segunda-feira, 29 de maio de 2023

MANIFESTAÇÕES MARCADAS PARA O DIA 4/6

Só se não chover

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

São Paulo – Manifestação na Avenida Paulista, região central da capital, contra a corrupção e pela saída da presidenta Dilma Rousseff (Rovena Rosa/Agência Brasil)


Há motivos de sobra para ir às manifestações de 4/6. Apoiar Dallagnol não é o único. O problema é que os protestos foram convocados pelo MBL.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Já faz algum tempo que ouço por aí que o povo tem de voltar às ruas Tem que mostrar quem manda neste país. Tem que deixar claro que não vai aceitar isso e aquilo. Tem que esfregar a vontade popular na cara dos poderosos. Mas quem é que daria o primeiro passo? Ainda mais com um STF que criminaliza manifestações de descontentamento e um Exército dado à perfídia.

Pois o Movimento Brasil Livre, mais conhecido pela sigla MBL e pelas aventuras de seus membros na Guerra da Ucrânia, e o Vem Pra Rua, duas organizações essenciais na derrubada de Dilma Rousseff, convocaram para o próximo domingo, dia 4 de junho, atos contra… Contra o quê mesmo? A pauta das manifestações é meio etérea, mas inclui o apoio a Deltan Dallagnol e o repúdio à censura.

Como diria um jornalista afeito a lugares-comuns, as manifestações pretendem dar vazão à indignação que cada vez mais acomete a população brasileira. Pelo menos aquela que faz parte da minha bolha. Uma gente que não aguenta mais ver o Lula fazer lulice e o Congresso se submeter à vontade do STF e seu miniexército de déspotas disfarçados de democratas. Uma gente que teme aquilo que hoje me parece inevitável: que o Brasil se transforme numa autocracia de esquerda.

Motivos para sair de casa no próximo domingo, portanto, não faltam. Certo? Mas então o que explica a relutância de tanta gente? Já escrevi aqui que o conforto é uma incubadora de revolucionários de sofá. Gente que prefere ficar esbravejando diante da TV ligada na Globonews ou lendo “1984” debaixo das cobertas (ainda mais nesse friozinho de hoje!) a sair às ruas. E eu talvez faça parte desse grupo. Que vergonha!

Prós e contras
Mas há duas outras razões que explicam, mas não justificam!, o esvaziamento das manifestações dos anseios populares nas ruas. Por mais que esses anseios sejam, em tese, justos e virtuosos. O mais evidente deles é a falta de credibilidade do MBL e do VPR. Que passaram quatro anos fazendo oposição ao governo Bolsonaro, quase como se preferissem um governo do PT que os mantivesse em evidência, no papel de antagonista típico de vocês-sabem-quem. Isso sem falar em certa mentalidade, digamos, autoritária dos meninos do MBL.

O outra razão é a profunda crise de confiança que assola este país eternamente dividido entre malandros que não querem se passar por otários e otários que se consideram muito malandros. Na minha bolha, por exemplo, absolutamente todos consideram a cassação de Dallagnol injusta e digna de megamanifestações. Mas todos também temem que seu apoio a uma causa inegavelmente justa seja confundido com os valores de um grupo que… francamente!

Por fim, há a sensação para alguns (entre os quais me incluo) de que esse tipo de manifestação democrática não tem mais qualquer efeito sobre os políticos e os ministros do STF. Isto é, os políticos com e os sem toga. Eles não temem a população porque sabem que aquela coisa lá de “todo o poder emana do povo” é só uma frase decorativa. Como se a Constituição fosse uma agenda de adolescente. Eles sabem que não perderão votos (que, no mais, sequer existem no mundo físico). Eles sabem que o cala-boca não morreu e quem manda na nossa boca são eles.

De qualquer modo, no dia 4 de junho pretendo estar na manifestação. Ao lado de gente honesta, mas provavelmente também ao lado de malandros oportunistas. Para, seguindo meu instinto jornalístico, ver qual é. E, já que vou estar lá mesmo, aproveitarei para dar minha manifestadinha, exibindo para quem quiser ver e ouvir a indignação que carrego no lado direito do peito. Mas só se não chover.


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ALEXANDRE DE MORAIS O HOMEM MAIS PODEROSO DO BRASIL

 

Perfil
Por
Gabriel de Arruda Castro – Gazeta do Povo


Alexandre de Moraes durante a cerimônia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 12 de dezembro de 2022.| Foto: EFE/Andre Borges

O ministro do STF Alexandre de Moraes veio ao mundo numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. O dia em que o AI-5 foi promulgado.

As manchetes dos jornais matutinos noticiavam com surpresa o fato de a Câmara dos Deputados ter rejeitado a autorização para que o Supremo Tribunal Federal processasse o deputado Márcio Moreira Alves. A maioria dos parlamentares se opôs à permissão, o que significa que o STF não poderia levar adiante as acusações contra o parlamentar.

A queda-de-braço tivera início três meses antes, depois que Moreira Alves fez declarações contundentes contra o regime militar. “Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia”, disse ele, que pedia um boicote aos militares e prosseguia: “Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.”

Sem a autorização ou “licença”, Moreira Alves não poderia ser responsabilizado. As repercussões políticas eram graves: por causa disso, o presidente Costa e Silva colocou as tropas do Exército de prontidão.

“Votei pela licença na presunção de optar por um mal menor. A atitude da Câmara, porém, foi corajosa, porque a maioria dos deputados assumiu o risco conscientemente”, elogiou o deputado Clóvis Stenzel ao jornal O Estado de S. Paulo.

No mesmo dia 13, o Executivo decidiria por uma das maiores violações dos direitos políticos praticada na história do país: o Ato Institucional número 5. Em nome da” ordem democrática” e com base “na liberdade” e no “respeito à dignidade humana”, o presidente fechava o Congresso Nacional e suspendia direitos básicos, como o habeas corpus.

A coincidência de datas talvez seja insignificante. Mas, como jurista e professor de Direito, Moraes certamente estudou com detalhes os acontecimentos daquele 13 de dezembro. Talvez ela tenha percebido que parte das pessoas está disposta a aceitar muita coisa em nome da democracia e à liberdade — até mesmo a dilapidação da democracia e da liberdade.

Jurista precoce, autor respeitado 

O jurista Alexandre de Moraes não aceitaria que o político Alexandre de Moraes se tornasse o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Em sua tese de doutorado, defendida em 2000, ele escreveu que o presidente da República não deveria ter o poder de indicar para a Suprema Corte alguém que tenha ocupado cargo de confiança em sua gestão. Mas foi exatamente assim que Moraes chegou ao STF: alçado por Michel Temer de ministro da Justiça a integrante da corte. Sem escalas.

Esta é uma das muitas contradições na trajetória do ministro que, tendo sido aluno exemplar, promotor implacável e político hábil, em pouco tempo se tornou o protagonista do Supremo Tribunal Federal.

De estudante de Direito a político a promotor de justiça a ministro do STF a (dizem alguns) “imperador absoluto” do Brasil, o paulistano Alexandre de Moraes já fez muito em seus 54 anos de vida.

Tanto que é fácil esquecer como, há apenas seis anos, ele era a esperança de um nome mais conservador para o STF, motivo pelo qual foi duramente atacado por figuras da esquerda.

A vida pública de Moraes tem suas raízes na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,  a mais tradicional instituição de ensino superior brasileira. Alexandre de Moraes formou-se lá, na turma de 1990, e ainda hoje é tratado como o grande destaque da classe que também formou advogados e professores influentes.

Ele foi considerado um jurista precoce. Já em 1997, Moraes lançou a primeira edição de um livro que o tornaria conhecido entre alunos de graduação país afora: Direito Constitucional, hoje com mais de 30 edições, apresenta de forma objetiva os dispositivos constitucionais. Ele tinha apenas 29 anos quando a obra foi publicada.

Em 2000, Moraes obteve o título de doutor também pela USP, orientado pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari — tão conhecido por sua obra acadêmica respeitada quanto por sua militância a favor do Partido dos Trabalhadores.

A tese de doutorado recebeu o título de “Teoria geral do direito constitucional administrativo — perfil constitucional da administração pública.” Nela, o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal faz uma sugestão curiosa: ele propõe que figuras com vínculo com o governo não possam ser indicadas ao STF — como ele, então ministro da Justiça, acabaria sendo 17 anos depois. “É vedado para o cargo de Ministro do STF o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tenham exercido cargo de confiança no Poder Executivo […] durante o mandato do Presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência da nossa Corte Constitucional”, escreveu Moraes, em suas recomendações.

O antigo Moraes também se opunha à usurpação de prerrogativas pelo Poder Judiciário. Em entrevista dada em 2008 ao site Conjur, ele afirmou que uma intervenção excessiva da Justiça sobre os outros poderes levaria a uma crise de legitimidade.  “O Judiciário, por meio do Supremo Tribunal Federal, fica responsável por interpretar a Constituição. Pode extrapolar de vez em quando mas, se isso acontecer sempre, vai haver uma guerrilha institucional. Se o Judiciário começar a interferir muito nos outros dois Poderes, estes passam a não cumprir mais as decisões judiciais e o Judiciário perde sua legitimidade.”

O promotor do “frangogate” 
Um ano depois de se formar, Moraes passou em primeiro lugar no concurso para promotor de Justiça do Estado de São Paulo.

Olhando em retrospectiva, a escolha pelo Ministério Público em vez da advocacia ou a magistratura talvez fosse um indicativo do perfil de alguém que prefere acusar em vez de defender. Há quem diga que em Direito Constitucional, ainda hoje muito usado em cursos de graduação, dá relativamente pouco espaço a opiniões divergentes; Moraes apresenta suas ideias com eloquência, mas sem se preocupar em contemplar visões alternativas.

Em 1996, Moraes se envolveu no primeiro caso de grande repercussão na carreira. Ele e outros promotores pediram à Justiça a cassação do mandato do então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, por improbidade administrativa. Quando o juiz negou o pedido, Moraes não fez questão de esconder sua contrariedade. “A decisão é absurda e foi totalmente equivocada. A rapidez com que o juiz despachou causa muita estranheza”, ele insinuou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Como promotor, Moraes aparecia nos jornais com frequência. Em 1999, por exemplo, ele abriu dois inquéritos contra fabricantes de cigarros. Um pedia o fim de propagandas que associassem o fumo a profissionais bem-sucedidos e a praticantes de esportes. O outro pedia uma indenização à Philip Morris e à Souza Cruz por não terem informado os clientes a respeito dos riscos oferecidos pelo cigarro.

Durante seu tempo na promotoria, ele também se envolveu em uma controvérsia. Em 1997, aos 29 anos de idade, Moraes convocou uma coletiva de imprensa para anunciar uma denúncia contra o prefeito Paulo Maluf. Moraes afirmou que a gestão do então prefeito havia comprado frangos superfaturados, e pior: de empresas ligadas a sua família.

O advogado Ênnio Bastos de Barros criticou Moraes: “Ele não guarda o necessário comedimento”, disse o defensor de Maluf. Na época, a insinuação era que Moraes teria agido politicamente para favorecer o PSDB ao lançar uma operação contra Paulo Maluf, possível adversário dos tucanos na disputa pelo governo estadual.

Maluf foi inicialmente condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 21,7 mil, além de ter os direitos políticos suspensos por cinco anos. Mas recorreu e saiu vitorioso.  “Há um grande abismo entre suspeitar de algo e perpetrar a condenação pretendida. Há a necessidade de provas mais robustas de fraude ou da existência de medidas tomadas sem a menor justificativa”, afirmou o desembargador Nogueira Diefenthaler, ao dar razão a Maluf.

Embora o caso propriamente dito seja prosaico (especialmente quando se leva em conta as outras denúncias que surgiriam contra Maluf), o episódio alimentou  a suspeita, até hoje sem provas, de que Moraes estivesse tentando tirar Maluf da disputa pelo governo de São Paulo em 1998 — o que favoreceria o tucano Márcio Covas.

O salto para a política pelas mãos de Alckmin 

Moraes continuaria sendo promotor de Justiça até 2002, quando deixou o cargo para se tornar Secretário de Justiça do governo de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin. O time também tinha Gabriel Chalita na Educação, Eduardo Guardia na Fazenda e Cláudia Costin na Cultura. Entre 2004 e 2005, Moraes acumulou o cargo com o comando da Febem. A acusação contra Maluf continuava sendo o ponto de maior destaque na sua carreira até ali. “Promotor do Frangogate assume a Justiça em SP”, noticiou o Diário do Grande ABC quando o futuro ministro do STF tomou posse.

Moraes não era o primeiro nome da lista para o cargo de secretário. Alckmin queria indicar Cláudio Lembro, professor de Direito reitor do Mackenzie. Mas uma reação de entidades de defesa dos direitos humanos contra Lembo, associado ao “retrocesso” por seu histórico no PFL.

No ano seguinte, Moraes também se filiaria ao PFL, a convite do mesmo Cláudio Lembo — uma figura peculiar que, sendo membro de um partido à direita, se notabilizou por defender bandeiras de esquerda. Moraes se aproximou Lembo quando este era reitor do Mackenzie e Alexandre era professor. Ambos tinham em comum a passagem pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Em 2005, indagado se existia uma contradição entre ser membro do PFL e atuar na defesa dos direitos humanos, Moraes respondeu assim: “Os ideais do liberalismo na área jurídica são ideais que não conflitam absolutamente em nada com essa postura. Se nós formos pegar historicamente quem sempre defendeu garantias individuais, princípios de defesa do ser humano, as liberdades públicas foram os liberais.” Ele prosseguiu: “Nos Estados Unidos o partido menos conservador, mais ligado ao liberalismo é exatamente o partido democrata, que tem as grandes bandeiras liberais”, disse ele, demonstrando não entender tão bem de política americana. A declaração foi dada no programa Roda Viva, da TV Cultura. Moraes já estava plenamente integrado aos holofotes da política, e parecia confortável nessa posição. Quem o ouvia falar podia identificá-lo como um centrista.

Como secretário, Moraes teve embates com Saulo de Castro Abreu Filho, responsável pela pasta da Segurança Pública. Linha-dura, Abreu Filho se irritava com a preocupação (a seu ver, excessiva) de Moraes com os direitos dos menores infratores.

“Ele teve desentendimentos bastante difíceis com o secretário Saulo de Abreu na época”, lembra Nagashi Furukawa, que comandava a Secretaria de Administração Penitenciária.

Furukawa tinha que lidar com Moraes com frequência. Ele diz que o futuro ministro se destacava como um gestor eficiente e de fácil trato. Ele destaca outra característica do ministro do STF: o traquejo político. “O talento de fazer política no bom sentido é imprescindível para o homem publico. A pessoa tem que saber se relacionar bem, manter bom contato com outras pessoas, e isso o Alexandre sabe fazer.”, afirma.

As imagens da época mostram Moraes quase sempre sisudo, sem sinais de calvície e com ternos com todos os botões fechados. Chefe de gabinete do então secretário de Justiça, o advogado e professor Claudio Tucci Junior descreve Moraes como um chefe que dava ordens objetivas e sabia ser exigente. “Naturalmente, com pressão do dia a dia e dos assuntos inerentes à secretaria em alguns momentos não se poderia esperar por uma resposta mais lenta, então se tinha uma exigência natural. Mas sempre com tranquilidade, receptividade e sempre ouvindo a todos nós”, ele diz. O ex-chefe de gabinete afirma que, além de bom jurista, Moraes era um gestor competente. “Eu sou testemunha de que ele aliava o conhecimento técnico jurídico e a visão ampla das políticas públicas de competência da secretaria”, diz Tucci Junior, que hoje é advogado e professor da Unisanta.

A agenda de Moraes à época mostra que ele se divida entre temas complexos, como o combate ao crime organizados, e eventos de pouca importância, como casamentos comunitários. Moraes também recebeu lideranças do MST para tratar da reforma agrária e criou a “Comissão de Promoção de Ações Afirmativas” em 2002. No ano seguinte, ele se declarou a favor das cotas. “Não se trata da hegemonia do negro sobre o branco, mas de justiça e igualdade de oportunidades.”

Moraes tirou a carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2005. No mesmo ano, deixou a Secretaria de Justiça após ser indicado pela Câmara dos Deputados para uma vaga no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), onde permaneceu até 2007.

Subalterno de Kassab 
Em 2007, depois da passagem pelo CNJ, Moraes foi indicado para outro cargo político: o de Secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo na gestão de Gilberto Kassab. No posto, ele chegou a acumular o cargo de presidente da CET, a Companhia de Engenharia de Tráfego paulistana.

Como secretário, Moraes lidou com temas prosaicos. Lançou, por exemplo, o Bilhete Amigão (quatro viagens em oito horas com um bilhete). A pedido da OAB do bairro de Pinheiros, ele também autorizou a criação de uma linha de microônibus ligando o Fórum de Pinheiros ao metrô Vila Madalena. Ele fez o mesmo com os advogados de Santana: criou uma linha conectando o Fórum de Santana ao metrô Santana. Neste período, Moraes aparecia nos jornais sobretudo como alguém que tentava colocar ordem no trânsito caótico da capital paulista.

Talvez por ser proativo, Moraes ganhou espaço e concentrou atribuições na gestão Kassab. Passou a comandar também a pasta de Serviços, que cuida da coleta do lixo. Mas, em 2010, o futuro ministro deixou o cargo por se opor à criação da Autoridade Metropolitana de Transportes. À época, outro motivo para a saída foi o desgaste causado pela demora na entrega da motofaixa da Rua Vergueiro, um corredor importante na região central de São Paulo.

Advogado do PCC? 
Fora de Prefeitura, Moraes decidiu advogar. Essa foi a sua ocupação principal entre julho de 2010 e dezembro de 2014.

Entre julho e 2010 e dezembro de 2014, atuou como advogado. O escritório “Alexandre de Moraes Sociedade de Advogados ocupava o nono andar de um prédio espelhado no bairro do Itaim Bibi, um dos mais caros da capital paulista.

Em abril de 2014, por exemplo, ele se reuniu com o então Secretário de Transportes da capital paulista, o petista Jilmar Tatto. Moraes também advogou para o PSDB e para Aécio Neves na campanha presidencial de 2014 e entregou um parecer jurídico encomendado pelo Conselho Federal de Farmácia por R$ 150.000.

Mas o caso mais controverso deste período envolve o PCC (Primeiro Comando da Capital).

A rigor, ninguém é “advogado do PCC” porque o PCC não existe formalmente. Mas a organização criminosa opera em muitas frentes. Uma delas, o transporte alternativo. E essa seria conexão de Moraes com a facção criminosa. O escritório de advocacia comandado por ele defendeu a Transcooper, uma cooperativa de transporte com vínculos com a organização criminosa.

O ministro nega saber de qualquer ligação entre a cooperativa e o bando. “Jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC”, disse ele, na sabatina no Senado quando foi indicado ao STF.

Na mesma ocasião, Moraes fez comentários que hoje soam reveladores: ele se demonstrou incomodado com as afirmações de que ele tinha advogado para o PCC, e sugeriu algum tipo de controle sobre as “calúnias” divulgadas na internet. “É inegável que as redes sociais, a internet, foram, são e continuarão sendo um grande avanço de comunicação, de informação, mas é também inegável — isto é algo em que todos nós, em determinado momento, vamos ter de pensar, uma forma razoável de equilíbrio — que se proliferam calúnias, difamações e injúrias em relação a inúmeras pessoas.

“Quem, dentro desta Comissão e fora dela, está nos ouvindo e vendo e já foi caluniado, difamado ou injuriado pela internet sabe a dificuldade ou mais, eu diria, a quase impossibilidade de você retirar totalmente essas versões mentirosas.”

Em 2015, o período de Moraes como advogado chegou ao fim. Ele aceitou o convite do governador Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Ali, atuou como uma espécie de xerife: reprimiu protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff na Avenida Paulista e foi incisivo contra manifestantes que haviam invadido escolas públicas paulistas.

Moraes sairia de lá para o Ministério da Justiça na gestão de Michel Temer.

Pai bolsonarista 
O ministro do STF é casado desde 1992 com a advogada Viviane Barci de Moraes. Formada na UNIP (tanto em Direito quando em Propaganda e Marketing), ela comanda o escritório Barci de Moraes, que já atuou em 23 processos no Supremo Tribunal Federal — muitos deles depois que Alexandre já havia se tornado ministro.

O endereço e o CPF do escritório de Viviani Barci de Moraes são exatamente os mesmos daquele comandado pelo marido na década passada. Na verdade, o escritório também é o mesmo: somente o nome mudou. O ex-deputado Gabriel Chalita também advoga lá. O time inclui dois ex-colegas de Moraes na prefeitura paulistana: Mágino Alves e Olheno Ricardo Scucuglia.

Com Viviane, o ministro do STF teve três filhos: Giuliana, Alexandre e Gabriela. Todos seguiram carreira no Direito. Mas as ceias de Natal na família Moraes não devem ser das mais harmônicas.

O pai do ministro, Leon Lima de Moraes, é apoiador declarado de Jair Bolsonaro. Ao lado da madrasta do ministro do STF, Elizete Gomes Lima, Leon exibe suas preferências políticas no Facebook. A madrasta disse estar de “luto” no dia que Bolsonaro perdeu a reeleição. No ano passado, o casal se mudou para Toledo, nos Estados Unidos, onde vive uma filha de Elizete.

Leon é conterrâneo e contemporâneo de Michel Temer: ambos se criaram na cidade de Tietê (SP). Do pai, o ministro do STF herdou a torcida pelo Corinthians.

A chegada ao STF 

Moraes sempre foi hábil em construir relacionamentos no poder. Ainda em 2002, quando lançou o livro “Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional”, ele convenceu o então ministro do STF Celso de Mello a assinar o prefácio da obra. Nele Mello afirma que o livro tem um “alto nível científico”. Moraes tinha 33 anos. Ainda em 2002, Moraes já estava sendo citado pelo mesmo Celso de Mello como integrante de um grupo de “eminentes autores.”

Na mesma época, Moraes  também assinou um artigo na Folha de S. Paulo em que apresenta medidas do governo paulista a favor dos direitos humanos. O artigo tem trechos de difícil leitura, como este: “A previsão dos direitos humanos fundamentais direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana em seu sentido mais amplo, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar.”

O grande momento da carreira de Moraes viria uma década e meia depois. A nomeação feita por Michel Temer para a Suprema Corte em 2017 seria a primeira a partir de um presidente não-petista desde 2002, quando Fernando Henrique Cardoso escolheu Gilmar Mendes para o cargo. A indicação se deu em circunstâncias incomuns: o ministro Teori Zavascki morreu em um acidente de avião na região de Angra dos Reis.

A relação de Moraes com os petistas não era das melhores. Em março de 2016, por exemplo, ele foi hostilizado por militantes petistas que se manifestavam contra o impeachment de Dilma Rousseff. Aos gritos de “fascista”, deixou o local cercado por policiais.

Por isso, não surpreendeu que, quando Moraes foi indicado à vaga na Suprema Corte, a Executiva do PT tenha reagido com uma nota incisiva: “A indicação do ministro da Justiça do governo golpista, Alexandre de Moraes, para a vaga no STF aberta com a morte do ministro Teori Zavascki é um profundo desrespeito à consciência jurídica do país e ao espírito republicano que deve reger esse tipo de indicação. Sua nomeação e resumida trajetória como ministro da Justiça do governo ilegítimo de Temer tornaram evidente seu despreparo, seu desprezo pelas instituições e sua parcialidade”, disse o comando do partido, em nota pública.

Diante de Moraes, na sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou: “Nunca houve, nas indicações ao Supremo Tribunal Federal, uma reação contrária, da sociedade civil organizada, tão grande quanto nesse caso da indicação do Dr. Alexandre de Moraes.” Dentro do Senado, não houve reação significativa. A indicação foi aprovada por 55 votos a 13 contra em plenário. Outros 13 senadores não votaram.

Ascensão rápida dentro do STF 
No Supremo Tribunal Federal, o tempo de casa produz uma espécie de hierarquia: os ministros mais novos prestam deferência aos mais antigos.

Com Moraes, as coisas aconteceram de forma mais rápida. Ele tem duas características únicas em relação a seus colegas: a ampla experiência política e o histórico de procurador de Justiça. Moraes é o único integrante da corte a ter sido membro do Ministério Público.

A mudança do status do ministro novato aconteceu de forma mais marcante em abril de 2019, quando o novato recebeu uma missão do então presidente da Corte, Dias Toffoli: investigar “ataques” e “ameaças” contra membros da corte.

O então presidente da corte — que, assim como Moraes, frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco — se baseou numa argumentação frágil: o artigo 43 do Regimento Interno do STF afirma que o presidente poderá instaurar inquérito (tarefa que normalmente cabe ao Ministério Público) se a infração penal ocorrer “na sede ou dependência do tribunal.” O dispositivo foi criado para tratar de casos internos, como atos de vandalismo dentro do prédio da corte. Mas, em uma canetada, Toffoli passou a considerar que qualquer “ataque” publicado na internet era equivalente a um pedrada nas vidraças do prédio do Supremo.

“O objeto deste inquérito é a investigação de notícias fraudulentas (fake news), falsas comunicações de crimes, denunciações caluniosas, ameaças e demais infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros; bem como de seus familiares, quando houver relação com a dignidade dos Ministros”, escreveu Moraes, em seu primeiro despacho no inquérito.

O primeiro ato relevante de Moraes foi determinar que o site O Antagonista e a revista Crusoé retirassem do ar reportagens que ligavam o empresário Marcelo Odebrecht, envolvido em escândalos de corrupção, ao ministro Dias Toffoli. Na figura de defensor da honra dos ministros da corte, Alexandre de Moraes ganhou importância aos olhos dos colegas.

Mas o inquérito das “fake news” rapidamente se tornou o pretexto perfeito para abusos das prerrogativas.

Dali surgiram desdobramentos e mais desdobramentos que, junto com o inquérito dos “atos antidemocráticos”, permitiu que Moraes acumulasse poder de forma inédita. Ele censurou parlamentares e figuras públicas nas redes sociais, autorizou operações de busca e apreensão com base em conversas privadas e jocosas de Whatsapp, e reagiu às críticas à sua atuação como se elas fossem afrontas ao próprio Estado Democrático de Direito.

A investigação sobre a possível fraude no cartão de vacina do presidente Bolsonaro faz parte do mesmo mesmo inquérito que apura xingamentos a autoridades por perfis do Twitter. Tudo sob a condução de Moraes — ele mesmo acusador, juiz e vítima.

O inquérito aberto em 2019 é o mesmo que levaria à cadeia figuras como o blogueiro Oswaldo Eustáquio, acusado de disseminar notícias falsas.

Moraes também contou com a sorte para presidir o TSE justamente durante o período eleitoral, em 2022. A troca no comando da corte segue padrões pré-estabelecidos, mas, para o cada vez mais poderoso Alexandre de Moraes, não poderia vir em melhor momento. Na condução das eleições, ele repetiu o modus operandi: censura contra qualquer conteúdo que possa ser vagamente interpretado como “fake news”, que com Moraes deixou de significar “informação falsa propagada com o propósito de espalhar desinformação” para significar “afirmação de fato não 100% confirmado por todas as instâncias da Justiça.”

A essa altura, Moraes só poderia ser parado por Moraes — ou pelo Senado Federal, a quem cabe processar ministros do STF por crime de responsabilidade. O governo de Jair Bolsonaro tentou, em agosto de 2021, levar um processo de impeachment adiante. Mas a petição não encontrou apoio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Num Congresso onde vige o foro privilegiado, cada parlamentar pode facilmente se tornar alvo do STF. E não há instância superior a quem recorrer.

Moraes já foi promotor e político. Nunca foi juiz. Talvez isso explique porque costuma agir de forma imperiosa e com um permanente tom acusatório — e dificultar a vida dos advogados sempre que possível.

Para o advogado Renor Oliver, que representa o Canal Terça Livre, os problemas de Moraes vão muito além. “Muitos promotores viram juízes, mas são garantistas e jamais conduziriam uma investigação como essa. Não existe parâmetro no judiciário para o que está acontecendo”.

Em fevereiro de 2021, Moraes determinou a prisão do deputado Daniel Silveira sob a alegação de que ele havia ameaçado ministros da corte (inclusive ele próprio). Ao contrário do que aconteceu em 1968, o STF mandou prender primeiro e só depois perguntar à Câmara dos Deputados se autorizava a medida.

O advogado Roberto Mohamed, que atua no STF, foi aluno de Moraes em uma pós-graduação no Mackenzie. Ele diz que o futuro ministro do STF era respeitado como jurista e visto como alguém de perfil técnico, apesar de o carisma não ser o seu ponto forte. “Não era um cara muito simpático, mas nunca se recusou a abrir espaço para questionamentos”, diz Mohamed.

Agora, o advogado acredita que o ministro tem se excedido em algumas decisões. “Ele mudou bastante. Quando ele deu aula ele era promotor de Justiça e sempre foi um garantidor dos direitos individuais, e por isso me surpreendem algumas decisões dele”, diz.

Mohamed, que faz questão de deixar claro seu repúdio a Daniel Silveira, afirma que o ministro tomou uma decisão injustificada ao mandar o parlamentar à prisão. O próprio inquérito das fake news, afirma o advogado, surgiu com base em uma interpretação dúbia do regimento do STF, que foi tolerada em nome do que era então tido como o combate a um mal maior: Jair Bolsonaro e seus aliados. “Eu acho que ele atuou, no início como um defensor do tribunal; mas hoje é isto é desnecessário. Acabou a situação de emergência”, diz o professor.

A advogada Ana Paula Thabata Fuertes, que já ouviu com admiração uma aula magna de Alexandre de Moraes na faculdade e hoje critica a atuação do ministro, afirma que, embora tenha sido um professor competente e um autor capaz de explicar a Constituição em termios didáticos, Moraes não teria chegado ao cargo no STF se o saber jurídico fosse o único critério de seleção.

“Ele só mais um bom jurista. Você encontraria advogados com mais saber jurídico que ele no mínimo em 100 escritórios de SP”, compara. Para Ana Paula, a passagem pela promotoria deixou marcas no modo de atuação de Moraes. Para ela, Moraes continua atuando como promotor vinte anos após ter deixado o Ministério Público. “A formação dele foi na promotoria. Quem já foi promotor não perde o acusatório. Além disso, se ele se propôs a entrar numa promotoria, ele provavelmente já gostava de ser acusador”, diz ela.

Em muitos aspectos, incluindo o vocabulário e o preparo intelectual, o deputado Daniel Silveira está muito longe de ser um Márcio Moreira Alves. Mas a situação abstrata era a mesma: o Supremo Tribunal Federal, em nome da proteção da liberdade e da democracia, pedia que a Câmara dos Deputados entregasse um dos seus membros à mercê da Justiça. Desta vez, os parlamentares consentiram.

Se Moraes cumprir o tempo que lhe resta para a aposentadoria compulsória, ficará no cargo até 13 de dezembro de 2043. Ele — e o AI-5 — completarão 75 anos naquele dia.

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O PODER DO HÁBITO, DE CHARLES DUHIGG 

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Sabe por quê? Charles Duhigg, repórter investigativo do New York Times, mostra com exemplos e ciência que a chave para o sucesso é entender como os hábitos funcionam.

Durante a narrativa, ele cita vários exemplos. Entre eles, uma jovem transformou quase todos os aspectos de sua vida. Parou de fumar, correu uma maratona e foi promovida. Além disso, neurologistas descobriram que os padrões dentro do cérebro dela mudaram de maneira fundamental.

Basicamente, o autor explora a ciência por trás da criação e transformação de rotina.

MINDSET: A NOVA PSICOLOGIA DO SUCESSO, DE CAROL S. DWEK

Carol S. Dweck, professora de psicologia na Universidade Stanford e especialista internacional em sucesso e motivação, desenvolveu um conceito fundamental: a atitude mental com que encaramos a vida, que ela chama de “mindset”, é crucial para o sucesso.

No livro, ela explica o sucesso pode ser alcançado pela maneira como lidamos com nossos objetivos. “O mindset não é um mero traço de personalidade, é a explicação de por que somos otimistas ou pessimistas, bem-sucedidos ou não, ele define nossa relação com o trabalho e com as pessoas e a maneira como educamos nossos filhos. É um fator decisivo para que todo o nosso potencial seja explorado.”

DE ZERO A UM, DE PETER THIEL

Peter Thiel, cofundador do PayPal e investidor em diversas startups –  apresenta, através do seu livro, uma visão otimista do futuro do progresso e uma maneira original de pensar sobre inovação, ensinando você a fazer perguntas que o levem a encontrar valor em lugares inesperados e citando exemplos do Vale do Silício.

O PONTO DE VIRADA, DE MALCOM GLADWELL  

Você já ficou intrigado pensando no que faz com que um produto, um serviço ou mesmo atitudes virem moda da noite para o dia? Já imaginou que tipo de mudança faz, por exemplo, com que livros desconhecidos se transformem em best-sellers? Ou o que explica o aumento do consumo de cigarros entre os adolescentes, apesar da campanha antitabagista?

Se a sua resposta for sim para alguma destas perguntas, esse livro é para você! Malcolm Gladwell apresenta uma maneira instigante e original de entender esses fenômenos sociais.

STARTUP ENXUTA, DE ERIC RIES  

A startup enxuta é um modelo de negócio que vem sendo amplamente adotado ao redor do mundo, mudando a maneira como as companhias idealizam seus produtos e serviços.

Pioneiro na implementação dessa abordagem, Eric Ries define startup como uma organização dedicada a criar algo novo sob condições incertas – e isso inclui tanto o jovem empreendedor que trabalha na garagem de casa quanto o profissional experiente em uma multinacional.

STARTUP VALEON UMA HOMENAGEM AO VALE DO AÇO

Moysés Peruhype Carlech

Por que as grandes empresas querem se aproximar de startups? Se pensarmos bem, é muito estranho pensar que um conglomerado multibilionário poderia ganhar algo ao se associar de alguma forma a pequenos empresários que ganham basicamente nada e tem um produto recém lançado no mercado. Existe algo a ser aprendido ali? Algum valor a ser capturado? Os executivos destas empresas definitivamente acreditam que sim.

Os ciclos de desenvolvimento de produto são longos, com taxas de sucesso bastante questionáveis e ações de marketing que geram cada vez menos retorno. Ao mesmo tempo vemos diariamente na mídia casos de jovens empresas inovando, quebrando paradigmas e criando novos mercados. Empresas que há poucos anos não existiam e hoje criam verdadeiras revoluções nos mercados onde entram. Casos como o Uber, Facebook, AirBnb e tantos outros não param de surgir.

E as grandes empresas começam a questionar.

O que estamos fazendo de errado?

Por que não conseguimos inovar no mesmo ritmo que uma startup?

Qual a solução para resolver este problema?

A partir deste terceiro questionamento, surgem as primeiras ideias de aproximação com o mundo empreendedor. “Precisamos entender melhor como funciona este mundo e como nos inserimos!” E daí surgem os onipresentes e envio de funcionários para fazer tour no Vale e a rodada de reuniões com os agentes do ecossistema. Durante esta fase, geralmente é feito um relatório para os executivos, ou pelas equipes de inovação ou por uma empresa (cara) de consultoria, que entrega as seguintes conclusões:

* O mundo está mudando. O ritmo da inovação é acelerado.

* Estes caras (startups) trabalham de um jeito diferente, portanto colhem resultados diferentes.

* Precisamos entender estas novas metodologias, para aplicar dentro de casa;

* É fundamental nos aproximarmos das startups, ou vamos morrer na praia.

* Somos lentos e burocráticos, e isso impede que a inovação aconteça da forma que queremos.

O plano de ação desenhado geralmente passa por alguma ação conduzida pela área de marketing ou de inovação, envolvendo projetos de aproximação com o mundo das startups.

Olhando sob a ótica da startup, uma grande empresa pode ser aquela bala de prata que estávamos esperando para conseguir ganhar tração. Com milhares de clientes e uma máquina de distribuição, se atingirmos apenas um percentual pequeno já conseguimos chegar a outro patamar. Mas o projeto não acontece desta forma. Ele demora. São milhares de reuniões, sem conseguirmos fechar contrato ou sequer começar um piloto.

Embora as grandes empresas tenham a ilusão que serão mais inovadoras se conviverem mais com startups, o que acaba acontecendo é o oposto. Existe uma expectativa de que o pozinho “pirlimpimpim” da startup vá respingar na empresa e ela se tornará mais ágil, enxuta, tomará mais riscos.

Muitas vezes não se sabe o que fazer com as startups, uma vez se aproximando delas. Devemos colocar dinheiro? Assinar um contrato de exclusividade? Contratar a empresa? A maioria dos acordos acaba virando uma “parceria”, que demora para sair e tem resultados frustrantes. Esta falta de uma “estratégia de casamento” é uma coisa muito comum.

As empresas querem controle. Não estão acostumadas a deixar a startup ter liberdade para determinar o seu próprio rumo. E é um paradoxo, pois se as empresas soubessem o que deveria ser feito elas estariam fazendo e não gastando tempo tentando encontrar startups.

As empresas acham que sabem o que precisam. Para mim, o maior teste é quando uma empresa olha para uma startup e pensa: “nossa, é exatamente o que precisamos para o projeto X ou Y”.

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domingo, 28 de maio de 2023

PETROBRAS ESTÁ HÁ 30 ANOS NA AMAZÔNIA EXTRAINDO PETRÓLEO E NUNCA PREJUDICOU O MEIO AMBIENTE

 

Crise no governo
Exploração de petróleo na Amazônia não é novidade

Por
Tatiana Azevedo – Gazeta do Povo


Petrobras explora petróleo no meio da Amazônia há cerca de 30 anos, mas polêmica ambiental persiste| Foto: Agência Petrobras

A polêmica sobre explorar ou não petróleo na foz do Rio Amazonas é a causa da mais nova crise no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a produção de hidrocarbonetos na Amazônia não é nenhuma novidade: a Petrobras opera poços de de petróleo e gás na selva desde 1986, sem nunca ter registrado um acidente de vazamento de óleo ou contaminação do meio ambiente. Mas a insegurança jurídica anda afasta investimentos na região.

O Polo Urucu está localizado na Bacia de Solimões, em Coari, no coração do Amazonas. Ele tem uma área de aproximadamente 350 quilômetros quadrados, e está situado a 650 quilômetros de distância da capital, Manaus.

Urucu é a maior reserva provada terrestre de petróleo e gás natural no Brasil, com produção média mensal, no primeiro trimestre de 2020, de 106.353 barris de óleo equivalente por dia, sendo mais de 16 mil de óleo e 14 mil de gás.

A descoberta de Urucu, há quase 40 anos, também foi marcada pela discussão sobre a melhor forma de conciliar as atividades de exploração de petróleo na região. A Petrobras diz que ela é feita com alta tecnologia, cuidado com a preservação do meio ambiente e respeito a comunidades tradicionais que vivem na área.

“De forma cuidadosa, fazemos a recomposição da cobertura vegetal retirada no processo de perfuração dos poços. Após a instalação de cada poço, resta apenas uma pequena clareira aberta na floresta para abrigar os equipamentos”, diz a empresa em seu site.

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“Acho difícil oferecer problema para a Amazônia”, diz Lula sobre projeto de exploração de petróleo
Embate entre Marina Silva e Prates põe à prova agenda ambiental do governo Lula
Governo vai tentar reverter derrotas de Marina Silva e Sônia Guajajara no Congresso


Petróleo tinha que ir de balsa até refinaria em Manaus, mas hoje é transportado em dutos
No início das operações em Urucu era preciso mais de uma semana para escoar a produção, em balsas de pequeno porte que iam pelo rio até chegar em Coari. De lá a produção seguia, em balsas maiores, para a Refinaria Isaac Sabbá, em Manaus.

Desde 2009, Urucu conta com um conjunto de dutos que possibilitam o escoamento da produção. O gasoduto Urucu-Coari-Manaus tem 663 quilômetros de extensão e capacidade de transportar até 5,5 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, desde Coari até a capital do Amazonas.

O Pólo de Urucu foi colocado à venda pela Petrobras em junho de 2020, como parte da política de desinvestimentos da empresa, que decidiu concentrar esforços e investimentos na produção no mar, especialmente na camada mais profunda do pré-sal.

Regras ambientais dificultam exploração de minerais na Amazônia
Além da grande biodiversidade, a Amazônia tem enorme quantidade de jazidas de minérios. Alguns exemplos são: ferro, manganês, alumínio, cobre, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato, ouro, prata, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras-raras, urânio e diamantes.

Muitos desses minérios são essenciais para o mercado que explora tecnologias avançadas, como lasers, baterias, celulares e microchips. Mas a exploração de minerais na região sempre foi vista com desconfiança, que tenta prevenir a devastação ambiental. Limites e critérios para a prática da mineração, além de limites aceitáveis de desmatamento da mata não são totalmente claros. Sua implementação varia de acordo com a interpretação de cada órgão de fiscalização e da Justiça.

Ou seja, em teoria com equipamentos modernos, tecnologia avançada e amparo legal a exploração de minérios pode ser feita de forma sustentável, gerando benefícios sociais e econômicos às regiões onde acontecem. Mas, na prática, a insegurança jurídica e a burocracia envolvida no licenciamento ambiental impedem o desenvolvimento de operações de exploração.

Insegurança jurídica afasta investimentos na produção de potássio para fertilizantes
Um dos exemplos de como a burocracia e a legislação impedem o desenvolvimento da região é a exploração do potássio, que é usado como fertilizante. Atualmente o Brasil sofre uma dependência estratégica da Rússia para comprar esse tipo de insumo, que é necessário para o agronegócio.

Em 23 de fevereiro, a assessoria da secretaria-executiva do Ministério da Agricultura afirmou em documento que a exploração de potássio na Amazônia pode suprir o mercado nacional em até 50% de sua necessidade de consumo a longo prazo. Mas a produção local não se desenvolve por causa da insegurança jurídica.

Ao menos uma empresa tentou obter licença para operar na região. A Potássio do Brasil iniciou licenciamento junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Mas o processo ainda tramita na Justiça e envolve indígenas na região. O Ministério Público Federal considera que uma licença prévia emitida em 2015 é ilegal e todo o licenciamento deve ser refeito pelo Ibama.

Ibama impediu exploração de petróleo no “novo pré-sal” próximo da Amazônia
A crise da vez é a queda de braço entre o Ministério do Meio Ambiente, comandando por Marina Silva, e o Ministério de Minas e Energia, liderado por Alexandre Silveira, sobre a exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial – região entre o Amapá e o Rio Grande do Norte que tem grande potencial petrolífero.

O Plano Estratégico da Petrobras para o período de 2023 a 2027 prevê investimentos de US$ 2,9 bilhões (R$ 15 bilhões) na região, com a perfuração de 16 poços já a partir deste ano. Mas a companhia foi surpreendida pela negativa de licenciamento ambiental pelo Ibama, que considerou as operações arriscadas.

O processo de licenciamento para a área vem se arrastando desde abril de 2014, tendo sido aberto inicialmente pela empresa BP Energy do Brasil Ltda, que tentava explorar o bloco.

Um estudo de impacto ambiental foi protocolado em março de 2015 e três audiências públicas foram realizadas em novembro de 2017 nos municípios de Belém (PA), Oiapoque (AP) e Macapá (AP). Em julho de 2020, a petroleira britânica BP desistiu do projeto e informou ao Ibama que transferiria os direitos exploratórios e a titularidade do processo de licenciamento ambiental da perfuração marítima no bloco para a Petrobras.

A partir daí o problema do licenciamento passou para a empresa brasileira. O instituto ambiental afirmou que o plano da companhia petrolífera apresentava inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental.

Posicionamento do Ibama sobre petróleo na Amazônia gerou crise no governo Lula
A negativa do Ibama tem dividido o governo. Enquanto os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia discordam sobre a negativa de licenciamento, o próprio presidente Lula declarou que acha difícil que a exploração ofereça problema para o Amazonas. “Se extrair petróleo da Foz do Amazonas, que é a 530 quilômetros do Amazonas, é em alto mar, se oferece problema para o Amazonas, certamente não será explorado. Mas eu acho difícil, porque é a 530 quilômetros da Amazônia”, disse.

A perfuração, como destacou Lula, fica a 540 quilômetros da foz do Rio Amazonas, o equivalente à distância entre Rio de Janeiro e São Paulo. E a 175 quilômetros da costa do Amapá.

A crise provocou ainda a saída do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade, por divergências com Marina Silva. Ele está sem partido mas pode se vincular ao PT.

Durante audiência na Câmara esta semana, a ministra do Meio Ambiente voltou a afirmar que a legislação ambiental precisa ser cumprida no Brasil.

“Poder-se-ia muito bem ter feito o estudo da área de abrangência, mas não foi isso que foi feito. E a lei é para ser cumprida. Infelizmente os combustíveis fósseis ainda continuarão fazendo parte da matriz energética do mundo por algum tempo, porque muitas regiões não têm como fazer a transição da noite para o dia”.

Mas vitória de Marina foi breve. Ao analisar uma medida provisória que trata da estruturação dos ministérios no governo Lula, o Congresso Nacional esvaziou as atribuições do Ministério do Meio Ambiente de Marina, com o aval do presidente. Lula não queria perder apoio dos parlamentares do Centrão. O Planalto ainda tenta contornar a crise.

Petrobras recorre de decisão do Ibama e diz que vai ter cuidados com o meio ambiente

Enquanto isso, a Petrobras anunciou, em nota, que pediu ao Ibama a reconsideração da decisão que negou a licença para perfuração do poço exploratório na costa do Amapá.

A companhia garante que atendeu além dos requisitos previstos na legislação, e que cumpriu todas as exigências técnicas para o projeto. A Petrobras disse ainda que “a estrutura de resposta a emergência proposta pela companhia é a maior do país”.

A nota da Petrobras diz ainda que “ a companhia se comprometerá a ampliar a base de estabilização de fauna no município de Oiapoque, no Amapá. A unidade atuará em conjunto com o Centro de Reabilitação e Despetrolização de Fauna (CRD), já construído pela Petrobras em Belém (PA). “Desse modo, na remota possibilidade de ocorrência de um acidente com vazamento, o atendimento à fauna poderá ser realizado nas duas localidades”, afirmou a companhia.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/exploracao-de-petroleo-na-amazonia-nao-e-novidade-petrobras-esta-na-selva-ha-30-anos/
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CPI DO 8 DE JANEIRO DOMINADA PELO GOVERNO NÃO VAI APURAR NADA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro| Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

Depois meses de idas e vindas, tentativas de esvaziamento e reformulações, os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os acontecimentos do 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram invadidas e depredadas, finalmente, começaram. Na quinta-feira (25), foram escolhidos os nomes do presidente da comissão, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA); e de dois vice-presidentes, os senadores Cid Gomes (PDT-CE) e Magno Malta (PL-ES). A previsão é de que os trabalhos da comissão durem seis meses. Com base nas investigações realizadas, o relatório final será entregue às autoridades judiciais.

Por mais importante que seja esclarecer os acontecimentos do 8 de janeiro, é difícil acreditar que a CPMI recém-instalada possa trazer avanços reais nesse sentido. Além de ter a concorrência de outras comissões de inquérito, como a CPI sobre o MST e da CPI das apostas esportivas, e de acontecer longe do período eleitoral que poderia atrair mais atenção e interesse, a composição da CPMI do 8 de janeiro é um balde de água fria em quem via nela uma chance de uma investigação séria sobre a invasão aos prédios dos Três Poderes.

A relatora, senadora Eliziane Gama, não consegue nem disfarçar sua disposição em agradar à base governista e seu aliado direto e amigo, o ministro da Justiça Flávio Dino.

Dos 32 integrantes da comissão, 16 de cada Casa Parlamentar, 20 pertencem à base governista, mau sinal quando se considera que um dos objetivos da comissão seria também apurar eventuais omissões das autoridades governistas durante o ocorrido. Outro mau sinal – pior ainda, na verdade – é o fato de a relatora, senadora Eliziane Gama, não consiga nem disfarçar sua disposição em agradar à base governista e seu aliado direto e amigo, o ministro da Justiça Flávio Dino.

Logo após ser declarada relatora, a senadora deixou claro seu posicionamento – que deverá conduzir todo o seu trabalho na comissão. “Houve uma tentativa de golpe, mas não conseguiram o golpe. E um fato é claro, todos nós aqui somos contra o que aconteceu. Queremos garantir ao Brasil a democracia cada vez mais forte, cada vez mais firme”, discursou. Ou seja, antes mesmo de qualquer trabalho, levantamento de dados ou de ouvir possíveis envolvidos, a senadora, responsável por elaborar o relatório final com os resultados dos trabalhos da comissão, já tem definido seu veredicto: foi tudo obras de “golpistas” – e o governo federal não tem qualquer responsabilidade sobre o que ocorreu.

A possível leniência do governo e os abusos cometidos em nome da repressão aos atos de 8 de janeiro, certamente mereceriam uma investigação apurada do Congresso.

É importante lembrar que o próprio governo de Lula relutou bastante em apoiar a abertura da investigação, oferecendo até cargos e liberação de emendas a parlamentares que retirassem o apoio à comissão proposta pela oposição. Oficialmente, o governo de Lula alegou que a instalação da CPMI poderia “atrapalhar” a atuação do Congresso, atrasando ou paralisando a votação de temas importantes. A disposição do governo mudou repentinamente após 19 de abril, quando foram divulgadas as imagens das câmeras de segurança do Planalto em que o ex-ministro do GSI, general Gonçalves Dias, aparece supostamente facilitando a entrada de manifestantes no prédio. Como era inevitável que a comissão fosse instalada, o governo passou a buscar apoio para ser maioria e controlar os trabalhos, e foi bem-sucedido, o deve mudar significativamente os rumos da comissão.

O propósito original da oposição ao pedir a instalação da CPMI era tentar promover uma investigação “alternativa” àquela sob tutela do Supremo Tribunal Federal – em mais de uma ocasião já mostramos as arbitrariedades contra a Constituição e ao Direito Penal cometidas em relação ao caso. Assim, esperava a oposição, seria possível esclarecer se houve ou não leniência por parte do governo Lula, que pode ter tomado ações no sentido de facilitar o acesso dos invasores às sedes dos Três Poderes, como o esvaziamento proposital das forças de segurança locais.

VEJA TAMBÉM:
Macarthismo à brasileira
Supremo endossa o abuso das “denúncias genéricas”
O fim dos acampamentos e a “criminalização no atacado”


Outro ponto seria identificar os abusos cometidos na prisão dos manifestantes – por ordem de Alexandre de Moraes, aproximadamente 1,5 mil brasileiros, entre eles muitas mulheres e idosos, foram detidos e levados para um ginásio da Polícia Federal, sem a mínima condição para comportá-los. Desse total, 1,3 mil foram denunciados em massa pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Como mostrou a Gazeta do Povo, as denúncias são todas igual, genéricas, em um enorme “copia e cola” jurídico que altera apenas nomes e dados pessoais dos denunciados, o que contraria diretamente os princípios básicos do direito penal.

Esses dois pontos, a possível leniência do governo e os abusos cometidos em nome da repressão aos atos de 8 de janeiro, certamente mereceriam uma investigação apurada do Congresso Nacional, mas agora, com maioria governista e uma relatora amiga de um possível investigado – a atuação de Flávio Dino no 8 de janeiro era uma das que certamente entraria no rol de investigados da CMPI – o risco é que se tenha um mero embate de narrativas prontas e tentativas de blindagem ao governo federal e à atuação escandalosa do STF. Uma pena que um instrumento que poderia ser tão valioso para a democracia corra o risco de ser apenas uma perda de tempo, um jogo de cartas marcadas, com final já sabido.


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ATAQUES DA OPOSIÇÃO AO AGRONEGÓCIO

Desinformação

Por
Bruna Komarchesqui – Gazeta do Povo


Durante a CPI do MST, o deputado federal Padre João (PT-MG) disse que “o agro não produz arroz”| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O agronegócio brasileiro voltou a ser atacado pela esquerda nesta semana, durante a CPI do Movimento dos Sem Terra (MST). No momento da votação dos requerimentos, na quarta-feira (24), o deputado federal Padre João (PT-MG) propagou desinformação sobre a safra brasileira, ao dizer que “o agro não produz arroz”. “No almoço de hoje, meu cardápio foi arroz, e o agro não produz arroz. O MST que produz. No meu prato tinha alface, o agro não produz alface, nem feijão, nem mandioca. Mais de 70%, tem itens que chegam a 80%, é a agricultura familiar, são os assentamentos de reforma agrária que produzem”, afirmou.

O argumento, evocado exaustivamente pela esquerda nos últimos anos, é falso. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2022/2023, o Brasil vai colher quase 10 milhões de toneladas de arroz, praticamente o volume consumido anualmente no país. Embora a produção seja menor que a de anos anteriores, em decorrência de problemas climáticos (como a estiagem no Rio Grande do Sul, que corresponde a dois terços da produção nacional do grão) e da redução da área plantada nas últimas décadas, o risco de desabastecimento foi afastado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), no mês passado.

Em 2018, o pré-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, usou argumento semelhante ao do deputado petista, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, dizendo que “a maioria do alimento que chega na mesa do povo brasileiro não vem do agronegócio, vem da agricultura familiar”. Um ensaio escrito por Rodolfo Hoffmann, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), na ocasião, desmentiu a informação: “A afirmativa é falsa. O valor monetário de toda a produção da agricultura familiar corresponde a menos de 25% do total das despesas das famílias brasileiras com alimentos”.

Confira outros ataques da esquerda ao agro:

“O agronegócio, sabe? Que é fascista e direitista…”
Lula, durante a campanha presidencial, em sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, em agosto, optando por defender a pauta ambientalista do PT atacando o agronegócio.

“Aquele agronegócio que quer utilizar agrotóxico sem nenhum respeito à saúde humana, possivelmente também estava lá.” 
Lula, em janeiro, durante declaração ao decretar a intervenção federal no Distrito Federal, citando um possível envolvimento de representantes do agronegócio nos atos de 8/1.

“Tem a famosa feira da agricultura em Ribeirão Preto, que alguns fascistas, alguns negacionistas, não quiseram que ele fosse na feira: desconvidaram meu ministro.” 
Lula, novamente, desta vez chamando os organizadores da Agrishow de “mau-caráteres”, neste mês, após suposto “desconvite” feito pelo evento ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

“Voto útil de verdade é contra o agronegócio e a motosserra que desmata o nosso país! Vote em quem te representa!” 
PSOL, em 2018, durante a campanha presidencial. A propaganda nas redes sociais trazia o “Prêmio Motosserra de Ouro”, contrapondo Katia Abreu e Sonia Guajajara: “Meu lado: desmatamento zero + agricultura familiar + sem transgênico + sem agrotóxico”.

Tenho muito orgulho de ter como vice a Sonia Guajajara. E ao contrário do que se diz aqui na Globo, o agro não é pop, o agro é tóxico, O AGRO MATA!” 
Guilherme Boulos (PSOL), em debate na Globo, em 2018.

“‘O Agro não é pop’: estudo aponta que a fome é resultado do agronegócio – Para pesquisadores, o setor não só não mata a fome, como fomenta a desigualdade que a cria”. 
Manchete do jornal Brasil de Fato, em outubro de 2021, sobre o estudo O Agro não é tech, o Agro não é pop e muito menos tudo, publicado na época pela Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).

“Reforma agrária é combater o mal pela raiz. Hoje, 47% da terra no país pertencem a 1% da população fundiária. É um absurdo. Por isso a importância de distribuir e democratizar a terra. O MST produz 100% de comida saudável. A comida é uma ferramenta poderosa de transformação. Comer é um ato político. A gente faz política com a comida, para o bem e para o mal. O agronegócio detém 70% das terras do país, mas produz somente 30% daquilo que a gente come; 70% daquilo que a gente come vêm da agricultura familiar e a gente sabe que essa comida é saudável. O agro produz commodities, que são base dos produtos ultraprocessados. Que adoecem a população”. 
Bela Gil, culinarista e apresentadora de TV, que fez parte da equipe de transição de Lula no grupo técnico de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

“Nós, brasileiros, deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o país não tem problema ambiental. Nós temos. Faz muito tempo. Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para que essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária; 6 milhões para agricultura de grãos. E 15 milhões (são) de floresta secundária.” 
Jorge Viana, presidente da  Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), criticando o agronegócio brasileiro diante de uma centena de empresários e autoridades em Pequim, reunidos no fórum Brazil-China Business, em março deste ano.

“O Estado investe muito no agro, o crédito é altamente subsidiado, mas, quando você vai fazer esse debate para um conjunto de outros setores que nos interessam estrategicamente, esse debate vira pecado.” 
Tereza Campello, diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em março deste ano. A ex-ministra do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome de Dilma Rousseff já havia dito, em dezembro, durante o Festival da Reforma Agrária do MST, que é preciso reduzir a dependência do agronegócio. “Nós queremos plantar sementes estratégicas para transformar o Brasil e a agenda da alimentação talvez seja a mais estratégica nesse sentido. Temos que pensar no sistema alimentar como organizador do campo progressista dentro desse novo governo, articulando a pauta do meio ambiente com o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], MDS [Ministério do Desenvolvimento Social], com as agendas estratégicas para formar um campo e dar uma cara progressista para esse governo, para que seja um governo de fato transformador.”

“Das 289 empresas lista suja do trabalho escravo, 172 são de atividades rurais. Parte do agro brasileiro vive no século passado lucrando em cima de trabalhadores, com desmatamento e agrotóxico. Não tem nada de pop nisso.”  
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em tweet no mês passado.

“Se vier algum matador de aluguel tentar me matar porque eu estou me metendo e e falando para não sei quantas milhões de pessoas que essa agropecuária precisa mudar e que é um câncer para a nossa natureza, pode vir. Eu não tô nem aí. E eu ainda venho depois como alma penada puxar o pé de vocês. Estou super preparada para isso. Pode mandar ameaça e xingar, não estou me preocupando no momento”. 
Anitta, em uma sequência de stories no Instagram, em 2019.

“O governo vai apostar nessa transição [para o incentivo de baixo carbono]. Para que a gente tire o agronegócio brasileiro da condição de ‘ogronegócio’.”  
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, que também já havia criticado a “insegurança alimentar brasileira”, supostamente responsável por “120 milhões de pessoas que estão passando fome” no Brasil. O dado é equivocado, como já mostrou reportagem da Gazeta do Povo.

“Agro é morte” e “soja não enche o prato”. 
Pichações de supostos trabalhadores sem terra vandalizando a sede da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja) em Brasília, em 2019.

“A crise capitalista e os crimes que o agronegócio estão [sic] cometendo contra a natureza, com o uso intensivo de agrotóxicos que envenenam a terra, os alimentos, contaminam as águas, infelizmente, tem sido a prova que nos ajuda a conscientizar a sociedade de que esse modelo de produção agrícola baseado na grande propriedade e na produção das commodities é o responsável pela volta da fome, da falta de emprego e pela desigualdade social do nosso país. Porque ainda que eles produzam riqueza, ela é concentrada na mão de poucos.”
João Pedro Stedile, coordenador nacional MST, em entrevista ao Brasil de Fato, em junho do ano passado.

“O agro não tem nada de pop e de legítimo. O agro é golpista.”
Alexandre Conceição, integrante da coordenação nacional do MST, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, em janeiro, em referência à suposta participação de integrantes do setor na articulação e financiamento dos atos de 8 de janeiro. O militante disse à publicação que o agro é “um dos principais inimigos do povo brasileiro”, “predador” e “não produz alimentos, mas muitos venenos que causam inclusive câncer”.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-agro-nao-produz-arroz-os-ataques-da-esquerda-contra-o-agronegocio/
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PROGRAMA VOA BRASIL VAI OFERECER PASSAGENS A R$200

 


Governo quer voo de R$ 200, mas pode encarecer outras passagens e desestimular concorrência

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Governo desenha programa com passagem aérea de R$ 200 para grupos específicos. Medida pode encarecer outras passagens e desestimular a concorrência, dizem especialistas.| Foto: Marcelo Chello/EFE

O governo pretende pôr em funcionamento até agosto o programa “Voa, Brasil”, que alegadamente busca “democratizar” o transporte aéreo e dar mais dinamismo ao setor. A principal medida foi revelada em março pelo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França: a venda de passagens aéreas por R$ 200 para grupos específicos de consumidores.

O programa foi bem recebido pelas principais empresas do setor, que formaram um grupo de trabalho para debater a proposta. Apesar disso, ou por isso mesmo, a iniciativa embute riscos. Os principais, segundo especialistas, são o aumento de preços para os demais passageiros, para bancar o barateamento de parte das passagens; o desestímulo à concorrência e à eficiência; e a criação de uma relação vista como “perigosamente próxima” entre o governo e as grandes companhias.

Conforme declarações públicas do ministro, as passagens de R$ 200 serão direcionadas a servidores públicos federais, estaduais e municipais que ganham até R$ 6,8 mil mensais; aposentados e pensionistas da Previdência Social; e estudantes atendidos pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Além da escolha do público-alvo, bastante específico, chama atenção a renda máxima dos servidores públicos que podem ser beneficiados pelo programa. Uma renda mensal de R$ 6,8 mil está muito distante das camadas mais pobres da população. Esse teto equivale a 2,4 vezes a renda média dos trabalhadores ocupados (R$ 2.880 no primeiro trimestre do ano, segundo o IBGE), e mais de cinco vezes o salário mínimo (R$ 1.320).

A prioridade será dada a quem não viajou nos últimos 12 meses, com permissão para compra de até quatro passagens, e o financiamento ficará a cargo de bancos públicos como Caixa e Banco do Brasil, com pagamento em até 12 vezes – mas sem subsídios, segundo França.

De acordo com o ministro, programa vai envolver assentos vagos das companhias aéreas na baixa temporada, que vai do fim do carnaval até junho e de agosto até novembro. No primeiro trimestre, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a taxa média de ocupação dos voos domésticos foi de 78,9%.

Em audiência no Senado em abril, França disse que a ideia partiu das próprias empresas, que o teriam procurado no início do ano pedindo apoio do governo para a redução de custos. Uma das principais queixas é o preço do combustível.

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Segundo o ministro, as aéreas teriam sugerido que o governo indicasse os CPFs das pessoas que não costumam voar – os “90% que não voam”, nas palavras dele. Essas pessoas teriam acesso ao programa de passagens mais baratas.

“O que eles [empresas aéreas] nos pedem? Que nos aplicativo deles mesmos, sem nenhum subsídio, eles implantem os voos que vão ser a R$ 200 e nós vamos dizer que tal pessoa não voou há um ano, então pode comprar”, afirmou.

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Não está claro como as companhias vão baixar preços de parte das passagens a R$ 200, num momento em que o movimento do setor é exatamente o oposto. Com empresas buscando resgatar a rentabilidade perdida nos últimos anos e pagar dívidas, deixando para trás o “legado” da pandemia de Covid-19, as tarifas bateram recordes no ano passado – e as perspectivas são de novos aumentos.

“Não existe nem almoço grátis nem preço de passagem mais baixo sem custos. Os empresários não vão querer diminuir suas margens de lucros. O efeito [do programa do governo], ao final, será uma combinação de demissões, às vezes invisíveis, envolvendo pessoal de baixa qualificação, com aumento de preços para todos os outros passageiros”, diz Cláudio Shikida, professor do Ibmec-MG e especialista do Instituto Millenium.

A tarifa média de 2022 para voos domésticos foi de R$ 645, bem acima dos valores de 2020 (R$ 444) e 2021 (R$ 531) e também a maior da série histórica da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), iniciada em 2011. A tarifa média de janeiro de 2023 (R$ 592) foi a maior para o mês desde 2012. E a de fevereiro (R$ 572) ficou abaixo apenas das registradas em 2012 e 2014. Todos os valores foram atualizados pela inflação.

Especialista critica aceno a empresas que lideram setor concentrado
Para Shikida, o programa preparado pelo governo não visa ao aumento da concorrência nem à redução dos custos de entrada de novas empresas no mercado. Latam, Gol e Azul, as três maiores, dominam 99,6% do mercado, segundo a Anac.

“O governo prefere apostar na criação de uma relação perigosamente próxima com as poucas empresas que atuam no setor. Não é só uma casta artificial de consumidores que é criada. É pior: sinaliza-se para os poucos competidores que eles não terão que se esforçar em um ambiente mais competitivo. Basta que aceitem a proposta do governo”, diz Shikida.

As líderes do setor, por sinal, parecem ter aprovado a ideia. A Latam Airlines disse que a proposta vai na direção de aumentar de forma sustentável as viagens de avião no país.

Procurada, a Gol não respondeu às questões da Gazeta do Povo. Em abril, porém, o presidente da empresa, Celso Ferrer, sinalizou otimismo. “O importante é que a gente use esse programa em momentos de baixa sazonalidade para dar acesso a clientes que não estão voando”, afirmou ao jornal “Valor”.

A Azul, por sua vez, disse à Gazeta ver como positiva a iniciativa apresentada para estimular o acesso de mais brasileiros ao transporte aéreo. No fim de março, no entanto, o presidente executivo da companhia, John Rodgerson, fez uma ressalva: disse que a ideia faz sentido desde que os demais passageiros não paguem a conta – justamente o risco apontado por especialistas.

“A questão é como fazer isso de maneira que não seja como a meia-entrada no cinema, com as outras pessoas pagando mais caro por isso”, afirmou à “Folha de S.Paulo”.

O diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, vê com reservas a ideia do governo de ocupar a fatia de assentos “ociosos” das empresas. Buscar uma ocupação próxima de 100%, avalia, é inviável. “As empresas, normalmente, trabalham com uma reserva técnica, para atender, por exemplo, a passageiros que perderam conexões ou enfrentaram overbooking em outros voos, transporte de tripulantes”, afirma.

Parte dessa reserva é destinada às compras de última hora, mais próximas dos horários de embarque, que costumam custar várias vezes a tarifa média.

Aviação se recupera aos poucos da pandemia
Em termos de movimento, a aviação comercial brasileira está se recuperando aos poucos dos efeitos da pandemia. Embora as empresas tenham procurado o governo em busca de ajuda, Quintella diz que o setor tende a retomar até o fim do ano os mesmos níveis de 2019, nos voos domésticos.

Em março, a demanda foi 5,1% inferior à do período do pré-pandemia e a oferta de assentos, 1,7% menor, segundo a Anac. “Há rotas entre capitais cujo movimento já corresponde a 95% do pré-pandemia”, diz Quintella.

O cenário é outro para os voos internacionais, cuja oferta de assentos ainda é 21,9% inferior ao do período anterior à pandemia. “Dólar e juros elevados impedem que o brasileiro viaje para o exterior e a atratividade brasileira para negócios e turismo não é das melhores”, afirma o especialista.

Uma expansão mais consistente do mercado, avalia Quintella, não virá de medidas como o “Voa, Brasil”: “É, basicamente, uma questão de economia: se esta vai bem, o segmento também vai”.


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PAPAGAIOS DE PUTIN NO BRASIL

 l e Mundo Papagaios de Putin

Chinaglia, Lula e Dilma são papagaios de Putin no discurso sobre Rússia, Ucrânia e OTAN

Byvaleon

Mai 28, 2023

Leste europeu

Por
Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


O então presidente americano George H.W. Bush (à esquerda) em encontro no retiro rural de Camp David com o líder soviético Mikhail Gorbachev (à direita), em 2 de junho de 1990| Foto: Biblioteca Presidencial George H.W. Bush

“Nem uma polegada em direção ao leste da Europa.” Os defensores do presidente Vladimir Putin sempre tiram da cartola essa frase de 1990 para dizer que a invasão russa à Ucrânia em 2014 e a que está em curso desde fevereiro do ano passado são uma reação de Moscou à fome da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que jamais teria cumprido o acordo firmado entre os líderes ocidentais à época e o então líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev.

Mas, de fato, os senhores que aparecem reunidos na imagem acima acordaram isso? Em 2014, quando Putin usou esse argumento estapafúrdio para invadir a Ucrânia pela primeira vez e tomar a região da Crimeia, Gorbachev entrou em cena para dizer que a queixa de Putin se baseava em um mito.

Gorbachev, que não anistia o que ele definiu como falhas dos Ocidente e principalmente dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria, desmontou a farsa. Mas de que vale o testemunho de quem realizou as negociações se há uma história tão bem montada para validar sentimentos antiamericanos?

Nesta semana, o deputado petista Arlindo Chinaglia fez um discurso na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados que parece ter sido redigido em Moscou. Chinaglia começou com uma piada que diz que, ao ser interrogado por um juiz, um assaltante de bancos reconheceu o crime, mas justificou: “Eles me roubaram primeiro”, referindo-se ao banco como sendo o ladrão original.

O chiste serviu para Chinaglia ressuscitar a frase “nem uma polegada em direção ao leste da Europa” para abertamente dizer que Putin é a vítima da história. Que a quebra de um suposto pacto firmado quando da reunificação da Alemanha está na origem do mal; apesar dos recorrentes avisos de Putin de que reagiria, a OTAN e os Estados Unidos resolveram “pagar para ver”.

Chinaglia falava pela liderança de um bloco de partidos de esquerda que orbitam o PT. Chinaglia repetia o que a ex-presidente Dilma Rousseff já havia expressado em vários momentos desde o início da invasão. Chinaglia repetiu o que o presidente Lula, que se postula como o pacificador, também já verbalizou. Chinaglia papagaiava a propaganda de Putin, que, por sinal, não conquista apenas petistas e assemelhados. Ela também faz muito sucesso no polo oposto do espectro político brasileiro, que, por suposto, tem o formato de uma ferradura.

Putin não construiu sua propaganda do nada. Ele tem como suporte documentos desclassificados que tratam das negociações da época, que, sim, passaram pelo tema da não expansão da OTAN, mas que nunca chegou a ser um tema central. O próprio Gorbachev faz menção à despreocupação da URSS sobre o papel da OTAN, pois o mundo que estava se desenhando naquele momento apontava para uma integração de interesses em que a sua URSS estava se aproximando do Ocidente e não partindo para uma confrontação.

Este, por sinal, é um ponto central para entender o contexto em que as negociações e promessas se deram.

Era o crepúsculo da Guerra Fria e as negociações se davam com um parceiro que viria a deixar de existir no ano seguinte, em um ritmo que talvez nenhum dos atores envolvidos esperasse que fosse tão acelerado.

Nos seus últimos suspiros, a URSS de Gorbachev não buscava expansão. Na mesma linha do líder soviético, os americanos que testemunharam aqueles dias contam que a expectativa era a de que cada país tomasse o seu caminho. E com a vitória do Ocidente na Guerra Fria, era mais que natural a reorientação dos países que se desmembraram da URSS na busca de recursos para seu desenvolvimento e reintegração ao mundo livre.

Putin nunca aceitou isso. De uma maneira ou de outra, trabalhou para alimentar ressentimentos internos, passou a estender seus braços e exercer sua influência no máximo de antigas repúblicas soviéticas possível.

Chinaglia e os demais papagaios de Putin não falam de quando a Ucrânia teve o seu acesso barrado pela OTAN, em 2008. Eles também não fazem questão de entender que a invasão russa de 2014 foi uma reação extrema de Putin para punir uma Ucrânia que não aceitava estar sob o comando de um boneco de ventríloquo comandado por Moscou. Em 2014, Putin disse não e o então presidente ucraniano seguiu as ordens de não seguir em frente com o processo de ingresso na União Europeia, contrariando o desejo de um país inteiro.

O boneco de Putin caiu e ele então resolveu invadir a Crimeia para “salvar” uma parcela do país vizinho dos malvados fascistas de Kiev que queriam fazer parte da União Europeia.

A Ucrânia aprendeu, então, na prática, as lições do expansionismo de Putin. A sua reação à invasão atual é um ato de resistência que, se não tivesse ocorrido, o país já teria sido anexado. Dizer que os ucranianos são tão responsáveis pela guerra quanto os russos – ou, até mesmo, os únicos responsáveis – fala muito do caráter, dos valores morais ou, pelo menos, da sanidade de quem abraça esse tipo de argumento.


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DEMOCRACIA RELATIVA DE LULA E MADURO CADA UM AO SEU MODO

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