Criminalista afirma em evento promovido pelo Estadão e Universidade
Mackenzie que cidadãos que recorrem ao Judiciário ‘não estão sendo
ouvidos adequadamente’
Por Pepita Ortega e Rayssa Motta – Jornal Estadão
Em meio a um esgarçamento na relação entre o Supremo e advogados,
um nome expoente da advocacia, o criminalista Antonio Cláudio Mariz de
Oliveira, afirmou nesta segunda-feira, 13, que os cidadãos que batem às
portas do Judiciário não estão ‘sendo ouvidos adequadamente’. “O STF
deve voltar às origens de respeitar o advogado ou não teremos a
implantação da Justiça e do Judiciário que almejamos”, ponderou.
Diante do ministro Luís Roberto Barroso,
presidente do STF, Mariz disse que é necessário ‘alertar’ sobre o fato
de jurisdicionados – pessoas que acionam o sistema de Justiça – não
estarem sendo ouvidos nem pela Corte máxima e nem pelo Superior Tribunal
de Justiça. Segundo o advogado, é preciso ‘pedir para que os
responsáveis tomem medidas para que os cidadãos sejam ouvidos nos
tribunais superiores’.
A crítica central de Mariz ao Supremo diz respeito à forma de
julgamento de pedidos de habeas corpus – geralmente impetrados como
pedidos de liberdade. Segundo o advogado, tais instrumentos estão sendo
‘julgados de forma muito precária’, uma vez que decididos
monocraticamente – em decisão individual de ministro integrante da Corte
máxima.
“O tribunal é um órgão colegiado. Mude-se o sistema. O povo não tem
culpa de termos um Supremo abarrotado”, afirmou. “Ou temos uma Justiça
mecânica ou uma Justiça em que se vai respeitar o devido processo
legal”, completou.
Mariz reconheceu o papel do Supremo na defesa da democracia, assim
como em ‘temas delicados’, como o aborto. De outro lado, criticou a
atenção dada pela Corte aos advogados. “Só não podemos aplaudir o STF e o
STJ na medida em que não estão dando valor ao advogado ou melhor, valor
ao cidadão. Decisão monocrática é para juiz de 1º grau, o STF tem que
julgar coletivamente”, assinalou.
Após a crítica, Mariz fez um afago a Barroso, destacando sua imparcialidade: “age de forma correta”.
Em seguida, o advogado propôs um debate: “Precisamos, não sei como,
mudar o sistema para que o Supremo se veja menos atulhado de processos,
porque esse número excessivo de processos está fazendo com que o
jurisdicionado seja prejudicado. É necessário que Ordem (dos Advogados),
Judiciário e Ministério Público se unam par que haja uma triagem maior
de casos que chegam ao STF”.
O ex-presidente do STF, Ayres Britto, concordou com as ponderações de
Mariz, pregando o respeito ‘aos profissionais que compõem funções
essenciais da jurisdição’. “Tudo afunila para o Judiciário e o Supremo
porque é o único Poder que não pode dar o silêncio como resposta”,
indicou.
Israel pode querer continuar lutando por mais vários meses, embora
possa não controlar o calendário, à medida que aumenta a pressão
internacional para uma pausa nos combates ou mesmo um cessar-fogo.
Perdas militares
Até agora, Israel afirma ter realizado mais de 14 mil ataques e
matado dezenas de alvos de alta relevância, incluindo comandantes do
Hamas.
Cada um desses ataques envolve múltiplas armas.
Yaakov Katz, especialista militar e ex-editor do jornal Jerusalem Post, diz que Israel já disparou mais de 23 mil munições.
A título de comparação, no auge da batalha por Mossul, os aliados
lançaram cerca de 500 bombas por semana sobre alvos do Estado Islâmico.
Mais de 10,8 mil pessoas em Gaza foram mortas desde o início da
guerra, segundo o ministério da Saúde administrado pelo Hamas, incluindo
mais de 4,4 mil crianças.
Os militares afirmam que as forças terrestres israelenses dividiram
com sucesso a Faixa de Gaza entre norte e sul e que suas tropas cercaram
a cidade de Gaza.
Eles alegam que estão agora “no coração da cidade”, embora ainda estejam distantes de reivindicar o controle do local.
O Hamas nega que as forças israelenses tenham obtido quaisquer ganhos
significativos ou que tenham penetrado profundamente na cidade de Gaza.
Esta fase inicial da ofensiva terrestre de Israel parece estar
correndo como planejado, com o objetivo de isolar o Hamas, e é provável
que o custo para o grupo tenha sido elevado.
As estimativas no início da guerra sugeriam que o Hamas tinha entre 30 mil e 40 mil combatentes.
Uma importante fonte da defesa israelense disse à BBC que cerca de 10% desse total – 4 mil combatentes – foram mortos.
Essas estimativas são impossíveis de verificar e devem ser tratadas
com cautela, mas a escala da campanha de bombardeio israelense já deve
ter afetado a capacidade de combate do Hamas.
Em contraste, as perdas militares israelenses parecem ter sido relativamente baixas.
Israel afirma que 34 dos seus soldados foram mortos desde o início das operações terrestres.
Yossi Kuperwasser, especialista israelense em inteligência e
segurança, diz que os militares estão conduzindo suas operações
terrestres “com mais cuidado e cautela” para evitar baixas
significativas entre as tropas.
Ainda não está claro quanto do Hamas permanece no norte, quantos combatentes poderão ainda estar escondidos em túneis subterrâneos em Gaza ou quantos poderão ter se misturado à população civil que fugiu para o sul.
Os túneis ainda representam um desafio significativo para Israel.
As forças israelense estão tentando explodir os túneis que encontram, em vez de se envolverem em combates subterrâneos.
Desafios da guerra urbana
A vantagem de Israel em termos de inteligência e capacidades militares é evidente.
Israel pode interceptar comunicações e até desligar as redes de
telefonia móvel e de internet de Gaza. Possui total superioridade aérea
com jatos e drones capazes de monitorar todos os movimentos em solo –
mas não abaixo da superfície.
Uma alta fonte da defesa israelense disse à BBC que os militares do
país ainda identificavam mais de 100 novos alvos por dia, embora esse
número deva diminuir à medida em que a guerra continua.
Quanto mais tempo o conflito durar, mais Israel terá de contar com tropas em terra para identificar e eliminar a resistência.
Justin Crump, um antigo oficial do Exército Britânico que agora
dirige a Sibylline, uma empresa de inteligência de risco, diz que Israel
parece estar fazendo progressos razoáveis dada a densidade do terreno,
mas “agora vai encontrar as áreas urbanas mais fortemente defendidas da
cidade”.
As tropas israelenses são mais bem equipadas e treinadas, mas a
guerra urbana ainda pode ser difícil mesmo para forças armadas mais
sofisticadas.
Até agora, os combates corpo-a-corpo em terra parecem ter sido
limitados – e certamente não se comparam – à escala da guerra urbana que
tem ocorrido entre Rússia e Ucrânia em cidades como Bakhmut.
Muitos dos vídeos divulgados pelas FDI mostram o uso de tanques e blindados.
Israel também não comprometeu todas as suas forças na operação.
Alguns estimam que possa haver apenas 30 mil soldados israelenses dentro de Gaza até agora.
Essa é uma fração relativamente pequena do total – Israel conta com 160 mil militares na ativa e mais de 360 mil reservistas.
Crump diz que a questão é: quantos membros da infantaria estão
dispostos a se comprometer a varrer todos os edifícios e o labirinto de
túneis do Hamas?
Em vez disso, Israel pode optar por atacar os redutos do grupo. Ele
acredita que Israel tentará evitar combates bloco a bloco, até porque
isso poderia levar a muitas baixas.
Também certamente colocaria em risco a vida dos mais de 200 reféns detidos pelo Hamas.
Plano pós-invasão
Tudo isso levanta a questão de se o objetivo de guerra declarado por Israel – destruir o Hamas – é realmente alcançável.
Mesmo altos funcionários do governo israelense reconhecem que é impossível destruir uma ideologia com bombas e balas.
Parte da liderança do grupo nem sequer está em Gaza.
Katz diz que, se membros do Hamas conseguirem sobreviver a esta
guerra, poderão alegar que “porque ainda estamos aqui, na verdade
vencemos”.
Por essa razão, Crump acredita que os objetivos de guerra de Israel
poderiam passar de destruir o Hamas para puni-lo, de forma a garantir
que os ataques de 7 de outubro não se repitam.
Israel também está sob crescente pressão, especialmente por parte dos EUA, para explicar o que vai acontecer depois da invasão.
Esses aparelhos, que custaram R$ 13,9 milhões, foram distribuídos
para os laboratórios centrais dos 26 Estados e do Distrito Federal — e
ajudaram a acompanhar a evolução do coronavírus e o comportamento das diversas variantes do patógeno nas várias ondas de casos, hospitalizações e mortes.
Passada a fase mais grave da crise sanitária, especialistas discutem
agora como aproveitar esse potencial dos sequenciadores genéticos em
prol da saúde pública e da ciência brasileiras.
“Com a diminuição da demanda relacionada à covid-19, o uso dessas
tecnologias de sequenciamento genético precisa ser muito bem pensado”,
contextualiza Lygia da Veiga Pereira, professora titular de Genética da
Universidade de São Paulo (USP).
“Antes de 2021, não tínhamos capacidade, infraestrutura, pessoal e
logística para realização de testes moleculares no Sistema Único de
Saúde (SUS)”, observa o médico Rodrigo Guindalini, consultor científico
do Instituto Oncoguia, uma ONG voltada a pacientes com câncer e
familiares.
“Agora que temos tudo instalado, essa é uma oportunidade que não podemos desperdiçar”, complementa ele.
“O desafio agora é como manter todo esse fluxo de trabalho
funcionando de forma rápida e custo-efetiva”, acrescenta o virologista
Anderson F. Brito, pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde
(ITpS).
O debate sobre como aproveitar essas ferramentas em diferentes áreas
se abre em algumas possibilidades: os sequenciadores podem seguir
monitorando o comportamento de diferentes vírus, mas há propostas para
utilizá-los na análise de alguns tipos de câncer ou na detecção de doenças raras.
Nesses casos, o diagnóstico adequado pode fazer toda a diferença para
orientar estratégias preventivas ou definir o melhor tratamento.
Entenda a seguir como essas máquinas estão sendo utilizadas e quais são os planos para o uso delas no futuro.
Questionado pela BBC News Brasil sobre os tais sequenciadores
genéticos, o Ministério da Saúde confirmou a compra de 27 aparelhos do
tipo em 2021.
O Governo Federal arcou com 24 dessas máquinas, que custaram R$ 12,5 milhões.
As outras três foram obtidas “por meio de um organismo internacional”, e saíram por R$ 1,4 milhão.
“No total, foram gastos R$ 13,9 milhões”, detalhou o ministério em nota enviada à reportagem.
“Os sequenciadores foram destinados aos Laboratórios Centrais de
Saúde Pública (Lacen) das 27 unidades federativas que compõem a Rede
SISLab e que apoiam a vigilância em saúde no Brasil.”
Esses laboratórios centrais são a referência de cada Estado no
diagnóstico de doenças. É para esses locais que são enviadas amostras de
pacientes com algum quadro suspeito, para o qual é necessário fazer
exames específicos que ajudam a definir o causador daqueles incômodos.
A instalação das novas tecnologias genômicas exigiu uma série de
adequações — como a reforma da infra-estrutura para abrigar os
sequenciadores e o treinamento de profissionais para operá-los
adequadamente.
“Ou seja, não estamos falando apenas da compra de aparelhos. Foi
necessário organizar toda uma cadeia de processos, treinar equipes,
disponibilizar insumos…”, lista Guindalini, que também trabalha na
Oncologia D’Or.
Na visão do cientista, todo esse conhecimento adquirido ficou como uma espécie de “legado” da pandemia.
Mas como o Ministério da Saúde está usando — ou planeja usar — todo esse potencial genômico daqui em diante?
De acordo com a nota enviada para a BBC News Brasil, os
sequenciadores passaram a ser utilizados “no estudo dos genomas de
outros patógenos de interesse da saúde pública, como os dos vírus da dengue e da chikungunya”.
“Desde a implementação, foram gerados 15.601 genomas de Sars-Cov-2 [o
coronavírus causador da covid-19], 557 genomas de vírus de dengue e 415
genomas de vírus chikungunya. Somente no ano de 2023, foram gerados
5.020 genomas, somando os quantitativos de Sars-Cov-2 e arbovírus
(dengue e chikungunya)”, declarou o ministério em nota.
O sequenciamento dos vírus transmitidos pela picada do mosquito Aedes aegypti também faz parte de um projeto-piloto realizado nos Estados do Amazonas, Ceará, Goiás, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
O ministério também planeja a criação do Centro de Inteligência
Genômica (Cigen), “que vai viabilizar o desenvolvimento de softwares de
bioinformática para solucionar problemas biológicos de forma gratuita e
independente, como a identificação de variantes de patógenos circulantes
e de genes de resistência aos antimicrobianos, e a modelagem do
comportamento do agente e da epidemia, entre outros”.
“O objetivo atual é aproveitar esse legado e aplicá-lo a outras doenças de interesse para saúde pública”, finaliza o texto.
Ampliação das possibilidades
Para Guindalini, os números de sequenciamentos informados pelo
Ministério da Saúde — 5 mil genomas em 2023 — representam uma boa
notícia, pois sinalizam que as máquinas não estão paradas.
“Mas é possível fazer muito mais que isso. Com esses 27 equipamentos
em funcionamento, dá pra fazer milhares e milhares de sequenciamentos
todos os meses”, avalia ele.
O oncogeneticista propõe que alguns desses aparelhos sejam usados em projetos-piloto para o sequenciamento do câncer no SUS.
“Poderíamos implementar serviços de aconselhamento genético para o
câncer, em que fossem selecionados 10 ou 15 genes que mudam
completamente a conduta terapêutica e permitem estratégias de prevenção
extremamente eficazes”, defende ele.
“Já conhecemos algumas mutações que mudam a vida de famílias inteiras
e diminuem o risco de desenvolver o câncer em mais de 80%”, complementa
o médico.
É o caso, por exemplo, das alterações genéticas que aparecem nos
genes BRCA1 ou 2 e estão relacionados ao desenvolvimento de tumores nas
mamas e nos ovários.
Ao detectar essas mutações em uma mulher que ainda não desenvolveu
nenhum problema de saúde, é possível fazer um acompanhamento mais
criterioso, com o auxílio de exames periódicos, ou até realizar
cirurgias profiláticas dos tecidos em que as células cancerosas poderiam
crescer no futuro.
Essas estratégias ajudam a reduzir a probabilidade do aparecimento de
um tumor desses — ou ao menos permitem detectar a doença nos primeiros
estágios, quando a chance de cura é bem mais alta.
“Não é preciso inventar a roda aqui: esse é um modelo que já está em
operação em outros países e dificilmente daria errado no Brasil”, aposta
Guindalini.
Pereira, que também é líder da gen-t, uma startup de biotecnologia
que mapeia dados genômicos e trabalha com Medicina de precisão, sugere
que os sequenciadores ainda podem auxiliar no diagnóstico de doenças
raras.
“Nós conhecemos muito bem as bases genéticas de algumas dessas enfermidades”, diz ela.
“Individualmente, essas condições podem até ser consideradas raras.
Mas quando você soma várias delas, os números são significativos.”
A especialista explica que o diagnóstico de algumas dessas doenças
têm um impacto direto na qualidade de vida e na saúde dos pacientes.
“Nesses casos, o diagnóstico genético esclarece o que está acontecendo ali”, diz ela.
“E muitas dessas pessoas passam por uma jornada de diagnóstico
longuíssima, de médico em médico, e só o sequenciamento dá uma resposta
definitiva”, observa a especialista.
Pereira também entende que essas tecnologias podem ajudar a entender as particularidades do genoma dos brasileiros.
“No Brasil, temos um desafio extra, que é a mistura de DNA indígena, europeu e africano”, aponta ela.
Um caso que já foi descrito por especialistas é a alta frequência de mutações no gene TP53, que são muito mais comuns no Brasil — especialmente no Sul e no Sudeste — em comparação com o observado no exterior.
Para ter ideia, alterações no TP53 chegam a ser a terceira causa mais
comum de câncer de mama hereditário no país, atrás apenas das mutações
no BRCA1 e 2.
Em outros países, no entanto, é muito mais raro encontrar algo alterado no gene TP53.
Vírus novos e velhos
Brito avalia que aproveitar esses sequenciadores para fazer a
vigilância genômica de diferentes vírus é algo estratégico para o país.
“Recentemente, alguns Estados brasileiros decretaram emergência de
saúde pelo aumento nas internações de crianças infectadas pelo vírus
sincicial respiratório”, exemplifica ele.
Esse patógeno está entre os causadores mais frequentes do resfriado comum — que pode gerar quadros mais graves no público infantil.
“Mas não sabemos exatamente se o vírus responsável por este surto
recente tinha algo de especial ou quais são as variantes em circulação,
simplesmente porque esses dados não existem”, diz Brito.
Para o virologista, é possível usar os sequenciadores para fazer
estudos comparativos. Isso permitiria conhecer melhor este e outros
vírus, o que abre possibilidades de criar uma estratégia para prevenir
novas ondas de casos, internações e mortes no futuro.
Brito lembra de outro episódio recente em que uma vigilância genômica teria feito toda a diferença: a epidemia do vírus zika,
que estourou a partir de 2015 no Brasil e levou a casos de
microcefalia, em que bebês nasciam com a cabeça num tamanho menor que o
esperado.
“Por cerca de um ano, os casos de zika foram diagnosticados como se
fossem dengue no país por causa da similaridade de sintomas. Ninguém
sabia que este patógeno circulava por aqui”, lembra ele.
“Foi necessário que alguém estranhasse o aumento incomum nos casos de
microcefalia para suspeitar de outra coisa além da dengue e fazer o
sequenciamento do vírus para descobrir o que ele tinha de diferente”,
complementa.
Rapidez primordial
Brito destaca que, para criar uma rede de vigilância genômica com
aplicações práticas, é necessário que ela esteja muito bem organizada e
disponibilize resultados com agilidade.
Durante a pandemia, o virologista publicou com outros especialistas
um estudo que calculou o tempo entre a coleta de amostras de um paciente
com covid-19 e a publicação do sequenciamento em bancos de dados. Na
média, esse processo levava em torno de 45 dias na América do Sul.
“Isso é uma eternidade. Quando a informação fica disponível, ela não
suscita mais nenhuma ação prática do ponto de vista da saúde pública”,
lamenta ele.
Em outras palavras, todo o processo — que inclui a coleta das
amostras, o envio delas aos laboratórios, o sequenciamento genético, a
produção dos laudos e a divulgação dos resultados — precisa estar muito
bem coordenado no país todo.
Isso permitiria ter um retrato praticamente em tempo real sobre a
circulação de determinados patógenos e o surgimento das variantes — e
serviria de base para que os representantes do Ministério da Saúde e das
secretarias estaduais e municipais tomassem ações para conter a
transmissão ou lidar com o aumento de casos de uma doença em determinada
região do país.
Um exemplo prático: a vigilância do vírus influenza, o causador da gripe.
Sequenciar amostras de pacientes acometidos por essa infecção
permitiria saber em detalhes as cepas do patógeno que estão circulando.
Essa informação ajudaria a definir a composição das vacinas ou até o
envio de equipamentos, profissionais e recursos para as áreas mais
afetadas.
“Mas, de novo, esse processo precisa ser célere. Ele jamais pode
demorar mais de um mês para que uma amostra seja convertida em dados
genômicos”, insiste Brito.
“Os investimentos, portanto, não devem ser centrados apenas nos
sequenciadores genéticos. É preciso pensar em todos os elementos da
cadeia, como profissionais treinados e experientes.”
“Dessa forma, é possível reagir rápido para lidar com potenciais riscos à saúde pública”, finaliza o virologista.
Pereira aponta que, além de todos os desafios práticos, é preciso
pensar a vigilância genética como uma fonte de conhecimento que
beneficia diretamente a saúde pública.
“Só assim esses esforços serão perpetuados, de modo que seja feito o
melhor uso dos investimentos já realizados e aqueles que ainda vão ser
feitos”, diz.
“Para isso, é necessário que esses programas sejam um projeto de Estado, e não uma iniciativa de governos”, conclui ela.
Por volta do meio-dia da sexta-feira, 20 de outubro, os moradores de al-Zahra, sofisticado bairro de Gaza, estavam entre a poeira e escombros do que, dias antes, eram as suas casas.
Sextas-feiras costumavam ser dias especiais: no islamismo, o dia da
oração marca o começo do fim de semana e, no bairro de al-Zahra,
significava falafel e hummus, café e chá, todos servidos em espaçosos
apartamentos ou vilas perto do Mar Mediterrâneo. Os moradores sabiam que
tinham mais sorte do que a maioria da população de Gaza.
No entanto, durante a noite, bombas israelenses destruíram
25 blocos de apartamentos, lares de muitas centenas de pessoas. Israel
vinha bombardeando Gaza há dias em resposta aos ataques do Hamas de 7 de outubro, mas al-Zahra não havia sido atingida até então.
Alguns dos que viviam lá, entre médicos, advogados, pesquisadores
acadêmicos, designers de moda e empreendedores, tentaram ficar e
sobreviver em meio às ruínas, mas a maioria recolheu o pouco do que
restou a se dispersou ao longo da Faixa de Gaza.
Hana Hussen, que cresceu em al-Zahra, acompanhou horrorizada as
notícias a centenas de quilômetros de distância, na Turquia, para onde
ela se mudou dois anos atrás. Em um telefonema apressado naquela dia,
ela ligou para a família na tentativa de entender se eles estavam em
segurança.
Em resposta à BBC sobre a decisão de atingir o bairro de al-Zahra, as
Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disseram que “não é
possível esclarecer perguntas sobre operações específicas”.
O Hamas estava atacando Israel de diferentes partes de Gaza “e se
infiltrou na infraestrutura civil”, acrescentou o IDF. Não foram
divulgados nomes de integrantes do Hamas mortos nos ataques em al-Zahra,
e acredita-se que ninguém do grupo tenha sido atingido nesse
bombardeio.
Israel afirma que sua estratégia visa a erradicar o Hamas, que é
acusado de operar no coração de comunidades civis — e que vem tomando
providências para reduzir mortes de inocentes, como o telefonema,
mencionado acima, feito a Mahmoud o instruindo a evacuar o bairro.
O agente que telefonou para o dentista também disse: “Nós vemos coisas que vocês não veem”.
Os vizinhos de Mahmoud podem ter escapado vivos, mas nem todos sobreviveram ao que estava por vir.
A BBC passou duas semanas conversando com diversas famílias da
região, tanto moradores de longa data quanto os mais jovens e ambiciosos
recém-chegados.
Eles nos contaram sobre como salvaram o que puderam de suas casas,
assistiram de perto aos seus lares explodindo e como se dispersaram ao
longo de Gaza rumo a um destino incerto. De abrigos improvisados a
refúgios temporários ao longo de Gaza, moradores queriam contar as
histórias da vida e morte do bairro que amavam.
Nossa comunicação foi feita por meio de ligações que caíam — às vezes
com bombas estourando ao fundo — e mensagens esporádicas via WhatsApp.
Conversas era interrompidas para correr em busca de abrigo. Em alguns
casos, perdemos contato por dias.
Após um blecaute de comunicações durante ataques intensos de Israel
em Gaza, um morador de al-Zahra conseguiu escrever uma mensagem curta:
“Obrigado por perguntar. Nós ainda estamos vivos”.
Nossas conversas mostram que nem todos que saíram de al-Zahra
sobreviveram. Entre aqueles confirmados mortos estão um jovem
fisiculturista de uma academia local cujas últimas palavras para um
amigo, segundo posts em redes sociais, foram: “Está tudo acabado”.
O Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirmou que mais de 10
mil palestinos foram mortos em Gaza desde o começo da guerra, sendo que
mais de um terço eram crianças.
A história de Nashwa: documentando os mortos e desabrigados
A Faixa de Gaza é densamente povoada, tem altos níveis de pobreza e
forte controle da entrada e saída de pessoas. Al-Zahra, no entanto, era
um bairro com grandes casas e espaços ao ar livre bem iluminados,
bosques com amendoeiras e figueiras, áreas esportivas e parques.
Al-Zahra foi fundada nos anos 1990 pelo ex-presidente da Autoridade
Palestina Yasser Arafat (1929-2004) como um lugar para sua equipe e
também apoiadores. Moradores dizem ainda ter fortes conexões com a
Autoridade Palestina, que hoje está baseada na Cisjordânia ocupada e é
um rival direto do Hamas.
O bairro está ao norte do rio Wadi Gaza — ponto ao sul do qual Israel
ordenou que a população se dirigisse, em 13 de outubro. Os dias
seguintes foram de bombardeios, uma resposta de Israel às centenas de
homens armados que invadiram a fronteira para assassinar mais de 1,4 mil
pessoas, a maioria de civis, incluindo muitas crianças, além da captura
de mais de 200 reféns. A brutalidade dos ataques em bairros do Sul de
Israel e o massacre de jovens que participavam de um festival de música
traumatizaram o país.
Todas as pessoas com as quais conversamos insistiram em dizer que,
até onde sabiam, esse bairro era o mais distante possível do Hamas e de
suas operações em Gaza, governada pelo grupo desde 2007. “Não existiam
militares aqui”, nos disse um morador. “Eu não acredito sequer que
apoiadores do Hamas viviam aqui”, acrescentou.
Para Nashwa Rezeq, que viveu em al-Zahra durante 18 anos, “era o melhor bairro de todos”.
Muito envolvida em associações de bairro e em um conselho de jovens
local, Nashwa também foi uma das organizadoras de uma comunidade no
Facebook por mais de uma década. Se você perguntá-la sobre algum morador
em particular, ela provavelmente vai conhecê-lo e talvez ter seu
contato telefônico.
A página no Facebook tinha aproximadamente 10 mil seguidores. Na
véspera da guerra, os posts eram sobre torneios de bilhar, um café local
ou mensagens de parabéns a um estudante recém-formado.
Agora o mesmo grupo serve como veículo para compartilhar atualizações
sobre a destruição do bairro e contar os mortos. O grupo nunca tinha
ocupado tanto o tempo de Nashwa.
Um post recente lamenta a morte dos integrantes de uma família dona
de um restaurante italiano bombardeado. Quando a guerra foi declarada,
Nashwa foi para o Sul com seu marido e quatro filhos, atitude que a
família sempre tinha quando as tensões aumentavam. Antes, entregou sua
chave a uma vizinha, pedindo que cuidasse de suas amadas plantas
enquanto ela estava fora.
Dois dias depois dos primeiros bombardeios, seu prédio — o mais alto de al-Zahra — foi destruído ao amanhecer.
“Uma pessoa me ligou e disse que ‘andou ao lado da sua torre e estava tudo no chão’,” lembra.
Ela descreve seu apartamento no quinto andar como “muito grande e
espaçoso”. Ele foi comprado pela família e reformado ao longo de uma
década — recentemente, haviam adquirido um novo aparelho de
ar-condicionado, uma televisão e móveis.
“Muita gente diz que é só dinheiro, mas, para mim, minha casa era minha alma”.
Agora no Sul de Gaza, ela diz que sua família ainda está em perigo.
“Três dias atrás, eles bombardearam uma casa perto da gente. A fumaça da
bomba nos sufocou”.
Seus filhos continuam perguntando por que não puderam trazer o novo
ar-condicionado e a TV com eles quando saíram de al-Zahra. Eles também
mantêm questionamentos sobre quando poderão voltar para casa e recuperar
seus brinquedos.
Para Nashwa, as plantas são os itens que mais fazem falta: “Eu amava todas elas”.
O professor universitário Ahmed Hammad, que viveu em um prédio perto
de Nashwa, era outro integrante dessa comunidade. Ele foi um dos que
escolheram permanecer no bairro após os ataques. Com cerca de 50 anos,
ele dá aulas de mídia e comunicação em uma universidade ao norte do
bairro, quer enviar seus artigos de pesquisa à BBC e fala com orgulho de
seus seis filhos, com idades entre oito e 27 anos.
“Um deles é dentista, outro trabalha com TI. Tenho um que estudou
literatura em inglês na universidade, e os outros três ainda estão na
escola”, nos contou.
Quando falamos por telefone no último mês, Ahmed e família estavam em
um abrigo na sua casa em al-Zahra, agora sem portas e janelas. Como não
é mais possível ir para o trabalho ou escola, eles gastam o tempo
procurando lenha para queimar e assim cozinhar. Com muito medo de fugir
em direção ao Sul e ser alvo de mais bombas, decidiu ficar.
No entanto, na noite de 27 de outubro, Israel intensificou os
bombardeios aéreos a expandiu suas operações terrestres — e nós perdemos
contato com Ahmed. Dias depois, ele nos procurou para dizer que a
família saiu do bairro após uma “noite muito, muito difícil ” e uma
manhã ainda pior.
E descreveu como se esquivou de “bombardeios contínuos” em seu caminho rumo ao Sul da Faixa de Gaza.
“Cada vez que uma bomba caía, nós deitávamos no chão”.
Os empreendedores de al-Zahra
De volta à Turquia, Hana não largava seu telefone esperando por
atualizações sobre sua família. Enquanto aguardava, ela nos contou
histórias do que chamou de “o mais maravilhoso e caloroso lugar no
mundo”. Moradores de al-Zahra costumavam se reunir na praia e enchiam a
rua principal que ligava o bairro ao Mar Mediterrâneo, do amanhecer ao
pôr do sol. Às sextas-feiras, Hana e seus amigos iam à rua para contar
piadas e histórias sobre a semana, recorda-se.
Em uma sinalização do quanto a guerra mudou a vida lá, Hana conta que
começou a receber mensagens “assustadoras” daqueles mesmos amigos — um
perguntando se ela poderia cuidar dos seus filhos caso morresse, outros
pedindo ajuda sobre “opções alternativas para produtos de higiene
feminina”. Um outro desejava apenas ter água potável para beber.
Depois de muitos dias de espera, Hana finalmente conseguiu contato
com sua família, incluindo seu irmão Yahya, que ela descreve como sua
alma gêmea. Yahya estava entre a nova geração de empreendedores de
al-Zahra. O designer de moda de 30 anos prefere falar sobre sua vida
antes da guerra em vez da sua atual acomodação lotada ao sul do bairro,
por onde ele caminhou com sua família por muitas horas depois de ter a
casa destruída.
Ele recorda-se do som dos passarinhos enquanto olhava para o bairro a partir do terraço do prédio onde a família morava.
Era comum que moradores postassem vídeos dos terraços de al-Zahra. Algumas imagens mostram cores espetaculares do cair do sol.
“Todas essas coisas nos deixavam felizes”, diz Yahya por WhatsApp.
Ao listar algumas de suas preferências no bairro, Yahya escreve em
uma série de mensagens: “As luzes da noite. O mar. É uma cidade elegante
e pacífica”.
Agora, ele às vezes termina as conversas via WhatsApp de forma
abrupta. “Preciso ir agora porque as bombas deles estão perto de mim”,
escreveu em uma mensagem.
Yahya saiu de al-Zahra com duas bolsas carregando um iPad,
documentos, um casaco, garrafa d’água, seu passaporte, chocolate e um
kit de primeiros socorros. Ele precisou deixar para trás suas criações
meticulosamente produzidas — tecidos, vestidos e saias.
“E máquinas de costura. E muitas memórias maravilhosas,” diz ele.
Os primos Ali, de 28 anos, e Mohamed, de 25, também são jovens
empreendedores na cidade e tinham trabalhos com rotinas bem corridas em
al-Zahra como confeiteiro e dono de café, respectivamente. Ambos viviam
no conjunto de prédios destruídos entre os dias 19 e 20 de outubro.
Os dois haviam investido muito dinheiro para construir uma vida lá.
Ali casou-se no início do ano e gastou US$ 6 mil em móveis que estavam
sendo mantidos na casa da família, onde ele e sua esposa grávida estavam
morando.
A sua família se mudou para lá vinda da Cidade de Gaza durante a
guerra de 2014 entre Hamas e Israel pensando que era “o lugar mais
seguro” para se estar.
No mês passado, eles prepararam mochilas com dois conjuntos de
roupas, prontas para uma eventual fuga. “Uma para a minha mãe, outra
para meu irmão e uma para a minha mulher,” diz ele.
Em 19 de outubro, a família pegou as mochilas e deixou todos os
outros bens para trás. Quando as bombas atingiram seu prédio, Ali diz
que todas as perdas foram em dobro — os móveis novos do casal foram
destruídos, assim como os bens dos seus pais”. Duas geladeiras, duas
máquinas de lavar e dois sofás.
Mohamed conta que seu pai havia recentemente realizado o último
pagamento pela casa da família, e todos precisaram abandonar o local
naquela noite. “Ele terminou de pagar aquele apartamento e agora tudo se
foi”, afirma.
Hoje, gasta seus dias buscando água: “Não há tempo para descansar”.
Ele sente falta do café que mantinha no térreo de uma universidade,
com uma mesa de sinuca e uma gravura do rapper americano Tupac Shakur na
parede. Também sente saudades de ir para a academia diariamente. Acima
de tudo, lembra dos amigos. “Nós brincávamos, ficávamos rindo.
Sentávamos juntos até a meia-noite”.
O jornalista Abdullah al-Khatib afirma que sua família estendida também perdeu quatro casas nos ataques.
Ele conta que seu filho continua perguntando quando ele poderá voltar
para casa e brincar com seus amigos no parque. Mas ele talvez nunca
mais possa voltar.
“Nossa casa é a rua agora. Tudo foi destruído,” diz.
Mahmoud, o dentista que recebeu a ligação antecipando o bombardeio,
agora é voluntário em um posto médico na região central de Gaza.
“Eu sinto os odores mais terríveis. Você não está se higienizando e há 130 pessoas contigo”, relata.
Mahmoud também diz sentir-se com sorte de ter dinheiro suficiente
para os preços inflacionados dos tempos atuais. Um dos amigos mais
próximos permaneceu em uma vila de al-Zahra, e o dentista recentemente
enviou farinha de trigo para que ele possa ao menos fazer pão.
No entanto, esses itens estão cada vez mais escassos.
“Hoje eu fui a todas as lojas em busca de lentilhas… Não quero
exagerar, eu entrei em ao menos 40 lugares procurando lentilhas e não
achei”, detalha o dentista. “Um lojista me disse: ‘Não perca seu
tempo'”.
Mahmoud relata ter esperança de um dia voltar a al-Zahra quando a
guerra terminar. “Espero que Deus nos permita sobreviver para tentarmos
arrumar as coisas”.
As Forças de Defesa de Israel dizem que o Hamas continua a operar ao
longo da Faixa de Gaza. E acrescenta: “Como parte da missão da IDF de
desmantelar a organização terrorista Hamas, estamos mirando alvos
militares na Faixa de Gaza. Bombardeios em alvos militares estão
sujeitos às normas relevantes da lei internacional, incluindo precauções
viáveis para reduzir mortes de civis”.
A visita mais recente de Hana a al-Zahra foi há cinco meses. Ela não sabia que seria a última vez em que veria sua casa.
“Se eu soubesse, eu teria… me despedido das paredes do meu quarto,
que eu amo, e que testemunharam momentos de felicidade e tristeza da
minha vida”.
“Eu teria tirado muitos dos meus pertences que carregam memórias de momentos preciosos,” completa.
Focar no que realmente importa está difícil? Este método pode te ajudar a perceber porque vale a pena o esforço
Enquanto escrevo este texto, tenho pelo menos 15 abas no navegador,
notificações do Slack, WhatsApp e e-mail, fora as redes sociais. É tão
desesperador quanto necessário (pelo menos é o que parece). Por isso, o
Modo Monge ou Monke Mode surgiu como tendência para pessoas que, assim
como eu, precisam se isolar do caos digital para conseguir atingir a
produtividade.
Mas ele vai além de uma tarefa rotineira: o que o método propõe é
foco em um objetivo. E pode ser que você nem use este nome de Modo
Monge, mas já tenha o praticado.
O QUE É O MODO MONGE?
O Modo Monge é essencialmente a prática de trabalhar e focar em
apenas uma tarefa e não se deixar levar por distrações, especialmente
aquelas que encontramos nos celulares.
De forma prática, isso significa se desconectar dos devices e colocar
alguns limites. Claro, você vai entender o que funciona melhor, no seu
caso. Mas os especialistas indicam começar com pequenos intervalos e,
aos poucos, ir adotando por horas e até dias o método.
QUAIS OS BENEFÍCIOS DO MODO MONGE?
Atenção plena, minimalismo e dedicação ao trabalho com propósito são
práticas centenárias e conhecidas dos monges. Abrir espaço para isso
significa se capacitar para redescobri sua capacidade de se concentram
no que realmente importa.
Os defensores dizem que é uma abordagem transformadora que incentiva
as pessoas a se afastarem do caos da vida moderna e a cultivarem um
relacionamento mais significativo com seu trabalho e consigo mesmas.
MAIS SOBRE O ASSUNTO
Dormir no trabalho é a solução para a produtividade?
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Como motivar funcionários e aumentar a produtividade, segundo ex-CEO do Walmart
COMO APLICAR O MODO MONGE?
Aakash Shah, fundador e CEO da Wyndly, investidor anjo e consultor de
startups, escreveu à Fast Company algumas recomendações para quem
deseja implementar o método — ele indica o período da manhã para isto:
Dedique tempo para um trabalho profundo: agendar as manhãs no modo
monge e tratá-las como compromissos inegociáveis garante que você tenha
tempo dedicado para trabalhar em suas tarefas mais críticas sem
interrupção.
Priorize a tomada de decisões estratégicas: use o tempo ininterrupto
no modo monge para analisar dados, definir metas e tomar decisões
informadas que impactarão o crescimento e a direção da sua empresa.
Abra espaço para a resolução criativa de problemas: permita-se ter
espaço mental para debater soluções inovadoras para os desafios
enfrentados pela sua organização, sem a pressão de distrações
constantes.
Aprimore as habilidades de liderança: dedique tempo durante as manhãs
do modo monge para estudar os princípios de liderança, ler sobre
empreendedores de sucesso ou refletir sobre o feedback dos membros da
equipe para crescer continuamente como um líder eficaz.
Visualize a longo prazo: aproveite as manhãs tranquilas para
vislumbrar o futuro da sua empresa e traçar planos estratégicos de
expansão, parcerias ou desenvolvimento de produtos.
Considere delegar: combine o modo paz do monge com a Matriz de
Eisenhower para delegar suas tarefas e chegar à caixa de entrada zero,
liberando seu tempo para tarefas mais importantes.
POR QUE IMPORTA?
A busca por produtividade muitas vezes passa por um caminho inverso
do que acreditamos: é preciso parar para produzir mais. De forma mais
presente, é possível se concentrar melhor, tomar melhores decisões e
ouvir de forma mais clara.
Marketplaces em alta: o sucesso no mercado
Tiago Sanches, gerente comercial da Total IP
Certas estratégias são cruciais para alavancar as vendas e isso começa com o primeiro contato
Marketplaces são uma tendência no e-commerce. Isso porque, os
benefícios existem tanto para quem tem seu próprio ambiente, quanto para
os sellers, os quais vendem nas plataformas de outros empreendedores.
Entretanto, apesar dessa alta, é fundamental as organizações se
prepararem da melhor forma para receberem seus grupos alvo,
independentemente da época do ano. Isso inclui uma elaboração iniciada
pelo atendimento.
O que são marketplaces e qual a sua realidade no mercado?
Esse conceito se remete a uma noção mais coletiva de vendas on-line.
Nessa plataforma, diferentes lojas podem anunciar seus artigos, dando ao
cliente um leque de opções. Desse jeito, trata-se de uma rede cujos
vendedores podem fazer suas ofertas dentro da mesma página. Ou seja, é
como um shopping center virtual cujos visitantes têm acesso a vários
estabelecimentos. Sites como Mercado Livre, Magalu, Americanas, Amazon e
a Valeon são ótimos exemplos, inclusive, de acordo com o último
relatório Webshoppers, 84% dos empreendedores brasileiros possuem canais
ativos em ambientes como esses.
Conforme a ChannelAdvisor, na China, esse tipo de comércio já
representa 90% do faturamento do varejo on-line e, nos EUA, 33%. Já no
Brasil, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm),
o crescimento do setor em 2021 foi de 19%.
Principalmente em temporadas de forte atividade, como o Natal, Dia
dos Namorados, das Mães e dos Pais, as movimentações tendem a ser
significativas. O Dia do Consumidor, por exemplo, em 2022, chegou a um
faturamento de R$ 722 milhões, com elevação de 22% em comparação a 2021,
de acordo com dados da Neotrust. Contudo, para, de fato, chamar a
atenção dos fregueses, apenas preços atrativos e propagandas não são o
suficiente, é preciso oferecer uma experiência completa. “Para deixar
uma marca positiva é necessário garantir um primeiro contato excelente,
indo até o pós-venda. Os responsáveis por esse tipo de negócio tendem a
pensar só no produto final entregue, mas toda interação importa”,
explica Tiago Sanches, gerente comercial da Total IP.
Um destaque em meio à concorrência é fundamental
Ciente de como apenas qualidade final não é o suficiente, diversos
quesitos tendem a ajudar uma empresa a se destacar em meio a tanta
concorrência. Logo, diferentes fatores influenciam a posição ocupada nas
buscas, seja preço, custo do frete, avaliações, etc. Além disso, é
imprescindível identificar como chamar a atenção em detrimento de
sellers ocupando o mesmo espaço. Nesse contexto, conhecimento nunca é
demais para descobrir como planejar condições visando se sobressair.
Outra questão importante diz respeito aos parceiros mantidos por
perto e a estrutura do negócio em geral. Para a quantidade de vendas
alcançadas por um programa como esse, investir na atração de indivíduos
para promover suas corporações lá dentro, diversificando e ampliando o
portfólio torna tudo mais robusto. Além disso, deve haver uma atenção
especial à otimização das operações.
Todavia, de nada adianta tomar cuidado com tudo isso e não promover
uma boa gestão operacional. Dentre diversos benefícios, a transformação
de um e-commerce em um marketplace proporciona ganho de escala das
demandas. A partir desse ponto é crucial redobrar a cautela com
estratégias adotadas no local omnichannel. Uma administração eficiente é
o meio para a criação de modelos de vivência da persona para ela ter
uma boa prática nessa aquisição. “Hoje em dia, uma pessoa transita por
diferentes pontos de contato. É relevante, então, conseguir alcançar o
preciso da melhor forma e naquele momento, assim, há grandes chances de
fidelizar”, comenta o especialista.
Dicas para se sair bem no mercado
Antes de tudo é sempre interessante se colocar no lugar dos
frequentadores, pois, somente conhecendo bem eles é viável proporcionar
oportunidades e elementos favoráveis. Em circunstâncias assim, um bom
levantamento de dados para analisar as dores e as necessidades é uma
excelente alternativa, tendo em vista como, por meio dessas informações,
é fácil identificar qual a busca e como agradar.
No entanto, o ditado é real e, de fato, a primeira impressão fica.
Logo, a assistência inicial desse sujeito deve ser levada em
consideração de forma primordial. Como anda o seu atendimento? Quais as
abordagens utilizadas para lidar com esses interessados?
Independentemente de qual seja, a Startup Valeon consegue auxiliar, incrementar e melhorar qualquer estratégia de forma inovadora.
A tecnologia de robôs tem sido cada vez mais utilizada em diversas
esferas do cotidiano da população. No geral, essa indústria está em
crescimento, de acordo com a VDMA (Associação Alemã de Fabricantes de
Máquinas e Instalações Industriais), as vendas do setor aumentaram em
13% em 2022. Nos primeiros quatro meses, os pedidos recebidos foram
elevados em 38%, também em relação ao ano anterior, na Alemanha.
Em todo o mundo, já existem mais de três milhões deles operando em
fábricas e pelo menos US$ 13,2 bilhões foram gastos nos últimos anos em
novas instalações utilizando esse tipo de modernização. Pelo menos 76%
desses investimentos foram feitos por cinco países: China, Japão,
Estados Unidos, Coreia do Sul e Alemanha. As indústrias automotiva,
elétrica, eletrônica e metálica se destacam nesse uso em seus parques
industriais. Porém, no caso do apoio ao consumidor esse artifício também
não poderia ficar de fora. Com a Startup Valeon isso é possível para
todos os âmbitos. “Nós enxergamos essa assistência como parte do
processo de conquista e a colocamos como um pilar principal para os
nossos usuários.
Dessa maneira, a firma oferece serviços baseados na aprimoração desse
suporte para as companhias parceiras, seja com os tão comentados robôs,
responsáveis por atender chamadas e responder mensagens
automaticamente, ou com outras ferramentas. Ao todo, há uma
flexibilidade sem igual para atender a todo tipo de instituição, com
humanos, chat, voz, redes sociais e WhatsApp, o propósito é aumentar os
resultados e promover atualização constante.
O que é marketplace e por que investir nessa plataforma
ÚnicaPropaganda e Moysés Peruhype Carlech
Milhares de internautas utilizam o marketplace diariamente para fazer
compras virtuais. Mas muitos ainda desconhecem seu conceito e como ele
funciona na compra e venda de produtos.
Afinal, o que é marketplace?
O marketplace é um modelo de negócio online que pode ter seu funcionamento comparado ao de um shopping center.
Ao entrar em um shopping com a intenção de comprar um produto
específico, você encontra dezenas de lojas, o que lhe permite pesquisar
as opções e os preços disponibilizados por cada uma delas. Além de
comprar o que você planejou inicialmente, também é possível consumir
outros produtos, de diferentes lojas, marcas e segmentos.
Leve isso ao mundo virtual e você entenderá o conceito de
marketplace: um lugar que reúne produtos de diversas lojas, marcas e
segmentos. A diferença é que no ambiente virtual é mais fácil buscar
produtos, e existe a facilidade de comprar todos eles com um pagamento
unificado.
Os principais marketplaces do Brasil
A Amazon foi a primeira a popularizar esse modelo de negócio pelo mundo, e até hoje é a maior referência no assunto
No Brasil, o marketplace teve início em 2012. Quem tornou a
plataforma mais conhecida foi a CNova, responsável pelas operações
digitais da Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, entre outras lojas.
Hoje, alguns nomes conhecidos no marketplace B2C são: Americanas,
Magazine Luiza, Netshoes, Shoptime, Submarino e Walmart. No modelo C2C,
estão nomes como Mercado Livre e OLX. Conheça os resultados de algumas
dessas e de outras lojas no comércio eletrônico brasileiro.
Aqui no Vale do Aço temos o marketplace da Startup Valeon que é uma
Plataforma Comercial de divulgação de Empresas, Serviços e Profissionais
Liberais que surgiu para revolucionar o comércio do Vale do Aço através
de sua divulgação online.
Como escolher o marketplace ideal para sua loja
Para ingressar em um marketplace, é preciso cadastrar sua loja,
definir os produtos que serão vendidos e iniciar a divulgação. Mas é
fundamental levar em consideração alguns pontos importantes antes de
decidir onde incluir sua marca:
Forma de cobrança: cada marketplace possui seu modelo de comissão
sobre as vendas realizadas, que pode variar de 9,5% a 30%. O que
determina isso é a menor ou maior visibilidade que o fornecedor
atribuirá a seus produtos. Ou seja, o lojista que quer obter mais
anúncios para seus produtos e as melhores posições em pesquisas pagará
uma comissão maior.
Na Startup Valeon não cobramos comissão e sim uma pequena mensalidade para a divulgação de seus anúncios.
Público-alvo: ao definir onde cadastrar sua loja, é essencial
identificar em quais marketplaces o seu público está mais presente.
Garantimos que na Valeon seu público alvo estará presente.
Concorrentes: avalie também quais são as lojas do mesmo segmento que
já fazem parte da plataforma e se os seus produtos têm potencial para
competir com os ofertados por elas.
Felizmente não temos concorrentes e disponibilizamos para você cliente e consumidores o melhor marketplace que possa existir.
Reputação: para um marketplace obter tráfego e melhorar seus
resultados em vendas precisa contar com parceiros que cumpram suas
promessas e atendam aos compradores conforme o esperado. Atrasos na
entrega, produtos com qualidade inferior à prometida e atendimento
ineficiente são fatores que afastam os usuários que costumam comprar
naquele ambiente virtual. Ao ingressar em um marketplace, certifique-se
de que a sua loja irá contribuir com a boa reputação da plataforma e
pesquise as opiniões de compradores referentes às outras lojas já
cadastradas.
Temos uma ótima reputação junto ao mercado e consumidores devido a seriedade que conduzimos o nosso negócio.
Vantagens do marketplace
A plataforma da Valeon oferece vantagens para todos os envolvidos no comércio eletrônico. Confira abaixo algumas delas.
Para o consumidor
Encontrar produtos de diversos segmentos e preços competitivos em um único ambiente;
Efetuar o pagamento pelos produtos de diferentes lojistas em uma única transação.
Para o lojista
Ingressar em um comércio eletrônico bem visitado e com credibilidade, o que eleva a visibilidade de seus produtos;
Fazer parte de uma estrutura completa de atendimento e operação de
vendas com um menor investimento, considerando que não será necessário
pagar um custo fixo básico, como aconteceria no caso de investir na
abertura de uma loja física ou online.
Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:
• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;
• Atraímos visualmente mais clientes;
• Somos mais dinâmicos;
• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;
• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;
• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.
• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em
buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para
impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as
suas vendas.
Para o Marketplace
Dispor de uma ampla variedade de produtos em sua vitrine virtual, atraindo ainda mais visitantes;
Conquistar credibilidade ao ser reconhecido como um e-commerce que
reúne os produtos que os consumidores buscam, o que contribui até mesmo
para fidelizar clientes.
Temos nos dedicado com muito afinco em melhorar e
proporcionar aos que visitam o Site uma boa avaliação do nosso canal
procurando captar e entender o comportamento dos consumidores o que nos
ajuda a incrementar as melhorias e campanhas de marketing que
realizamos.
Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (App)
Como acontece em toda reforma que fazemos em casa, o custo das novas regras tributárias também sairá maior do que o orçado inicialmente.
Com uma alíquota média estimada em 27,5% (ante aos 25% previstos) as
investidas do Congresso Nacional na proposta desenhada por Bernard Appy, secretário do Ministério da Fazenda, começam a ser precificadas. Com 205 alterações incluídas pelo Legislativo, o resultado final ainda é um imposto único para incidir no consumo de forma escalonada.
Mas também é o aval para disparada nos repasses do governo a estados e
municípios, incerteza sobre implementação, judicialização e isenções,
mas pode tornar a estrutura fiscal melhor para as empresas. “A posição
da Fazenda sempre foi restritiva às exceções, mas é do jogo”, disse Haddad.
Será que, ao ser concluída, a reforma tributária terá capacidade de
colocar o País em linha com as melhores práticas internacionais?
Depois de ampla negociação no Senado, o plenário aprovou a PEC 45 em
dois turnos (com 53 votos favoráveis e 24 contra) e o texto agora volta
para Câmara para aprovação das alterações dos senadores, o que deve
acontecer ainda em novembro. “Tanto Aguinaldo Ribeiro [relator na
Câmara] quanto o Braga [relator no Senado] sabiam das dificuldades e
agiram com bom senso, com argumento, para compor os votos necessários.”
O Congresso incluiu R$ 220 bilhões em
fundos de compensação. Plano do governo era que a transição custasse no
máximo R$ 80 bilhões
A fala de Haddad a jornalistas em Brasília no dia da aprovação explica, em partes, o que aconteceu em Brasília no último mês. Forte
corrida de empresários para buscar benesses, partidos políticos
trocando favores por votos e economistas tentando mapear o que cada uma
das mudanças implicaria no texto final.
Um deles é Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Rena.
Para ele, a nota que Haddad deu para o resultado final do texto, em
torno de 7,5 em uma escala de zero a 10, foi demasiadamente branda. “O maior exemplo disso foi a criação de dois fundos muito generosos que não têm qualquer compensação ou explicação tributária”, disse ele, sobre os R$ 160 bilhões destinados à compensação tributária de estados e municípios durante a transição, além dos R$ 60 bilhões anuais garantidos para os estados com o fundo regional até 2033. Obrigações que o governo estimava ser, no começo, em torno de R$ 80 bilhões somadas.
Há ainda o esboço para a criação, por meio de lei complementar, do Fundo de Sustentabilidade e Diversificação Econômica do Amazonas. Será constituído e gerido com recursos da União.
Outro ponto levantado por economistas diz respeito ao número de setores que terão regimes especiais. Na PEC original, apenas itens da cesta básica, mas o senado criou a chamada cesta básica extendida, que eleva para 15 o número de itens.
Impostos menores seriam destinados apenas para:
• educação,
• saúde,
• saneamento básico,
• algumas áreas limpas do agronegócio.
• Na Câmara entraram os parques de diversões, hotéis e restaurantes.
• No Senado, a lista aumentou para englobar dispositivos médicos e de acessibilidade para pessoas com deficiência; bens e serviços relacionados a segurança e soberania nacional, segurança da informação e segurança cibernética; produções artísticas, culturais, jornalísticas e audiovisuais nacionais e atividades desportivas.
Fernando Facury Scaff, sócio do escritório Silveira, Athias, Soriano de Mello, Bentes, Lobato & Scaff Advogados,
afirma que a inserção de tantos adendos e modificações deu à reforma um
tom de improviso, o que significa ser difícil mapear seus reflexos.
Uma das maiores reclamações sobre a atual legislação tributária era o emaranhado de impostos, taxas e alíquotas diferentes que incide para o empresário. A proposta inicial do governo era acabar com isso criando o imposto único, mas um parágrafo no texto assinado por Eduardo Braga pode abrir a porteira para voltarmos à salada de impostos de atualmente.
Uma regra do Senado (e inserida um dia antes da divulgação do relatório final) permite que os estados criem um imposto sobre produtos primários e semielaborados,
produzidos nos respectivos territórios, para investimento em obras de
infraestrutura e habitação, em substituição a contribuição a fundos
estaduais.
Além disso, quando avaliado o tempo de transição (que aumentou 15
anos) e a responsabilidade do governo nas compensações públicas, a
avaliação do advogado é que boa parte do eventual aumento
tributário para compensar os gastos do governo e isenções desenfreadas
será repassado ao consumidor. “Essa conta é composta pelo
aumento da carga tributária e da despesa pública. Isso inexoravelmente
implicará em majoração de todos os preços.”
Para o professor doutor em direito tributário e presidente da
Comissão de Direito Tributário da OAB/Pinheiros, André Felix Ricotta de
Oliveira, a ideia de simplificação, transparência e segurança jurídica já ficou para trás na reforma tributária. “O que se nota é uma a confusão com o IVA, o IBS e a CBS. Repleto de distorções e tratamentos diferenciados”, disse.
Um sinal de alerta, afirma o professor, foi dado pelo Tribunal de Contas que
pediu atenção a pontos que envolvem bitributação e clareza sobre o
impacto econômico e social das novas regras. “Do jeito que se deu no
Congresso, penso que trará mais insegurança jurídica, uma alta carga
tributária, aumento da inadimplência dos contribuintes, levando a um
aumento do contencioso judicial.”
Primeira grande mudança tributária desde 1960, as alterações
aproximam o Brasil das práticas vistas nos Estados Unidos, Inglaterra e
Canadá, e seguem a indicação da OCDE sobre sistemas mais justos de tributação diante da economia do futuro.
Com essa prerrogativa Haddad entende ter havido um caminho longo e
alterações relevantes, mas que fazem parte do jogo. “Eu avalio o
resultado final como um 7,5. Mas temos que lembrar que nosso sistema
hoje é 1 ou 2.”
O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, também avalia que o custo benefício entre o que o governo queria e o que saiu de fato do Legislativo foi positivo. “Considerando a necessidade de criar o ambiente político necessário para a aprovação, o resultado foi bastante positivo”, disse ele à DINHEIRO.
No entendimento do secretário, a espinha dorsal do projeto está
mantida. “O trabalho real começa agora, um dia de cada vez para a
execução”, disse. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, também gostaram do resultado. “Fizemos os ajustes para tornar a reforma justa para todos. Foi um trabalho conjunto”, disse Lira.
Lula, por sua vez, considerou a aprovação uma vitória, mesmo depois das alterações. Ele não percebeu, mas está diante do que na filosofia é conhecido como o Paradoxo do Navio de Teseu.
Teseu, figura mitológica que derrotou o Minotauro em Creta, saiu em seu
barco e fez uma viagem que durou 50 anos. Durante a jornada ele
precisou trocar todas as peças da embarcação. Quando chegou ao seu
destino, coube a pergunta. O navio que zarpou é o mesmo que atracou em
Creta? No caso da reforma, é cedo para dizer.
A densa fumaça dos incêndios florestais que há dois meses encobre
cidades do Amazonas e do Pará é mais um capítulo dramático da rigorosa
estiagem amazônica, que seca o leito dos rios, arrasa a vida selvagem e
devasta a floresta. Uma tragédia que em tudo vai contra a nova ordem
mundial de defesa do clima e que torna incoerente e espantoso o
represamento de R$ 4,1 bilhões no saldo do Fundo Amazônia.
Ao Estadão, o presidente do Ibama, Rodrigo
Agostinho, admitiu que é preciso aprimorar o combate a incêndios e disse
que o instituto deve apresentar, no fim do ano, um “projeto robusto”
para usar dinheiro do fundo no combate à crise. A reação tardia, que
tende a acrescentar milhares de hectares ao amplo inventário de floresta
destruída, expõe o despreparo do governo em lidar com a catástrofe
anunciada dos efeitos do fenômeno El Niño neste ano na região.
O que mais impressiona é que somente agora está sendo elaborado por
um órgão governamental um projeto para usar o dinheiro de um fundo
constituído exatamente para esse fim. É explícita a finalidade das
doações no decreto que o criou, em 2008: investimentos em ações de
prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e conservação e uso
sustentável da Amazônia Legal.
O problema não são os recursos, pois eles existem. Mas, se há dinheiro, onde estão os projetos? Em recente reportagem do jornal Valor,
o banco estatal BNDES, que administra o Fundo Amazônia, informou que
neste ano foram contratados apenas dois projetos, que, quando
concluídos, não chegarão a R$ 24 milhões. Duas aprovações ao longo de 11
meses – uma delas ainda sem desembolso – não são um resultado a ser
comemorado.
Quanto mais complexa a formulação de projetos aptos aos recursos do
fundo, mais o governo deveria se afastar da atitude passiva que parece
adotar para assumir as rédeas na condução do programa. Para isso servem,
ou deveriam servir, a coordenação técnica do BNDES e os organismos
ambientais federais. Se a proteção da Floresta Amazônica é realmente
prioritária, não faz nenhum sentido a morosidade na aplicação prática de
recursos que chegam de diferentes países para o combate ao
desmatamento.
É certo que houve avanço. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) atestou que de janeiro a setembro o desmate na Amazônia foi
metade do registrado no mesmo período do ano passado. Desconsiderando a
base de comparação sofrível da gestão anterior – que inclusive se
empenhou, sem sucesso, felizmente, em extinguir o Fundo Amazônia –, é um
bom começo.
Mais importante do que as medidas de combate aos incêndios, porém, é
desenvolver soluções para evitá-los ou, ao menos, minimizá-los. A seca
que se abate sobre a região não é um evento sem precedentes, embora
marque um recorde. Tampouco imprevisto. Ao contrário, há meses havia
alertas meteorológicos para a situação atual, que reduziu a régua de
profundidade do Rio Negro a menos de 12 metros, um espanto para o leito
de um rio que, em condições normais, chega a 90 metros.
O espalhamento dos focos de incêndio, que em outubro somaram 3.858,
um recorde no acompanhamento feito pelo Inpe desde 1998, ameaça
gravemente a saúde da população, que voltou a adotar o uso de máscaras.
Em abril, o presidente americano, Joe Biden, anunciou a intenção de
repassar R$ 2,5 bilhões ao Fundo Amazônia. Em julho, foi a vez do
governo da Suíça. Os contratos foram formalizados em outubro e a
primeira etapa das contribuições somou R$ 45 milhões, 2,9% do total
prometido. Pelo regulamento do fundo, novos aportes ficam condicionados
ao sucesso de investimentos para redução do desmatamento, uma exigência
básica para garantir o rigor no uso do dinheiro.
Estados Unidos e Suíça se juntam à Alemanha e Noruega como
financiadores do fundo. França e Inglaterra também deram sinais de que
vão aderir. A preocupação mundial com a Amazônia é consistente com a
busca pela mitigação da crise climática que põe em risco todo o planeta.
Ao Brasil está reservado um papel de real protagonismo nessa campanha.
Mas deve agir o quanto antes, não no ritmo do bicho-preguiça.