domingo, 16 de abril de 2023

UCRANIANOS NÃO QUEREM A VISITA DO CHANCELAR RUSSO AO BRASIL

 

Guerra na Ucrânia
Ucranianos e brasileiros preparam manifestações contra visita de chanceler russo ao Brasil
Por
Gazeta do Povo


O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira (à esq) vão se encontrar em Brasília| Foto: EFE

Membros da comunidade de ucranianos e seus descendentes que vivem no Brasil preparam uma onda de manifestações contra a visita do chanceler russo Sergey Lavrov ao país na segunda-feira (17).

Assim, os protestos estão marcados para acontecer às 12h30 em quatro cidades brasileiras: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

Ou seja, a comunidade ucraniana não reprova o fato do Brasil manter diálogo sobre comércio com a Rússia. Mas, seus membros pedem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pare de tomar partido de Moscou na guerra da Ucrânia sob a alegação de estar promovendo a paz.

Ao longo das últimas semanas, Lula vem promovendo não apenas uma intensificação das relações comerciais, mas uma aproximação política com a Rússia e com a China, países que se alinharam com o Irã e a Coreia do Norte contra os Estados Unidos e a Europa após a volta da guerra de alta intensidade ao território europeu no ano passado.

O presidente petista vem adotando o discurso alinhado ao eixo Moscou-Pequim de tentar mudar a geopolítica mundial exercendo antagonismo ao Ocidente. Assessores de Lula têm minimizado suas declarações e argumentado que o Brasil quer dialogar tanto com a Rússia e a China como com os Estados Unidos e seus aliados.

“Não temos intenção de nos afastar de nenhum parceiro comercial, sobretudo da qualidade dos EUA. Nós estamos fazendo um esforço de aproximação, queremos investimentos do EUA no Brasil”, disse Haddad durante a visita da comitiva brasileira à China.

Lula admitiu que não tem plano de paz para a Ucrânia
Na última sexta-feira (14), o petista admitiu que não possui um plano de paz para a Ucrânia, como vinha anunciando desde fevereiro, e acusou os Estados Unidos e seus aliados europeus de ajudar a Ucrânia a atacar a Rússia. A visão troca os papéis de vítimas e agressores e está alinhada com uma campanha mundial de desinformação patrocinada pelo Kremlin.

O principal argumento do presidente brasileiro para tratar do assunto internacionalmente era tentar mediar um acordo de paz entre Moscou e Kyiv. Mas, quando foi questionado pela TV estatal chinesa CCTV, na última sexta-feira, sobre qual era exatamente sua estratégia, Lula foi evasivo e disse que não tem um plano específico.

Segundo uma fonte ligada à organização dos protestos que pediu para não ser identificada, o grupo teme que o próximo passo de Lula seja determinar às Forças Armadas brasileiras que participem de exercícios militares conjuntos com a Rússia.

O governo da África do Sul foi alvo do mesmo tipo de ofensiva diplomática russa e aceitou neste ano participar de manobras militares navais coordenadas pelo Kremlin.

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Além do Brasil, chanceler russo visitará Venezuela, Cuba e Nicarágua

Russo visitará ditaduras na Venezuela, Nicarágua e Cuba, onde não haverá manifestações
Lavrov deve se encontrar com o chanceler brasileiro Mauro Vieira e negociar uma viagem de Lula para Moscou. Depois de passar por Brasília, o alto funcionário do Kremlin vai visitar as ditaduras da Venezuela, da Nicarágua e de Cuba, que são as principais parceiras de Moscou na América Latina.

Até o momento, não há previsão de protestos nesses países que usam grandes aparatos de repressão a manifestações populares.

“Defendemos o reforço da cooperação russo-latino-americana com base no apoio mútuo, na solidariedade e tendo em conta os interesses um do outro”, escreveu Lavrov em artigo publicado pela revista mexicana Buzos de la Noticia.

A ação faz parte de uma tentativa do Kremlin de conseguir novos aliados na África e na América Latina em um esforço de confrontar os Estados Unidos e a União Europeia.


Representante ucraniano encara visita de russo com desgosto
Procurado pela reportagem por causa das possíveis manifestações contra o chanceler russo, o representante consular da Ucrânia em São Paulo, Jorge Rybka, disse não ver problemas no Brasil manter relações diplomáticas com quem quiser. Mas, afirmou que a visita de Lavrov ocorre em um momento complicado.

“Entendemos que o Brasil tem todo o direito e legitimidade de manter relações diplomáticas com as nações com as quais tem negócios. Mas o momento é complicado pois a agressão russa à Ucrânia continua. Nós vemos a visita de Lavrov com estranhamento e desgosto”, afirmou.

“Gostaríamos que o Brasil continuasse a votar como fez na Assembleia da ONU reprovando a invasão russa”, disse. No final de fevereiro, o Brasil votou favoravelmente a uma resolução da ONU exigindo que Moscou retire suas tropas dos territórios invadidos na Ucrânia. China, África do Sul, Índia e Irã se abstiveram.

Mas, na mesma ocasião, em um aceno a Moscou nas entrelinhas, o Brasil se absteve em duas votações secundárias que tentavam descaracterizar a resolução principal contrária à invasão.

Lavrov traz carga secreta de 5 toneladas, diz TV

De acordo com o portal R7 da TV Record, o chanceler russo está trazendo em seu avião uma carga secreta classificada como mala diplomática que não é sujeita à averiguação de autoridades brasileiras. O veículo de imprensa especulou que podem ser desde armamentos da equipe de segurança de Lavrov, material de uso bélico até dinheiro não declarado.

O Brasil depende atualmente de importações de fertilizantes da Rússia para manter todo o setor do agronegócio. Esse fato vem sendo utilizado pelo presidente Vladimir Putin para conseguir concessões políticas desde o início da guerra na Ucrânia no ano passado.

O conflito também fez as importações de diesel aumentarem. Após sofrer sanções econômicas do G-7, o grupo das maiores economias do planeta, a Rússia vem oferecendo derivados de petróleo por preços abaixo do mercado para nações não alinhadas com as potências ocidentais.

Em anos anteriores, o Brasil até flertou com a Rússia para tentar obter a tecnologia de propulsão nuclear para seu submarino Alvaro Alberto, que vai ser construído em Itaguaí, segundo fontes ligadas às Forças Armadas ouvidas pela reportagem.

Manifestações contra russo podem ocorrer na Esplanada dos Ministérios
A comunidade ucraniana e de descendentes de ucranianos no Brasil tem mais de 600 mil integrantes. Os protestos estão marcados para acontecer no momento em que Lavrov fará seu pronunciamento à imprensa, às 12h30 de segunda-feira (17).

A principal manifestação deve ocorrer em Brasília na Esplanada dos Ministérios, em frente ao Palácio do Itamaraty. Membros da comunidade russa contrários ao regime de Vladimir Putin e da comunidade bielorrussa também devem participar. Além deles haverá ativistas brasileiros e ucranianos.

Também haverá manifestações em São Paulo, no consulado russo na Avenida Lineu de Paula Machado, no Butantã; no Rio de Janeiro, no consulado da Avenida Professor Azevedo Marques, no Leblon, e em um local ainda não definido em Curitiba.


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O BRASIL PRECISA EXPANDIR AS SUAS FERROVIAS

 

Nova Ferroeste no Paraná
Expansão de ferrovias promete fomentar exportações e resolver gargalo logístico
Por
Lígia Martoni – Gazeta do Povo


Com traçado moderno e trens mais velozes, Nova Ferroeste promete diminuir custos e aumentar capacidade de transporte ao Porto de Paranaguá.| Foto: Albari Rosa/Agência de Notícias do Paraná

As ferrovias sempre vêm à tona quando as estradas falham e mostram a dependência que a logística brasileira tem do modal rodoviário. Um dos casos mais emblemáticos é o gargalo que a BR-277 se tornou para o acesso de cargas ao Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná, enquanto única alternativa para caminhões pesados. Interrupções e limitações de tráfego acarretam prejuízos milionários para setores diversos e chamam a atenção para os trilhos que passam bem ao lado, escondidos na Serra do Mar paranaense.

Mas a questão vai muito além dali. O Brasil basicamente desistiu das ferrovias enquanto principais condutoras da produção agrícola e de passageiros por questões históricas, que envolveram desde conflitos de interesses público e privado até o fomento do automóvel e do caminhão enquanto meios principais de locomoção de pessoas e cargas.

A partir daí, infere-se uma cadeia de causas e efeitos que envolveram má gestão do setor ao longo do século passado, falta de políticas governamentais claras e ausência de investimentos. Com a ascensão das rodovias nas décadas de 1950 e 1960, o modal ferroviário foi relegado ao segundo plano, levando à obsolescência dos ativos.

Enquanto as rodovias e a produção automobilística cresciam, a iniciativa privada não via mais interesse em investir nas ferrovias. O setor foi reestatizado naquela época para, nos anos 1990, voltar às mãos da iniciativa privada, sem modernizações e ampliações relevantes entre um fato e outro. E de lá para cá as operações seguem com infraestrutura semelhante ao que se tinha no passado, sem grandes avanços tecnológicos e, consequentemente, atrativos para se colocar cargas industriais e agrícolas sobre trilhos.

Mas a história dá voltas e as rodovias que moldaram os rumos do Brasil já não dão conta do porte produtivo do país. A tal ponto que, se no passado havia um temor de que o avanço das ferrovias brecassem os investimentos em rodovias, veículos e seus insumos, hoje, fica claro que elas precisam ser um novo alvo de investimentos para desafogar as sobrecarregadas estradas brasileiras.

“O fato de ter ferrovias não significa não pensar na rodovia. Elas se complementam, até para não haver só uma alternativa”, explica Eduardo Ratton, professor do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Na época das safras, os caminhões que vão ao Porto de Paranaguá chegam a percorrer mais de 2 mil quilômetros, oriundos não apenas do interior do Paraná, mas também de Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

“A nossa soja acaba chegando ao porto mais cara que a soja americana, menos produtiva, mas que se beneficia, no caso dos Estados Unidos, do transporte hidroviário, que reduz o custo”.

Eduardo Ratton, professor do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura da Universidade Federal do Paraná, citando o modal amplamente usado no país norte-americano.

No que tange às ferrovias, embora trens tenham capacidade maior de carga e custos consequentemente menores para grandes distâncias, ainda são responsáveis no Brasil por menos da metade do transporte de cargas que os caminhões fazem. Conforme informações da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, a matriz ferroviária corresponde a 21,5% do transporte de cargas no país, contra 67,6% do modal rodoviário. O transporte aquaviário detém 10,6% (dados de 2021).

“As ferrovias, em trajetos mais longos, ficam mais competitivas que o caminhão. Entre 500 e 2 mil quilômetros, são a melhor alternativa”, exemplifica o gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), João Mohr. Daí para a frente, o transporte aquaviário, por meio da cabotagem, é a melhor relação custo-benefício.

E é nesse ponto que trens e caminhões se complementam, já que o transbordo e a intermodalidade não compensam os custos em distâncias menores. “Até 500 quilômetros, a rodovia é praticamente imbatível. Vamos supor que se pegue uma carga em Curitiba e leve para Ponta Grossa. O caminhão que carrega vai da indústria direto para a distribuidora, não é preciso mudar para um trem, depois voltar para um caminhão e ir para destino final”, explica.

No caso do Paraná, para João Mohr, as ferrovias precisam de investimentos a partir de três frentes: a conexão entre trens de diferentes origens, a ida ao porto e, uma vez nele, o descarregamento dos trens. E o nome da principal estrutura para isso é a Nova Ferroeste, complementada pela Malha Sul e pela Moega Ferroviária de Paranaguá.

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Nova Ferroeste é a grande aposta, mas tem um longo caminho pela frente
A Nova Ferroeste é a grande aposta em infraestrutura logística para o Paraná e para os estados e até países vizinhos. “Precisamos resolver a questão da matriz logística do Paraná e, mais que isso, vamos aproveitar essa vantagem competitiva que é a posição geográfica do estado. É uma demanda muito forte”, avalia o coordenador do Plano Estadual Ferroviário do Paraná, Luiz Henrique Fagundes.

Ele lembra que os grandes projetos de infraestrutura das últimas décadas não contemplaram o Sul do Brasil, impactando na competitividade da logística de exportação. E por ser um corredor estratégico no escoamento da produção a partir do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e do próprio interior, a ideia é fazer da Nova Ferroeste o segundo maior corredor de exportação de grãos e contêineres refrigerados do Brasil.

O primeiro é o conjunto formado pelas concessões da Malha Norte e Malha Paulista, sob a gestão da empresa Rumo, que administra cerca de 14 mil quilômetros de trilhos no país, mais ou menos a metade da malha férrea brasileira. O corredor conecta o município de Rondonópolis (MT) até o Porto de Santos (SP), com 1.655 quilômetros de ferrovias. Segundo a Rumo, nos picos da safra de soja, a empresa embarca diariamente mais de 80 mil toneladas neste que é considerado o principal corredor do agronegócio brasileiro para atender o fluxo de exportação. Em 2022, foram 26 milhões de toneladas de grãos (soja, farelo de soja e milho) que saíram de Mato Grosso para o mercado de exportação via ferrovia até o Porto de Santos.

E o corredor deve crescer, já que a Rumo iniciou em novembro de 2022 a construção da Ferrovia de Integração Estadual do Mato Grosso, em um contrato de autorização firmado com o governo estadual que vai estender a ferrovia em 700 quilômetros, interligando a região da capital, Cuiabá, com as cidades do norte e do sul do estado – e consequentemente, com a malha ferroviária nacional. O trecho custará de R$ 14 a R$ 15 bilhões.

Em pé de competitividade, a Nova Ferroeste corre atrás. O projeto é do governo do Paraná e consiste na ampliação da atual Ferroeste, que opera entre os municípios de Cascavel e Guarapuava, nas regiões central e oeste do estado. A malha será estendida nas duas pontas e ligará Maracaju (centro-sul do MS) a Paranaguá (litoral do PR). Ainda estão previstos dois ramais a partir de Cascavel para conectar por ferrovias Chapecó (norte de SC) e Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira entre Paraná, Paraguai e Argentina. A extensão total será de 1.567 quilômetros, com influência nos três estados contidos no traçado, além do Mato Grosso, Rio Grande do Sul e parte da Argentina e do Paraguai.

O Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental (EVTEA) estima que a ferrovia deverá transportar 38 milhões de toneladas/ano e deve custar R$ 35,8 bilhões. O projeto mescla o contrato de concessão da atual Ferroeste, do final da década de 1980, com quatro contratos de autorização firmados com o governo federal em 2021.

Para Luiz Fagundes, a ferrovia será uma solução internacional. No que se refere ao Mato Grosso do Sul, vai baratear e agilizar a logística. “Imagine o custo para um caminhão que viaja 1,2 mil quilômetros, sendo que o MS tem custo logístico até 32% maior que o Paraná”, avalia. Em Santa Catarina, o reflexo se dará principalmente no fornecimento de grãos para alimentar a produção de suínos e frangos. “O estado tem déficit de grãos para proteína animal, sendo que 65% do volume vem do MS e o restante do Paraná e Paraguai. Além de ser corredor de exportação, (a ferrovia) também vai ser grande corredor de insumos para a indústria, com o milho e o farelo”. E, de lá, serão trazidos os contêineres refrigerados para exportação da carne.

No caso do Paraguai, sem matriz logística para que Paranaguá se tornasse o porto de escoamento da produção, o país criou a terceira maior frota de barcaças do mundo. Mas a navegação pela Bacia do Rio da Prata sofre com a insuficiência de calado em períodos de seca, colocando o país em posição de fragilidade nas exportações. “E o barco que chega lá vem de Paranaguá contornando o sul do continente. É um desperdício de 30 dias, além de custo”, explica.

Com traçado e composições mais modernas, a Nova Ferroeste poderá ter trens mais velozes. Um contêiner que leva hoje entre 5 e 7 dias para chegar em Paranaguá vai levar 20 horas, estima Fagundes. “E a carga precisa de custo logístico baixo. Trem a 15 km/h é custo alto. Mas a 60 km/h, funciona bem”, acrescenta João Mohr, da Fiep.

A expansão de ferrovias deve modernizar o traçado nas serras da Esperança, próxima a Guarapuava, e na Serra do Mar, chegando ao litoral do Paraná – que, por conta das curvas fechadas e trechos íngremes, reduzem a velocidade dos trens. “O projeto é fazer uma nova descida nessas duas serras, com uma nova ligação de Guarapuava direto até a Lapa, sem passar por Ponta Grossa. De lá, contorna Curitiba. Uma ferrovia moderna, com mais velocidade, ambientalmente correta e que deixará a descida centenária para ser usada pelo turismo”, explica Mohr.

Segundo Fagundes, do Plano Estadual Ferroviário, o projeto tem que ser resiliente e contribuir para o meio ambiente no longo prazo. “A implantação vai trazer efeito de eliminação de gases do efeito estufa equivalente a 250 campos de futebol”, calcula.

A nova ferrovia comportaria inclusive trens Double Stack, que permitem carregar um contêiner em cima do outro. “Imagine uma composição de 100 vagões, com 200 contêineres. A economia é muito maior. Seria um maquinista no lugar de 200 motoristas, tornando o produto mais competitivo. Do ponto de vista ambiental são 200 caminhões a menos, contra uma ferrovia com 3 locomotivas”, complementa Mohr.

Mesmo que as locomotivas tenham motores maiores, a ferrovia emite cinco vezes menos carbono por tonelada transportada do que a rodovia. E tem frete 30% mais barato. “Além da vantagem social. Nesse sistema, o caminhão não vai deixar de existir, ele vai viajar dos pontos de ferrovia até a indústria. O motorista faz viagens curtas e dorme em casa todo dia. E reduz acidentes, porque tira os caminhões de trajetos de longas distâncias”.

Luiz Fagundes, do Plano Estadual Ferroviário: Nova Ferroeste em pé de competitividade para aproveitar vantagem de posição geográfica do Paraná.| Divulgação/Nova Ferroeste

O que falta para a concretização da Nova Ferroeste
O status do projeto, que começou em 2020, é de aguardo de conclusão do licenciamento ambiental. O processo se aplica a 1.304 quilômetros de ferrovia, pois o trecho Chapecó-Guarapuava não entrou no licenciamento em virtude de um atraso no contrato de autorização com o governo federal (mesmo assim, produtores rurais da região contrataram de forma particular o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental – EVTEA do ramal).

Da parte do licenciamento viabilizado pelo governo paranaense, foram feitas consultas e audiências públicas, nas quais se levantaram questões relativas a desapropriações e impactos sociais. “Fizemos vistoria técnica em todo o traçado com o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e apresentamos estudo completo de EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), para dar garantia jurídica ao empreendimento”, conta Luiz Fagundes.

O governo do Paraná repassou ao Ibama os resultados das contribuições das consultas e, ainda neste mês de abril, deve incluir estudos adicionais pertinentes à localização dos canteiros de obras e resposta a análises feitas a partir do resultado das audiências, como o pedido para estudar a viabilidade de um túnel nos parques Guaricana e Saint Hilaire. A partir destes novos encaminhamentos ao Ibama, as respostas serão analisadas pelo órgão.

A continuidade do processo de licenciamento também dependerá da análise pelo Ibama e pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) de recomendação expedida pelo Ministério Público Federal (MPF) de complementação ao EIA/Rima no que se refere aos impactos nos mais de 40 territórios indígenas do Paraná e do Mato Grosso do Sul localizados nas proximidades da ferrovia, antes da expedição da licença prévia à execução do empreendimento.

O documento foi expedido em 23 de março e as instituições têm 30 dias para informar as medidas adotadas. Em resposta ao pleito do MPF, o governo do Paraná disse que atendeu a todos os pedidos e prerrogativas legais dos órgãos licenciadores para a realização do Estudo de Componente Indígena do projeto da Nova Ferroeste.

Inicialmente, a previsão era que o leilão da Nova Ferroeste acontecesse entre os meses de setembro e outubro de 2022. Mas o governo informa que só será feito depois que todas as etapas do licenciamento estiverem concluídas. Segundo Luiz Fagundes, isso dará segurança a investidores interessados no projeto para contratar a análise de viabilidade financeira e jurídica do empreendimento. As análises contratadas pelos investidores aos bancos em geral duram de 6 a 8 meses – tempo que o governo pretende usar para ampliar as divulgações internacionais.


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GUERRA DA UCRÂNIA E A TEORIA DA FERRADURA

 

Relações com Putin
Brasil e Rússia: como a guerra da Ucrânia explica a teoria da ferradura

Por
Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


O presidente russo, Vladimir Putin: inimigos políticos, tanto bolsonaristas quanto petistas se aproximaram do líder do Kremlin| Foto: EFE/EPA/GAVRIIL GRIGOROV/SPUTNIK/KREMLIN

“Maurício Falavigna é professor, educador social, redator de marketing e jornalista. Milita há uma década e meia na área de Inclusão Digital, já tendo dirigido ONGs e alguns projetos sociais.” Assim é definido – ou se define – o autor de um trio de frases que sintetizam a banalidade do mal. Uma expressão, infelizmente surrada, que descreve com perfeição a resposta de Falavigna à pergunta: “E hoje tá de aniversário a guerra da Ucrânia. Qual é a sua avaliação da guerra da Ucrânia?”.

“Não mandei um cartão de felicitações ao Putin, esqueci que era hoje. Mas eu não vejo a hora que ele lance umas 18 bomba nuclear (sic) na Ucrânia, na Inglaterra, na Alemanha, e acabe com a Europa inteira. No íntimo, o que eu mais quero é isso.”

A população da Europa é de 751,5 milhões de habitantes. Uma “Europa arrasada”, como o sujeito externou o que jazia em seu íntimo, significa desejar a morte de boa parte dessa população. No mundo ideal e desumanizado, como o do diálogo descrito acima, os indesejáveis são como ratos ou baratas. A desumanização foi um dos recursos usados pelo nazismo como um dos ingredientes do Holocausto.

Joseph Stalin, um dos ídolos desse pessoal, tem em seu currículo algo em torno de 20 milhões de mortes. Pelo menos 1 milhão delas diretamente ordenadas, durante o Grande Expurgo de 1936 a 1939. Outras 1,5 milhão de mortes ocorreram nos campos de trabalhos forçados. E o resto de fome. Somente na Ucrânia, foram mais de 6 milhões de vítimas. Para se ter uma ideia do gigantismo do genocídio promovido por Stalin na tão odiada Ucrânia: desde o início da pandemia de Covid-19 até hoje, foram contabilizadas 6,8 milhões de mortes em todo o mundo.

As “18 bomba nuclear” do professor, além de varrer o pluralismo da face da terra, transformariam Vladimir Putin em um herói que deixaria o chinês Mao Tsé-Tung e seus 60 milhões de mortos parecendo um escoteiro de tão inofensivo.

Agora imagine uma ferradura. Em um exercício de abstração, coloque o professor com tenções genocidas em um dos extremos do sapato de cavalo. Percorra mentalmente a forma em direção à outra extremidade do objeto. Depois de se afastar ao máximo do plano de destruição total da Europa, o percurso, ainda que em direção oposta, volta a nos levar para perto do ponto de partida. Com a sutileza de jamais proporcionar um ponto físico de contato, como ocorreria em um círculo, por exemplo.

Quando chegamos ao outro extremo da ferradura, quem encontramos? Outro radical. Desta vez de direita. E quase sempre defendendo algo muito próximo daquilo que pensa quem está no extremo oposto. Ambos se odeiam. Não escondem sequer o desejo de aniquilação do polo contrário. Mas são mais parecidos do que diferentes.

Podemos dizer que nessa outra ponta da ferradura está alguém que se veste de cavaleiro templário, luta contra o globalismo e os banqueiros atlantistas que financiam os nazistas e defensores da nova ordem mundial na Ucrânia. Putin, como “grande conservador” que é, combatendo as ideologias de gênero, o climatismo e o ateísmo. Valores que dão a ele a legitimidade moral de impedir os invasores ocidentais da OTAN e dos Estados Unidos, que usam a Ucrânia como pretexto para impor sua agenda de dominação global.

Sendo assim, vamos ampliar a relevância do antagonismo político e suas contradições. A invasão da Ucrânia colocou os opostos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva nos extremos da ferradura. Por razões diferentes, Bolsonaro e Lula abraçaram Putin e assumiram o mesmo lado na guerra.

Putinistas oriundos do Itamaraty sopraram nos ouvidos de Bolsonaro odes de amor ao presidente russo ao ponto de o então presidente cair no conto de que, depois da derrota de Donald Trump na eleição de 2020, o melhor era se juntar a Putin, o conservador. A união foi selada com a crise dos fertilizantes, quando a Rússia fisgou o Brasil devido à dependência que o agro brasileiro tem em relação ao insumo que é importado, em grande parte da Rússia. Para garantir o suprimento e a produção de alimentos para o mundo, Bolsonaro se juntou a Putin.

A aliança de Lula com Putin tem outra dimensão. O comércio e os fertilizantes são apenas a cobertura para um plano estratégico de longa data. Hoje, ele é evidente. Mas Lula, Dilma, Putin, Xi e a patota dos Brics já estavam cantando a pedra há tempos. O casamento é antiocidental. Ou mais precisamente, antiamericano. Um projeto de reorganização do mundo.

Bolsonaro, pode-se dizer, pavimentou a estrada percorrida por Lula. O petista, por sua vez, vai concluir a obra iniciada por Bolsonaro.

O “novo mundo” que emerge com a ajuda do Brasil e sua ferradura política quer prover uma zona cinzenta sem controle e pressão ocidental. Um Sul Global meio bandoleiro, mas com tintas de autodeterminação. Um grande colchão para proteção contra problemas já testados por meio da Rússia e sua invasão na Ucrânia.

Sob a liderança da China e com a adesão do Brasil, o tal “novo mundo” que surge é o mundo seguro que Pequim quer para si e para seus aliados, onde ninguém poderá cobrá-los de nada. No caso da China, uma clara preparação para invadir Taiwan e mitigar pressões como sanções. Com um sistema de pagamentos próprio, fica garantido o fluxo financeiro. Além de ter países com suas reservas coalhadas de moeda chinesa, torna-os reféns. Não jogariam contra a sua própria estabilidade pressionando economicamente a China.

Não há como ser otimista com o futuro. Por mais que o mundo livre tenha suas falhas e contradições, só em delírio alguém pode dizer que as sociedades que se desenvolveram em busca de liberdade e democracia são decadentes quando comparadas com a proposta de mundo que a China oferece.

E tudo indica que nos extremos da ferradura, o pessoal está trabalhando duro (de maneira às vezes distintas) para isso acontecer.


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DIREITA ARMADA E ESQUERDA DESARMADA TUDO É A MESMA COISA

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

A deputada federal Júlia Zanatta.| Foto: Agência Câmara

Num curto período, a imagem da deputada federal Júlia Zanatta ganhou destaque nas redes sociais duas vezes. Primeiro foi quando a deputada postou uma foto segurando uma carabina enorme, vestida com uma camisa estampada com uma mão de quatro dedos cravada de balas. Isso não é correto. E isto não traz nenhum benefício à nação: traz fama à deputada e excitação à gente vazia viciada em rede social.

A imagem trazia uma frase em inglês que também estava estampada na camisa: “Come and take it” (“Venha buscar”), referindo-se às armas. Com a confusão entre liberalismo e anarcocapitalismo, tem crescido na população brasileira, por meio da direita, a crença delirante na ideia de que dá para viver armado contra o Estado, defendendo-se numa pequena propriedade autossuficiente. Não dá. E isso é uma ideologia importada dos EUA. Não à toa, a imagem traz muita semelhança com uma outra dos EUA. Um indivíduo transgênero gravara um vídeo no TikTok manejando um fuzil e pusera a seguinte legenda: “Mesmo que defender apenas que nós (sic) , pessoas trans, ‘nos armemos,’ não seja nenhum tipo de solução para o genocídio que estamos enfrentando, eu quero mesmo dizer a vocês, transfóbicos, que tentem me pegar.” O discurso é o mesmo: o indivíduo precisa se armar contra a coletividade que supostamente o ameaça. E como a ameaça pode ser mais imaginada do que real, é tênue a linha que separa a autodefesa racional e o terrorismo psiquiátrico.

Na condição de baiana acostumada à lacração racialista, também me chamaram a atenção as florezinhas de Oktoberfest ostentadas pela deputada catarinense. Se na Bahia eu vejo uma política ou uma acadêmica de turbante, eu aposto as minhas fichas em identitarismo negro, pela simples razão de que na Bahia, se você está de turbante sem vender acarajé, tem grandes chances de ser lacradora. As demais possibilidades são: baiana de receptivo (mulher paga para posar de baiana para turistas), filha de santo em dia especial e apreciadora de moda afro (que tem grande intercessão com o conjunto das identitárias). Do mesmo jeito, é muito difícil alguém encontrar em Santa Catarina uma mulher de florzinha na cabeça, salvo em contextos tais como: Oktoberfest, grupo de dança folclórica e profissional ligada ao turismo. Turistas gostam de coisas estereotipadas, por isso na Bahia arranjam as baianas de receptivo (vaga na qual dificilmente uma loura seria admitida); e em Santa Catarina há a demanda por colonas alemãs estereotipadas, servindo, porém, mestiças lusófonas de cabelo pintado de louro como a deputada (aliás, se formos pensar em militantes políticas com florzinha no cabelo e recuarmos no tempo, encontraremos as armamentistas Carla Zambelli e Sara Winter na manifestação do grupo feminista ucraniano Femen. Elas, inclusive, também gostavam de meter frase em inglês sem contexto.)

É justo e são um estado se orgulhar de suas matrizes culturais. No Congresso, isso deve se refletir em políticas culturais, não em parlamentar a caráter. Andar a caráter é coisa de identitário, e identitário é divisivo. Até mesmo a pauta de se armar contra o Estado lembra o movimento negro: nos EUA, é o que os Panteras Negras de fato faziam; no Brasil, o primeiro passo já foi dado com a narrativa de que a polícia (isto é, o Estado) promove o genocídio negro. Seja com o negro de esquerda ou com a branca de direita, promove-se a agenda das ONGs, que é, no fundo, ter de escolher entre um Estado aparelhado por progressistas e Estado nenhum (anarcocapitalismo).

A outra ocasião recente em que a deputada Júlia Zanatta ganhou o noticiário nacional foi a do suposto assédio. Também aí a sua conduta seguiu o modus operandi progressista: a despeito de investir na imagem de mulher forte, apela-se para os sentimentos cavalheirescos dos homens do próprio bando posando de vítima de um homem do bando adversário. A esquerda identitária quer mostrar que os homens de direita são estupradores vis que vão roubar as suas mulheres; a direita lacradora, vice-versa. Fomenta-se a cisão do país, que, dividido, é melhor para ser conquistado.

A situação foi a seguinte: durante um barraco cheio de gritaria na Câmara, a novata Júlia Zanatta batia boca com a veterana Lídice da Mata da Bahia (codinome “Feia” na planilha da Odebrecht). O deputado maranhense Márcio Jerry, governista como Lídice, chegou por trás da oposicionista e berrou no ouvido dela que era para ela respeitar os quarenta anos de mandato da baiana. De maneira ainda inexplicada, a deputada tinha alguém para capturar o momento e providenciou uma imagem estática do deputado Jerry em que ele parecia estar dando uma cafungada à Biden. Daí jogaram as imagens nas redes sociais e chamaram o homem de tarado que não respeita mulheres, quando ele estava justamente mandando respeitar uma mulher mais velha. Ele pode ser chamado de mal-educado (como muitos dos envolvidos), mas não de tarado.

Tomando por base o Twitter (não sei se foi diferente no Instagram) quem começou foi o deputado do Ceará André Fernandes. Ele escreveu (e a deputada endossou) que o maranhense “chegou POR TRÁS da deputada Julia Zanatta (PL/SC) e deu um cheiro no pescoço dela.”

Para a sorte do deputado Jerry, mais alguém tinha a filmagem do barraco (como os deputados agora andam de celular em riste, é compreensível que haja mais filmagens, já que um barraco parlamentar é um ótimo pretexto para filmar, publicar e gerar engajamento nas redes. Assim, é de se pensar se as imagens que a deputada publicou não são excertos de um vídeo). Ele pôde exibir o vídeo em suas redes e deixar clara a situação. E é evidente que ele não cheirou pescoço coisa alguma. Logo, ambos os deputados oposicionistas que divulgaram essa calúnia devem ser punidos.

Mas é claro que nada disso basta para convencer as redes sociais e os comentaristas da Globo News, que prontamente ficaram do lado da deputada a despeito das imagens exibidas na tela. Diz-se que algumas pautas devem ser suprapartidárias, mas a grande mídia determina qual é a esquerda aceitável e qual é a direita aceitável. (Até há pouco a direita aceitável era o Novo, cuja base minguou após as declarações de Amoedo.) A esquerda autorizada diz: “Ui, a polícia é má, tem que tirar”. A direita autorizada diz: “Ai, o cidadão tem que poder comprar fuzil”. Como se houvesse oposição, em vez de complementaridade! Ambas apontam uníssonas para segurança privada! Tira-se a polícia para botar segurança particular. Não é à toa que as ONGs passaram a chamar as favelas de “comunidade”, já que assim parece legítimo – de um ponto de vista anarcocapitalista – as comunidades se armarem para se defender.

Se querer polícia é ser de direita, eu sou de direita. Se não querer cidadãos privados com fuzil é ser de esquerda, eu sou de esquerda.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/bruna-frascolla/direita-pro-fuzil-e-esquerda-anti-policia-sao-a-mesma-coisa/
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A VERDADEIRA OPOSIÇÃO AO PT É O PRÓPRIO PT

 

Ao defender que não haja travas ao investimento na proposta do arcabouço fiscal, PT não se limita a atuar contra Haddad e boicota as bases do principal projeto do governo

Por Notas & Informações

Ouvir:PT, a verdadeira oposição ao governo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer limitar a R$ 25 bilhões o bônus para investimentos adicionais que o governo poderá realizar caso haja uma entrada de receitas extraordinárias. A medida deve fazer parte do projeto do novo arcabouço fiscal, cujo texto ainda será apresentado pelo Executivo ao Congresso. Ao impor esse limite, a equipe econômica quer direcionar eventual aumento da arrecadação para a melhoria das contas do governo, de forma a estabilizar a evolução da dívida pública.

Embora a âncora tenha sido recebida com alguma desconfiança por parte dos investidores, haja vista que seu funcionamento dependerá muito do aumento da arrecadação, as críticas mais pesadas à proposta não têm vindo de economistas ou da oposição, mas do próprio Partido dos Trabalhadores (PT). Como revelou uma reportagem publicada pelo Estadão, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), disse que o partido quer que o Ministério da Fazenda reveja sua posição e libere os investimentos de qualquer trava.

Não é a primeira vez que a petista boicota os projetos de Haddad. A deputada, que não hesita em mandar recados públicos para constranger um dos principais ministros do governo que ela apoia, contribuiu diretamente para a manutenção da desoneração dos combustíveis por mais dois meses, algo indefensável sob o ponto de vista político, econômico e ambiental. Agora, Gleisi se arvora como defensora dos investimentos, que, sob seu ponto de vista, não podem ficar sob a mira fiscalista de Haddad. “A defesa do investimento público é uma posição consolidada do PT”, disse a parlamentar.

Há que reconhecer que a deputada sabe se posicionar politicamente. Sabendo da importância dos investimentos públicos para estimular o setor privado e alavancar o crescimento econômico, quem, em sã consciência, seria capaz de defender sua redução? Convenientemente, ao levantar essa discussão, a presidente do PT não menciona que a âncora proposta pela equipe econômica estabelece, também, um valor mínimo de R$ 75 bilhões.

Se o governo não conseguir atingir o piso da meta de superávit primário proposto pelo arcabouço, o crescimento das despesas, limitado a 70% do aumento das receitas, terá de cair a 50%. Essa restrição, no entanto, não poderá atingir os investimentos, que serão corrigidos pela inflação a cada ano, independentemente do que vier a ocorrer.

Na prática, os investimentos foram blindados do alcance do arcabouço justamente para atender aos caprichos do PT, uma concessão nem um pouco banal do Ministério da Fazenda. Como quase 95% das despesas do Orçamento são compostas por dispêndios obrigatórios, o espaço para os gastos discricionários, além de pequeno, é composto basicamente por investimentos. Essa exceção foi, inclusive, um dos aspectos que levaram economistas a questionar a solidez da âncora – e não se trata de má vontade do mercado.

Nos últimos anos, se houve uma despesa sobre o qual o desmoralizado teto de gastos se mostrou implacável, foram justamente os investimentos. Eles foram reduzidos a R$ 42,3 bilhões no Orçamento de 2022, o menor nível da história, para que o então presidente Jair Bolsonaro deixasse intocado o escandaloso orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão.

A não ser que Lula decida fazer reformas estruturais, o que, pelo histórico das administrações petistas, não parece ser o caso, a obtenção de superávits primários dependerá fortemente do aumento das receitas. Para aprovar medidas na área tributária, no entanto, o governo terá de construir uma base forte no Congresso, o que tampouco, por ora, parece ser o caso.

Em vez de fazer esse trabalho fundamental para o governo, o PT conseguiu o feito de deixar escapar o apoio do PDT e do PSB, que passaram a integrar o bloco do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Enquanto isso, a oposição se presta a fazer algazarras em audiências com ministros e produzir cenas que somente agradam a seus próprios seguidores nas redes sociais. Fato é que, até agora, quem melhor tem feito oposição ao governo, ironicamente, é o Partido dos Trabalhadores.

O BRASIL VAI AO G7 DEPOIS DE QUINZE ANOS

 

Com prudência e boa diplomacia, é possível cooperar com as democracias industrializadas sem prejudicar os interesses do Brasil junto a seus antagonistas, como China e Rússia

Por Notas & Informações

Após 15 anos, o Brasil foi convidado a participar, em maio, da cúpula do G-7, o grupo das democracias mais industrializadas do mundo. O contraste entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva pesou. Em suas poucas aparições em foros multilaterais, Bolsonaro se destacou por insultar lideranças e gastar tempo papeando com garçons. Lula tem carisma e reputação no campo social, além de saber tocar a corda que soa mais alto no Primeiro Mundo: a causa ambiental. As quatro participações do Brasil foram em seus mandatos e seu prestígio contou para a quinta. Mas superestimá-lo é subverter a ordem dos fatores. O Brasil não irá ao G-7 pela relevância de seu chefe de Estado, mas será representado por seu chefe de Estado pela relevância da Nação.

Ela é a segunda maior democracia do Ocidente, compreende um terço da população da América Latina e quase a mesma proporção de seu PIB. Como potência agrícola e guardiã dos maiores biomas e florestas do planeta, é indispensável para superar dois desafios cruciais: as mudanças climáticas e a segurança alimentar.

Há amplas oportunidades para cumprir, na fórmula do ex-chanceler Celso Lafer, a missão da política externa: traduzir necessidades internas em possibilidades externas. Buscar a derrubada de barreiras comerciais, canais de investimentos, apoio a políticas domésticas de interesse global, como a sustentabilidade da Amazônia e o combate ao narcotráfico, são só algumas delas. Como único representante da América Latina e uma das maiores economias emergentes, o Brasil tem ainda a responsabilidade de buscar uma governança global mais inclusiva, propondo reformas em mecanismos multilaterais ou consensos regulatórios no ambiente digital, na segurança sanitária ou na ordem geopolítica.

Mas justamente nas questões de maior envergadura há o risco de que os ativos de Lula se convertam em passivos para o Brasil. É fácil prever como seu voluntarismo ideológico e apetite por protagonismo pessoal podem desvirtuar sua diplomacia “ativa e altiva” em ativista e arrogante.

Em termos de valores civilizacionais, não deveria haver dúvida sobre o alinhamento do Brasil em meio ao confronto entre o eixo autocrático sino-russo e a frente democrática euro-americana. Mas Lula deixa muitas dúvidas. O premiê do Japão, que presidirá a Cúpula, enfatizou que a guerra na Ucrânia estará no centro dos debates e antecipou dois pontos que os nortearão: o apelo à desocupação dos russos e o engajamento diplomático em um acordo de paz. Lula se propõe a liderar um “clube da paz”, mas só com relutância condena a invasão russa e tem dado tratamento privilegiado a Moscou em detrimento de Kiev.

O Brasil não precisa abrir mão de seus valores ocidentais para promover seus interesses asiáticos. Mesmo os EUA mantêm vastas relações comerciais com a China. Mas, quando Lula diz que “é com a China que nós temos a maior balança comercial e é junto com a China que temos tentado equilibrar a geopolítica mundial”, mistura temerariamente alhos com bugalhos. Até porque, para ficar na seara econômica, se a China é o maior parceiro comercial do Brasil, a União Europeia (UE) é o segundo e EUA (de longe responsável pela maior parcela de Investimentos Estrangeiros Diretos), o terceiro.

Ambições desmedidas de atuar em conflitos onde o Brasil tem pouco a ganhar e muito a perder podem obliterar possibilidades externas que satisfariam necessidades internas, como o acordo Mercosul-UE ou o ingresso na OCDE – o qual, mesmo a contragosto, Lula deveria ser cobrado a promover. Tanto pior se essas ambições prejudicarem áreas em que o País tem reais condições de liderar, como o meio ambiente.

É hora de botar a bola no chão. Para isso, o Brasil conta com o aparato profissional do Itamaraty e o norte constitucional que sobrepõe a diplomacia a preferências ideológicas e partidárias. Em alguma medida, o País deve a Lula o retorno à cúpula do G-7. Mas, para que os interesses nacionais sejam elevados nela, o presidente precisará, para ficar nas metáforas futebolísticas, “baixar a bola”.

APLICAÇÕES DA IA NO VAREJO ONLINE PARA MELHORAR A EXPERIÊNCIA DE COMPRA DO CLIENTE

 

Rodrigo Schiavini, diretor de negócios da SmartHint

Até 2025,  aproximadamente 95% de todas as interações com clientes serão feitas através de canais suportados pela tecnologia de IA, segundo dados da Microsoft.

No texto abaixo, Rodrigo Schiavini, diretor de negócios da SmartHint, startup do grupo Magalu, destaca alguns exemplos de aplicação de IA no varejo online que vão melhorar a experiência de compra dos clientes, como vitrine de recomendação e busca inteligente.

Levantamento da Microsoft, aponta que até 2025, aproximadamente 95% de todas as interações com clientes serão feitas através de canais suportados pela tecnologia de IA

O uso da inteligência artificial já pode ser reconhecido em diversas áreas e segmentos diferentes, incluindo o e-commerce. O mercado online utiliza a tecnologia como estratégia para aumentar as vendas. É o que defende Rodrigo Schiavini, Diretor de Negócios da SmartHint, maior e mais utilizado sistema de busca inteligente e recomendação para e-commerce da América Latina, pertencente ao grupo Magalu.

“Os lojistas devem se atentar e utilizar os recursos de inteligência artificial em todos os períodos do ano, especialmente naqueles que merecem uma atenção especial, não apenas em relação aos estoques abastecidos, mas para garantir uma infraestrutura adequada, que permita atrair consumidores e oferecer uma experiência de compra diferenciada, que faça o negócio se destacar da concorrência. Algoritmos inteligentes podem otimizar as estratégias de relacionamento com o cliente e a experiência de compra, aumentando a conversão e a fidelização”, ressalta o especialista.

Um levantamento da Microsoft, aponta que até 2025, aproximadamente 95% de todas as interações com clientes serão feitas através de canais suportados pela tecnologia de IA.

Pensando nisso, Schiavini traz alguns exemplos de aplicação de inteligência artificial no varejo online que vão melhorar a experiência de compra dos clientes:

Vitrines de recomendação autônomas

Esse é o mesmo recurso usado nos streamings como Netflix e Spotify, mas no e-commerce ele recebe o nome de vitrines inteligentes. Ao acessar uma loja virtual, o consumidor será atraído por uma “vitrine” que destaca ofertas e produtos alinhados aos seus interesses e aos interesses do lojista, incluindo lançamentos e promoções como “compre junto”. Essa personalização é automatizada pela inteligência artificial e ajuda na conversão de mais vendas.

Busca inteligente

Um sistema de busca eficiente também contribui para o sucesso das vendas. Os que usam inteligência artificial são chamados de busca inteligente e facilitam a navegação do consumidor, tornando a experiência de compra mais simples e agradável. No caso da SmartHint, por exemplo, além da busca, o sistema faz recomendação proativa de produtos e traz recursos como:

Busca por voz – a pesquisa fica ainda mais simples. Basta que o cliente clique no microfone e fale o que está procurando.

Busca por imagem – o consumidor mostra ou tira uma foto do produto desejado e a inteligência artificial faz o reconhecimento de imagem, mostrando resultados iguais ou semelhantes.

Recuperação de carrinho

Assim como nos exemplos anteriores, aqui a automação e a personalização se destacam. Ao identificar um carrinho abandonado, a inteligência artificial usa dados do cliente, informações do seu perfil de consumo e os passos dados durante a navegação na loja, para gerar automaticamente um e-mail marketing instigando-o a retomar a compra. É possível também usar pop ups no próprio site da loja, que aparecem antes da janela ser fechada, entre outras estratégias.

Precificação de produtos

A utilização da inteligência artificial no e-commerce também pode ser aplicada na precificação de produtos, facilitando e potencializando essa etapa de trabalho. A tecnologia permite a coleta e análise de dados de vendas internos e externos, faz comparações dos preços com os da concorrência e define o preço ideal das mercadorias de forma automática.

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

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sábado, 15 de abril de 2023

PARCERIA CAMBIAL COM A CHINA VIRA MOTIVO POLÍTICO

Comércio exterior
O que realmente está em jogo nesse acordo

Por
Marcos Tosi – Gazeta do Povo


Os presidentes do Brasil e da China, Lula e Xi Jinping.| Foto: EFE/EPA/KEN ISHII

O anúncio de que Brasil e China poderão fazer transações comerciais diretamente em suas moedas, sem passar pelo dólar, não envolve exatamente o melhor dos cenários. Ocorre num momento em que a moeda chinesa, o yuan, é ostensivamente utilizada pela Rússia para escapar às sanções internacionais decorrentes da agressão à Ucrânia. Em paralelo, o acordo com o Brasil integra um esforço concentrado dos chineses para diminuir sua própria exposição ao dólar, no contexto do embate com o Ocidente por poder e influência globais.

Tantas questões geopolíticas sensíveis levantam naturalmente ressalvas quando à necessidade e ao momentum do acordo bilateral. Na visita à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi além e embarcou num discurso antiamericano, atiçando o simbolismo político da decisão brasileira, e perguntou: “Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar?”.

É do jogo político fazer fumaça, questionar as razões para o uso do dólar, yuan ou qualquer outra moeda no comércio internacional. Na prática, contudo, o dólar domina as transações globais devido aos fundamentos da economia americana, que tem mercado de capitais aberto, alta liquidez de seus ativos e funciona num ambiente democrático e transparente. “Você confiaria mais em ter dólar ou yuan guardado dentro de casa?”, provoca Paulo Molinari, consultor da agência Safras & Mercado.

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Brasil chega atrasado aos negócios com yuan
Ideologias à parte, quem defende azeitar as trocas com moeda chinesa recorre ao pragmatismo econômico demonstrado inclusive pelos próprios Estados Unidos na relação com a China. Os americanos têm hoje uma “clearing house” – instituição financeira de compensações de moedas – que opera quase 3% das transações em yuan nos mercados internacionais. O JP Morgan foi escolhido para isso pelo Banco do Povo da China, o banco central chinês, em 2018.

“A gente, na verdade, está atrasado. Essas clearing houses já existem desde 2008. A China tem hoje mais de 27 delas espalhadas pelo mundo, inclusive nos EUA. Lá não é só um banco chinês, mas o JP Morgan também faz esse trabalho. E é assim no Japão, Reino Unido, Austrália e Canadá. Vai além de fechamentos de câmbio, envolve também empréstimos, depósitos, aplicações financeiras e derivativos”, diz Sergio Quadros, responsável pela instalação e abertura da primeira agência do Banco do Brasil na China, e que atualmente está à frente da SQ Asia Business Consulting.

Na avaliação do especialista em mercado chinês, a instalação de bancos para fazer compensação de transações em yuan e real vai abrir o leque de oportunidades de negócio. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, destino de quase um terço das exportações totais. A corrente de comércio – soma de importações e exportações – com o país asiático movimenta US$ 150,5 bilhões por ano, enquanto com os Estados Unidos, segundo colocado, as trocas comerciais alcançaram US$ 88,7 bilhões em 2022.

Uso do yuan pode habilitar mais chineses a importar do Brasil
“Pequenas, médias e até grandes empresas têm um limite de exposição cambial dento da China. A negociação em yuan pode permitir que aumente a importação de produtos brasileiros. Pode beneficiar empresas chinesas que às vezes não conseguem acessar o mercado por dificuldade de linha de crédito em moeda estrangeira. Novos nichos de mercado devem se abrir para o Brasil”, sublinha Quadros.

Ressalvando “ser também um conservador”, Quadros reclama de um “mindset” brasileiro que, ao seu ver, costuma se alinhar de saída aos interesses norte-americanos, sem contrapartida. “Ficamos olhando para os EUA como se fossem nos salvar de alguma coisa. Eles nunca nos salvaram e nunca olharam para a América Latina como olham para a Europa e a Ásia. Não fizeram os mesmos esforços para nossa industrialização como fizeram com o Japão e a própria China. Então o Brasil tem que dar um salto de independência mesmo, sem viés ideológico ou político, mas sendo pragmático e fazendo acordos com o mundo inteiro”, avalia.

Incrementar negócios em moedas nacionais, diminuindo a dependência ao dólar, é uma estratégia estudada há anos pelos países que compõem o Brics, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Quem pode ter algum protagonismo nos próximos passos nesse sentido é a ex-presidente Dilma Rousseff, que, indicada por Lula, acabou de assumir a presidência do banco do bloco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). “Estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo”, disse Lula.

Homem passeia em frente à sede do banco dos Brics, em Xangai, também conhecido como NDB Bank| Alex Plavevski / Agência EFE

Como a Rússia, China quer menos exposição a embargos
No Brasil, o banco que fará a compensação do renmimbi, nome oficial da moeda chinesa, será o Bocom BBM, sucursal do Industrial and Commercial Banck of China (ICBC), maior banco do mundo. O país passa a participar assim da plataforma de pagamentos China Interbank Payment System (Cips), que opera de forma equivalente ao sistema ocidental Swift, utilizado por milhares de instituições financeiras em todo o mundo.

Desde o início da guerra da Ucrânia, o Cips tem sido crescentemente usado pela Rússia como válvula de escape de sanções aplicadas via Swift. No caso de uma invasão da China a Taiwan, certamente o Swift seria acionado pelos EUA como ferramenta de boicote.

O avanço do yuan como moeda global ocorre à moda chinesa, descolada do histórico anterior da libra esterlina e do dólar, por exemplo, que cresceram no século 20 por apresentarem alta liquidez e liberalização dos mercados. A internacionalização pretendida pela China, segundo estudo publicado no ano passado pelo Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas (Cepr) europeu, não envolve a abertura de seu mercado de capitais, devido ao temor de ficar exposta a crises importadas e perder o rígido controle da economia.

Em vez disso, a China aposta num mundo multipolar envolvendo várias moedas coexistindo, como euro, dólar e yuans. Com isso em mente, os chineses vão costurando acordos para compensações de pagamentos com yuans, o que acaba, por tabela, levando os países a comporem reservas na moeda asiática.

No Brasil, mesmo sem câmara de compensação, as reservas em yuan alcançaram 5,37% do total em moeda estrangeira em 2022, ultrapassando as reservas em euro (4,74%), contra 80,42% do dólar. No mundo, os bancos centrais mantêm reservas equivalentes a cerca de US$ 300 bilhões em yuans.

No agro, quase tudo é indexado ao dólar
O agronegócio brasileiro tem a China como destino de 31,9% de todas suas exportações, e funciona amplamente ancorado no dólar. Não é exagero dizer que os produtores rurais levam uma vida indexada à moeda americana – desde os preços de fertilizantes e defensivos até o valor final de uma saca de soja ou milho, todas as contas são feitas em dólar.

Nesse hábitat, a possibilidade de fazer negócios em yuan tem inicialmente pouco apelo. Mas se uma eventual redução de custos na taxa de câmbio alterar o preço pago ao produtor, o jogo pode mudar, segundo Sergio Quadros. “Tudo depende do repasse da redução de custos na taxa de câmbio. O produtor vai fazer seus cálculos na hora do fechamento do contrato, para saber se vai usar o dólar ou o yuan”, pontua.

Há, por outro lado, quem veja chances muito remotas de que qualquer ganho em termos de redução de custos possa chegar ao produtor. “É uma despesa que pode diminuir para a trading ou banco, não para o produtor. Na verdade, pode ser que esses custos operacionais financeiros até aumentem numa transação com yuan”, avalia Paulo Molinari, consultor da agência Safras & Mercado.

Em princípio, não há risco, nem temor, de que o dólar seja substituído pelo yuan ou qualquer outra moeda em curto prazo. Apesar de os Estados Unidos representarem 10% do comércio global, o dólar está presente em 40% das transações, enquanto o yuan responde por 4%. Há, contudo, preocupação com os efeitos políticos e econômicos futuros dessa adesão ao sistema chinês, que procura, abertamente, rivalizar com a moeda americana.

Agro teme dar poder demais ao seu principal cliente
Em tese, cria-se um cenário em que a China, principal destino de nossas exportações agrícolas, poderia chegar ao ponto de se sentir mais à vontade para exercer o poder de barganha e tentar impor preços abaixo da cotação internacional.

“Ela é maior compradora de soja, então, de repente, numa situação bilateral ela pode querer comprar soja em yuan mais barata do que o Brasil vende para o resto do mundo. Isso é uma derivação que a gente só vai conhecer mais à frente. Mas a mudança de moeda não muda nada. O que interessa é a precificação, que, na soja, significa Chicago mais prêmio. É difícil mudar essa lógica. O que muda é que em vez de ter uma liquidação só em dólar com a China, vamos ter uma liquidação em yuan”, diz Molinari.

Numa primeira avaliação, os produtores tendem a ficar com um pé atrás em relação a negócios em moeda chinesa. “Se pensar bem, a China é dona de quase tudo. Desde as empresas que compram a produção até as que vendem insumos. É um risco muito grande. Nosso sonho seria a gente mandar no preço, mas isso não acontece. Bem ou mal, nós temos esse mercado sólido, da cotação em dólar, que já existe há muito tempo e que todo mundo confia”, avalia o agricultor Zezé Sismeiro, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja).

Precificação continuará a ser feita pelo dólar e Chicago
Nas commodities agrícolas, a força da Bolsa de Chicago, que regula os preços globais de soja e milho, vai além da questão de moeda. “É a praça de referência para saber o equilíbrio de oferta e demanda de grãos no mundo inteiro. Acho positivo que exista essa possibilidade de compensar as transações em moedas locais. Mas para quem lida com commodities, o mais natural é permanecer a transação em dólares. O próprio ativo é precificado e operado em dólar”, avalia Felippe Serigati, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Nem mesmo o analista Sergio Quadros, que é favorável à negociação com yuans, vê ameaças ao sistema apoiado no dólar. “O dólar vai continuar a ser a moeda de negociação com hegemonia por um bom tempo. O yuan entra como mais uma opção para as empresas fazerem seus negócios com a China”, afirma.

Serigati, da FGV, avalia que em relação às commodities há risco de um custo maior ao se operar fora da unidade de medida do próprio produto, que, hoje, ainda é o dólar. Ele vê, contudo, potencial para incrementar negócios em outras trocas comerciais.

“Se for uma máquina ou equipamento, se o Lula vai lá, por exemplo, para fechar contratos de embarcações para papel e celulose, talvez faça mais sentido, porque não há um mercado internacional para isso. Ainda mais se vier associado a uma linha de financiamento. Mas, no caso das commodities, é difícil. Você terá um custo de transação adicional nesse processo [se usar yuan]”, diz.

Bravatas de Lula causam mal-estar desnecessário com os EUA
A criação de mecanismos de compensação em moedas locais, em si, não é ruim para as relações comerciais. Mas é um jogo que precisa ser jogado de olho nas consequências para as relações multilaterais. Felippe Serigati avalia que o Brasil precisa ser muito cuidadoso e diplomático ao tomar medidas que mexam no mapa geopolítico.

“Talvez num futuro, espero que não seja próximo, o Brasil vai ter que dizer a qual bloco, nessa divisão, ele pertence. Se ao bloco ocidental ou ao bloco chinês-russo. No momento, em que não estamos sendo fortemente pressionados para dizer de qual lado estamos, temos que manter a máxima neutralidade possível. Vai chegar a hora em alguém lá fora vai dizer que não dá mais para ficar em cima do muro. Enquanto a gente puder manter essa postura mais neutra, acho que é só vantagens para nós”, conclui.

O consultor Sergio Quadros, por sua vez, faz outra leitura. Segundo ele, diversificar as moedas reduz os riscos. “Para a China, a clearing house é muito mais um movimento geopolítico para se prevenir de eventuais sanções dos Estados Unidos. Mas, se lá na frente ocorrer alguma coisa com o Brasil e ele sofrer sanções, como ficaria a relação com o resto do mundo se não pudermos usar o dólar?”, questiona.

Seja como for, na batalha geopolítica e comercial entre as duas principais economias globais, que coincidentemente são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, o que ninguém discorda é que qualquer passo, do lado de cá, tem que ser milimetricamente calculado. Gritar bravatas contra o dólar, como fez Lula, não parece somar muito aos interesses do Brasil.


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LULA EM SEU PASSEIO VISITA ABU DHABI

 

Emirados Árabes
Lula visita Abu Dhabi para fechar acordos comerciais e tratar da extradição de brasileiro
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: EFE/Andre Borges

Depois de cumprir agenda na China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca neste sábado (15) em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU). A expectativa é de que a comitiva do petista seja recebida, no fim da tarde, no Palácio Presidencial, pelo xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan.

Lula pretende usar a viagem para fechar acordos comerciais e ambientais, mas a lista de temas ainda não havia sido divulgada pelo Palácio do Planalto até a tarde desta sexta-feira (14). Os Emirados Árabes Unidos são hoje os maiores investidores do Oriente Médio no Brasil, superando os US$ 10 bilhões.

Entre os quatro principais fundos soberanos do país do Oriente Médio, dois – a Mubadala Development Company e a Abu Dhabi Investment Authority (Adia) – mantêm presença ativa no Brasil. Os empreendimentos da Mubadala no Brasil incluem investimentos em setores como infraestrutura, mineração, imobiliário, entretenimento e educação. Já a Adia possui perfil voltado para compra de ações, com interesse no setor imobiliário e hoteleiro.

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Cerca de 30 empresas brasileiras estão presentes nos Emirados Árabes Unidos. É o caso da Vale, Embraer, Tramontina, WEG, Marcopolo, Itaú, BRF, JBS e Copacol, segundo o governo brasileiro

Ainda de acordo com o Planalto, o encontro parte de um desejo de Al Nahyan de estreitar as relações com o petista e ampliar o comércio entre os dois países. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o Brasil exportou 1% dos seus produtos para os Emirados Árabes em 2022.

No ano passado, o comércio bilateral alcançou a marca de US$ 5,7 bilhões, um aumento de 74% em relação a 2021. O Brasil teve um superávit brasileiro. O destaque fica por conta do agronegócio, que responde por quase 60% da pauta de produtos vendidos ao país do Oriente Médio.

Lula discutirá políticas ambientais na visita

A agenda de Lula em Abu Dhabi incluirá encontros com os organizadores da COP-28, que neste ano será sediada em Dubai, e com fundos soberanos de investimento. Na visita, o petista deve discutir a pauta ambiental brasileira, como políticas de preservação da Floresta Amazônica e a atração de recursos para o Fundo Amazônia.

Abu Dhabi pretende que 31% da energia que utilizar em 2025 seja originária de fontes limpas. Também quer reduzir pela metade, em dez anos, as emissões de dióxido de carbono. Os EAU foram a primeira nação do Oriente Médio e do Norte da África a assumir compromisso de emissões líquidas zero até 2050.

Extradição de empresário brasileiro em pauta
Oficialmente, o governo brasileiro diz que o presidente “tratará das relações bilaterais e econômicas entre os dois países”. Apesar disso, é esperado que Lula questione Al Nahyan sobre o pedido de extradição do empresário Thiago Brennand.

A extradição do empresário, que tem cinco prisões preventivas decretadas pela Justiça de São Paulo, está no radar por se tratar de um tema da agenda bilateral. Segundo o governo brasileiro, o caso “já vem tramitando e sendo tratado formalmente entre as autoridades diplomáticas brasileiras e a justiça dos Emirados”.

Brennand é acusado de crimes sexuais e já foi denunciado oito vezes pelo Ministério Público de São Paulo. Em vídeos postados nas redes sociais, sempre negou todas as acusações.

Em uma publicação feita na semana passada, o empresário afirmou que pretende voltar ao Brasil, que deve desculpas a ex-advogados e a autoridades a quem ofendeu, mas diz que provavelmente será preso “injustamente”. A defesa pediu a revogação das prisões e que o nome de Brennand seja retirado da lista de foragido da Interpol, o que foi negado pela Justiça.

O empresário embarcou para os Emirados Árabes em setembro do ano passado, poucas horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público. Ele ficou conhecido após agredir, em agosto de 2022, a modelo Alliny Gomes, durante discussão em uma academia de ginástica na Zona Oeste da capital paulista.

Segundo o Ministério da Justiça, o pedido de extradição de Brennand segue seu fluxo normal. A pasta afirma ter formalizado a solicitação às autoridades dos Emirados Árabes em 4 de novembro do ano passado. No dia 17 de março, 70 armas de Brennand foram apreendidas pela polícia.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o armamento foi encaminhado para perícia no Instituto de Criminalística e, depois, ficaria à disposição da Justiça de Porto Feliz, onde o empresário também é investigado.


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GASTOS COM A ELITE BRASILEIRA FAZ DESABAR O TETO DE GASTOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.| Foto: Edua Andrade/Ascom/MPO.

“Não tem espaço fiscal para absolutamente nada de novo e, ao contrário, nós teríamos que tirar de despesas discricionárias”, afirmou, na manhã desta sexta-feira, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, comentando o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias que o governo federal estava prestes a enviar. O texto, segundo a ministra, iria “assustar” por “mostrar o Brasil real, o Brasil que nós temos em relação às contas públicas”. O que Tebet não disse é que este “Brasil real” assusta por ser um Estado inchado, ineficiente e totalmente incapaz de colocar sua despesa sob controle porque sua classe política continua firmemente adepta do terraplanismo orçamentário da geração espontânea de dinheiro público.

O teto de gastos, inserido na Constituição em 2016 como resposta aos anos de gastança ilimitada do petismo e que legaram ao país a pior recessão de sua história, que não foi igualada nem mesmo pelo desastre da pandemia de Covid-19, trazia consigo uma série de efeitos benéficos na rigidez que impedia o aumento real (ou seja, acima da inflação) da despesa pública. Alguns eram mais óbvios, como o fato de que recursos adicionais oriundos de fontes extraordinárias (como privatizações e concessões) ou arrecadação maior em tempos de economia forte seriam usados para abater a dívida pública, em vez de transformados em novas despesas. Mas também havia um efeito pedagógico: os políticos seriam forçados a ter de fazer escolhas para alocar melhor um dinheiro que não era infinito.

Nem mesmo uma boa regra fiscal tem como funcionar quando os encarregados de colocá-la em prática pensam unicamente em acrescentar mais e mais rubricas a um Orçamento já muito engessado, em vez de reduzir e otimizar os gastos

A mensagem do teto de gastos era evidente: seria preciso atacar a despesa. Agir para conter a expansão desordenada das principais rubricas do Orçamento, como os gastos com funcionalismo e Previdência Social; e eliminar a gordura dos desperdícios, dos penduricalhos, dos privilégios, dos programas mal desenhados e ineficientes. Do contrário, era evidente que o teto de gastos não suportaria a pressão. Tebet criticou o fato de o teto não ter sido acompanhado da reforma tributária, mas ela, por mais necessária que seja, agiria no lado da receita. As grandes reformas que sustentariam o teto ao racionalizar a despesa seriam a da Previdência e a administrativa – esta última foi negligenciada pelo governo Bolsonaro, que mesmo enviando um texto ao Congresso não se esforçou por sua aprovação, e abandonada definitivamente por Lula; aquela ficou aquém do que poderia ter sido, graças a pressões corporativistas que mantiveram vários privilégios.

E, como se não bastasse não realizar o corte necessário, os políticos seguiram avançando sobre o dinheiro do cidadão: do “orçamento secreto” das emendas de relator ao bilionário fundo eleitoral, da PEC dos Precatórios à PEC fura-teto, não faltaram ideias para evitar as indesejáveis escolhas que o teto forçava Executivo e Legislativo a fazer, escolhas que tinham de ser feitas, mas que inevitavelmente desagradariam grupos de pressão. O resultado foi o descrito por Tebet: “de tanto que foi furado (…), [o teto] já ruiu. Ele caiu em cima da nossa casa”. O negacionismo orçamentário de governantes, deputados e senadores de todos os lados do espectro político causou a desmoralização e, depois, a destruição de uma regra fiscal que, se bem utilizada, poderia ter levado ao enxugamento do Estado, à eliminação de desperdícios, à racionalização do gasto público e a reformas estruturantes que elevariam a confiança dos investidores na saúde fiscal do Brasil, atraindo investimento e gerando emprego e renda.

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A história de como o teto de gastos ruiu é o resumo de uma maldição brasileira: nem mesmo uma boa regra fiscal tem como funcionar quando os encarregados de colocá-la em prática pensam unicamente em acrescentar mais e mais rubricas a um Orçamento já muito engessado, em vez de reduzir e otimizar os gastos, fazendo um pente-fino em despesas e programas para preservar o que é necessário e funciona, e eliminar os vertedouros de dinheiro público baseados em privilégios, desperdícios, ineficiência e imoralidade. Se foi assim com uma regra austera como o teto, o que esperar de um novo arcabouço que garante expansão real de gasto público mesmo quando a economia vai mal, e com um presidente adepto de jogos de palavras segundo os quais “investimentos” não são “gastos”?


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