domingo, 11 de junho de 2023

MEMBROS DA CPI DO 8 DE JANEIRO QUEREM PREJUDICAR OS EVANGÉLICOS

 

A nova guilhotina a serviço do PSOL

Por
Thiago Rafael Vieira – Gazeta do Povo


| Foto: Agência Câmara

Em matéria publicada em 15 de março, o portal UOL informou que evangélicos presos no 8/1 disseram à Polícia Federal que foram mobilizados por igrejas. De acordo com a reportagem do UOL, pelo menos em 5 dos milhares de depoimentos aos quais a matéria teve acesso, relataram o envolvimento de igrejas na mobilização de viagem à Brasília.

Em um dos depoimentos, uma moradora de Sinop (MT), teria afirmado à PF que viajou em uma “excursão da Igreja Presbiteriana Renovada”. Outro acusado afirmou ter viajado em um “ônibus financiado por igreja evangélica”. Em nota ao UOL, a referida igreja rechaçou as afirmações: “A igreja Presbiteriana Renovada é uma igreja séria que não fez ou faz nenhum tipo de investimento que não seja baseado em sua conduta missionária e eclesiástica, portanto não existe a possibilidade de financiamento em qualquer movimento fora de suas atribuições. Não temos conhecimento de quem são os dois citados, nem tampouco qualquer envolvimento com financiamento de excursão para Brasília. Nem a igreja e nem o corpo de pastores têm qualquer envolvimento com os atos citados ao 8 de janeiro.”

Note-se que, no segundo caso, o acusado sequer menciona o nome da igreja que teria supostamente financiado sua viagem, mas a reportagem faz a conexão com a igreja citada, pelo simples fato de ser da mesma cidade da primeira acusada, Sinop (MT).

Em outro depoimento, um acusado de Maceió (AL) citou o nome de um pastor da Igreja Batista, como um dos financiadores de sua viagem. Procurado, o pastor disse que “viajou com o depoente para Brasília” e que “cooperou” durante a viagem porque ele estava com pouco dinheiro, mas que não houve relação da igreja com essas despesas”.

Por fim, uma moradora de Xinguara (PA) relatou “ser frequentadora da Assembleia de Deus e que integrantes da denominação religiosa participaram da caravana na qual ela viajou a Brasília, mas não deu detalhes sobre o responsável pelo financiamento”.

Ora, é impossível negar que no acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília havia um sem número de pessoas evangélicas. Não era incomum ver no local, idosos com bíblias e fazendo orações. Tal situação é corroborada pelas fotos juntadas às denúncias genéricas feitas pela PGR, que constatam a existência no local, por exemplo, de tendas de oração e são públicas, podendo ser acessadas no site do STF, inquéritos 4921 e 4922.

Entretanto, com a ocorrência dos atentados de 08 de janeiro, busca-se agora criminalizar as condutas das pessoas religiosas que lá estavam e, de certa forma, dando a entender que esse seria um modus operandi dos religiosos ou de grande parte deles.

Passados quase quatro meses do ocorrido, no dia 26 de abril leu-se o requerimento de instalação da CPMI, que tem como objetivo “investigar os atos de ação e omissão ocorridos em 8 de janeiro de 2023, nas Sedes dos Três Poderes da República, em Brasília”, apesar de todos os esforços contrários do governo federal e de sua base no Congresso Nacional.

Com a ocorrência dos atentados de 08 de janeiro, busca-se agora criminalizar as condutas das pessoas religiosas que lá estavam

Ressalta-se que nenhum parlamentar do PSOL assinou o citado requerimento, entretanto, o partido tem assento na comissão e iniciou os trabalhos não buscando investigar as violações de direitos humanos das pessoas presas ou o péssimo tratamento dispensado a elas nos presídios, pautas recorrentes na sigla. Mas, segundo o site Poder360, “os deputados Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) e Erika Hilton (Psol-SP) apresentaram 6 requerimentos relacionados ao suposto financiamento por igrejas evangélicas de participantes dos atos do 8 de janeiro”.

O modus operandi do “Partido Socialismo e Liberdade” na comissão já fora antecipado pelo próprio Henrique Vieira na primeira sessão da CPMI ocorrida no último dia 25 de maio. Segundo o deputado, ter-se-ia que investigar “a participação de grupos fundamentalistas religiosos” nos atos de 08 de janeiro.

A fala foi prontamente rechaçada pelo Deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que afirmou que a esquerda “consegue se superar” ao “eleger um pastor para perseguir outros pastores”.

Sobre o tema, a jurista Janaina Paschoal manifestou-se nas redes sociais: “Espero que os parlamentares de esquerda não incidam no erro de criminalizar religiões”. E prossegue: “O fato de uma Igreja enviar fiéis para uma manifestação, a princípio pacífica, não constitui crime”. Todavia, malgrado o posicionamento coerente da ex-deputada, não há provas da organização institucionalizada de caravanas de igrejas para os atos do dia 08/01.

Se houve a participação de algum evangélico, espírita, católico, ou qualquer religioso nos atos de depredação, que haja a individualização da conduta e que cada um responda conforme seus atos. Entretanto, responsabilizar instituições pelas ações individuais de seus membros ou frequentadores é medida descabida.

O que pretende o PSOL, neste episódio, por meio dos deputados relacionais, é correlacionar o fato de haver evangélicos em Brasília no dia 08 de janeiro, com o fato de este grupo ter organizado, financiado e executado os atos de depredação. Tal relação não se sustenta pelas provas colhidas até o momento nas investigações, como os próprios depoimentos acima indicados.

Além disso, tal argumentação carece de coerência lógica, pois seria o mesmo que acusar o PT e o PCdoB pelos atos de 08 de janeiro, uma vez que há pessoas acusadas nos processos que tramitam na Suprema Corte, filiadas a estes partidos.

Ao propor esta caça às igrejas evangélicas, a base aliada do governo parece, no espírito de vingança, querer retaliar a parcela da população na qual possui grande dificuldade de alavancagem, conforme exposto em artigo nosso anterior às eleições, publicado na Gazeta.

Na verdade, trata-se de mais uma faceta da nova guilhotina. Partidos políticos com sanha de poder, especialmente com viés socialista, veem na religião o maior adversário, uma vez que pretendem ser os salvadores da humanidade em todas as esferas, substituindo o papel que é atribuído a Deus, na maioria das religiões, especialmente à cristã. Para isso, precisam suprimir a religião e uma forma de fazer isso é colocando-as em descrédito, como pretendem no episódio do 8/1 e, parece-nos, que o portal UOL é o propagandista.

Desta forma, os parlamentares que não se curvam a esta sanha messiânica de poder, que atuarão na CPMI do 08 de janeiro, precisam estar atentos para não fornecerem a guilhotina ao PSOL para que decepe cabeças, em sua Bastilha. E que o PSOL – e a esquerda que pensa de igual forma – entendam que os cristãos que sobreviveram aos leões do Coliseu e a Guilhotina dos jacobinos franceses não serão extintos por narrativas em uma CPMI.


Autor principal do texto: Ezequiel Silveira: Advogado. Membro do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR). Membro da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB-DF. Complementos e revisão do texto: Thiago Rafael Vieira.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/cronicas-de-um-estado-laico/a-nova-guilhotina-a-servico-do-psol-cpmi-dos-atos-de-8-de-janeiro/
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PROGRAMAS ESTRATÉGICOS DE LULA SÃO TROCA DE AVIÃO E PASSEIOS PELO MUNDO

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O presidente Lula quer um novo avião; o que ele usa agora, com cama e quarto separado para o primeiro-casal, mais sala particular, mais outras amenidades, aparentemente já não serve para atender as suas exigências de conforto – ele quer um avião maior e melhor. Essa coisa de avião tornou-se um hábito de Lula. O Brasil já deve a ele o AeroLula-1, comprado na sua primeira passagem pela Presidência; passará a dever o AeroLula-2 a partir de agora. É um tipo de ideia fixa.

O novo jato particular de Lula não vai ficar no chão, pela amostra que se tem até agora do seu governo. Em apenas cinco meses, já fez dez viagens ao exterior – isso mesmo, dez – coisa nunca vista antes na história deste país. Mais: é quase tudo viagem para longe, para lugares como China, Japão, Abu Dhabi, com 20 horas de voo e daí para cima.

É um programa de diplomacia turística que ele mesmo, e a sua corte, julgam importantíssimo para os destinos do Brasil e até do mundo. (Uma das fantasias-chefe do presidente, neste terceiro mandato, é desfilar no exterior como “líder global”, fazendo cara de estadista e com despesas pagas pelo Tesouro Nacional. Um avião de paxá faz parte deste show.)

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O novo avião tem tudo a ver com o atual governo Lula; é mais um retrato preciso de um presidente cujo grande programa estratégico é atender as suas próprias vontades. Lula já indicou o seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para vaga aberta no Supremo. Exigiu, e levou, a cassação do mandato do deputado Deltan Dallagnol como vingança pelo papel que ele desempenhou na Lava Jato. Colocou Dilma Rousseff, ninguém menos que Dilma, na presidência do banco dos Brics.

Ficou num hotel com diárias próximas aos 40 mil reais na sua viagem a Londres. Sua mulher comprou um sofá de 65 mil para a residência presidencial – não estava satisfeita com a decoração que encontrou. Montou um governo com 37 ministérios diferentes, incluindo-se um “Ministério do Índio” e um “Ministério da Reforma Agrária”. Diz, aqui e no exterior, as coisas mais esquisitas que um presidente poderia dizer – e por aí se vai. O novo AeroLula é um item a mais na lista.


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ENCONTRADAS AS CRIANÇAS PERDIDAS NA SELVA DA COLÔMBIA

 

Quatro irmãos de 13, 9, 4 e 1 anos estavam perdidos na Amazônia colombiana após acidente em 1º de maio; ‘sabedoria indígena’ teria sido fundamental para sobrevivência

Por Redação – Jornal Estadão

“A história de sobrevivência desses menores ficará para a história”, disse o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, ao anunciar que, depois de 40 dias de buscas, quatro crianças sobreviventes de um acidente aéreo foram encontradas com vida no meio da selva amazônica colombiana.

Entre as façanhas nas buscas estão uma insólita parceria entre mais de cem indígenas que conhecem a floresta como a palma de suas mãos e o Exército da Colômbia, o uso de dez cães farejadores e a “sabedoria indígena” das crianças, que usaram de diversas artimanhas para sobreviver no meio da mata.

Onde está Wilson? Cachorro herói que ajudou a encontrar crianças na Colômbia segue desaparecido

Lesly Jacobo Bonbaire, de 13 anos, Solecni Ranoque Mucutuy, de 9 anos, Tien Noriel Ronoque Mucutuy, de 4 anos, e Cristian Neryman Ranoque Mucutuy, um bebê que completou um ano enquanto estava perdido na selva, são do povo indígena Uitoto e moram perto do rio Cahuinarí, em Caquetá. Eles foram resgatados de helicóptero, puxados por uma corda a mais de 60 metros de altura, por causa das dificuldades para pousar no meio da floresta.

O périplo das crianças começou em 1º de maio. Nessa região de difícil acesso por rio e sem estradas, os moradores costumam viajar em voos privados.

Eles embarcaram naquele avião para encontrar o pai, que havia fugido de Araraucara, onde morava toda a família. Manuel Ranoque havia recebido uma ameaça de morte de um dos grupos guerrilheiros daquela área de selva e se refugiou em outro lugar.

O avião faria o trajeto entre Caquetá e San José del Guaviare. O acidente ocorreu no meio do caminho, em uma área onde se acredita que ainda existam povos isolados. O local mais próximo do acidente foi Cachiporro, uma comunidade ribeirinha. A cidade tem uma pequena escola e uma pista de pouso para pequenos aviões.

Crianças colombianas foram encontradas com vida na selva 40 dias após acidente aéreo
Crianças colombianas foram encontradas com vida na selva 40 dias após acidente aéreo  Foto: Fuerzas Militares de Colombia/Divulgação

O piloto alertou a torre de controle sobre uma falha de motor antes de perder altitude abruptamente, momento em que tentou mergulhar no rio, mas ficou incapaz de voar e se chocou contra algumas árvores.

Nada mais foi ouvido sobre os ocupantes até 17 dias depois, quando alguns rastreadores indígenas encontraram o avião destruído. Dentro estavam os cadáveres dos três adultos, mas não havia sinal das crianças. Objetos e roupas encontrados no entorno deram esperança às autoridades.

Os destroços do avião onde viajavam as crianças colombianas perdidas na selva: indígenas foram fundamentais para encontrar os desaparecidos
Os destroços do avião onde viajavam as crianças colombianas perdidas na selva: indígenas foram fundamentais para encontrar os desaparecidos  Foto: Handout / Exército da Colômbia / AFP

A partir desse dia, Petro deu ordem para que um grande dispositivo militar, em cooperação com as comunidades indígenas, encontrasse as crianças. 120 soldados das forças especiais e 73 indígenas se dedicaram dia e noite para tentar localizá-los.

‘Sabedoria indígena’ para sobreviver

Para Petro, “foi a sabedoria das famílias indígenas, de viver na selva, que salvaram eles”. Segundo a Organização Indígena da Colômbia (ONIC), os huitotos, oriundos da região, vivem em “harmonia” com as condições hostis da Amazônia e mantêm tradições como a caça, a pesca e a coleta de frutos silvestres.

Carlos Peres, professor de ecologia da floresta tropical na Universidade de East Anglia, na Inglaterra, que trabalhou com oito grupos étnicos na selva amazônica, disse em entrevista por telefone ao The Washington Post que o conhecimento das crianças sobre a floresta foi fundamental para eles sobreviverem.

“Quatro crianças ocidentais da mesma idade teriam morrido” lá, disse ele, mas muitas crianças de comunidades indígenas na Amazônia “amadurecem muito cedo” e desde cedo aprendem habilidades básicas para sobreviver na floresta, incluindo como encontrar comida e como evitar predadores. Em algumas comunidades com as quais ele trabalhou, muitos podem começar a subir em árvores com 1 ano de idade.

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O fato de terem sobrevivido a um acidente de avião era implausível, mas ainda mais sobreviverem por 40 dias sem a ajuda de ninguém, em uma selva onde chove 16 horas por dia e quase submersa na escuridão pela folhagem.

Não se vê nada além dos 20 metros e o barulho dificulta que duas pessoas se entendam a uma curta distância. No entanto, ser de uma comunidade indígena aumentou suas chances de sobrevivência.

Uma das hipóteses durante o desaparecimento era que as crianças teriam se deparado com uma dessas tribos nômades que não recebem notícias do exterior. “Achei que eles iam considerá-los seus filhos lá”, disse o presidente colombiano.

Mas não foi assim. As crianças, principalmente as duas mais velhas, estavam acostumadas a entrar na selva, caminhar por ela e reconhecer as plantas com as quais podem comer e não se envenenar.

O comandante das forças especiais, Pedro Sánchez, disse ao jornal colombiano El Tiempo que esse conhecimento os ajudou. “Eles conheciam o território, sabiam o que deveriam fazer e o que poderiam comer para se manter vivos”, disse.

Um exemplo dessa “sabedoria indígena”: Os menores improvisaram bandagens com restos de roupas e folhas resistens para colocar nos pés e conseguir caminhar nas difíceis condições da selva. A mais velha teria orientado os mais novos sobre o que poderiam beber e de quais frutas se alimentar.

Ainda assim, as crianças foram encontratadas desidratadas, com picadas de insetos e levemente feridas, especialmente nos pés, porque percorreram longas distâncias apenas com as bandages improvisadas.Em algum momento, também encontraram um cachorro, que os fez companhia e conseguiram se manter vivos todo esse tempo.

Conseguir água não teria sido um problema, dados os córregos e riachos da região, e os membros das comunidades indígenas podem construir abrigos improvisados rapidamente, disse Peres, como o que os socorristas encontraram no mês passado durante a busca.

Para quem está de fora, “o interior da selva amazônica parece muito mais hostil do que realmente é, principalmente se você vem desses lugares”, continuou Peres. “Naquela parte da Amazônia, há cerca de 80 espécies diferentes de cobras, mas apenas cinco delas são venenosas e eles [os indígenas] podem distinguir as venenosas das não venenosas.”

“A única coisa que lamento mais do que tudo é que todo esse conhecimento que salvou essas crianças neste caso particular está desaparecendo rapidamente na Amazônia”, acrescentou.

Operação histórica

A aliança chave entre militares e indígenas para encontrar quatro irmãos perdidos na selva foi chamada de “Operação Esperança”. A cooperação entre militares e grupos indígenas, das áreas de Siona e Araracuara, na selva amazônica, foi fundamental para encontrá-los.

“A articulação entre os militares e as forças indígenas, obviamente eles sabem muito mais sobre a selva do que nós, foi totalmente eficaz, e um exemplo do que esse tipo de aliança pode ser para o país”, acrescentou Petro.

Fotografia cedida pelas Forças Militares da Colômbia que mostram soldados e indígenas ao encontrar as crianças perdidas na selva
Fotografia cedida pelas Forças Militares da Colômbia que mostram soldados e indígenas ao encontrar as crianças perdidas na selva  Foto: Exército da Colômbia / EFE

No total, 184 pessoas estiveram envolvidas nas operações para vasculhar a selva todos os dias, 112 integrantes das Forças Especiais do Exercito da Colômbia e 72 indígenas.

“Eles entendem melhor a selva, sabem interpretar muito bem os rastros. Um deles encontrou o avião”, disse Sánchez ao jornal El País sobre seus colegas indígenas de busca. “Nesse momento encontraram os corpos de três adultos, inclusive da mãe deles, e perceberam que os quatro pequenos ainda poderiam estar vivos”.

Irmãos receberam cuidados de equipe de resgate formada por militares e indígenas.
Irmãos receberam cuidados de equipe de resgate formada por militares e indígenas. Foto: Fuerzas Militares de Colombia/Divulgação

A Força Pública, por sua vez, aportou tecnologia e diferentes estratégias para o conhecimento dos indígenas sobre a área: penduraram apitos em fitas de construção para que as crianças fizessem barulho com eles caso os encontrassem; iluminaram o céu com faróis para chamar sua atenção; colocaram alto-falantes com a voz da avó, na língua Uitoto, na qual ela pedia aos pequenos que ficassem quietos para encontrá-los.

“Do ar, com dois Blackhawks e mais nove aeronaves, lançamos 10.000 panfletos em língua indígena e kits de alimentação”, disse Sánchez. Também entre os buscadores estava um cachorro, chamado Wilson, que ajudou a encontrar pistas para as crianças no processo de busca, mas se perdeu no caminho e ainda não foi encontrado.

https://youtube.com/watch?v=gp5_9ChMcUc%3Ffeature%3Doembed

Pistas para encontrar

A pegada de um pezinho na lama, uma madeira, frutos comidos e um abrigo improvisado eram algumas das pistas que ajudaram as autoridades colombianas a encontrar as crianças e manter a esperança durante as buscas.

Em 15 de maio, 14 dias após o acidente, os serviços de buscas encontraram uma mamadeira que provavelmente pertencia ao bebê que estava no avião. Horas depois foi encontrada uma casca de maracujá que dava indícios de consumo por humanos.

No dia seguinte, durante as buscas, os militares localizaram um abrigo improvisado feito com paus e pedras em que as crianças teriam passado um período cuidando do bebê. Em 17 de maio foram encontradas tesouras e fitas de cabelo que os militares acreditavam ser delas. Horas depois, os enviados do exército descobriram pegadas pequenas.

Em 30 de maio, autoridades colombianas encontraram uma pegada que eles identificaram como sendo de uma das desparecidas. Os militares acreditam que a marca tinha sido deixada por Lesly Jacobombaire Mucutuy, a mais velha entre os quatro irmãos.

Mamadeira encontrada na floresta em maio; pistas auxiliaram equipes de busca a encontrarem as quatro crianças, 40 dias após o acidente aéreo
Mamadeira encontrada na floresta em maio; pistas auxiliaram equipes de busca a encontrarem as quatro crianças, 40 dias após o acidente aéreo Foto: Handout/Exército da Colômbia/AFP

Durante os 40 dias, os comandos de busca percorreram 2.656 quilômetros. Isso é duas vezes a distância entre Bogotá e Quito, a capital do Equador. Há 10 dias, o comandante Sánchez chegou a dizer que uma noite estiveram muito perto dos menores, a apenas 100 metros de distância.

Segundo relatos de uma fonte militar ao jornal colombiano El Espectador, devido à imensidão do território e às suas difíceis condições os grupos de busca foram divididos entre sete a oito militares e indígenas e foram chamados de células de busca combinadas.

Isso fez a comunicação ser mais difícil, disse o oficial, porque às vezes devido à forte chuva o telefone via satélite não funcionava e a interferência de sinal estava constantemente presente.

Isso fez com que as Forças Armadas implementasse uma nova estratégia para localizá-los. Tratava-se de potentes refletores que eram acionados à noite e cabines de som e alto-falantes terrestres através dos quais as mensagens eram transmitidas no meio da mata cerrada onde eram realizados os trabalhos de busca.

Além disso, lançaram kits com água, soro, salgadinhos e doces para as crianças consumirem. Eles os amarraram com uma corda e os baixaram para áreas próximas de onde estavam as pegadas, disse a fonte.

Wilson, o pastor belga do Exército da Colômbia que ajudou no resgate das crianças perdidas na selva após queda de avião, está desaparecido
Wilson, o pastor belga do Exército da Colômbia que ajudou no resgate das crianças perdidas na selva após queda de avião, está desaparecido  Foto: Exército da Colômbia/viaTwitter/Reprodução

As Forças Armadas também utilizaram dez cães treinados para as buscas. Um deles, Ulises, foi o primeiro a entrar, mas passou mal e teve que deixar o local. Havia também Shaina e, finalmente, Wilson, que ainda está perdido na selva.

Tudo isso permitiu que, após intensos dias de buscas, que começavam às 6h da manhã e muitas vezes terminavam à meia-noite, as crianças fossem encontradas. Por fim, foram encontrados a apenas cinco quilômetros do local onde o avião caiu, no povoado de Palma Rosa.

Os militares colombianos os retiraram da selva com um helicóptero que não conseguiu pousar no chão e esperou a 60 metros de altura, no ar. Eles foram elevados ao aparelho com cintos de escalada e uma polia. A altura das árvores e a escuridão dificultavam a operação. Segundo as autoridades, as crianças pareciam ‘catatônicas’, como se estivessem vivendo um momento irreal.

“Eu só quero vê-los, tocá-los”, disse à AFP Fidencio Valencia, avô das crianças que esperava notícias junto com Fátima, da cidade de Villavicencio.

As quatro crianças indígenas estão em Bogotá recebendo tratamento médico e acompanhamento psicológico. / AFP, AP, NYT, W.POST

FÉRIAS DE DOIS MESES PARA MAGISTRADOS E VENDA INCORPORADA A CONTRACHEQUES

 

Juízes, desembargadores e ministros têm direito a 2 meses de descanso; venda é incorporada a contracheque fora do teto constitucional

Por Rayanderson Guerra – Jornal Estadão

RIO – Os tribunais brasileiros gastaram ao menos R$ 3,5 bilhões nos últimos seis anos com a compra de férias de juízes, desembargadores e ministros. Uma parte dos magistrados abre mão do período de 60 dias de descanso, um privilégio da categoria, para turbinar seus salários mensais. A soma do ganho fixo com a venda das férias extrapola o teto constitucional de R$ 41,6 mil.

privilégio da toga foi criticado recentemente pelo ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF). Um levantamento do Estadão, com base em dados disponíveis do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de setembro de 2017 a maio de 2023, aponta que o Judiciário pagou bilhões para magistrados estaduais, federais, trabalhistas, eleitorais e dos Tribunais Superiores (STJ, TST, STM e TSE) e que a venda de férias se transformou em mais um penduricalho para aumentar salários.

Ministro Gilmar Mendes criticou férias de 60 dias ao comentar o juiz de garantias
Ministro Gilmar Mendes criticou férias de 60 dias ao comentar o juiz de garantias Foto: Carlos Moura/STF

É uma despesa para os cofres públicos que cresce a cada ano. Somente nos cinco primeiros meses de 2023, 8.360 pagamentos foram realizados, em um total de R$ 307 milhões. Em 2022, o gasto foi de R$ 772 milhões. Já no ano anterior, o Judiciário brasileiro arcou com R$ 677 milhões em indenizações de férias não cumpridas, de acordo com os dados do CNJ.

Constituição limita os ganhos mensais do funcionalismo público ao salário de um ministro do STF (hoje em R$ 41.650,92). Os magistrados recebem, no entanto, uma série de penduricalhos que inflam os vencimentos no fim do mês. Até 2024, em razão de reajuste de 18% aprovado no Congresso aos integrantes do Supremo, o vencimento chegará a R$ 46.366,19. Como o salário dos ministros serve de referência para integrantes de outras Cortes, desembargadores e juízes, o aumento provocará um efeito cascata nas remunerações da magistratura em todo o país.

O Brasil tem hoje cerca de 18 mil magistrados, também de acordo com o CNJ. O número de pagamentos das férias vendidas pela categoria cresceu 74% em quatro anos. Em 2018, foram 28.899 verbas indenizatórias liberadas. No ano passado, o volume chegou a 46.894. Os números são maiores do que o total de juízes porque há pagamentos retroativos ou valores quitados em mais de um mês.

Os dois meses de férias estão previstos na Lei Orgânica da Magistratura (Loman), em vigor desde 1979. As críticas de Gilmar foram uma reação ao que ele entendeu como tentativa da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) de retardar o início do julgamento do juiz de garantias.

Aceitem as férias de um mês. (…) Acabem com as férias de dois meses

Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)

“Se a AMB quer adiantar os debates sobre celeridade do processo, em geral, aceitem as férias de um mês”, disse Gilmar na sessão plenária da Corte, no dia 24 de maio. “Acabem com as férias de dois meses”, afirmou.

Parte dos dias de descanso pode ser vendida e funciona na prática como um adicional de rendimento. Um dos argumentos usados por parte dos juízes para o pedido de indenização é o volume de trabalho nos tribunais.

Juízes e procuradores se rebelam contra fim de 2 meses de férias

O privilégio entrou no radar de parlamentares e da sociedade civil. Deputados pretendiam incluir o fim das férias de dois meses para os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público na Proposta de Emenda à Constituição 32 (PEC-32), de 2020, que trata da reforma administrativa do funcionalismo.Os integrantes do MP e do Judiciário se rebelaram contra o fim da benesse. Nove associações que formam a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas) se mobilizaram contra a inclusão das categorias na reforma.

De acordo com os representantes das carreiras, a medida fere a separação de Poderes. A Frentas tenta argumentar que as férias de 60 dias não consistem em “privilégios” e são essenciais para o cumprimento das funções dos magistrados e procuradores. “É inadmissível que emendas constitucionais sirvam de instrumento para que o Legislativo interfira em matérias sujeitas à iniciativa de outros Poderes, sob pena de violação manifesta à cláusula pétrea da separação de Poderes”, disse a associação, em nota.

O secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, avalia que o projeto para eliminar os supersalários dos juízes avança “a passos de cágado”. “Os privilégios do Judiciário são praticamente intocáveis. Assim sendo, as reformas administrativas cogitadas não atingem os Três Poderes e o ônus recai, via de regra, sobre os servidores do Executivo”, afirmou.

Esses privilégios, históricos, são legais, mas são injustos e imorais. Até porque beneficiam apenas uma casta

Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas

“Esses privilégios, históricos, são legais, mas são injustos e imorais. Até porque beneficiam apenas uma casta. Mas as associações de classe lutam para que esses benefícios não sejam extintos. E muitos não querem se confrontar, nem com os servidores públicos, nem com a cúpula do Judiciário”, disse Castello Branco.

Férias são defendidas no meio jurídico

Apesar das críticas, há quem advogue em favor do benefício das carreiras jurídicas. As férias de 60 dias são defendidas, por exemplo, pelo ministro aposentado do STF Marco Aurélio Mello e pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

“Geralmente, um mês (das férias dos magistrados) é dedicado ao trabalho na retaguarda, ou seja, ao trabalho de infraestrutura na preparação de pareceres, relatórios e votos”, disse Marco Aurélio, em uma audiência com integrantes do Ministério Público.

Para ele, o benefício se justifica porque ministros, desembargadores e demais operadores do direito usam parte das férias para tarefas para as quais, no dia a dia do trabalho nas Cortes, não lhes sobra tempo.

BONS AMBIENTES DE TRABALHO MELHORAM A ROTINA NAS EMPRESAS

 

Camila Petry Feiler – StartSe

Pesquisa revela que 62% dos trabalhadores tem sentido mais felicidade na rotina; Como as empresas estão criando essas condições?

Os trabalhadores americanos nunca estiveram tão felizes. Pelo menos, é o que mostra o The Conference Job de 2023, levantamento que há mais de 30 anos analisa a experiência das pessoas no trabalho. Na edição mais recente da pesquisa, cerca de 62% dos respondentes apontaram satisfação nos índices avaliados.

Entre os destaques, estão os ambientes de trabalho que focam no bem-estar do funcionário de forma mais abrangente, criando condições para que eles possam sentir mais satisfação na rotina.

Por quê? O que a pesquisa mostra é que o índice de felicidade aumentou devido a um mercado mais competitivo e acordos de trabalho mais flexíveis.

Mudanças na pandemia: em busca de condições mais adequadas às suas necessidades, as pessoas buscaram novos empregos no pós-pandemia.

    “A satisfação geral no trabalho é 3,6 pontos percentuais maior entre aqueles que encontraram um novo emprego desde o início da pandemia, em comparação com aqueles que não o fizeram. Os trabalhadores em seu novo emprego relataram maior satisfação em todos os componentes de trabalho comparáveis. As maiores diferenças estão nos programas de treinamento (+16,4), plano de bônus (+15,8), política de benefícios de saúde mental (+13,5) e política de promoção (+13,1).” anos

Homens estão mais felizes no trabalho do que as mulheres?

Sim, mulheres aparecem menos felizes do que homens em todas as categorias da pesquisa. Apesar das evoluções, elas ainda sentem o peso dos salários e bônus mais baixos, além da falta de reconhecimento, potencial de crescimento e canais de comunicação.

Outro fator está relacionado à falta de flexibilidade: a volta aos escritórios está pesando e levando, principalmente mães, de volta para casa.

Como as empresas estão apostando em mais felicidade no trabalho?

No Brasil, uma pesquisa feita pela consultoria Robert Half mostra que 89% das companhias reconhecem que bons resultados estão diretamente ligados à motivação e à felicidade dos colaboradores.

E existem cinco principais fatores que promovem esse sentimento:

    Gostar muito da profissão (69%)

    Bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional (62%)

    Ser tratado com igualdade e respeito (58%)

    Sentir orgulho da organização (53%)

    Sentir-se realizado com o trabalho (51%)

Por isso, a busca por ambientes de trabalho cada vez mais saudáveis e felizes estão no radar das empresas – principalmente daquelas que buscam diferenciais competitivos para garantir os melhores profissionais.

A Heineken, por exemplo, acabou de anunciar a criação da diretoria de felicidade. Sob a liderança da psicóloga e profissional de Recursos Humanos, Lívia Azevedo, a nova área visa dar foco à felicidade dentro da organização.

A ideia é fomentar o pilar de felicidade corporativa em pessoas dentro da organização, criando formações para as lideranças a partir das necessidades mapeadas, além de gerar uma proximidade maior com os funcionários.

Por que importa?

Mais do que cargos e salários, a busca é por equilíbrio, satisfação e reconhecimento. Para isso, é preciso se preparar culturalmente, enquanto empresa, para agregar à experiência e crescimento do colaborador.

Analisar, ouvir e colocar indicadores pode ser um bom jeito de entender em que grau de felicidade sua organização se encontra e quais os próximos passos. Além disso, é fundamental contar com o RH como um facilitador, construindo uma rede interna de aliados para que exista constância e valor nos projetos focados em felicidade.

Afinal, a gestão estratégica da felicidade no ambiente corporativo pode trazer impactos na produtividade e resultados dos negócios. Pois é, felicidade como pauta de negócio, quem diria.

 A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

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sábado, 10 de junho de 2023

ARCABOUÇO FISCAL VAI GERAR ROMBO NAS CONTAS PÚBLICAS E NINGUÉM SERÁ PUNIDO POR ISSO

 

Dúvidas sobre arcabouço fiscal

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad: analistas desconfiam das metas do arcabouço fiscal e preveem rombo nas contas públicas durante todo o governo Lula.| Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal

Analistas do mercado estão céticos em relação às metas de resultado primário definidas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua proposta de novo arcabouço fiscal. Enquanto o Ministério da Fazenda se propõe a zerar o déficit no próximo ano e obter superávits já a partir de 2025, as projeções de operadores financeiros têm apontado para um cenário mais pessimista.

O cumprimento das metas fiscais estabelecidas pela equipe econômica é considerado fundamental pelo governo para conseguir elevar os gastos públicos ano a ano e, assim, executar as políticas públicas prometidas em campanha.

Aprovado no fim de maio pela Câmara dos Deputados e na dependência do aval também do Senado, a proposta do governo de nova regra fiscal estabelece como meta um resultado primário neutro em 2024 e depois superávit equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e de 1% em 2026.

O texto prevê uma banda de tolerância equivalente a 0,25 ponto porcentual do PIB para a meta de cada ano – ou seja, o governo ainda estaria cumprindo o objetivo se apresentar déficit de até -0,25% do PIB em 2024.

A mediana das expectativas de operadores financeiros, no entanto, aponta para um rombo equivalente a 0,7% do PIB no ano que vem, segundo a última edição do boletim Focus, do Banco Central. Para os anos seguintes, as projeções são de novos déficits, de 0,34% e 0,2% do PIB, respectivamente. Ou seja, as expectativas são de contas no vermelho durante todo o mandato de Lula.

Entre as razões para o prognóstico estão incertezas em relação às medidas que o governo precisa adotar para elevar a arrecadação e a possibilidade de elevação real de gastos acima do estabelecido na própria regra fiscal.

Meta fiscal depende de forte aumento da arrecadação de impostos
Desde a apresentação do novo arcabouço fiscal, o aspecto mais sensível a críticas da proposta está na necessidade de um crescimento robusto de receitas para sustentar o modelo. Vários economistas consideram inevitável um aumento de carga tributária para os próximos anos.

De lá para cá, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já apresentou uma série de medidas para arrecadar mais, mas o impacto estimado ainda estaria aquém do necessário para zerar o déficit nas contas públicas.

Para 2023, o próprio governo prevê um resultado primário negativo em R$ 136,2 bilhões – a projeção foi revisada para baixo no último dia 22, ante estimativa anterior de R$ 107,5 bilhões.

Ao mesmo tempo, uma “artimanha” incluída na versão final do projeto do novo arcabouço autoriza o Executivo a aumentar o espaço para novas despesas no mês de maio de 2024, caso a receita projetada para o exercício, ao fim do segundo bimestre, seja superior à prevista na Lei Orçamentária Anual (LOA).

A ampliação do limite de gastos, nesse caso, ocorrerá na proporção da diferença entre o projetado para 2024 em relação ao realizado em 2023 e o estabelecido na LOA, até o máximo de 2,5% de aumento real.

Bradesco, XP e IFI preveem rombo nas contas públicas de 1% do PIB em 2024
“Para o ano que vem, o texto aprovado abre a possibilidade de aumento real do gasto superar os 70% do crescimento da receita líquida até o meio desse ano”, comentam economistas do Bradesco, em relatório de análise econômica. “Com o texto aprovado, mantemos nossa projeção de primário de -1% para o próximo ano”.

Outro grupo que prevê resultado primário negativo de -1% do PIB é o da Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado. O órgão prevê indicadores negativos também em 2025 (-0,8%) e em 2026 (-0,4%).

“A complexidade da regra fiscal e a dependência de fontes de financiamento que ainda não foram apresentadas aumentam os riscos de descumprimento das regras propostas no médio prazo”, diz a economista Vilma da Conceição Pinto, diretora da IFI, em relatório de acompanhamento fiscal da instituição.

“Esse cenário de incerteza em relação às receitas primárias evidencia o tamanho do esforço necessário para o alcance da meta de resultado primário”, complementa.

A XP Investimentos também projeta déficit primário do governo central em patamar equivalente a -1% do PIB em 2024.

“Para fechar a conta e chegar a um resultado primário neutro em 2024, em linha com a meta definida na LDO, o governo precisa de R$ 110 bilhões a R$ 150 bilhões adicionais em receitas líquidas de transferências. As medidas anunciadas pelo governo até o momento são insuficientes para se chegar a tal valor”, comenta a equipe de analistas da corretora.

Arcabouço é narrativa ficcional, diz líder da oposição no Senado
“Já começa mostrando que o arcabouço é uma narrativa ficcional. O governo apresenta uma meta que deliberadamente não irá cumprir”, comentou o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”.

“Eu afirmo que não vai [cumprir a meta em 2024]. Pelo projeto, ele precisará mandar uma carta ao Parlamento e estamos conversados”, disse o senador.

O projeto de lei complementar que institui o novo arcabouço fiscal não prevê imputação de crime de responsabilidade ao presidente da República em caso de descumprimento do objetivo, apenas a necessidade de redação de uma carta ao Congresso com as justificativas para o não atingimento da meta.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/analistas-preveem-rombo-nas-contas-publicas-durante-todo-o-governo-lula/
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JANELA DE OVERTON EXPLICA A RELAÇÃO ENTRE OS POLÍTICOS E O POVO

 

Opinião pública
Por
Gabriel de Arruda Castro – Gazeta do Povo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda) conversa com ministro da Justiça, Flávio Dino (no centro) e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes (à direita), durante reunião com chefes dos Três Poderes, governadores e ministros: atores políticos são mestres em detectar onde está a Janela de Overton| Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

A ideia não nasceu de um livro ou tese acadêmica. Ela surgiu quase que de maneira informal. Nos anos 90, Joseph Overton, um analista político americano, desenvolveu um modelo que buscava explicar a relação entre a opinião pública e as políticas implementadas por legisladores e governantes. Overton morreu em um acidente de avião em 2003, mas um colega dele, Joseph Lehman, deu um passo adiante a apresentou o conceito de forma mais sistemática. Ele chamou-o de Janela de Overton.

A ideia é relativamente simples: dentro do debate político, qualquer tema específico tem uma ampla gama de soluções possíveis. Mas apenas uma parcela dessas soluções é considerada aceitável pela opinião pública. Todas as outras estão fora do que é politicamente factível. Em outras palavras, estão fora da Janela de Overton.

Quando morreu, Joseph P. Overton era vice-presidente do Mackinac Center — organização pró-livre mercado com sede no Michigan. Lehman, que preside a entidade, produziu um vídeo em que explica melhor o conceito. Ele afirma que a Janela de Overton não tem relação com os benefícios de uma determinada proposta, mas sim com a sua viabilidade: “A janela de Overton não é capaz de dizer se uma política é boa ou ruim. O que ela faz é mostrar quais possibilidades estão à beira da possibilidade. Ideias que estão no limite da janela de Overton, ou imediatamente fora dela, podem se tornar a realidade política de amanhã.”

Segundo Lehman, o que muda a Janela de Overton são fatores fora da política partidária, como a imprensa, a indústria do entretenimento, think tanks, ou ainda eventos históricos. “Existe uma percepção equivocada de que os políticos em si movem a janela de Overton. Na realidade, é o contrário. Os políticos são bons em detectar onde está a Janela de Overton e reagir a ela”, ele diz.

Overton e Lehman constataram, portanto, que políticos profissionais não tentam mudar a cabeça do eleitor: eles encomendam pesquisas caras e pagam marqueteiros profissionais para poder dizer exatamente o que o eleitor quer ouvir, e da forma mais convincente. Quase que instintivamente, eles sabem que, em uma democracia, não é recomendável gastar tempo e energia buscando a aprovação de uma lei ou a implementação de uma política antes que ela esteja dentro da Janela de Overton.

Por ter nascido no ambiente dos think tanks pró-livre mercado, a Janela de Overton é mais conhecida nesse lado do espectro político. A influente Atlas Network, que apoia organizações liberais e conservadoras ao redor do mundo, divide os think tanks em duas categorias principais: o primeiro grupo pretende mover a Janela de Overton. O segundo pretende atuar dentro dela para aprovar o que for possível.

Ideal x Factível
Embora seja mais popular entre liberais e conservadores, a ideia da Janela de Overton é uma ferramenta neutra politicamente.

No tema do aborto, por exemplo, é possível imaginar dois extremos: a proibição total e a liberação total até o nono mês de gestação. Entre os dois polos, existe pelo menos duas dezenas de posições possíveis, das quais três ou quatro talvez estejam dentro da Janela de Overton no contexto brasileiro: se as pesquisas de opinião estiverem corretas, os brasileiros são contra o aborto, mas admitem a prática em casos excepcionais. Muitas organizações pró-vida tentam mover a janela em uma direção (para impedir, por exemplo, que o aborto de anencéfalos seja considerado aceitável), enquanto grupos pró-aborto tentam mover a janela no sentido oposto (para convencer a opinião pública a aceitar o aborto até mesmo nas fases avançadas de gestação). Por ora, a legislação em vigor parece estar em linha com a Janela de Overton, o que talvez explique por que a lei não sofreu qualquer modificação nas últimas décadas.

Outro exemplo possível é o de uma organização hipotética cujo objetivo final é a privatização de todas as universidades federais brasileiras. A proposta não parece ter apoio de uma parcela relevante da população, e tampouco é tratada como plausível no debate público. Ela está claramente fora da Janela de Overton. A organização terá de decidir se continua tentando mudar a Janela de Overton até que a privatização se torne plausível, ou se atua dentro da janela para buscar um fim intermediário que esteja dentro da Janela de Overton — como a cobrança de mensalidade em cursos de pós-graduação, de acordo com a renda do aluno.

Obviamente, nem sempre é fácil medir exatamente onde está a Janela de Overton em um determinado tema. Isso depende de avaliar corretamente a opinião pública — o que é feito exatamente como os políticos o fazem: por meio de pesquisas de opinião, estudos sobre o que é publicado na imprensa e, mais recentemente, análises das redes sociais.

Mas não é preciso muito esforço para constatar que algumas propostas estão claramente fora da Janela de Overton no contexto brasileiro. Por exemplo: a volta da monarquia. Organizações que defendem o retorno do regime monárquico precisam focar suas ações na popularização dessa ideia e não na tentativa de convencer as autoridades a mudar o regime adotado no país. O mesmo vale para medidas pouco populares como a estatização dos bancos privados, a proibição da venda de bebidas alcoólicas ou a adoção do dólar como moeda nacional. Quem quer que defenda essas ideias precisará primeiro convencer a opinião pública de que elas são plausíveis — ou seja: mover a Janela de Overton.

Para Lucas Freire, doutor em Política pela Universidade de Exeter, o modelo da Janela de Overton é útil para descrever a dinâmica entre a opinião pública e o debate político. Mas, por si só, ela não explica o que fazer para mover a janela. “Para explicar o mecanismo de mudança dessa janela, eu não acho que o conceito em si é útil. É preciso combiná-lo sobre alguma teoria, alguma explicação sobre o que puxa a janela para um lado ou para outro”, diz ele.

Redes sociais desafiam modelo
Quando a teoria da Janela de Overton foi desenvolvida, as redes sociais não eram um ator relevante no debate político; boa parte do que era considerado politicamente factível dependia do filtro da imprensa tradicional. O advento do Twitter, do Instagram e do Facebook mudou essa lógica de duas formas: primeiro, ao acelerar o ritmo com que essas mudanças ocorrem.

Em segundo lugar, ao permitir que atores sem acesso aos jornais e TVs influenciem a opinião pública. “Existe a possibilidade de trazer uma exposição de ideias tão fora da janela que a mídia mainstream talvez não considerasse. Numa discussão mais polarizada, onde a imprensa só mostra os dois grandes blocos, os extremos acabam tendo que achar outras formas de divulgar suas ideias”, diz Lucas Freire.

A maior facilidade de comunicação talvez explique a aceleração com que a janela de Overton se move. Nos Estados Unidos, por exemplo, levou menos de uma década para que o casamento gay passasse de uma proposta tida como radical (e rejeitada até mesmo pelos eleitores da Califórnia, em um plebiscito em 2008) para uma ideia aceita pela ampla maioria dos americanos.

Uma mudança ainda mais rápida tem acontecido com outros temas, nem sempre acompanhando a opinião pública, mas seguindo o coro vigente nas redes sociais. Censura à liberdade de expressão (especialmente calando os setores conservadores da sociedade), intervenção excessiva do Estado na economia e até o desmonte do combate à corrupção passaram a ser defendidos. Por convicção ou oportunismo, muitos políticos têm abraçado a ideia.


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PODEROSOS VÃO ACABAR COM A LAVA JATO E PRENDER MORO E DELTAN

Entrevista com Rodrigo Chemim
Diz autor de livro sobre a Lava Jato
Por
Sílvio Ribas – Gazeta do Povo
Brasília

RODRIGO CHEMEIM PROMOTOR que irá escrever coluna na gazeta


Rodrigo Chemim é autor do livro “Mãos Limpas e Lava Jato: a corrupção se olha no espelho”| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo

Os poderosos não vão descansar enquanto o senador Sergio Moro (União-PR) e o ex-deputado federal Deltan Dallagnol não estiverem presos. Após uma série de reveses impostos pelos Três Poderes à operação Lava Jato, essa é a conclusão de Rodrigo Chemim, autor do livro “Mãos Limpas e Lava Jato: a corrupção se olha no espelho” (2017).

Procurador do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e doutor em Direito de Estado, ele lamenta pelo iminente “desfecho melancólico” da maior operação de combate à corrupção da história do país, iniciada em 2014. Esse fim está sendo, segundo ele, ainda pior do que o da Mãos Limpas, operação italiana de combate à corrupção nos anos 1990, que serviu de inspiração para a Lava Jato.

Nesta entrevista à Gazeta do Povo, ele destaca as notáveis semelhanças entre as operações, desde a descoberta de esquemas corruptos nos setores público e privado até as justificativas e orquestrações adotadas pelos investigados e condenados do sistema político para escapar da Justiça.

Chemim acredita que serão necessárias décadas para restaurar o papel saneador da Lava Jato, cujo legado continua sendo desmantelado sem piedade, a menos que haja um ressurgimento do apoio popular e uma maioria parlamentar comprometida com essa causa. A conscientização das gerações futuras sobre a importância da ética também é vista como um fator crucial para o longo prazo. Confira os principais trechos desta entrevista.

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Fatos como a recente cassação do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) confirmam a previsão que o senhor fez no livro sobre a Lava Jato, a de que ela corria sério risco de sofrer derrotas, tal qual as sofridas pela operação Mãos Limpas, da Itália?

Rodrigo Chemim – Está se confirmando um gravíssimo revés para a Lava Jato, bem maior do que o sofrido pela Mãos Limpas (Mani Pulite), anterior e igualmente notória ao impor uma série histórica de derrotas à corrupção sistêmica e estrutural praticada por poderosos em seus respectivos países. Isso ocorre porque a reação em contrário que a operação brasileira sofreu partiu com forte intensidade de todos os lados e não concentrada apenas no Parlamento, como foi a italiana.

O contra-ataque aqui veio no terreno legislativo com apoio de todas as correntes ideológicas do Congresso e, também, do Poder Executivo, além de um desmantelamento sistemático pelo Ministério Público Federal e por um Judiciário cada vez mais forte. Os interesses feridos dos atingidos gerou um movimento mais potente contra a operação e de efeitos bem mais arrasadores.

Como o senhor avalia a migração para a arena política dos nomes mais emblemáticos da Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol? Eles tentaram potencializar o combate à corrupção no Legislativo e no Executivo ou se refugiaram de ameaças sofridas no Judiciário?

Rodrigo Chemim – Entendo que a prática mostrou não ter sido uma boa estratégia para Sergio Moro e Deltan Dallagnol a ida deles para a política. O próprio gesto de buscar postos de poder forneceu ou reforçou argumentos àqueles que já atacavam impiedosamente a Lava Jato. Não creio que, originalmente, os responsáveis pela operação tivessem qualquer pretensão de disputar espaços no Executivo e no Judiciário. Eles, contudo, acabaram se desiludindo com desdobramentos dos fatos e com a própria Justiça.

Quando Moro aceitou ser ministro da Justiça e da Segurança Pública deve ter avaliado a chance de seu cargo se tornar a mola propulsora para correção de leis voltadas ao combate à corrupção, além de justamente impedir que se repetisse no país o que foi visto na Itália, onde as leis foram mudadas em função dos criminosos. Na Itália, também ocorreu movimento igual, com Antonio Di Pietro, ex-procurador da Mãos Limpas, deixando o sistema jurídico no fim de 1994 e ingressando na política, após sofrer forte pressão de investigações sobre a lisura de sua atuação, que acabaram não provando nada. Foram mais de 200 representações contra ele no conselho nacional de Justiça e a necessidade de responder a essas investidas o impedia de continuar agindo. Em 1996, ele foi nomeado ministro das Obras Públicas do governo de centro-esquerda de Romano Prodi, mas teve de deixar o cargo após seis meses por novas acusações de corrupção, que também não deram em nada. Em 1997, Di Pietro foi eleito senador na coalizão de centro-esquerda e, no ano seguinte, fundou o próprio partido, Itália dos Valores, focado na legalidade. Ele liderou a legenda até 2014 e hoje é advogado.

Está claro que o modus operandi dos inimigos da Mãos Limpas lá foi replicado pelos alvos da Lava Jato, tanto em discurso quanto em prática. A presença dos símbolos da operação na arena política deu margem à argumentação de que eles não tinham a devida isenção e, por isso, eu não optaria pela mudança. Discordo da ilação dos rivais deles, mas entendo que Moro e Dallagnol já haviam atingido seus limites e estavam sem espaço para continuar lutando.

Qual a importância que o senhor dá à pecha de atuação antipolítica atribuída à Lava Jato pelos seus alvos poderosos e pelos advogados deles?

Rodrigo Chemim – A tal ação antipolítica é mero discurso. A Operação Lava Jato tratou exclusivamente de fatos, reunindo inúmeras provas cabais de toda ordem, com as confissões mais variadas e desnudando os saques aos cofres públicos mais expressivos da história brasileira. Nunca se revelou um esquema criminoso tão amplo e danoso quanto foram nos primeiros anos da Lava Jato.

A Mãos Limpas enfrentou o mesmíssimo discurso vitimista da classe política, de que a operação investia na tal criminalização da política e que tinha um projeto próprio de poder. Percebe-se com facilidade coincidências da narrativa orquestrada contra o combate à corrupção até nas palavras-chave. Entre os principais investigados na Itália, o ex-primeiro ministro Bettino Craxi fugiu de uma possível prisão ao ser processado pela Mãos Limpas e se exilou na Tunísia. Comparável ao caso do presidente Lula, ele produziu uma sequência de mensagens na forma de cartas nas quais constrói a tese de perseguição armada por figuras do Judiciário, uma fala idêntica de muitos políticos condenados pela Lava Jato.

Por que operações de combate à corrupção com massivo respaldo popular acabaram tendo desfechos tão ruins? O que aconteceu para que sua influência e seu apoio nacional se esvaziassem tanto?

Rodrigo Chemim – De fato, tanto a Mãos Limpas quanto a Lava Jato receberam grande apoio popular, a ponto de mudar o cenário político em seus países e alterar o curso de acontecimentos. Ocorre que estes grandes feitos produziram fortíssima reação contrária em favor do esvaziamento das operações.

No caso brasileiro, esta reação se deu de forma consertada por um establishment unido de uma maneira jamais vista antes. Essa coesão de poderosos contra a força tarefa brasileira ocorreu porque ela alcançou quase todos os partidos políticos. No começo, desde 2014, os alvos estavam restritos ao PT e ao PP. Mas, no fim de 2016, com a delação premiada da construtora Odebrecht, a investigação chega a praticamente todas as legendas. Foram investigados 32 dos 33 partidos, deixando apenas o PSOL de fora.

Com isso, políticos rivais se deram as mãos e até mesmo a postura dos ministros do Supremo Tribunal Federal mudou. O que estava em xeque era o próprio modo de se fazer política no país, colocando na parede todo o sistema político e sua classe dirigente. A busca de revanche se tornou então inevitável. A divisão ideológica acabou e iniciou-se a arregimentação para martelar o discurso vitimista de acusados, com viés condenatório à operação, visando desmoralizar os investigadores e, assim, inverter o jogo.

Vestir-se de vítima e pintar o acusador de criminoso foi a tática vitoriosa na Itália que se repetiu aqui, tal qual ensinou o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788–1860) no livro “Como vencer o debate sem precisar ter razão”.

Na sua opinião, como será o futuro da Lava Jato diante de tantos eventos desfavoráveis ocorridos desde 2019 e intensificados recentemente?

Rodrigo Chemim – Receio que estejamos caminhando para um desfecho melancólico da operação. A classe dominante, como descrita no livro “Os donos do poder” pelo jurista Raymundo Faoro, enviou uma mensagem clara e direta aos procuradores e promotores de justiça do país: “Não se atrevam a chegar aonde chegaram”. Agora, estão indo atrás do senador Sergio Moro e não descansarão até prendê-lo e a Deltan Dallagnol, como ficou evidente na celebração pública da cassação do ex-deputado pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Na Itália, a comemoração dos poderosos foi mais contida e quase envergonhada. No Brasil, eles celebram diante das derrotas da Lava Jato, algo que assusta. Como procurador de justiça, esse cenário tira minha motivação para agir, pois eu e meus colegas estamos ameaçados antecipadamente de retaliações. Receio que esse processo de vingança ainda não tenha terminado. Ele começou lá atrás, com investigações na Odebrecht que chegaram ao PSDB, até então visto como beneficiário da Lava Jato.

A partir daí, as jurisprudências mudaram, sobretudo com duas decisões que visavam destruir juridicamente a Lava Jato e pôr fim ao sucesso investigativo que expôs as entranhas corruptas do exercício do poder, revelando como o sistema corrupto funciona e como os jogos são manipulados por ele.

A primeira foi a mudança de interpretação do STF sobre a prisão após condenação em segunda instância, em 2019, minando a sua capacidade investigativa. Em seguida, veio a decisão do Supremo de transferir as investigações sobre caixa dois da Justiça Federal para a Justiça Eleitoral, sem a devida estrutura para isso.

A Lava Jato teve o mérito de fazer a lei se tornar uma ameaça crível para aqueles que cometiam desvios de recursos públicos. Nunca tínhamos alcançado o andar de cima, que sempre recebia penas leves ou, devido aos recursos intermináveis, seus processos nunca chegavam a uma conclusão, rumando para a prescrição. A legislação benevolente sempre inibiu a repressão à criminalidade das elites, e os advogados se acostumaram a trabalhar com o tempo, apresentando 30 recursos. Na Lava Jato, os investigados correram para a delação premiada diante da impossibilidade de enfrentar provas irrefutáveis, sem a chance de anulá-las ou permitir a prescrição dos casos. Os advogados cumpriram seu papel, apoiados pela jurisprudência e apostando em uma anomalia, a da prescrição como regra. O Legislativo e o Judiciário deveriam ter o ímpeto de corrigir essa anomalia e eliminar o crime, mas o tem só até certo ponto.

Por fim, a mudança na jurisdição de processos de âmbito federal para estadual, alterando algo que vigorou por cinco anos, representou esforço terrível para anular tudo. A força-tarefa não poderia prever, em 2014, as decisões do Judiciário que enterrariam suas conquistas. Políticos como Eduardo Cunha se beneficiaram do mesmo argumento e da reação do establishment. Ficou claro que as relações de amizade no poder prevalecem sobre a lei.

Quando vemos hoje o churrasco nada republicano entre o presidente da República e ministros do STF, sabemos que Faoro estava certo ao apontar uma situação de domínio personalizado do poder que remonta aos tempos coloniais. Portanto, é algo extremamente desanimador, que deixa a população cansada e sem esperanças para o futuro próximo. Não se vislumbra a perspectiva de mudanças legislativas positivas a curto prazo para conter os abusos contra o patrimônio público.

No médio prazo, talvez haja alguma esperança, se o Parlamento reagir. E, em longo prazo, seria necessário investir pesadamente e de forma contínua na educação para a cidadania, começando agora e abrangendo cinco gerações, a fim de elevar o país a novo patamar de moralidade.

Como o senhor avalia a afirmação do procurador-geral da República, Augusto Aras, em recente entrevista ao canal Perfil, de que a Lava Jato tentou criminalizar a política e foi responsável por demissões em massa de empreiteiras, merecendo críticas por impactos negativos também na economia?

Rodrigo Chemim – É um absurdo completo, quase como se sugerisse que não interferir na corrupção seria melhor, tolerando-a como se fosse a graxa da engrenagem econômica do país desde os anos 1970. Essa afirmação é semelhante a um juiz responsabilizar o policial pelo assassinato do cadáver que ele mesmo encontrou.

O desmando político e as condutas criminosas são prejudiciais tanto para a macro quanto para a microeconomia. Internamente, não há investimento em tecnologia, mas sim na corrupção do político, em detrimento da melhoria dos produtos e processos industriais. Empresários se sentem desestimulados a participar, ou aderem ao modelo corrupto, ou então deixam o setor, resultando em um efeito ressaca em cascata. Aqueles que se corrompem desencadeiam uma onda que destrói a concorrência, criando um efeito espiral em que outros são arrastados. O criminoso tenta criar desculpas para ressignificar suas práticas. O ex-ministro Antonio Palocci, por exemplo, quando interrogado, inicialmente alega que havia parceria com a iniciativa privada, mas logo depois corrige-se, admitindo que era tudo corrupção mesmo.

O senhor acha que houve excessos explícitos da Lava Jato, como apontam hoje com muita ênfase juízes e políticos influentes?

Rodrigo Chemim – No geral, discordo dessa visão. Na minha opinião, pode ter havido excessos nas situações de condução coercitiva, que em teoria não deveriam ser consideradas como primeira opção. Além disso, acredito que a divulgação dos áudios da então presidente Dilma Rousseff em conversa com Lula não deveria ter ocorrido daquela forma. Embora seja legítimo o interesse da sociedade no conteúdo, uma vez que envolve o chefe do Executivo em exercício, o vazamento deveria ter ocorrido com autorização do STF.

Em relação às revelações trazidas pela chamada “Vaza Jato”, vejo poucas coisas realmente problemáticas, que possam ser interpretadas como erros. A indicação de testemunhas é algo rotineiro. Em qualquer comarca do interior, é normal o juiz fornecer informações e providências. Por ser a figura que melhor representa a ideia de justiça, é comum que receba testemunhas em seu gabinete e as encaminhe à promotoria.

Quanto ao episódio conhecido pelo powerpoint de Deltan Dallagnol, acredito que tenha sido apenas uma tentativa de apresentar de forma didática o objeto da denúncia, mas acabou sendo explorado como uma forma precária de indicar o líder de uma organização criminosa com foro privilegiado. Foi talvez um formato infeliz de comunicação, embora não seja um erro em si.


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GOVERNO INISITE EM DERRUBAR A REFORMA TRIBUTÁRIA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Brasília (DF), 31-05-2023 – O Advogado-Geral da União, Jorge Rodrigo Messias, a Procuradora-Geral da Fazenda Nacional, Anelize Lenzi, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o Ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, participam da abertura do 7º Congresso Anual do Contencioso Tributário da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Foto Valter Campanato/Agência Brasil.


Ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, defendeu revisão da reforma trabalhista| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Apontar inimigos inexistentes para justificar os problemas da economia brasileira tem sido uma tática comum deste terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Além de insistir na mentira de uma “herança maldita” deixada pelo governo anterior, e culpar o Banco Central e as taxas dos juros pelo desemprego, Lula e seus ministros, em especial o do Trabalho, Luiz Marinho, têm verdadeira obsessão em apontar o dedo para a Reforma Trabalhista como mais um inimigo a ser abatido – e não estão poupando esforços para tentar concretizar esse objetivo.

Nesta semana, Marinho voltou a falar do assunto, garantindo que um projeto para rever a reforma deve ser apresentado no próximo semestre. Em vez de propor políticas públicas que incrementem a geração de emprego e renda no país, a pressa petista parece estar direcionada a desfazer os atos de governos anteriores, em especial aqueles em direção da desestatização das relações econômicas. A “revisão” pretendida por Lula e Marinho, como se sabe, é a derrubada do máximo possível de itens da reforma trabalhista sancionada por Michel Temer em 2017.

O que se quer é restabelecer os velhos paradigmas do sindicalismo ultrapassado e de uma economia arcaica e estatizada.

Desde antes de ser eleito, Lula e seu partido já criticavam a legislação, em especial os pontos que trouxeram mais autonomia aos empregadores na hora de contratar e diminuíram o poder dos sindicatos. De fato, para a visão estatizante do petismo, é inaceitável que os brasileiros possam decidir por si mesmos como regular suas relações de trabalho, ressalvadas as garantias constitucionais e respeitados os princípios da dignidade humana. O plano petista é que tudo passe pelas amarras do Estado e dos sindicatos – aliados políticos de longa data do petismo.

Em fevereiro deste ano, em mensagem ao Congresso, o presidente já tinha cobrado apoio dos parlamentares para alterar a legislação, argumentando que a reforma trabalhista foi usada para “flexibilizar a regulação laboral e enfraquecer as entidades sindicais”, e reclamando da “asfixia financeira” dos sindicatos. Por isso, é certo que a contrarreforma trabalhista de Lula deve incluir meios de aumentar a arrecadação dos sindicatos. Lembremos que antes da reforma havia a obrigatoriedade da contribuição sindical – todos os anos os trabalhadores cediam o equivalente a um dia de trabalho ao sindicato ao qual estavam filiados.

Só para se ter uma ideia, de janeiro a novembro de 2017, quando a reforma trabalhista passou a valer, os sindicatos receberam R$ 3,05 bilhões em contribuição sindical. Em 2021, esse valor foi de R$ 65,5 milhões em 2021. Ora, se houve essa queda na arrecadação foi porque os próprios trabalhadores perceberam que não valia a pena continuar financiando esse tipo de entidade. Mas para o governo petista, os trabalhadores não podem ter o direito de escolha e precisam sustentar as estruturas sindicais – muitas delas usadas politicamente.

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Outro ponto que causa ojeriza ao governo de Lula é a situação dos trabalhadores terceirizados e por aplicativos, que Marinho chegou a comparar com “trabalho análogo à escravidão”. Para o governo, as regras estariam “muito frouxas” – o que no vocabulário estatista significa que há muita liberdade e pouca intromissão do governo. No caso específico dos trabalhadores por aplicativo, Marinho já deixou claro que vai estreitar o laço, mesmo que isso leve à saída dos serviços do país.

Embora fosse bem-vinda uma regulamentação razoável, que pudesse trazer segurança jurídica para a atividade, ao mesmo tempo em que respeitasse a liberdade de motoristas, motociclistas e empresas, parece pouco provável que seja esse o caso. O que se quer é restabelecer os velhos paradigmas do sindicalismo ultrapassado e de uma economia arcaica e estatizada, onde as relações de trabalho precisam ser engessadas pela burocracia. Aí a insistência de Marinho se justifica: não há tempo a perder para afundar cada vez mais o Brasil no atraso.


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O ÍCARO BRASILEIRO GOSTA MUITO DE VIAJAR E ESQUECE DOS PROBLEMAS INTERNOS


Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


| Foto: EFE

O presidente quase ficou sem 17 ministérios e 17 ministros quase ficaram sem pasta. E não conseguiu tirar o COAF do Banco Central nem extinguir a FUNASA, nem dar o Cadastro Ambiental Rural e a Agência de Águas para a Marina Silva, nem a demarcação de terras indígenas para a Sônia Guajajara. E ainda pagou caro pela aprovação por um triz da nova estrutura de governo: o recorde de 1,7 bilhões em emendas liberadas no dia da votação. Se Lula ficou surpreso com esse resultado é porque anda afastado demais do país, voando demais. Na intimidade, se sabe que culpa seus articuladores no Congresso, embora todos saibamos que Artur Lira teve boas razões para prevenir o governo de que o problema está mais acima.

Talvez seja difícil para o presidente entender que ele foi eleito pela metade dos eleitores. A outra metade é oposição. Na melhor das hipóteses para ele, o país está dividido; ele não teve uma vitória esmagadora, como para ele parece. Além disso, a eleição que renovou a Câmara mostrou que cerca de dois terços dos deputados vêm de partidos e votos de centro-direita; a renovação de um terço do Senado aumentou a bancada conservadora para mais de 60%. Resta ao governo apelar ao fisiologismo; liberou emendas e agora fala em dar mais ministérios a partidos que ainda não receberam. Motivos para refazer o ministério é que não faltam.

Culpar articulação no Congresso é só ficar com uma parte do diagnóstico. Ministros inexperientes não têm noção de como se relacionar com deputados e senadores e, pelo jeito, cinco meses não foram suficientes para sentir que cada um tem que servir ao seu público, ao povo e ao mesmo tempo dar atenção aos integrantes do Poder Legislativo. Governo não é apenas o Executivo e, como se sabe, o falado semipresidencialismo já é uma prática há mais de quatro anos. Mesmo os experientes ex-governadores, hoje no ministério, estão gerando desgastes no governo, como o ministro da Justiça, Flávio Dino, e agora o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que, sem ser provocado, fez um discurso preconceituoso ofendendo Brasília, os brasilienses e levantando até os petistas da bancada do DF contra o ministro coordenador do governo. Nunca se havia ouvido antes um governador chamar ministro de “um idiota completo”, como disse ao Correio Braziliense Ibaneis Rocha (MDB) referindo-se a Rui Costa.

Talvez seja difícil para o presidente entender que ele foi eleito pela metade dos eleitores. A outra metade é oposição

Não foi apenas a escolha do ministério inchado, mas também o espírito de revanche e desmanche. O teto de gastos, a privatizada Eletrobras, o marco do saneamento e a autonomia do Banco Central estão entre as tentativas de retroceder décadas e afastam também os notáveis que assinaram a Carta pela Democracia que apoiou Lula. E já aparecem editoriais e artigos com forte crítica ao governo, em órgãos que apoiaram a candidatura Lula. O programa econômico é claudicante; essa última novela de carro popular com corte de impostos, depois com bônus, e agora “repaginado” para caminhões e ônibus que já têm combustível subsidiado, mostra como a área econômica está insegura, indecisa e é incipiente no ramo.

A terceira década do milênio já não é como a primeira – essa é outra falha na percepção do chefe do Executivo. Aí, voa para fora do país – até quer um avião maior -, afastando-se das dificuldades internas. Viagens que causam mais críticas que elogios, nessa política externa de incensar o ditador Maduro em Brasília, sendo anfitrião de outros presidentes. Dia 22 será a 11ª viagem internacional – uma por quinzena. O próximo destino pode ser Paris para tratar de clima. Depois vai ao Vaticano.  Na verdade, para tratar de clima, deveria voar para o Sol, que é responsável pelo clima da terra. Mas, cautela: Ícaro iludiu-se sem saber que as asas estavam derretendo.


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