segunda-feira, 13 de março de 2023

PRESOS NA FRENTE DO EXÉRCITO E OUTROS PRESOS SAS SEDES DOS TRÊS PODERES EM BRASÍLIA

 

DF BSB 11/01/2023 NACIONAL / EXCLUSIVO EMBARGADO / REFORÇO / POLICIAMENTO - O Policiamento foi  reforçado  na manhã  desta quarta-feira (11), na Esplanada  dos Ministérios  e na Praça  dos Três  Poderes em Brasília-DF, devido as ameaça de novos atos golpistas, praticados por apoiadores  do ex-presidente da república, Jair Messias Bolsonaro (PL). FOTO WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Têm textos idênticos e põem garantias em risco

Foto: Wilton Junior/Estadão

Por Isabella Alonso Panho – Jornal Estadão

Um bloco trata de quem foi preso na frente do Exército, e o outro, nas sedes dos três Poderes; subprocurador defende ‘narrativa genérica’

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – Denúncias apresentadas ao Supremo Tribunal Federal contra manifestantes dos atos golpistas ignoram as condutas individuais e são redigidas em bloco, com textos idênticos. A Procuradoria-Geral da República sustenta a legalidade da medida. Juristas, defensores públicos e advogados, no entanto, apontam para o risco de violações de direitos fundamentais e garantias dos investigados.

Embora cada participante dos ataques ao Palácio do Planalto, ao STF e ao Congresso responda a uma ação de forma individualizada, separadamente, há uma divisão nas denúncias em pelo menos dois lotes.

No primeiro, estão os detidos no dia 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. No segundo, aqueles que foram presos no dia seguinte, no acampamento na frente do Quartel-General do Exército.

Ao Estadão, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, coordenador do grupo que investiga e apresenta denúncias contra os manifestantes, afirmou que a medida é possível porque os delitos foram praticados por uma multidão – os chamados crimes multitudinários. “A jurisprudência admite a narrativa genérica da participação de cada agente”, disse Santos.

Essa estratégia apontada como excepcional por juristas foi percebida pelos defensores públicos da União que acompanham cerca de 250 manifestantes que não têm condições de pagar um advogado particular. Ao todo, são 1.406 investigados. “Há alguns padrões de acordo com cada situação. Quem ingressou em órgão público, quem não ingressou, quem estava no QG”, disse Gustavo Ribeiro, coordenador da equipe de defensores.

“Quem foi filmado colocando fogo, por exemplo, em uma sala do Senado, jogando uma obra de arte no chão, essa pessoa sabe que estragou um patrimônio do Brasil. Agora, e a pessoa que estava no QG sentada, cantando, jogando cartas com os amigos?”, questionou o defensor público.

Os casos que estão sob a tutela da Defensoria Pública da União estão começando a chegar ao órgão para a apresentação da primeira etapa de defesa. Ribeiro disse esperar que “a Justiça saiba separar o que é mais grave do menos grave”

Não está ocorrendo a individualização da conduta

Jean Cleber Garcia, advogado

Crimes

Segundo o advogado Jean Cleber Garcia, que representa quatro manifestantes detidos, quem estava na frente do QG do Exército é acusado de incitação ao crime e associação criminosa. Já quem foi preso nos edifícios ou na Praça dos Três Poderes é denunciado por abolição violenta do estado democrático de direito, dano qualificado (por se tratar de crime contra patrimônio público) e dano contra bem tombado, além de associação criminosa. “Não está ocorrendo a individualização da conduta”, afirmou Garcia.

O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos coordena a equipe que está apresentando as denúncias contra os manifestantes ao Supremo Tribunal Federal
O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos coordena a equipe que está apresentando as denúncias contra os manifestantes ao Supremo Tribunal Federal Foto: Amanda Perobelli/Estadão

No dia 27 de fevereiro, a PGR divulgou uma nota confirmando o apontamento desses crimes nas denúncias. Porém, o princípio da individualização da conduta está previsto no Código de Processo Penal e na Constituição. “Toda pessoa tem o direito de saber exatamente qual é o fato que está sendo imputado a ela e qual a classificação jurídica disso”, afirmou Maíra Zapater, professora de Direito Penal e Processual Penal da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Não violar direito dos acusados tem de estar acima de uma punição a qualquer preço

Maíra Zapater, professora de Direito da Unifesp

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“Se estamos falando em preservar a democracia e preservar o direito das pessoas, as garantias da Constituição têm de ser preservadas, ainda que isso implique, como consequência, não conseguir punir. Não violar direito dos acusados tem de estar acima de uma punição a qualquer preço”, disse Zapater, que é doutora em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP).

A jurisprudência admite a narrativa genérica da participação de cada agente

Carlos Frederico Santos, subprocurador-geral da República

Para especialistas, a regra da individualização da conduta tem sido flexibilizada no caso dos manifestantes detidos em Brasília, o que acende um alerta para a possibilidade de abusos. O advogado criminalista Pedro Paulo de Medeiros, pós-doutor em Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra, disse que se trata de uma “situação-limite” e explicou o caminho teórico da medida: “Há atos ou fatos cometidos por grupos ou multidões, os chamados ‘crimes de autoria coletiva’, em que não se consegue individualizar pormenorizadamente as condutas dos integrantes”.

Estrutura

Existe uma dificuldade operacional no caso dos atos golpistas. O último balanço do Supremo, divulgado na sexta-feira passada, afirma que 522 pessoas continuam presas – o restante responde às acusações em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica. Todas estão incluídas em inquéritos sigilosos que tramitam no gabinete do ministro Alexandre de Moraes. O processo em que estão sendo feitos os pedidos de liberdade tem 14 mil movimentações.

Restos do acampamento golpista que permaneceu por mais de dois meses em frente ao QG do Exército, em Brasília
Restos do acampamento golpista que permaneceu por mais de dois meses em frente ao QG do Exército, em Brasília Foto: André Borges/Estadão

Quando um processo criminal tramita na Justiça comum, o recebimento da denúncia (momento em que se avalia se o processo penal pode, de fato, ser instaurado) é uma decisão do juiz. Contudo, de acordo com o regimento interno do Supremo, cada uma das ações penais que estão sendo propostas contra os manifestantes precisará passar pelo plenário da Corte, presencial ou virtual.

Na quinta-feira passada, Moraes afirmou, no plenário do STF, que todos os casos serão analisados de forma “detalhada e individualizada”. “Aquele que praticou crime mais leve terá sanção mais leve, aquele que praticou crime mais grave terá sanção mais grave, e aquele que não praticou, eventualmente o nome constou e não houver provas disso, será imediatamente solto e absolvido”, disse.

Novas denúncias

Estadão indagou ao Ministério Público Federal se, pela forma como as denúncias estão sendo ofertadas, pode ocorrer violação de direitos fundamentais. Santos, da PGR, respondeu que, “em todas as etapas do processo apuratório, o Ministério Público Federal respeitou a garantia da ampla defesa e do contraditório”, previstos na Constituição. “Assim, as denúncias não violam direitos e garantias fundamentais”, disse o subprocurador-geral.

Santos afirmou que há a possibilidade de que, diante de novos elementos, o MPF ofereça novas denúncias ou adite (termo jurídico para incluir novos argumentos e pedidos) as que já foram apresentadas.

ChatCPT COMPLEMENTA AS PESQUISAS COM MAIS INFORMAÇÕES

 

Por Lauren Jackson – ChatGPT Jackie Molloy para o The New York Times

Bom dia. A inteligência artificial está mudando a forma como as pessoas trabalham. Isso pode ser assustador. Mas, por enquanto, a maioria dos empregos ainda está segura.

Eli Snyder, um professor de educação especial do Colorado, queria jogar basquete com seus alunos. Ele tinha dúvidas: Como ele poderia adaptar o jogo para uma criança com paralisia cerebral? E como ele poderia ajudar seus alunos com autismo a desempenhar uma atividade altamente estimulante?

ChatGPT tinha respostas.

O chatbot de inteligência artificial analisou a vasta quantidade de dados da internet, incluindo informações sobre deficiências e basquete. Ele usou os padrões encontrados em todo o texto para gerar recomendações: diminuir o tamanho da quadra para reduzir a distância que os jogadores precisam percorrer em cadeiras de rodas. Abaixe o aro e instale uma rampa até ele para que os alunos possam rolar a bola de basquete para a rede. Forme pares de jogadores para que cada pessoa tenha um amigo de apoio.

Snyder poderia ter encontrado essas informações por meio de uma simples pesquisa no Google. Ele recorreu ao ChatGPT porque produzia parágrafos completos em vez de fornecer links que o deixariam com mais cliques e sintetizações para fazer. A resposta do chatbot o ajudou a escrever rapidamente planos de aula adaptados para cada um de seus alunos.

“Tem sido revolucionário”, disse Snyder, 30. “O que antes levava uma hora, agora leva cinco minutos.”

Os gigantes da tecnologia também estão anunciando o ChatGPT como revolucionário. Com milhões de usuários, o chatbot iniciou uma corrida armamentista de IA . As empresas estão correndo para lançar seus próprios chatbots, e alguns parecem estranhamente humanos .

Além da empolgação, as possibilidades da tecnologia podem parecer assustadoras – como se a ficção científica tivesse se tornado realidade . O ChatGPT já inspirou muitas pessoas a perguntar: a IA vai tirar meu emprego? É um pânico familiar, que ressurge toda vez que surge uma inovação revolucionária, como o carro ou a internet. Ainda assim, questionar como a IA poderia substituir empregos no futuro deixa de lado um ponto mais urgente: a plataforma está mudando a forma como as pessoas trabalham agora.

Como os trabalhadores usam a IA

A inteligência artificial já permeia nossas vidas, capacitando assistentes de voz como Siri e Alexa, desbloqueando telefones com reconhecimento facial e frases de preenchimento automático em e-mails. O ChatGPT deu a milhões de pessoas a oportunidade de testar e interagir com uma versão da tecnologia chamada IA ​​generativa, que pode escrever texto e criar imagens.

Muitos trabalhadores já estão usando a ferramenta em seus trabalhos. O chatbot escreveu descrições de casas para agentes imobiliários, descrições de cargos para gerentes de contratação e argumentos de vendas para profissionais de marketing.

Ele se destaca em tarefas de redação estereotipada porque imita o texto que já existe online. As listas de casas muitas vezes parecem enlatadas, assim como os argumentos de vendas, tornando mais fácil para o ChatGPT concluir os primeiros rascunhos desses tipos de tarefas.

“O ChatGPT resolve o problema da página em branco”, disse-me Cody Gough, um profissional de marketing de Chicago. “A pior coisa do mundo é abrir um documento vazio. O ChatGPT ajuda você a começar.”

As limitações

Como abordamos neste boletim informativo, os chatbots de IA são falhos . Eles costumam cometer erros – como aquele que levou a uma queda de US$ 100 bilhões no valor cumulativo do Google no mercado de ações quando apareceu em um anúncio.

Os funcionários com quem conversei usam principalmente o ChatGPT como uma ferramenta de brainstorming e um auxílio para a redação. Eles dizem que o trabalho dos chatbots às vezes é impreciso e muitas vezes de qualidade inferior do que eles próprios poderiam produzir, mas que os chatbots ainda podem ser úteis.

Alexia Mandeville, designer de videogames do Texas, usa o ChatGPT para ajudá-la a debater nomes de personagens, conceber ideias para trailers e produzir comunicados de imprensa para seus jogos. “Estou fazendo algo que não precisa ser factual”, disse Mandeville. Como seu trabalho é fictício, ela acrescentou, o ChatGPT precisa ser criativo, não preciso.

O chatbot ainda é a ferramenta, não o criador. Ele pode copiar estilos de escrita, muitas vezes replicando nosso estranho comportamento na internet , como escreveu meu colega Cade Metz. As saídas do ChatGPT são tão boas quanto suas entradas, então ele se esforça para raciocinar, usar a lógica, discernir a verdade e escrever um trabalho imaginativo. Ele tentou e não conseguiu escrever ficção científica, por exemplo. A capacidade humana de pensamento original mantém os profissionais de colarinho branco empregados, mesmo que a IA represente uma ameaça maior para eles do que os avanços anteriores.

Liberando mais tempo

A IA não pode fazer o trabalho de Snyder de ensinar música e aulas de ginástica. Não pode tocar piano ou o jogo de basquete HORSE, e não pode facilitar a aprendizagem social e emocional dos alunos. Mas dá a Snyder mais tempo para esse trabalho.

“Todo mundo está falando sobre como a IA vai nos substituir”, disse Snyder. “Eu não concordo com isso. Isso vai liberar mais tempo em nossos trabalhos para fazer outras coisas mais produtivas.”

A IA continuará a transformar as indústrias à medida que as empresas a integrarem em uma variedade de tarefas, como atendimento ao cliente de agentes virtuais , inventário preditivo de produtos e exames médicos. O ChatGPT provavelmente eliminará algumas funções ao criar novos empregos. Isso já começou a acontecer: as empresas estão contratando funcionários para testar e vender as consultas de chatbot mais eficazes .

A tecnologia só vai melhorar. A IA foi projetada para aprender e as empresas estão investindo bilhões para desenvolver versões mais poderosas da ferramenta. Em algum momento, os chatbots poderiam escrever produtos acabados em vez de apenas primeiros rascunhos frequentemente imprecisos – e eliminar muito mais empregos.

Até então, a maioria deles está segura.

Para mais

Ezra Klein argumenta que estamos muito preocupados com o que a IA pode fazer e não estamos preocupados o suficiente com quem controla a tecnologia.

As conversas do chatbot podem ser assustadoras, mas isso não significa que os bots estejam vivos. Veja como a IA generativa funciona .

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 190.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 4.000.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

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domingo, 12 de março de 2023

JUROS NÃO PODEM SER BAIXADOS NA MARRA COMO QUER O LULA

 

Taxa Selic
E não é como Lula quer

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, o maior nível em seis anos. Mas caminho para baixá-la não é “na marra”, como quer Lula.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou o mandato apostando na força de seu discurso para tentar reduzir “na marra” a taxa básica de juros (Selic), apontada por economistas como principal responsável pela freada da economia brasileira a partir dos últimos meses de 2022.

De um lado, o petista defende a revisão das metas de inflação, que em sua visão são muito baixas e levam o Banco Central a exagerar na dose dos juros para tentar batê-las. De outro, tem feito ataques diretos ao presidente do BC. Nomeado pelo antecessor Jair Bolsonaro (PL) e com mandato até o fim de 2024, Roberto Campos Neto desfruta de autonomia formal garantida por lei e é considerado por Lula como culpado pelo atual patamar dos juros – o maior em mais de seis anos.

Por ora, a estratégia de Lula não funcionou, e nada indica que possa alcançar algum êxito. Economistas ortodoxos entendem que o caminho para reduzir os juros é outro.

O economista Sílvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, diz que o Brasil já encontrou esse caminho no passado recente, mas parece tê-lo esquecido. Em artigo para o site do Instituto Millenium, ele defende que a alternativa é seguir adiante com a agenda de reformas implementada a partir de 2016.

O economista aponta que, daquele momento em diante, políticas fiscais e parafiscais de curto prazo foram reorientadas para reverter a tendência de expansão de gastos, “seja com o enxugamento de programas de investimento do governo e das estatais ou com a redução drástica das concessões de crédito subsidiado através de bancos públicos, em especial o BNDES”.

Mas o grande legado desse período, segundo ele, foram as reformas institucionais. “[Elas] efetivamente alteraram a percepção de risco fiscal do país e permitiram a ocorrência de uma queda sem precedentes do custo do capital – notem a menção mais abrangente, pois não basta apenas reduzir a Selic, mas sim toda a estrutura a termo [de longo prazo] da taxa de juros, o que só ocorre com a melhora dos fundamentos”, escreveu o economista.

Segundo ele, o estabelecimento do teto de gastos públicos, a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP, em substituição à subsidiada TJLP) e a reforma da Previdência tiveram papel relevante para que a taxa Selic caísse de 14,25% ao ano, em outubro de 2016, para 6,5%, em março de 2018.

Segundo Cláudia Moreno, head de Economia Brasil do C6 Bank, uma conjunção de medidas permitiu a redução sem que houvesse uma elevação da demanda. “A política fiscal era contracionista, o que ajudava o trabalho do BC por dois canais: primeiro, pela contenção da demanda; segundo, pela redução dos riscos fiscais, que ajudaram a valorizar o real”, diz a economista.

VEJA TAMBÉM:
Risco fiscal e incertezas fazem Brasil pagar mais juro que países com inflação maior
Juro alto, crédito restrito e ruídos do governo indicam PIB mais fraco em 2023
Crise das Americanas complica ainda mais o cenário do crédito

Dificuldade para reduzir os juros
A taxa básica de juro (Selic) está em 13,75% ao ano, o nível mais elevado desde dezembro de 2016. E não há sinais de que vá cair, pelo menos nos próximos meses. “Entendemos que a autoridade monetária brasileira será mais cautelosa a iniciar o ciclo de redução da Selic”, destaca Moreno.

Embora tenha perdido força, a inflação ainda está bem acima da meta. A variação acumulada em 12 meses foi de 5,77% até janeiro, ante um objetivo de 3,25%, com 1,5 ponto de tolerância, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

“O que mais preocupa é a inflação de serviços, que segue dificultando a queda do IPCA. Os preços no segmento estão cedendo lentamente em razão da dinâmica da inércia inflacionária e do atual aquecimento do mercado de trabalho. Essa persistência da inflação dificulta a queda nos juros”, afirma a economista do C6 Bank.

Bruno Mori, economista e sócio da consultoria Sarfin, aponta que há outros complicadores, como a revisão dos preços da gasolina, com o fim da desoneração do PIS/Cofins, e a chance de alta no preço de commodities. “Se o dólar ficar entre R$ 5 e R$ 5,20, não teremos problemas”, pondera.

Mori diz que um fator que explica o atual patamar da Selic é o fato de que ela esteve muito baixa anteriormente – entre agosto de 2020 e março de 2021, ficou em 2% ao ano. Outro dificultador, segundo o economista, é que historicamente a meta de inflação foi mais elevada do que atual. “Há tempos que as projeções não convergem para a meta. Uma meta mais adequada faria com que o aumento na taxa de juros não fosse tão grande”, avalia.

Ao mesmo tempo, o cenário político e econômico limita as oportunidades para um corte no juro. No início de novembro, a expectativa das instituições financeiras era de encerrar 2023 com uma Selic a 11,25%, 2,5 pontos porcentuais abaixo do nível atual. Agora a projeção mediana é de 12,75%, o que representaria um corte de apenas 1 ponto.

As expectativas de inflação para os anos seguintes também estão se afastando do centro da meta. Bancos, corretoras e consultorias consultadas para o boletim Focus projetam uma inflação de 4,02% para o ano que vem, diante de uma meta de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

Arcabouço fiscal é o ponto de partida
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo sinalizam que a continuidade do ímpeto reformista poderia abrir espaço para cortes nos juros. “O arcabouço fiscal é a deixa para o Banco Central estabelecer as diretrizes para um corte nos juros”, diz Ariane Benedito, economista e especialista em mercado de capitais.

Sérgio Goldenstein, economista da Warren, lembra que o Copom deu um recado duro na última reunião, realizada no início de fevereiro. “A postergação do ciclo de redução de juros deve-se à piora nas expectativas de inflação”, diz. E essa piora tem ligação com a incerteza sobre a questão fiscal.

A promessa de Haddad é de que o novo arcabouço seja apresentado ainda em março. Na segunda-feira (6), o ministro disse que o desenho da nova regra já foi concluído na Fazenda e agora será tratado com a área econômica do governo, para depois ser apresentado a Lula e enviado ao Congresso Nacional.

Para Moreno, do C6 Bank, é importante endereçar o quanto antes a questão da sustentabilidade do endividamento público. “A escolha de um mecanismo que traga equilíbrio às contas públicas é fundamental para manter os investidores interessados em títulos do governo brasileiro – e isso, no contexto atual de dívida alta e incerteza fiscal, tem papel decisivo sobre a taxa de câmbio e, portanto, a inflação. Em particular medidas que controlem gastos e aumentem a eficiência do Estado são bem-vindas”, diz a especialista.

Mas, por si só, o arcabouço fiscal não vai ser suficiente para resolver o problema das contas públicas, diz o co-head de investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira: “Ele tem de vir aliado a uma vontade do governo de gastar menos com a máquina pública e caminhar nessa direção”.

Juros devem demorar a voltar a um dígito
Mesmo se o novo arcabouço fiscal sair logo do papel, a volta da taxa Selic a um dígito deverá demorar. As projeções do boletim Focus sinalizam isso para 2025, apenas. “A inflação deve cair a passos lentos”, diz a economista do C6 Bank. A sinalização do relatório Focus é de que o juro volte a patamares inferiores a 10% apenas em 2025.

Segundo Goldenstein, da Warren, as novas regras fiscais precisam ser críveis. O mercado mostra sinais de ceticismo em relação às contas públicas apesar de, em janeiro, ter havido um superávit primário de R$ 99 bilhões e o endividamento público ter recuado a 73,1% do PIB, o menor nível desde julho de 2017.

De acordo com o Itaú, a grande surpresa positiva em janeiro, relativamente às contas públicas, pode estar relacionada à menor execução de despesas em início do governo.

“A implementação da PEC da Transição [a PEC fura-teto] implica em um aumento significativo no gasto público em 2023, sugerindo um risco de volta a uma trajetória de elevação da dívida pública, após um superávit e queda da dívida temporários em 2022, fruto do alto montante de receitas extraordinárias, crescimento e inflação elevados, além de commodities em preços elevados”, aponta a equipe de análise econômica do banco.

O Itaú aponta que tal cenário, na ausência de ações corretivas – como o sucesso da implementação das medidas de ajuste anunciadas por Haddad para 2023 e a apresentação de um arcabouço fiscal crível e sustentável –, pode levar a um novo ciclo de crescimento baixo com inflação e juros altos.

Outro limitante para o corte nos juros, segundo Vieira, da Arton, é o cenário externo: “Se os Estados Unidos mantiverem os juros elevados ou acenarem para um cenário de juros ainda maiores, aqui fica muito difícil de cortar efetivamente os juros. Não temos expectativa, hoje, de vermos os juros [no Brasil] de volta ao patamar de um dígito no curto e médio prazo.”

Ruídos políticos também dificultam redução dos juros
O arcabouço fiscal não pode ser considerado como uma “bala de prata” na guerra contra os juros altos. Parte da deterioração nas expectativas de inflação pode ser atribuída às declarações do presidente Lula contra o Banco Central.

“Os ruídos causados pelo presidente, como a discussão das metas de inflação, funcionam como um tiro no pé. Reduzem o espaço para a queda dos juros”, diz Goldenstein.

Mas não é só essa questão que preocupa o mercado. “Não existe problema em ter opiniões divergentes, desde que se respeitem as regras do jogo”, afirma Mori. Outro problema é a possibilidade de reversão de políticas econômicas já adotadas.

“É preciso estabilidade na condução da política econômica e segurança jurídica para poder viabilizar investimentos. Só assim se consegue dar previsibilidade para os investidores”, ressalta o sócio da Sarfin.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-brasil-ja-sabe-o-que-fazer-para-baixar-os-juros-e-nao-e-como-lula-quer/
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PAÍSES MAIS PRÓSPEROS SÃO AQUELES ONDE EXISTE LIBERDADE ECONÔMICA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Luiz Marinho, ministro do Trabalho, é um dos principais defensores da revisão de trechos da reforma trabalhista de 2017.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A experiência internacional comprova, com farta evidência, que os países mais prósperos são aqueles onde existe liberdade econômica: onde indivíduos são capazes de empreender sem amarras desnecessárias, colocando seus recursos e seu talento à disposição da comunidade pela oferta de produtos e serviços, gerando emprego e renda. O Brasil viveu um período de seis anos e meio sob governos que fizeram esforços para incrementar a liberdade econômica, mas o país parece não conseguir sair do lugar, a julgar pelos resultados do Índice de Liberdade Econômica divulgados anualmente pela Heritage Foundation. Na edição de 2023, divulgada dias atrás, o país subiu seis posições, mas sua nota manteve-se estável e continuamos muito mais perto das economias “reprimidas” que das economias livres – um panorama que o novo governo não deve fazer o menor esforço para mudar.

Em comparação com o índice de 2022, o Brasil pulou da 133.ª para a 127.ª posição, o que ainda é um resultado extremamente preocupante, considerando que o ranking avalia 176 nações. Em uma escala que vai de zero a 100, o país teve nota 53,5, apenas 0,2 ponto maior que a do ano passado. Isso quer dizer que o salto brasileiro na classificação se deve menos aos próprios méritos que ao fato de outros países terem regredido, sendo ultrapassados pelo Brasil. Seguimos muito longe do líder mundial (Cingapura, com nota 83,9) e do líder latino-americano, o Chile, que tem nota 71,1 e, apesar de ter recuado 3,3 pontos, ainda está no grupo das nações “majoritariamente livres”. Estamos abaixo da média mundial (59,3) e das Américas (58,6); na América Latina, apenas Argentina, Suriname, Bolívia, Venezuela e Cuba têm notas piores que a nossa.

O petismo abomina a liberdade econômica, pois ambiciona o controle total da economia por meio da atuação direta ou, quando ela não é possível, da hiper-regulação sobre o setor privado

Por mais que tenhamos melhorado em 6 dos 12 itens avaliados, é preciso recordar que em um deles, a saúde fiscal, estamos na rabeira global, com o 12.º pior desempenho e nota 2,7, sinal de que o Estado brasileiro ainda é extremamente ineficiente e gastador, incapaz de fazer reformas que racionalizem a despesa estatal e liberem mais recursos para investimentos. E, como o ranking foi elaborado com base em dados do segundo semestre de 2021 e do primeiro semestre de 2022, o número ainda não considera a destruição do arcabouço fiscal brasileiro, o teto de gastos, que, graças à aprovação da PEC fura-teto, será substituído por uma nova regra ainda desconhecida.

No texto que acompanha os números brasileiros, a Heritage Foundation destaca que “ainda há considerável presença do Estado em muitas áreas da economia, minando o desenvolvimento de um setor privado mais vibrante”, e que isso não deve mudar com a volta de Lula ao poder, especialmente com o fim dos planos de privatização deixados pelo governo Bolsonaro. Se ainda acrescentarmos à lista o desejo de reverter ao menos partes da reforma trabalhista de 2017 e a tolerância com uma inflação mais alta, podemos esperar uma nota mais baixa para o Brasil em 2024 e uma queda no ranking, a não ser que outros países consigam piorar ainda mais que nós.

VEJA TAMBÉM:
O asco de Lula com o setor produtivo (editorial de 21 de janeiro de 2023)
A liberdade econômica patina no Brasil (editorial de 16 de fevereiro de 2022)
O petismo e o controle estatal da economia (editorial de 6 de fevereiro de 2023)


O petismo abomina a liberdade econômica, pois ambiciona o controle total da economia por meio da atuação direta ou, quando ela não é possível, da hiper-regulação sobre o setor privado. Trata-se de uma esquerda que permanece presa nos preconceitos marxistas do século 19, que pintam o empreendedor como um explorador inescrupuloso que precisa de todo tipo de amarra legal porque, do contrário, inevitavelmente tratará seus funcionários como animais. “Empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou. Ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam”, disse Lula em entrevista poucos dias depois de voltar a subir a rampa do Planalto, em uma demonstração cabal deste preconceito contra aqueles que, tendo recursos e podendo simplesmente viver do mercado financeiro, preferem investi-los em formas de oferecer algo à sociedade e gerar emprego, enfrentando o manicômio tributário nacional, a ainda engessada legislação trabalhista, a insegurança jurídica e um Estado altamente regulador. Com uma mentalidade tão arcaica dominando as mais altas esferas do poder, não há como esperar que a liberdade econômica avance no país nestes próximos quatro anos.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/liberdade-economica-sonho-que-ficou-ainda-mais-distante/
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O QUE DIZ A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SOBRE OS DITADORES

 

Tecnologia
Parece o PT ou o PCdoB

Por
Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


Página de login da plataforma de inteligência artificial ChatGPT, em apresentação em Pequim na última quinta-feira (9)| Foto: EFE/EPA/WU HAO

Resolvi fazer ao ChatGPT, a plataforma de inteligência artificial que está na crista da onda, a mesmíssima pergunta sobre alguns líderes mundiais: “Fulano de tal é um ditador?”. A estratégia foi simples. Busquei nomes bem fáceis para dar uma ajuda para o ChatGPT, que ao que consta ainda está em fase de aprendizagem. Comecei perguntando por Omar al-Bashir, que foi o manda-chuva do Sudão entre 1989 e 2009. “Omar al-Bashir é um ditador?”

“Sim”, disse o ChatGPT. Além da resposta categórica, a plataforma ofereceu bastante contexto sobre a destruição institucional, autoritarismo, violação aos direitos humanos e tudo mais que um ditador pode fazer para destruir as liberdades para se manter no poder.

Mais um teste fácil. Agora era com Paul Biya, que está no poder em Camarões desde 1975, quando assumiu o posto de primeiro-ministro; depois, em 1982, pulou para a cadeira de presidente e nunca mais a deixou. “Paul Biya é um ditador?”

“Paul Biya é amplamente considerado um ditador devido a seu estilo autoritário de governança e seu domínio do poder a longo prazo.” Como assim, “amplamente considerado”? O perfil elaborado pelo ChatGPT vem recheado de definições como “o governo de Biya tem sido caracterizado pela falta de liberdade política e repressão das vozes da oposição” ou “o governo também tem sido acusado de abusos de direitos humanos, incluindo o uso de força excessiva contra manifestantes, restrições à liberdade de expressão e reunião, e a tortura e maus-tratos de presos políticos”, mas mesmo assim os algoritmos não cravaram “sim”.

Resolvi então fazer um teste bem óbvio. “Teodoro Obiang é um ditador?” Antes de ir à resposta, é importante lembrar quem ele é. Obiang está no poder na Guiné Equatorial desde 1979, quando instaurou uma ditadura marcada por corrupção, perseguições políticas e violação aos direitos humanos. A resposta do ChatGPT foi idêntica à pergunta sobre Biya. “[Teodoro Obiang] é amplamente considerado um ditador devido a seu estilo autoritário de governo e seu domínio do poder a longo prazo.”

Dá para fazer uma pergunta ainda mais fácil de ser respondida pelo ChatGPT? Dá. “Kim Jong-un é um ditador?”

Para a inteligência artificial, o malucão atômico que lidera o país-prisão chamado Coreia do Norte “tem sido acusado de inúmeros abusos de direitos humanos, incluindo repressão política, tortura, trabalho forçado e assassinatos extrajudiciais”. Entretanto, o perfil alerta para algo muito importante:

“Dadas a falta de liberdades políticas e a natureza altamente centralizada do governo norte-coreano, muitos especialistas consideram Kim Jong-un como um ditador. Entretanto, é importante notar que a situação na Coreia do Norte é complexa, e as opiniões sobre seu estilo de liderança variam”.

Parece que o ChatGPT se alimenta das notas do PT e do PCdoB.

E o Daniel Ortega, o companheirão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ex-presidente Dilma Rousseff e do deputado federal Guilherme Boulos? Ortega venceu um simulacro de eleição depois que ele mandou prender todos os candidatos concorrentes. Não satisfeito, ordenou o espancamento e a prisão de centenas que foram às ruas protestar. Ele também mandou fechar igrejas e prender padres e bispos que fizeram críticas ao seu “estilo de governo”. Recentemente, retirou a cidadania de opositores e os enviou para o exílio.

Então, ChatGPT, Daniel Ortega é um ditador?

“Daniel Ortega é o atual presidente da Nicarágua, e está no poder desde 2007. Embora tenha sido inicialmente eleito em uma eleição democrática, seu governo foi acusado de tendências autoritárias, e ele tem enfrentado críticas por ter reprimido os partidos de oposição, a sociedade civil e a mídia independente.”

Mais adiante, o ChatGPTfaz um alerta: “Embora alguns tenham rotulado Ortega como um ditador, a situação na Nicarágua é complexa, e as opiniões sobre seu estilo de liderança variam”.

Realmente, o ChatGPT deve se alimentar das notas do PT e do PCdoB.

As respostas revelam mais que uma debilidade do mecanismo que, por meios de programações e algoritmos, vai buscar as informações em fontes disponíveis na internet. Um sinal de que ou os programadores indicam caminhos bem amigáveis para a imagem de ditadores, ou há uma profusão de informações que tingem de rosa e cobrem de purpurina a biografia de autocratas.

O chinês Xi Jinping acabou de ganhar mais um mandato de cinco anos. Vamos ver o que o ChatGPT acha dele. A pergunta foi a mesma. A resposta foi um primor.

“Algumas pessoas caracterizam seu estilo de liderança como autoritário, pois ele supervisionou uma repressão à dissidência e implementou políticas que limitam a liberdade de expressão na China. Entretanto, a classificação ou não de Xi Jinping como ditador é uma questão de debate e interpretação.”

Para arrematar, o ChatGPT termina o perfil com o seguinte destaque:

“Em última análise, como caracterizar o estilo de liderança de Xi Jinping é uma questão de interpretação e opinião política”.

Parece que, além de se alimentar das notas do PT e do PCdoB, a plataforma também tem aprendido sobre a fluidez do conceito de democracia com os porta-vozes do regime chinês.

O teste incluiu o venezuelano Nicolás Maduro, os líderes cubanos (Fidel Castro, Raúl Castro e Miguel Diaz-Canel), o russo Vladimir Putin e o bielorrusso Alexander Lukashenko. Todos foram tratados com a complacência da zona cinzenta do é, pode ser, mas depende de quem vê. Fala de “estilo de governo” e de “contexto político e social complexo” para julgar melhor cada caso.

O ChatGPT parece no fundo um estudante que está aprendendo com aqueles professores de história, youtubers ou economistas de sindicato que fazem sucesso nas redes sociais. A questão é que o “estudante” em questão logo vai ser professor. E será isso aí que ele vai ensinar para pessoas reais.


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CRESCE A PERSEGUIÇÃO AOS HUMORISTAS NO GOVERNO LULA

 

Liberdade de expressão
“Satirizar Jesus pode; gordos, não”
Por
Gabriel Sestrem – Gazeta do Povo


Medidas criadas pelo governo ou com seu aval têm tentado silenciar humoristas que fazem piadas com grupos considerados minoritários| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

Movimentações recentes em Brasília, em especial após o início do novo governo Lula, têm acendido “luz amarela” quanto à liberdade de expressão. Entre humoristas, cresce a preocupação com possíveis censuras de ordem identitária vindas de atores dos Três Poderes da República.

Logo no início do novo mandato, em 11 de janeiro, Lula sancionou uma lei que equipara a injúria racial ao crime de racismo. A norma, que vem sendo chamada de “lei antipiadas”, acrescenta dispositivos à chamada Lei do Racismo que representam riscos à liberdade de expressão de comediantes. O principal deles é enquadrar como crime de racismo a contação de piadas sobre grupos que possam ser considerados minoritários.

Sem descrever de forma mais precisa a quais grupos as piadas estão proibidas, o texto sancionado determina que os crimes previstos na Lei do Racismo passam a ter as penas aumentadas de um terço até a metade “quando ocorrerem em contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação”.

Para fechar ainda mais o cerco contra comediantes e aumentar as possibilidades de enquadramento como racismo de declarações meramente jocosas, que fazem parte da atividade humorística em palcos de stand-up, a lei também determina que se a prática do suposto racismo ocorrer no contexto de atividades artísticas ou culturais destinadas ao público, o autor também será proibido de frequentar esses locais por três anos.

Como reflexo da radicalização ideológica que tem marcado o início do governo Lula, alguns ministérios também têm lançado mão de iniciativas que podem afetar a liberdade de expressão em geral e também alcançar humoristas. Uma delas é a criação da Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD), órgão da Advocacia-Geral da União (AGU) que vem sendo chamado de “Ministério da Verdade”. Criado pelo governo petista com o alegado objetivo de combater “desinformação sobre políticas públicas”, o novo órgão desperta o temor de prática de censura contra opositores – parlamentares da oposição buscam barrar a procuradoria pela via legislativa.

Em outra medida, o Ministério dos Direitos Humanos anunciou, em fevereiro, a criação de um grupo de trabalho que propõe combater “o discurso de ódio e o extremismo”. A equipe, no entanto, é formada por militantes de esquerda, muitos deles dedicados ao identitarismo, que costuma criminalizar quaisquer referências jocosas a grupos considerados minoritários. O grupo será comandado pela ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) e terá a participação do youtuber Felipe Neto.

Primeira denúncia contra humorista após sanção da “lei antipiadas”
É comum que comediantes de stand-up façam piadas sobre praticamente todos os grupos sociais e políticos, principalmente aqueles em maior evidência. No entanto, iniciativas – desde cancelamento na internet até processos criminais – contra humoristas que se arriscam a incluir em suas piadas grupos minoritários costumavam se restringir a artistas maiores, conhecidos pelo grande público.

No mês passado, entretanto, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) acionou o Ministério Público de São Paulo contra o humorista Bruno Lambert por suposta discriminação contra deficientes físicos e violação do Estatuto da Pessoa com Deficiência. A representação criminal está relacionada a um vídeo de uma apresentação do humorista, que não é famoso, publicado em suas redes sociais em que ele narrava um caso em que teria se relacionado sexualmente com uma mulher cadeirante.

Na denúncia, a deputada disse que Lambert cometeu capacitismo, que é a discriminação contra pessoas com deficiência, e que as falas do humorista denotaram “machismo latente” pela maneira “explícita” e “jocosa” como descreveu a narrativa da relação sexual.

O anúncio da denúncia nas redes sociais da parlamentar repercutiu mal até mesmo entre seus seguidores – a grande maioria dos comentários é crítica à ação da deputada. “Não ouvi a piada, mas já entendi que é babaca. Agora, usar o poder público para limitar ARTE, por pior que seja? Não! Que a sociedade desidrate esse tipo de arte. Não o estado”, diz um dos comentários.

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Repercussão da denúncia fez humorista ser demitido do emprego

Apesar de até o momento não ter sido acatada pelo Ministério Público, a representação criminal de Tabata Amaral ao Ministério Público foi um golpe duro ao comediante devido à repercussão do caso em veículos de grande expressão. Lambert, que não vive exclusivamente da comédia, passou a ter problemas em seu trabalho atual até que na quarta-feira (8) foi demitido.

“Outros humoristas já foram alvo de denúncias criminais, mas só estavam sendo atacados os comediantes grandes. Estamos vendo que essa ‘lei antipiadas’ já está impactando, porque a primeira oportunidade que uma deputada teve de atacar um comediante pequeno, de pouca expressão no mercado, ela atacou”, diz Lambert.

Em uma das entrevistas sobre o caso, Tabata chegou a dizer que o humorista tratou cadeirantes “como um animal”. “Eu realmente acho que um crime foi cometido. E sinceramente, pode fazer a piada que for, inclusive comigo. Mas eu não vou passar pano para crime. O humor não pode ser desculpa para cometer crime”, disse a parlamentar no programa Morning Show, da Jovem Pan.

Para Lambert, há uma confusão ao diferenciar o personagem que está no palco – fazendo piadas com os mais diversos segmentos e grupos sociais, o que inclui pessoas com deficiência – da pessoa por trás desse personagem. “Me parece que há uma dificuldade de algumas pessoas entenderem o que é uma piada e o que é realidade. Essa lei está abrindo um precedente perigoso para que qualquer um que se sinta ofendido com algo que é contado num palco a pessoas que querem consumir humor ganhe um poder absurdo no sentido de anular quem está em cima do palco”, declara.


Perigosas consequências do identitarismo
Para o comediante Léo Lins, famoso pelo emprego do chamado humor negro (ou humor ácido) em suas apresentações, o pano de fundo da perseguição identitária a humoristas é uma disputa por poder, na qual políticos e ativistas de causas ditas “progressistas” buscam silenciar falas que possam resvalar nos grupos que os apoiam e monopolizar o discurso.

“Como sempre falo, o humor não tem limites, o ambiente sim. Então partimos do pressuposto de que o humorista num palco está fazendo sua arte. Quando se começa a colocar diversas limitações que seguem a uma determinada agenda, você vê que tudo na verdade é uma disputa por poder”, diz o humorista. Para ele, o chamado “politicamente correto” aponta para uma hegemonia de esquerda no meio artístico que impõe quais são as regras toleradas.

“Os temas que são considerados politicamente incorretos são aqueles que não estão na agenda deles. Se eu quiser fazer uma piada satirizando Jesus Cristo não vai ter problema nenhum, e ainda vou ganhar especial nos streamings famosos. Agora, se fizer uma piada que envolva a ‘gordofobia’, aí eu vou ser criticado e massacrado pela mídia de esquerda”.

E, de fato, a perseguição midiática identitária inevitavelmente impacta decisões do Judiciário. Tomando o exemplo dado por Léo Lins, matéria recente da Gazeta do Povo mostrou que desde que movimentos identitários passaram a incluir obesos no rol de pessoas que sofreriam discriminação, processos pela chamada “gordofobia” cresceram no país.

Nos últimos quatro anos, ações na Justiça alegando gordofobia cresceram 314% – a indenização média pedida é de R$ 240 mil por pessoa. Os dados analisados pela reportagem apontaram que o Judiciário tem sinalizado uma postura de acatamento a denúncias desse tipo: de todos os 721 casos no período, em apenas 14,7% a Justiça apontou a denúncia como improcedente.

Bruno Lambert, por outro lado, destaca um fator seletivo dessas denúncias. Segundo ele, quando são figuras públicas alinhadas à esquerda a entrarem em assuntos “proibidos” pelo “politicamente incorreto” não há uma crítica severa, e existe uma certa tolerância. “O grande problema disso tudo é que se é o Fábio Porchat [humorista com visão política abertamente à esquerda] falando está tudo bem. Mas se for o Danilo Gentili [alinhado à direita], não. Ou seja, além de tudo tem uma seleção das pessoas que determina quem pode e quem não pode falar”.

Conforme ele relata, após a polêmica envolvendo a denúncia de Tabata Amaral, a reação de colegas da comédia que o procuraram divergiu – enquanto parte dos humoristas enfatizou que não enxergaram crime em suas falas, outros se manifestaram receosos quanto à liberdade de expressão nos palcos. “Caras próximos a mim me mandaram mensagens com comentários do tipo ‘temos que rever nosso jeito de fazer comédia’. Então tem casos de comediantes que têm uma visão de que ‘se a Justiça está mudando para pior, temos que calar a boca’”, afirma.

Léo Lins destaca, por fim, as duras consequências do cancelamento capitaneado por ativistas contra seus alvos. “A piada é feita num ambiente próprio para isso. Se alguém não gosta, tudo bem. Não vá no show. Mas aí a pessoa quer que a rede social acabe com o perfil do humorista, quer que os locais de trabalho não recebam ele, quer causar um dano colateral no emprego que, no caso do Bruno Lambert era a principal fonte de renda, para que ele seja demitido. A pessoa vai fazer o que da vida a hora que os canceladores acabarem com tudo?”

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Cerceamento à liberdade de expressão está crescendo no Brasil, diz presidente do ILJ

Como explica o advogado Giuliano Miotto, presidente do Instituto Liberdade e Justiça (ILJ), a legislação brasileira já tem normas que criminalizam a injúria, a calúnia e a difamação. A pessoa que se sente ofendida deve entrar com uma ação penal privada e, para esses crimes, as penas e prazos de prescrição são bem menores do que aqueles estabelecidos nas mudanças vindas da “lei antipiadas”.

Com as alterações na lei sancionada por Lula, a pena para injúrias raciais, no qual entrarão as piadas contra grupos minoritários, aumenta: a punição máxima, que era de três anos de prisão, passa a ser de cinco anos, maior do que penas para os crimes de furto e sequestro.

“A contação de piadas é algo que, de certa forma, sempre esteve associada a algo cultural, como uma peça de teatro e coisas do tipo. Não é bom que se coloque sobre a atividade dos humoristas a possibilidade de ser preso por causa de uma brincadeira. Com certeza teremos uma crescente do cerceamento à liberdade de expressão dos humoristas e das pessoas em geral”, diz Miotto.

“O cenário brasileiro no que tange as liberdades individuais, especialmente a de expressão, tende a se deteriorar cada vez mais. O identitarismo e o coletivismo forçado estão criando um monstro que, em algum momento, vão engolir os próprios criadores como já têm feito em alguns casos”, destaca.


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BANCO DAS STARTUPS NOS EUA QUEBRA

 

Maior Falência Desde 2008
Silicon Valley Bank: banco financiador de startups quebra nos EUA
PorGazeta do Povo


Principal banco para startups de tecnologia dos EUA está sob controle de reguladores federais| Foto: Agência EFE

O principal banco financiador de startups, o Silicon Valley Back (SVB), nos Estados Unido foi fechado, nesta sexta-feira (10), por Órgãos Reguladores americanos. Trata-se da maior quebra de um banco dos EUA desde o Washington Mutual em 2008.

O fechamento foi determinado por falta de liquidez e insolvência, e como uma forma de garantir proteção de todos os depósitos segurados. O Departamento de Proteção Financeira da Califórnia, onde a entidade está sediada explicou em comunicado, que tomou posse do SVB, e transferiu a gestão de seus ativos para o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC).

Em nota, a FDIC anunciou que tomou medidas para proteger os depósitos e que todos os clientes com fundos segurados terão acesso total a eles até a próxima segunda-feira.

O SVB teve dificuldade em obter dinheiro para cobrir a perda com a venda de ativos afetados pela alta na taxa de juros. Na última quarta-feira, o banco anunciou que iria buscar um aumento de capital para lidar com as dificuldades financeiras, que o levaram a se desfazer de investimentos da ordem de US$21 bilhões, com prejuízo de cerca de 1.8000 milhão. E a crise financeira levou a uma onda de saques por clientes, e derrubou o preço das acoes da empresa, o que afetou o setor bancário, em geral.

As acoes do SVB despencaram 60% na quinta-feira e caíram mais 68% na sexta-feira, antes de serem suspensa. O banco tinha ativos de US$209 bilhões e depósitos no valor de aproximadamente US$175,4 bilhões em 31 de dezembro de 2022. Essa é uma das maiores falência bancária desde a crise de 2008 e a uma das maiores da historia dos Estados Unidos.

Estabilidade financeira do Silicon Valley Bank preocupa investidores

Com clientes retirando dinheiro do banco, SVB corre sério risco de quebrar

ERIN GRIFFITH E ROB COPELAND, NEW YORK TIMES – Jornal Estadão

Estabilidade financeira do Silicon Valley Bank preocupa investidores
Empresa impactou mercados pelo mundo ao anunciar prejuízo de US$ 2 bilhões e recorrer à venda de US$ 2,25 bilhões em novas ações. Foto: Reuters
  • Investidores estão sendo orientados a retirar seu dinheiro do SVB após anúncio de que o banco liquidou US$ 21 bilhões de seus investimentos com maior liquidez
  • Se o Silicon Valley Bank falisse, seria a segunda maior falência de um banco na história dos EUA
  • Investidores estão tirando seus investimentos de outros grandes bancos americanos, por medo de acontecer o mesmo que com o SVL, e isso tem derrubado as ações

O pânico tomou conta do setor de startups na quinta-feira (9), quando investidores de algumas empresas de capital de risco incentivaram as organizações de suas carteiras a tirarem seu dinheiro do Silicon Valley Bank (SVB) devido a preocupações com a estabilidade do robusto setor de tecnologia.

Logo do Silicon Valley Bank atrás de uma camada de vidro quebrada

Quem é o SVB, banco que derrubou os mercados no mundo inteiro

A apreensão em torno do Silicon Valley Bank foi desencadeada por seu anúncio surpresa na quarta-feira de que o banco tomaria medidas extraordinárias e imediatas para reforçar suas finanças em meio a um cenário econômico incerto para as startups e outras empresas de tecnologia predominantes em sua base de clientes. O banco revelou que liquidou US$ 21 bilhões de seus investimentos com maior liquidez ou facilmente negociáveis, tomou um empréstimo de US$ 15 bilhões e organizou uma venda emergencial de suas ações para levantar dinheiro.

Os bancos relutam em tomar qualquer uma dessas medidas – quanto mais as três de uma só vez – e, quando decidem por elas, os movimentos costumam ser cuidadosamente coreografados. O preço das ações do Silicon Valley Bank despencou 60% na quinta-feira, quando os investidores correram para vender suas ações depois do anúncio.

Um porta-voz do banco não respondeu ao pedido de posicionamento enviado pelo New York Times.

Se o Silicon Valley Bank falisse, seria a segunda maior falência de um banco na história dos EUA, ficando atrás apenas da do Washington Mutual durante a crise financeira de 2008, que tinha cerca de US$ 300 bilhões em depósitos de clientes. No fim do ano passado, o Silicon Valley Bank divulgou ter US$ 212 bilhões em ativos de clientes.

A crise do banco fez despencar os preços das ações de instituições semelhantes, à medida que aumentava a preocupação de que outros pudessem ter problemas parecidos. As ações do First Republic Bank, na Califórnia, caíram 16,5%, as do Signature Bank, em Nova York, mais de 12%, e as do Zions Bancorporation, 11,4%.

Os bancos maiores também foram afetados. As ações do Bank of America e do Wells Fargo caíram 6,2%; enquanto as do JPMorgan Chase caíram 5,4%. O índice KBW, que acompanha as ações de 24 bancos grandes, caiu aproximadamente 8%, o pior registro em um único dia desde junho de 2020, nos estágios iniciais da crise provocada pela pandemia.

Greg Becker, CEO do Silicon Valley Bank, pediu às empresas de capital de risco para manter a calma durante uma teleconferência na quinta-feira.

Entretanto, vários investidores, entre eles Arjun Sethi, um investidor da Tribe Capital, aconselharam as empresas a tirar parte ou todo o seu dinheiro do banco. “Quase por definição, qualquer banco com um modelo de negócios quebra se todos sacam seu dinheiro dele”, escreveu Sethi aos fundadores da Tribe Capital em um memorando. Outras empresas adotaram medidas semelhantes, de acordo com quatro memorandos aos quais o Times teve acesso.

Fundado em 1983, o Silicon Valley Bank é pequeno em comparação com os bancos de Wall Street, mas tem um alcance descomunal entre as startups de tecnologia. Ele se autointitula “parceiro financeiro da economia da inovação”. Além de seus demais serviços bancários para startups, é conhecido por oferecer empréstimos e gestão de patrimônio privado para trabalhadores da tecnologia.

Alguns investidores de startups tuitaram previsões de que o banco precisaria ser vendido ou socorrido. Outros fizeram homenagens como se o banco já tivesse fechado as portas, agradecendo por ele ter sido um bom parceiro ao longo dos anos.

Vários tentaram acalmar os ânimos. Mark Suster, um investidor da Upfront Ventures, escreveu que, na sua opinião, o único risco financeiro para os clientes do Silicon Valley Bank era o pânico que levou todos a querer tirar dinheiro do banco.

“Pense em quantas empresas seriam destruídas da noite para o dia se o SVB falisse”, disse ele em entrevista. “Isso seria catastrófico e as pessoas não deveriam estar fazendo piadas a respeito disso.”

Villi Iltchev, investidor da Two Sigma Ventures, encorajou o setor a “apoiar” o banco não sacando dinheiro dele. Roseanne Wincek, investidora da Renegade Partners, escreveu que uma corrida aos bancos provocada apenas pelo pânico seria o equivalente ao setor “envergonhar a si mesmo”.

“Há duas coisas na vida que só existem se você acredita nelas: Deus e corridas aos bancos”, disse Anshu Sharma, CEO da Skyflow, uma startup de privacidade digital. Ele também é investidor de 65 outras startups e encorajou as empresas de sua carteira a ficarem calmas.

Sunny Juneja, fundador da Canopy Analytics, uma startup da área da Baía de São Francisco focada em tecnologia imobiliária, disse ter tentado sacar o dinheiro de sua startup – alguns milhões de dólares – do Silicon Valley Bank depois que seus consultores e investidores lhe disseram para fazer isso na quinta-feira, mas que o site do banco estava fora do ar. Ele passou a tarde tentando abrir uma conta em outro banco.

“Estou fazendo tudo o que posso o mais rápido possível para concretizar isso”, disse Juneja. Ele disse não se sentir bem com a atitude, pois o Silicon Valley Bank tinha sido um bom parceiro, porém não via qualquer vantagem em permanecer no banco em meio ao pânico e nenhuma desvantagem em sair dele.

Um executivo do Silicon Valley Bank escreveu uma mensagem para os clientes na quinta-feira, verificada pelo Times, na qual disse que “tinha sido um dia difícil”, mas que o banco estava “na verdade, bastante estável, e é decepcionante ver tantos investidores inteligentes tuitarem o contrário”.

Como todas as instituições semelhantes a ele, e de acordo com os regulamentos, o Silicon Valley Bank mantém apenas uma pequena parte dos depósitos de seus clientes em dinheiro disponível para ser imediatamente sacado. A maior parte do dinheiro está emprestada a outros clientes ou investida para render lucros. Isso aumenta a preocupação de que uma onda de saques o torne incapaz de pagar a todos.

A forma mais imediata de evitar a crise seria convencer os clientes a não sacar seu dinheiro. Em uma carta aos clientes na quarta-feira, Becker disse que o banco desfrutava de “condições financeiras para resistir às pressões constantes do mercado”. A carta, no entanto, reconhecia que os depósitos dos clientes tinham sido inferiores ao previsto em fevereiro, mas não mencionava quaisquer saques desde então.

Após a carta de Becker, a Moody’s rebaixou a classificação dos títulos do banco e reduziu sua perspectiva de estável para negativa. “A Moody’s não espera que o cenário se recupere o suficiente para que a SVB melhore de forma significativa sua rentabilidade, seu financiamento e sua liquidez”, afirmava o documento.

O Federal Reserve de St. Louis tinha alertado no mês passado que, conforme as taxas de juros aumentavam, o valor dos ativos de investimento dos bancos caía, com essas perdas prejudicando o capital dos bancos.

Algumas startups rapidamente começaram a se mexer para lucrar com o aperto do Silicon Valley Bank. Um executivo de um rival bem menor, o Levro, enviou uma mensagem aos clientes em potencial dizendo que tinha “um processo acelerado de processamento/aprovação para os atuais clientes SVB”.

Com informações da Agência EFE.
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ASSOCIAÇÃO DA FAMÍLIA DE ROMEU AO PT E A DE JULIETA A BOLSONARO

 

Ó, Romeu!
Por que essa história não está sendo contada?

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Se tivéssemos artistas de verdade neste país, já teriam feito uma boa versão de Romeu e Julieta opondo petistas e bolsonaristas.| Foto: Pixabay

Quer prova maior do que a elite cultural brasileira está irremediavelmente corrompida? Que os artistas ignoram o público e se contentam com a aceitação do grupo? Que não almejam mais a glória? Pois aqui está, e de graça: a inexistência de uma versão de “Romeu e Julieta” com os Montéquios transformados em petistas e os Capuletos em bolsonaristas. Ou vice-versa.

Vice-versa, não! Lendo a fabulosa tradução de José Francisco Botelho da tragédia shakespeariana, por algum motivo associei a família de Romeu ao PT e a de Julieta a Bolsonaro. Mas é claro que vai ter especialista me contrariando. E tudo bem. Se ao menos uma pessoa se interessar em ler Shakespeare por causa destas parcas linhas já me dou por satisfeito.

Mas eu falava da elite cultural e caramba! Imagine um texto bom, realmente bom, talvez até levemente genial, explorando o sofrimento e a irracionalidade do amor e do ódio político que opõem as duas facções. No lugar de Verona, a tragédia poderia se desenrolar numa cidadezinha da Caatinga. Só para dar aquele toque ridículo de Brasil profundo à coisa toda.

“Ah, cego Amor que se acha cordial/ Mas na prática é um déspota brutal!”, gritaria Romeu numa passeata antibolsonarista, antes de se infiltrar numa motociata para ver Julieta, a quem ama escondido do Partido. E “o fim da dor presente” (Lula) que “está na dor futura” (2026) é aquele mesmo da versão original: o veneno (das fake news!), a adaga (do Adélio!) e as duas ideologias mortas. Para o desespero de quem só queria ser feliz.

Personagens

Romeu e Julieta retrata a interação entre três proeminentes famílias em Verona:[1]

Casa dos CapuletoCapuleto é o pai de Julieta e patricarca dos Capuletos.Senhora Capuleto é a esposa de Capuleto.Julieta é a filha única dos Capuletos e a protagonista feminina da peça.Teobaldo é primo de Julieta, e filho do irmão da Senhora Capuleto.Ama é a confidente e ama de Julieta.Pedro e Gregório são os criados dos Capuletos.GovernoPríncipe Escala é o Príncipe de VeronaPáris é um jovem nobre, parente do príncipe, e pretendente de Julieta.Mercúcio é parente do príncipe e amigo de Romeu.Casa dos MontéquioMontéquio é o patriarca da casa dos Montecchios.Senhora Montéquio é a matriarca da casa dos Montecchios.Romeu é o filho único dos Montecchios, e o protagonista masculino da peça.Benvólio é sobrinho de Montecchio e primo de Romeu.Abraão e Baltasar são os criados dos Montecchios.OutrosFrei Lourenço é confidente de Romeu e franciscano.Frei João é quem iria entregar a carta de Frei Lourenço para Romeu.Um Boticário, que vende a poção fatal para Romeu.Rosalina é uma personagem invisível, pretendente de Romeu antes dele conhecer Julieta e prima desta pelo lado paterno.

Sinopse

“Duas famílias, iguais em dignidade …”

O Último Beijo de Romeu em Julieta por Francesco Hayez. Óleo sobre tela, 1823.

A peça abre numa rua com o desentendimento entre os Montecchios e os Capuletos. O Príncipe de Verona intervém e declara que irá punir com morte as pessoas que colaborarem para mais uma briga de ambas as famílias. Mais tarde, Páris conversa com Capuleto sobre o casamento de sua filha com ele, mas Capuleto está confuso quanto o pedido porque Julieta tem somente treze anos. Capuleto pede para Páris aguardar dois anos e o convida a uma planejada festa de balé que será realizada na casa. A Senhora Capuleto e a Ama de Julieta tentam persuadir a moça a aceitar o cortejo de Páris. Após a briga, Benvólio encontra-se com seu primo Romeu, filho dos Montecchios, e conversa sobre a depressão do moço. Benvólio acaba descobrindo que ela é o resultado de um amor não-correspondido por uma garota chamada Rosalina, uma das sobrinhas do Capuleto. Persuadido por Benvólio e Mercúcio, Romeu atende o convite da festa que acontecerá na casa dos Capuletos em esperança de encontrar-se com Rosalina. Contudo, Romeu apaixona-se perdidamente por Julieta. Após a festa, na famosa “cena da varanda”, Romeu pula o muro do pátio dos Capuletos e ouve as declarações de amor de Julieta, apesar de seu ódio pelos Montecchios. Romeu e Julieta decidem se casar.

Com a ajuda de Frei Lourenço – esperançoso da reconciliação das famílias através da união dos dois jovens – eles conseguem se casar secretamente no dia seguinte. Teobaldo, primo de Julieta, sentindo-se ofendido pelo fato de Romeu ter fugido da festa, desafia o moço para um duelo. Romeu, que agora considera Teobaldo seu companheiro, recusa lutar com ele. Mercúcio sente-se incentivado a aceitar o duelo em nome de Romeu por conta de sua “calma submissão, vil e insultuosa”.[3] Durante o duelo, Mercúcio é fatalmente ferido e Romeu, irritado com a morte do amigo, prossegue o confronto e mata Teobaldo. O Príncipe decide exilar Romeu de Verona por conta do assassinato salientando que, se ele retornar, terá sua última hora.[4] Capuleto, interpretando erroneamente a dor de Julieta, concorda em casá-la imediatamente com o Conde Páris e ameaça deserdá-la quando ela recusa-se a se tornar a “alegre noiva” de Páris. Quando ela pede, em seguida, o adiantamento do casamento, a mãe lhe rejeita. Quando escurece, Romeu, secretamente, passa toda a noite no quarto de Julieta, onde eles consumam seu casamento.

A Reconciliação dos Montecchios e Capuletos Diante da Morte de Romeu e Julieta, por Frederic Leighton, 1855

No dia seguinte, Julieta visita Frei Lourenço pedindo-lhe ajuda para escapar do casamento, e o Frei lhe oferece um pequeno frasco, aconselhando: “… bebe seu conteúdo, que pelas veias, logo, há de correr-te humor frio, de efeito entorpecedor, sem que a bater o pulso continue em seu curso normal, parando logo…”[5] O frasco, se ingerido, faz com que a pessoa durma e fique num estado semelhante a morte, em coma por “quarenta e duas horas”.[6] Com a morte aparente, os familiares pensarão que a moça está morta e, assim, ela não se casará indesejadamente. Por fim, Lourenço promete que enviará um mensageiro para informar Romeu — ainda em exílio — do plano que irá uni-los e, assim, fazer com que ele retorne para Verona no mesmo momento em que a jovem despertar. Na noite antes do casamento, Julieta toma o remédio e, quando descobrem que ela está “morta”, colocam seu corpo na cripta da família.

A mensagem, contudo, termina sendo extraviada e Romeu pensa que Julieta realmente está morta quando o criado Baltasar lhe conta o ocorrido. Amargamente, o protagonista compra um veneno fatal de um boticário que encontra no meio do caminho e dirige-se para a cripta dos Capuletos. Por lá, ele defronta-se com a figura de Paris. Acreditando que Romeu fosse um vândalo, Páris confronta-se contra o desconhecido e, na batalha, Romeu o assassina. Ainda acreditando que sua amada está morta, ele bebe a poção. Julieta acaba acordando e, descobrindo a morte de Romeu, se suicida com o punhal dele, vendo que a poção do moço não possuía mais nenhuma gota. As duas famílias e o Príncipe se encontram na tumba e descobrem os três mortos. Frei Lourenço reconta a história do amor impossível dos jovens para as duas famílias que agora se reconciliam pela morte dos seus filhos. A peça termina com a elegia do Príncipe para os amantes: “Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu.”


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ENSINO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS ESTÁ DEFASADO EM RELAÇÃO AO MUNDO

 

O currículo não leva em conta o protagonismo do aluno; apenas o prepara para provas

Por Leandro Karnal – Jornal Estadão

O ano escolar já começou. Seria bom falar um pouco sobre a vida das alunas e dos alunos.

Os currículos do Ensino Fundamental, Médio e Superior estão defasados na sua maioria. A palavra defasado indica algo fora de fase, desatualizado e, por consequência, pouco útil ou prático para o mundo real. As escolas preparam para um mundo que não existe mais.

O efeito mais danoso de um currículo assim pensado é tornar a ideia de educação formal irrelevante. Se o que precisamos saber não ocorre nos bancos escolares, por que manter as instituições formais? Não é à toa que pululam alternativas ao processo consagrado e regular de uma vida escolar.

A crítica tradicional é errada: utilidade. Por que ler José de Alencar se usamos Twitter? Trata-se de um enfoque equivocado: é preciso ir muito além na capacidade de leitura e de interpretação de texto; senão, o horizonte possível será… o Twitter.

Devemos buscar o maior e de alcance mais agudo, evitando “nivelar-se por baixo”. O mercado impõe a crítica de “currículo teórico demais”, porque quer pessoas que pensem menos e sejam mais submetidas a ordens. O problema da escola não é o caráter teórico. É fundamental que os alunos do Ensino Médio estudem Filosofia, porque ela não ensina a servir, ela ensina a pensar.

Por isso, a Filosofia não “serve”; ela liberta da servidão, ou deveria fazê-lo como meta. Pelo contrário, um currículo que ensine apenas coisas práticas (trocar lâmpadas ou passar um aspirador) era uma estratégia do governo racista da África do Sul para controlar a população negra. Filosofia e Arte seriam para brancos, para gente que mandaria no país; os “outros” deveriam ser treinados em coisas concretas e de valor mensurável.

O currículo está defasado; não por ser teórico, mas por ainda enfatizar repetição e não criação. O currículo não leva em conta o protagonismo do aluno; leva em conta o preparar, como altamente adestrável, para provas que justificam o injustificável: “Vamos ver toneladas de coisas (um dos erros é a quantidade), pois, num dia, faremos o vestibular”.

Alunos durante saída do colégio Dante Alighieri em São Paulo, em 2014.
Alunos durante saída do colégio Dante Alighieri em São Paulo, em 2014. Foto: Clayton de Souza/Estadão

Ora, e o vestibular serve para? Ver quem estuda e repete toneladas de coisas: uma serpente que come a própria cauda em um looping perverso. Esse tipo de avaliação mede a submissão extenuante a uma jornada desumana.

Tenho medo de quem tira primeiro lugar em alguns vestibulares. Parecem-me as crianças e os adolescentes que vi em um espetáculo circense na China há algumas décadas: se alguém de sete anos poderia fazer aquilo, seria à custa de perder tudo na sua vida para agradar a turistas? Performance pirotécnica nem sempre é o valor mais desejável.

Chegou a hora de pesar todo o sistema e entender, como queria Rubem Alves, que a rebeldia de alguns alunos não é sintoma de adolescência birrenta, porém um sinal saudável de pessoas que conseguem dizer que não identificam valor naquela atividade.

Ou revemos tudo (e passamos a pensar o que é significativo no século 21 para preparar jovens para o 22), ou, em breve, a escola deixará de ter qualquer importância.

O que seria uma reforma curricular? Em primeiro lugar, cortar, perder a sedução enciclopédica, abandonar a fantasia afrancesada do século 19 de “dar tudo”. Além de reduzir, olhar o mundo ao redor da escola. Incorporar esse mundo à sala de aula, fornecer ferramentas de avaliação da sociedade da qual o aluno vem e para a qual volta.

Alguns leem e imaginam que estou defendendo apenas o ensino lúdico. Sim, sabemos desde Piaget que o jogo é a mais poderosa ferramenta de aprendizado. Porém, um bom currículo também pode passar pelo gosto do esforço, por contrariar o prazer imediato.

Se eu perguntasse a alguém de 14 anos o que gostaria de fazer nas horas escolares, há uma chance de o adolescente indicar o celular livre para todo mundo por horas… acompanhado talvez de lanches e refrigerante. Isso seria uma escola voltada a confirmar o mundo como ele é.

Para que se possa discutir isso, devo levar em conta que o senhor e a senhora, pai e mãe, talvez tenham se tornado pessoas bem-sucedidas, tendo passado por anos de formação e hoje, mesmo sendo bons leitores de jornais, talvez não consigam mais definir o que é um predicativo do sujeito, algo que no passado poderia ter retido suas vidas acadêmicas, por um ano, junto a mitocôndrias e Império Bizantino.

Não se trata da aplicabilidade imediata das coisas (que já vimos ser um mau argumento), mas sobre o sentido dos dados aprendidos.

Exemplo na minha área: estudamos muito Legislação Escolar (Lei 5.692) no curso de licenciatura. Não tivemos uma única aula sobre falar em público. Passei minha vida falando em público, com meus alunos, mas nunca alguém me ensinou sobre isso. No entanto, eu sei muito sobre a Lei 5.692…

É isto que estou expondo: o que é de fato significativo como teoria e como prática para a vida. Tenho esperança de que consigamos dar esta resposta sobre currículos: para quê?

* LEANDRO KARNAL É HISTORIADOR, ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS E AUTOR DE ‘A CORAGEM DA ESPERANÇA’, ENTRE OUTROS

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...