a priori a liberdade de imprensa e vulnerabiliza o jornalismo, que passa a se sujeitar a interpretações de magistrados de instâncias inferiores. Com o agravante de que juízes locais frequentemente estão envolvidos nos conflitos retratados nas reportagens, são corporativistas quando as denúncias atingem membros do Judiciário, além de tenderem a beneficiar homens brancos, poderosos ou abastados. O recente caso da condenação da repórter Schirley Alves está aí para comprovar os abusos da Justiça. 

Que os crimes reais sejam punidos de forma imparcial, analisados caso a caso, com os ministros do STF cumprindo o papel de juízes e de guardiões da democracia e da Constituição, que entroniza a liberdade de imprensa. Afinal, como sabemos, quer na Justiça, quer na imprensa, o diabo mora nos detalhes.

FUNDO PARA BENEFICIAR ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO É UMA CONTABILIDADE CRIATIVA DO GOVERNO COMO MANOBRA PARA ATRAPALHAR AS REGRAS FISCAIS

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

O governo Lula da Silva editou uma medida provisória que cria um programa de bolsas para incentivar alunos de baixa renda a concluírem o ensino médio. A proposta é meritória, sem sombra de dúvidas, haja vista os elevados índices de evasão e abandono escolar registrados no ensino público, especialmente entre jovens vulneráveis.

Um estudo do Serviço Social da Indústria no Rio de Janeiro (Firjan Sesi), realizado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), constatou que 500 mil jovens acima dos 16 anos desistem dos estudos anualmente. A probabilidade de que um jovem na faixa dos 20% mais pobres termine o ensino médio é de apenas 45%, ante 94% entre os 20% mais ricos.

A evasão tem múltiplas causas, mas aumenta muito no primeiro ano do ensino médio. Fica claro, portanto, que os jovens que chegam até essa etapa precisam de incentivo para não abandoná-la. Concluir o ensino médio não é garantia de condições de vida melhores, mas certamente torna a mobilidade social um pouco menos desafiadora.

Dito isso, há formas e formas de propor políticas públicas para solucionar um mesmo problema. E o governo não escolheu a melhor delas. Em vez de inserir o programa no Orçamento e tratá-lo com a prioridade e a transparência que ele requer, o Executivo optou por criar um fundo privado para financiar as bolsas. Administrado pela Caixa, ele receberá até R$ 20 bilhões em aportes da União, ações de estatais e recursos arrecadados em leilões de petróleo.

O governo se limitou a publicar a medida provisória que cria o programa em edição extra do Diário Oficial da União. Não detalhou como o fundo será gerido, quanto pretende aportar neste ano e se esses recursos serão contabilizados dentro ou fora do limite de despesas. Mas o Senado respondeu a todas essas questões ao aprovar um projeto de lei complementar nesta semana. Serão R$ 6 bilhões neste ano fora do limite de gastos, na primeira deturpação no arcabouço fiscal.

Supõe-se que Lula da Silva decidiu cumprir a promessa de campanha que garantiu a ele o apoio da então candidata Simone Tebet no segundo turno da eleição. Mas o programa de bolsas defendido pela atual ministra do Planejamento tinha como base o Projeto de Lei de Responsabilidade Social (PL 5343/2020), do ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Parece a mesma coisa, mas não é. Em vez de um fundo privado, a proposta do ex-senador mantinha tudo dentro do Orçamento, com total observância das metas fiscais. Os benefícios teriam múltiplas fontes de financiamento, entre as quais recursos de emendas parlamentares. O projeto previa, também, o corte de subsídios para abrir espaço para o programa no Orçamento. Isso demanda tempo para debate e negociação – tudo que uma medida provisória não oferece.

O ex-senador nunca escondeu que sua fonte de inspiração era uma proposta dos economistas Fernando Veloso, Marcos Mendes e Vinícius Botelho, publicada pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP). É justamente por essa razão que não se deve ignorar a crítica de Marcos Mendes à iniciativa do governo, uma desfiguração da ideia original das bolsas.

Em entrevista ao Estadão, Mendes questionou a sistemática do fundo e a forma como o benefício será financiado. “Isso tem nome: se chama contabilidade criativa, despesa extraorçamentária, política parafiscal. Esse filme a gente já viu”, disse.

A baixa escolaridade está na origem de muitos outros obstáculos que se interpõem na passagem da infância e adolescência para a vida adulta. Dificulta a inserção no mercado de trabalho, empurra os jovens para a informalidade, impõe rendimentos menores e não proporciona uma rede de proteção social.

Por tudo isso, enfrentar a evasão no ensino médio é urgente. É algo que beneficiará não apenas os jovens vulneráveis, mas toda a sociedade brasileira. Reconhecer um grave problema social, no entanto, requer escolhas, ou seja, criar condições para custeá-lo no Orçamento sem recorrer a manobras e atropelar as regras fiscais. Essa alternativa sinaliza a escolha de um caminho perigoso, e o País sabe onde ele termina

LULA JÁ NÃO GOVERNA. É GOVERNADO PELAS REDES SOCIAIS

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