Lula escolheu Juscelino Filho para o ministério das Comunicações
para atrair o apoio do União Brasil.| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do
Planalto
Com apenas dois meses de mandato, o governo Lula já tem material
suficiente para fazer uma pequena faxina ministerial. A ministra do
Turismo, Daniela do Waguinho, tem notórias ligações com um chefe
miliciano preso desde 2009; o novo secretário especial de Assuntos
Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da
República, André Ceciliano, teve seu gabinete apontado como o campeão
das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro anos
atrás. Mas a bola da vez é o ministro das Comunicações, Juscelino Filho,
que recebeu diárias pagas com dinheiro público e voou em jato da Força
Aérea Brasileira para cuidar de seu hobby, a criação de cavalos da raça
Quarto de Milha.
Segundo apuração do jornal O Estado de S.Paulo, o ministro partiu de
Brasília para São Paulo em 26 de janeiro, uma quinta-feira, usando jato
da FAB; passou algumas poucas horas (mais precisamente, duas horas e
meia) em compromissos realmente de caráter oficial, em visitas a Claro,
Telebrás e Anatel; e dali foi para o interior de São Paulo, para cuidar
do que realmente lhe interessava: recebeu prêmio de uma associação de
criadores, prestou assessoria a compradores em leilões e até inaugurou
praça em homenagem ao cavalo de um de seus sócios, retornando à capital
federal apenas na segunda-feira, 30 de janeiro. Nada disso, é claro,
constava da agenda oficial, nem justificava a “urgência” alegada por
Juscelino para o uso da aeronave e o pagamento de 4,5 diárias.
O critério do petismo para suas críticas não é a irregularidade ou o
crime em si, mas se quem o comete é “dos nossos” ou “dos deles”
O jornal paulista ainda revelou que o ministro, apesar de amar tanto
seus cavalos, não fez questão de exibi-los na hora de declarar seus bens
à Justiça Eleitoral. Ao registrar sua candidatura a deputado federal no
ano passado, Juscelino teria omitido pelo menos 12 animais, que
valeriam R$ 2,2 milhões, em sua declaração de bens. Os cavalos ainda têm
relação com o primeiro escândalo envolvendo o ministro, divulgado no
fim de janeiro: eles são criados em um haras na cidade de Vitorino
Freire (MA), governada pela irmã de Juscelino, Luanna Rezende, e que
recebeu R$ 5 milhões do “orçamento secreto” para obras de asfaltamento –
em uma dessas incríveis coincidências tipicamente brasileiras, a
estrada que ganhou pavimentação passava pelas propriedades do ministro.
Como se não bastasse, a licitação para a execução da obra tinha um único
concorrente, cujo verdadeiro dono seria um amigo da família, preso em
julho de 2021, acusado de subornar servidores para conseguir contratos.
Diz a lenda que o imperador romano Calígula pretendia nomear seu
cavalo favorito como cônsul, para escarnecer do Senado de sua época. Se a
história do cavalo de Calígula é falsa, a dos cavalos de Juscelino é
bem verdadeira, é com ela o ministro escarnece do brasileiro pagador de
impostos, recentemente obrigado a tirar ainda mais do seu bolso porque,
afinal de contas, alguém precisa sustentar o Estado inchado que
autoridades como Juscelino acreditam lhes pertencer. Pois esta é a
essência de um dos grandes males da política brasileira, o
patrimonialismo: o bem público é tratado como se privado fosse, e sendo
assim a autoridade pode dispor dele como bem entender.
A faxina, no entanto, ainda não veio: Juscelino Filho segue no
cargo, ainda que questionado, e também Daniela do Waguinho e André
Ceciliano continuam no governo. Como ligações com milícias e
“rachadinhas” haviam sido bastante exploradas pelo petismo quando se
tratava do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, alguém até
poderia pensar que o PT considerava esses dois comportamentos absurdos e
inaceitáveis, mas apenas os mais incautos e os desmemoriados – que não
se lembram de como o petismo celebrava os seus envolvidos no mensalão e
no petrolão – não sabem que o critério do petismo não é a irregularidade
ou o crime em si, mas se quem o comete é “dos nossos” ou “dos deles”.
“Quem fizer errado sabe que tem só um jeito: a pessoa será,
simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o
governo”, prometeu Lula em sua primeira reunião ministerial. Acreditou
quem quis; Juscelino Filho pode até cair em breve, mas para isso a
situação precisará ficar realmente insustentável. A tolerância de Lula
com casos como os de seus dois ministros e seu secretário mostra que o
mais provável (faltando a Juscelino e Daniela apenas a carta de filiação
ao PT) é que, um dia, eles acabem aclamados como “guerreiros do povo
brasileiro”.
A
história, como nos dizem todos os dias os comentaristas políticos, só se
repete como farsa. No caso do governo Lula e do PT, ela se repete como
piada. Francamente: pode haver uma piada mais infame que o Trem-Bala de
Lula e de Dilma Rousseff? Pois o Trem-Bala, acredite se quiser, está de
volta como mais um dos 5.000 projetos “estratégicos” que o Lula-3
apresenta para o Brasil. O projeto estava morto desde que Dilma foi
despejada da Presidência da República pelo impeachment; morreu por ser
uma estupidez tamanho X-LLLLL, dessas que só o PT consegue produzir com a
combinação concentrada de demagogia, incompetência, ignorância,
pretensão e safadeza.
A promessa não resultou num único metro de ferrovia. Não tem, nem
sequer, um projeto decente de engenharia, sem o qual não se constrói nem
um forno de pizza. Custou milhões e gerou uma empresa estatal novinha
em folha, com diretoria, um monte de empregos e todo o resto que você
sabe – e paga com os seus impostos a cada vez que abastece o carro no
posto ou acende a luz de casa. Pior ainda: o governo Bolsonaro não
fechou essa aberração, e o PT, pelo que se está vendo, acha que foi
muito certo não ter fechado. É tudo tão ruim que acabou ficando cômico.
A despesa com trens de alta velocidade que não podem ser construídos, e dos ninguém precisa, é uma alucinação.
Por mais lamentável que seja a sua história, o Trem-Bala entre São
Paulo e o Rio de Janeiro é mais uma das miragens colocadas à venda pelo
governo Lula – ou melhor, o que está de volta é o monte de dinheiro que o
cidadão vai tirar de novo do bolso para pagar por essa conversa, porque
mais uma vez não vai sair trem nenhum, e nem poderia sair, obviamente.
Prometem, desta vez, que a linha ficará pronta em “2.032”. Não vai
haver Trem-Bala nem em 2032, nem em 100 anos, nem nunca. Trata-se, para
encurtar o assunto, de uma impossibilidade material: trem que corre a
200 ou 300 quilômetros por hora exige terreno plano, e o terreno entre
São Paulo e Rio é exatamente o oposto do que se requer para uma obra
assim. Não dá, simplesmente – a menos que se gaste uma soma demente de
dinheiro e se produza um cataclisma ecológico sem precedentes na região.
Lula, é claro, diz que resolve tudo com “vontade política” – e com uma
bela conversa com as empreiteiras de obras. Acha-se capaz de anular as
leis da engenharia, da física e da geologia. Não vai conseguir. Por isso
não vai haver trem; só vai haver despesa para a população e lucro para
os amigos.
VEJA TAMBÉM: Lula e a esquerda não suportam a liberdade de expressão e por isso querem censurar a internet Lula não sabe lidar com os problemas reais do Brasil, por isso inventa inimigos Seu dinheiro vai pagar gasoduto na Argentina e discordar é “ignorância”
O absurdo vai além. Não existe absolutamente nenhuma carência, no
atual sistema de transportes entre Rio e São Paulo, que justifique a
construção de um Trem-Bala entre as duas cidades. Ao contrário, elas são
as mais bem atendidas do Brasil em termos de comunicação; do Rio Grande
do Norte ao Rio Grande do Sul, há necessidades muito mais urgentes,
justificáveis e lógicas de investimento em transporte. Não faz nenhum
sentido, também, gastar uma fábula com trens de alta velocidade entre
Rio e São Paulo quando tanto uma como a outra cidade precisam
desesperadamente de mais linhas de metrô e de trens urbanos, que
transportam milhões de pessoas por dia.
Enfim: como um governo honesto em seus propósitos pode pensar em
Trem-Bala quando o presidente da República diz que há “33 milhões” de
pessoas “passando fome” no Brasil? Sua ministra do Meio Ambiente, aliás,
diz que os famintos são “120 milhões”. É uma mentira grosseira, e uma
mentira multiplicada por quatro no caso da ministra, mas é a verdade
oficial do governo do PT. Se essa é a verdade, a despesa com trens de
alta velocidade que não podem ser construídos, e dos quais ninguém
precisa, é uma alucinação.
Disputas de governo Fim do período de “lua de mel” amplia crises em diversos setores do governo Lula Por Wesley Oliveira – Gazeta do Povo Brasília
Há 50 dias de governo, Lula já enfrenta as disputas internas do PT| Foto: Andre Borges/EFE
Com
pouco mais de 50 dias de governo, integrantes do Palácio do Planalto já
avaliam que o período de “lua de mel” do governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) acabou e os embates dentro do Executivo já
atrasam as entregas das promessas de campanha.
O caso mais recente expôs o racha dentro do próprio PT,
especificamente entre a ala política e a equipe econômica, comandada por
Fernando Haddad na questão dos impostos sobre os combustíveis. Mas
também há outros embates com potencial de ampliar os desgastes do
governo Lula, como a tramitação de reforma tributária e o reajuste para
os servidores federais.
A “fritura” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começou
ainda na última semana, depois que a presidente do PT, deputada federal
pelo Paraná Gleisi Hoffmann, encampou um movimento contra a volta dos
tributos federais no álcool e na gasolina. A equipe econômica vinha
defendendo a tributação como forma de garantir o pagamento de programas
sociais para os mais pobres, uma das principais bandeiras dos governos
petistas.
“Não somos contra taxar combustíveis, mas fazer isso agora é
penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de
campanha”, disse Hoffmann.
O líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), endossou a
mensagem da presidente do partido. “A prorrogação da desoneração deve
seguir, na busca de não afetar o bolso da população”. O deputado Jilmar
Tatto (PT-SP), secretário nacional de comunicação no PT, emendou, no
Twitter, contra “o fim imediato da desoneração dos combustíveis”.
Interlocutores da Fazenda temiam que uma prorrogação da desoneração
provocasse, além de uma nova derrota para Haddad, uma reação negativa do
mercado. A avaliação era de que essa decisão sinalizaria que a
influência da ala política teria mais peso que as decisões da equipe
econômica, o que poderia inviabilizar qualquer proposta encampada pelo
ministro da Fazenda ao longo do governo.
Planalto vai investir em críticas a Bolsonaro para amenizar desgastes com o aumento dos combustíveis Para
tentar contornar a situação, Lula optou pela volta dos impostos de
forma progressiva, com uma taxação gradual para o etanol e para a
gasolina. A partir de de 1º março, o governo voltará a cobrar R$ 0,47 de
imposto na gasolina e R$ 0,02 no etanol.
Paralelamente, o Planalto vai investir em críticas contra o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para tentar amenizar os desgastes por
conta do aumento do preço dos combustíveis. Durante o anúncio sobre o
reajuste, Haddad disse que a redução dos impostos federais foi uma
medida eleitoreira do governo Bolsonaro, que só foi estendida por Lula
porque havia rumores de um golpe de Estado e a reoneração poderia inflar
atos considerados antidemocráticos.
A avaliação é de que Lula precisa encampar o discurso de que a
desoneração dos combustíveis foi uma “armadilha eleitoreira” do governo
anterior. A redução dos impostos federais sobre combustíveis foi
aprovada durante o governo Bolsonaro, no ano passado, em meio à alta nos
preços do petróleo no mercado internacional, em decorrência da guerra
na Ucrânia.
Ao assumir o governo, no entanto, Lula optou por manter a desoneração
por dois meses, temendo um desgaste logo no início de mandato. Àquela
altura, o presidente manteve a redução de impostos mesmo contra a
orientação de Haddad.
Agora, integrantes do Planalto afirmam que a solução intermediária
foi definida por Lula para contemplar necessidades técnicas da equipe
econômica e também os argumentos políticos do PT.
Reajuste de servidores pode impor novo desgaste para o governo Lula Outro
ponto que acendeu o alerta em integrantes do governo é a resistência
dos servidores federais em acatar o reajuste salarial de 7,8%. A
proposta inclui ainda um aumento de R$ 200 no vale-alimentação dos
funcionários públicos federais, de acordo com o Ministério da Gestão.
O governo espera enviar a proposta de reajuste ao Congresso Nacional
por medida provisória para que ela passe a valer imediatamente. De
acordo com técnicos do Executivo, o impacto será de R$ 11,2 bilhões,
valor já previsto no Orçamento deste ano para reajuste salarial.
Na contramão da proposta do governo, o Fórum Nacional Permanente de
Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) tem defendido um reajuste de
13,5%. Em ofício endereçado ao secretário de Gestão de Pessoas e
Relações de Trabalho do Ministério da Gestão, Sérgio Mendonça, o
Fonacate argumenta que o reajuste de 7,8% fica muito aquém das perdas
salariais acumuladas nos últimos anos, em que o funcionalismo federal
teve o salário congelado.
O fórum ainda propõe que o governo inclua no acordo com os servidores
o compromisso de equiparar todos os benefícios com os demais Poderes
até o fim de 2026, “sem deixar de reconhecer o esforço feito para
reajustar o auxílio-alimentação pela variação do IPCA desde 2016”. Em
outra frente, sindicatos não descartam um movimento de paralisação.
Para tentar contornar a crise, a ministra da Gestão, Esther Dweck,
pretende realizar uma nova rodada de negociações. Aos servidores, o
governo vai se comprometer a articular, junto ao Congresso Nacional, a
retirada da proposta de reforma administrativa encaminhada pelo governo
Bolsonaro da pauta de discussões no Legislativo.
A proposta do governo Bolsonaro muda regras como estabilidade e o
regime jurídico para servidores. Pelo texto, a estabilidade fica
restrita a carreiras típicas de Estado, como diplomatas. Recentemente,
em um jantar com empresário, o ministro Fernando Haddad sinalizou que a
reforma administrativa não será uma das prioridades do governo Lula.
Disputas sobre a reforma tributária no Congresso podem atrasar os planos do governo
Paralelamente, aliados de Lula já temem que as disputas do Congresso
Nacional sobre pontos da reforma tributária possam atrasar a aprovação
da medida ainda neste ano. A Câmara dos Deputados instalou o grupo de
trabalho para discutir a proposta, o qual é presidido pelo deputado
Reginaldo Lopes (PT/MG) e tem como relator o deputado Aguinaldo Ribeiro
(PP/PB).
O colegiado se reuniu pela primeira vez nesta semana, mas diante de
divergências e, dadas as polêmicas, líderes partidários não descartam a
possibilidade de criação de uma comissão especial. Nos cálculos do
governo, esse movimento pode travar as discussões e acabar desidratando a
proposta.
“É preciso ouvir a parte técnica, mas ninguém aprova nada aqui sem a
parte política. Uma reforma tributária não se faz sem entendimento da
Câmara e do Senado e com o Executivo apoiando. Embora a gente saiba que
sempre haverá divergência, com essa disposição, teremos a reforma
tributária que a gente precisa”, disse Aguinaldo Ribeiro.
Aliado do Planalto, Reginaldo Lopes já defendeu que as discussões não
podem ultrapassar o ano de 2023. “Nós precisamos aprová-la ainda este
ano. Qualquer reforma estruturante, tanto para a Câmara quanto para o
Senado ou para o Poder Executivo, só terá sucesso se for realizada ainda
no primeiro ano de mandato. Então, esse é o nosso limite para conseguir
mudar tanto o sistema tributário para os impostos diretos quanto para
os impostos indiretos”, explicou o deputado.
Prefeitos querem manutenção do ISS na reforma tributária Neste
caso, o governo vai precisar driblar os diferentes interesses sobre a
proposta. Já há um embate público entre os prefeitos e o secretário
especial, Bernardo Appy, em torno do Imposto Sobre Serviços (ISS). A
Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) já se movimenta contra a proposta de
Appy para acabar com o tributo.
Recentemente, Appy disse que o ISS é um imposto “atrasado” e que os
prefeitos “terão que aceitar o fim” do tributo. Na contramão, o prefeito
do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), disse que “nada pode ser pior no
mundo do que o técnico autoritário”. “Se [Appy] acha que vai avançar
com a reforma tributária assim, certamente teremos mais uma proposta
fracassada à frente”, declarou Paes, na ocasião.
Um grupo de parlamentares ligados ao Centrão, já adianta, porém, que a
reforma, se sair, será em muito desidratada. Além disso, os líderes
partidários sinalizam que possivelmente a discussão será fatiada dados
os diversos e polêmicos interesses envolvidos no tema.
Além do lucro recorde de R$ 188,3 bilhões, a Petrobras vai
distribuir R$ 35,8 bilhões em dividendos aos acionistas.| Foto: Andre
Coelho/EFE
Nós íamos crescer mais que a China, como acontecia no milagre
econômico dos anos 1970, mas não deu. No último trimestre, o resultado
da eleição desanimou a economia brasileira. Cresceríamos 3%, mas ficamos
em 2,9% de PIB, enquanto a China cresceu 3%. Também ficamos atrás do
México, que cresceu 3,1%. Ganhamos da Rússia, que teve 2,7%, mas a
Rússia está em guerra. E o desempenho do Brasil foi criticado pelo
presidente Lula ontem, dizendo que o nosso crescimento foi muito baixo.
Lula também criticou o resultado da Petrobras: lucro líquido de R$
188 bilhões, recorde histórico. No tempo da Dilma a Petrobras dava
prejuízo – três vezes prejuízo. Mesmo assim, Lula criticou, dizendo que a
Petrobras, em vez de distribuir os lucros, deveria investir. Mas isso é
uma questão de política da empresa. De novo vem aquele viés de se meter
politicamente e influenciar a administração da nossa petroleira
estatal. O Banco do Brasil também teve, no ano passado, um resultado
histórico, recordista, de R$ 31,8 bilhões.
O combustível subiu e o trabalhador já está sentindo no bolso
Aqui na capital federal temos novos preços de combustível: tem posto
de gasolina vendendo com acréscimo de 70 centavos, outros de 50
centavos, se aproveitando da situação. E os que mais estão sentindo são
aqueles que vivem diretamente do trabalho: o Uber, o taxista, o
entregador de moto, o motoboy, o mototáxi, estão todos pagando bem mais
caro no combustível. São 35 milhões de motos por esse país.
Governo despreza direito à propriedade ao aceitar invasão do MST Essa
invasão na Suzano Papel e Celulose está preocupando muita gente. O MST
alega que invadiu porque é monocultura. Então, aquele pessoal que só
planta pimenta, só planta tomate, ou arroz, ou soja, ou milho, ou
feijão, ou arroz, ou cana, ou laranja, estão todos condenados pelo juiz
supremo do que devemos plantar. A Suzano planta a sua matéria prima.
Planta eucalipto para colher celulose, usando a fibra do eucalipto, uma
árvore que cresce rapidamente. E o ministro do Desenvolvimento Agrário,
instado a falar sobre o tema no Palácio do Planalto, nem lembrou de
citar uma cláusula pétrea da Constituição, que põe o direito de
propriedade na mesma linha do direito à vida, que engloba o direito de
defesa. Estão na mesma linha do artigo 5.º, podem conferir. E ele diz
que é preciso haver “diálogo”, que vai encaminhar um pedido da Suzano
para eles saírem.
Ministro agora acha que temos obrigação de bancar o seu descanso Falando
em sair, entidades e ONGs estão pedindo a saída do ministro Juscelino
Filho, que está em Barcelona. O Instituto Não Aceito Corrupção está
pedindo o afastamento e o PL quer convocá-lo na Câmara para explicar
essa história de ir a São Paulo para assistir a leilão de cavalos no fim
de semana. Ele respondeu com uma nota, dizendo que pediu quatro diárias
porque, enfim, tem direito aos dias de folga. Você já imaginou,
ministro pensar que é CLT? Ministro não tem dia de folga, nem horário de
trabalho definido. Sinto muito: é cargo de confiança, assim como o
policial, o jornalista, o médico, são 24 horas por dia à disposição da
exigência de sua profissão. Ele escolheu essa profissão, aceitou ser
ministro, e agora vamos pagar diária para ele ter folga lá em Boituva? A
Transparência Internacional está avisando que a falta de manifestação
do presidente da República a esse respeito pode afetar a avaliação do
Brasil no exterior.
A roda, o dinheiro e a luz artificial foram apenas algumas das
invenções inovadoras que transformaram o mundo – e podem inspirar você.
A humanidade já conseguiu enviar sondas e foguetes para fora do
sistema solar, curar algumas das mais pesadas doenças e criar uma rede
de comunicação instantânea que liga os pontos mais remoto dos do planeta
Terra.
Contudo, essa tecnologia não veio do dia para noite. Pelo contrário,
foram milênios de inovação que nos trouxeram até aqui. Desde o primeiro
homem da caverna que percebeu que o fogo servia para alguma coisa, até o
inventor daquele aplicativo sensacional da última semana.
E ainda há muito, muito mais: ainda falta muito para atingirmos o
transporte interestelar, para a cura de todas as doenças ou para
colonizarmos Marte, Vênus e outras regiões do sistema solar. Muita coisa
ainda vai ser inventada nos próximos anos e merecerá entrar neste
ranking: caso você tenha ideias, transforme em startup.
Confira as 13 maiores inovações da história (em ordem de criação):
1 – A RODA
Antes da invenção da roda em 3.500 A.C (antes de Cristo), a
humanidade não tinha ferramenta nenhuma para transporte de produção e
tinha suas capacidades severamente limitadas ao que cada pessoa podia.
Conseguir fazer um objeto circular que rodava não foi bem o grande
problema: criar um eixo funcional, sim. Feito isso, a humanidade começou
a poder carregar muito mais, incentivando comércio entre comunidades
pela 1ª vez, além de viabilizar diversas maneiras de transporte.
A roda é tão importante que ela está presente em milhares de
inovações humanas: carros, aviões, relógios. Ela é a base do transporte e
do funcionamento de muitas máquinas ao longo de toda a história.
2 – O DINHEIRO
Dinheiro surgiu logo depois da invenção da roda, fruto do aumento do
comércio por conta dele, 3.000 anos antes de cristo, na Mesopotâmia.
O dinheiro foi importantíssimo para o desenvolvimento de economias
complexas, acumulação de capital e uma série de outras questões. Permite
que sociedades surjam sem basear no fato de que alguém que presta um
serviço precisa conhecer a pessoa para a qual está prestando o serviço
(ou ser um escravo).
Crédito, ele nasce para representar alguma coisa (ouro, por exemplo),
mas hoje não é lastreado. Ele é a base da economia de mercado que
vivemos atualmente e que foi o único tipo a prosperar no planeta.
Dinheiro em moedas (foto: Michael Longmire on Unsplash)
3 – A LEI
O surgimento de sociedades complexas começou a criar uma necessidade
por forças que as organizassem de maneira mais eficiente. A primeira lei
que se tem notícia surge nesta época, no Egito Antigo – um conjunto de
12 livros que compunham o código civil da época.
Ur-Nammu, imperador da Suméria, porém, no século XXII antes de Cristo
cria o primeiro código que funciona em condicionais, no estilo “Se X
acontecer, Y deverá ser aplicado”. Logo depois, na Babilônia, Hamurabi
cria o Código de Hamurabi, famoso até hoje.
4 – O PREGO
Já o prego foi inventado cerca de 2.500 anos antes do nascimento de
Cristo, conforme a humanidade aprendeu a manipular metal e dar forma a
ele. Ele foi melhorado significativamente pelo grego Arquimedes no
século III antes de cristo, que o transformou em um parafuso.
A importância do prego é gigantesca para a construção de estruturas
de madeira: facilitou que casas fossem feitas e que muita gente passasse
a ter um teto pela 1ª vez na humanidade. Antes, a ideia de construção
era juntar pedaços que se complementavam.
Novas tecnologias foram surgindo (como o cimento na Roma Antiga) para
o setor de construção, mas o prego foi a primeira significativa delas.
5 – BÚSSOLA
Navegantes só conseguiam navegar durante a noite (desde que não
tivessem nuvens) sem o compasso. Portanto, viajar para muito longe de
terra firme era impossível: de dia, você não ia ter noção de onde você
estava e se a noite estivesse fechada, adeus.
A criação da bússola na China (entre os séculos IX e XI) resolve esse
problema. Europeus e árabes logo receberam essa nova tecnologia e
passaram a navegar muito mais longe, permitindo até mesmo o
descobrimento de um novo continente ao oeste que provavelmente você já
ouviu falar…
Bússola (foto: Anastasia Petrova on Unsplash)
6 – A PRENSA MÓVEL
Ela foi inventada em 1440 por Gutenberg e logo se tornou uma das
inovações mais sensacionais da história. Permitiu que livros, textos
fossem impressos em largas escalas (e deve ter deixado muito monge
copista sem emprego) pela 1ª vez na história.
Isso garantiu que o pensamento e conhecimentos fossem fortemente
disseminados, com mais de 20 milhões de livros impressos em apenas 20
anos. Permitiu que a reforma atingisse em cheio a Igreja Católica na
Europa, criando os países “protestantes”.
7 – O MOTOR
A revolução industrial não teria tido início se não tivessem
inventado o motor. Movido a vapor e carvão em seus primórdios, o motor
foi evoluindo até a versão moderna que usa derivados de petróleo, como a
gasolina.
Foi a primeira vez que podemos começar a mecanizar uma série de
produções, aumentando e muito a produtividade e garantindo prosperidade
material pela 1ª vez na história (prosperidade que, nos anos
subsequentes começou a ser melhor distribuída). A Revolução Industrial
nasceu desta invenção, assim como carros e aviões.
Motor de automóvel (fofo: Garett Mizunaka on Unsplash)
8 – LUZ ARTIFICIAL
Quando tudo que você tem é luz natural, seu dia acaba quando as horas
de sol acabam. A luz artificial mudou isso, graças a invenção da
eletricidade e da lâmpada, no começo do século XIX.
Thomas Edison melhorou a lâmpada e logo depois ela estava presente em
todas as grandes cidades. Ficar acordado trabalhando ficou muito mais
fácil e a vida ficou mais produtiva.
9 – O TELÉGRAFO
Em 1840, a humanidade começou a fazer uma coisa muito interessante:
mandar informações e mensagens complexas em grandes distâncias, em
pouquíssimo tempo.
15 palavras por minuto conseguiam ser transmitidas entre Nova York e
Londres (antes, uma carta demorava cerca de 12 dias para ser transmitida
pelo Atlântico).
Governantes começaram a ter noção do que acontecia em tempo real,
pessoas conseguiam mandar comunicações complexas em pouquíssimo tempo.
Até a Western Union surgiu para transferir dinheiro entre pessoas em
regiões (ou países) distantes. Foi o telegrafo que permitiu que a era da
comunicação começasse.
10 – O CARRO
Até o final do século XIX, o principal meio de locomoção humano era o
cavalo. As cidades eram verticalizadas e você precisava fazer
praticamente tudo a pé. Uma viagem curta entre uma cidade e outra
demorava dias e a maioria das pessoas não saía de um raio de 200
quilômetros de onde elas tinham nascido.
O carro surgiu e mudou essa lógica completamente, principalmente nos
países desenvolvidos (como os Estados Unidos) – depois da adoção dos
primeiros carros populares, como o Ford T. As cidades passaram a ser
mais horizontais e as pessoas começaram a fazer deslocamentos cada vez
maiores.
Carro de competição (foto: Spencer Davis on Unsplash)
11 – PENICILINA
Alexander Fleming descobriu a penicilina por acaso, mas acabou
mudando toda a humanidade por conta disso, em 1928. Os antibióticos
formaram o primeiro tratamento eficaz contra uma série de doenças.
Isso permitiu um aumento significativo da população humana no século
XX e a cura de várias doenças. Os antibióticos avançaram e muito o
desenvolvimento da medicina.
12 – TRANSISTORES
A criação dos transistores na década de 1940 foi fundamental para que
tivéssemos uma revolução de eletrônica nas próximas décadas.
Computadores, televisões, celulares, tudo veio por conta dos
transistores inventados por John Bardeen e Walter Houser Brattain.
Ele é altamente usado em todo tipo de indústria, até em geladeiras
(inclusive, substituiu sistemas mecânicos dentro destas e as barateou na
segunda metade do século XX).
Transistores estão presentes em todos os eletrônicos e permitiram que
a tecnologia realizasse grandes saltos nas últimas décadas. Sem
transistores, você não estaria lendo esta matéria (apenas se o StartSe
fosse uma revista impressa).
13 – A INTERNET
A última grande invenção desta lista é o que você está vendo agora: a
internet. Uma rede que junta milhares de computadores, celulares,
aparelhos de televisão, videogames…
Não é preciso nem falar quantas coisas mudaram na sua vida desde que a
internet foi inventada na década de 60 e popularizada para uso civil na
década de 90. Você começou a trocar correspondência digital (e-mail),
começou a comprar sem sair de casa, falar com os amigos. Até fotos bobas
com frases de efeito você começou a ver por causa da internet.
E AGORA, PARA ONDE ESTAMOS CAMINHANDO?
FANS TOKENS DA VALEON
Os Clubes de Futebol no Brasil e no Mundo estão alinhados fora de
campo e estão investindo em inovação e no mercado de criptoativos, mais
especificamente as Fans Tokens que são moedas digitais chamadas de CHILIZ(CHZ).
A novidade é atribuir um valor de ativo financeiro a um produto com o
qual o fã cria relacionamentos e experiências com o Clube de Futebol e
que antes era apenas um serviço sem valor de revenda ou de valorização
desse ativo. As Fans Tokens ajudam os clubes a melhorar a parte financeira.
Assim como nenhum elemento do marketing faz nada sozinho, não só em clubes, mas em qualquer empresa, as Fans Tokens
também precisam ter a imagem trabalhada para chegar ao consumidor de
forma clara, oferecendo algo que seja palatável e legível ao torcedor,
ou seja, as pessoas precisam entender do que se trata este ativo digital
para poder consumi-lo.
Como toda inovação, as Fans tokens ainda estão numa
fase inicial e todos nós estamos aprendendo com elas. Não podemos perder
de foco é que a tecnologia não pode ser o fim, a tecnologia é
simplesmente o meio e é a chave para o engajamento e temos que
compreender que a tecnologia pode gerar lucro, construir operações
sustentáveis, proteger a integridade da concorrência, desenvolver
multiplataformas e muito mais.
Engajar os fãs não é algo exclusivo do esporte. Pelo contrário, todas
as marcas querem encantar seus consumidores e engajá-los das mais
variadas formas. Descobrir essas formas é uma das muitas atividades de
quem trabalha com comportamento do consumidor.
Em marketing, podemos definir o engajamento do cliente como os
comportamentos espontâneos, interativos e cocriativos do consumidor,
principalmente em trocas não transacionais entre consumidor e empresa
para atingir seus objetivos individuais e sociais.
Em outro contexto, porém, podemos pensar no engajamento como um
estado de espírito motivacional relacionado à marca e dependente do
contexto de um cliente, caracterizado por níveis específicos de
atividade cognitiva, emocional e comportamental nas interações da marca.
E, nesse aspecto, surge um fator importante: como os consumidores
engajados fornecem referências e recomendações para produtos
específicos, o engajamento do cliente é um elemento-chave nas
estratégias das empresas para o desenvolvimento de soluções, de novos
produtos e retenção de clientes. É aqui que surge a ideia da
monetização.
A Startup Valeon cria as FANS TOKENS VALEON para premiar
uma enorme comunidade de consumidores que utilizam as redes sociais,
que são o nosso público-alvo, que são as pessoas que achamos que podem
realmente se beneficiar do nosso produto que é a Plataforma Comercial
Marketplace Valeon e muitas vezes não possuem o conhecimento básico de
como o nosso produto funciona.
As Fans Tokens são para aqueles que não querem
apenas ser espectadores, mas para aqueles que desejam ter um papel mais
ativo na comunidade das redes sociais.
A tokenização fornece novas maneiras inspiradoras de
classificar valor, criando novos ativos ou reinventado os tradicionais,
abrindo portas para melhoria de processos totalmente novos, fluxos de
receitas e envolvimento dos clientes com novas oportunidades.
Pensando nisso, a Startup Valeon através do seu Site, aposta na
possibilidade de trazer o consumidor que pode estar longe ou não conhece
a Valeon para perto da gente e ainda ser nosso colaborador participando
ativamente do nosso desenvolvimento, gerando transformações e tendo o
direito de fornecer conhecimentos específicos para o desenvolvimento do
Site.
Valor do Fan Token Valeon = R$ 1,00
Solicitamos a colaboração dos consumidores do Vale do Aço
para as oportunidades de influenciarem em algumas decisões do nosso
dia-a-dia e quanto maior o peso de suas opiniões, mais Fan Tokens irá
ganhar.
1 – Você pode auxiliar no desenvolvimento do nosso Site Valeon verificando alguma possibilidade de melhoria nele.
Prêmio: 50 Fan Token Valeon
2 – As Empresas, Serviços e Profissionais que desejarem
participar aderindo suas Publicidades e Propagandas ao Site Valeon terão
descontos.
Prêmio: 30% na mensalidade
3 – Sugestões de Internautas que queiram incluir ÁLBUNS DE MÚSICAS de até 150 MB NA COLEÇÃO DE MÚSICAS do Site Valeon.
Artigo Por Charles C. W. Cooke – Gazeta do Povo The National Review
Estátua de Shakespeare: autor também será censurado?| Foto: Pixabay
Começaram com Roald Dahl. Agora estão atrás de Ian Fleming. Posso perguntar quem será o próximo? William Shakespeare, talvez?
“Isso não vai acontecer!”, eu já até ouço você retrucar. Mas bem, por
que não? Certamente, o trabalho de Shakespeare é extraordinariamente
conhecido. Mas o trabalho de Dahl também é. E o de Fleming também. E,
além disso, é justamente o próprio fato de que nossa sociedade está
familiarizada com um determinado conjunto de obras que faz com que os
totalitários queiram, em primeiro lugar, expurgar essas obras. Há um
toque quase evangélico nos “leitores sensíveis” literários – em última
instância, eles acreditam que estão salvando almas – e quanto mais amplo
for o público leitor, mais almas serão salvas. Assim como Ian Fleming,
Roald Dahl foi um dos alvos porque seus livros continuam populares. As
pessoas os leem, se lembram deles, são sensibilizados por eles. Em um
mundo em que as palavras são consideradas violência, isto não basta.
Por isso, volto a perguntar: Por que não começar a censurar Shakespeare então?
Ao contrário de Dahl e Fleming, Shakespeare já tem seus direitos
autorais abertos, o que significa que qualquer pessoa pode publicar seu
trabalho da forma que desejar, mais ou menos reescrito. Mas seria
ingênuo supor que isto mudará alguma coisa no desejo dos obscurantistas.
Em nenhum outro lugar a longa marcha através de nossas instituições
teve mais sucesso do que nas artes e na educação, e se, como tanto na
editora Puffin como na Ian Fleming Publications Ltd., os poderes
determinarem que o catálogo de Shakespeare poderia muito bem contar com
uma Edição Aprovada, essa Edição Aprovada logo se tornará a norma
aplicada sem nenhuma piedade em nossas universidades, teatros e assim
por diante. A última vez que tentaram fazer isso, falharam. Da próxima
vez – quando toda a força do establishment esquerdista for colocado
diretamente a favor dos vândalos – não falhará.
Diz-se frequentemente que Shakespeare tem um personagem para todos,
e, infelizmente, isto também se aplica a nossos maravilhosos árbitros de
gosto. O Caliban de “A Tempestade” é descrito na lista de personagens
da peça como “um escravo selvagem e deformado”. No texto principal da
peça, é descrito como um “bezerro da lua” e uma figura que “não foi
honrada com uma forma humana”. Isso é aceitável? “Otelo” inclui todo
tipo de calúnias raciais: Iago diz a Brabantio que “um velho carneiro
negro / está enganando sua ovelha branca”, avisa que “você terá sua
filha coberta com um cavalo bárbaro”, e propõe que há algo de “não
natural” sobre a falta de interesse de Desdemona em casar com um homem
“de seu próprio clima, tez e grau”, enquanto Brabantio acredita que sua
filha deve ter sido “encantada” com “encantos sujos” para, “apesar da
natureza”, ter consentido em “se apaixonar pelo que ela temia ver!”.
Esta linguagem “sensível” é apropriada? E o que dizer de “O Mercador de
Veneza”, que é construído em torno de um personagem judeu chamado
Shylock, que não só manuseia seu dinheiro para empréstimo comercial com
uso de termos desagradáveis, mas que é convertido ao cristianismo no
final da peça? Será que o Caliban é mal compreendido pelo público
moderno? Talvez. Será que as calúnias em “Otelo” serão incluídas de
forma descritiva, como em “Huckleberry Finn”? Talvez. Shakespeare foi de
fato solidário com Shylock, como seu inquérito seminal poderia sugerir:
“Se você nos cortar, não sangramos”? É possível que sim. Alguma dessas
coisas teve importância depois do começo do pânico moral? Não, não teve.
É possível encontrar material “não-inclusivo” em todo a obra canônica
de Shakespeare. ‘Henrique IV’ está repleto de piadas sobre gordos que
fazem com que aquela removida da Matilda de Dahl pareça positivamente
inocente. Exemplos: “Quanto tempo faz, Jack, desde que você viu seu
próprio joelho?”; “Estas mentiras são como o pai que as gera; nojentas
como uma montanha” e “Esta prensa-cama, este quebra-cama, esta enorme
colina de carne”.
Visto de uma perspectiva particular, ‘Macbeth’ reforça o estereótipo
misógino de que por trás de cada homem culpado, há uma mulher (neste
caso, não só Lady Macbeth, a “rainha-feiticeira”, mas as três bruxas
também) que o manipulou para realizar seus esquemas covardes. ‘Ricardo
III’ reescreve a história da Inglaterra para reforçar uma caricatura
“capaz” de malevolência. ‘Júlio César’ ressalta e justifica a violência
política. E se eu continuar, a lista vai ficar imensa.
Se isso tudo lhe parece bastante ridículo, fique certo de que
concordo de todo coração. Eu simplesmente faço esta pergunta na
esperança de que me digam onde está o limite. Se formos considerar o que
nossos autoproclamados “leitores sensíveis” apontam, não posso
discernir nenhuma razão básica para que Shakespeare seja poupado do
tratamento que tem sido administrado a Roald Dahl e Ian Fleming. A nova
versão de “Os pestes”, de Dahl, remove uma referência a um “queixo
duplo”; a nova edição de “James e o pêssego gigante” muda “um daqueles
rostos flácidos brancos, como se tivessem sido cozidos” para “um rosto
que parecia um grande repolho cozido”; e a palavra “gordo” foi expurgada
de cada um de seus livros. Por que, me digam, isso está além do
shakespeariano “saco de manto recheado de tripas”?
O mesmo vale para a raça. Todas as referências de Dahl a “preto” e
“branco” foram removidas – o manto de uma das personagens não é mais
“preto”, e os personagens não ficam mais “brancos de medo” – enquanto
muitas das descrições arcaicas das minorias de Ian Fleming foram
eliminadas. Shakespeare é de alguma forma diferente? Em “Otelo”, o
personagem que dá título ao livro é obcecado pela pele branca de sua
esposa (“Não colocarei uma cicatriz naquela pele mais branca do que a
neve”) e conscientemente associa seu próprio comportamento assassino à
escuridão (“Levanta-te, vingança negra, do inferno vazio!”). Devemos
acreditar que estas ideias destroem o prazer dos leitores de Dahl e
Fleming, mas não de Shakespeare? E, se sim, por quê?
Impasse na base Governo isola Congresso em debate de regra fiscal e aprovação deve ficar para 2.º semestre
Por Rodolfo Costa e Por Sílvio Ribas – Gazeta do Povo Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, isolou o Congresso na
formulação de sua proposta de âncora fiscal, e aprovação da medida pode
ficar para o segundo semestre.| Foto: Washington Costa/Ascom/MF
O
governo federal isolou o Congresso na formulação de sua proposta de
âncora fiscal e pode pagar politicamente o preço disso. O ministro da
Fazenda, Fernando Haddad (PT), surpreendeu parlamentares após antecipar,
de abril para março, a apresentação do projeto de lei complementar
(PLP) que sugere a substituição do atual teto de gastos.
Líderes e vice-líderes partidários no Congresso desconhecem o teor da
proposta elaborada por Haddad. Embora seja uma prerrogativa da equipe
econômica de qualquer governo propor e enviar propostas sem um diálogo
aberto com parlamentares, lideranças políticas gostam de ser consultadas
e participar dos debates, sobretudo de pautas estruturantes como o novo
arcabouço fiscal.
O deputado federal José Nelto (PP-AL), vice-líder do partido na
Câmara, sustenta que seu líder, André Fufuca (MA), e outros líderes
partidários de legendas de centro e centro-direita não estão cientes do
teor da proposta, nem participam de reuniões com a equipe econômica. “A
não ser que esteja debatendo apenas com o seu partido, o PT, mas acho
que nem o PT participa deste debate”, diz.
Em conversas com outras lideranças da Câmara, Nelto entende que não
há entre congressistas um clima de indignação ou de animosidade em
relação à decisão do governo de afastar o Congresso do processo de
montagem da nova âncora fiscal. Mas classifica como um equívoco político
a postura adotada por Haddad e pelo Palácio do Planalto.
“No mínimo, o governo erra em não abrir esse debate antes. Isso
mostra que terá muita dificuldade em aprovar essa âncora fiscal”,
analisa Nelto. “Se ele já estivesse discutindo com lideranças do
Congresso Nacional, encontraria mais facilidade e diminuiria o prazo de
debate, tramitação e aprovação”, complementa.
Isolamento do Congresso pode anular sinalização de Haddad ao mercado A
surpresa gerada por Haddad a parlamentares ocorreu após uma fala em um
evento do banco BTG Pactual. “Nós vamos em março, provavelmente,
anunciar o que nós entendemos que seja a regra fiscal adequada para o
país”, anunciou em 15 de fevereiro. No mesmo evento, o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL) , alertou que “um texto radical para um lado
ou para outro não terá sucesso no plenário do Congresso”.
O cientista político Enrico Ribeiro, sócio-diretor da Consillium
Soluções Institucionais e Governamentais, avalia o comentário de Haddad
como uma clara sinalização ao mercado. “Concentrar o texto no Executivo e
na equipe econômica e antecipar a apresentação para março demonstra ao
mercado um compromisso do governo em manter a estabilidade fiscal
justamente em momento que serão discutidos o reajuste de servidores, o
início da reforma tributária e a questão dos combustíveis”, comenta.
Como a redação da PEC fura-teto exige do Planalto o envio ao
Congresso de um projeto de lei complementar para a instituição de um
novo regime fiscal responsável até 31 de agosto deste ano, a antecipação
do prazo para março reflete a expectativa de Haddad em receber uma
sinalização positiva do mercado, avalia Ribeiro. Como a discussão está
atrelada à reforma tributária, que a equipe econômica espera aprovar
ainda no primeiro semestre, o gesto do chefe da equipe econômica sugere
que o arcabouço fiscal também poderia ser aprovado nesse prazo.
Da mesma forma, a fala de Lira também pode ser interpretado como um
alerta ao governo. Ribeiro admite que, em parte, é perigosa a decisão da
equipe econômica de afastar o Congresso da elaboração do texto. “Não dá
ao governo uma previsibilidade daquilo que pode sair de antemão do
Congresso. Você trazer os parlamentares e as lideranças para discutir
antes de enviar é sempre de bom tom em um governo de coalizão, porque
permite criar as condições e ambientes mais favoráveis com celeridade e
certeza”, comenta. “Mas nada indica que o governo não vai fazer isso”,
acrescenta.
Sem participar do debate, congressistas analisam que a aprovação da
nova âncora fiscal pode ficar para o segundo semestre e,
consequentemente, anular as sinalizações de Haddad ao mercado. “Esse é
um debate amplo de 90 a 120 dias. Ele é um debate de 90 a 120 dias, em
que o Congresso vai se debruçar nesse projeto ouvindo a sociedade civil,
os economistas e governadores. O projeto terá um longo caminho a
percorrer”, avalia o deputado José Nelto.
O deputado Gilson Marques (Novo-SC) também entende que a aprovação da
proposta no Congresso fica para o segundo semestre. “Pela minha
experiência de uma reforma estruturante, como a da Previdência, como a
âncora fiscal está muito interligada à reforma tributária, não deve ter
tempo hábil para o primeiro semestre, apesar de ser o objetivo do
Bernard Appy [secretário do Ministério da Fazenda]. Mas imagino que seja
possível no segundo semestre”, diz.
Como fica a tramitação da nova âncora fiscal no Congresso Nacional Em
razão de o governo deter a iniciativa da proposta, o deputado Celso
Sabino (União Brasil-PA) avalia com naturalidade a decisão em
restringir, formular e organizar os termos e textos do novo arcabouço
fiscal baseado na análise de seus técnicos. Da mesma forma, ele sustenta
que será uma prerrogativa do Parlamento discutir a matéria no seu
tempo.
“Por óbvio, também verei com uma naturalidade ainda maior de que o
texto, quando começar a ser debatido no Congresso, seja maturado,
reexaminado e aperfeiçoado pelos congressistas nas comissões pertinentes
ou com grupo de trabalho, se porventura o presidente da Câmara entender
que seja essa a melhor forma de tramitação, ou através de análise por
um relator que, nesse caso, com certeza vai ouvir todas as lideranças
partidárias”, avalia.
Presidente da Comissão Mista do Orçamento (CMO) em 2022, Sabino
destaca que um provável aperfeiçoamento é natural do processo
legislativo. “Temos inúmeros casos e exemplo de propostas que foram
enviadas pelo governo e sofreram alterações aos olhos do Congresso para
aperfeiçoar a proposta”, destaca.
O deputado José Nelto reforça que a tramitação da proposta no
Congresso poderia ser encurtada se Haddad promovesse uma abertura do
diálogo junto aos líderes. “Sem nenhum debate e consulta prévia ao
Parlamento, teremos que nos debruçar e trabalhar dobrado”, diz. “Vamos
examinar ponto a ponto e chamar os setores da sociedade para um debate
amplo, com a abertura de audiências públicas para fazer o melhor para o
Brasil em uma matéria que vai receber centenas de emendas”, complementa.
Senadores demonstram ceticismo em relação à hipótese de uma
tramitação rápida do novo arcabouço fiscal. A maioria dos consultados
pela Gazeta do Povo preferiu nem emitir opinião neste momento sobre o
tema. Além de a proposta começar a ser avaliada pelos deputados, que
poderão fazer alterações, também pesa sobre o ânimo o desconhecimento
sobre as linhas gerais. Assim, dizem alguns senadores, fica difícil
prever quais desdobramentos a proposta terá.
“Trata-se de um assunto complexo que precisa ser discutido de forma
exaustiva pelo Congresso, sem nenhum açodamento. O ministro da Fazenda
ventilou a possibilidade de aprovação do arcabouço fiscal em abril, mas
não tem nenhum sentido”, observa o senador Plínio Valério (PSDB-AM). Ele
estranha o fato existirem apostas de aprovação rápida antes mesmo de o
projeto ter sido enviado ao Congresso. “Além disso, quando o texto
estiver tramitando no Legislativo, nós, deputados e senadores, poderemos
fazer mudanças e revisões no texto”, pondera.
Há ainda senadores que entendem, desde agora, que a definição final
de uma nova âncora fiscal consumirá um período prolongado de debates no
Parlamento até mesmo em razão de possíveis polêmicas que trouxer junto.
“O atual governo dificilmente irá enviar uma regra melhor que o teto de
gastos. Apesar de ter sido desrespeitado em momentos de crise grave, o
teto sempre foi confiável. Penso que o PT buscará um arcabouço sem
parâmetros rígidos e que permita todo tipo de gastos acima do Orçamento
sem riscos legais para o governo”, avalia Carlos Viana (Podemos-MG).
Centralização do debate da nova âncora fiscal reflete falta de maioria Lideranças
no Congresso atribuem a decisão do governo de controlar o processo de
formulação da nova âncora fiscal à ausência de uma maioria consolidada
nas duas Casas. “Acho que estão esperando ter uma maioria negociada,
comprada e convencida para, depois, apresentar uma coisa interessante”,
analisa o deputado Gilson Marques. “Eles não querem arriscar divulgar
algo para não ‘apanhar’ à toa. Vão segurar tudo como estão segurando
para, quando tiver segurança, apresentar as ideias idiotas deles”,
acrescenta.
Descrente da hipótese de que o governo apresentará uma âncora fiscal
superior ao atual teto de gastos e crítico da relação entre governo e os
partidos políticos do Congresso, Marques entende que o atual período é
“previsível” em meio ao início de um governo e uma nova legislatura.
“Essa fase de extorsão legal ou ilegal, moral ou imoral, deve estar
acontecendo e não se sabe a qual preço, demora um pouco mesmo”, avalia.
O deputado José Nelto discorda das críticas de Marques sobre a
relação entre o governo e Congresso, mas admite que o Executivo não tem
maioria na Câmara e concorda com a análise de que, sem uma base
consolidada, a tendência é de o Planalto afastar os líderes do debate da
nova âncora fiscal.
“Eu acho que o governo poderá e irá construir [uma maioria], mas
ainda não tem, e ele sabe disso”, afirma. “Pelo que eu tenho contato na
Câmara, a indicação dos ministros não representa os deputados. O governo
vai ter que construir a maioria de grão em grão. Os deputados não estão
dando a menor bola para os atuais ministros”, complementa.
A Gazeta do Povo informou em janeiro que existe um sentimento de
desprestígio na Câmara após a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) em priorizar indicações do Senado na composição ministerial
de seu governo.
“O governo está atrasado na construção da base, mas teve o carnaval e
os atos da ‘intentona golpista’ de 8 de janeiro, que tomou muito fôlego
e atenção [do Planalto e Congresso]. Mas acredito que, a partir de
desta semana, já vamos nos debruçar na formação das comissões e aí o ano
começa de vez”, diz Nelto.
O sentimento de que o fim do carnaval possibilita o avanço de
negociações entre a Câmara e o governo é destacado pelo cientista
político Enrico Ribeiro ao ponderar sobre as chances de tramitação e
aprovação da nova âncora fiscal. “O governo deixou o componente político
[de discussão da matéria] para o Congresso. É uma forma de negociar e
tentar a aprovação, claro que com mais custos e com maior incerteza
sobre aquilo que vai ser aprovado”, comenta.
O analista político discorda, porém, da visão de que o governo não
tenha maioria para aprovar a nova âncora fiscal, uma vez que, por ser um
projeto de lei complementar, é necessária maioria absoluta nas duas
Casas, ou seja, de 257 deputados e 41 senadores. Ribeiro entende que o
governo tem isso na Câmara e no Senado.
“É muito cedo para falar que não tem apoio, voto, ou que só vai
mandar [o texto] quando tiver maioria”, avalia. Nos cálculos da
Consillium Soluções Institucionais e Governamentais, o governo tem uma
base potencial de 364 deputados e 51 senadores.
O cálculo leva em consideração a soma do que a consultoria classifica
como a base de apoio consistente, dos parlamentares que votam com o
governo independentemente de qualquer coisa, e da base de apoio
condicionado, que reúne congressistas que votam de acordo com a pauta ou
por acordos e negociações.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva.| Foto: EFE/André Borges
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a dizer nesta semana
que o governo vai recriar a política de preços mínimos e compras
governamentais de produtos agropecuários. No discurso durante o
lançamento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), o
presidente invocou a necessidade da mão forte do Estado para situações
de supersafra em que “às vezes, o companheiro não consegue sequer
retirar o dinheiro que investiu”.
Em vez de ferramentas como o seguro rural, Lula tem defendido
reiteradamente compras governamentais para assegurar que os companheiros
dos assentamentos do MST, por exemplo, recebam um preço diferenciado
dos valores do mercado.
”A gente vai garantir que se as pessoas produzirem não vão perder,
porque se produzirem em excesso, o governo vai comprar esse alimento
para que a gente distribua aonde precisa ser distribuído. E também a
gente vai voltar com a política de preço mínimo para garantir que as
pessoas que plantam não tenham prejuízo se houver uma supersafra. Por
que no Brasil é assim. Às vezes todo mundo planta, a colheita é muito
grande, o preço cai. E às vezes o companheiro não consegue sequer
retirar o dinheiro que investiu”, afirmou Lula.
Na mesma linha de pensamento, o presidente, quando ainda era
candidato, já havia defendido a volta dos estoques reguladores da Conab:
“Você pode fazer estoque e, fazendo estoque, controlar o preço. Vai
colocar mais produto no mercado quando o preço estiver alto”.
Programas de compras governamentais para incentivar a agricultura
familiar atendendo necessidades dos órgãos públicos, caso da merenda
escolar, são uma prática adotada país afora, sem maior repercussão na
lei da oferta e procura. No entanto, abrir as torneiras do Tesouro para
perpetuar a dependência estatal de assentados e pequenos produtores é
uma história diferente.
Estratagema para repassar recursos ao MST? O ex-deputado federal e
ex-presidente do Incra, Xico Graziano, vem alertando para a necessidade
de vigilância sobre esse gasto público.
“Preços mínimos são inaceitáveis frente à OMC, dentro dos acordos de
livre comércio estabelecidos. Eventualmente podem ser utilizados para
compras internas, em programas específicos, sem influência no mercado.
Normalmente eles premiam a ineficiência econômica ou, nesse caso,
agronômica, devido à baixa produtividade pelo uso deficiente de
tecnologia. Os socialistas, ou intervencionistas, adoram utilizar para
fazer suas traquinagens, sempre falando em nome de argumentos
altruístas”, afirma Graziano.
Professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ele alerta que
“provavelmente o PT vai utilizar esse artifício para, via Conab,
repassar dinheiro público do povo para o MST e seus comparsas. E vai
dizer que está defendendo a agricultura familiar”.
As declarações de Lula brigam também com lições ensinadas, a muito
custo, pelo histórico econômico recente da agropecuária brasileira.
Antes de se tornar potência global das commodities agrícolas, até os
anos 1970 o país era importador líquido de alimentos. O economista José
Pio Martins, que foi reitor da Universidade Positivo e já dirigiu uma
cooperativa em Londrina (PR), observa que a imposição de preços mínimos,
e mesmo o monopólio das compras governamentais, foi a regra por
décadas, em várias culturas agrícolas.
“Todo mundo tinha que vender o café para o governo. O Instituto
Brasileiro do Café (IBC) era um órgão estatal, com uma estrutura física
imensa, cheio de armazéns, funcionários e burocratas”, recorda.
Assim como o IBC para o café, existiu o Cetrin para o trigo, o
Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), e, por fim, a Cobal/Conab para os
mais diversos alimentos, como soja, feijão, milho, arroz. Mas a prática
chegou um ponto de insustentabilidade nos anos 1990.
Durante décadas, governo obrigou produtores a vender suas safras para órgãos estatais| Pixabay Gigantismo da Conab e toneladas de grãos estragados “Imagina
a Conab administrando 13 mil armazéns. Foi a maior tragédia. Era uma
vergonha. Feijão, soja, milho, são produtos que têm fungo, que podem
perecer muito rapidamente. O Brasil começou a perder milhões de
toneladas, porque a Conab não conseguia operar seus armazéns. Virou um
escândalo nacional no governo Collor”, relata Martins.
Nos anos seguintes, a Conab passou a fazer intervenções “hands-free”
no mercado, sem operar com estoques físicos. Se faltasse milho no
Nordeste, por exemplo, e estivesse sobrando no Mato Grosso, a companhia
oferecia um prêmio (subsídio ao frete) para que esse produto chegasse ao
suinocultor ou avicultor daquela região.
Com os avanços tecnológicos da agricultura brasileira, cada vez mais
competitiva globalmente, a companhia passou a atuar mais focada no
levantamento de safras e de estatísticas para subsídio às políticas
públicas, mantendo, também, a operação de compras governamentais de
apoio à agricultura familiar.
Pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), é redundante, mas
necessário dizer, a Conab só pode formar estoques quando os preços de
mercado estão abaixo dos mínimos. Uma operação desnecessária no contexto
das cotações das commodities agrícolas dos últimos anos.
“O governo não tem o que comprar, não tem o que formar de estoque.
Por que se ele entrar comprando, vai aquecer ainda mais os preços de
mercado. Então, não faz sentido”, disse recentemente à Gazeta do Povo
Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da
Agricultura.
No passado, conta movimento do BC garantia dinheiro de “saco sem fundo” Para
o economista Pio Martins, a política de preços mínimos em larga escala
só existiu porque, por décadas, até meados dos anos 1980, o governo
tinha uma “conta movimento” em nome do Tesouro Nacional que permitia
emitir dinheiro sem qualquer lastro.
“O Banco do Brasil, e depois o Banco Central, pagavam tudo que o
governo gastava, todas as bobagens que fazia, todos os déficits. Quando
explodiu a hiperinflação em 1985, com Dilson Funaro e Sarney, eles
concluíram que aquela conta movimento era a maior responsável pela
fabricação de dinheiro – e dinheiro em economia é qualquer coisa que
serve como meio de pagamento. E aí disseram: não pode mais ter isso. Por
que essa política de preço mínimo, de garantir 13 mil armazéns da Conab
com produtos agrícolas que o governo comprou, só funcionava quando
havia liberdade completa para o governo emitir dinheiro”, explica.
Na realidade atual, para tornar os pequenos produtores
autossuficientes, seria mais produtivo centrar esforços, e
investimentos, em profissionalizar a gestão das propriedades. Na
avaliação do consultor da Markestrat José Carlos de Lima Júnior,
ferramentas como o seguro rural, que cresceu muito nos últimos anos,
ainda são utilizadas por uma parcela reduzida de produtores.
“Nesse momento deveríamos profissionalizar a gestão, e não ficar
criando meios para que o produtor simplesmente não se preocupe em ver
outros mecanismos à sua disposição”, sublinha.
Economista José Pio Martins| Agência FIEP-PR Política de compra mantém produtor dependente do governo O
problema, também, pode estar em conceitos ideológicos equivocados. “A
economia é como o motor de um carro. Ela é mecânica. O motor do carro
tem uma lógica sem a qual ele não funciona. Não tem carro de esquerda ou
carro de direita. É um pouco isso”, destaca Pio Martins.
“Em vez de trabalharem para tornar o produtor pouco alfabetizado
independente, eles querem torná-lo dependente do governo, de uma
política pública da proteção estatal. Dependente que o governo compre a
produção. É uma política para eternizar a dependência”, lamenta.
Muita coisa, contudo, deve permanecer no campo da retórica. A
avaliação é de que nem mesmo Lula espera que levem a sério tudo o que
diz, como o suposto retorno dos estoques reguladores. “É aquela história
do ‘ouvi cantar o galo, mas não sei onde’. Estão cantando o galo por
aí, mas na hora do vamos ver, é difícil”, diz uma fonte que já atuou no
Ministério da Agricultura.
O economista Pio Martins, por sua vez, é direto: “Em Licença para
Matar [filme], tinha uma frase de que todo mundo que matar alguém é
criminoso, você mete um processo. Menos o James Bond. Pois o Lula “tem
licença para matar”. Ele fala o que ele quer. Ninguém cobra coerência,
inteligência, nível intelectual de qualquer locução do Lula. Ele vai
falando, vai criando esses factoides”.
O perigo, alerta, é de que “como o governo é louco o suficiente”,
pode ser que um factoide desses vire realidade. E numa escala
prejudicial ao país. Como já aconteceu.
Américas Via Caribe, China tenta minar apoio a Taiwan e poder do Ocidente
Por Fábio Galão – Gazeta do Povo
O ditador chinês, Xi Jinping: Pequim tem interesse especial na
região porque cinco dos 14 países que mantêm relações diplomáticas com
Taiwan são caribenhos| Foto: EFE/EPA/XINHUA/JU PENG
Os tentáculos
da China se espalham pela América do Sul, como comprovam a implantação
de uma estação espacial na província argentina de Neuquén, estrutura que
os Estados Unidos suspeitam que tenha objetivos militares, e o acordo
de livre comércio que está sendo costurado com o Uruguai.
Entretanto, as Américas têm outro ponto estratégico por meio do qual
Pequim tenta minar a influência global americana: o Caribe. Um relatório
do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos apontou
que o comércio caribenho com a China passou de US$ 1 bilhão para US$ 8
bilhões por ano entre 2002 e 2019.
Além disso, investimentos chineses no Caribe ocorrem em diversas
áreas, como agricultura, indústria, mineração, turismo e tecnologia, mas
principalmente em energia e infraestrutura, áreas nas quais aplicou
mais de US$ 7 bilhões de 2005 a 2020. Dez países caribenhos participam
da Nova Rota da Seda, o projeto chinês de investimentos em
infraestrutura em todo o mundo.
Entre os projetos chineses para a região, estão um porto de águas
profundas nas Bahamas, uma obra de US$ 3 bilhões que está sendo
construída a 88 quilômetros da costa americana, e um parque industrial
de US$ 6 bilhões na Jamaica.
A parceria se estende ao soft power: os países caribenhos possuem dez
das 45 filiais na América Latina e no Caribe do Instituto Confúcio,
destinado a difundir a cultura chinesa.
Na área de segurança, a China fez doações de equipamentos militares
ou de policiamento para Guiana, Jamaica e Trinidad e Tobago, e
participou da missão de paz da ONU no Haiti entre 2004 e 2012.
Como Pequim não costuma fazer nada sem segundas intenções, fica a
pergunta: por que a segunda economia do mundo investe numa das regiões
mais pobres do planeta?
O primeiro ponto é ideológico, já que a China tem ligações históricas
com o regime comunista de Cuba, o primeiro governo da região a
reconhecer diplomaticamente a República Popular da China, embora durante
a Guerra Fria essa relação nunca tenha sido muito intensa devido à
ruptura entre Pequim e a União Soviética, então principal aliada do
castrismo.
Hoje, Cuba recebe investimentos chineses em áreas como
telecomunicações, energia e mineração e as ditaduras mantêm uma relação
baseada no compartilhamento dos ideais comunistas.
“Cuba é altamente dependente da China e os desafios econômicos
contínuos resultaram na renegociação de uma dívida estimada em US$ 4
bilhões com a China em 2011 e outra reestruturação em 2015”, apontou o
relatório da Câmara dos EUA.
O segundo ponto é a facilidade maior para influenciar governos locais em comparação com outras regiões.
“Em contraste com as nações maiores da América do Sul, os pequenos
tamanhos dos Estados caribenhos e as capacidades mais limitadas de seus
governos criaram maiores oportunidades para a China e suas empresas
influenciarem as elites governamentais e empresariais por meio de
grandes projetos e, nesse processo, obterem uma influência [política]
significativa”, afirmou Evan Ellis, professor e pesquisador sobre
América Latina no Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra
do Exército dos Estados Unidos, em recente artigo publicado pelo site
Infobae.
Cerco a Taiwan Uma preocupação central é aumentar o isolamento a
Taiwan, ilha que possui um governo autônomo desde 1949, mas que Pequim
considera parte do seu território e planeja incorporar.
Dos 14 países que mantêm relações diplomáticas com Taiwan, cinco
estão localizados no Caribe: Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, São
Cristóvão e Neves, Haiti e Belize.
A ideia de Pequim é utilizar poder político e econômico para
pressionar os governos desses países a deixarem de reconhecer Taipei.
“No Caribe, o Haiti pode ser vulnerável à mudança de reconhecimento,
já que políticos importantes que substituiriam o presidente Ariel Henry
no caso de uma transição democrática manifestaram interesse em fazer
negócios com a China”, pontuou Ellis.
Em 2018, após pressão chinesa, a República Dominicana deixou de
reconhecer Taiwan, repetindo o que o Panamá havia feito no ano anterior.
A República Dominicana apontou na ocasião em comunicado que “reconhece
que existe apenas uma China e Taiwan é uma parte inalienável do
território chinês” e que o estabelecimento de laços diplomáticos com
Pequim seria “extraordinariamente positivo para o futuro do nosso país”.
Em 2021, a Guiana encerrou as negociações para um acordo comercial com os taiwaneses também devido à pressão chinesa.
Entretanto, as ambições políticas chinesas no Caribe parecem ir além
da questão de Taiwan e também visariam o desgaste do Ocidente.
Em 2021, quando Barbados cortou laços com a coroa britânica, o então
presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento do Reino Unido
(e hoje ministro da Segurança), Tom Tugendhat, afirmou que “a China tem
usado investimentos em infraestrutura e diplomacia sobre dívida
[externa] como meio de controle” no país caribenho e em outras nações.
“Algumas ilhas parecem estar perto de trocar uma rainha simbólica em
Windsor por um imperador real e exigente em Pequim”, disparou Tugendhat à
época.
Para Evan Ellis, os Estados Unidos precisam rever suas políticas
direcionadas ao Caribe, pregando com mais ênfase os ideais de
“democracia, economia dominada pelo setor privado, prevalência do Estado
de Direito e proteção dos direitos individuais” não apenas pelo bem
desses países, mas pela própria sobrevivência americana.
“No caso de uma guerra entre os Estados Unidos e os chineses, a
presença comercial da China, as operações portuárias e sua influência de
base econômica no Caribe podem assumir importância adicional,
apresentando oportunidades para os serviços de inteligência ou unidades
militares chinesas observarem e interromperem operações de implantação e
manutenção [de forças militares] centradas na Ásia, ou mesmo realizar
operações para entrar e/ou atacar o território continental dos Estados
Unidos”, alertou o pesquisador.
Novas alíquotas de tributos que incidem sobre a gasolina e o
etanol passaram a valer a partir de quarta (1º).| Foto: Tânia
Rêgo/Agência Brasil
Desde quarta-feira a gasolina está mais cara. O senador Rogério
Marinho lembrou que a tributação está atingindo 35 milhões de
proprietários de motos – a maioria usa a moto para o trabalho, para
levar criança à escola ou para ganhar a vida como entregador ou
mototáxi. Muitos usam a moto esportivamente, mas não são a maioria.
Marinho ainda calcula que 1,5 milhão de taxistas e motoristas de Uber
também estão pagando mais pela gasolina e pelo álcool, que foi menos
afetado.
Digo isso porque vejo muitos colegas dizendo que só o proprietário do
carro será afetado. Não é assim; vejam o caso dos veículos de entrega
na cidade, tudo isso influencia na cadeia econômica. E o pior é que
ainda há efeito no valor das ações e dos dividendos da Petrobras, porque
o governo está tentando pressionar a empresa a rever sua política de
preços; aí entra a politicagem, e não a administração técnica da
petroleira estatal brasileira.
VEJA TAMBÉM: Governo não controla gastos e volta a taxar os combustíveis Vamos pagar mais pela gasolina para custear um Estado inchado Lula não perde uma chance de mostrar que não entende nada de economia
Gilmar Mendes precisará tirar dinheiro do bolso para pagar indenização Um
fato inédito: o ministro do STF Gilmar Mendes foi condenado a pagar uma
indenização de R$ 50 mil, por danos morais, ao jurista Modesto
Carvalhosa. E desta vez não seremos nós, os contribuintes, que vamos
pagar; não será o Estado brasileiro, não será a União, como costumava
acontecer. Será o senhor Gilmar Ferreira Mendes, que tem CPF, que é
pessoa física. A decisão unânime, por 5 a 0, foi de uma turma do
Tribunal de Justiça de São Paulo. A ação de Modesto Carvalhosa se refere
a duas referências a ele feitas uma na televisão, em entrevista do
ministro, e outra no Supremo. É essa mania de falar fora dos autos e de
fazer julgamentos, porque Gilmar chegou a dizer que tinha cheiro de
corrupção um acordo no âmbito da Lava Jato, com a Petrobras e clientes
de Carvalhosa, e então ele foi processado. Os R$ 50 mil serão doados à
Santa Casa de Misericórdia.
MST ataca propriedades e Lula ataca quem “come demais” O MST está
aterrorizando muitos lugares do país. Passamos quatro anos praticamente
sem nenhuma invasão, e agora os sem-terra se soltaram, talvez na
confiança de que o governo será leniente. O direito de propriedade está
na mesma linha da Constituição em que está o direito à vida; é uma
cláusula pétrea, é bom que lembremos disso. Aliás, o chefe do governo,
na terça-feira, fez uma declaração se queixando de que estamos
produzindo e comendo alimentos demais. Deus do céu, os alimentos que o
Brasil produz além da conta, além do necessário, são exportados e ajudam
a economia brasileira, o balanço de pagamentos, a balança comercial,
dão emprego, movimentam a agroindústria, o transporte, a economia. Esse
excesso de que o presidente se queixou, que tem gente que come demais, é
uma questão médica, porque comer demais faz mal, mas ele está levando
isso para o lado político.