segunda-feira, 20 de novembro de 2023

DECISÃO DO STF SOFRE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS COMO FIM DA SEGURANÇA JURÍDICA NO CAMPO

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

Em evento sobre os aspectos jurídicos do agronegócio, realizado no dia 6 de novembro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a ministra aposentada do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie analisou o atual entendimento sobre o art. 231 da Constituição, que trata dos povos indígenas e da demarcação de suas terras. Diz esse texto constitucional que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Como se sabe, no final de setembro, o STF alterou a jurisprudência sobre o tema, rejeitando a tese do marco temporal, definida em 2009 no caso Raposa Serra do Sol. Por maioria, o plenário da Corte decidiu agora que não cabe utilizar a data da promulgação da Constituição Federal – 5/10/1988 – como prazo-limite para a definição de ocupação tradicional da terra por povos indígenas.

Dias depois da decisão do Supremo, o Congresso aprovou a Lei 14.701/2023, permitindo a demarcação de novos territórios indígenas apenas nos casos em que essa ocupação seja anterior a outubro de 1988. Essa restrição foi vetada, juntamente com outros pontos, pelo presidente Lula da Silva. O Legislativo ainda não analisou os vetos do Executivo.

Diante desse cenário de acirrada controvérsia, no qual muitos veem a decisão do STF como o fim da segurança jurídica no campo, Ellen Gracie alertou para um aspecto importante do tema, que muitas vezes tem sido ignorado. Mais do que a questão de uma data-limite para a definição de ocupação tradicional da terra por povos indígenas, o decisivo para um efetivo respeito à propriedade privada é assegurar que o processo de demarcação dessas terras seja corretamente realizado.

O processo é regulado pela Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio) e pelo Decreto 1.775/1996. A lei diz que “as terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do órgão federal de assistência ao índio, serão administrativamente demarcadas, de acordo com o processo estabelecido em decreto do Poder Executivo”. O órgão responsável é a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Segundo o Decreto 1.775/1996, a demarcação “será fundamentada em trabalhos desenvolvidos por antropólogo de qualificação reconhecida, que elaborará (…) estudo antropológico de identificação”. No entanto, como as quase três décadas de vigência do decreto mostram, esses estudos antropológicos são muitas vezes falhos, sem o necessário rigor técnico.

A agravar a imprevisibilidade e a insegurança, o procedimento de aprovação do relatório pela Funai não prevê a convocação das pessoas que poderão ser afetadas pela demarcação. O Decreto 1.775/1996 diz apenas que o estudo antropológico, depois de aprovado, deve ser publicado na sede da prefeitura na qual está localizado o imóvel e que eventuais interessados poderão se manifestar no prazo de 90 dias “para o fim de pleitear indenização ou para demonstrar vícios, totais ou parciais, do relatório”.

Na prática, é um procedimento administrativo sem contraditório, o que estimula a judicialização dos casos, com as disputas pela terra prolongando-se indefinidamente no tempo. É justamente o cenário que o legislador constituinte quis evitar, estabelecendo que “a União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição” (art. 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).

A controvérsia em torno do marco temporal deve ser estímulo para aprimorar o processo administrativo de demarcação das terras indígenas, processo esse que frequentemente afeta direitos constitucionalmente protegidos de terceiros. Não é questão de dificultar o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, mas precisamente assegurar sua efetividade. A situação atual, com disputas judiciais perpassando décadas e gerando diversas instabilidades, também viola a Constituição. Afinal, ela não veio promover a contenda, mas a paz.

CONSELHO DIRETOR DA OPENAI DETERMINA A SAÍDA DO FUNDADOR E PRINCIPAL NOME DA EMPRESA

 

História por Guilherme Guerra  • Jornal Estadão

OpenAI, empresa criadora do ChatGPT, está cogitando readmitir o fundador Sam Altman à startup, após o conselho de diretores da companhia expulsá-lo repentinanemtne do cargo de presidente executivo na última sexta-feira, 17. As informações são do site especializado The Verge, que afirma ter conversado com pessoas próximas de Altman.

Se voltar à OpenAI, Sam Altman afirma que vai propor “mudanças significativas na governança” da startup, disseram as fontes ao The Verge. Ainda, o ex-CEO está “ambivalente” sobre esse retorno.

Além disso, há a possibilidade de demissão coletiva de todo o conselho de diretores da OpenAI, possibilitando o retorno de Altman e o ex-presidente do conselho, Greg Brockman, que foi demitido também na sexta-feira. Do contrário, funcionários da startup ameaçam abandonar a companhia e se juntar ao fundador em uma novo negócio de inteligência artificial, diz o Verge.

Essa reviravolta acontece dois dias após a OpenAI emitir um comunicado expulsando Altman da companhia e colocando com o CEO interina a chefe de tecnologia da empresa, Mira Murati. A decisão chocou a indústria da tecnologia, em especial o Vale do Silício, que colocou Sam Altman entre os grandes talentos da área após o sucesso do ChatGPT nos últimos meses.

Pouco depois do comunicado, a Microsoft (principal investidora da OpenAI) enviou uma nota à imprensa e investidores para afirmar que os negócios entre as duas empresas seguiriam em normalidade. Mas informações do Washington Post publicadas no sábado afirmam que o presidente executivo da empresa, Satya Nadella, não sabia da decisão até pouco antes do anúncio da startup.

Ao Verge, nem a OpenAI nem a Microsoft responderam aos pedidos de comentário.

Sam Altman é o fundador e principal nome da OpenAI, startup americana responsável por criar o ChatGPT e DALL-E 2 Foto: Eric Risberg/AP© Fornecido por Estadão

Crise na OpenAI

a saída de Altman ocorre após o conselho diretor da empresa decidir que ele não era “consistentemente claro em suas comunicações com o conselho, minando suas responsabilidades”. “O conselho (da OpenAI) não tem confiança na habilidade de Sam Altman de continuar liderando”, diz o comunicado. “Agradecemos as muitas contribuições de Altman para a fundação e crescimento da OpenAI”.

Pouco depois do anúncio, Altman foi ao X (antigo Twitter) para comentar a saída: “Adorei meu tempo na OpenAI. Foi transformador para mim pessoalmente e, espero, para o mundo. Acima de tudo, adorei trabalhar com pessoas tão talentosas. Terei mais a dizer sobre o que está por vir mais tarde”, escreveu.

De forma interina, quem vai assumir o cargo de CEO da OpenAI é Mira Murati, então a chefe de tecnologia (CTO) da companhia — no mundo das startups, esse posto costuma ser o segundo mais importante na hierarquia da empresa. Saiba mais quem é Mira Murati.

Mira Murati é a CEO interina da OpenAI Foto: OpenAI Foto: Mira Murati/LinkedIn© Fornecido por Estadão

Ainda, a companhia afirma que acredita que Mira Murati deve levar adiante a missão da companhia: ela “é extremamente qualificada para pisar no cargo de CEO interina. Temos a maior confiança em sua capacidade de liderar a OpenAI durante esse período de transição”, diz o conselho de diretores.

Mirando grandes objetivos em inteligência artificial (IA), a OpenAI foi fundada em 2015, como organização de pesquisa sem fins lucrativos — um dos investidores iniciais do projeto foi Elon Musk, bilionário que abandonou a companhia por supostas divergências éticas nos anos seguintes.

ATITUDES DO GOVERNO COM O COMANDO VERMELHO DESMORALIZAM O PAÍS

 

Reação de Lula ao caso das reuniões no Ministério da Justiça com a mulher de um chefão do tráfico mostra que a prioridade não é a segurança pública, e sim defender o companheiro Dino

Por Notas & Informações

É estarrecedor. O Estadão revelou que pessoas muito próximas a uma facção criminosa fizeram reuniões no Ministério da Justiça e Segurança Pública e, em vez de tomar as atitudes necessárias para traçar uma linha clara entre governo e crime organizado, o presidente Lula da Silva veio a público prestar solidariedade ao ministro da Justiça, Flávio Dino, que estaria sendo “alvo de absurdos ataques artificialmente plantados”.

Ao contrário do que disse Lula da Silva, a questão não é se o ministro da Justiça encontrou-se pessoalmente com Luciane Barbosa Farias, mulher de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas e ela própria com contas a acertar na Justiça. Até agora, não há nada indicando que esse encontro ocorreu. O problema é outro, muito mais grave.

O crime organizado atua à luz do dia para se aproximar da política e interferir nela, e o governo do PT parece considerar tudo isso normal. Sua preocupação não é investigar o caso, tampouco atuar para que a administração pública federal fique menos exposta às investidas políticas das facções criminosas. A prioridade petista é defender o companheiro Dino, que estaria sendo injustamente atacado.

Com isso, Lula da Silva reitera o padrão de comportamento adotado até agora na área da segurança pública. Não entendeu a gravidade do problema. Não se preocupa com a população, que sente diariamente os efeitos e todas as sombras que a criminalidade gera sobre a vida em sociedade. Não tem nenhum plano concreto para prevenir os crimes e enfrentar os criminosos. Sua atenção está voltada exclusivamente para as eventuais consequências políticas do escândalo da participação da mulher do traficante “Tio Patinhas” em reuniões do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Trata-se da mesma irresponsabilidade que se viu na recente operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) nos portos e aeroportos para combater o tráfico de drogas e de armas. Diante de um problema gravíssimo, que exige estratégia, planejamento e coordenação, o governo federal optou por mais uma pirotecnia militar populista, de curto prazo e sabidamente ineficaz (ver editorial Uma GLO que é a cara deste governo, dia 3/11).

Governar é muito mais do que agir guiado por cálculos político-eleitorais. Exige um mínimo de comprometimento com o interesse público. No entanto, diante da revelação de que as facções criminosas de algum modo têm acesso à alta cúpula da administração federal, Lula da Silva optou por cuidar do interesse do seu ministro que, coitado, não estava sabendo das tais reuniões.

O governo do PT zela por si e apenas por si. E o faz de forma coordenada. Horas depois de Lula prestar solidariedade ao companheiro Dino, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, veio a público defendê-lo. Para Silvio Almeida, o problema não é a atuação cada vez mais audaciosa do crime organizado, mas os “ataques difamatórios” que “têm como alvo central o corajoso trabalho” do ministro da Justiça.

Haja empáfia. Em vez de esclarecer o que houve, Silvio Almeida acusou “a tentativa generalizada, por parte de extremistas de direita, de a todo momento fabricar escândalos e minar a reconstrução da política de direitos humanos”. Eis o modus operandi petista. Acham-se superiores mesmo quando seus erros são expostos. Em vez de prestarem as informações ao público e admitirem o erro, atacam genericamente, sem nenhuma prova, politizando infantilmente a questão.

Não há reconstrução possível do País onde imperam a irresponsabilidade e a desfaçatez. É mais que hora de Lula da Silva descer do palanque e governar com seriedade, o que envolve admitir os erros e, principalmente, cuidar dos interesses da população. É fácil – e gera engajamento nas redes sociais – culpar os “próceres da extrema direita brasileira”, como fez Silvio Almeida, pelo escândalo das reuniões. Difícil é enfrentar as causas do problema.

O mínimo que o governo poderia fazer seria afastar ou ao menos advertir os secretários envolvidos no caso. Mas o sr. Dino já descartou essa possibilidade, dizendo que, se o fizesse, estaria se “desmoralizando”. Conclui-se que ele preferiu desmoralizar o País.

O LIVRO O PODER DO HÁBITO CONTA HISTÓRIAS QUE AJUDAM A LEMBRAR O QUE APRENDERAM

 

Fonte: FFI, NPR, Good Life Project – StartSE

O que diz o autor de O Poder do Hábito?

Conheça Charles Duhigg, jornalista e e autor de dois livros famosos sobre hábitos e produtividade: O Poder do Hábito e Mais Rápido e Melhor

O Ghost Interview é um formato proprietário do Morse que recria narrativas em forma de entrevista para apresentar personalidades do mundo dos negócios, tecnologia e inovação.

Charles Duhigg é um jornalista e autor americano. Ele é autor de dois livros famosos sobre hábitos e produtividade, intitulados O Poder do Hábito e Mais Rápido e Melhor. Charles foi repórter do The New York Times e atualmente escreve para a The New Yorker Magazine. Em 2013, Duhigg recebeu o Prêmio Pulitzer de Reportagem Explicativa por uma série de 10 artigos sobre as práticas comerciais da Apple e de outras empresas de tecnologia. Conheça as plataformas que podem te ajudar na construção de hábitos, gestão de tempo e produtividade, acesse o Digitaliza.ai.

Aqui, ele conta porque começou a estudar os hábitos;

Como seus livros se tornaram best-sellers;

O que está por trás dos hábitos e como ajustá-los.

SEU LIVRO SOBRE O “PODER DO HÁBITO” FOI AMPLAMENTE ELOGIADO PELOS REVISORES. POR QUE VOCÊ ACHA QUE ESTE LIVRO FOI TÃO BEM RECEBIDO?

Acho que O Poder do Hábito teve um bom desempenho por dois motivos. O primeiro é seu foco nas narrativas. O livro conta a história de como os hábitos corretos foram cruciais para o sucesso do nadador olímpico Michael Phelps, do CEO da Starbucks, Howard Schultz, e do herói dos direitos civis Martin Luther King Jr. Igreja Saddleback, vestiários da NFL e os maiores hospitais do país. Conta histórias, e essas histórias, creio eu, ajudam as pessoas a lembrar o que aprenderam.

O QUE HÁ NA PERSPECTIVA DE CONTROLAR/CANALIZAR O PODER DOS HÁBITOS HUMANOS QUE CONSIDERAMOS TÃO ENVOLVENTE?

O livro contém um argumento básico: a chave para praticar exercícios regularmente, perder peso, criar filhos excepcionais, tornar-se mais produtivo, construir empresas e movimentos sociais revolucionários e alcançar o sucesso é compreender como funcionam os hábitos. Hábitos não são destino. Podem ser alteradas e refeitas – e qualquer pessoa pode aproveitar esta nova ciência para transformar os seus negócios, comunidades e vidas.

VOCÊ PODE FALAR UM POUCO MAIS SOBRE HÁBITO E CONTEXTO? QUAL É O PODER DO CONTEXTO, POR ASSIM DIZER, PARA MOLDAR OS HÁBITOS HUMANOS? MUDAR UM HÁBITO EXIGE MODIFICAR OU ESCAPAR DO CONTEXTO EM QUE ESSE HÁBITO SURGE?

O contexto mais importante para compreender os hábitos é perceber que cada hábito tem três componentes: um gatilho, uma rotina e uma recompensa. Na neurologia, isso é conhecido como “ciclo do hábito”. E depois de entender como diagnosticar essas três partes, você poderá descobrir como funciona um hábito.

Veja-me, por exemplo. Durante anos tive o hábito de comer um biscoito de chocolate todas as tardes. E então, um dia, tomei uma resolução: parar de comer biscoitos. Mas para mudar, eu precisava primeiro descobrir o gatilho desse hábito. As dicas podem ser uma hora específica do dia, um estado emocional específico ou outros gatilhos. E então comecei a prestar muita atenção ao meu ambiente sempre que sentia vontade de comer um biscoito – e rapidamente descobri que isso sempre ocorria por volta das 15h30. A hora do dia foi o gatilho.

E COMO ISSO SE RELACIONA COM RECOMPENSAS?

A razão pela qual os hábitos são tão poderosos é porque eles proporcionam recompensas. Então, para manter minha resolução, tive que identificar a recompensa. Por que eu comia um biscoito todas as tardes? Para descobrir isso, conduzi experimentos. Um dia, quando surgiu a vontade de comer um biscoito, comprei uma xícara de café, para ver se o que eu realmente precisava era de um estímulo. No dia seguinte, comi uma maçã para ver se reduzir a fome era a recompensa que ansiava. No terceiro dia, fui dar um passeio. O que descobri foi que a verdadeira razão pela qual fui ao refeitório foi porque oferecia a oportunidade de ver amigos. A recompensa que eu desejava era a socialização.

COMO VOCÊ TRADUZIU ESSE GATILHO, ROTINA E RECOMPENSA NA PRÁTICA?

Depois que entendi o meu gatilho, rotina e recompensa, foi fácil mudar o hábito. Resolvi que todas as tardes iria até a mesa de um colega de trabalho para fofocar, em vez de ir até o refeitório. Eu me daria a recompensa que ansiava – a socialização – mas mudaria a rotina para não incluir um biscoito. É claro que a simples seleção de sugestões e recompensas não significa que a mudança ocorra sem esforço. A chave é descobrir quando é provável que sua força de vontade diminua e apresentar uma resposta com antecedência.

COMO OS HÁBITOS SÃO DE FATO ESTABELECIDOS?

Bem, o que acontece é que você é exposto a esse gatilho, faz alguma coisa e isso lhe dá uma recompensa. E seu cérebro começa a aprender uma associação entre esse gatilho, esse comportamento e a recompensa. Tomemos, por exemplo, um dos maiores experimentos que foi feito com macacos, onde eles colocavam macacos na frente de monitores e os faziam tocar nessas cores conforme elas apareciam. E o macaco pegava uma gota de suco de amora.

Os macacos adoram suco de amora. Então, quanto mais você fazia isso, mais e mais o macaco tocava a cor automaticamente, sem pensar nisso. O hábito seria estabelecido. E dentro do cérebro daquele macaco, o que sabemos é que certas vias neurais estão se tornando cada vez mais espessas. É mais fácil para as correntes elétricas percorrerem esses caminhos e desencadearem esse comportamento.

O MACACO CONTINUOU PRECISANDO DO SUCO PARA QUE O HÁBITO SOBREVIVESSE?

Aqui está o que é realmente fascinante nisso. A resposta é não. Em algum momento, em algum momento a recompensa se torna menos importante do que a atividade em si. E sabemos disso repetidamente. As pessoas começarão a comer porque estão com fome e porque você deseja essa satisfação. E então você começa a comer automaticamente, mesmo que não esteja com fome, mesmo que nem necessariamente goste do que está comendo em casa.

O que sabemos é que quando o seu cérebro começa a associar um determinado comportamento a uma recompensa, quer essa recompensa exista ou não, você experimenta o prazer da recompensa.

COM QUE FREQUÊNCIA ESSAS COISAS REALMENTE ACONTECEM – ESSA TEORIA DESENVOLVIDA SOBRE DICAS, ROTINA E RECOMPENSA SE APLICA NÃO APENAS A INDIVÍDUOS, MAS A GRUPOS, DA MANEIRA COMO VOCÊ FALOU NAQUELE CASO?

Isso é o que há de mais fascinante em muitas das pesquisas em andamento no momento. Uma das coisas que temos e da qual temos cada vez mais certeza é que existem hábitos organizacionais que funcionam de maneira muito semelhante aos hábitos individuais. E, em particular, o que aprendemos é que alguns hábitos tendem a ser mais importantes do que outros.

No livro contamos a história de Paul O’Neill, que a maioria das pessoas conhece como secretário do Tesouro. Mas antes disso foi CEO da Alcoa, a maior empresa de alumínio da América e do mundo. Ele entrou e transformou aquela empresa dizendo que quero focar nos hábitos de segurança dos trabalhadores. Vou me concentrar apenas nisso: transformar nossos hábitos de segurança dos trabalhadores, porque ele sabia que, se pudesse fazer isso, desencadearia uma reação em cadeia que mudaria a cultura em toda a empresa.

E de forma muito semelhante às dicas, rotinas e recompensas dos hábitos individuais, é assim que os hábitos organizacionais também funcionam. Existem todos os tipos de hábitos em qualquer organização que, quando você pensa sobre eles, ninguém anota, ninguém diz, ah, você sabe, esse assistente é aquele que pode fazer algo, e se você for falar com esse vice-presidente, você precisa colocar sua solicitação em primeiro lugar e não consumir mais do que quatro minutos do seu tempo.

Esses são hábitos organizacionais que surgem e que as pessoas mais experientes entendem.

O Poder do Hábito (Fonte: Divulgação)

POR QUE ISSO NÃO SIGNIFICA APENAS QUE UMA NOVA ROTINA FOI ESTABELECIDA OU UMA NOVA REGULAMENTAÇÃO FOI IMPLEMENTADA? POR QUE VOCÊ COLOCA ISSO NA ESTRUTURA DO HÁBITO?

Porque acho que o que acontece aqui é que esses padrões emergem sem que ninguém necessariamente pense neles, certo. Quero dizer, por exemplo, houve uma espécie de estudo famoso que analisou as rivalidades dentro das empresas. E a grande questão para as grandes empresas era: por que as grandes empresas não se destroem? Por que não surgem rivalidades entre dois vice-presidentes que almejam o mesmo cargo, por que eles não tentam sabotar um ao outro? Por que as pessoas não tentam ganhar dinheiro às custas dos colegas?

E a razão é porque surgem esses hábitos, hábitos organizacionais, que dizem que você pode ser ambicioso, mas se você for ambicioso demais, o resto da organização se unirá contra você, porque todos entendemos que estamos nisso juntos. Ninguém nunca se senta e diz: OK, aqui está o limite, se você ultrapassar esse limite, todos nós vamos acabar com você.

Mas há quase um hábito (ininteligível) em toda a organização, em milhares de pessoas, que diz que é assim que a nossa cultura funciona. E se você olhar com atenção, poderá encontrar dicas, rotinas e recompensas.

ENTÃO, DEPOIS QUE VOCÊ FEZ ESSA PESQUISA E DESCOBRIU QUE ISSO ERA REAL, ESSA DINÂMICA DA QUAL VOCÊ ESTÁ FALANDO, E VOCÊ APRENDEU QUE PODE MUDAR HÁBITOS, QUAIS VOCÊ ADOTOU, QUAL VOCÊ MAIS ADOTOU EM SI MESMO?

Na verdade, eram dois. O primeiro foi o exercício. Você sabe, a outra razão pela qual escrevi este livro é porque fiquei muito frustrado. Isso foi há cerca de oito anos. Sinto que sou uma pessoa bastante inteligente e bem-sucedida. E houve todas essas coisas que fiz muito bem na vida. Sou repórter investigativo do Times. Você sabe, sinto que tenho sucesso em muitas coisas.

E ainda assim havia coisas na minha vida que eu sentia que não conseguia controlar, como comer, por exemplo. Eu apenas beliscava o tempo todo. Quando eu queria fazer exercícios pela manhã, não conseguia sair da cama para correr. Eu inventaria desculpa após desculpa. E isso me deixou louco porque se sou tão bom em algumas coisas, por que não tenho controle sobre esses pequenos padrões?

E então uma das grandes coisas em que me concentrei foi em criar – aprender como os hábitos funcionam para que eu pudesse criar hábitos de exercício para mim mesmo, o que funcionou perfeitamente. Perdi cerca de 35 quilos apenas mudando essencialmente a forma como comia e como me exercitava.

Fonte: FFI, NPR, Good Life Project

Por que você está ignorando a ferramenta de vendas mais poderosa do mundo?

Guilherme Dias – Diretor de Comunicação e Marketing da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG)

Eu vejo todos os dias o anunciante separando seus R$ 10.000,00 pra fazer uma campanha no rádio, R$ 3.000,00 para sair em uma revista local, pelo menos R$ 9.000,00 para fazer uns 3 pontos de mídia exterior, mas na hora de tirar o escorpião do bolso pra comprar mídia online, qualquer “milão” é “caro demais”.

Eu sinceramente não sei de onde veio este mito de que fazer anúncios na internet merece menos atenção financeira do que outros meios. A lógica deveria ser justamente a inversa.

Nenhum outro tipo de mídia retém tanta atenção do público comprador como na internet.

O Brasil é o terceiro país do mundo onde as pessoas mais ficam conectadas, passando mais de 10 horas por dia online (DEZ HORAS POR DIA!).

Ficamos atrás apenas de África do Sul e Filipinas.

Qual outra mídia prende a atenção das pessoas por DEZ HORAS?

Qual outra mídia pode colocar sua marca literalmente na mão do seu cliente ideal?

Qual outra mídia pode colocar sua marca na mão do seu cliente no EXATO momento que ele está propenso a fazer uma compra?

Qual outra mídia pode rastrear, seguir o seu cliente de acordo com os hábitos de consumo dele?

Qual outra mídia pode segmentar um anúncio de acordo com os interesses, medos, desejos, ações, intenções…

Qual outra mídia pode oferecer um contato com seu cliente ideal 24 horas por dia, 7 dias por semana?

Absolutamente nenhuma além da internet.

E agora, me conta…qual o motivo da internet receber menos investimento comparado à mídia tradicional?

Marketing Digital é barato, mas não é de graça.

Vamos fazer uma conta de padaria:

Quanto custa imprimir 1.000 flyers (folhetos) e distribuir no sinal?

Papel couchè brilho 90g 4×4 cores, em gráfica de internet (qualidade bem meia boca), com frete sai em torno de R$ 250,00.

Para a distribuição, você não vai encontrar quem faça por menos de R$ 70 a diária.

Você não tem a garantia de entrega. Já ví muito “panfleteiro” jogando metade do material no bueiro, ou entregando 2 de uma vez só em cada carro. Mas vamos tirar essa margem da conta.

Estamos falando de R$ 320 para 1 mil impactos.

Hoje estava otimizando uma campanha de Instagram, da minha conta pessoal, e o meu CPM (custo por mil impressões) estava girando em torno de R$ 5,51.

Ou seja cerca de 1,72% do valor de uma ação de rua com flyer.

Essa lógica pode ser aplicada a qualquer meio de comunicação tradicional, seja rádio, tv, outdoor, busdoor…

E a conta também deve ser levada em consideração além dos anúncios de Google, LinekedIN, Facebook, Instagram e TikTok.

Banners em portais e publieditoriais, este último ainda pouco explorado por pequenos e médios anunciantes, também apresentam números disparados na frente do marketing tradicional.

Então, quando você se perguntar se está tendo ou não resultados com mídia online, pense nessa continha.

Marketing digital, em comparação, é barato sim, mas será que você deveria deixar a menor faixa de verba do seu orçamento de marketing para o meio de vendas MAIS PODEROSO QUE EXISTE?

Deixo a reflexão.

Preferências de Publicidade e Propaganda

Moysés Peruhype Carlech – Fábio Maciel – Mercado Pago

Você empresário, quando pensa e necessita de fazer algum anúncio para divulgar a sua empresa, um produto ou fazer uma promoção, qual ou quais veículos de propaganda você tem preferência?

Na minha região do Vale do Aço, percebo que a grande preferência das empresas para as suas propagandas é preferencialmente o rádio e outros meios como outdoors, jornais e revistas de pouca procura.

Vantagens da Propaganda no Rádio Offline

Em tempos de internet é normal se perguntar se propaganda em rádio funciona, mas por mais curioso que isso possa parecer para você, essa ainda é uma ferramenta de publicidade eficaz para alguns públicos.

É claro que não se escuta rádio como há alguns anos atrás, mas ainda existe sim um grande público fiel a esse setor. Se o seu serviço ou produto tiver como alvo essas pessoas, fazer uma propaganda em rádio funciona bem demais!

De nada adianta fazer um comercial e esperar que no dia seguinte suas vendas tripliquem. Você precisa ter um objetivo bem definido e entender que este é um processo de médio e longo prazo. Ou seja, você precisará entrar na mente das pessoas de forma positiva para, depois sim, concretizar suas vendas.

Desvantagens da Propaganda no Rádio Offline

Ao contrário da televisão, não há elementos visuais no rádio, o que costuma ser considerado uma das maiores desvantagens da propaganda no rádio. Frequentemente, os rádios também são usados ​​como ruído de fundo, e os ouvintes nem sempre prestam atenção aos anúncios. Eles também podem mudar de estação quando houver anúncios. Além disso, o ouvinte geralmente não consegue voltar a um anúncio de rádio e ouvi-lo quando quiser. Certos intervalos de tempo também são mais eficazes ao usar publicidade de rádio, mas normalmente há um número limitado,

A propaganda na rádio pode variar muito de rádio para rádio e cidade para cidade. Na minha cidade de Ipatinga por exemplo uma campanha de marketing que dure o mês todo pode custar em média 3-4 mil reais por mês.

Vantagens da Propaganda Online

Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia digital.

Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda mais barato.

Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança, voltando para o original quando for conveniente.

Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e de comentários que a ela recebeu.

A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.

Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a empresa.

Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.

Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não estão.

Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.

A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos: computadores, portáteis, tablets e smartphones.

Vantagens do Marketplace Valeon

Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as marcas exporem seus produtos e receberem acessos.

Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual. 

Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente. Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos diferentes.

Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma, proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.

Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em 2020. 

Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua marca.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

  • Publicidade e Propaganda de várias Categorias de Empresas e Serviços;
  • Informações detalhadas dos Shoppings de Ipatinga;
  • Elaboração e formação de coletâneas de informações sobre o Turismo da nossa região;
  • Publicidade e Propaganda das Empresas das 27 cidades do Vale do Aço, destacando: Ipatinga, Cel. Fabriciano, Timóteo, Caratinga e Santana do Paraíso;
  • Ofertas dos Supermercados de Ipatinga;
  • Ofertas de Revendedores de Veículos Usados de Ipatinga;
  • Notícias da região e do mundo;
  • Play LIst Valeon com músicas de primeira qualidade e Emissoras de Rádio do Brasil e da região;
  • Publicidade e Propaganda das Empresas e dos seus produtos em cada cidade da região do Vale do Aço;
  • Fazemos métricas diárias e mensais de cada consulta às empresas e seus produtos.

domingo, 19 de novembro de 2023

ATIVISMO POLÍTICO DO STF INCOMODA

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

Na abertura do seminário O papel do Supremo nas democracias, organizado pelo Estadão em parceria com o Broadcast e patrocínio da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresentou um panorama das aflições vividas pelas democracias constitucionais em tempos de populismo autoritário e do consequente protagonismo exercido pelos tribunais constitucionais ao redor do mundo.

Barroso discorreu sobre os elementos caracterizadores das democracias constitucionais – soberania popular, Estado de Direito, proteção dos direitos fundamentais – e enfatizou o papel dos tribunais constitucionais na garantia da convivência entre esses elementos – uma convivência tensionada nos últimos tempos por governos populistas, em sua cruzada pela imposição das decisões das maiorias políticas inclusive sobre direitos fundamentais e freios institucionais.

Como era de esperar, Barroso dedicou-se especialmente ao caso brasileiro. Citou os enfrentamentos do STF com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, salientando as ações da Corte nos campos ambiental, sanitário, eleitoral e democrático.

Daí passou à exposição da “singularidade” do papel do STF no País e das razões da percepção pública de seu protagonismo. Lembrou, primeiro, que a Constituição de 1988 é um documento abrangente, que “constitucionalizou inúmeras matérias que, em outras partes do mundo, são deixadas para a política”. Essa constitucionalização remeteria a solução de controvérsias constitucionais ao Poder Judiciário, notadamente ao Supremo, em vez da política.

Além disso, o protagonismo do STF se veria incrementado pelas diferentes ações judiciais que dão acesso à Corte (ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade, etc.) e pelos diversos autores que podem recorrer diretamente a ele (presidente da República, Mesas da Câmara e do Senado, procurador-geral da República, OAB, etc.).

Barroso negou também as acusações de ativismo por parte do STF, afirmando que, na maioria dos casos assim qualificados no debate público (instalação de CPIs, despenalização do porte de drogas), a Corte não recorreu a princípios abstratos para disciplinar uma situação concreta desprovida de regulamentação – o que caracterizaria o ativismo. Para o ministro, as pessoas frequentemente chamam de “ativista” as decisões de que não gostam.

A exposição feita por Barroso trouxe esclarecimentos relevantes e convincentes em sua maioria, mas deixou de tocar num ponto igualmente importante. Ao focar as razões “externas” do protagonismo do STF, notadamente o desenho constitucional brasileiro, Barroso ignorou as razões “internas” desse protagonismo, que dizem respeito a comportamentos da Corte ou de seus ministros – comportamentos que explicam parte da visão negativa da opinião pública sobre o Supremo.

Nesse ponto, sobram exemplos: manifestações de ministros na imprensa sobre casos sob julgamento ou que nem chegaram ainda ao STF; presença de ministros em eventos promovidos por partes com causas no tribunal; e acertos políticos e desacertos pessoais entre ministros transmitidos via TV Justiça ou embutidos em decisões monocráticas. A isso têm se somado decisões preocupantes, que desvalorizam direitos fundamentais, como provam os tantos processos e réus sob jurisdição exclusiva do Supremo, os inquéritos intermináveis e certas restrições à liberdade de expressão. Nesse contexto, o argumento de que a atuação do STF visa a proteger a democracia convence menos, pois, afinal, uma das condições da democracia é justamente o respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos.

Garantir esse respeito é papel do Supremo – muito mais do que, como disse Barroso, “fazer uma interlocução com a sociedade”, “ouvir as pessoas” e “construir pontes”. Essa é uma tarefa dos políticos. São eles que atuam “na ponta”, no contato com eleitores e no desenlace de questões políticas. Ao STF cabe uma atuação “na origem”, garantindo as condições para a estabilidade e o desenvolvimento da democracia constitucional tão bem evocada pelo ministro.

COMO LULA VAI RESOLVER SOBRE O ROMBO DAS ESTATAIS DE R$ 5,6 BILHÕES

História por Aryel Fernandes  • IstoÉ Dinheiro

Por Paula Cristina

RESUMO

• Lei prevê a possibilidade de compensação da diferença por parte da União

• Tesouro descarta ajuda às estatais nos próximos anos• Ministra diz que resultado negativo das estatais foi a incorporação das empresas de energia nuclear à meta. Lula manda recado ao mercado de que não vai vender estatais, mas fortalecê-las. Desestatização só é considerada no governo na medida em que as agências regulatórias se aprimorarem

presidente Lula ainda tem alguns abacaxis para descascar quando o assunto é economia, e sua condução pautada na mediação de conflitos torna algumas das resoluções mais difíceis. É o caso das estatais. Depois da corrida pelas privatizações promovida nos governos Temer e Bolsonaro, o número de empresas caiu de 300 para 124 entre 2016 e 2022, mas alguns problemas voltaram a aparecer agora. O principal é o resultado deficitário de parte delas, que fecharam o terceiro trimestre com R$ 500 milhões negativos.

Somado ao pagamento de juros e amortizações, que chegarão a quase R$ 3 bilhões até o fim do ano, o déficit chegará a R$ 5,6 bilhões, e será preciso acionar o Tesouro Nacional para cobrir. A projeção é do Ministério do Planejamento, no relatório de avaliação de receitas e despesas relativo ao quarto bimestre deste ano.

Segundo a Legislação brasileira, quando o resultado negativo fixado na Lei de Diretrizes Orçamentárias das estatais é maior do que o esperado, a própria lei prevê a possibilidade de compensação da diferença por parte da União.

Um levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, essa compensação não ocorre desde o ano de 2015, ainda no governo Dilma Rousseff. Segundo o Tesouro Nacional, a necessidade de compensação de 2023 não deverá acontecer nos próximos anos.

“Apesar da expectativa presente de necessidade de compensação, pelo Tesouro Nacional, no ano de 2023, quanto ao resultado primário das empresas estatais federais, para os anos seguintes, não se vislumbra a necessidade de esforço fiscal adicional pelo governo central”, informou a instituição.

Ceitec, empresa pública de chips, voltou a operar no início de novembro e deve começar, em parceria com a China, a exportar o produto na América Latina© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

ENERGIA

Segundo Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicoso déficit das estatais é resultado da incorporação das empresas de energia nuclear à meta, algo que não acontecia há mais de uma década.

Desde 2009 o grupo Eletrobras ficava de fora. Embora uma parte dele tenha sido privatizada no ano passado, o governo Bolsonaro não excluiu a ENBPar.

O déficit deste ano resulta em parte da falta de “excepcionalização”, para usar o termo de Dweck. “A empresa principal, que tem o déficit, é a Eletronuclear”, afirmou a ministra.

Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) foi criada para acomodar a gestão da Eletronuclear e Itaipu após a privatização da Eletronuclear. Agora, o plano é tirá-la da conta em 2024. “Pedimos para a LDO de 2024 o grupo ENBPar ser excepcionalizado”, disse.

O resultado tão negativo, causado pela excepcionalidade ou não, trouxe à tona discussões sobre o que deve ou não ser privatizado.

• Emgepron, por exemplo, tem previsão de déficit de R$ 3 bilhões.

• Correios deve fechar o ano negativo em R$ 600 milhões; o INB no vermelho em R$ 300 milhões.

• Dataprev com rombo de R$ 200 milhões.

Lula, no entanto, já afirmou que seu plano não é “vender a cama para dormir no chão”, mas tornar as estatais competitivas. Foi um recado direto à turma da privatização. Isso explica a retirada do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), única fabricante de microchips do país, da lista de privatizações de Bolsonaro.

Não só isso. Na terça-feira (14) a empresa pública retomou suas atividades. A Ceitec estava esvaziada, depois de não ter atraído compradores. Por meio de um decreto Lula, as operações foram reativadas. Depois de dois anos parada, a estatal de tecnolgia deve receber aportes para recomeçar os negócios.

Em 2019, a companhia pública produziu mais 100 milhões de unidades de microchips. Um dos chips desenvolvidos na empresa era destinado ao passaporte brasileiro. O Ceitec também desenvolvia o chamado chip do boi, usado no monitoramento de rebanhos. Segundo Lula, as parcerias com a China podem ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias e fazer do Brasil também um exportador de chips, ganhando novos mercados.

Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

“A empresa principal, que tem o déficit, é a Eletronuclear, por isso pedimos para que na LDO de 2024 o grupo ENBPar ser excepcionalizado.”Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

SERPRO

Ainda na área de tecnologia, a Serpro, estatal que abriga dados on-line de todos os brasileiros, também passou pela berlinda da privatização, mas continua sob cuidados da União. A empresa é considerada uma das mais rentáveis entre as públicas, já que opera com dados, uma commodity para a economia do futuro.

O Serpro, que ganhou recursos e espaços durante o s primeiros governos de Lula, também terá destaque no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e desenvolverá toda a tecnologia que irá cruzar dados, licitações e gastos para evitar desvios e fraude.

Telebras, que esteve no limbo nos últimos anos, entrou na lista de repaginação. Segundo Siqueira Filho, presidente eleito em maio deste ano pelo Conselho de Administração da estatal, o próximo passo será entrar no mercado de data centers.

“O objetivo é que a gente atenda a administração pública em busca de novas fontes de receita”, disse. No final de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou em caráter terminativo um Projeto de Lei de contratação preferencial da Telebras por parte de órgãos públicos federais para serviços prestados de forma não exclusiva.

Em 2022, a Telebras registrou um faturamento líquido de R$ 347 milhões — com prejuízo de R$ 127 milhões.

Junto com a MP para reajustar salários dos servidores público o governo criou um novo cargo na Codevasf para indicar um aliado do Centrão© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ Armando Castelar, os argumentos antes utilizados para justificar a manutenção de empresas nas mãos do Estado perderam o sentido com o passar das décadas.

O medo da desnacionalização da economia e a preocupação com a segurança nacional foram postos de lado depois que os militares saíram do poder, em 1985, e de a Guerra Fria chegar ao fim, em 1991.

A criação de empresas públicas para garantir investimentos no País diante do baixo interesse do capital privado também não é mais um argumento válido, como era entre 1950 e 1990, já que a abertura da economia global deixou o Brasil em destaque. “Os empresários brasileiros também conseguiram resultados excelentes e estão dispostos a investir, desde que haja condições”, disse Castelar.

Ainda segundo ele, hoje uma estatal só se justifica se cumprir algum papel social, além do comercial. Por exemplo: cobrar mais dos ricos de modo a subsidiar o serviço oferecido aos mais pobres.

Quando isso não corre, em sua visão, o ideal é que a iniciativa privada se encarregue do negócio. “Nenhum dos temores que existiam no passado em relação às privatizações se concretizou. As empresas se tornam mais competitivas quando vão para a iniciativa privada, pagam mais tributos para o poder público e geram mais empregos”, disse.

Claro que há exceções, como ficou claro no recente episódio envolvendo a Enel, empresa de distribuição de eletricidade que deixou milhares de paulistas sem energia por vários dias após as chuvas do início de novembro.

ideia da venda de alguns ativos, em especial os pouco ou nada rentáveis, é uma questão delicada dentro da cúpula do governo. Um exemplo está na Companhia de Desenvolvimento dos Vales de São Francisco e do Paranaíba (Codevasf), estatal envolta em polêmicas em todos os governos e que ganhou uma cadeira a mais a pedido do Executivo. O cargo foi repassado ao ex-deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA), que esteve no palanque de Bolsonaro. Ele será diretor de finanças e foi o relator do Projeto de Lei que, ironicamente, desestatizava os Correios.

AGÊNCIAS

Para Gustavo Henrique Monteiro, consultor legislativo do Senado, o avanço da desestatização só poderá acontecer em paralelo outro movimento. O de fortalecimento das agencias regulatórias.

“Ou as agências têm poder ou o serviço pode ser sucateado”, disse. No caso da Eletrobras, que está em processo de desestatização, a Agência de Energia Elétrica (Aneel) será fundamental. “As companhias de eletricidade devem pagar a tarifa social para as famílias de baixa renda. Quem vai garantir isso é a Aneel”, afirmou.

Com tantos prós e contras, mediar os conflitos e chegar a um consenso que agrade minimamente gregos e troianos, é um baita abacaxi (e que só Lula poderá descascar).

Como Lula vai resolver o rombo das estatais? Déficit previsto é de R$ 5,6 bilhões© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

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RECEITA FEDERAL ESPERA IMPLANTAR UM IMPOSTO MÍNIMO SOBRE O LUCRO DAS MULTICIONAIS

 

História por INDIANA TOMAZELLI  • Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Receita Federal discute a implementação de um imposto mínimo efetivo de 15% sobre o lucro das multinacionais que operam no Brasil.

O objetivo é alinhar o país ao acordo firmado por cerca de 140 economias e que tem o apoio da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Em entrevista à Folha, a subsecretária de Tributação e Contencioso da Receita, Claudia Pimentel, afirma que o órgão já trabalha em uma proposta para instituir a cobrança mínima, mas sua apresentação depende de discussões técnicas e de uma decisão política do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A OCDE projeta uma arrecadação adicional de US$ 200 bilhões anuais com a cobrança do imposto mínimo em escala global. Os países poderão aplicá-lo sempre que os tributos efetivamente pagos por uma multinacional ou suas subsidiárias sobre o lucro ficarem abaixo da proporção de 15%.

Embora as companhias no Brasil hoje recolham uma alíquota nominal de 34%, somando o IRPJ e CSLL, a existência de benefícios fiscais pode fazer com que a carga efetiva fique abaixo dos 15%.

As próprias subvenções do ICMS, que Haddad propõe taxar para ampliar a arrecadação federal, contribuem para reduzir a alíquota efetiva sobre o lucro das empresas e abrem brechas para que outros países se apropriem da tributação.

“A gente deixa de arrecadar no Brasil, dando a possibilidade de essa diferença ser arrecadada nos países que implementaram”, alerta a subsecretária.

“Reconhecendo que essas empresas, ao fim e ao cabo, vão ser tributadas em algum país, então por que abrir mão desse imposto e não fazê-lo [o recolhimento] aqui no Brasil?”

*Folha -* Como está a discussão do imposto mínimo global no Brasil?

* Claudia Pimentel -* Por causa das novas tecnologias e da digitalização da economia, grandes empresas conseguem atuar em outros países sem presença física, dificultando ou prejudicando a tributação da parcela de lucro auferida nessas jurisdições.

As discussões surgem no âmbito da OCDE nesse contexto. Alguns membros defendiam que o problema vinha da possibilidade de [a empresa] usar países com baixa tributação para se localizar e atuar em outras jurisdições.

Outros entendiam que, pelo fato de ela conseguir atuar na economia de um determinado país sem presença física, deveria ser reconhecido que o mercado teria direito a uma parcela desse lucro.

Como se decidiu resolver? Tentar tratar das duas situações. Então, criaram o Pilar 2, essa tributação mínima global de 15% efetiva. E tem o Pilar 1, a possibilidade de reconhecer que o país tem direito a uma parcela do lucro excedente de grandes multinacionais.

*Folha -* No contexto atual, é como se houvesse um deslocamento do lucro.

Pode ter também o “já que eu consigo atuar a distância, por que não atuar em um país que tem uma tributação mais favorecida [paraísos fiscais]?”.

* Claudia Pimentel -* O Pilar 2 tenta endereçar trazendo a tributação mínima global de 15%. É uma alíquota efetiva. Como é feito esse cálculo? Pega o lucro contábil dessa entidade, com alguns ajustes, e verifica o imposto efetivamente recolhido. Se for abaixo de 15%, teria a tributação sobre o diferencial.

Vamos pegar um exemplo, uma entidade no Brasil que está tendo uma tributação efetiva de 12%, mas ela tem uma holding, uma controladora ou empresas do próprio grupo situadas em outros países que implementaram o Pilar 2.

Caso o Brasil não tribute essa diferença do 12% até os 15%, esses países poderão capturar isso. E, a partir de 2024, muitos estão implementando. Países da Europa, Coreia do Sul, Japão e muitos outros. E ainda que o país não adote, tem mecanismos para capturar essa diferença por outras entidades do grupo [como subsidiárias].

*Folha -* Isso significa que, se o Brasil não rever sua estrutura de tributação, vai começar a perder dinheiro?

* Claudia Pimentel -* Exato. A gente deixa de arrecadar no Brasil, dando a possibilidade de essa diferença ser arrecadada nos países que implementaram.

*Folha -* Como a Receita Federal vai fechar essa brecha?

* Claudia Pimentel -* Uma das formas seria instituir o imposto mínimo global de 15%. Você verifica entidades de multinacionais que estejam aqui, com matriz aqui ou fora, que tenham uma tributação efetiva abaixo de 15%.

O próprio Brasil já tributaria. Reconhecendo que essas empresas, ao fim e ao cabo, vão ser tributadas em algum país, então por que abrir mão desse imposto e não fazê-lo [o recolhimento] aqui no Brasil?

*Folha -* O governo vai instituir esse imposto?

A Receita Federal tem um grupo estudando e desenvolvendo a legislação, para quando tiver a decisão política do ministro, do presidente.

Alguns mencionam que a alíquota do Brasil [de impostos sobre o lucro] já é 34%, então teria pouca diferença, mas a gente sabe que não é verdade. Temos vários benefícios fiscais ou possibilidades de dedução da base de cálculo.

A própria discussão da subvenção para investimento [do ICMS] acaba por reduzir a base de cálculo de empresas, pode ter uma alíquota efetiva abaixo de 15%. Isso vai acabar sendo capturado em outros países.

*Folha -* Já se sabe quantas multinacionais se enquadram na situação e quanto será arrecadado?

* Claudia Pimentel -* Não, a gente ainda está fazendo o estudo.

*Folha -* Multinacionais com muitos benefícios fiscais de Imposto de Renda seriam as potencialmente afetadas?

* Claudia Pimentel -* Sim, principalmente quando esses incentivos são de redução da base de cálculo. Tem alguns benefícios que não afetam tanto, como quando é temporário. Ou quando é concedido um crédito fiscal do Imposto de Renda, que pode ser compensado com outros tributos ou restituível em até quatro anos. Nesse caso, o Pilar 2 reconhece isso como uma tributação. Não vai ter impacto.

Em relação aos incentivos fiscais que são efetivamente uma dedução da base, eles afetam porque você vai recolher menos imposto, e quando compara com o lucro contábil, acaba chegando a uma tributação efetiva mais baixa.

Por isso, se você quer manter um benefício, mas a alíquota efetiva pode ficar abaixo, o ideal seria migrar para o formato de crédito fiscal. Ele foi preservado [do imposto mínimo global] por ter a qualidade de maior controle e transparência. É muito fácil rastrear e controlar quando está sendo destinado para aquela empresa do que quando você simplesmente permite uma dedução.

*Folha -* O Brasil vai ter de rever a sua estrutura de incentivos fiscais?

* Claudia Pimentel -* Exato. Vai ter de rever. Se não, você pode estar dando um incentivo que está sendo, na verdade, tributado em outro país. Não é só o Brasil. É recomendação que todos os países façam isso. O Brasil tem de fazer o dever de casa.

*Folha -* O imposto pode ser proposto por medida provisória ou projeto de lei?

* Claudia Pimentel -* Sim, é preciso de um instrumento com força de lei. Então poderia ser um projeto de lei ou uma medida provisória.

*Folha -* Para não perder dinheiro já em 2024, teria de ter uma decisão política ainda neste ano?

* Claudia Pimentel -* Sim. E, claro, depende da tramitação do Congresso. Mas ainda está em estudo. Estamos também no contexto de outras reformas, está tudo junto.

*Folha -* O Brasil só deve conseguir implementar a partir de 2025?

* Claudia Pimentel -* Daria mais conforto. Porque teria a questão da anterioridade [antecedência anual para aprovação de mudanças no IR].

*Folha -* Já vemos um debate acalorado na tributação das subvenções. Esperam resistência ao imposto mínimo global?

* Claudia Pimentel -* É difícil fazer essa avaliação. Num cenário em que há muitos países caminhando nessa direção, isso pode ser um facilitador. Porque, ao fim e ao cabo, ou vai pagar aqui, ou vai pagar lá fora. Não vai deixar de se arrecadar esse imposto. Ele só vai deixar de ser arrecadado aqui. E a gente tem de reconhecer que o Brasil precisa desses recursos.

*Folha -* Se o Congresso aprovar a tributação das subvenções, reduz a diferença para a alíquota efetiva de 15%?

* Claudia Pimentel -* Sim. Se não tiver o benefício, a tendência é que a alíquota efetiva vai estar acima [do que é hoje]. Mas a gente reconhece que os benefícios fiscais são necessários em algumas áreas. Se quer incentivar um investimento, uma ampliação, o emprego, é válido.

O que tem de ser avaliado é a melhor forma, para não ter esse impacto de a empresa não ter o benefício, porque ela está deixando de pagar aqui, mas está pagando [o imposto mínimo] lá fora. Se der o incentivo com redução da base de cálculo do IRPJ, pode haver essa diferença.

*Folha -* Se o imposto mínimo for implementado, haverá muito litígio?

* Claudia Pimentel -* Acho que não. A gente está construindo a legislação da forma mais segura possível. E, se gera o litígio e não recolhe aqui, vai recolher provavelmente lá [em outro país]. [O custo judicial] Só vai se somar.

RAIO-X

Claudia Pimentel, 59

É graduada em engenharia mecânica e direito, possui mestrado em direito tributário. Auditora fiscal da Receita Federal do Brasil desde 1997. Ocupou diferentes cargos de coordenação técnica no órgão. É subsecretária de Tributação e Contencioso na Receita Federal e representa o Brasil em fóruns ligados ao projeto Beps, contra a erosão da base tributária e transferência de lucros, no âmbito da OCDE

COMANDO VERMELHO NO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

História por André Shalders e Tácio Lorran  • Jornal Estadão

Nos últimos dias, perfis ligados ao governo e à oposição disseminaram nas redes sociais informações falsas sobre as reuniões de Luciane Barbosa Farias, presidente de ONG ligada ao Comando Vermelho no Amazonas, com secretários do Ministério da Justiça. Revelado pelo Estadão na segunda-feira (13), o assunto dominou a conversa nas redes e foi usado intensamente pela oposição para criticar o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB) e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o ministro da Justiça, seria impossível detectar ligação de “dama do tráfico” com o Comando Vermelho antes da reunião com assessores da pasta Foto: Pedro Kirilos/Estadão© Fornecido por Estadão

Algumas das versões falsas sobre o assunto partiram de políticos, como a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), e o vereador paulistano Fernando Holiday (PL). Outras tiveram origem no próprio Ministério da Justiça – posicionamentos oficiais da pasta que depois se mostraram falsos. É o caso da alegação de que a pasta “não deu qualquer outro andamento” às demandas da ONG Liberdade do Amazonas – o que não procede, como mostrou o Estadão. Há ainda desinformação impulsionada por influenciadores ligados à esquerda.

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1 – “Luciane Barbosa foi ao Ministério da Justiça indicada pelo Governo do Amazonas”

O que disse o PT? – A distorção foi divulgada pela presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), em um post no X (antigo Twitter) nesta quinta-feira (16). “Atacaram o ministro Flávio Dino e o Ministério dos Direitos Humanos por todos os lados, mentiram e no fim o governo do Amazonas confirma que a indicação da tal esposa do líder do CV para a audiência no MJ é estadual (…)”.

Tuíte da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com informações distorcidas sobre o caso da “Dama do Tráfico” Foto: X / Reprodução© Fornecido por Estadão

O que aconteceu – Luciane Barbosa Farias veio a Brasília para reuniões três vezes em 2023: em março, em maio e em novembro. Só a última viagem, quando ela teve as despesas pagas pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), se deu por indicação do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CEPCT-AM). As outras duas viagens, em março e maio, não tinham relação com o CEPCT-AM. Foi durante estas viagens que Luciane e sua comitiva estiveram no Ministério da Justiça: em março, com o Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério, Elias Vaz; e em maio, com o secretário nacional de políticas penais, Rafael Velasco Brandani.

2 – “Ministério da Justiça não deu andamento às demandas da ONG do CV”

O que disse o governo? – Em resposta à primeira reportagem do Estadão, o Ministério da Justiça enviou nota na qual afirmava que “não houve qualquer outro andamento” para os pedidos da ONG Liberdade do Amazonas, presidida por Luciane Barbosa Farias e financiada pelo contador do Comando Vermelho no Amazonas, Alexsandro Barbosa Fonseca.

O que aconteceu? – Ao contrário do que disse inicialmente a pasta, servidores do Ministério da Justiça abriram um procedimento interno e trabalharam durante dois meses e meio para responder às reivindicações da ONG Liberdade do Amazonas, conforme mostra o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) da pasta. A tramitação do processo teve início no dia 02 de maio, mesma data da reunião de Luciane com Rafael Velasco Brandani. Servidores do Ministério da Justiça chegaram a procurar a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para responder a um questionamento levantado pela ONG.

3 – “Sem condenação, era impossível detectar ligação de Luciane com CV”

O que disse o ministro Flávio Dino – Ao participar de ato no Ceará, o ministro da Justiça sustentou que na época das reuniões com dois de seus subordinados, Luciane Farias ainda não tinha sido condenada em segunda instância.

O que aconteceu? – Uma simples busca na Internet revelaria a relação de Luciane Barbosa Farias com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, um dos líderes do CV no Amazonas. O nome dela aparece, por exemplo, em reportagem do dia 26 de janeiro de 2022 no Portal do Holanda, um dos principais de Manaus, sobre a soltura de “Tio Patinhas”. O título do texto é “Líder de facção criminosa no Amazonas, Tio Patinhas deixa a prisão”. Outro site local publicou a íntegra da decisão, com fartas informações sobre Luciane.

4 – “Flávio Dino se encontrou pessoalmente com a Dama do Tráfico”

O que disse Fernando Holiday – Depois da divulgação da notícia do Estadão sobre as audiências de Luciane Barbosa Farias no MJ, o vereador do PL em São Paulo Fernando Holiday publicou um vídeo no qual atribuía ao ministro um encontro com a “dama do tráfico”. “Flávio Dino mentiu ao dizer que nunca se reuniu com a ‘dama do tráfico’. A sua posição está insustentável’’, dizia a legenda do vídeo. Ele apagou a publicação em seguida.

O que aconteceu – Dino nunca se encontrou pessoalmente ou posou para fotos com Luciane. Em entrevista a jornalistas, a mulher de Tio Patinhas disse, sem provar, ter visto Dino em Brasília, mas que não chegou a conversar com ele. Ela esteve em duas ocasiões no Ministério da Justiça e se reuniu com quatro servidores da pasta, incluindo os secretários Elias Vaz (assuntos legislativos) e Rafael Velasco (políticas penais). O gabinete de Vaz fica no mesmo andar que o de Flávio Dino. A mulher que aparece com Dino no vídeo de Holiday é, na verdade, a influenciadora digital Ví Álvares.

5 – “Próxima reportagem é sobre minha ligação com o PCC”

O que disse o ministro – Na terça-feira (14), depois da divulgação das primeiras reportagens sobre o caso, o ministro Flávio Dino disse em postagem no X (antigo Twitter) que foi “avisado por um jornalista que a próxima ‘notícia jornalística’ é que tenho ligações com o PCC”, referindo-se ao Primeiro Comando da Capital, a principal facção criminosa brasileira, de origem paulista. “Eu, ao mesmo tempo, tenho ‘ligações’ com o Comando Vermelho e com o PCC”, escreveu ele.

Tuíte de Flávio Dino sobre a entrada do CV no Ministério Foto: X / Reprodução© Fornecido por Estadão

O que aconteceu – Ao contrário do que disse o ministro, não houve qualquer reportagem sobre uma suposta ligação dele com o PCC. Nos dias seguintes, o Estadão e outros veículos de imprensa detalham a agenda das viagens de Luciane a Brasília; o fato de que o MJ atuou para atender as demandas da ONG do Comando Vermelho; o fato de que a ONG e a advogada Janira Rocha receberam dinheiro do tráfico; e de que as passagens da última viagem de Luciane a Brasília foram pagas pelo Ministério dos Direitos Humanos. Mas nada sobre o PCC.

6 – “Venho sendo criminalizada pelo fato de ser esposa de um detento”

O que disse Luciane Barbosa? – Após o Estadão revelar as audiências de Luciane Barbosa no Ministério da Justiça, a ONG Instituto Liberdade do Amazonas divulgou uma nota dizendo que Luciane não é faccionada de nenhuma organização criminosa e que vem sofrendo retaliações por ser esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, apontado como chefe do Comando Vermelho.

Trecho da condenação de Luciane Barbosa Farias pelo TJAM, em outubro de 2023 Foto: TJAM / reprodução© Fornecido por Estadão

O que aconteceu – Luciane Barbosa não é somente esposa de uma liderança do Comando Vermelho. De acordo com a decisão que a condenou em segunda instância, a mulher também é uma integrante da facção. Ela é acusada de ser o braço financeiro da organização criminosa. O Ministério Público do Amazonas descreve ainda Luciane como “comparsa” dos crimes do tráfico e que demonstrava “inteligência financeira” para lavar o dinheiro oriundo do crime. Por isso, ela – e não somente o marido – foi condenada a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e organização criminosa, apesar de recorrer em liberdade.