O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador
venezuelano, Nicolás Maduro, durante encontro realizado em maio deste
ano no Palácio do Planalto em Brasília.| Foto: EFE/Andre Coelho
“Quando eu uso uma palavra, ela significa o que eu desejo que ela
signifique, nem mais, nem menos”, dizia Humpty Dumpty, personagem de
Alice através do espelho, de Lewis Carroll. Uma ideia que foi
desenvolvida por George Orwell com a “novilíngua” de 1984 e que volta à
tona graças ao presidente Lula, que, para defender o ditador venezuelano
Nicolás Maduro, seu parceiro ideológico, alegou que “democracia é um
conceito relativo” durante entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã desta
quinta-feira, horas antes de discursar no encontro do Foro de São Paulo,
em Brasília.
O recurso, evidentemente, não é nada novo na esquerda, que abusou e
ainda abusa do termo “democrático” inclusive nos nomes oficiais de
ditaduras comunistas, como ocorrera na República Democrática Alemã (a
antiga Alemanha Oriental) ou no Kampuchea Democrático (o Camboja sob o
regime genocida do Khmer Vermelho), e ainda ocorre na República Popular
Democrática da Coreia, a Coreia do Norte. Chamar ditaduras de
democracias não é novidade nem para Lula, que em 2005 dissera que a
Venezuela, já sob o jugo de Hugo Chávez, tinha “excesso de democracia”.
Mas, infelizmente para o presidente brasileiro, seu poder sobre as
palavras não é tão grande quanto ele gostaria que fosse.
Esse tipo de apoio a ditaduras latino-americanas, que já seria um
problema por si só, indica também que Lula as enxerga como modelo para o
Brasil
Qualquer cientista político que não esteja acometido de grave
cegueira ideológica haverá de concordar que não basta a realização
periódica de eleições para caracterizar uma democracia; é preciso que
elas sejam limpas e livres. Mas não apenas isso: a democracia requer
respeito a garantias e liberdades como as de expressão, de imprensa e
religiosa; a tripartição de poderes, que funcionam sem relações de
interferência ou subordinação, dentro de um sistema de freios e
contrapesos; o império da lei, que prevalece sobre a vontade de qualquer
detentor de cargo eletivo ou magistrado.
E, se é assim, em democracias dignas deste nome não se perseguem –
seja ostensivamente, seja de forma mais sutil – adversários políticos do
governo de turno, expurgando-os, cassando seus mandatos ou impedindo-os
de participar de eleições de forma arbitrária, contornando a lei e o
devido processo legal; não se amordaçam veículos de imprensa que prezam
por sua independência e se recusam a se curvar a um governante ou a uma
ideologia; não se absorvem os demais poderes, submetidos à hegemonia
total do governante; não se desrespeita a liberdade religiosa, usando de
todos os meios, de uma Justiça aparelhada a gangues paramilitares, para
calar clérigos e banir entidades religiosas. São critérios objetivos
que ajudam a avaliar se uma nação é ou não democrática – uma avaliação
extremamente simples de se fazer quando se trata de regimes como o
venezuelano, o cubano ou o nicaraguense.
VEJA TAMBÉM: A diplomacia brasileira a serviço da defesa das ditaduras (editorial de 16 de junho de 2023) Lula, a insanidade, os sonhos totalitários e a necessária vigilância da sociedade (editorial de 31 de maio de 2023) O império da mentira quer definir o que é verdade (editorial de 29 de março de 2023)
Apesar de tudo isso, também é preciso dizer que Lula, ao fazer
declarações como a desta quinta-feira, não surpreende ninguém que não
quisesse ser surpreendido. Nem ele, nem seu partido, jamais recuaram em
seu apoio entusiasmado a carniceiros como Fidel e Raúl Castro, Hugo
Chávez, Maduro ou Daniel Ortega. Mesmo durante a campanha eleitoral,
enquanto vendia uma imagem de “democrata” e “moderado” que só foi
comprada ou pelos muito incautos ou pelos que se empenharam em adotar
uma versão extrema da chamada “suspensão da descrença”, Lula não deixou
de prestigiar seus camaradas ideológicos, mostrando no que se tornaria a
política externa brasileira assim que ele subisse a rampa do Planalto.
O problema maior, evidentemente, é que esse tipo de apoio a ditaduras
latino-americanas, que já seria um problema por si só, indica também
que Lula as enxerga como modelo para o Brasil. O “moderado” e
“democrata” cujo partido montou esquemas de corrupção para fraudar a
democracia brasileira não uma, mas duas vezes não disfarça a alegria de
ver seus oponentes e aqueles que aplicaram a lei para colocá-lo na
cadeia sendo, aos poucos, afastados da vida política. Enquanto isso, seu
governo busca meios de controlar o discurso na imprensa e,
especialmente, nas mídias sociais, seja em projetos de lei, seja por
meio de órgãos de Estado como o “Ministério da Verdade” instalado dentro
da Advocacia-Geral da União e da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República. No fim, tudo aponta para a certeza de que a
atitude lulista em relação à democracia é levar a sério aquilo que
Millôr Fernandes dizia como sátira: “democracia é quando eu mando em
você, ditadura é quando você manda em mim”.
Lula diz que não se sente ofendido por ser chamado de comunista e critica “ricos em submarinos” Por Carinne Souza – Gazeta do Povo
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante Foro de São Paulo| Foto: Reprodução / Twitter do PT
Durante
o discurso no Foro de São Paulo, nesta quinta-feira (29), o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não se sente ofendido por ser
chamado de “comunista”. O evento começou nesta quinta e termina no
próximo domingo (2).
“Nós não ficamos ofendidos por sermos chamados de comunistas.
Ficaríamos ofendidos se nos chamássemos de nazistas, neonazistas e
terroristas. Ser chamado de socialista ou comunista nos dá orgulho e, às
vezes, a gente sabe que merecemos sermos chamados assim”, disse. Ideias: Muitas pessoas ainda negam os males do comunismo Lula
foi o responsável pelo principal discurso no evento de abertura do 26º
encontro anual do Foro de São Paulo. Ao longo de 35 minutos, o petista
citou as dificuldades que a esquerda tem encontrado pelo mundo e falou
sobre a necessidade de integração entre os povos da América Latina e
Caribe para adentrar espaços ocupados pela extrema direita.
“É preciso que a gente rediscuta o discurso da esquerda. Muitas
vezes, a direita tem mais facilidade do que nós com um discurso
fascista. Na Europa, a esquerda perdeu o discurso para a questão da
migração”, disse o petista.
Lula critica “ricos em submarinos” O presidente também voltou a
criticar a desigualdade e a fome em seu discurso. De acordo com o
petista, “é inaceitável que crianças morram de fome enquanto ricos
paguem passagem de foguete e de submarino”.
Lula fez referência aos passageiros do submarino Titan, da empresa
OceanGate, que morreram na última semana após fazerem uma expedição para
visita os destroços do Titanic. A viagem era feita por cinco
milionários que pagaram cerca de R$ 1 milhão para realizar o tour.
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Críticas e elogios a Chávez Criticado por homenagear ditadores
como Fidel Castro e Hugo Chávez, acusados de crimes políticos e contra
os direitos humanos, Lula tentou legitimar o Foro ao fazer críticas ao
antigo ditador venezuelano. De acordo com o petista, Chávez foi impedido
de fazer parte da organização nos anos de 1990.
“No nosso segundo encontro, Chávez quis participar [do Foro] e nos
não deixamos. Na época, ele tentou dar o golpe na Venezuela e nos não
deixamos. Falamos ‘você não é democrático e não vai participar'”, disse
Lula. Ainda de acordo com o mandatário brasileiro, todos os membros da
organização tinham essa consciência.
Em seguida, Lula voltou atrás e elogiou o “companheiro Chávez”. O
mandatário brasileiro revelou que “admirava” o ditador venezuelano
porque ele “fazia críticas pessoalmente e elogiava em público”.
Hugo Chávez passou a integrar o grupo anos depois após chegar à
presidência venezuelana. Chávez foi eleito em 1998 para um governo que
deveria ter durado um mandato de cinco anos, mas ficou 14 anos no poder
depois que a Constituição venezuelana sofreu diversas alterações para
que ele não perdesse seu posto.
Em 2009, Hugo Chávez criou uma emenda constitucional que permitia
reeleições ilimitadas e, enquanto estava à frente do país, falava em ser
“presidente até 2030”. O mandatário venezuelano só deixou o cargo em
2013, quando morreu de câncer. O governo chavista foi marcado por uma
série de acusações de crimes contra os direitos humanos e pelas mortes
de manifestantes.
Cobranças à esquerda
Em meio ao pronunciamento que elogiava a união do Foro de São Paulo, o
petista fez uma série de críticas veladas a parceiros da esquerda.
“Entre amigos, a gente conversa pessoalmente e não faz críticas
públicas, porque as críticas interessam à extrema-direita, não ao povo”,
declarou.
“Se nós tivermos algum problema com algum companheiro, a gente, em
vez de criticá-lo publicamente, tem de conversar pessoalmente. Eu sou
presidente, mas nenhum de vocês está proibido de fazer crítica a mim”,
disse.
“Muitas vezes, nós da esquerda latino-americanas nos autodestruímos
porque utilizamos nossos adversário, através dos meios de comunicação,
para falar mal de nós mesmos, para tentar nos destruir e mostrar os
defeitos. As virtudes nunca são mostradas”, declarou.
Foro de São Paulo Fundado em 1990 por Lula e o antigo ditador
cubano Fidel Castro, o Foro de São Paulo foi criado com o intuito de
reunir a esquerda na América Latina após o colapso da União Soviética.
Em 33 anos, a organização se consolidou como uma força que tenta impor
pautas de esquerda ao subcontinente, apoiou grupos criminosos como as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e faz vistas grossas a
ditaduras.
Em seu pronunciamento, Lula relembrou a criação da organização e
classificou o Foro como “uma bênção”. Em 1985, eu tinha consciência de
que a gente jamais poderia chegar ao poder pela via do voto e pela via
democrática, era uma coisa que eu tinha na cabeça naquele momento: ‘não é
possível que um operário seja presidente pelo voto’. [Quando eu criei o
Foro] eu falava que era preciso criar um mecanismo que evoluísse a
consciência política das pessoas para elas votarem na gente”, disse.
O petista contou que a ideia da criação do Foro surgiu de quando ele
fazia uma viagem a Cuba, no final dos anos 80. “Eu e Marco Aurélio
conversávamos com Fidel Castro e falamos da possibilidade de fazer uma
reunião com a esquerda latino-americana. Na época, os partidos eram
pequenos e lutavam para ganhar espaços em seus países”, afirmou o
petista.
Atualmente, organização reúne 123 partidos de esquerda de 27 países
latino-americanos e caribenhos. Em solo brasileiro, de acordo com o site
da organização, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Comunista
do Brasil (PCdoB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido
Democrático Trabalhista (PDT) estão na lista de associados ao grupo.
Procurada pela reportagem, no entanto, a assessoria do PDT que informou
que não faz mais parte do grupo, ainda que o nome do partido conste na
lista de associados no site do Foro de São Paulo.
Mercenários Fundado por nazista, com marreta para tortura: as entranhas do Grupo Wagner
Por Eli Vieira – Gazeta do Povo
Vladimir Putin, presidente russo, visita a fábrica de merenda escolar
do empresário Yevgeny Prigozhin em setembro de 2010.| Foto: Governo da
Federação Russa
“Wagner: Por dentro do exército privado de Putin”
explora a formação e ações do Grupo Wagner, uma organização paramilitar
privada russa. Revela a relação próxima do grupo com o Kremlin, apesar das negativas oficiais, mostrando seu papel em conflitos internacionais. O
documentário traz entrevistas exclusivas, imagens de drones e um olhar
detalhado sobre como este grupo impacta a política global.
Um ex-assaltante de São Petersburgo recém-saído da prisão, ao
testemunhar a queda do maior bloco socialista que já existiu, vê uma
oportunidade. Ele abre um restaurante, o presidente do país (Vladimir
Putin) logo se torna um cliente, realizando ali mesmo jantares
cerimoniais com a presença de líderes como o ex-presidente francês
Jacques Chirac e o americano George W. Bush. Aproveitando a nova amizade
com Putin, o ex-assaltante logo passa a ser o principal fornecedor de
merenda para as escolas da capital do país, além da ração militar para
soldados. O dinheiro é fácil e volumoso, cerca de US$ 3 bilhões (R$ 18
bi na cotação atual, com inflação) só entre 2011 e 2019, segundo o
jornal Current Time. O monopólio em contratos de licitações se expande
para construção, a organização lembra a máfia.
Com o passar das décadas, o ex-presidiário continua farejando
oportunidades, até se tornar a principal cabeça por trás de um grupo de
mercenários empregado no conflito da Síria e na Guerra da Ucrânia. Em um
país sem liberdade de expressão, ele critica abertamente o Ministro da
Defesa e até arquiteta uma ameaça de tomada militar do governo, tudo
para dar meia volta, sem sofrer retaliação dos ameaçados e insultados.
Como ainda usa um linguajar de um rapaz comum das ruas de São
Petersburgo, com piadas chulas, insultos abertos aos adversários, além
de um tino afiado para o marketing, ele tem um apelo popular comparável
ao de Donald Trump. É possível até que aquele velho amigo do
restaurante, Vladimir Putin, hoje estremeça ao pensar do que mais ele é
capaz.
Essa é a história real de Yevgeny Prigozhin, 62 anos, contada no
documentário “Wagner: Por dentro do exército privado de Putin” (Java
Films, 2023 — ainda não disponível em plataformas de streaming). É um
filme com apenas uma hora de duração, mas denso em detalhes. A direção
de Raphaël Pellegrino se permite alguns poucos floreios, como a
alternância de tempo na narrativa, mas não tem tempo para gorduras:
especialistas franceses e testemunhas oculares dão uma sensação de
nutrição informacional ao espectador, que termina saciado e, se
sensível, profundamente perturbado.
A origem do Grupo Wagner Três ex-empregados como mercenários de
Prigozhin são entrevistados: dois grisalhos, que estavam lá no começo,
Aleksandr e Marat Gabidoulline, exilados na França; e Viktor, um mais
jovem que esconde o rosto e foi filmado na Crimeia.
O grupo de mercenários começou a se formar em 2014, quando
separatistas de língua russa do Donbas, no leste da Ucrânia, tentavam a
secessão. O Kremlin ajudava, fazendo propaganda que alegava que pessoas
seriam mortas na região só por falar a língua russa. Aleksandr estava
entre os seduzidos e recrutados entre os separatistas. Duas regiões
declararam independência, e Putin viu a oportunidade para anexar a
Crimeia.
A principal conexão do governo russo com o Grupo Wagner é a Diretoria
Central de Pessoal das Forças Armadas da Federação Russa, antes chamada
de Diretoria Central de Inteligência, conhecida pela sigla GRU. A
unidade, que é parte do Ministério da Defesa, tem como principal elo
comprobatório com os mercenários o fundador do grupo, Dmitri Utkin, que
ela recrutou como um primeiro líder.
Utkin é, nas palavras dos entrevistados, um “valentão útil” de 1,90m.
Após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, circularam entre
simpatizantes de Putin tentativas de associar os ucranianos ao
neonazismo. Quem tem foto na companhia de um neonazista, contudo, é
Putin: o comandante Utkin tem tatuagens em homenagem aos genocidas
alemães. Uma delas, acima da clavícula direita, é o logo da SS —
organização paramilitar do Partido Nazista. Ele escolheu a alcunha
“Wagner” para o grupo de mercenários porque é o nome do compositor
favorito de Adolf Hitler.
A fundação do Wagner veio em 2015, na região de Krasnodar, sudoeste
da Rússia, perto da Ucrânia. Com os mercenários, a GRU conquistou algo
caro às suas atividades de inteligência militar: negabilidade plausível,
caso quisessem executar ações como golpe militar na Ucrânia. Os
uniformes eram russos, o treinamento era feito na base de Molkino, do
Ministério da Defesa, mas nada disso era oficial.
A não-oficialidade do Wagner também em outras funções: o
ex-mercenário Marat Gabidoulline conta que ele foi dispensado da
carreira militar depois de assassinar um mafioso em 1993 e cumprir pena
de três anos. A ficha criminal é problema nas Forças Armadas oficiais,
mas não no grupo de mercenários — o recrutamento de fichas-sujas é um
“jeitinho russo” para driblar leis e práticas do próprio país.
Gabidoulline foi lutar na Síria em 2015, a favor de Bashar al-Assad
contra os insurgentes jihadistas. Na época, eram 1500 mercenários ao
todo.
Ele não é exceção: em setembro de 2022, Prigozhin, que até então
negava ser o cabeça do grupo, foi às prisões recrutar mais mercenários
para o front da Ucrânia e abriu o jogo: imagens o mostram cercado de
presidiários, dizendo que é o chefe do Wagner, do qual eles já tinham
ouvido falar. “Queremos os que gostam de lutar e precisam lutar”, diz
ele. “O uniforme lhes permitirá fazer isso”. A campanha publicitária
funcionou: em poucos meses, 40 mil presos se juntaram aos mercenários.
Como surgiu a rivalidade do Grupo Wagner com o Ministério da Defesa Foi
a negabilidade plausível a semente da discórdia entre Prigozhin e
Sergei Shoigu, ministro da Defesa russo. Em 2018, na Síria, os
americanos avistaram por satélite mercenários do Wagner que tinham como
missão retomar campos de petróleo das mãos dos jihadistas para al-Assad.
Em troca da defesa, al-Assad cedeu 25% dos lucros do petróleo para o
grupo.
Os americanos ligaram para o Ministério da Defesa, perguntando se
aqueles eram seus homens. O ministério negou. Assim, Washington
sentiu-se livre para bombardeá-los. Cem deles morreram, 23 do grupo de
Gabidoulline, que foi atingido por estilhaços e ficou com sequelas na
perna esquerda. O ex-combatente se sente traído. “Sou mercenário, sim.
Fui para lá por contrato. Não significa que a minha vida, o meu direito à
vida, pode ser ignorado”, diz ele. Foi assim que o ex-oficial descobriu
que ele e seus colegas eram bucha de canhão para o Ministério da Defesa
e o Exército.
Os mercenários são 20% do contingente russo no conflito da Ucrânia.
Mais motivados, são proibidos de bater em retirada. Em cada
enfrentamento, cerca de 80% deles terminam mortos. E seus corpos são
utilizados por Prigozhin em sua guerra de propaganda contra Shoigu e seu
ministério. O empresário também aparece de capacete e colete à prova de
balas, lançando petardos verbais contra o presidente ucraniano
Volodymyr Zelensky a cada cidade conquistada, para realçar o contraste
entre a sua atitude e a dos líderes no Kremlin confortáveis em seus
escritórios. Um mestre da propaganda.
Atrocidades na África Enquanto Prigozhin coloca seus homens no
moedor de carne na Ucrânia e participa de aventuras como ameaçar tomar
Moscou e desistir a 200km da capital, sem grandes retaliações de Putin,
que o deixou partir para Belarus; é na África que o Wagner cresce de
verdade.
A República Centro-Africana (RCA) e seu presidente, Faustin-Archange
Touadéra, comem na mão dos mercenários. O documentário mostra os membros
do Wagner andando pelas ruas sem pavimentação da capital Bangui. A
câmera é escondida, pois três repórteres russos morreram por lá em
circunstâncias suspeitas, em 2018.
O parlamentar Joseph Bendounga é taxativo: diz que o grupo Wagner é
terrorista e que Touadéra “vendeu a alma para sentar na cadeira de
presidente”, “um mero lacaio da Rússia”. Outro entrevistado mostra
documentos que revelam os interesses de Prigozhin na região: em 2019, o
presidente da RCA rescindiu misteriosamente um contrato com uma empresa
canadense que operava em uma mina de ouro da região, na jazida de
Ndassima. Três dias antes da reabertura das licitações, foi criada uma
empresa chamada Midas Ressources, que fechou contrato. Em seu site, a
empresa alega genericamente ter uma longa tradição ao redor do mundo.
Mas um documento do Ministério de Minas endereçado a Touadéra deixa
escapar um detalhe: “empresa russa”. O Departamento de Tesouro americano
afirma que a Midas tem ligação direta a Prigozhin.
O Wagner também tem interesse em minas mais artesanais. Uma
testemunha ocular entrevistada descreve uma atrocidade em uma mina de
ouro de Aïgbado, vila no Leste da RCA. Helicópteros apareceram e
começaram a alvejar civis (os únicos presentes no local). “Vi coisas
terríveis. Pessoas cortadas ao meio por morteiros e projéteis. Mulheres e
crianças perderam a vida. Outros morreram na minha frente com os
ferimentos”, relata o homem, que agora se esconde na capital. “Nunca
esquecerei”. Entre 65 e 70 pessoas morreram. O relato é corroborado por
reportagem do jornal The Daily Beast.
O documentário também ouviu uma organização de apoio a mulheres
vítimas de abuso, a Omica. O líder da ONG acusa os mercenários de
dezenas de casos de estupro, inclusive estupro coletivo de 16 homens
contra uma única mulher. Uma vítima que teve parentes e o marido morto e
foi estuprada por quatro presta depoimento frente às câmeras. Com os
laços do governo da RCA com o Wagner, é improvável que obtenham justiça.
O magnata hoje tem um grande conglomerado, o Concord Group, com cerca
de 400 empresas em mineração, hotelaria e até mídia. Uma iniciativa
midiática é a Internet Research Agency, que faz propaganda contra o
Ocidente. Uma das mais notórias das campanhas de propaganda contra a
França foi feita no Mali, também uma ex-colônia francesa. Tropas
francesas estão no país, com a justificativa de combate ao terrorismo,
desde 2013. Em abril de 2022, uma conta anônima no Twitter postou fotos e
vídeos acusando os militares franceses de executar malianos e jogá-los
em uma cova coletiva. Os franceses agiram rápido: mandaram um drone para
fazer imagens aéreas. Nas imagens, homens de uniforme russo usam pás
para montar a cena com cadáveres que obtiveram de outro local.
A marreta Um objeto que se tornou símbolo do grupo Wagner é a
marreta de demolição. Um dos primeiros registros de seu uso foi contra
um desertor do exército de al-Assad na Síria, em 2017. As imagens
mostram os mercenários esmagando os pés do homem, que tem identidade
conhecida. Ele foi esquartejado, seus restos foram içados em um gancho e
incinerados.
A marreta também foi usada contra um desertor do próprio grupo,
Yevgeny Anatolyevich, que se identifica assim em um vídeo que circulou
nas redes sociais no final de 2022. Logo após dar seu nome, dizer que
nasceu em 1967 e fazer uma breve declaração, ele é esmagado.
Após a repercussão, Prigozhin publicou uma nota oficial comentando o
caso: “Eles o mataram como o cão que ele era. Parabéns ao realizador.
Belo trabalho. Dá para assistir numa sentada. Espero que nenhum animal
tenha sido ferido na filmagem.” Em janeiro de 2023, mesmo mês em que
acusou o Ministério da Defesa russo de traição, usando fotos de dezenas
de mercenários mortos, ele presenteou os combatentes com uma marreta
decorada com o logo do Wagner.
O documentário vai até logo antes da intentona abortada de Prigozhin
contra o Ministério da Defesa. Desde então, Putin reconheceu que era o
governo russo quem financiava o grupo Wagner.
Ministro Benedito Gonçalves. relator da ação no TSE, votou pela
inelegibilidade de Jair Bolsonaro.| Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE
Nesta sexta, Jair Bolsonaro vai ficar inelegível até 2030. Já está 3 a
1 – o único voto favorável foi o do ministro Raul Araújo, que ficou do
lado da Constituição, do inciso IV do artigo 5.º, que diz que, não
havendo anonimato, é livre a manifestação do pensamento. Isso vale para
presidente da República também, e foi isso que Bolsonaro fez diante dos
embaixadores no Alvorada, mostrando as suas desconfianças em relação à
urna sem comprovante de voto. Ironicamente, quem apresentou a queixa ao
TSE foi um partido que desde sempre defende o comprovante do voto. Desde
que o seu líder máximo, Leonel Brizola, botou a boca no mundo para não
ser prejudicado na contagem informatizada lá da Proconsult. Se não
tivesse gritado, talvez ele não teria sido eleito governador do Rio de
Janeiro.
O relator Benedito Gonçalves gastou 382 páginas para demonstrar que
Bolsonaro praticou crime eleitoral, de abuso do poder econômico e poder
político ao falar para os embaixadores estrangeiros, que não são
eleitores no Brasil. De 3 a 1 o placar deve ir para 5 a 2. Supõe-se que
Kassio Nunes Marques possa votar a favor dele, mas os outros votos são
da ministra Cármen Lúcia e do ministro Alexandre de Moraes.
O que vai acontecer agora é que Bolsonaro vai ser turbinado. Estão
dizendo que ele está sendo crucificado, vai virar Cristo alguém que já
tem Messias no nome, e talvez seja um empuxe aí de ressurreição, porque
ele não vai poder receber voto, mas cada vez mais é reforçada a
possibilidade de ele eleger pessoas como tem feito até hoje. Elegeu
governadores, elegeu senadores, elegeu deputados, é o que tem feito
nesses dias.
VEJA TAMBÉM: Calvário no TSE? Para incriminar Bolsonaro, acharam só cartão de vacina e reunião com embaixador Justiça, só com Deus Alysson Paolinelli, herói brasileiro que a esquerda ignora
Nesta quinta-feira, o presidente Lula participou do Foro de São
Paulo. Que muita gente, durante a campanha eleitoral, disse que não
existia, que era uma invenção, mas não é. Está aí o Foro de São Paulo,
criado por Lula, Fidel Castro e Hugo Chávez, como alternativa para o fim
da União Soviética, para o marxismo continuar no terreno fértil da
América Latina. Lula, talvez tão envolvido com o Foro de São Paulo, não
teve tempo – pelo menos eu não vi – de declarar luto nacional pela morte
de um herói, Alysson Paolinelli, que fez a revolução verde no Brasil,
da agricultura tropical.
Agricultura, no mundo, só dava certo em região temperada. Mas Alysson
Paolinelli e sua equipe da Embrapa converteram o Brasil no celeiro do
mundo, evitando a fome que é motivo para guerras. Por isso ele foi
indicado por duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, e ganhou aquele que é
chamado de “Nobel da Agricultura”, que é o World Food Prize, em 2006.
Ele foi ministro no governo Geisel e foi três vezes secretário de
Agricultura em Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema e muitas
prefeituras decretaram luto. Tomara que alguém pense em levar o nome
dele para o Panteão dos Heróis, lá na Praça dos Três Poderes.
Ficamos muito orgulhosos em saber que nós somos capazes de produzir
homens da estatura de Alysson Paolinelli. Eu quero fazer esse registro
porque me orgulho de ter convivido com ele desde o início, quando chegou
aquele jovem com quatro anos a mais do que eu. Ele tinha 37, 38 anos
quando virou ministro da Agricultura. Um hectare no cerrado não valia um
tostão furado. Hoje, o fruto é de grandes colheitas que dão equilíbrio
para a balança comercial brasileira, para o nosso balanço de pagamentos,
que trazem divisas que permitem que importemos e que cresçamos.
Partido de Bolsonaro criticou julgamento no TSE e diz que ação
quer tirar o ex-presidente conservador de cena.| Foto: Isaac Fontana/EFE
Imagine-se,
por não mais do que três minutos, o que estaria acontecendo se o réu a
ser executado no julgamento do TSE, e transformado em pária
“inelegível”, fosse o presidente Lula – e não Jair Bolsonaro. Por que
não? Lula foi condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro,
em três instâncias e por nove juízes diferentes. Bolsonaro não foi
condenado por crime nenhum. Seria então muito razoável que Lula, e não o
seu antecessor, fosse o homem que o TSE quer eliminar da política
brasileira.
É melhor nem pensar num cataclisma desses. Lula inelegível, por
violação da Lei da Ficha Limpa? O mundo viria abaixo. Os signatários da
Carta aos Brasileiros estariam em absoluta crise de nervos. A esquerda
iria pedir a intervenção da ONU no Brasil. O MST iria colocar o seu
“exército” nas ruas para derrubar a condenação. Nos cinco continentes,
os militantes do “campo progressista”, o Greenpeace e os bilionários
socialistas estariam horrorizados com o que chamariam de maior agressão
já feita contra a democracia desde as disputas da Grécia Antiga. Mas o
pelotão de fuzilamento foi montado para liquidar Bolsonaro; nesse caso,
vale tudo. A esquerda e os liberais do “Brasil civilizado” dizem que a
condenação vai salvar a “democracia”. Fim da discussão.
O pelotão de fuzilamento foi montado para liquidar Bolsonaro; nesse caso, vale tudo.
Não importa, nesse caso, o que a lei manda que se faça – se
importasse alguma coisa, Bolsonaro não estaria respondendo a processo
nenhum, pois não fez nada de ilegal. Mas, como dizem os próprios autores
da ação contra o ex-presidente, “os fatos” não devem contar nesse caso,
nem a “letra fria” da lei. A “salvação da democracia”, no seu
entendimento, deve estar acima dos fatos e da lei – é um bem supremo, e
para preservar essa preciosidade 140 milhões de eleitores brasileiros
devem ser proibidos de votar em Bolsonaro. Essa gente não sabe votar, na
visão do STF-TSE e da esquerda nacional; tem de ser protegida dos seus
erros pela autoridade superior.
Bolsonaro criou, segundo os acusadores, “um clima antidemocrático” no
Brasil. Quis dar um “golpe”; não deu, mas provavelmente iria dar, ou
deixou a impressão que daria, ou bem que poderia ter dado. É esse o
“arcabouço” amplo e geral das acusações feitas contra ele. Nada disso é
crime, obviamente, nem aqui e nem em lugar nenhum do mundo. Mas o
ex-presidente está sendo julgado não pelo que fez, mas por ser quem é.
VEJA TAMBÉM: Bolsonaro ficará inelegível simplesmente porque o consórcio Lula-STF assim deseja O voto do cidadão só tem valor se receber a aprovação do TSE e do STF O programa estratégico de Lula é atender suas próprias vontades
Tudo serve, aí. Bolsonaro é culpado por criar “desconfiança” em
relação às urnas eletrônicas – quando o próprio Congresso Nacional
aprovou uma lei mandando substituir o sistema atual por um outro, em que
os votos pudessem ser comprovados por escrito. Que desconfiança maior
do que essa poderia haver? Dizem que as “minutas do golpe” indicam sua
participação em planos para eliminar o “Estado de Direito” – um
disparate tão óbvio que um ministro do próprio TSE achou a história toda
sem pé e sem cabeça.
O ex-presidente é acusado, também, de ser “o responsável”, de um
jeito ou de outro, pelos atos de violência em Brasília no dia 8 de
janeiro – embora estivesse a 3.500 quilômetros de distância do Brasil
neste dia, e não haja nem um átomo de prova material de que tivesse
alguma coisa a ver com o que aconteceu. Mais que tudo, ele perdeu a
eleição – é acusado de influenciar a votação com “o uso indevido” do
poder, mas perdeu. Que golpe é esse?
A democracia relativa de Lula, o super-homem inimputável
Por Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo
Lula, o inimputável, chupando uma poncã, mexerica, morgote,
bergamota ou mimosa. Sei lá!| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência
Brasil
No começo do ano, quando Reinaldo Azevedo teve a duvidosa honra
de entrevistar cara a cara, tête à tête, o Lula, lembro que ele fez uma
pergunta que me deixou mais intrigado do que revoltado. Ele perguntou
como o Lula fazia para não se sentir imortal ou invencível ou
indestrutível ou qualquer coisa assim. Principalmente depois de ter sido
o primeiro ex-presidiário eleito presidente do Brasil. O primeiro de
muitos, suponho.
E aqui abro um parêntesis bem rapidinho para pedir desculpas. Talvez o
Reinaldo Azevedo tenha usado outro adjetivo para seu rapapé travestido
de jornalismo. Mas a ideia era essa e, no mais, você não vai me obrigar a
assistir àquilo tudo, né? E aqui abro outro parêntesis mais ligeiro
ainda para dizer que, sempre que uso “àquilo”, me lembro da velha
professora de português que ensinava: não se usa crase antes do
masculino. Sabe de nada, inocente!
Fechados os parêntesis, volto a Lula e a Reinaldo Azevedo para dizer
que o maior vira-casaca da história recente estava certo. Lula é mesmo
invencível. Imortal, no sentido político da coisa. Indestrutível. Um
super-homem. A maior prova disso são as bobagens que ele vem
colecionando nos últimos meses e que, na boca de um Bolsonaro qualquer,
já teriam reduzido a República a escombros. O mais recente exemplo dessa
indestrutibilidade de Lula é a exaltação do processo eleitoral
venezuelano, seguida pela declaração surpreendentemente honesta (!?) de
que “o conceito de democracia é relativo”.
Neste momento, interrompo o texto para confessar que é muito estranho
usar Lula e “honesto” na mesma frase. Tive que ler uma, duas, dez vezes
para ver se fazia sentido. Até coloquei um “surpreendentemente” ali,
para dar uma disfarçada. Mas não sei se o advérbio expressa toda a minha
estranheza. Até porque, ao ouvir essas palavras pronunciadas na voz
cavernosa de Lula, me peguei concordando com o Montesquieu de Garanhuns.
Parem as máquinas! Difícil não concordar. Afinal, vivemos hoje a
democracia mais relativa de todos os tempos. Ou pelo menos dos tempos
que eu vivi. Uma democracia tão relativa que pode querer fechar rádio
crítica ao governo. Uma democracia tão relativa que pode considerar um
ex-presidente inelegível por causa de uma reunião à toa. Uma democracia
tão relativa que abriga reunião de ditadores. Uma democracia tão
relativa que… ah, você entendeu.
Mas sou obrigado a novamente evocar o nome do ex-presidente para
dizer que, por muito muito muito MUITO menos, os Reinaldos Azevedos e
Mírians Leitões dos Pravdas da vida pediram impeachment, Tribunal de
Haia, guilhotina e paredón para Bolsonaro. Que, vamos combinar, não era
exatamente um ás das palavras. Esse rigor todo dos puritanos democratas é
que nunca entendi. Se bem que faço questão de não entender gente má.
Por falar em “ás das palavras”, PAREM AS MÁQUINAS!
Porque me ocorreu agora (me lembrei de “Tempos Modernos”, de Paul
Johnson) que a fala de Lula revela o quanto o ex-condenado se deixou
corromper pela mentalidade progressista, para a qual a fronteira entre o
certo e o errado não existe. Isso talvez explique a sem-cerimônia com
que ele mente, vive uma vida mentirosa e faz política idem. Afinal,
qualquer psicanalista de botequim sabe que a relativização de tudo (da
verdade, do Bem, do certo) é uma forma que as pessoas encontram de
justificar seus piores pecados. E de conviver “em paz” com eles. Uau.
Ou seja, temos o chefe de um poder, o Executivo, sem qualquer tipo de
freio, seja ele eleitoral, moral ou institucional. Temos um presidente
que fala o que quer e faz o que lhe dá na telha. E ainda há quem diga
que isso é uma democracia. Viu como é mesmo relativo o conceito? (E só
porque odeio terminar texto com pergunta fica aqui mais este
parêntesis).
O fenômeno, dizem especialistas, amplia o desafio de equilibrar as
contas do setor para operadoras de saúde e usuários, e escancara a
urgência de alterações no modelo de prestação de serviço, que deve ter
foco maior no acompanhamento de doenças crônicas e prevenção de
complicações. Se nada for feito, afirmam, os custos podem aumentar a
ponto de o plano de saúde passar a ser um artigo de luxo no futuro.
Historicamente, o maior volume de jovens entre os clientes ajuda a
compensar o aumento de custos que acontece durante o envelhecimento,
período da vida em que os beneficiários utilizam mais os planos. No
Brasil, o envelhecimento populacional vem
acontecendo de forma mais acelerada do que em outros países que
passaram pelo processo, o que explica o aumento de clientes idosos.
Por outro lado, as crises econômicas de 2015 e dos anos de pandemia
reduziram o número de empregos formais e, consequentemente, de
beneficiários mais jovens. Isso porque 83% dos cerca de 50 milhões de
brasileiros que possuem convênio médico são clientes de planos
empresariais.
Segundo levantamento da ANS feito a pedido do Estadão,
o número de beneficiários na faixa etária dos 20 aos 39 anos caiu 7,6%
entre 2013 e 2023, enquanto o de maiores de 60 anos saltou 32,6% no
período, índice muito superior à alta de 5,3% no total de clientes de
convênios médicos.
A faixa etária com a maior queda foi a dos 25 aos 29 anos, com
redução de 18,1% nos últimos dez anos. Já na outra ponta, o grupo de
idosos de 70 a 74 anos aumentou 41,9%. A segunda faixa etária com maior
aumento foi a de clientes com 80 anos ou mais – alta de 39,5%. Com isso,
a proporção de idosos entre o total de clientes de convênios passou de
11,4% para 14,4% na última década.
“O progresso material e os avanços da Medicina estão permitindo que a
gente viva mais. O que chama a atenção é a velocidade com que esse
processo está acontecendo. O que estamos vivendo em 20 anos, países
europeus demoraram mais de cem anos para viver”, diz José Cechin,
superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar
(IESS).
Além de o número de idosos estar aumentando no País, esse segmento
populacional é o que registra a menor rotatividade nos planos. “Eles
saem menos e trocam menos de operadora porque é mais difícil conseguirem
trocar e porque a percepção de necessidade é maior. Muitas vezes o
plano de saúde do idoso é rateado por toda a família”, diz Martha
Oliveira, especialista em envelhecimento e CEO da Laços da Saúde,
empresa especializada em cuidados domiciliares para idosos.
“Já os jovens, por terem planos ligados a empresas e menor percepção
de necessidade, costumam ser quem mais perde, cancela ou troca de plano,
em especial em momentos de crise econômica”, afirma.
‘Não é o envelhecimento o vilão’, diz especialista
Martha ressalta que o cenário demográfico não pode ser usado para
culpabilizar e punir os idosos sobre o aumento de custos. Ela afirma
que, embora seja verdade que o idoso custe mais ao plano, é preciso
lembrar que ele também paga um valor mais alto do que os jovens.
“Atrelar essa alta de custos dos planos ao envelhecimento é muito ruim. O
idoso utiliza mais o plano, sim, mas se você souber fazer a gestão
dessas pessoas, essa utilização a mais é custeada pelo valor mais alto
que ele paga”, diz.
Estudo do IESS mostra que o custo médio com um beneficiário a partir
dos 60 anos é de seis vezes o de um usuário de zero a 18 anos. O valor
da mensalidade da última faixa etária também só pode ser seis vezes
maior do que a da primeira, segundo regra da ANS. Cechin afirma que,
entre os idosos mais velhos, a partir dos 80 anos, o custo sobe muito e
que nem sempre o valor pago pelo beneficiário idoso é suficiente para
cobrir as despesas assistenciais, mas admite que não é repassando todos
os custos aos usuários que o problema será resolvido.
“Isso exige uma reestruturação hospitalar e campanhas e ações para a
gente evitar o adoecimento e controlar doenças crônicas. Se não fizermos
nada, o valor dos planos, que já está subindo acima da inflação, vai
ficar ainda mais caro e o plano poderá passar a ser um artigo de luxo”,
diz.
Ele defende que, além das operadoras, os empregadores, que são os
principais contratantes de planos de saúde, também desenvolvam ações de
prevenção e promoção da saúde para seus funcionários, o que ajudaria a
melhorar a condição de saúde dos usuários e a reduzir os custos.
Martha concorda que o caminho para redução de custos no sistema sem
punir o elo mais vulnerável – os beneficiários – passa pela prevenção e
acompanhamento de doentes crônicos, além de uso mais inteligente dos
recursos do sistema de saúde.
“Com certeza não é o envelhecimento que é o vilão. É preciso tirar o
preconceito de cima dessa população. O sistema está cheio de
desperdício, de refazimento. Falta organização e gestão, a pessoa fica
perdida na rede. Temos que requalificar essa prestação de serviço. Se
continuar como está hoje, teremos mesmo uma elitização. Menos pessoas
terão condições de pagar pelo plano”, diz.
‘Preço ficou inviável’, diz filha de idoso que paga R$ 9 mil de mensalidade
É o que já está acontecendo com o aposentado Nelson Roberti, de 84
anos. Cliente da SulAmérica desde a década de 1990, ele paga hoje uma
mensalidade de R$ 9 mil. “Sempre foi um valor alto, mas, de uns tempos
para cá, com os reajustes, está ficando inviável. A aposentadoria dele
não dá para pagar esse valor, a gente completa com a conta da família,
mas está difícil manter”, conta a filha do idoso, a advogada Tatiana
Saldanha Roberti, de 46 anos.
Ela reclama que, além das mensalidades altas, o pai sofre com queda
na qualidade do serviço prestado. “O preço está cada vez maior e o
serviço já não corresponde mais. Tivemos o descredenciamento de
hospitais, laboratórios. Descredenciaram um hospital que sempre usamos,
que fica a poucos minutos de casa. É muito ruim passar por isso
justamente no momento da vida de maior vulnerabilidade. A gente se sente
abandonado”, afirma.
Tatiana conta que outra dificuldade enfrentada pelos idosos é a troca
de plano. “Com esse valor, eu cheguei a tentar procurar um plano mais
barato, mas não encontro quase nenhuma opção. Já cotei todos que você
pode imaginar, mas ou não o aceitam ou o valor ficaria maior”, diz ela.
Procurada, a SulAmérica afirmou que o descredenciamento mencionado “foi
uma decisão unilateral” do hospital e que foram “sugeridas outras opções
de rede de atendimento com a mesma qualidade do serviço prestado”.
Marcos Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de
Planos de Saúde (Abramge), afirma que há operadoras focadas no nicho de
idosos e que as empresas vêm ampliando suas ações para tentar acompanhar
mais de perto essa população. Ele reconhece, no entanto, que é
necessário acelerar e ampliar essas ações.
“Os custos estão crescendo, mas temos que trabalhar para que eles
tenham um aumento sustentável. Para isso, temos que usar mais
telessaúde, ter atendimento personalizado com atenção continuada. Cada
vez mais o trabalho vai ser de acompanhamento, isso ajuda na gestão do
plano, mas temos um limitador: não há equipes suficientes para fazer
isso com todos os usuários”, diz.
Ele diz que o grande desafio é conseguir realizar essas mudanças no
mesmo ritmo do processo de envelhecimento da população. “Como esse
processo está acontecendo mais rapidamente no Brasil, a gente acaba
tendo custos mais elevados porque nossos investimentos nessa nova
infraestrutura precisam ser mais rápidos também”, diz.
O cenário é uma das razões apontadas pelos planos para a crise
financeira vivida pelo setor. De acordo com a Federação Nacional de
Saúde Suplementar (FenaSaúde), as operadoras registraram em 2022
prejuízo operacional de R$10,7 bilhões, o pior resultado desde o início
da série histórica, em 2001. Procurada para comentar os desafios do
setor frente ao envelhecimento, a entidade não quis dar entrevista.
Para os especialistas, podemos olhar para exemplos de outros países
que já passaram pelo processo de envelhecimento para buscar soluções
para a equação. Cechin, do IESS, cita a necessidade de ações por parte
dos governos, operadoras e empregadores para combater a obesidade, por
exemplo. “Reduzir a obesidade diminui também risco de doenças
cardiovasculares, problemas nas articulações, alguns tipos de câncer.
Tem países, como a Holanda, com programas para enfrentar essa questão”,
diz.
Martha também cita o país europeu. “Eles reconstruíram todo o sistema
de saúde sob essa ótica do envelhecimento, com uma lógica de levar o
cuidado ao paciente no seu domicílio, promover a autonomia, o
autocuidado. A Alemanha criou postos específicos para dar conta do
envelhecimento. A França também reorganizou seu sistema de saúde. É
verdade que esses países tiveram muito mais tempo para se preparar, mas
eles já passaram por isso, então podemos olhar e aprender com eles”,
diz.
Uma das maiores necessidades do ser humano é ter o controle sobre
seus objetivos e respectivos resultados, a partir das ações e das
decisões que toma em prol de seus objetivos de vida. Em decorrência, a
preocupação com a empregabilidade e estabilidade financeira é um tema
fundamental para cada um de nós.
Neste artigo, gostaria de discorrer sobre a questão do emprego, da
carreira e da empregabilidade, explorando estes aspectos de forma ampla e
sistêmica. Acredito que assim, a contribuição deste artigo poderá ser
mais profunda, ao abordar diretamente os fundamentos da empregabilidade.
À parte da questão econômica, das expansões e retrações cíclicas do
nível de atividade local e mundial, grande parte da responsabilidade
sobre nossa empregabilidade futura recai sobre as nossas decisões. Se
qualificarmos melhor as nossas decisões, teremos melhores resultados no
longo prazo.
Mas quais elementos precisamos ter para qualificarmos melhor as nossas decisões em busca de uma carreira promissora e longeva?
Hoje em dia, observamos vários ciclos de carreira em nossas vidas. Há
pouco tempo tínhamos uma vida e uma carreira se encaixava nesta vida,
apesar de podermos mudar de empresas, um mesmo ciclo e perfil
profissional percorria o início da vida profissional até a
aposentadoria. Hoje em dia, numa mesma única vida, temos que nos
reinventar e inovar, construindo diversas carreiras para a nossa
existência, que com o progresso da ciência tende a ser de forma geral
cada vez mais longa.
Para termos uma clara visão dos mecanismos subjacentes à
empregabilidade, gostaria de iniciar falando sobre paradigmas. Paradigma
é um conjunto de padrões, crenças e verdades que estão estabelecidas e
arraigadas em determinado momento na sociedade. Ele estabelece a forma
como achamos que as coisas funcionam, o que é verdadeiro e não é
verdadeiro, o que deve ser considerado e o que deve ser descartado à luz
da verdade considerada.
À luz disto, estabelecemos regras de convivência com o paradigma
vigente. A partir dele nós nos capacitamos e com base nele somos
medidos. Nós construímos instrumentos e ferramentas para conviver com
este paradigma, e o conhecimento e primazia no uso destes instrumentos
nos coloca numa zona de conforto.
Uma pessoa da idade média, por exemplo, teria que investir grande
parte do seu tempo se capacitando para sua defesa pessoal e no
desenvolvimento de habilidades com o escudo e a lança. A sociedade o
mediria com base nas habilidades no uso destes instrumentos. Quanto
maior a sua habilidade, mas ele se sentiria confortável em sua esfera de
atuação, entrando, portanto, numa zona de conforto. Zona de conforto
pode ser entendida como a nossa destreza no uso de ferramentas e no
entendimento das relações de causa-efeito valorizados pelo paradigma
predominante.
Muitas vezes dois paradigmas convivem no mesmo tempo, num processo de
transição entre o velho e o novo. Assim foi com a introdução da energia
elétrica nas fábricas, em substituição ao vapor para mover as máquinas.
No século XIX, os EUA possuíam parte de sua rede de comunicação por
telégrafo instalada na costa leste primeiramente, depois na costa oeste,
porém por muitos anos a ligação entre elas era realizada através de
carruagens. De um momento para outro, com a ligação entre elas, as
carruagens se tornaram obsoletas e o tempo para se trocar mensagens caiu
drasticamente.
Um argumento mais atual. Após o advento da pandemia, os estilos de
trabalho presencial versus remoto convivem atualmente, cada um
procurando ocupar o seu espaço e justificar suas vantagens e
desvantagens. É um processo de transição, que embora não saibamos ainda
como irá se concretizar, mas com certeza não será exatamente igual ao
que era antes do início da pandemia. Novas tecnologias, novos
instrumentos e ferramentas foram desenvolvidos, e a destreza no uso
delas marcará a nossa capacidade de nos mantermos relevantes.
Associado a estes mecanismos subjacentes, nossos estilos de liderança
também têm que se adaptar. Antigamente, um estilo de comando mais
hierárquico e controlador era largamente predominante. Há algum tempo,
cada vez mais passamos a valorizar estilos de liderança de contexto, com
foco nos resultados e na delegação. O comando migra do chefe
centralizador para os medidores de resultado.
Mas como podemos nos posicionar neste momento de tantas inovações?
O desafio é nos mantermos relevantes, qualquer que sejam as inovações
que ocorrerão. Carreiras e profissões, assim como no passado, podem se
tornar obsoletas no futuro. Empresas precisarão aprender a se manter
relevantes. Profissionais terão que aprender a se manter relevantes em
suas carreiras e suas empresas.
A pergunta certa a ser colocada é a seguinte: o que precisamos fazer para nos mantermos relevantes?
Precisamos estar atentos e renovar constantemente nossos
instrumentos, nossas capacitações, nossas crenças, nossas formas de
interagir com a sociedade.
Porém, em meio à tanta mudança, tem uma coisa que não muda, e esta é uma oportunidade que devemos explorar.
O lado comportamental do profissional sempre será demandado e
cobrado. A forma como mantemos nosso foco, a firmeza dos nossos
argumentos, a retidão das nossas ações, a confiança que transmitimos em
nossos grupos de trabalho, a nossa empatia, isto não muda e continuará
sendo valorizado. O autoconhecimento e a busca do aprimoramento através
da constante aprendizagem e do desafio de nossas próprias crenças são
caminhos seguros.
Como empresário de empresa industrial e de serviços, nitidamente
identifico que muito antes do conhecimento técnico ser firmado numa
entrevista, o candidato precisa passar pelo seguinte filtro: Posso
confiar nesta pessoa? Ele é mesmo assim como está se vendendo?
Em meio a tantas mudanças, o valor humano continua sendo o diferencial e é um aspecto que podemos ter controle sobre nós mesmos.
NOSSA MARCA. NOSSO ESTILO!
COMPARTILHAMOS CONHECIMENTO PARA EXECUTARMOS COM SUCESSO
NOSSA ESTRATÉGIA PARA REVOLUCIONAR O MODO DE FAZER PROPAGANDA DAS
EMPRESAS DO VALE DO AÇO.
O desejo de mudar, de transformar, de acreditar, são
fundamentais para irmos além. São agentes propulsores da realização de
sonhos. Já o empreendedorismo está presente no DNA dos brasileiros e
nossa história trouxa essa capacidade que temos de nos reinventar e de
nos conectarmos com você internauta e empresários que são a nossa razão
de existir.
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do Site da Valeon, podemos proporcionar o início do “virar de chaves”
das empresas da região para incrementar as suas vendas.
Assim, com inovação e resiliência, fomos em busca das
mudanças necessárias, testamos, erramos, adquirimos conhecimento,
desenhamos estratégias que deram certo para atingirmos o sucesso, mas
nada disso valeria se não pudéssemos compartilhar com vocês essa
fórmula.
Portanto, cá estamos! Na Plataforma Comercial Marketplace da
VALEON para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos
produtos e serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada dos
nossos serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e
público.
Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos compublicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para asmarcas
exporem seus produtos e receberem acessos. Justamente por reunir uma
vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon
atrai uma grande diversidade evolume de público. Isso
proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores
que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por
meio dessa vitrine virtual.
O Site desenvolvido pela Startup Valeon,
focou nas necessidades do mercado e na falta de um Marketplace para
resolver alguns problemas desse mercado e em especial viemos para ser
mais um complemento na divulgação de suas Empresas e durante esses três
anos de nosso funcionamento procuramos preencher as lacunas do mercado
com tecnologia, inovação com soluções tecnológicas que facilitam a
rotina das empresas. Temos a missão de surpreender constantemente,
antecipar tendências, inovar. Precisamos estar em constante evolução
para nos manter alinhados com os desejos do consumidor. Por isso,
pensamos em como fazer a diferença buscando estar sempre um passo à
frente.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar
ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o
consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita
que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu
consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
Apoio a ditaduras Presença de Lula no Foro de São Paulo reforça imagem negativa do petista no Brasil e no exterior Por Carinne Souza – Gazeta do Povo
Participação no Foro de São Paulo reforça imagem negativa de Lula no Ocidente| Foto: André Borges/EFE
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai discursar na reunião
geral do Foro de São Paulo, que vai acontecer nesta quinta-feira (29). O
evento reúne líderes de esquerda da América Latina e deve deixar a
reputação do petista ainda mais desgastada internamente e também no
exterior. Especialistas avaliam que Lula tem feito apostas erradas ao se
aproximar de ditadores e deve manchar ainda mais sua imagem
internacionalmente se reforçar o discurso anti-Ocidente que predomina
nas reuniões do grupo.
Fundado em 1990 por Lula e pelo antigo ditador cubano, Fidel Castro, o
Foro de São Paulo (FSP) foi criado com o intuito de unir a esquerda
latino-americana após o colapso da União Soviética. Em 33 anos, a
organização se consolidou como uma força que tenta impor pautas de
esquerda ao subcontinente, apoiou grupos criminosos como as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) e faz vistas grossas a ditaduras.
Atualmente, 123 partidos, de 27 países, estão associados ao Foro. Em
solo brasileiro, de acordo com o site da organização, o Partido dos
Trabalhadores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT)
estão na lista de associados ao grupo. Procurada pela reportagem, no
entanto, a assessoria do PDT que informou que não faz mais parte do
grupo, ainda que o nome do partido conste na lista de associados no site
do Foro de São Paulo.
Para a doutora em Ciências Políticas Deysi Cioccari, Lula está
“fornecendo argumentos para a oposição” ao posar com ditadores e
confirmar presença no Foro de São Paulo. Segundo a especialista, o
petista está apostando em um alto risco político, levando em
consideração que atualmente o Foro não é um consenso nem mesmo dentro do
PT. “Lula tem dobrado a aposta em questões sensíveis e [sua presença no
Foro de São Paulo] certamente vai reforçar a ideia de que ele apoia
ditaduras”, pondera Cioccari.
No final de maio, o presidente brasileiro tentou demonstrar força ao
reunir os presidentes da América do Sul em Brasília para a Cúpula da
América do Sul. Tal esforço, no entanto, foi minado por ele mesmo com
declarações equivocadas sobre a Venezuela. Ao se encontrar com o ditador
venezuelano, Nicolás Maduro, Lula disse que a Venezuela era “vítima de
uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo”.
A fala do presidente brasileiro é totalmente equivocada. A Venezuela
possui um extenso histórico de crimes, entre eles prisões e assassinatos
de opositores políticos, censura de partidos políticos e repressão
pesada contra a livre opinião.
As alegações causaram reações em chefes de Estado de direita e também
de esquerda, que repreenderam as afirmações do petista. Ainda na última
semana, durante viagem à França, Lula também teve um encontro com o
ditador cubano, Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez. Em sua conta no
Twitter, o petista disse que os dois discutiram “questões bilaterais que
foram abandonadas nos últimos anos”.
Para Cezar Roedel, mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutor em Filosofia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a participação
de Lula no Foro de São Paulo é mais uma prova de sua “subserviência a
modelos de regimes ditatoriais”. “[Tais afirmações e atitudes de Lula]
já prejudicaram sua imagem em relação ao resto do mundo, porque se
entende que a política externa que ele tem exercido é em prol do seu
interesse pessoal e não do que interessa ao país”, pontua.
VEJA TAMBÉM:
A ficha de crimes de Maduro que Lula chama de narrativa
Guaidó e ONGs criticam comentários de Lula sobre Maduro e Venezuela: “Esquece-se dos assassinados”
Lula transforma visita do ditador Maduro no principal encontro com os líderes da América do Sul Reunião do Foro de São Paulo acontece em Brasília e tem “Arraiá do PT”
Após ter as reuniões suspensas por três anos devido à pandemia de
Covid-19, o Foro de São Paulo escolheu Brasília para sediar seu 26º
encontro anual. Ainda que a página oficial da organização não deixe
claro os motivos para a escolha da capital brasileira, o fato de Lula
ser o atual presidente teria pesado para essa decisão, já que o petista é
um dos fundadores da organização, segundo apurou a reportagem.
O evento tem início nesta quinta-feira (29), às 19h, e Lula vai ser
um dos oradores na cerimônia de abertura do encontro anual. O cronograma
do Foro de São Paulo conta com programação para todo o final de semana
na capital federal. Além de palestras e seminários, os participantes do
evento também foram convidados para participar do Arraiá do PT, no Setor
de Clubes Sul. O ingresso custa até R$ 5 mil.
Diante disso, os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP) e Coronel
Meira (PL-PE) apresentaram uma representação ao Ministério Público
Federal (MPF) e ao Ministério Público Eleitoral (MPE) para suspender o
evento. No documento, os parlamentares afirmam que, ao analisar a
programação do evento, “observa-se um claro dano ao patrimônio público,
ao regime democrático e à probidade administrativa”, além de evidenciar
“interferência partidária estrangeira na pauta política nacional”.
“O “Foro de São Paulo” é uma ameaça à ordem jurídica e ao regime
democrático brasileiros, com a recepção de ideias e ideais autoritários,
de cunho ditatorial, especialmente quando se ouve, quando se dá guarida
a tais ideologias, a tais regimes de governos, de forma que é evidente
que essa simbiose de ideias, durante o encontro, interferirá na forma
como o Estado brasileiro será governado”, escreveram os parlamentares.
Além da suspensão dos eventos, os parlamentares pediram que seja
determinada a “proibição de ingresso em território nacional de
representantes do Partido Comunista de Cuba, Partido Socialista Unido da
Venezuela e Frente Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua”.
Foro de São Paulo reforça imagem negativa de Lula no Ocidente Para
os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, Lula erra, mais uma vez,
ao marcar presença no evento. “A esquerda sempre flertou com esses
personagens ditatoriais mas, até então, com certa parcimônia. O fato é
que não existe ditadura boa e Lula parece ter esquecido completamente
disso. A discrição parece ter ficado em outros tempos. Certamente, a
presença de Lula dá um indicativo de um olhar cuidadoso a essas
ditaduras”, analisa Cioccari.
Já na concepção de Roedel, a participação do presidente brasileiro
não é uma surpresa e Lula deve aproveitar a oportunidade para repetir
alguns discursos. “Provavelmente ele deve discursar sobre a integração
latino-americana e a soberania da América Latina, algo que ao meu ver é
completamente intangível e ideológico. Talvez também surja aquele
antiamericanismo bobo da esquerda e se observe alguma crítica à questão
das moedas”, explica o especialista citando críticas que o petista já
fez sobre a hegemonia do dólar.
Os ataques aos Estados Unidos são uma das características do Foro de
São Paulo que, por outro lado, vê a China como uma “influência para a
paz”. O governo chinês, porém, é acusado de fazer presos políticos,
perseguir minorias religiosas, violar os direitos humanos e adotar leis
que não permitem a liberdade de expressão. Para Roedel, ao promover o
Foro de São Paulo, Lula só reforça a imagem negativa que ele carrega
desde que fez afirmações controversas sobre a Venezuela e a invasão
russa na Ucrânia.
Roedel afirma que, ao se reunir constantemente com ditadores, Lula
“já se prejudicou com aqueles países que conduzem políticas externas
sérias, porque suas declarações mostram que ele tem defendido seus
interesses pessoais”. O especialista ainda ressalta que o atual
mandatário brasileiro parece perdido em meio às suas estratégias: “Lula
parece querer criar algum tipo novo de governança global que nem mesmo
ele é entende”, finaliza.
O governo brasileiro tem argumentado em sua defesa que é preciso
conversar com todos os governos sem tomar partido ou interferir em
assuntos internos.
Perdido e apegado ao passado, o petista está preso a uma esquerda que
não existe mais. “Me parece que a esquerda [brasileira] está perdida
desde a queda de Dilma”, analisa Cioccari. De acordo com a cientista
política, o bloco tenta se manter unido em um ideal “ultrapassado” onde o
intuito seria manter a chama ideológica ainda acesa.
Para Cezar Roedel, os conceitos nos quais a organização se apoia são
“equivocados”. À reportagem, o especialista pontua que o grupo que diz
buscar a “soberania da América Latina e a integração regional”, na
verdade, tem interesses “difusos” pautados pela ideologia e pela
associação a ditaduras e até organizações criminosas.
Fidel Castro e Hugo Chávez são exaltados no Foro de São Paulo No
grupo criado pelo ditador Fidel Castro, outros tiranos também ganham
local de destaque. Anualmente, o Foro de São Paulo faz uma reunião para
discutir temas e implementar pontos de integração entre os
países-membros. Nessas ocasiões, os participantes utilizam um documento
base para guiar as discussões dos encontros. No texto deste ano, um dos
pontos exaltam a “firmeza e avanços de Cuba, Venezuela e Nicarágua”. Os
países são considerados ditaduras de esquerda e seus respectivos líderes
são acusados nos tribunais internacionais de crimes políticos e contra
os direitos humanos.
“As vitórias presidenciais no México, Santa Lúcia, Bolívia, Brasil,
Colômbia, Honduras, Peru e Chile são exemplos eloqüentes. A crescente
liderança dos presidentes do México, Honduras, Cuba, Venezuela,
Colômbia, Bolívia e Brasil foi decisiva para impedir as tentativas
imperialistas de dividir e fragmentar a região”, diz ainda o texto.
Em um dos 99 pontos do documento base, também há espaço para exaltar o
antigo ditador da Venezuela Hugo Chávez: “[…] devemos lembrar a morte
do comandante Hugo Chávez há 10 anos, depois de chegar ao poder
democraticamente, sofrer um golpe e retornar à presidência. Chávez
iniciou um novo capítulo na Venezuela e em todo o continente, ao se
tornar um exemplo de luta contra o neoliberalismo e o imperialismo,
iniciando o enfrentamento concreto das heranças das ditaduras militares
na América Latina e Caribe”.
Guerra por poder e cargos Disputa por vagas em tribunais superiores e na PGR entra no jogo político do julgamento de Bolsonaro
Por Sílvio Ribas – Gazeta do Povo Brasília
| Foto: José Cruz / Agência Brasil
Em razão do impacto
potencial sobre o horizonte político, sobretudo em favor do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o julgamento no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que pode deixar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
inelegível fomentou disputas de magistrados por vagas em tribunais
superiores e na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Uma prova disso veio já na primeira sessão da análise do caso no TSE,
na última quinta-feira (22), quando o vice-procurador-geral eleitoral,
Paulo Gonet, defendeu com veemência a condenação do ex-presidente por
abuso de poder político e uso indevido de meios estatais de comunicação.
Curiosamente, seu nome chegou a despertar a simpatia de aliados de
Bolsonaro no passado.
Em abril, Gonet, cotado para assumir o posto de Procurador-Geral da
República (PGR), já havia manifestado apoio à condenação de Bolsonaro e à
inelegibilidade dele por oito anos, devido à realização de reunião com
embaixadores estrangeiros em que o ex-presidente lançou suspeitas sobre
as urnas eletrônicas, em julho de 2022. Ele conta com apoio dos
ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF). O atual PGR, Augusto Aras, encerra o seu mandato em
setembro.
Chamou a atenção os termos usados por Gonet em suas falas,
ressaltando no TSE o discurso adotado por Bolsonaro diante dos
embaixadores como reforço a outros atos e uma perturbação à
“tranquilidade institucional”. Ele classificou de “temerárias” e
“infundadas” as críticas do ex-presidente ao sistema eleitoral e
salientou o “infesto potencial antidemocrático” delas. No parecer
escrito, o procurador destacou a “gravidade do discurso contra a
confiabilidade do sistema de votação”, mas sem usar expressões
agressivas.
Observadores acreditam que o esforço de Gonet e de outros
procuradores e juízes para buscar “mostrar serviço” visando cargos
elevados teria entre as suas motivações a decisão de Lula de não
considerar a lista tríplice de candidatos por votação interna da
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que apontou
Luiza Frischeisen como a mais apoiada, com 525 votos.
Vera Chemin, advogada constitucionalista e mestre em Direito Público
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que a competição entre
magistrados por vagas nos tribunais superiores reflete a intensa
polarização política no país, que ganhou força com a ascensão da direita
representada por Bolsonaro. Ela observa que, dado que a esquerda não
enfrentava oposição equivalente no passado, a radicalização ideológica
está gerando reações sem precedentes no cenário político, inclusive de
membros do Judiciário.
A advogada entende que a contaminação política resultou na atual
corrida pelas vagas, apesar da exigência constitucional de seleção de
magistrados e procuradores para o STJ e o STF. Nesse contexto, a
condenação de Bolsonaro seria a forma mais rápida e eficiente de adesão
ao poder daqueles que se utilizam de favores prestados ao presidente da
República e ao presidente do TSE como garantia de progressão
profissional e de mais poder, prestígio e benefícios.
O julgamento do ex-presidente já teve duas sessões na Corte Eleitoral
e será retomado nesta quinta-feira (29), a partir das 9 horas. Na
terça-feira (27), o corregedor-geral da Justiça Eleitoral e ministro
Benedito Gonçalves, relator da ação do Partido Democrático Trabalhista
(PDT) contra Bolsonaro, votou pela inelegibilidade.
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Há 20 anos visto como potencial candidato a uma vaga no Supremo
Tribunal Federal (STF), o ministro relator da ação do PDT contra
Bolsonaro, Benedito Gonçalves, obteve nova projeção no julgamento do
TSE. Como integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele tem na
idade um obstáculo para postular o cargo, pois a idade de 70 anos que
completará em janeiro de 2024 também é o limite para ingressar na Corte.
Ministros do STF têm aposentadoria compulsória aos 75 anos e os
indicados têm tido perfil dominante em torno de 50 anos, a exemplo do
mais recente, Cristiano Zanin, de 47 anos, escolhido por Lula.
O advogado constitucionalista André Marsiglia Santos considera
deplorável a troca de favores entre candidatos a cargos públicos e
governos. “Se a troca oportunista for comprovada, é simplesmente ilegal,
pois se trata de desvio de poder, quando se usa a autoridade para
finalidade desviada”, sublinhou. Ele acrescentou que o Judiciário é um
poder sem a legitimidade conferida pelo voto. Dessa forma, se suas
nomeações também passarem a servir às conveniências políticas, “o
déficit democrático se alarga”.
Para o cientista político André Felipe Rosa, o grande problema na
disputa de magistrados é a falta de estruturas democráticas dentro do
próprio processo de escolha, que ficam em segundo plano quando existe,
deliberadamente, um ativismo judicial forte, inclusive que pode figurar
dentro do STF e STJ. “Esse ativismo, que liga juízes e juízas a
políticos, faz com que as influências externas sejam preponderantes no
resultado dos escolhidos em tribunais superiores. Desta forma, não
necessariamente vence o melhor, mas aquele cujo peso político mais
preponderou”, analisa.
Alexandre de Moraes atua para impedir interrupção da votação O
julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no TSE iniciou na quinta-feira (22)
sob pressão do presidente da Corte, Alexandre de Moraes, para evitar
pedidos de vista, sobretudo por parte dos ministros Kassio Nunes Marques
e Raul Araújo, que são considerados alinhados ao ex-presidente.
Além disso, Moraes ainda pode antecipar o seu voto, já que ele seria o
último e com isso isolar Nunes Marques. Bolsonaro expressou esperança
de que a votação seja interrompida, apostando numa virada do cenário
desfavorável.
Dos sete membros do TSE, apenas Nunes Marques foi indicado por
Bolsonaro, o que aumenta o risco de maioria favorável à condenação ser
alcançada antes de eventual pedido de vista do ministro. Sobre a
questão, Bolsonaro afirmou à CNN: “Já que o voto do relator tem mais de
300 páginas, o ideal seria que alguém no início pedisse vista”. Nesse
caso, esse “alguém no início” seria Raul Araújo, mencionado por
Bolsonaro. Seu eventual pedido de vista teria o poder de paralisar o
julgamento antes dos demais votos.
Em fevereiro, Moraes encabeçou a mudança no regimento interno do TSE,
fixando prazos automáticos de até 30 dias, prorrogáveis por mais 30
dias, para a devolução da vista. Caso o pedido não seja devolvido, a
ação é liberada automaticamente.
Na visão de Juan Carlos Gonçalves, diretor-geral da ONG Ranking dos
Políticos, apesar da utilização de critérios objetivos nos processos
seletivos, é comum que a disputa por vagas em tribunais superiores seja
influenciada por questões políticas e alianças estratégicas. “A
indicação de magistrados para essas posições muitas vezes envolve
negociações e acordos nos bastidores, o que pode levantar dúvidas sobre a
imparcialidade e independência do Judiciário”, resume.
Por essa razão, ele defende que a competição por essas vagas reflete a
importância atribuída ao Judiciário e seu papel essencial na
consolidação do Estado de Direito. “É crucial que as posições em
tribunais superiores sejam ocupadas por magistrados competentes e
comprometidos com a justiça e a imparcialidade, a fim de garantir a
qualidade das decisões tomadas e manter a confiança da sociedade no
sistema jurídico. Por isso, é fundamental que a seleção dos magistrados
para essas vagas seja conduzida de forma transparente, baseada em
critérios técnicos e meritocráticos”, disse.