Este é o nível de desemprego mais baixo para o período desde 2014,
que aparece numa conjuntura de atividade econômica relativamente frouxa,
da qual se esperaria fraca demanda por mão de obra e não esse resultado
poderoso. Além disso, a automação, a digitalização e o comércio
eletrônico são grandes desempregadores de pessoal, como pode ser avaliado no setor bancário e no comércio varejista.
É preciso entender as explicações para esse fato, surpreendente apenas nas aparências. O agronegócio vem
avançando como gerador de empregos. No primeiro trimestre de 2023, a
população ocupada no setor somou 28,1 milhões de pessoas, 27% do total
de ocupações. É o melhor resultado para um primeiro trimestre desde o
início da série histórica, iniciada em 2012, segundo dados do Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), em parceria com a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).Certos analistas
de pensamento voltado para o passado continuam propalando que a
agricultura e pecuária têm baixa propensão a contratar pessoal. Não
conseguem enxergar que as áreas de apoio à agropecuária, como
armazenamento, transporte, assistência técnica e serviços pessoais,
criam enorme quantidade de postos de trabalho. A demanda não é apenas de
tratoristas e de operadores de drones, mas também por trabalhadores do
setor de serviços (manicures, encanadores e profissionais da saúde).
Mas é preciso compreender que o mercado de trabalho passa por revolução, pela automação, pelo uso de aplicativos e pela terceirização. É fenômeno que se acentuou com a pandemia; não começou com ela.
Apesar
do recuo do desemprego, a atividade informal continua superior a um
terço da força de trabalho. Foto: Adriana Toffetti/A7 Press
No entanto, mais precário do que o chamado trabalho precarizado é o
desemprego. E este está caindo. Deste ponto de vista – e apenas dele –, a
precarização está diminuindo e não o contrário.
A revolução do trabalho que muitos sindicalistas se recusam a ver é
um problemão para a condução da política econômica e social. Cada vez
mais trabalhadores não recolhem ou recolhem parcialmente a contribuição
para a Previdência Social. Como não dispõem de plano de saúde,
sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS).
São problemas que necessitam de urgente tratamento. O que não se pode
fazer é o que têm pretendido tantos sindicalistas e o ministro do
Trabalho, Luiz Marinho:
tentar enquadrar essas novidades na CLT, como se dos anos 40 até agora
nada de substancial no mundo e nas relações empregatícias tivesse
mudado.
Bilionário se tornou o poder dominante na tecnologia de internet por satélite
Por Adam Satariano, Scott Reinhard, Cade Metz, Sheera Frenkel e Malika Khurana
Jornal Estadão
THE NEW YORK TIMES – Em 17 de março, o general americano Mark A.
Milley e o general Valeri Zaluzhni, líder das Forças Armadas da Ucrânia,
entraram em uma chamada para discutir a invasão da Rússia à Ucrânia. Na
linha segura, os dois líderes militares conversaram sobre sistemas de
defesa aérea, avaliações de campo de batalha em tempo real e
compartilharam informações de inteligência sobre as perdas militares da
Rússia.
O general Zaluzhni falou sobre a Starlink, a tecnologia de internet via satélite feita pela empresa de foguetes de Musk, a SpaceX.
O comandante ucraniano afirmou que as decisões de campo de batalha da
Ucrânia dependiam do uso contínuo da Starlink para comunicações – ele
queria garantir o acesso e discutir como cobrir o custo do serviço.
O general Zaluzhni também perguntou se os Estados Unidos tinham uma
avaliação de Musk, que tem interesses comerciais diversificados e
posição política obscura – os oficiais americanos não deram resposta.
Elon Musk vem se destacando na área dos satélites Foto: Mike Blake / REUTERS
Musk, que lidera SpaceX, Tesla e Twitter,
tornou-se o nome mais dominante no setor aeroespacial ao acumular poder
sobre o campo a internet por satélite. No entanto, diante de pouca
regulamentação e supervisão, além do estilo errático, tem preocupado
cada vez mais militares e líderes políticos em todo o mundo – uma das
coisas que assusta é que o bilionário às vezes exerce sua autoridade de
maneiras imprevisíveis.
Desde 2019, Musk tem enviado foguetes SpaceX ao espaço quase todas as
semanas, que transportam dezenas de satélites do tamanho de um sofá. Os
satélites se comunicam com terminais na Terra, para que possam
transmitir internet de alta velocidade para quase todos os cantos do
planeta. Hoje, mais de 4,5 mil satélites Starlink estão nos céus,
representando mais de 50% de todos os satélites ativos no mundo – e eles
já começaram a mudar a aparência do céu noturno, mesmo antes da
conclusão dos planos de Musk de colocar em órbita até 42 mil satélites.
O poder do sistema de internet, que ajudou a aumentar o valor da
SpaceX para quase US$ 140 bilhões, está apenas começando a causar
impacto.
A Starlink é muitas vezes a única maneira de obter acesso à internet
em zonas de guerra, áreas remotas e lugares atingidos por desastres
naturais. É usado na Ucrânia para coordenar ataques de drones e coleta
de informações de inteligência. Ativistas no Irã e na Turquia procuraram
usar o serviço como uma defesa contra controles governamentais. O
Departamento de Defesa dos EUA é um grande cliente da Starlink, enquanto
outros militares, como no Japão, estão testando a tecnologia.
Mas o controle quase total de Musk sobre a internet por satélite gerou alarmes.
Personalidade inflamável
Enquanto Musk, 52, é aclamado como um inovador genial, ele tem poder
para decidir desligar o acesso à internet Starlink para um cliente ou
país inteiro – e ele tem a capacidade de alavancar informações sensíveis
que o serviço coleta. Tais preocupações têm sido intensificadas porque
nenhuma empresa ou governo se aproximou do que ele construiu.
Na Ucrânia, alguns medos se tornaram realidade. Musk restringiu o
acesso à Starlink várias vezes durante a guerra. Em certo momento, ele
negou o pedido do exército ucraniano para ligar a Starlink perto da
Crimeia, o território controlado pela Rússia, afetando a estratégia do
campo de batalha. No ano passado, ele sugeriu publicamente um “plano de
paz” para a guerra que parecia alinhado com os interesses russos.
Em certos momentos, Musk ostentou abertamente as capacidades da Starlink. “Entre Tesla, Starlink e Twitter, eu posso ter mais dados econômicos globais em tempo real do que qualquer um”, ele tuitou em abril.
Musk não respondeu aos pedidos de comentários. A SpaceX se recusou a comentar.
Preocupados com a excessiva dependência da tecnologia de Musk, os
oficiais ucranianos têm conversado com outros provedores de internet via
satélite, embora tenham reconhecido que nenhum rivaliza com o alcance
da Starlink.
“Starlink é de fato o sangue de toda a nossa infraestrutura de
comunicação agora”, disse Mykhailo Fedorov, ministro digital da Ucrânia,
em uma entrevista.
Pelo menos nove países – incluindo na Europa e no Oriente Médio –
também falaram sobre a Starlink com funcionários americanos nos últimos
18 meses, com alguns questionando o poder de Musk sobre a tecnologia.
Poucos países falarão publicamente sobre suas preocupações, por medo de
alienar Musk, disseram oficiais de inteligência e cibersegurança
informados sobre as conversas.
As autoridades americanas têm falado pouco publicamente sobre a
Starlink, pois equilibram as prioridades domésticas e geopolíticas
relacionadas a Musk, que criticou o presidente Biden, mas cuja
tecnologia é inevitável.
O governo federal é um dos maiores clientes da SpaceX, usando seus foguetes para missões da NASA e
lançando satélites de vigilância militar. Oficiais de alto escalão do
Pentágono tentaram mediar questões envolvendo a Starlink,
particularmente na Ucrânia. O Departamento de Defesa confirmou que
possui contratos com a Starlink, mas se recusou a elaborar, citando “a
natureza crítica desses sistemas”.
Outros governos estão cautelosos. Taiwan, que tem uma infraestrutura
de internet que pode ser vulnerável em caso de uma invasão chinesa,
reluta em usar o serviço em parte por causa dos laços comerciais de Musk
com a China, disseram funcionários taiwaneses e americanos.
A China tem suas próprias preocupações. Musk disse no ano passado que
Pequim buscava garantias de que ele não ligaria a Starlink dentro do
país, onde a internet é controlada e censurada pelo estado. Em 2020, a
China se registrou em um órgão internacional para lançar 13 mil
satélites de internet próprios.
A União Europeia, em parte motivada por desconfianças sobre a
Starlink e Musk, também destinou US$ 2,6 bilhões, no ano passado para
construir uma constelação de satélites para uso civil e militar.
“Não se trata apenas de uma empresa, mas de uma pessoa”, disse Dmitri
Alperovitch, um especialista em cibersegurança que cofundou a think
tank Silverado Policy Accelerator e aconselhou governos sobre internet
via satélite. “Você está completamente à mercê de seus caprichos e
desejos.”
Alcançando os céus
Martin Sweeting, engenheiro britânico que fundou a empresa de design e
fabricação de satélites Surrey Satellite Technology, foi incentivado
por um associado de negócios em 2001 a se encontrar com um “cavalheiro
que queria colocar uma estufa em Marte”. Era Musk.
A prioridade é restabelecer a boa governança no
setor. Sem ela, o risco de as distorções aumentarem é grande. A
desorganização não é só dentro do Executivo, é também do governo com o
Congresso. O Legislativo vem avançando em áreas fora de sua competência,
buscando, inclusive, anular ou substituir decisões técnicas tomadas
pela Aneel.
Os jabutis incluídos na privatização da Eletrobras mostraram a força
dos lobbies. Até usinas termoelétricas sem sequer combustível disponível
foram incluídas, atropelando o planejamento setorial. A pressão pelos
gasodutos é de tal ordem que vem provocando atritos entre o MME e a
Petrobras em torno da política de reinjeção do gás da empresa, com base
na duvidosa tese da necessidade de internalização do gás pelo País.
O governo deveria priorizar mudanças pela via normativa, escapando da
intervenção legislativa. Não há razão para apresentar um projeto de lei
inteiramente novo, abrindo espaço para os grupos de interesse ampliarem
seus poderes. Já há consenso em torno do PL 414 para modernização do
setor, tema em discussão desde 2016.
A melhoria na precificação dos preços de energia também é urgente
para refletir o real custo dos benefícios concedidos à geração
distribuída. Por mais louvável que seja a inclusão de renováveis na
matriz, já passou da hora de elas remunerarem o setor pelo serviço que
recebem dos demais segmentos.
Como eólica e solar são fontes intermitentes, a segurança do sistema
depende do uso de fontes firmes, em uma espécie de seguro, que hoje não é
remunerado. Incentivos de qualquer tipo para geração distribuída não
fazem mais qualquer sentido.
Usina hidrelétrica de Furnas; governo deve evitar interferir no mercado para reduzir contas de luz Foto: JF DIORIO / ESTADÃO
Para a redução das contas de luz, intervenções em preços e manobras
regulatórias devem ser evitadas. Uma revisão dos subsídios, encargos e
tributos que incidem sobre energia é o caminho.
E ainda temos uma consulta pública para a renovação das concessões de
distribuidoras de energia. Novamente, é preciso atenção. O MME sugere o
aporte do excedente econômico das distribuidoras como condicionante
para a prorrogação dos contratos. Só que, pela regra tarifária, não
existe excedente porque os ganhos de eficiência já são incorporados a
cada revisão tarifária. Lembrando que é da Aneel, e não do ministério, a
competência para regular o tema.
A esperança é a de que, nessa rodada, incentivos e riscos sejam mais
bem alocados e definidos tecnicamente. Muita calma nessa hora.
Reforma tributária: aumento da tributação deve levar à corrida para doações em vida e sucessão nas empresas familiares
Novo regime propõe a elevação de 4% para 8% imposto sobre doações e
heranças, impactando imóveis, quotas societárias, valores em conta
corrente e em espécie, entre outros bens
Novo regime propõe a elevação de 4% para 8% imposto sobre doações e
heranças, impactando imóveis, quotas societárias, valores em conta
corrente e em espécie, entre outros bens. Crédito: Divulgação/Unsplash
As negociações em torno da reforma tributária no Brasil acenderam o
sinal amarelo para empresas familiares, que somam cerca de 90% dos CNPJs
do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE.) As mudanças em discussão no Congresso Nacional prevêem a
progressividade da tributação sobre heranças e doações. Ou seja, quanto
maior o valor recebido, maior será a alíquota aplicada, chegando ao
limite de 8%. O impacto alcançará não apenas os bens imóveis, mas também
quotas societárias e valores disponíveis em contas bancárias ou em
espécie, entre outros tipos de patrimônio.
Menos de um quarto das empresas brasileiras têm um plano de sucessão
estruturado, o que significa que a maioria das famílias não está
preparada para lidar com a transição de geração e a sucessão
patrimonial, alerta a advogada Mariana Domingues, especialista em
direito empresarial e societário.
“É fundamental que as famílias empresárias comecem a se planejar e a
estruturar o processo de sucessão para evitar surpresas desagradáveis no
futuro”, diz. Dentre os setores mais impactados por essa mudança estão a
indústria e o agronegócio, que juntos representam quase metade do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – 23,9% e 24,8% respectivamente.
O mesmo alerta vale para pessoas físicas que têm bens a serem doados
ou herdados. “A proposta de reforma tributária, já aprovada na Câmara
Federal, traz importantes mudanças na taxação de heranças e doações, com
o objetivo de torná-la mais progressiva, pesando mais no bolso de quem
recebe valores maiores. O planejamento sucessório, a assessoria jurídica
e a antecipação de doações são estratégias importantes para minimizar
os impactos. Já percebemos um aumento na antecipação das doações em
vida, aproveitando as atuais alíquotas mais baixas.”
Como fica a tributação de heranças em cada estado após a reforma
A proposta de reforma permite cobrança maior sobre heranças
provenientes do exterior, buscando combater possíveis evasões fiscais,
além de prever a cobrança do imposto no domicílio onde a pessoa faleceu,
o que pode gerar diferenças na tributação entre estados
Uma das questões que surge é como ficarão as alíquotas em cada estado
brasileiro, já que atualmente a alíquota máxima do Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) já é de 8%. Nem todos os
estados utilizam esse percentual como padrão, e a proposta de reforma
busca unificar as regras para tornar a tributação mais justa e
progressiva.
A especialista observa que a variação nas alíquotas entre os estados
pode levar a diferenças significativas no valor a ser pago em caso de
heranças e doações. Alguns estados podem adotar uma alíquota mais
próxima dos 8%, enquanto outros podem optar por um valor menor,
mantendo-se abaixo desse limite.
“Ainda que a reforma seja aprovada no âmbito federal, é importante
ressaltar que a decisão final sobre as alíquotas do ITCMD caberá a cada
estado, o que torna essencial acompanhar os desdobramentos e as decisões
tomadas em cada região do país.”
Isenção nas doações para instituições sem fins lucrativos
Uma das novidades em estudo é a isenção do ITCMD sobre doações para
instituições sem fins lucrativos. A proposta visa incentivar o apoio a
projetos sociais, beneficiando tanto doadores quanto as instituições
contempladas.
Caso aprovada, essa isenção permitirá que pessoas físicas e jurídicas
realizem doações a organizações de cunho social, cultural, educacional
ou de saúde, sem a incidência do imposto.
“A medida pode impulsionar o terceiro setor, permitindo que
instituições sem fins lucrativos recebam recursos adicionais para
desenvolverem seus projetos e programas em prol de comunidades e causas
beneficentes.”
Aline Zero Soares, PhD em educação pela University
of California, Los Angeles – UCLA e mestre em gestão e políticas
públicas pela Fundação Getulio Vargas – FGV. Integra a carreira de
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e a equipe do
Programa Escola em Tempo Integral do Ministério da Educação
A agenda da educação integral tem estado sob holofotes no debate
público recente, aparecendo como uma das políticas educacionais
prioritárias do governo federal. Nesta semana, a sanção presidencial da
lei que institui o Programa Escola em Tempo Integral foi comemorada por
atores diversos da área, tendo em vista que pode significar a retomada
do papel federal em fomentar e apoiar a expansão da jornada escolar e a
formação integral dos estudantes. Educadores, especialistas e gestores
públicos têm considerado esta uma das principais apostas para que o país
avance na melhoria da qualidade da educação básica, visando ao
aprimoramento dos resultados acadêmicos e sociais da educação.
Todavia, nem sempre o sentido de educação integral é tratado de forma
consensual, seja no debate ou na forma de implementação das políticas
públicas. Além disso, enquanto é comum se ter mais clareza sobre os
resultados de performance acadêmica – histórica e mundialmente medidos
por índices de desempenho em disciplinas como línguas, matemática e
ciências da natureza -, as águas ficam mais turvas quando se tenta
aferir os resultados sociais da educação, sejam eles
relacionados ao indivíduo, à escola e à comunidade, ou à sociedade. E
quando se consideram os dois temas juntos, a questão fica ainda mais
curiosa: afinal, o que se quer dizer com educação integral e quais
seriam os resultados sociais associados a esta perspectiva educacional?
O tema da educação integral na educação básica remonta a um debate de
mais de um século na agenda educacional. Introduzido pelo Manifesto dos
Pioneiros da Educação e mais diretamente pelo educador Anísio Teixeira,
que defendia a importância da educação para a formação dos estudantes
em suas diversas dimensões (tais como a cognitiva, a física, a social, a
cultural e a artística) e ressaltava que a construção de uma sociedade
democrática não seria possível sem que a educação exercesse o seu papel
de fomentar valores e práticas democráticas.
É uma agenda que foi implementada de forma mais pontual do que
massiva ao longo do século XX e que foi influenciada e beneficiada por
educadores brasileiros reconhecidos como Paulo Freire, Maria Nilda
Mascelani e Darcy Ribeiro. Em décadas recentes, a agenda foi resgatada
por políticas públicas voltadas a este propósito, dentre as quais se
destaca o programa federal Mais Educação, que, entre 2007 e 2016,
construiu importante legado de expansão do tempo na perspectiva da
educação integral no Brasil. Estados e municípios também fizeram
esforços recentes buscando manter ou expandir a implementação da agenda,
e a pesquisa acadêmica cresceu de maneira exponencial sobre o tema nas
últimas duas décadas.
Com base nesse percurso histórico, construído a tantas mãos e
brevemente descrito acima, a compreensão de educação integral aqui
considerada com potencial para efetivamente melhorar a qualidade da
educação básica pública brasileira refere-se à expansão da jornada
escolar não apenas para que se continue a trabalhar os mesmos conteúdos
nas mesmas abordagens pedagógicas, mas, sim, que vislumbre os sujeitos
em todas as suas dimensões e garanta a sua preparação para a vida e para
a cidadania. Trata-se de expandir as oportunidades de aprendizagens de
estudantes para que também se desenvolvam socialmente, emocionalmente,
fisicamente, culturalmente e politicamente enquanto indivíduos e
cidadãos pertencentes a contextos locais e globais.
A educação verdadeiramente integral preocupa-se com relações mais
humanizadas entre estudantes e educadores, procura conectar os conteúdos
e as experiências educacionais na escola com a vida da pessoa,
pressupõe que haja exercício da democracia na prática na escola – e não
apenas ouçam falar dela -, fomenta a sua autonomia e o seu protagonismo
em seus processos de aprendizagem, e valoriza os potenciais educativos
do território e as características culturais e participação da
comunidade local. Ademais, ao não ignorar o estudante em suas múltiplas
dimensões, a escola certamente precisa contar com políticas e ações
intersetoriais que deem suporte a seu atendimento global, tais como
saúde, cultura e assistência social. Apesar dos desafios envolvidos na
implementação de tal perspectiva, experiências concretas brasileiras vêm
mostrando que os resultados acadêmicos e sociais valem o investimento
necessário.
Os resultados acadêmicos e sociais da educação integral são também palpáveis. Em pesquisa recente
que desenvolvi por meio do estudo qualitativo aprofundado de casos de
escolas brasileiras internacionalmente reconhecidas como inovadoras,
democráticas e voltadas à formação plena dos sujeitos, foi possível
identificar que a melhoria dos resultados de aprendizagem acadêmica nas
experiências analisadas estava diretamente relacionada com a abordagem
de educação integral adotada pelas escolas investigadas.
De fato, isso está em sintonia com a literatura nacional e
internacional que vem desenvolvendo um consenso quanto à relação
positiva entre a performance acadêmica e fatores como a saúde mental, o
desenvolvimento socioemocional, o bem-estar, e a importância de o
estudante relacionar-se com o conteúdo de modo que faça sentido para sua
vida, sua cultura e seus interesses.
Pesquisas em áreas diversas, como a neurociência, a psicologia e a
pedagogia indicam que o processo de aprendizagem se beneficia e
necessariamente precisa dessas condições para ocorrer. Considerando-se
as inúmeras e multidimensionais barreiras (sociais, econômicas, baseadas
em discriminações raciais e outras) que as crianças e jovens
brasileiros da escola pública enfrentam em suas rotinas, faz-se ainda
mais urgente que a escola não ignore essas outras dimensões se, de fato,
quisermos melhorar os indicadores de aprendizagem. Em outros termos,
sem este olhar integral, dificilmente alcançaremos as taxas de IDEB que
gostaríamos ou reduziremos a evasão como almejamos.
Mas, os ganhos da educação integral vão para muito além dos acadêmicos, pois envolvem uma série de resultados sociais associados
à implementação dessa perspectiva. Tais resultados sociais podem ser
compreendidos como ganhos em termos de saúde, bem-estar, redução da
violência, formação para a autonomia e o alcance de direitos de
cidadania, engajamento político, social e redução das desigualdades de
oportunidades educacionais e sociais.
Nas experiências analisadas no estudo citado,
por exemplo, os índices de violência dentro e fora da escola caíram
significativamente, alcançando inclusive uma comunidade inteira ao redor
de uma das escolas, dada a potencialidade da ampliação de coesão social
relacionada à disseminação de valores construídos de forma muito
próxima entre a escola, as famílias e os principais representantes da
comunidade local. Outro exemplo de resultado social se refere à criação
de uma cultura escolar empática e antidiscriminatória que formou
estudantes carregados de tais características a ponto de desenvolverem
projetos relacionados a esses valores dentro e fora da escola ou de
recuperarem o vínculo com a educação e o gosto pelo conhecimento depois
de sofrerem discriminação em suas escolas anteriores.
A implementação da expansão da jornada escolar na perspectiva da
educação integral não se trata de tarefa simples ou sem custos
financeiros, mas trata-se de caminho necessário para que consigamos
efetivamente melhorar a qualidade da escola básica pública brasileira,
bem como seus resultados acadêmicos e sociais. Que políticas públicas
como o Programa Escola em Tempo Integral possam ser retomadas e
contribuir com esse desafio junto a estados, municípios, Distrito
Federal e toda a sociedade brasileira.
*Esse texto é fruto de parceria entre o Diálogos Públicos, a ANESP e o Gestão, Política & Sociedade.
Dentre elas, a de maior impacto para as empresas é a rápida adaptabilidade em relação às mudanças do mercado
Alinhada à transformação digital, a cultura ágil é uma abordagem
empresarial que visa a aprimorar agilidade, flexibilidade e eficiência
nos processos de negócio, tornando os colaboradores e as organizações
mais adaptáveis às mudanças do mercado. Por sua vez, para que a
transformação digital aconteça efetivamente, precisa haver uma mudança
no funcionamento das organizações e na maneira como pensam e planejam
suas ações.
“Antes da cultura ágil, é preciso ter transformação digital. Ambas
não são possíveis sem que haja interação entre os indivíduos e os
respectivos processos e ferramentas utilizadas. Também é essencial ter
soluções tecnológicas, que permitam a colaboração entre clientes,
parceiros e stakeholders, além de um planejamento concreto de ações, o
qual será periodicamente visitado para checagem de resposta às
mudanças.”, explica Hermínio Gonçalves, CEO da SoftExpert Brasil,
empresa que fornece soluções de transformação digital e gestão a nível
global.
Feito isso, a cultura ágil possibilita diversas vantagens para as organizações ao longo de toda a cadeia:
Interações rápidas com base no feedback do cliente;
Experiências digitais para clientes e mercado;
Adaptação rápida às mudanças do mercado;
Transparência e responsabilidade;
Melhoria contínua e flexibilidade;
Redução de riscos e controle de custos;
Melhoria na comunicação e colaboração;
Aumento da confiança dos membros da equipe.
“Outro ponto de atenção é que a inovação precisa ser levada a sério
pelas empresas e gestores que querem ter uma jornada efetiva de
transformação digital, uma vez que mudar a cultura requer adaptabilidade
de todos os envolvidos, sendo necessário empregar os processos e dar
lugar para a inteligência colaborativa”, ressalta o CEO. A cultura ágil,
por sua vez, revoluciona os processos e prepara as empresas para as
mudanças do mercado. Consequentemente, uma abordagem ágil melhora o
tempo de reação da empresa a mudanças e minimiza os possíveis impactos
negativos.
O executivo da SoftExpert ainda sinaliza que algumas empresas não
conseguem lidar com a transformação digital de forma eficiente. Isso
porque não considera etapas e pilares desta jornada. Sendo essencial que
as novas práticas sejam compatíveis com a dinâmica da empresa e que as
equipes estejam devidamente preparadas. O engajamento de colaboradores e
gestores é um dos pilares de sustentação da jornada de transformação
digital nas organizações, assim como a adoção de indicadores de
eficiência e eficácia, gestão das tarefas, assim como adoção de práticas
de melhoria contínua.
CARACTERÍSTICAS DA VALEON
Perseverança
Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em
razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer
determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a
resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é
necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que
permitem seguir perseverante.
Comunicação
Comunicação é a transferência de informação e significado de uma
pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e
compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros
por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o
ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar
conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela
através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e
políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem
positiva junto a seus públicos.
Autocuidado
Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações
que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade
de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância
com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada
pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.
Autonomia
Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em
gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias
escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida
por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é
incompatível com elas.
A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando
agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem
esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de
gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.
Inovação
Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades,
exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a
inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando
que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a
curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova
competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma
importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.
Busca por Conhecimento Tecnológico
A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender
aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de
todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia,
uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.
Capacidade de Análise
Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência
que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos
de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um
mundo com abundância de informações no qual o discernimento,
seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade
de analisar ganha importância ainda maior.
Resiliência
É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões
(inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado
emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após
momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em
líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a
capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu baixar a Selic, taxa
básica de juros da economia brasileira, a 13,25% ao ano. A decisão, dada
nesta quarta-feira, 2, vem maior do que a projeção do mercado
financeiro e desejo de longa data do governo Lula (PT), crítico do alto
patamar de juros no país. Mas o que isso representa?
Embora parte dos analistas do mercado financeiro parabenizem a
política de Roberto Campos Neto, diretor do Banco Central, vale alertar
que o cenário de queda da inflação, com redução do ritmo de aumento dos
preços, não é necessariamente fruto da matemática mais conservadora da
instituição monetária.
“No balanço geral, a Selic elevada
foi mais importante para desacelerar a economia via restrição de crédito
do que para atacar as causas da inflação”, avalia André Roncaglia,
economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Marco Rocha, economista e professor do Instituto de Economia da
Unicamp, entende que a política monetária foi bastante errática até
então. Um levantamento do MoneYou mostra que o Brasil ainda lidera em
taxa de juros de altas no mundo, ficando atrás da Argentina.
“Passamos por um afrouxamento demasiado da política monetária em
2020, que teve efeito sob a volatilidade da taxa de câmbio, e isso foi
seguido de um dos maiores apertos monetários na história econômica do
Brasil, o que gerou uma taxa de juros para conter essa volatilidade
cambial extremamente elevada, e que se prolongou por muito tempo numa
espécie de cabo de guerra para provar sua independência em relação ao
governo”, explica o professor.
O que esperar dos juros até o fim do ano?
A expectativa para a taxa Selic no fim deste ano ficou estável no
Boletim Focus. A mediana para os juros básicos no fim de 2023 continuou
em 12%, e em 9,50% para o ano de 2024. Há um mês, as estimativas eram de
12,50% e 10,00%, nessa ordem.
“O que a gente vai ter até o final do ano é uma redução moderada, que
ainda deve manter a taxa de juros brasileira como uma das mais altas do
mundo. O efeito disso vai ser muito pequeno na economia: vai facilitar
para o consumidor em geral, vai facilitar a reciclagem das dívidas, para
as empresas também, e isso é bem salutar, dado que tivemos aumento de
endividamento com uma taxa de juros elevada, então poder reciclar essas
dívidas, rolar essas dívidas a um custo menor vai ser importante tanto
para as famílias quanto para as empresas”, defende Rocha.
Ainda em 2022, quando a taxa de juros foi elevada pela primeira vez
aos 13,75% a.a., a Associação Nacional dos Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade (Anefac) alertou que a medida encareceria o
acesso a crédito e as prestações aos consumidores: o juro médio para as
pessoas físicas passaria de 117,23% para 118,21% ao ano. Uma elevação
também era esperada para pessoas jurídicas.
Roncaglia acrescenta também o impacto nas expectativas empresariais.
“Uma vez que o titânico spread bancário [diferença entre juros em
empréstimos e em investimentos] no Brasil torna irrelevante o efeito
desta queda sobre o crédito ao consumo de curto prazo”, afirma.
Todavia, finaliza o professor, os contratos mais longos que financiam
os investimentos e mesmo o mercado de crédito corporativo tende a se
beneficiar deste alívio, conquanto pequeno.
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta quarta-feira, 2, Walter
Delgatti Neto, hacker do ex-juiz Sérgio Moro e de ex-integrantes da
Operação Lava Jato, entre eles o ex-deputado Deltan Dallagnol. A
corporação ainda faz buscas em quatro endereços ligados à deputada
federal Carla Zambelli.
Os dois são os principais alvos da Operação 3FA, que investiga a
suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e
inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de
Mandados de Prisão (BNMP).
Segundo a PF, a ofensiva investiga delitos que ocorreram entre 4 e 6
de janeiro, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ 11 alvarás de
soltura de presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso
contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Em depoimento, o hacker implicou Zambelli diretamente pela invasão do
sistema do CNJ e inserção da ordem de prisão fraudulenta contra Moraes.
Segundo a PF, Walter Delgatti disse que recebeu pagamentos como
“contraprestação para ficar à disposição da parlamentar”. Ele ainda
citou o ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse ter encontrado o ex-chefe do
Executivo no Palácio do Alvorada, “tendo o mesmo lhe perguntado se o
declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a urna
eletrônica”. Segundo o hacker, “isso não foi adiante, pois o acesso que
foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal”.
A ofensiva foi aberta por ordem do próprio Alexandre de Moraes, que
mandou a PF apreender dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e
outros objetos) em valores superiores a R$ 10 mil, além de passaportes,
computadores, celulares e armas dos investigados. O despacho dá aval
para os investigadores vasculharem inclusive “cômodos secretos” que
eventualmente encontrassem nos endereços vasculhados.
O ministro ainda determinou a quebra do sigilo bancário dos
investigados. Outro alvo da operação é Thiago Eliezer Martins Santos,
que também foi investigado na Operação Spoofing, junto de Walter
Delgatti, o “Vermelho”.
Ao todo, os investigadores cumprem cinco ordens de busca e apreensão –
duas em São Paulo e três no Distrito Federal. São apurados supostos
crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
A PF indica que as inserções se deram após a invasão criminosa aos
sistemas do CNJ, com o uso de credenciais falsas obtidas ilicitamente.
O inquérito em questão foi aberto perante a Justiça Federal para
apurar a invasão ao sistema do CNJ, mas acabou remetido ao STF após
“indícios de possível envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro” –
no caso, a deputada Carla Zambelli.
O nome da Operação, “3FA”, faz referência à autenticação de dois
fatores, a exigência de duas formas de identificação para acessar
recursos e dados.
Após oito anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para esta
quarta-feira (2/8) a retomada de um julgamento que discute a
descriminalização do porte de drogas para consumo.
A ação não trata da venda de drogas, que continuará ilegal qualquer que seja o resultado.
O crime de porte para consumo já não é punido com pena de prisão no país desde 2006, com a sanção da atual Lei de Drogas.
Caso a descriminalização seja aprovada no STF, a pessoa que portar
entorpecentes para consumo próprio não poderá mais ser submetida a
outras punições atualmente em vigor, como prestação de serviços à
comunidade ou comparecimento a programa ou curso educativo, nem terá um
registro na sua ficha criminal.
Apesar disso, estudiosos do tema afirmam que esse julgamento pode ter
o impacto de reduzir o número de pessoas presas no país, caso a decisão
do STF permita libertar pessoas que estariam, ao seu ver, erroneamente
encarceradas por tráfico de drogas.
Para que isso ocorra, dizem, seria necessário que a Corte
estabelecesse parâmetros objetivos para diferenciar qual a quantidade de
drogas deve ser considerada voltada para consumo e qual deve ser
enquadrada como tráfico.
Defensores da medida, como a associação que representa os peritos da
Polícia Federal (APCF) e integrantes da Procuradoria-Geral da República,
afirmam que a falta de parâmetros objetivos para que policiais,
promotores e juízes diferenciem o consumo da venda faz com que muitas
pessoas detidas no país com pequenas quantidades de maconha ou cocaína,
por exemplo, acabem presas pelo crime de tráfico.
No entanto, há organizações que estão participando do processo que
duvidam deste efeito porque discordam da avaliação de que pessoas
estejam sendo presas por tráfico equivocadamente.
Quando o julgamento foi iniciado, em 2015, três ministros decidiram a
favor da descriminalização do porte para consumo, mas apenas Gilmar
Mendes votou pela liberação para qualquer tipo de droga, enquanto Luís
Roberto Barroso e Edson Fachin votaram para restringir a medida à
maconha, por considerarem uma droga mais leve.
Barroso foi o único que, até o momento, defendeu a fixação de
parâmetros de quantidade. Na sua visão, pode ser considerado usuário
quem estiver com até 25 gramas de maconha ou que cultivar até seis
plantas cannabis fêmeas para consumo próprio.
O ministro ressaltou, porém, que essas quantidades são uma referência
básica, podendo o juiz considerar o indivíduo como usuário, mesmo que
esteja com quantidade maior, ou ainda enquadrá-lo como traficante, mesmo
que tenha quantidade menor, desde que outros elementos corroborem o
crime de tráfico, como apreensão de armas ou balança para pesar drogas,
por exemplo.
‘Não haverá soltura automática de presos’
Há mais de 180 mil pessoas presas hoje no país por tráfico de drogas.
A quantidade de presos que seria eventualmente beneficiada por uma
decisão neste julgamento dependerá de a maioria do STF concordar com a
fixação de parâmetros que diferenciem consumo e tráfico e de quais
seriam os parâmetros adotados.
No entanto, nenhuma decisão do Supremo levaria a uma liberação
automática de presos, explica a subprocuradora-geral da República Luiza
Frischeisen à BBC News Brasil.
Cada pessoa detida pelo crime de tráfico de drogas e potencialmente
impactada pelo julgamento, ressalta, teria que apresentar um recurso à
Justiça solicitando a revisão de sua pena.
“Se o Supremo decidir que até determinada quantidade não é tráfico de
drogas, o que vai acontecer é que, nos casos em que houver pequena
quantidade (de droga apreendida), as defesas vão arguir que aquilo não
seria crime. E isso vai ser analisado caso a caso. Então, será um
impacto de médio prazo”, afirma.
“O efeito mais imediato é que pessoas com pequenas quantidades não
seriam mais presas e processadas, se não estiverem presentes outros
elementos que denotem tráfico, como por exemplo, anotações de
contabilidade (da venda de drogas), a balança (usada para pesar a droga
vendida), o dinheiro, a arma, a munição”, acrescenta.
Uma fixação de parâmetros nas condições propostas por Barroso é
apoiada também pela associação que representa os peritos da Polícia
Federal (APCF).
A instituição não se posiciona a favor ou contra a descriminalização
do porte para consumo, mas defende que, independentemente do que for
decidido nesse ponto, o Supremo estabeleça parâmetros para diferenciar o
usuário do traficante.
Segundo Davi Ory, advogado que representa a associação, a APCF avalia
que “o principal fator para o aumento do encarceramento foi a adoção de
critérios subjetivos demasiadamente amplos e que transferiram à
estrutura do Poder Judiciário o ônus de definição de quem seria usuário e
traficante tendo por base ‘as circunstâncias sociais e pessoais’, bem
como o ‘local e condições em que se desenvolveu a ação’”.
Isso, ressalta, estaria gerando prisões indevidas, principalmente, de pessoas negras e pobres.
Já o advogado Cid Vieira, que representa a Federação Amor Exigente no
julgamento do STF, questiona o impacto do julgamento na redução dos
presos.
A organização, que atua como apoio e orientação aos familiares de
dependentes químicos, foi uma das instituições aceitas pelo Supremo para
atuar no julgamento como amicus curiae (colaborador da Justiça que detém algum interesse social no caso mas não está vinculado diretamente ao resultado).
“Eu não tenho notícia que dependente químico esteja preso. O artigo
28 da atual legislação de drogas não prevê a prisão daqueles que sejam
surpreendidos com posse de droga para consumo pessoal. É uma colocação
que não existe. Não é sob esse aspecto que as prisões vão estar mais
lotadas ou não”, afirmou Vieira, que conversou em maio com a BBC News
Brasil.
Presos por tráfico são mais de 25% da população carcerária
Estudos indicam, no entanto, que a atual Lei de Drogas, sancionada em
2006 por Lula, contribuiu para o aumento do número de pessoas presas
por crimes relacionados ao tráfico de drogas.
Essa lei acabou com a pena de prisão para usuários e aumentou a
punição para traficantes. A expectativa era que isso reduziria o número
de prisões, mas o efeito foi o oposto, afirma o advogado Pierpaolo
Bottini, que era secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da
Justiça naquela época.
“A impressão que se tinha é que isso ia desencarcerar, porque as
pessoas que estavam presas por uso iam sair (da prisão). Mas acabou
aumentando o encarceramento porque justamente as autoridades policiais
acabaram jogando tudo para o tráfico, então acabou tendo efeito
absolutamente inverso”, disse em entrevista à BBC News Brasil em maio.
Segundo dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais, órgão do
Ministério da Justiça e Segurança Pública, quase 28% da população
carcerária no país está presa por crimes previstos na Lei de Drogas.
No caso das prisões estaduais, por exemplo, onde havia um total de
659.351 pessoas detidas provisoriamente ou condenadas no primeiro
semestres de 2022 (dado mais recente), 182.958 estavam presas por esse
tipo de delito, 27,75% do total.
Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
que analisou uma amostra dos processos julgados na primeira instância
judicial de todo o país no primeiro semestre de 2019, estimou que 58,7%
dos réus que respondiam por tráfico de maconha portavam até 150 gramas. E
apenas 11,1% levavam mais de dois quilos da droga.
Uma análise semelhante dos réus em processos por tráfico de cocaína
identificou que 62,3% dos processos se referem a 100 gramas ou menos,
enquanto 6,8% dos casos tratavam de apreensões de mais de um quilo.
Limite de 25 gramas poderia impactar 27% dos condenados por tráfico de maconha, estima Ipea
Esse mesmo estudo estimou quantas pessoas condenadas por tráfico de
maconha ou cocaína poderiam ter sua pena revista caso fossem fixadas
quantidades máximas de porte para consumo dessas drogas.
Foram analisados processos de 5.121 réus por tráfico de drogas
julgados na primeira instância judicial no primeiro semestre de 2019,
uma amostra representativa do total de pessoas presas por esse crime no
país.
A conclusão do estudo do Ipea foi que se o parâmetro proposto por
Barroso (25 gramas de maconha) fosse adotado, por exemplo, 27% dos
condenados por tráfico de maconha poderiam ter sua pena revista.
Se fosse adotada uma quantidade de 40 gramas de limite para consumo, 33% dos condenados poderiam ser impactados.
Por outro lado, se o parâmetro fosse fixado em 100 gramas, quase metade (48% dos condenados) poderia ter a revisão de pena.
Os cenários testados pelo Ipea levaram em conta três opções de
parâmetros propostos em uma nota técnica do Instituto Igarapé, de 2015,
que analisou pesquisas sobre uso de drogas no Brasil e experiências
internacionais de fixação de quantidades para diferenciar tráfico e
consumo.
No caso da cocaína, 31% dos condenados por tráficos poderiam ter sua
pena revista caso o STF fixasse um parâmetro de 10 gramas para consumo.
Se a quantidade limite fosse de 15 gramas, o percentual subiria para
37%.
“Os cenários acima constituem um exercício interpretativo para
projetar o alcance de referidos parâmetros exclusivamente aplicados à
quantidade de drogas, mas somente a análise dos casos concretos
permitiria a reclassificação da conduta como consumo pessoal”, ressalta o
estudo.
As conclusões desse estudo, no entanto, não permitem calcular o
potencial de presos que poderiam ser soltos caso o STF adote parâmetros
para diferenciar tráfico e consumo, pois nem todos os réus processados
por tráfico de drogas são condenados a regime fechado ou semiaberto,
explicou a BBC News Brasil a coordenadora da pesquisa, Milena Karla
Soares.
“Estamos fazendo um novo estudo para analisar especificamente qual seria o impacto no sistema prisional”, disse.
Soares ressalta que um elemento que dificulta essas análises é a
falta de padronização do registro das quantidades apreendidas nos
processos criminais.
Para identificar as quantidades apreendida com cada réu, a equipe do
Ipea pesquisou diversos documentos processuais, como laudos periciais,
denúncias do Ministério Pública e as sentenças dos juízes. Foi
selecionada, então, “a melhor informação disponível” nesses vários
documentos, em cada caso, para realizar o estudo.
Por isso, uma das recomendações da pesquisa é “o estabelecimento de
um protocolo nacional para padronização das informações de natureza e de
quantidade de drogas nos processos criminais”.
Entenda melhor a ação em julgamento
O STF está analisando um Recurso Extraordinário com repercussão geral
(cuja decisão valerá para todos os casos semelhantes) que questiona se o
artigo 28 da Lei de Drogas é inconstitucional.
Esse artigo prevê que é crime adquirir, guardar ou transportar droga
para consumo pessoal, assim como cultivar plantas com essa finalidade.
Não há previsão de prisão para esse crime. As penas previstas nesse
caso são “advertência sobre os efeitos das drogas”, “prestação de
serviços à comunidade” e/ou “medida educativa de comparecimento a
programa ou curso educativo”.
O recurso foi movido pela Defensoria Pública de São Paulo em favor de
um réu pego com 3 gramas de maconha na prisão. Pela posse da droga, ele
foi condenado a prestar serviços comunitários. A Defensoria argumenta
que a lei fere o direito à liberdade, à privacidade, e à autolesão
(direito do indivíduo de tomar atitudes que prejudiquem apenas a si
mesmo), garantidos na Constituição Federal.
“Por ser praticamente inerente à natureza humana, não nos parece o
mais sensato buscar a solução ou o gerenciamento de danos do consumo de
drogas através do direito penal, por meio de proibição e repressão.
Experiências proibitivas trágicas já aconteceram no passado, como o caso
da Lei Seca norte-americana e mesmo a atual política de guerra às
drogas, que criou mais mazelas e desigualdades do que efetivamente
protegeu o mundo de substâncias entorpecentes”, argumentou o defensor
Rafael Muneratt, ao sustentar no início do julgamento.
Já o então chefe do Ministério Público em São Paulo, o
procurador-geral Márcio Fernando Elias Rosa, se manifestou contra a
descriminalização.
“O tráfico no Brasil apresenta índices crescentes. O Estado não se
mostra capaz nem sequer do controle efetivo da circulação das chamadas
drogas lícitas. Não há estruturada rede de atenção à saúde ou programa
efetivo de reinserção social”, sustentou.
Assim como a China se voltou para mercados paralelos para comprar
placas gráficas NVIDIA que não estão mais disponíveis em seu território
devido a sanções, os Estados Unidos se preparam para se defender e obter gálio por rotas alternativas. É que esse elemento da tabela periódica, embora não seja tão famoso quanto os outros, é fundamental para a fabricação de semicondutores e células fotovoltaicas que incluem não apenas produtos comerciais, mas também de defesa.
Se você não pode comprar da China, procure no lixo
O Departamento de Defesa dos EUA tem acesso às reservas de germânio,
então o grande desafio que enfrenta é encontrar gálio. Para isso, apura a Bloomberg,
vai recorrer à Lei de Proteção da Defesa para garantir o abastecimento
deste metal por vias não convencionais e assim poder cobrir as suas
necessidades de “segurança nacional”.
A estratégia do Pentágono é recuperar o gálio de certos fluxos de
resíduos existentes. Isso significa que os Estados Unidos não recorrerão
diretamente à mineração para acessar o metal precioso, mas modificarão o
esquema de trabalho que as mineradoras têm para obtê-lo indiretamente. O
gálio geralmente é extraído durante a mineração de outros metais, mas
devido aos altos custos e complexidade para processá-lo, não é aproveitado e acaba como resíduo.
A China tem vasta experiência no setor de mineração. O gigante
asiático conseguiu otimizar o processamento do gálio, um marco que lhe
valeu o papel de líder do setor. Além disso, tem usado sua experiência
para dominar outros metais importantes fora de seu território. O exemplo
mais claro é o do níquel, recurso valioso para baterias de carros elétricos cuja produção é dominada por empresas estabelecidas na Indonésia que utilizam suas técnicas e tecnologias.
O desafio dos Estados Unidos neste momento é recuperar o gálio dos
lixos de outras atividades de mineração. Deve-se notar que este tipo de
movimento exigirá o estabelecimento de contratos milionários com
diferentes empresas, embora neste momento não se saiba o valor exato do
investimento e as empresas envolvidas. Também está previsto iniciar a
reciclagem de sucata eletrônica para extrair o gálio e posteriormente
submetê-lo ao refino.