sexta-feira, 8 de setembro de 2023

ANA MOZER TIRADA DO CARGO DE MINISTRA POR LULA LAMENTA A DECISÃO

História por Bruno Accorsi • Jornal Estadão

Após lamentar a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em tirá-la do cargo de ministra dos Esportes, na quarta-feira, Ana Moser voltou a se manifestar sobre o assunto nesta quinta, com uma publicação no X, rede social antes conhecida como Twitter. No breve texto, a ex-jogadora de vôlei de 55 anos reforçou sua frustração por ter ficado tão pouco tempo no cargo e disse que continuará lutando pela valorização do esporte no País.

“Para mim, o potencial social, educacional e comunitário do esporte ainda está para ser reconhecido e valorizado, especialmente pelos gestores públicos. Por isso a luta continua. Agradeço aos que estiveram comigo percorrendo este caminho curto e árduo”, escreveu a medalhista olímpica, que, desde que se aposentou das quadras, se dedica ao ativismo social voltado ao esporte.

Antes de atuar como ministra, Ana Moser foi líder da ONG Atletas pelo Brasil, ao lado do ex-jogador de futebol Raí, e teve experiências ligadas à política, como integrar o Conselho Nacional do Esporte, e de dirigir o Centro Olímpico do Parque do Ibirapuera, parte da estrutura da Secretaria de Esportes de São Paulo. “Construí minha vida inteira para chegar aqui. Como mulher, lutei para conquistar espaços e no Ministério do Esporte, trabalhei para transformar a realidade do esporte brasileiro”.

A agora ex-ministra perdeu seu cargo por causa de um acordo costurado por Lula junto ao Centrão. O presidente concretizou uma reforma ministerial que envolveu a demissão de Ana Moser e a entrega da pasta para André Fufuca (PP-MA), em um momento no qual o ministério tem a expectativa de receber uma grande injeção financeira com o avanço da regulamentação das apostas esportivas.

Ana Moser foi nomeada ministra dos Esportes desde o começo do mandato do presidente Lula, mas foi tirada do cargo devido a acordos políticos. Foto:© Fornecido por Estadão

O remanejamento foi lamentado por atletas e ex-atletas, que já vinham se manifestando antes da oficialização da demissão de Ana Moser para tentar impedir o movimento, caso de Raí e Hortência, que encabeçaram o movimento “Ana Moser Fica” com uma hashtag nas redes. Depois do anúncio de que ela estava fora do governo, novas manifestações foram realizadas.

A ex-nadadora Joanna Maranhão, presidente do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil, disse que “não será a eleitora que irá aplaudir os erros do governo” e defendeu Ana Moser como “a pessoa certa para propor uma política pública de esporte de Estado, e não de um governo”. Já Carol Solberg, jogadora de vôlei de praia, disse entender que “o esporte foi mais uma vez usado como moeda de troca” e afirmou que o argumento da governabilidade “não pode justificar tudo”.

Lula já ignorou Ana Moser durante mandato

Apoiadora do presidente Lula desde a campanha eleitoral, Ana Moser acabou ignorada pelo governo no anúncio da reforma ministerial. Ela foi demitida nesta quarta-feira do Ministério do Esporte para o governo dar assento ao deputado federal André Fufuca (PP-MA), do Centrão, correligionário do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Aliados da ministra demissionária ficaram revoltados com a postura do governo, que não citou Ana Moser na nota oficial que confirmou a reforma ministerial. “Não agradeceram pelo trabalho. Lamentável. A ministra não merecia”, comentou à Coluna uma das pessoas mais próximas da ministra demissionária.

Em julho, ao confirmar a substituição de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou em nota que a então ministra havia feito um “excelente trabalho pela recuperação do Turismo no Brasil”. Dizia ainda que o presidente agradecera pela “disposição dela de permanecer contribuindo com o governo no Congresso”. O mesmo tratamento não foi dispensado a Ana Moser.

 

LULA DEMITE UMA MULHER E RELOCA UM DO CENTRÃO PARA OCUPAR A VAGA DO MINISTÉRIO

 

História por MARIANNA HOLANDA, RENATO MACHADO, MATHEUS TEIXEIRA, JULIA CHAIB E JOÃO GABRIEL • Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A reforma ministerial anunciada por Lula (PT) na noite desta quarta-feira (6) motivou críticas diretas e indiretas de aliados e levou ministros a saírem a campo para tentar minimizar as reclamações pelo fato de o presidente ter demitido mais uma mulher e realocado um apoiador de primeira hora para acomodar partidos do centrão que estiveram com Jair Bolsonaro (PL).

O “climão” pôde ser notado no desfile de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, que contou com a presença de vários ministros.

O saldo das trocas para tentar atrair Republicanos e PP preservou o PT, partido do presidente, e teve a ministra Ana Moser (Esporte) demitida e substituída por um homem.

Com isso, Lula perde o recorde de mulheres no primeiro escalão, tão alardeado durante a transição de governo. No começo, eram 11 em 37 pastas. Agora, são 9 em 38. O maior patamar até então era o de Dilma Rousseff (PT), que teve 10 em 37 ministérios.

Além disso, Márcio França (PSB), titular de Portos e Aeroportos, foi deslocado para o novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas. Ele resistia à ideia por achar a nova pasta muito pequena. Defendeu turbinar o ministério, o que o Planalto acabou acatando.

O PSB, porém, manifesta nos bastidores o discurso de insatisfação e de que está sendo prejudicado apesar de ter sido aliado de primeira hora.

André Fufuca (PP-MA) assumirá o Ministério do Esporte e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), o de Portos e Aeroportos.

Há a expectativa de que o PP também receba o comando da Caixa Econômica Federal. Essa troca deve ser oficializada num segundo momento. A atual presidente da Caixa, Rita Serrano, foi indicada por quadros do PT.

O maior risco corrido pelo PT no primeiro escalão foi em relação ao Ministério do Desenvolvimento Social, chefiado por Wellington Dias.

O PP fez uma ofensiva para assumir a pasta e, em determinado momento, as conversas chegaram a envolver um possível fatiamento do ministério. Por esse cenário, o centrão poderia indicar o ministro, mas o Bolsa Família seria retirado da estrutura para permanecer sob a tutela de um petista.

O PT reagiu e o Planalto recuou. A avaliação foi a de que a pasta era muito central para o governo. Enquanto Dias sofria um processo de fritura, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, chegou a dizer que o Desenvolvimento Social era o “coração do governo”.

Há outros 11 petistas na Esplanada.

Apesar do rearranjo ministerial, ainda é incerto o grau de apoio que PP e Republicanos darão ao governo no Congresso.

O PP é presidido por um dos principais críticos a Lula no momento, o senador e ex-ministro de Bolsonaro Ciro Nogueira (PI).

Já o Republicanos reafirmou em nota nesta quinta-feira (7) o que seus dirigentes já vinham dizendo antes, que a indicação de Costa Filho é uma escolha “pessoal” de Lula e que o partido segue independente em relação ao governo.

Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o partido esteve fortemente vinculado a Bolsonaro e até hoje mantém em seus quadros, por exemplos, os senadores bolsonaristas Hamilton Mourão (RS), Damares Alves (DF) e Cleitinho (MG).

A sigla também abriga o governador e ex-ministro de Bolsonaro Tarcísio de Freitas, cotado para ser adversário de Lula na eleição de 2026.

Tendo sido realocado para dar abrigo ao Republicanos, o ministro Márcio França falou sobre isso após o desfile de 7 de Setembro, ocasião em que ficou relativamente distante de Lula e dos demais colegas de governo.

Ele disse que postagem que fez nas redes sociais –“Saúdo o @LulaOficial por trazer p/ o Gov @tarcisiogdf e seu partido p/ nos apoiar”– não era uma ironia, mas um chamado à responsabilidade do governador por agora seu partido ser da base do governo Lula.

Após ser demitida, Ana Moser citou publicamente sua “tristeza e consternação” pela perda do cargo, tendo recebido o apoio de atletas, de entidades esportivas e inclusive de Janja.

“Eu também não estou feliz”, escreveu a primeira-dama em rede social, ao comentar a publicação de um usuário que lamentava a saída de Ana Moser.

A agora ex-ministra não tinha ligações políticas. Ela é ex-jogadora de vôlei e medalhista olímpica. Além disso, tem um histórico de dedicação a projetos de gestão e a políticas públicas na área. Sua nomeação contou com apoio de ONGs, atletas e também de confederações esportivas.

Ela fez parte de um grupo de atletas que durante a campanha atuou pela eleição do petista. Na transição, participou do grupo de trabalho do tema.

Ministros de Lula buscaram minimizar as insatisfações com a tentativa de atração de Republicanos e PP, o que é essencial para Lula ter uma margem de apoio confortável no Congresso.

Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse nesta quinta que a reforma ministerial para abrir espaço no governo Lula ao centrão é uma forma de “valorização da política”.

Padilha minimizou a ausência de Lula na foto que oficializou a entrada de André Fufuca e Silvio Costa Filho no governo.

Ele e o ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social) também negaram mal-estar com as trocas ministeriais e o fato de Ana Moser não ter sido mencionada na nota da Presidência que comunicou as mudanças.

Padilha também relativizou o fato de PP e Republicanos seguirem com discurso de que são independentes do governo apesar de terem assumido ministérios na Esplanada. Ele afirmou que as nomeações devem melhorar a relação com as bancadas das siglas na Câmara.

O ministro não comentou a participação ativa das legendas no governo Bolsonaro, cuja pregação golpista a atual gestão costuma ressaltar. Ele preferiu dizer que ambos os partidos criticaram os atos de vandalismo de 8 de janeiro por parte de bolsonaristas.

“Compromisso que tivemos é que aquilo que a bancada já vem garantindo de aprovação dos projetos fundamentais, permitindo retomar o crescimento econômico, a recriação de programa sociais e rechaçar o golpismo de 8 de janeiro continue”, disse.

Padilha também afirmou que Lula agradeceu pessoalmente a Ana Moser pela participação no governo, apesar de na nota oficial do governo que comunicou a troca não constar um tópico nesse sentido.

Disse, ainda, que a “grande manifestação de carinho, afeto e compromisso” é que o novo ministro, indicado pelo centrão, seguirá a política pública de esporte prometida por Lula na campanha e durante o começo do governo.

“O último período em que se tentou criminalizar ou desvalorizar a política levou à aventura golpista de 8 de janeiro. Então, esse desfecho valoriza a política”, completou.

Pimenta, por sua vez, evitou responder sobre eventual mal-estar criado com Ana Moser e Márcio França.

PROBLEMAS DE ATENDIMENTO E FILAS DO INSS

História por Washington Barbosa* • Jornal Estadão

Fila do INSS Foto: André Dusek/Estadão© Fornecido por Estadão

É de conhecimento geral o tamanho das filas de pedidos pendentes de análise pelo INSS, número que oscila entre 1.5 milhão e 2 milhões nos últimos anos. Entra governo e sai governo, entra ministro e sai ministro, entra presidente do INSS e sai presidente do INSS e a coisa não muda.

Até mesmo as promessas não mudaram, as bravatas mais comuns são: “vou reduzir as filas até o final do ano”; “não irei permitir que os segurados sofram”; “começaremos um mutirão que irá resolver isso e todos terão resposta em até 45 dias” ….

Ser feito de bobo tem limite!

Para não parecer que sou “engenheiro de obra pronta”, “que é fácil falar quando não se conhece a realidade dos fatos”; permita-me trazer um pequeno diagnóstico da situação.

São vários os motivos para a existência de tantos processos parados e pendentes de análise. Pode-se começar falando da atual facilidade de acesso à Autarquia Previdenciária. Quem se lembra das famosas filas na porta das agências do INSS? Havia até mesmo a “profissão” de “guardador de lugar na fila”. Na realidade, a fila era fruto de um descasamento entre a demanda de benefícios e a capacidade de atendimento do INSS. Qual foi a solução encontrada à época? Só recebiam os pedidos que teriam capacidade de analisar, daí, surgem as tais senhas e as tais filas. Assim fica fácil, não é?

Com a chegada do atendimento pela Central 135, as filas na porta das agências começaram a dissipar-se, pois as “senhas” eram distribuídas pela central, sem a exposição da multidão de pessoas à espera de atendimento. Aqui, ainda se controlava a demanda à capacidade de atendimento.

O próximo passo nessa história foi a implementação do programa Meu INSS, onde, na internet ou de seu aparelho de celular, todos podem acessar diretamente o INSS e entrar com o seu pedido de benefício. Agora, o problema não está mais debaixo do tapete, o Governo tem a real noção do tamanho do problema e de procurar soluções.

Se esse processo demorou anos para concretizar-se, por que o INSS não se preparou para isso?

O Executivo não se preparou para isso e agora a realidade bateu à sua porta. Não são movimentos espasmódicos e desarticulados que pipocam de vez em quando como: operação pente fino; mutirões de perícia e de análise de pedidos, e programas de incentivo à produtividade dos servidores, que resolverão o problema. A solução deve ter caráter permanente e estruturante. Cabe ao Poder Executivo encarar o problema de frente e tomar uma atitude.

Você, que não pode esperar, porque os boletos não têm ouvidos para desculpes, corre para o Poder Judiciário que, abarrotado com milhares e milhares de ações, transformou-se em verdadeiro balcão de atendimento das demandas previdenciárias. Demorou no INSS, corre para o Judiciário. Benefício foi cassado, corre para o Judiciário.

Isso não é competência do Judiciário, que não tem autoridade sobre os meios para solucionar o problema e acaba resolvendo situações pontuais, sem a visão do todo.

Washington Barbosa Foto: Divulgação© Fornecido por Estadão

E o Poder Legislativo? O que pode fazer?

Muitas vezes, o teu benefício foi negado porque a lei está atrasada e precisa de atualização. O servidor do INSS não pode, com base no que o Judiciário decide, contrariar a Lei. Cabe ao Parlamento dar andamento aos vários projetos de lei que estão parados em suas gavetas e que modernização a legislação previdenciária.

Outra responsabilidade do Legislativo é refletir no orçamento a necessidade de priorização do atendimento há milhões de brasileiros que mendigam por um pingo de dignidade e respeito. Sem dinheiro para investir, não se conseguirá resolver o problema da fila.

Essa é a realidade que os segurados e os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social se deparam todos os dias.

Mas enquanto tudo isso acontece, quem paga a conta daquela pessoa que está há meses sem receber, à espera da análise de um pedido de auxílio incapacidade permanente (antigo auxílio-doença)? E aquele, que precisa e tem o direito de aposentar-se após uma longa e dura vida de trabalho, que espera meses, as vezes anos, para ganhar a merecida retribuição por anos de contribuições?

É hora de arregaçar as mangas. Menos papo e mais ação!

*Washington Barbosa, especialista em Direito Previdenciário e mestre em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Diretor da WB Cursos

 

INSTITUTO NÃO ACEITO CORRUPÇÃO QUE REVISÃO DA DECISÃO QUE ANULOU PROVAS DA LAVA JATO

História por Pedro Prata • Jornal Estadão

Instituto Não Aceito Corrupção quer que seja revista a decisão do ministro Dias Toffoli que anulou provas da Operação Lava Jato obtidas a partir do acordo de leniência da Odebrecht. Para a entidade, o ato do ministro deve ser submetido à avaliação dos demais magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF).

A entidade diz que a empreiteira esteve representada por seus advogados e que a validade do acordo já foi homologada pelo STF. “A observância e respeito a um acordo homologado pelo STF é elementar para a preservação da segurança jurídica, pilar de nosso sistema e do próprio Estado Democrático de Direito”, diz nota pública.

Ministro Dias Toffoli fez duras críticas à Operação Lava Jato. Foto: Dida Sampaio/Estadão© Fornecido por Estadão

O instituto ainda critica o fato de Toffoli ter tomado sozinho uma decisão de tamanho impacto. “Conclamamos o STF a debater o tema, que demanda a apreciação da matéria em foco pela respectiva turma ou pelo plenário do STF, de forma técnica, e o repensar de seu regimento no sentido de preservação da colegialidade do Tribunal como regra.”

Também destaca que os procedimentos adotados pela força-tarefa em Curitiba estiveram sob o escrutínio da Corregedoria Geral do Ministério Público Federal e da Corregedoria Geral do Conselho Nacional do Ministério Público. Em ambos os casos, os procedimentos foram arquivados.

A entidade criticou o que considerou “linguagem extrema e exageradamente politizada”, apontando quebra da “técnica imparcial” do Supremo. Na decisão que anulou as provas, Toffoli chamou a prisão de Lula, em 2018, de um dos ‘maiores erros judiciários da história do País’ e se referiu à Lava Jato como “ovo da serpente” e “projeto de poder de determinados agentes públicos”.

Toffoli anulou as provas obtidas a partir do acordo de leniência – delação premiada de empresas – acertado entre a Odebrecht e o Ministério Público Federal porque considerou que teriam havido irregularidades realizadas pelos procuradores na condução do inquérito. Ele alega que os investigadores teriam feito negociações fora dos canais oficias para agilizar o fechamento do acordo. A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) vão recorrer da decisão.

Lula foi preso em abril de 2018 pelo ex-juiz Sérgio Moro, depois que ele foi condenado em segunda instância no caso do triplex do Guarujá. O presidente seria solto por uma revisão de entendimento do STF, no ano seguinte, que decidiu que alguém só poderia ser preso após esgotados todos os recursos do processo. Posteriormente o Supremo ainda anularia as condenações que pesavam contra Lula por entender que Moro não foi imparcial na condução do processo.

Sérgio Moro: “A corrupção nos governos do PT foi real”. Foto: Hélvio Romero/Estadão© Fornecido por Estadão

Agora senador pelo Paraná, Sérgio Moro (Podemos) reagiu à decisão de Toffoli negando irregularidades na Operação Lava Jato e disse que “a corrupção nos governos do PT foi real” e que “criminosos confessaram e mais de seis bilhões de reais foram recuperados para a Petrobras”. Já Deltan Dallagnol, que comandava a equipe de procuradores, falou que a decisão do ministro “faz a corrupção compensar”.

A Advocacia-Geral da União (AGU) anunciou a criação de uma força-tarefa para “apurar desvios de agentes públicos e promover a reparação de danos causados” pela Operação Lava Jato. Em paralelo, o ministro da Justiça, Flávio Dino, falou que vai pedir instauração de inquérito na Polícia Federal para responsabilizar penalmente os agentes públicos. O procurador-geral da República, Augusto Aras, falou que a operação “deixou um legado maldito”.

 

META PODE COBRAR PARA QUE OS USUÁRIOS DO INSTRAGRAM E FACEBOOK TENHAM REDES SOCIAIS SEM ANÚNCIOS

Meta pode transformar a internet ao cobrar para que usuários tenham redes sociais sem anúncios

Por Pedro Doria – Jornal Estadão

Meta ainda não anunciou oficialmente, mas os usuários europeus de Facebook e Instagram devem ganhar a possibilidade de uma assinatura dessas redes sociais. Os assinantes ganham, em troca, pleno acesso a todos os serviços sem nenhuma publicidade. Será preciso esperar para ver o impacto — quantas pessoas terão interesse, se o negócio parecerá promissor para levar ao resto do mundo, ou mesmo quanto as redes se transformam quando deixam de ser gratuitas e passam a ser pagas. Muita gente aposta que pode ser revolucionário. Transformador. Que pode ser bom para todo mundo.

Há um aforismo corrente no Vale do Silício: se recebeu de graça, o produto é você. Quando a internet era bastante jovem, ali por princípios dos anos 2000, havia um debate imenso a respeito de que modelo de negócio sustentaria tantas empresas. A onda levou todos para um mecanismo no qual se construíam audiências na casa das dezenas e centenas de milhões, depois bilhões, e a partir daí se apresentava propaganda automatizada para todo mundo. É o mundo em que vivemos.

Na internet, o produto não é a busca, não é a caixa de comentários ou o vídeo que alguém produziu. O que está sendo vendido nesses negócios é o olhar capturado pela busca, pela mensagem, pela distração. O produto vendido nos negócios digitais somos nós.

Se o produto fosse a busca, o comentário ou o filme, aí seria por isso que se pagaria. É o que a assinatura que a Meta planeja criar faz. A lógica do negócio se inverte.

Como seriam as redes sociais se fossem, realmente, sociais e não antissociais?

Lógicas de negócio são poderosas. Porque se decidiu vender nossa atenção para anunciantes de todos os tamanhos, foi preciso construir plataformas capazes de capturar atenção. Por isso, os algoritmos que regulam os sistemas são configurados para que tornemos e voltemos e, sempre nervosos, deslizemos o dedo pelas telas em busca daquela microinjeção de ânimo. Este algoritmo privilegia o sensacional, o que dá raiva, o que mobiliza emocionalmente. Nos engaja em brigas com familiares e vizinhos, divide países.

Produto como as plataformas de streaming que vendem assinaturas oferecem uma sorte muito distinta de emoções. Engajam pela surpresa, pelo prazer coletivo de descobrir uma série e debater sobre ela. Promovem encontros, não desencontros. Então como seriam as redes sociais se, ao invés de venderem nossa atenção para anunciantes, vendessem a nós prazeres na forma de encontros. Se fossem, realmente, sociais e não antissociais?

Meta é a companhia-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp
Meta é a companhia-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp Foto: Dado Ruvic/Reuters – 2/11-2021

A Meta não confirma os planos de uma assinatura europeia. A notícia foi dada pelo New York Times, que a confirmou com quatro pessoas distintas diretamente envolvidas com os debates internos. A companhia, quando perguntada, tampouco negou a notícia. Para eles, faz todo sentido fazer o teste.

Será tarde demais? Ou um crescente número de pessoas dispostas a pagar poderia, aos poucos, mudar como as redes funcionam? O teste, parece, vai começar muito em breve.

 

CAFÉ DE FEZES DE JACU É O MAIS VALORIZADO NO MERCADO

 

O sistema digestivo do pássaro selvagem é o principal aliado na produção de um dos cafés mais caros do mundo

Por AFP – Jornal Estadão

Café brasileiro que custa mais de R$ 1.100 mil vem de fezes de jacu
Pássaro Jacu – Imagem ilustrativa

Antes considerado uma praga nas plantações de café do sudeste do Brasil, o pássaro selvagem jacu – e seu prodigioso sistema digestivo – tornou-se o principal aliado na produção de um dos cafés mais caros do mundo.

O jacu – jacuaçu – parece um faisão e tem paladar fino: “Geralmente ele escolhe as melhores frutas, as mais maduras”, explica Agnael Costa, de 23 anos, à AFP, enquanto coleta delicadamente os valiosos excrementos entre duas árvores.

Na fazenda Camocim, situada em um vale bucólico da comunidade de Domingos Martins, no Espírito Santo, os pés de café crescem em meio a uma floresta exuberante.

“Foi esse sistema agroflorestal que criou as condições necessárias para existir esse café exótico aqui”, explica o proprietário Henrique Sloper, adepto da agricultura biodinâmica, sem produtos químicos.

O produto é vendido por 1.118 reais o quilo no Brasil, e ainda mais caro no exterior, em lojas de luxo como a britânica Harrods.

De inimigo a aliado

Mas o jacu, espécie de plumagem preta e garganta escarlate, nativa de outras regiões da América do Sul, nem sempre foi bem-vindo na propriedade Camocim. No início, era visto como uma praga que ameaçava as colheitas e causava problemas.

Foi ao conhecer o café “Kopi Luwak” na Indonésia, feito com excrementos de civeta (mamífero asiático semelhante a um mangusto), que Henrique Sloper teve a ideia de transformar o jacu de inimigo a aliado.

Enquanto a reputação do “Kopi Luwak” – também vendido a preço de ouro – é prejudicada por denúncias de maus-tratos a civetas em cativeiro, o jacu brasileiro cresce em liberdade.

“É 100% natural. O jacu está dentro do habitat natural dele mesmo”, a floresta atlântica do litoral brasileiro, diz o supervisor de produção, Rogério Lemke.

“É uma região muito protegida (…) e não usamos químico, produtos transgênicos, nada” na plantação de café, acrescenta.

Os excrementos do jacu lembram a aparência de um pé de moleque, com grãos de café incrustados em uma pasta enegrecida.

Depois de colhidas, as fezes são colocadas para secar em uma estufa. Em seguida, os grãos de café são classificados e descascados cuidadosamente, antes de serem colocados em uma câmara fria.

São retirados de lá apenas mediante solicitação do cliente, para evitar desperdícios.

“Em função do trabalho que a gente tem para fazer esse produto, ele é naturalmente caro. Não tem como fazer um café de jacu com custo baixo… É um produto escasso e a produção é incerta, porque depende do apetite do jacu”, afirma Henrique Sloper.

O café extraído dos excrementos destas aves representa menos de 2% da produção da fazenda.

“Serve não só como selecionador, como também alarme de colheita. Onde ele come, o café está maduro”, explica.

Luxo e sustentabilidade

“Os pássaros têm um transito intestinal extremamente curto. Praticamente entrou, e depois de alguns segundos já está saindo. Então não existe propriamente qualquer tipo de processo bioquímico, não dá tempo”, explica o analista de café, Ensei Neto.

É muito mais lento em civetas ou elefantes, cujos excrementos também são usados para produzir esse tipo de café na Tailândia.

“Basicamente, o que você tem como diferencial, que o pássaro promove, é essa seleção dos grãos maduros. Ele não adiciona nada a mais. Mas a história é boa”, diz Neto.

Os grãos bem maduros conferem ao café “notas doces, com boa acidez”.

“É um café delicioso e a história por trás da sua produção é muito original. É uma experiência nova para nós”, diz a turista Poliana Cristiana Prego, de 37 anos, que veio até a fazenda provar o café do jacu.

“Nossos clientes são os amantes de produtos exóticos, mas também aqueles que valorizam a ideia de desenvolvimento sustentável”, afirma Henrique Sloper.

Para ele, “o futuro do café vai vir do Brasil”. Maior produtor mundial, o gigante sul-americano começa a melhorar “a parte do branding, do marketing do café. É mostrar para o mundo que realmente temos condições de fazer o que ninguém tem”.

ENEM DOS CONCURSOS DO SERVIÇO PÚBLICO SERÁ UMA SELEÇÃO ÚNICA REALIZADA EM TODO O PAÍS

Governo planeja preencher cerca de 8 mil vagas ministérios e outros órgãos do serviço público federalA maioria das vagas será destinada a Brasília, onde ficam as sedes dos órgãos públicos federaisA maioria das vagas será destinada a Brasília, onde ficam as sedes dos órgãos públicos federaisFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Da CNN* Brasil

O governo federal deve realizar em fevereiro do ano que vem o chamado “Enem dos concursos públicos“, um processo unificado para seleção de novos servidores.

O Executivo planeja preencher cerca de 8 mil vagas em diversos ministérios e outros órgãos do serviço público.

No modelo de seleção atual, cada órgão faz seu próprio processo e realiza as provas separadamente.

Já o “Enem dos concursos” prevê uma seleção única, que será realizada simultaneamente em 179 cidades de todo o país.

Confira o cronograma e como vai funcionar

  • Ministérios e órgãos interessados em participar do concurso unificado terão até o dia 29 de setembro para fazer a adesão, que é voluntária;
  • Publicação do edital está prevista para o dia 20 de dezembro;
  • Aplicação da prova está prevista para 25 de fevereiro de 2024;
  • Resultados gerais da primeira fase devem ser divulgados até abril de 2024;
  • Cursos de formação devem começar entre junho e julho de 2024;
  • Início dos processos de alocação e ambientação dos servidores está previsto para julho e agosto de 2024.

No momento da inscrição, os candidatos deverão optar por um dos blocos das áreas de atuação governamental disponíveis. Depois, deverão indicar seu cargo ou carreira por ordem de preferência entre as vagas no bloco de sua escolha.

A primeira etapa do concurso unificado será realizada em um único dia, dividida em dois momentos: primeiro será aplicada uma prova objetiva, com conteúdo comum a todos os candidatos. Depois, no mesmo dia, serão aplicadas provas dissertativas e com conteúdos específicos e de acordo com cada bloco temático.

Além das provas, cada órgão poderá colocar no edital suas exigências em relação à titulação acadêmica e experiência profissional.

Entenda a proposta

A iniciativa parte do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos. A pasta, comanda por Esther Dweck, se inspirou no modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O objetivo, segundo o governo, é ampliar e democratizar o acesso da população brasileira às vagas do serviço público federal, além de aumentar a diversidade sociodemográfica e territorial dos servidores públicos.

“Quanto mais o perfil do servidor estiver alinhado com o da população, melhor para o governo. Quanto mais a burocracia for representativa do coletivo da nação, as políticas públicas também serão mais representativas”, explica o secretário de Gestão de Pessoas, José Celso Cardoso Jr.

A descentralização da realização das provas não tem relação com a lotação dos servidores, contudo. A maioria das vagas será destinada a Brasília, onde ficam as sedes dos órgãos públicos federais.

 

A RELAÇÃO ENTRE STARTUPS E AS CORPORAÇÕES É MAIS COLABORATIVA DO QUE COMPETITIVA

 

Por Caio Reina, CEO e fundador da RoutEasy

A logística, por sua própria natureza, envolve um longo e complexo arranjo de processos – alguns que, inclusive, foram estabelecidos há décadas. Porém, nos últimos anos, a tecnologia e as consequentes mudanças no comportamento dos consumidores demandaram uma significativa evolução nesse setor tão tradicional.

As startups de logística (ou logtechs) surgiram para desempenhar um papel fundamental na abordagem dessas demandas, principalmente no que diz respeito à agilidade. Enquanto as grandes corporações tendem a contar com processos mais burocráticos e sistemas legados, as startups têm a flexibilidade necessária para adotar novas tecnologias e modelos de negócios de maneira rápida e eficiente.

Isso tem sido especialmente perceptível quando se trata de otimização de rotas e gestão de entregas. Nos últimos anos, as logtechs foram cruciais para um salto de inovação nas operações logísticas, que precisaram se ajustar rapidamente a um novo perfil de consumo, demandando maior produtividade para viabilizar  e entregas mais rápidas.

Assistimos então a uma alavancada no uso da inteligência artificial para criar sistemas altamente eficientes, que substituíram tarefas manuais e ofereceram mais visibilidade, tanto para as operações quanto para o consumidor.

Logo, a relação entre startups e as grandes corporações tem sido muito mais colaborativa do que competitiva. Com mais experiência, alcance e recursos, as companhias têm buscado parcerias estratégicas com startups para alavancar suas inovações e soluções tecnológicas, além de se manterem sempre atualizadas em um contexto de sucessivas mudanças.

Os anos de 2020 e 2021 foram grandes exemplos dessa movimentação. À medida que o e-commerce se tornou a salvação para muitos negócios durante o isolamento, as startups emergiram como parceiras essenciais para impulsionar a transformação digital e atender às demandas por entregas mais rápidas e eficientes.

De acordo com um relatório da McKinsey, no auge da pandemia, as logtechs receberam o dobro de investimentos, já que o cenário trouxe consigo desafios sem precedentes para a logística.

Essas parcerias também encontram um terreno fértil quando se trata de enfrentar desafios de sustentabilidade. Graças à adoção de uma abordagem mais inovadora, diversas companhias estão minimizando seus impactos ambientais, reduzindo desperdícios e otimizando a utilização de recursos.

E o futuro parece cada vez mais promissor. Existe ainda um grande horizonte a ser explorado quando se trata de inteligência artificial, internet das coisas, aprendizado de máquina e big data, principalmente para criar experiências mais personalizadas para o consumidor.

Por isso, em um arranjo tão complexo quanto a logística, as startups desempenham um papel valioso: criar ferramentas praticamente sob medida para solucionar problemas específicos.

COMO DEVEM SER OS PARCEIROS NOS NEGÓCIOS

“Parceiros chegam de várias formas. Se juntam por diferentes motivos”.

Eu sei, é clichê, rss. E se a frase fosse minha eu acrescentaria: “O que eles tem em comum é o fato de acreditarem no que nós acreditamos”.

Parceria é a arte de administrar conflitos de interesses e conexões de interesses, visando resultados benéficos para ambas as empresas”.

É por isso que eu costumo comparar parceria com casamento. Quem é casado sabe que administrar conflitos é fundamental para ambos terem resultados nessa aliança.

Assim como no casamento, o parceiro não precisa ser igual a nós, mas tem que ter o nosso ‘jeitão’! Nas parcerias eu defendo que o parceiro precisa ter o DNA de inovação, a inquietude pra sair da zona de conforto e uma preocupação muito grande com o cliente, não apenas no discurso, mas na prática. É claro que no processo de análise do possível parceiro, nós avaliamos o potencial financeiro e de escala da aliança, a estrutura e o tamanho da empresa. Mas, tem um fator humano que não pode ser desconsiderado, já que empresas são, na sua essência, pessoas. É por isso, que normalmente, os parceiros   são empresas formadas por pessoas do bem, pessoas com propósito, que tem tanto o caráter quanto a lealdade de continuar de mãos dadas, mesmo nos momentos mais difíceis. É como um casamento mesmo!

É importante também que os parceiros tenham know how e competências complementares, que potencializem nossas fragilidades e deem mais peso aos nossos pontos fortes. E como eu acredito que o primeiro approach de uma boa parceria acontece no plano humano (onde existe emoção), e não no corporativo, eu gosto muito da histórica da parceria entre Steve Jobs Steve Wozniak. Os dois Steves tornaram-se amigos durante um emprego de verão em 1970. Woz estava ocupado construindo um computador e Jobs viu o potencial para vendê-lo. Em uma entrevista de 2006 ao Seattle Times, Woz, explicou:

“Eu só estava fazendo algo em que era muito bom, e a única coisa que eu era bom acabou por ser a coisa que ia mudar o mundo… Steve (Jobs) pensava muito além. Quando eu projetava coisas boas, às vezes ele dizia: ‘Nós podemos vender isso’. E nós vendíamos mesmo. Ele estava pensando em como criar uma empresa, mas talvez ele estivesse mesmo pensando: ‘Como eu posso mudar o mundo?’”.

Por que essa parceria deu certo? Habilidades e competências complementares.

As habilidades técnicas de Woz juntamente com a visão de Jobs fizeram dos dois a parceria perfeita nos negócios.

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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

PROCURADORES QUEREM QUE A DECISÃO DE TOFFOLI SEJA PAUTADA TECNICAMENTE

História por Rayssa Motta • Jornal Estadão

Em dia de protagonismo, Toffoli anulou acordo de leniência da Odebrecht. Foto: André Dusek/Estadão© Fornecido por Estadão

A decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que atendeu a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e anulou provas do acordo de leniência da Odebrecht, caiu atravessada entre membros do Ministério Público.

A preocupação é com o que pode vir a seguir. Toffoli determinou investigações sobre agentes públicos que podem ter agido fora dos canais oficiais para acelerar o acordo. A Advocacia-Geral da União (AGU) do governo Lula já anunciou que vai tomar providências.

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) disse nesta quarta-feira, 6, que a análise sobre a Lava Jato precisa ser “técnica“ para preservar as instituições da polarização política.

“Não é razoável, a partir de afirmação de vícios processuais decorrentes da suspeição do juízo ou da sua incompetência, pretender-se imputar a agentes públicos, sem qualquer elemento mínimo, a prática do crime de tortura ou mesmo a intenção deliberada de causar prejuízo ao Estado brasileiro”, diz o texto.

A ANPR afirma ainda que a AGU e o Tribunal de Contas da União (TCU) não têm atribuição para investigar membros do Ministério Público e do Judiciário no exercício de suas atividades.

“Tal proceder não é adequado no estado democrático de direito, justamente para afastar qualquer tentativa de fazer cessar a atuação de órgãos cujas atribuições estão previstas na Constituição Federal”, defende a associação.

O acordo de leniência é uma delação premiada para empresas. O da Odebrecht foi fechado em dezembro de 2016. Como parte do acordo, a construtora abriu ao Ministério Público Federal planilhas da contabilidade paralela, com registros de propinas a dezenas de políticos e funcionários públicos, registradas nos sistemas Drousys e My Web Day B. A empresa também se comprometeu a desembolsar R$ 6,8 bilhões para ressarcir os cofres públicos.

A ANPR diz que os agentes públicos envolvidos no acordo “agiram no estrito exercício de suas atribuições funcionais” e que as negociações tiveram “resultados financeiros concretos, revertidos aos cofres públicos”.

Leia a íntegra da nota da ANPR:

“A Associação Nacional dos Procuradores da República vem, em razão da decisão proferida no Supremo Tribunal Federal, nos autos da Reclamação 43007, ressaltar a necessidade de que a discussão sobre os fatos envolvendo a Operação Lava Jato seja pautada por uma análise técnica, objetiva, que preserve as instituições e não se renda ao ambiente de polarização e de retórica que impede a compreensão da realidade.

Não é razoável, a partir de afirmação de vícios processuais decorrentes da suspeição do juízo ou da sua incompetência, pretender-se imputar a agentes públicos, sem qualquer elemento mínimo, a prática do crime de tortura ou mesmo a intenção deliberada de causar prejuízo ao Estado brasileiro.

O acordo de leniência firmado pelo Ministério Público Federal com a Odebrecht resultou de negociação válida, devidamente homologada pelo próprio Supremo Tribunal Federal, com a participação de vários agentes públicos, pautados em atividade regular.

Não é correta a afirmação de que o acesso aos sistemas Drousys e Mywebday, mantidos pela Odebrecht para registrar o pagamento de propina, descumpriu o procedimento formal de cooperação internacional. Em razão do acordo de leniência, a Odebrecht entregou uma cópia dos sistemas diretamente ao MPF no Brasil.

Adicionalmente, para confirmar a integridade dos sistemas, o MPF solicitou à Suíça, por meio de regular procedimento de cooperação jurídica internacional, no qual atuou o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça (DRCI/MJ), cópia integral dos sistemas que haviam sido apreendidos em autônoma investigação suíça.

O pedido, formulado em 17 de maio de 2016, foi encaminhado pelo DRCI para as autoridades suíças em 3 de junho de 2016, por meio da Official Letter 3300/2016/CGRA-SNJ-MJ, e, em 28 de setembro de 2017, o DRCI encaminhou ao MPF a resposta à solicitação (Ofício 7676/2017/CGRA-DRCI-SNJ-MJ).

Todo o procedimento de entrega e recebimento dos discos rígidos contendo os sistemas está documentado e foi atestado por relatórios técnicos elaborados pela Secretaria de Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República (SPPEA/MPF) e por laudo pericial elaborado pela Polícia Federal (LAUDO No 0335/2018 – SETEC/SR/PF/PR), ressaltando-se, inclusive, as menções feitas nesses laudos à tramitação das mídias recebidas de autoridades estrangeiras por intermédio do DRCI.

O acordo celebrado pela empresa Odebrecht com o MPF não é um acordo internacional. Estados Unidos e Suíça não são partes do acordo brasileiro, e vice-versa, pois cada um dos países atuou em sua esfera de jurisdição, assinando acordos em separado e absolutamente independentes com a empresa. A menção a EUA e Suíça indica, apenas, ter havido coordenação entre as diferentes jurisdições, para evitar duplicidade de punições à empresa, já que os valores pagos no Brasil seriam abatidos dos valores a pagar nos Estados Unidos, procedimento este que é recomendado em manuais e convenções internacionais de combate à corrupção. Por essa razão, inclusive, os acordos celebrados pelos EUA e Suíça com a empresa Odebrecht continuam válidos e não são afetados pela decisão do Supremo Tribunal Federal.

Esse mesmo procedimento – celebração de acordos de leniência com empresas no Brasil, de forma concomitante à celebração de acordos por autoridades estrangeiras com a mesma empresa – já foi utilizado em diversos outros casos. Menciona-se que há registros de múltiplos acordos celebrados pelo MPF e pela própria Advocacia-Geral da União (AGU), em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), utilizando o mesmo procedimento, sem que fosse necessária a tramitação de cooperação jurídica internacional especificamente para que cada autoridade pudesse celebrar seus acordos com validade interna. Da mesma forma, os diversos países que já assinaram acordos semelhantes com empresas investigadas na Lava Jato – incluindo Reino Unido, França, Singapura, além de EUA e Suíça – jamais precisaram transmitir pedidos de cooperação internacional ao Brasil para viabilizar a assinatura de seus próprios acordos.

Quando se fez necessária a transmissão e o recebimento de quaisquer provas, informações ou valores, entre autoridades nacionais e estrangeiras, o MPF sempre seguiu precisamente o procedimento determinado na legislação, fazendo os requerimentos em juízo e transmitindo-os por intermédio do DRCI/MJ.

Os acordos de colaboração premiada celebrados com diretores e empregados da Odebrecht, que se valeram também de provas extraídas dos sistemas da companhia e que foram entregues voluntariamente, foram firmados pela Procuradoria-Geral da República e homologados pelo próprio Supremo Tribunal Federal, que, na época, reconheceu sua validade. Já o acordo de leniência foi homologado pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, assim como por juízo federal.

As questões suscitadas pelo Exmo. Min. Dias Toffoli já haviam sido remetidas pelo Min. Ricardo Lewandowski às esferas competentes para apuração – a Corregedoria-Geral do MPF e a Corregedoria Nacional do Conselho Nacional do Ministério Público. Após vasta análise de provas e informações, foi reconhecida a legalidade do procedimento adotado pelo MPF nos acordos envolvendo a Odebrecht e seus diretores e empregados. Encerrada a apuração, a conclusão da Corregedoria-Geral do MPF foi comunicada ao STF, mas tais documentos não foram mencionados na decisão proferida e precisam ser expressamente analisados.

As Leis Orgânicas do Ministério Público e da magistratura delimitam as autoridades competentes para a investigação da atuação funcional de seus membros, o que é uma garantia ao livre exercício de suas funções constitucionais, a fim de evitar pressões e ameaças advindas de poderes externos. A AGU e o TCU não têm atribuição para investigar membros do Ministério Público e do Judiciário, no exercício de suas atividades finalísticas, e tal proceder não é adequado no estado democrático de direito, justamente para afastar qualquer tentativa de fazer cessar a atuação de órgãos cujas atribuições estão previstas na Constituição Federal.

Por fim, é necessário respeitar-se o trabalho de dezenas de membros do Ministério Público Federal que atuaram no acordo de leniência firmado com a empresa Odebrecht, magistrados de diversas instâncias, policiais federais, agentes públicos da CGU e Receita Federal, dentre outros que agiram no estrito exercício de suas atribuições funcionais, com resultados financeiros concretos, revertidos aos cofres públicos.”

 

INÚMERAS PROVAS DA LENIÊNCIA DA ODEBRECHT FORAM ANULADAS PELO STF

 

Decisão de Dias Toffoli, do STF, abre caminho para a derrubada de investigações e ações civis, penais e eleitorais, no Brasil e no exterior, apoiadas em provas obtidas a partir de informações apresentadas pela construtora ao MPF em 2016

Por Julia Affonso, Vinícius Valfré e Rayssa Motta – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Ao determinar a anulação completa das provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Dias Toffoli, desconsiderou, dentre outras informações, os dados do sistema criado pelo “setor de propinas” da construtora que apontou o pagamento de propina a políticos, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O acordo de leniência, fechado na Operação Lava Jato, era mais abrangente dos que os termos de delação premiada dos executivos da empresa, pois continham provas de corroboração. O pedido foi feito ao Supremo em agosto de 2020 pelo então advogado de Lula Cristiano Zanin, que hoje é colega de Toffoli no Supremo. O processo está nas mãos hoje da mulher do ministro, Valeska Martins.

Na delação, por exemplo, um email do empresário Marcelo Odebrecht citou Toffoli, quando ele era Advogado-Geral da União (AGU) no segundo governo Lula, sem mencionar pagamentos. A mensagem foi enviada pelo empreiteiro a dois executivos e se referia a hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?”, questionou.

O acordo de leniência tem 22 páginas, nas quais estabelece as condições em que é assinado e define o que cabe a quem o assina. O conteúdo, onde estão as denúncias, está nos anexos.

Como parte do acordo, a construtora abriu ao Ministério Público Federal (MPF) as planilhas da contabilidade paralela, com registros de propinas a dezenas de políticos e funcionários públicos. A decisão de Toffoli abre caminho para a derrubada de investigações e ações civis, penais e eleitorais, no Brasil e no exterior, apoiadas em provas obtidas a partir do acordo.

Na decisão, o ministro destacou que os investigadores da Lava Jato “desrespeitaram o devido processo legal, descumpriram decisões judiciais superiores, subverteram provas, agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência”.

Veja alguns pontos da leniência que acabaram anulados:

Sistema Drousys

Era um sistema de comunicação dos funcionários para gerenciamento das requisições de pagamentos de propinas a políticos repassadas a entregadores. Funcionava no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como o “setor de propinas” da empresa. O sistema listava apelidos, valores e contas bancárias. Os codinomes eram associados a pessoas públicas de várias esferas e estados. A empreiteira mencionou 415 políticos de 26 partidos.

My Web Day

Era um sistema de contabilidade da Odebrecht adaptado para o “setor de propinas”. Nele, planilhas eram criadas e abastecidas para controlar e organizar a operacionalização do pagamento das vantagens a políticos. Ao relacionar nomes de mandatários ligados ao esquema de corrupção da empresa, o sistema servia como prova de envolvimento de políticos com o recebimento de pagamentos indevidos.

Funcionário da Odebrecht por 36 anos, até 2013, Eduardo José Mortani Barbosa relatou em depoimento no acordo de leniência que operacionalizava os pagamentos de propinas a partir de ordens de superiores com codinomes, valores e datas dos depósitos. As prestações de contas da contabilidade paralela, segundo ele, eram feitas por e-mails criptografados.

Propinas no exterior

No acordo de leniência, a Odebrecht também admitiu pagamento de propina no exterior. Os documentos que a empresa entregou ao MPF mostravam pagamento de caixa dois ao então marqueteiro da campanha de Lula, João Santana. Ele e a mulher, Mônica Moura, foram presos e condenados pelas acusações agora anuladas. A partir dos documentos, a Lava Jato fez tratativas com autoridades internacionais, como de EUA e Suíça, para obter mais informações. As negociações ocorreram sem considerar canais formais, segundo decisão do ministro Dias Toffoli, e por isso também foram anuladas.

Recibos de doação ao Instituto Lula

A Odebrecht entregou recibos de doações feitas por sua construtora ao Instituto Luiz Inácio Lula da Silva. A empresa relatou ter transferido R$ 2 milhões à entidade em duas parcelas de R$ 1 milhão cada. Uma em 16 de dezembro de 2013 e outra em 31 de março de 2014.

Documentos da Lava Jato relacionados a ações da Odebrecht em benefício do Instituto Lula
Documentos da Lava Jato relacionados a ações da Odebrecht em benefício do Instituto Lula Foto: Reprodução

Terreno do Instituto Lula

A construtora pagou R$ 12 milhões para comprar o terreno onde seria construído o Instituto Lula, em São Paulo. Seria uma contrapartida pelo favorecimento da Odebrecht em contratos firmados pela Petrobras. A informação aparece nos sistemas da empresa e também em depoimentos de funcionários que teriam presenciado as tratativas, como o do ex-gerente de finanças João Alberto Lovera. Ele contou que, em julho de 2011, acompanhou uma visita de Paulo Melo, ex-executivo da Odebrecht, ao terreno e que Lula, a então primeira-dama Marisa Letícia, e o diretor do instituto, Paulo Okamotto, estavam presentes.

Metrô do Rio de Janeiro

O traçado do Metrô do Rio de Janeiro e a mudança na metodologia das obras executadas tiveram como base pareceres da Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro elaborados a partir de pagamentos indevidos.

Transpetro e Belo Monte

As informações apresentadas pela Odebrecht no acordo apontavam pagamento de propinas para obtenção de contratos para obras da Transpetro e da hidrelétrica de Belo Monte. A família do ex-ministro Edison Lobão teria recebido pagamentos em espécie.

Medidas provisórias

Emílio Odebrecht afirmou em depoimento que procurou Lula, em 2010, para destravar duas medidas provisórias de interesse da construtora junto ao Ministério da Fazenda. O empresário disse que o filho dele, Marcelo, relatou o então chefe da pasta, Guido Mantega, “deu sequência” ao pleito. “Ele (Lula) ouviu e disse: ‘vou falar com o Guido (Mantega, então ministro da Fazenda) para verificar’”, relatou. “A informação que eu tive por parte do Marcelo (Odebrecht) é que o Guido deu sequência.”

A MP 470/09 permitia que empresas exportadoras parcelassem débitos decorrentes do aproveitamento indevido do crédito-prêmio do IPI. A MP 472/09 criava um regime especial para o desenvolvimento de infraestrutura da indústria petrolífera nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Apenas a segunda foi aprovada no Congresso e convertida em lei em junho de 2010.

Sítio de Atibaia

Um dos colaboradores da Odebrecht, Emyr Diniz Costa Júnior entregou uma documentação que comprovaria que ele havia recebido R$ 700 mil, em dezembro de 2010, para custear a compra de materiais e dos serviços da reforma do Sítio em Atibaia. Costa Júnior declarou que recebeu os valores em espécie no escritório de uma obra em que trabalhava na época, no ABC Paulista. O documento foi localizado pela equipe de perícia, pesquisa e análise da Procuradoria Geral da República, nos discos rígidos fornecidos pela Odebrecht ao Ministério Público Federal no âmbito do acordo de leniência.

Documentos da Lava Jato relacionados a ações da Odebrecht em benefício do sítio de Atibaia
Documentos da Lava Jato relacionados a ações da Odebrecht em benefício do sítio de Atibaia Foto: Reprodução

O engenheiro civil Frederico Marcos de Almeida Horta, que aderiu ao acordo de leniência, confirmou que trabalhou nas obras do sítio. Ele afirmou que a Odebrecht não fechou contrato para a execução dos trabalhos, o que era incomum na empresa, e que os funcionários não podiam usar uniforme quando estavam no sítio. As notas fiscais para compra de material, segundo ele, também não podiam ser emitidas em nome da construtora. “Essa obra no sítio não poderia ser vista como uma obra da Odebrecht”, relatou ao Ministério Público em dezembro de 2017. A construtora, segundo o termo de depoimento, teria ficado responsável pela construção de quatro suítes e pelo reparo da piscina.

O acordo e a multa

O acordo de leniência, a delação premiada das empresas, foi fechado em dezembro de 2016. A Odebrecht se comprometeu a pagar uma multa de R$ 3,828 bilhões, em vinte e três parcelas anuais, com correção pela taxa Selic. O valor total alcançaria R$ 8,512 bilhões. A empresa também concordou em implantar um “programa de compliance efetivo” e se sujeitar a um “monitoramento independente”. A decisão de Toffoli não entra no mérito sobre se a multa será anulada.

“As causas que levaram à imprestabilidade dos elementos de prova obtidos a partir do Acordo de Leniência 5020175-34.2017.4.04.7000 celebrado pela Odebrecht são objetivas, não se restringindo ao universo subjetivo do reclamante (Lula), nem se subordinando às ações que estavam em curso contra ele na Justiça Federal do Paraná”, escreve Toffoli, para não deixar dúvida.

O processo sobre o acesso da defesa de Lula à íntegra do acordo da construtora se arrasta no STF há três anos, desde agosto de 2020, no que virou uma queda de braço entre o presidente e a extinta força-tarefa de Curitiba.

Duas versões estão em disputa. A defesa do presidente afirma que, antes de assinar o acordo com a Odebrecht, o Ministério Público Federal (MPF) começou uma negociação informal com autoridades dos Estados Unidos em busca de pistas para fechar o cerco a executivos da construtora.

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