Número de exceções e valor total da alíquota são questões que terão de ser resolvidas
Por Rogério Werneck – Jornal Estadão
Na votação da reforma tributária na Câmara, a tropa de choque de Arthur Lira permitiu-se
fazer ampla distribuição prévia de benesses. Assegurou alíquota zero
sobre produtos da cesta básica e garantiu a um vasto leque de setores
que eles só terão de arcar com 2/5 da alíquota padrão que vier a ser
fixada.
Se a prática for replicada no Senado,
há boa chance de que as contas não fechem. A essência da reforma é
extinguir cinco tributos, hoje cobrados de forma caótica, sobre bens e
serviços, e substituí-los por uma tributação bem concebida – e viável –
sobre valor adicionado, que recaia exclusivamente sobre consumo privado.
A que alíquota o consumo terá de ser taxado para que a arrecadação da
tributação do valor adicionado gere a mesma receita total que os
tributos que serão extintos hoje geram? Tendo contraposto tal meta de
receita ao valor potencial do consumo passível de taxação, o governo vem
anunciando que, caso a nova base potencial de tributação do valor
adicionado possa ser integralmente taxada, a alíquota média requerida
seria da ordem de 25%.
Mas, como já ficou mais do que claro na tramitação da PEC na Câmara,
não é ajuizado supor que a nova base de tributação do valor adicionado –
o consumo – poderá ser integralmente taxada. Mais prudente é trabalhar
com a possibilidade de que, no final das contas, o “aproveitamento”
dessa base potencial seja bem inferior a 100%. Nesse caso, a alíquota
média requerida passaria a ser determinada pela relação entre a meta de
receita e a base potencial de consumo devidamente corrigida pelo
coeficiente de “aproveitamento”.
As contas são muito simples. Mas preocupantes. Quanto menor o
“aproveitamento”, maior terá de ser alíquota. Disso, não há quem não
saiba. O que é menos sabido é que a alíquota aumenta rapidamente, em
proporções cada vez maiores, quando o aproveitamento diminui. Se somente
90% da base potencial do consumo puder ser taxada, a alíquota requerida
passará a ser 27,8%. Se a base ficar limitada a 80% do potencial, a
alíquota terá de ser 31,3%. No cenário impensável de que não mais que
70% da base potencial do consumo possa ser efetivamente taxada, a
alíquota requerida saltará para 35,7%.
O plano inicial de deixar a discussão das alíquotas para a tramitação
de uma lei complementar, em 2024, tornou-se inviável. Boa parte dessa
discussão terá de ser antecipada e cuidadosamente tratada já nos
próximos meses, na tramitação da PEC no Senado. Sem tal antecipação será
difícil assegurar que a reforma tributária aprovada será viável.
Especialistas avaliam que derrapadas do
presidente sobre escravidão, guerra na Ucrânia, obesidade e Sérgio Moro
desgastam governo e contribuem para polarização
Por Isabella Alonso Panho
As derrapadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus discursos improvisados têm abalado a imagem do governo. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, essas declarações incendeiam a polarização política e alertam para a necessidade de Lula conter as falas não programadas.
“Essas situações causam um enorme desgaste do governo e da figura do
Lula. A oposição fica reverberando nas redes sociais esses tipos de
‘equívocos’ – que não são somente retóricos, ou causados por um orador
que não está na melhor forma, mas que muitas vezes decorrem da falta de
uma melhor definição sobre determinadas políticas”, avalia o professor
da Unesp Milton Lahuerta, que é doutor em Ciência Política pela USP. A articulação política do presidente no Congresso enfrentou diversos reveses nesses primeiros meses de gestão.
Para o docente, “talvez tenha chegado a hora de Lula improvisar
menos”. Um comportamento mais contido e discreto, na perspectiva de
Lahuerta, seria necessário para que o governo entregue o que prometeu em
campanha.
“Lula não vai poder ser tão espontâneo e intuitivo. Se ele quiser
fazer um um governo compatível com as expectativas que ele próprio tem,
vai ter que realizar um esforço de discrição, consistência e precisão,
sobretudo no que se refere ao que ele fala”, diz o cientista político.
A origem política de Lula, no operariado do ABC Paulista dos anos
1970, é um dos fatores que contribui para essa cultura de improvisos ao
palanque. “Lula é de uma escola política ligada ao sindicalismo. Esse
fato marcou a trajetória dele e faz com que, até hoje, ele não consiga
ficar na frente de um microfone de maneira contida”, avalia o cientista
político Marco Aurélio Nogueira, doutor pela USP e professor aposentado da Unesp.
“Ele é um agitador permanente e claro. Mas uma coisa é ser um
agitador como liderança sindical, no meio de uma assembleia de
reivindicações. Outra coisa é ser um agitador como presidente.”
O professor também aponta para o tom passional das declarações do
petista como algo que contribui para o acirramento da cena política.
“Isso cria um problema com a opinião pública. A maior questão que
estamos enfrentando no Brasil nos últimos anos é a polarização. Esse
modo de falar de Lula não é uma coisa que ajuda a dissolvê-la.”
Relembre momentos em que o presidente comete gafes que causaram desgaste político.
‘Agradecimento’ à escravidão
O “agradecimento” pela escravidão repercutiu mal, sobretudo entre parlamentares da oposição. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, teve que sair em defesa do presidente.
“O que Lula disse foi: ‘o Brasil tem uma dívida com África e ela tem
que ser paga’. E por isso, o Presidente tem insistido – e já falei com
ele sobre isso – é que a agenda de direitos humanos com África envolve o
chamado direito ao desenvolvimento”, disse o ministro à Coluna do Estadão.
A assessoria de Lula, em nota, disse que a interpretação da fala do
presidente “é de compreensão simples para quem não tiver má vontade” e
destacou ações dele na luta pela igualdade racial.
“O sentido da fala é de compreensão simples para quem não tiver má
vontade. Significa que o Brasil tem uma DÍVIDA com a África de gratidão
por tudo que o país teve produzido aqui e toda a herança social,
cultural e na formação do povo brasileiro. O presidente já falou várias
vezes sobre esse tema e tem um longo histórico de ações pela igualdade
racial e pela aproximação das relações do Brasil com a África, sendo
muito querido no continente, como falou o próprio presidente de Cabo
Verde na ocasião”, diz a íntegra da nota.
“A quem interessa essa guerra? A razão dessa guerra, por tudo o que
eu compreendo, que eu leio e que eu escuto, seria resolvida aqui no
Brasil em uma mesa tomando cerveja. Teria resolvido aqui, senão na
primeira cerveja, na segunda; se não desse na segunda, na terceira; se
não desse na terceira, até acabarem as garrafas a gente ia fazer um
acordo de paz”, disse Lula na ocasião.
No dia 15 de junho, Lula repetiu o gesto durante uma reunião ministerial. “Essa
reunião vai demorar pelo menos umas seis horas ou um pouco mais. Não
teremos almoço. O almoço será uma comida leve servida aqui na mesa,
ninguém precisa se levantar. Enquanto um fala, os outros comem e assim a
gente vai se revezando a nossa degustação na hora do almoço. O Flávio
Dino também, mas nós vamos trazer pouca comida para ele”, disse o
presidente durante a abertura da reunião. O discurso foi transmitido no
seu canal do YouTube.
Durante seu discurso, o presidente relembrou um diálogo com o senador Jaques Wagner (PT-BA),
líder do governo no Congresso. “Wagner, vai estar difícil, a gente vai
perder. Vamos ver se tem outro nome aí. O cara vai ganhar. Eu vim para
cá, Jerônimo (tinha) 3%. O ‘grampinho’, quase 80%”, disse o presidente. Ele se referiu à derrota de ACM Neto nas urnas para Jerônimo Rodrigues (PT-BA), atual governador.
Júri especializado avaliou 9 marcas de iogurte natural vendidas nas redes de supermercado; confira o ranking
Por Chris Campos
Iogurte natural leva basicamente dois ingredientes: leite e fermento.
A versão natural, vendida em copinhos nos supermercados, às vezes leva
um o outro ingrediente extra. Alguns produtos são mais firmes, outros
bastante cremosos. Tem iogurte mais azedinho e também de sabor levemente
adocicado. Mas, afinal, o que se espera de um bom iogurte?
“O iogurte deve ter um nível de acidez mínimo, é um fator importante
na avaliação do produto”, diz a mestre queijeira Heloísa Collins. “Outro
fator importante é o que você sente como gordura ou como corpo na
textura, um iogurte muito ralo não é tão interessante quanto um produto
com um corpo pelo menos médio”.
Na aparência, as marcas avaliadas, às cegas, por um time de quatro
jurados especializados, se mostraram bem parecidas. Já no quesito sabor e
textura, quantas diferenças…
“Quando você pensa em iogurte, a impressão é que não vai ter muita
diferença entre uma marca e outra”, explica o empresário e gelataio
Marcio Ohta. “Mas tem uma diferença grande em termos de textura e de
sabor, principalmente”.
Para o queijista Bruno Cabral foi muito bom encontrar essa
diversidade de características nos produtos avaliados: “Encontramos
sabores bastante diferentes e também iogurtes que carecem da acidez
desejada no produto.”
As diferenças entre um produto e outro dão ao consumidor a
possibilidade de eleger um sabor favorito entre as marcas disponíveis
nas geladeiras dos supermercados. Mas um quesito é básico na escoha,
segundo Bruno Cabral: “O iogurte precisa ser cremoso, pode ser um pouco
mais líquido ou mais denso, o que ele não pode ser é gelatinoso, o que
indica a presença de ingredientes que fogem da receita clássica do
produto”.
A qualidade do leite também é um diferencial. Um iogurte feito com
leite integral geralmente ganha em sabor e textura de outro elaborado
com leites magros. “Um leite mais gorduroso vai render um produto com
maior cremosidade”, atesta a queijista Mônica Resende.
O que os jurados levaram em conta na hora da prova
Durante o teste, realizado na Mercearia Mestre Queijeiro. os jurados
provaram 9 marcas de iogurtes naturais. Eles avaliaram características
como sabor, textura e aparência de cada um dos produtos em mais esta
rodada de testes realizada por Paladar.
Abaixo você confere quais foram os campeões da semana e também as
considerações dos jurados a respeito de cada uma das marcas avaliadas.
As melhores marcas de iogurte natural
PRIMEIRO LUGAR – DANONE
SEGUNDO LUGAR – LEITÍSSIMO
TERCEIRO LUGAR – ATILATTE
As 9 marcas na avaliação dos jurados listadas em ordem alfabética
ATILATTE (R$ 4,39, embalagem com 170 g) O produto
que levou o terceiro lugar no ranking de Paladar apresentou bom sabor e
acidez equilibrada. Aparência grumosa e brilhante, textura firme,
consistência cremosa e sabor de leite bem presente.
BATAVO (R$ 2,99, embalagem com 170 g) O iogurte foi
avaliado como de textura firme, sem cremosidade e muitos grumos. Sabor
neutro, sem residual.
DANONE (R$ 3,99, embalagem com 160 g) O nosso
campeão da vez apresentou boa textura, aparência brilhante, cremosidade
na medida, acidez equilibrada e sabor delicado, com bastante presença de
leite.
DELICARI (R$ 7,29, embalagem com 170 g) Um produto de boa textura e aparência, porém praticamente sem acidez e levemente gorduroso.
FAZENDA BELA VISTA (R$ 2,99, embalagem com 170 g) Um produto com muita pouca acidez, boa textura e pouco sabor de leite.
ITAMBÉ (R$ 3,29 , embalagem com 170 g) Um iogurte
de textura mais líquida, cremoso, uniforme e sem grumos. Sabor
equilibrado e baixa acidez.
LEITÍSSIMO (R$ 4,69, embalagem com 170 g) O segundo
colocado conquistou os jurados pela textura cremosa e sabor
equilibrado, com um leve dulçor. O produto ainda ganhou pontos por ser
um iogurte brilhante e com bom corpo.
NESTLÉ (R$ 3,49, embalagem com 170 g) Os jurados acharam a textura do iogurte muito líquida e o sabor um tanto ácido demais.
VIGOR (R$ 3,29, embalagem com 150 g) O iogurte foi
avaliado como de sabor ácido, textura firme e grumosa. Pareceu mais
“magro” que os demais produtos.
Peça de entusiasta do interior de São Paulo virou um ícone das comemorações dos 150 anos do nascimento do ‘Pai da Aviação’
Por José Maria Tomazela – Jornal Estadão
SOROCABA – Em 1988, um cliente de sua agência de turismo de aventura,
na capital paulista, convidou Feodor Nenov Junior para voar com ele de
balão. Nenov já tinha feito escaladas em rochas, mergulho livre,
exploração de cavernas, mas nunca tinha embarcado em um aparelho
daqueles. “Na hora eu não sabia, mas o convite incluía participar do 1º
Campeonato Brasileiro de Balonismo como navegador dele. Aceitei e
vencemos. Me apaixonei por balões e não parei mais”, conta.
Os moradores de São Pedro, de 34 mil habitantes, no interior de São
Paulo, já não se surpreendem quando avistam um balão dirigível de 35 m
de comprimento por 15 metros de diâmetro voando pelas encostas da Serra
do Itaqueri. Poucos sabem que o balão em forma de charuto é inspirado
no dirigível número 6, construído pelo brasileiro Alberto Santos Dumont e que entrou para a história da navegação aérea ao contornar a Torre Eiffel, em Paris, em 1901.
Quem põe no ar o dirigível é Feodor, que se tornou também admirador
de Santos Dumont. Restaurado por ele, o balão se transformou em peça
icônica durante as comemorações dos 150 anos do ‘Pai da Aviação’, data
comemorada neste 20 de julho. Nenov ganhou o dirigível de um amigo que o
havia trazido da Inglaterra e passou os últimos seis anos restaurando o
equipamento, fabricado no início dos anos 1990.
Como o célebre aviador, ele pôs a mão na massa e encarou o desafio do
restauro, já que não havia mão de obra especializada. “O balão ficou
abandonado durante muitos anos e foi preciso fazer um trabalho minucioso
de restauração para que ficasse em condições de voo. Para recuperar o
motor de quatro cilindros, a gasolina, de 28 HP, tivemos de fazer
algumas peças que não encontramos por aqui. Mas ficou tudo conforme o
original”, disse.
Como não tinha manual para regular o motor, o piloto pediu ajuda para
mecânicos aeronáuticos e engenheiros que se envolveram com o projeto. O
trabalho mais difícil foi estender e dar forma à lona do balão, no
aeroporto municipal de São Pedro. “Precisamos de muitos braços para
esticar a lona, fechar e checar as válvulas”, disse.
Diferente do dirigível estreado por Santos Dumont há 123 anos,
que era cheio de hidrogênio, produto inflamável, o de Nenov é inflado
com ar quente. Nos dois casos, o conjunto aerodinâmico é empurrado por
um motor.
Após realizar vários voos no interior paulista, Nenov foi convidado
pela Força Aérea Brasileira (FAB) para reproduzir, nos céus de Brasília,
o voo histórico de Dumont em 1901. Ele conta que não imaginava se
tornar piloto de dirigível, o que aconteceu só depois de ganhar o balão,
quando passou a ir mais a fundo também na história do ‘Pai da Aviação’.
“Já o admirava, mas agora o vejo com outros olhos, um cara fora de
série, que fez coisas incríveis, por isso achei que devia tentar fazer
essa homenagem.”
Em 19 de outubro de 1901, em Paris, a bordo de seu dirigível, o
inventor contornou a Torre Eiffel em 29 minutos e 30 segundos. Ele foi o
mais rápido a completar o trajeto de 11 quilômetros entre os 25
concorrentes e ganhou o prêmio Deutsch de La Meurthe, equivalente a R$
700 mil em valores atuais.
No último dia 2, em Brasília, durante evento em comemoração aos 150
anos do nascimento de Santos Dumont, que é também patrono da Aeronáutica
brasileira, o balão de Venov fez um sobrevoo pela Esplanada dos
Ministérios. O dirigível, com a imagem tradicional de Dumont de chapéu
impressa na lona, iniciou o percurso na Praça dos Três Poderes,
contornou a Torre TV e pousou no mesmo local da partida, em um voo de 38
minutos, que percorreu 9,5 km.
‘Ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis’
A trajetória de Feodor, que nasceu na capital paulista, mas sempre
gostou da natureza, também parece ter sido inspirada na do Pai da
Aviação. Já no fim da década de 1970, ele se dedicava a caminhadas,
escaladas em rocha, exploração de cavernas e mergulho livre. Nos anos
1980, Nenov criou uma agência de turismo de aventura, desenvolvendo
roteiros por todo o Brasil. Ele também dava cursos de montanhismo e
espeleologia.
Depois que passou a se dedicar aos balões, poucos lugares do Brasil
ainda não foram vistos do alto pelo balonista. “Sendo paulistano, eu me
perguntava porque ninguém voava de balão em São Paulo. Em 1993,
conseguimos autorização”, contou. Em 1995, ele construiu seu primeiro de
uma série de balões. No ano seguinte, atingiu a marca de 16 mil pés (5
mil metros) de altitude, decolando próximo à Academia da Força Aérea de
Pirassununga (SP).
Em novembro de 1996, foi além, sobrevoando o Monte Fuji, no Japão, a 6
mil metros. Também sobrevoou o Monte Serrat, próximo a Barcelona. “Na
época, eu me dedicava ao projeto de exploração vertical da atmosfera”,
disse. Foi assim que atingiu 9.040 m em 2001, voando mais alto que o
Everest para estabelecer o recorde sul-americano. No mesmo ano, realizou
travessia entre dois balões em pleno voo, manobra que exige muita
técnica. Em 2010, representou o Brasil no campeonato mundial de
balonismo na Hungria.
Em 2016, Feodor saiu de balão do litoral do Rio Grande do Sul e foi
até o litoral do Chile, indo do Atlântico ao Pacífico em 7 meses, para
produzir a série ‘Mais Leve que o Ar’, do Canal Off. Feodor também voa
de asa delta e já se lançou a 4,2 metros de altitude. Atualmente, o
balonista mantém uma empresa especializada em atividades com balões de
ar quente, em São Pedro.
“Sou construtor de balões, mas dirigível para mim ainda é uma coisa
nova, mas acho que é algo que vai pegar. Voar de balão e ver o mundo de
cima deixa lembranças inesquecíveis.”
A realidade socioeconômica brasileira tem exigido um esforço
considerável das empresas nacionais, essencialmente as que atuam na
indústria e varejo, uma vez que estes segmentos sofrem de imediato os
impactos das políticas desenvolvidas para o controle inflacionário. Este
fato, muitas vezes, compromete as expectativas de vendas.
Consequentemente, o crescimento também é travado.
Para além das implicações geradas nos resultados, que podem tardar
longos períodos para atingir patamares desejados, tal cenário também
pode comprometer o desempenho dos colaboradores destes setores, os
quais, muitas vezes, carecem de mecanismos e estratégias que os
mantenham engajados e motivados.
Com a taxa básica de juros (Selic) acima dos 13% a.a., num cenário
que não apresenta em longo prazo a expectativa de uma redução
significativa, a tomada de crédito encarece e fica mais restrita, de
forma a afugentar os consumidores das lojas, bem como a afetar a
performance econômica, tanto da indústria quanto do varejo, vide os
recentes casos de pedidos de recuperação judicial.
Neste panorama onde as perspectivas para o consumo não são as
melhores, os diferenciais de cada vendedor se tornam ainda mais
necessários, e mais do que nunca esse profissional se torna decisivo
para a manutenção dos resultados da companhia. Abre-se o espaço, então,
para os programas de incentivos baseados em cumprimentos de metas. Eles
não apenas se mostram como ferramenta efetiva de mobilização, como
também servem de base para ações estratégicas futuras.
Um estudo publicado pela Benify, empresa global de tecnologia de RH –
o Employee Happiness Index de 2019, revelou que os colaboradores mais
satisfeitos com os benefícios oferecidos alcançam níveis de engajamento
11,5% maiores que a média e 25,2% superiores em relação aos colegas
menos satisfeitos. Outra pesquisa, feita pela Social Market Foundation e
intitulada “Happiness and productivity”, já apontava que os
colaboradores que recebem “mimos” apresentam uma performance 20%
superior na execução de suas tarefas.
Não à toa, gigantes da indústria, como a Colgate e a Faber Castell,
aderiram a esta visão e estão desenvolvendo campanhas de incentivos cada
vez mais abrangentes e diversificadas em termos de prêmios, o que
contribui de forma significativa para o próprio varejo.
E, no caso dos varejistas, as plataformas especializadas na área
ainda abrem espaço para uma estratégia que permite uma redução positiva
de seus estoques, pois, por meio delas, o fornecedor expande suas vendas
na medida em que os colaboradores engajados passam a resgatar as
recompensas ofertadas pelas suas respectivas campanhas vigentes.
Torna-se um clico virtuoso, pois quanto mais os participantes de
campanhas de incentivo recebem pontuações por resultados, mais elas são
usadas para resgates de produtos em marketplaces, geralmente
constituídos pela expertise e pela base de players que movem a indústria
como um todo, a exemplo da Via Varejo. Outro fator positivo é o volume
de vendas conjuntas que são concretizadas a partir dessa sistemática.
Todo esse cenário mostra o quanto é necessário o desenvolvimento de
estratégias que sejam válidas e estruturadas de forma a oferecer aos
colaboradores alternativas. E, às varejistas, possibilidades para suprir
essas demandas.
Em tempos de Selic na estratosfera, é importante compreender que o
reconhecimento profissional, além de ser uma forma de interagir
positivamente com os colaboradores, pode ser uma ferramenta determinante
para motivá-los na manutenção de uma carteira de clientes que englobe a
meta antecipadamente categorizada. E não somente isso. A constância
dessa carteira é ponto convergente para a sustentação e até ampliação
das vendas das varejistas, sendo uma das principais medidas práticas
para a expansão, tanto das vendas, quanto do faturamento.
UM MARKETPLACE DIGITAL IGUAL AO DA STARTUP VALEON PODE AJUDAR QUALQUER NEGÓCIO?
Moysés Peruhype Carlech e Fernanda – Jet.
Sim e podemos ajudar muito a alavancar as suas vendas e tornar a sua
empresa mais competitiva no mercado se forem utilizados os serviços da
Startup Valeon e temos a certeza que vamos melhorar o seu posicionamento
digital e utilizando uma boa estratégia comercial podemos trazer
retorno financeiro para a grande maioria dos negócios das empresas da
nossa região do Vale do Aço, afinal de contas, já atingimos a marca de
mais de 100.000 acessos.
O sucesso do modelo dos marketplaces está
expresso nos números registrados no último ano: o crescimento em 2020
chegou a 52%, acima dos 41% do segmento de e-commerce.
Essas informações foram apuradas pela E-bit/Nielsen, que também
indica que o total de pedidos do marketplace chegou a 148,6 milhões, um
crescimento de 38% em relação a 2019, o que resultou em um faturamento
de R$ 73, 2 bilhões para o segmento.
A atenção recebida pelos “shoppings virtuais” tem razão de ser. São
gerenciados por empresas que arcam com a parte operacional e, com isso,
as lojas cadastradas podem se dedicar ao cuidado de suas páginas e às
ofertas de produtos.
Para quem tem um e-commerce, os marketplaces devem ser vistos como uma oportunidade reforçar as estratégias de vendas.
Outro fator importante é a possibilidade de ampliar seus pontos de
interação com o cliente, o que atende ao comportamento omnichannel do
público.
Porém, para aproveitar melhor as possibilidades, é importante que
você saiba quais são as vantagens do marketplace e como ele pode
auxiliar o desenvolvimento do seu negócio.
1- Otimização dos recursos
A estruturação de um e-commerce não é simples. E, por mais que você
faça tudo certo, os resultados precisam de tempo para serem
consolidados.
Ao integrar a sua loja a um marketplace, esse processo é facilitado.
Ao mesmo tempo em que trabalha para fortalecer a sua marca, o lojista
tem como expor seus produtos num canal que já conta com uma audiência
significativa.
Basta que o lojista negocie e pague a mensalidade do marketplace para
que possa começar a negociar seus produtos ou serviços. Além disso,
essas operações oferecem expertise, tráfego, visitação e mídia para que
seus parceiros possam desenvolver seus negócios.
2- Alcance de clientes
Desenvolver uma loja virtual própria e recorrer às redes sociais para
divulgar produtos ou serviços requer um trabalho de divulgação para
alcançar um número maior de clientes.
Com o marketplace, esse trabalho ganha ainda mais abrangência e, com
isso, é possível gerar um fluxo maior de consumidores, uma vez que há
modelos próprios de divulgação, o que acaba favorecendo as empresas que o
integram.
Além disso, esses “shoppings virtuais” , como o da Startup Valeon,
não divide os custos de marketing com os seus parceiros custeando ele
próprio o processo de aquisição de clientes nas redes sociais.
3- Volume de dados
Os marketplaces têm o costume de oferecer aos seus parceiros diversos
dados sobre as suas vendas e seus desempenhos dentro da plataforma e
faz métricas diárias das consultas dos seus clientes.
Essas informações são bastante estratégicas para qualquer empresário que deseje desenvolver o seu comércio online e melhorar o seu desempenho na internet.
Isso porque conseguem planejar suas ações, promoções e precificar
produtos e serviços com mais eficiência, o que aumenta as chances de
converter os visitantes do marketplace em seus clientes.
4- Integração com outras ferramentas
Muitos empresários podem acreditar que ao entrar para um marketplace
não poderá usar suas ferramentas digitais favoritas: CRMs, software de
preços ou inventários.
Porém, não existe essa limitação e as empresas podem seguir usando seus mecanismos de otimização de resultados.
É possível explorar tantos as informações fornecidas pelos
marketplaces quanto os dados gerados pelos seus mecanismos de gestão e
controle, o que pode fortalecer ainda mais suas estratégias online.
5- Aumento de vendas
Com uma estrutura corretamente desenvolvida, processos de divulgação
bem construídos e apoio aos parceiros, os marketplaces conseguem atrair
um bom volume de visitantes para o seu site.
Quanto maior a exposição de produtos ou serviços, maior são as
chances de aumentar as suas vendas. É preciso apenas que as lojas online
saibam trabalhar seus produtos ou serviços na internet e convencer os
consumidores de que conta com as melhores mercadorias e preços.
6- Diversificação de público
Com um número maior de pessoas tendo contato com seus produtos ou
serviços, há possibilidade que alcance consumidores que, em um primeiro
momento, não conseguiria atingir.
Isso favorece não apenas as suas vendas, mas também estimula os
lojistas a buscarem novos produtos ou desenvolverem novos serviços para
atender a sua nova demanda.
Esse processo é essencial para que as empresas ganhem mercado e busquem constantemente o seu desenvolvimento.
Agora que você já sabe quais as vantagens do marketplace, que tal
descobrir como eles podem auxiliar no crescimento dos pequenos negócios?
Marketplace e o crescimento das empresas
Construir um modelo próprio de venda online é um desafio para as empresas, porém pode ser bastante recompensador.
Em 2020, o setor teve um crescimento de 41% se comparado com o ano
anterior e a expectativa é de que siga alcançando bons resultados em
2022, até em razão da aceleração do processo de transformação digital.
Dessa forma, com um trabalho bem-feito, as empresas podem conquistar
boa margem de lucro com o comércio eletrônico. Afinal, o perfil do
consumidor tem mudado e ficado aberto às compras online.
Mas, para isso, é necessário utilizar um site como a da Startup
Valeon que ofereça boa experiência para os consumidores e conte com
estrutura logística e capacidade de estoque para dar conta do trabalho.
O marketplace é uma opção que pode potencializar ainda mais um
comércio eletrônico, pois conta com um modelo de negócio estruturado e
testado.
Assim, empresas de qualquer setor conseguem melhorar o desempenho de
seus e-commerces ao estabelecer mais um canal de divulgação e venda.
Para aproveitar melhor as oportunidades, é importante contar com as ferramentas adequadas para fazer a gestão da operação.
Exemplo disso é a plataforma comercial
da Startup Valeon, que tem suas páginas desenvolvidas justamente para
conectar a sua loja aos principais consumidores do mercado.
Com isso, além de ter todo o suporte necessário para destacar seus
produtos na internet, o lojista tem como gerenciar todo o universo
envolvido com as suas vendas online, seja na loja própria ou no
marketplace.
Num único local, por exemplo, pode fazer a gestão de estoque, o que
evita a perda de clientes pela falta do produto. O e-commerce é uma
modalidade de negócio que deve seguir ganhando espaço e conquistando
novos clientes. O empresariado deve ficar atento a esse mercado e
aproveitar as vantagens do marketplace para aumentar a sua presença
online e ter acesso facilitado a uma base sólida de usuários.
Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (WApp)
Advogado André Marsiglia considera lamentável o episódio de que teria
sido vítima o ministro do Supremo em Roma, mas considera que buscas que
atingem investigados vão ‘além das medidas necessárias para se apurar o
crime’
BLOG
Blog do Fausto Macedo
Por Pepita Ortega – Jornal Estadão
As fundamentações da ordem de busca e apreensão que atingiu suspeitos
de hostilizarem o ministro Alexandre de Moraes no Aeroporto de Roma,
ainda não foram tornadas públicas, mas já são questionadas por
constitucionalistas e criminalistas. Eles apontam que é necessária uma
rígida apuração sobre as supostas ofensas ao ministro do Supremo, mas
consideram que as buscas vão ‘além das cabíveis’ para se investigar o
caso. Eles alertam que a medida pode não ter ‘qualquer utilidade’ para o
inquérito.
O constitucionalista André Marsiglia aponta que a realização de busca
e apreensão em casos de crime contra a honra é ‘absolutamente
excepcional’. Em sua avaliação, a ação da Polícia Federal – a partir de
autorização da ministra Rosa Weber, presidente do STF – se situa ‘além
das medidas necessárias para se apurar o crime’.
Segundo Marsiglia, o caso ‘não pode ser apurado para além do que a lei permite’.
“Agressão verbal não tem conexão com qualquer coisa que possa ser
encontrada na casa. É possível haver a busca, mas não me parece ser
pertinente para esse caso. Desconheço qualquer razão jurídica que possa
motivar uma medida assim”, considera.
O criminalista Diego Henrique diz que não há vedação às buscas a
depender do crime sob suspeita, mas ressalta que, no caso, o fato sob
suspeita ‘se deu em ato único ocorrido fora do País’.
“Olhando de fora (sem conhecer os autos no detalhe), não vislumbro
qualquer utilidade da medida para as investigações, o que a torna ilegal
e abusiva”, pondera.
Sobre a supervisão do inquérito, Diego Henrique diz não ver ‘qualquer
hipótese’ que justifique a competência do STF. “A competência para
processar e julgar crimes cometidos por brasileiro no exterior é da
Justiça Federal da comarca onde reside o autor, segundo entendimento do
Superior Tribunal de Justiça e o artigo 88 do Código de Processo Penal”,
explica.
Na mesma linha, Marsiglia não vê competência do STF para conduzir a
apuração, considerando que os supostos autores do crime sob investigação
não têm foro por prerrogativa de função.
“Um caso dessa natureza tramitar no Supremo nos leva a uma
especulação de que a Corte entenda que ele merece ser apurado em
inquérito sigiloso. E, para isso acontecer, a Corte precisa entender que
essas pessoas estão ligadas aos atos do 8 de janeiro. Ou que uma
agressão contra um ministro pode ser compreendida como uma agressão ao
próprio Estado, como se os ministros personificassem a figura do
Estado”, compara.
O constitucionalista rechaça tal entendimento. “Temos diversos
agentes públicos que são diariamente ofendidos e isso não é nunca
confundido como um atentado ao Estado. Se existiu essa interpretação é
equivocada e perigosa”, ele diz.
Marsiglia cita a hipótese de se entender que o caso poderia ser
apurado no bojo do inquérito das fake news – que mira ofensas contra os
ministros do STF. “Se for compreendido dessa forma, vamos ter que
entender que agressão a ministro é ao Estado. É uma confusão que não
pode ser feita. É lamentável, mas não é agressão ao Estado. Há
mecanismos próprios para apurar crimes contra agentes públicos”, frisa.
Já o criminalista Fernando Augusto Fernandes aponta que a busca e
apreensão é possível ‘em todo e qualquer crime contra a honra’. “Havendo
documento importante para que o Judiciário elucide algo, é possível a
busca.”
Segundo Fernandes, o caso do ministro Alexandre de Moraes pode ser
apurado como injúria qualificada pela violência contra funcionário
público e ‘pode não estar isolada no fato do aeroporto, mas também
conectada a atentados contra a democracia’.
Acertos entre Executivo e Judiciário envolvem escolha de futuros ministros do STF e STJ
Por William Waack
Lula tem nas mãos uma inédita oportunidade de moldar a composição de
tribunais superiores, dos quais tanto dependem governantes brasileiros.
São as três próximas indicações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a segunda que fará para o Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria da atual presidente Rosa Weber.
Dado o peso político do Supremo, é “normal” que governantes (como
Lula) busquem ter maioria lá dentro. Afinal, ministros do STF detém
super poderes dentro do poder, e reagem imediatamente ao noticiário
político. Mas é um processo bem mais complexo do que as aparências do
“indico um amigo” (como acaba de acontecer).
As tratativas são uma via de mão dupla, na qual o chefe do Executivo
tem de levar em conta também os interesses dos ministros do Supremo
quanto à ocupação de altos postos no Judiciário – afinal, trata-se de
uma gigantesca instituição com controle direto de vastas áreas da vida
nacional, mas com dinâmica interna própria.
Nestes sete meses de Lula 3 essa costura política tem funcionado a
contento para as duas partes. Um teste importante será a escolha do
atual/próximo PGR, cuja capacidade de disrupção é conhecida.
Por julgá-lo muito técnico e independente, o partido do presidente
não “compra” o nome (o do atual sub procurador geral eleitoral) sugerido
por pesados “cabos eleitorais” do STF.
De fato, não é a republicana independência dos poderes e seu
equilíbrio que se estabelece no sistema político brasileiro mas, sim, um
curioso amálgama que inclui o Legislativo. O governo só pode fazer o
que a Câmara dos Deputados permita, e ela se satisfaz aplicando o
orçamento público sem nenhuma orientação central – mas atendendo aos
interesses paroquiais de seus integrantes, de baixíssima
representatividade.
Essa “maioria parlamentar sem alma”, na ácida definição do
ex-deputado Roberto Brant, acertou as “moedas do escambo” com um
Executivo que, por sua vez, topa qualquer coisa desde que o núcleo
petista do governo seja preservado. Não existe uma rigorosa oposição
parlamentar, o que significa vida mansa para Lula enquanto cuidar apenas
da manutenção de rotinas de governo.
Esse é o sistema político ao qual se integra agora o Judiciário,
compondo um conjunto harmônico e integrado. Ele opera e prolonga a
inércia que satisfaz cada um de seus integrantes, que se suportam
mutuamente. A razão de sua existência é apenas a autopreservação.
Segundo o ministro, projeto de lei para tributar fundos chamados também de exclusivos será encaminhado com o Orçamento em agosto
Por Fernanda Trisotto e Eduardo Rodrigues
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que um projeto de lei para tributar fundos exclusivos estará
no pacote de medidas a ser enviado pelo governo ao Congresso em agosto,
junto do Orçamento. Também conhecidos como fundos dos “super-ricos”,
eles são chamados de “exclusivos” por terem apenas um cotista, o que
resulta num portfólio personalizado, organizado por um gestor de fundos
profissional, conforme os objetivos de investimento.
“Acabei de vir da casa do presidente (da Câmara dos Deputados, Arthur) Lira
para definir a pauta do segundo semestre. Temos um conjunto de medidas
que vão com o Orçamento e que não passam pelo Imposto de Renda de Pessoa
Física”, disse Haddad ao retornar ao ministério.
Ele confirmou que a tributação de fundos exclusivos está no pacote e
deve ser enviado para a Câmara em agosto, como projeto de lei.
Não é a primeira tentativa de tributar esses fundos. O governo do
ex-presidente Michel Temer (MDB) chegou a editar uma medida provisória
para aumentar em mais de R$ 10 bilhões a arrecadação com a tributação
desses fundos de investimentos, mas a proposta enfrentou resistência do
Congresso.
Haddad também disse ter expectativas para a votação do marco de
garantias, já aprovado no Senado, ainda em agosto. Na conversa com Lira,
ele disse que tratou também das apostas esportivas — tanto sobre a
medida provisória que permite a criação de cargos para a secretaria que
cuidará do tema quanto de um projeto de lei das apostas.
Desaceleração
Haddad disse que o almoço que teve com o diretor de Política
Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta quarta-feira, foi
para aproximar as equipes e afinar informações. “Temos avaliação que a
desaceleração está forte demais e isso inspira cautela. Galípolo vai ser
ponte muito importante”, disse.
O ministro ainda afirmou que a reunião que fará nesta quarta com o
Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) será sobre o plano de
conformidade da Receita Federal, alvo de críticas do setor. Ele espera
receber um material dos varejistas e lembra que, em agosto, entra em
vigor o plano de conformidade dos Estados, que fecharam questão sobre
uma alíquota de ICMS única para cobrança das varejistas internacionais.
Ministro participou de evento patrocinado por grupo condenado pela Justiça; e se o caso bater no STF?
Por J.R. Guzzo
Houve um incidente no aeroporto de Roma e até agora não está claro o que realmente aconteceu. Pelo que deu para entender, a Polícia Federal e a mídia dizem que o ministro Alexandre de Moraes, a mulher e o filho foram insultados, e até agredidos, por um casal de brasileiros – um senhor de 70 anos e sua esposa. O acusado nega tudo;
há alegações, inclusive, de que a agredida foi a sua mulher e que o
agressor foi o filho do ministro. Os “especialistas” dizem que pode ter
ocorrido um “ataque ao estado de direito”. Lula disse que os acusados são “animais selvagens” e precisam ser “extirpados”. Seu ministro da Justiça, também antes da apuração começar, já assinou a sentença de condenação dos suspeitos. Moraes, ele próprio, até agora não disse nada.
O ministro, pelo seu comportamento público, não é um homem do
silêncio, da moderação e da harmonia. Em seu inquérito perpétuo (quatro
anos, já), para investigar “fake news” e “atos antidemocráticos, mandou
prender, multar, censurar, bloquear contas, quebrar sigilos legais,
indiciar – e disse, tempos atrás, que “ainda falta muita gente pra
prender, muita gente pra multar”. Se sofreu um atentado como o que foi
descrito, contra a sua própria pessoa física, o normal é que estivesse
tratando o episódio como um crime de lesa-pátria. Mas até agora não
houve nenhum terremoto – e, mais que tudo, não apareceram as imagens das
câmeras instaladas no aeroporto de Roma.
O que se sabe, no mundo das realidades, é a existência de outro tipo
de problema. Segundo noticiou o jornalista Eduardo Oinegue, na Band, o
ministro Moraes foi à Itália para participar de um evento em Siena. Mas
não era ninguém de Siena, nem da Itália, quem promovia o evento. Era uma
faculdade particular de Direito de Goiânia – uma UniAlfa, que já havia
montado a primeira fase do evento em Valladolid, na Espanha. Dos 31
palestrantes da lista que foi divulgada, 20 eram do Brasil mesmo, e 11
deles da própria UniAlfa.
É uma história ruim, mas a parte menos edificante é a própria
UniAlfa. Ela pertence a um grupo empresarial de Goiás que se dedica à
múltiplas atividades – vende refrigerantes, aluga carros, lida com
imóveis e, entre várias outras coisas, tem um laboratório farmacêutico, a
Vitamedic. É aí que está a dificuldade. Essa Vitamedic fabrica
ivermectina, uma das drogas que o ex-presidente Jair Bolsonaro
recomendava contra a covid – e que foi amaldiçoada para todo o sempre
pela imprensa, os defensores da democracia e a CPI do “genocídio”.
Poucos dias antes dos colóquios de Siena, a Vitamedic foi condenada pela
justiça do Rio Grande do Sul a pagar uma multa de R$ 55 milhões, por
“danos coletivos à saúde”; a empresa, que faturou R$ 500 milhões com a
venda de ivermectina durante a pandemia, deu apoio ao “kit covid”, um
delito de “fake news” que o STF considera absolutamente hediondo.
Está certo um ministro do STF aceitar convites como o que recebeu do
grupo que controla a UniAlfa? Ele, a mulher e o filho? E se a condenação
da justiça gaúcha acabar batendo um dia no Supremo? O presidente da
empresa, José Alves, já teve coisas a tratar ali – durante a CPI, na
qual teve de depor, obteve um mandado de segurança contra a quebra do
seu sigilo bancário e telefônico. O STF atravessa o pior momento de toda
sua história. Não precisa, positivamente, de histórias como essa.
Busca por acordo comercial com país
asiático visa servir como contrapeso ao domínio dos Estados Unidos no
hemisfério sul, mas negociação desandou após atuação do governo
brasileiro
Por Peter S. Goodman – Jornal Estadão
THE NEW YORK TIMES, MONTEVIDÉU – A notícia de que o Uruguai estava em busca de um acordo comercial com a China provocou
entusiasmo no rancho El Álamo, uma imensidão exuberante de pasto
entremeado com cactos e rebanhos de gado nas planícies do leste do
Uruguai.
A maior parte do gado tem como destino compradores na China, onde
encara tarifas de 12% — mais do que o dobro da alíquota aplicada à carne
da Austrália, o maior exportador de carne bovina para a China. Os
criadores de gado na Nova Zelândia, o segundo maior exportador, usufruem
da isenção de impostos na China.
“Consigam o acordo comercial”, disse Jasja Kotterman, que administra o
rancho da família. “Isso igualaria as condições para nós.”
No entanto, o entusiasmo predominante no país sul-americano
ultimamente deu lugar à resignação da improbabilidade de que um acordo
comercial com a China aconteça tão cedo. O que chamou a atenção como uma
nova oportunidade para o Uruguai se transformou em um alerta das
armadilhas da política comercial para nações pequenas tentando lidar com
realinhamentos geopolíticos complexos.
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, apostou seu legado econômico narealização de um acordo comercial com a China.
“Temos toda a intenção de alcançá-lo”, disse ele em julho do ano
passado, ao anunciar o início das negociações formais. A China estava
disposta a conversar sobre um acordo bilateral com o Uruguai.
Mas as aspirações do Uruguaiprovocaram a ira e acusaçõesdos
vizinhos Brasil e Argentina, assim como o que foi visto como retaliação
econômica. Em conjunto com o Uruguai e o Paraguai, os dois países
pertencem ao Mercosul, uma aliança formada há mais de três décadas para promover o comércio na região.
Nos últimos meses, o Brasil passou por cima do Uruguai enquanto
tentava conseguir um acordo mais amplo com a China em nome do bloco.
“Queremos sentar à mesa (como Mercosul) e discutir com
nossos amigos chineses um acordo Mercosul-China”, disse o presidente do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma visita em janeiro à capital uruguaia, Montevidéu.
Em abril, Lula viajou para a China, onde foi recebido comtratamento especial, e participou de uma reunião com o principal líder do país, Xi Jinping.
“Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore a sua relação com a China”, disse Lula.
Qualquer interesse que o governo chinês tenha tido em fechar um
acordo com o Uruguai logo foi substituído pelo foco no Brasil, uma
decisão explicada por um cálculo básico de matemática: o Uruguai é um
país com 3,4 milhões de pessoas, enquanto o Brasil é a maior economia da
América do Sul e tem 214 milhões de habitantes.
Entretanto, apesar do presidente do Brasil ter declarado interesse em
intermediar um acordo comercial, a probabilidade de um acordo entre
Mercosul e China parece ser mínima ou inexistente.
O Mercosul, uma organização notoriamente lenta, repleta de discórdias
internas, passou mais de 20 anos tentando concluir as negociações de um
acordo comercial com a União Europeia. Um dos seus membros, o Paraguai,
não tem qualquer relação com Pequim. Em vez disso, mantém relações com
Taiwan. Só isso tornaria quase inimaginável a possibilidade de um acordo
entre o Mercosul e a China.
Tudo isso aumentou a probabilidade do Uruguai acabar prejudicando
suas relações com os vizinhos e não alcançar conquistas econômicas.
“O Uruguai está sendo usado como moeda de troca para a China negociar
com o Brasil”, disse Kotterman, supervisor do rancho Álamo, enquanto
uma lua cheia iluminava o pasto.
Reconfigurando o mapa
O alcance de um acordo comercial do Uruguai com a China ia além do
destino de seu gado. O governo do país estava tentando redefinir as
regras de relacionamento com o restante do mundo, enquanto desassociava a
nação do legado do protecionismo comercial que tem prevalecido nas
maiores economias da América do Sul.
O governo estava claramente recorrendo à China como um contrapeso ao domínio dos Estados Unidos no hemisfério sul.
Os sindicatos se opuseram à perspectiva de um acordo por considerarem
isso uma ameaça aos empregos com salários maiores nas fábricas,
enquanto os políticos — alguns dentro da coalizão do governo —
condenaram a aliança do presidente com a China dizendo que ela colocava
em risco a segurança nacional.
Mas a maior fonte de preocupação se concentra nas consequências de uma possível ruptura dentro do Mercosul, formado em 1991.
O Mercosul opera como um coletivo para estabelecer tarifas com o
resto do mundo. Ao tentar um acordo com a China, o Uruguai estava
violando a unidade do grupo. O país abriria seus mercados aos produtos
fabricados na China em troca de tarifas mais baixas sobre a carne bovina
exportada para Pequim. As vendas extras para os ranchos do Uruguai
aconteceriam às custas dos produtores de carne de bovina no Brasil e na
Argentina.
Para muitos, o Mercosul tem ficado muito aquém no seu objetivo de
catalisar um mercado comum na América do Sul. Seu suposto plano de
promoção do comércio tem sido frequentemente impedido pelos interesses
de setores politicamente poderosos no Brasil e na Argentina. Os dois
países conseguiram obter dezenas de isenções que evitaram a concorrência
de suas empresas com outras do bloco.
Entretanto, muitos líderes na região confiam na cooperação como
solução para alcançar a prosperidade e libertar o continente de sua
dependência desmedida da exploração de matérias-primas e cultivo de
commodities como a soja.
“O Mercosul é importante, e deveria ser mais importante”, disse
Martin Guzmán, ex-ministro da Economia da Argentina. “Não vejo uma saída
para o problema da estagnação do continente sem ser por meio de uma
maior integração.”
Ele criticou a busca do Uruguai por um acordo comercial com a China por ser uma ameaça ao bloco.
“Se todos se comportarem assim, haverá um preço a longo prazo”, afirmou.
Mais gado que pessoas
O Uruguai exporta aproximadamente 80% de sua carne bovina, ganhando
cerca de US$ 3 bilhões por ano, de acordo com o Instituto Nacional de
Carnes, uma agência governamental em Montevidéu. Mas os produtores de
carne bovina do país encaram impostos de 26% nos EUA e acima de 45% na
União Europeia, depois de esgotar uma pequena cota tarifária.
Isso torna a China um objetivo óbvio, ao mesmo tempo que leva a
conversas amargas, como a da recusa de Washington a negociar um acordo
comercial para abrir os mercados do país às exportações de carne bovina
do Uruguai.
“Os EUA falam muito de como valorizam a democracia e os direitos
humanos do Uruguai, mas, no fim, dão as costas para nós”, disse Conrado
Ferber, presidente do Instituto Nacional das Carnes. “É por isso que
estamos negociando com a China.”
Jorge González, que dirige um matadouro na pequena cidade de
Lavalleja, tem interesse principalmente nos compradores chineses porque
eles compram a vaca inteira. Os compradores europeus costumam se
interessar apenas pelas partes mais nobres que correspondem a menos da
metade da vaca. Os americanos compram um pouco mais, transformando os
cortes menos nobres em carne de hambúrguer.
Mas na China, uma variedade de pratos gastronômicos, como o hot pot
(uma espécie de fondue chinês), gera demanda por até mesmo porções de
carne menos nobres em fatias finas.
González, 56 anos, compra gado dos ranchos nas imediações e envia a
carne para uma linha de produção onde os trabalhadores realizam os
cortes e distribuem o produto em caixas. Ele exporta a maior parte de
sua produção para o mundo em navios porta-contêineres, 70% deles vão
para a China.
Sua fábrica tem capacidade suficiente para abater cerca de cem mil
animais por ano, quase o dobro do número atual. Um acordo comercial com a
China levaria os donos de ranchos locais a produzir mais, disse ele.
González tem esperança de que algum tipo de acordo com a China ainda
possa ser alcançado devido às virtudes do Uruguai como produtor de
alimentos. O país tem espaços livres enormes e aproximadamente quatro
vezes mais vacas do que habitantes, o que o torna um lugar útil para a
produção de carne para exportação.
“Os chineses estão em busca de um fornecimento garantido de alimentos”, disse González./Tradução de Romina Cácia