quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

INFELICIDADE NO MERCADO DE TRABALHO COMO RECUPERAR

 

Tomás Camargos, sócio-fundador da VIK

Pandemia, Síndrome de Burnout, desmotivação, infelicidade no ambiente de trabalho, alto índice de depressão, esses foram temas em alta nos últimos meses, mas com algumas medidas é possível reverter esses cenários; especialistas listam dicas.

O último ano foi marcado por muitos debates sobre a infelicidade no mercado de trabalho. Um dos temas recorrentes foi a crescente nos casos de Síndrome de Burnout, em pessoas que extrapolavam as horas de trabalho em home office. O transtorno que é causado pelo esgotamento físico e mental, devido a rotina de trabalho exaustiva, é um exemplo de como as empresas precisam se reinventar para não prejudicar os colaboradores e até sua presença no mercado. Outros temas debatidos também foram o aumento do turnover nas empresas, além do estresse e problemas com sono/concentração devido a pandemia.

Em meio às mudanças na vida profissional e pessoal, se adaptar pode se tornar um processo difícil e doloroso e que também pode trazer danos para a autoestima. Para se ter ideia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), em onze países, o Brasil lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia. De acordo com o estudo, o país é o que mais tem casos de ansiedade (63%) e depressão (59%). Números como esses mostram como a saúde mental dos brasileiros foi afetada durante a pandemia.

De acordo com Tomás Camargos, sócio-fundador da VIK – startup que nasceu para ajudar as empresas a melhorarem a saúde de seus colaboradores, implementando um programa que visa transformar a vida das pessoas e o resultado das corporações -, as empresas devem enxergar a saúde como um investimento e não como uma linha de custo para a empresa. “As boas organizações precisam investir no bem-estar dos membros da equipe para evitarem, futuramente, gastarem com doenças causadas pelo sedentarismo e estresse, por exemplo. Isso também permite com que elas diminuam consideravelmente os custos das organizações com plano de saúde, absenteísmo e baixa produtividade. No Brasil. este movimento vem acontecendo, em que a preocupação com a saúde está cada vez mais consciente e estratégica para as corporações”, revela.

Para a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, sentir-se bem tem sido um desafio para muitas pessoas e colaboradores nessa fase de pandemia. “As frustrações comprometeram até mesmo a autoestima, já que muitas pessoas não conseguiram realizar os projetos que tinham planejado. Esse aumento nos casos de depressão e ansiedade se deram também por conta das mudanças drásticas na rotina, além de todo o medo e incerteza que vieram junto. Às pessoas ficaram com as emoções à flor da pele, o que prejudica o equilíbrio e contribui para a baixa autoestima”, explica.

Abaixo, os especialistas listam 15 dicas para recuperar a autoestima no trabalho. Confira:

1 – Faça amigos no trabalho: ter uma amizade no trabalho torna os colaboradores mais engajados e felizes. Isso é o que diz uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup que revela a importância de ter um melhor amigo no ambiente profissional. “Muitas vezes, com a correria do dia a dia, as empresas deixam de lado o incentivo para que as equipes se conheçam, uma das formas de mudar esse cenário é optar por programas de gamificação que levem engajamento, saúde e socialização entre os colaboradores”, indica Camargos.

Para ele, é possível incentivar essa relação de amizade por meio de atividades físicas. “Durante o programa corporativo de saúde e integração desenvolvido pela VIK, por exemplo, os colaboradores de uma determinada empresa participam de uma competição virtual de atividade física, por meio de um sistema gamificado e suas atividades físicas aparecem em um ranking que funciona como uma rede social saudável. O programa gera um movimento interessante, as pessoas começam a conversar em torno de um assunto prazeroso e, naturalmente, as relações são suavizadas ao longo do período”, explica.

2 – Procure por grupos de Networking: é possível fazer parte de grupos online ou presenciais em uma região. “Além de possibilitar conhecer novas pessoas, todos estão abertos para conversar e melhorar suas habilidades. Nessas reuniões, também é possível treinar a desenvoltura, comportamento e abordagens”, sugere Mara Leme Martins, PhD. Psicóloga e VP BNI Brasil – Business Network Internationa,

3 – Saia da zona de conforto e converse com novas pessoas: quando se trata de networking, é importante falar com as pessoas e pensar em maneiras criativas de construir o seu negócio. “Dedique tempo aos relacionamentos que você já tem. Estenda a mão e pergunte se as pessoas estão bem, se há algo que você pode fazer para ajudá-las”, explica Mara Leme Martins, PhD. Psicóloga e VP BNI Brasil – Business Network International.

4 – Cuidados com sua saúde física e mental: o Brasil é um dos países mais sedentários da América Latina. Segundo uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quase metade dos brasileiros – 47% – não praticam exercícios suficientes para manter o corpo saudável. Outro dado alarmante é sobre a saúde mental da população, já que o país tem o maior índice de prevalência da doença na América Latina. As empresas podem ajudar a transformar os hábitos e a rotina dos funcionários. “É fundamental que os líderes pensem no impacto da saúde no potencial humano e a importância da implementação de programas de saúde/qualidade de vida para os colaboradores. Por isso, devem disponibilizar momentos de lazer, atividades físicas em grupo, meditação e confraternização”, aconselha Camargos.

Além da mudança na prática de atividade física e no sedentarismo, a implementação de programas de humanização afeta outros setores da vida dos colaboradores. “Percebemos as transformações de hábitos nos participantes mais conscientes quando se trata de nutrição, álcool, cigarro, diminuição do estresse e melhora no sono/concentração”, conta Tomás.

5 – Faça terapia: a falta de autoestima pode ser uma ponte para quadros de ansiedade, medos, fobias e até para depressão. “Procurar um profissional pode ser necessário e ajuda no sentido de fazer com que o paciente entre no processo de autoconhecimento, trazendo mais segurança e autonomia para sua vida. Além disso, contribui no controle das emoções, fortalecendo a autoconfiança e autoaceitação. Existem abordagens e técnicas bastante eficazes que podem ser a chave para a melhora do bem-estar emocional da pessoa”, explica Vanessa Gebrim.

6 – Seja agradável: desenvolver a simpatia ajuda a abrir portas no networking. Estar aberto para conversar ou expressar essa vontade ajuda muito no primeiro contato e a quebrar o gelo. “Uma ótima oportunidade para desenvolver esse ponto é participar de alguns grupos ou reuniões de empreendedores”, sugere Mara Leme Martins.

7 – Ouça o que os outros dizem: saber ouvir e compartilhar é fundamental para vencer a timidez. “O ambiente do BNI é norteado pelo compartilhamento de recursos. Esses podem ser de ordem material ou imaterial, como talentos, habilidades, conhecimentos, informações, contatos, saberes, experiências e tantas outras riquezas que todos temos. Colaborar é um movimento natural do ser humano, que tem prazer em se colocar à serviço do todo, ao contrário do que fomos levados a acreditar”, aconselha Mara.

8 – Esteja alinhado com o propósito da empresa em que trabalha: de acordo com uma pesquisa realizada pela Sodexo Benefícios e Incentivos, 53,8% dos brasileiros acreditam que seu propósito de vida está conectado com seu trabalho atual. “Mais do que um salário alto e benefícios, os colaboradores querem se sentir uma parte fundamental da empresa. Hoje, vida pessoal e profissional estão interligadas, somos uma mesma pessoa”, acrescenta Camargos.

As corporações que não se adaptarem vão ser ultrapassadas. “As startups são a prova de como esse cenário mudou, ninguém quer mais passar horas sentado no escritório, sem um momento de interação ou com roupas sociais desconfortáveis. As pessoas procuram qualidade de vida, horários flexíveis e experiências novas”, finaliza Camargos.

9. Se olhe e se entenda: é importante entender que tudo o que a pessoa fizer que, de alguma forma, contribua para que ela se orgulhe de si, a ajudará a fortalecer sua autoestima. “Quando a pessoa está focada em seus aspectos negativos, a insegurança certamente estará presente em sua rotina e relacionamentos. Dentro do processo de autoconhecimento, a pessoa aprende a gerenciar suas emoções e desenvolve sentimentos positivos sobre si e sobre o mundo”, conclui a psicóloga Vanessa Gebrim.

10. Lei da Reciprocidade: é importante ter a visão de que a confiança colaborativa é a moeda mais valiosa nos negócios – nos relacionamentos e na vida. O marketing de referência e indicações nunca foram tão importantes quanto nos dias de hoje, em que as empresas precisam conquistar novos clientes, presencialmente ou remotamente, para não colocar em risco a sua operação.

“Os empreendedores, sendo tímidos ou não, precisam aprender os benefícios da filosofia “Givers Gain”, ou seja, “Se eu lhe ajudar indicando negócios, você vai se interessar em me ajudar também”. “É a Lei da Reciprocidade em ação no mundo dos negócios”, conclui Mara Leme Martins.

11 – Procure uma rede de mulheres empreendedoras: começar algo novo sempre é difícil, mas quando se tem apoio e com quem contar no caminho, as coisas acabam se tornando um pouco mais fáceis. “O Mulheres Aceleradas, por exemplo, é uma comunidade para mulheres que já empreendem e também para as que desejam começar a empreender. Não importa a região em que a empresária está, ela pode fazer parte. A plataforma tem o interesse genuíno em oferecer ajuda a essas mulheres, aproveitando os meus conhecimentos técnicos e experiência na área. O objetivo é fazer com que elas percebam que têm com quem contar e que não precisam trilhar esse caminho cheio de desafios sozinhas”, explica a mentora de negócios e empreendedora Larissa DeLucca, CEO da Negócios Acelerados e fundadora da plataforma Mulheres Aceleradas.

12 – Tenha confiança no seu trabalho: é fato que não se pode negar a realidade do preconceito e machismo contra mulheres e mães no mercado de trabalho atual. “Não deveria ser assim, mas é a realidade, para se destacar a mulher tem que ser tecnicamente muito melhor qualificada do que qualquer homem que exerça a sua mesma função e ainda ter garra para dar conta, com mestria das suas duplas e, às vezes, triplas jornadas de trabalho. Mas na minha visão, o principal é ser uma profissional focada em resultados. Se o resultado final do seu trabalho é acima da média, isso vai ser o seu cartão de visitas”, diz a empreendedora.

13. Não tenha medo de falhar: as outras pessoas, muitas vezes, costumam desencorajar as mulheres a seguirem seus sonhos e montar seu próprio negócio. Mas é preciso contrariá-los, confiar no seu potencial e deixar o medo de lado para seguir em frente. “Quando se começa um negócio novo, é normal ter medo de falhar e, em alguns momentos, de não fazer um bom trabalho. O que não pode acontecer é deixar com que esse medo te paralise. Errar em alguns momentos faz parte da jornada, o mais importante é continuar estudando e aprendendo para não cometer os mesmos erros e ir melhorando nos pontos que costuma ter uma maior dificuldade”, complementa a mentora de negócios e empreendedora Larissa DeLucca.

COMO DEVEM SER OS PARCEIROS NOS NEGÓCIOS

 

“Parceiros chegam de várias formas. Se juntam por diferentes motivos”.

Eu sei, é clichê, rss. E se a frase fosse minha eu acrescentaria: “O que eles tem em comum é o fato de acreditarem no que nós acreditamos”.

Parceria é a arte de administrar conflitos de interesses e conexões de interesses, visando resultados benéficos para ambas as empresas”.

É por isso que eu costumo comparar parceria com casamento. Quem é casado sabe que administrar conflitos é fundamental para ambos terem resultados nessa aliança.

Assim como no casamento, o parceiro não precisa ser igual a nós, mas tem que ter o nosso ‘jeitão’! Nas parcerias eu defendo que o parceiro precisa ter o DNA de inovação, a inquietude pra sair da zona de conforto e uma preocupação muito grande com o cliente, não apenas no discurso, mas na prática. É claro que no processo de análise do possível parceiro, nós avaliamos o potencial financeiro e de escala da aliança, a estrutura e o tamanho da empresa. Mas, tem um fator humano que não pode ser desconsiderado, já que empresas são, na sua essência, pessoas. É por isso, que normalmente, os parceiros   são empresas formadas por pessoas do bem, pessoas com propósito, que tem tanto o caráter quanto a lealdade de continuar de mãos dadas, mesmo nos momentos mais difíceis. É como um casamento mesmo!

É importante também que os parceiros tenham know how e competências complementares, que potencializem nossas fragilidades e deem mais peso aos nossos pontos fortes. E como eu acredito que o primeiro approach de uma boa parceria acontece no plano humano (onde existe emoção), e não no corporativo, eu gosto muito da histórica da parceria entre Steve Jobs Steve Wozniak. Os dois Steves tornaram-se amigos durante um emprego de verão em 1970. Woz estava ocupado construindo um computador e Jobs viu o potencial para vendê-lo. Em uma entrevista de 2006 ao Seattle Times, Woz, explicou:

“Eu só estava fazendo algo em que era muito bom, e a única coisa que eu era bom acabou por ser a coisa que ia mudar o mundo… Steve (Jobs) pensava muito além. Quando eu projetava coisas boas, às vezes ele dizia: ‘Nós podemos vender isso’. E nós vendíamos mesmo. Ele estava pensando em como criar uma empresa, mas talvez ele estivesse mesmo pensando: ‘Como eu posso mudar o mundo?’”.

Por que essa parceria deu certo? Habilidades e competências complementares.

As habilidades técnicas de Woz juntamente com a visão de Jobs fizeram dos dois a parceria perfeita nos negócios.

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

INVASÃO DE BRASÍLIA NÃO FOI UM ATO TERRORISTA

 

Artigo

Por
Davidson Abreu – Gazeta do Povo


Imagem ilustrativa. | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/EFE

George Orwell já alertava sobre isso no espetacular 1984, quando ele retratou o Ministério da Verdade, o duplipensar e a novilíngua. O ministério da Verdade escolhia o que era verdade, de acordo com os interesses temporais do governo, que podiam mudar a qualquer momento. O duplipensar era um subtipo de lavagem cerebral na qual fazia com que os cidadãos aceitassem duas ideias contraditórias em suas mentes como se fosse verdade, obviamente valia para alguns momentos e não para outros, ou pessoas. E a novilíngua alterava o sentido das palavras para a conveniência do governo.

O livro 1984 é uma crítica direta ao regime soviético, e essas práticas se espalharam pelos regimes comunistas e hoje foram adotadas pelos socialistas tanto em ditaduras como nas democracias. Ótimos exemplos são as narrativas do que é fake news, dos conceitos de democracia (palavra adotada até como nome oficial de ditaduras, como República Popular Democrática da Coreia), conceito de fascismo (que se tornou um mero xingamento), palavras como “esclarecer” entre tantas outras, consideradas por alguns malucos como racistas, ainda que sua origem nada tenha a ver com raça. Essa estratégia está sendo aplicada assiduamente pela esquerda no ocidente nos últimos 20 anos e vemos mais acirrada agora no Brasil.

Igualar manifestantes, ainda que vândalos baderneiros, com terroristas é desproporcional, não reflete a realidade e irá criar mais precedentes para que isso seja utilizado a favor do governo contra seus opositores.

Pará aqueles que pensavam que a alteração do idioma, substituição de palavras e de significado eram apenas bobagens insignificantes de militantes, estavam muito enganados. A alteração da linguagem impede ou direciona o pensamento, é uma estratégia conhecida de domínio social e que se amplia para o campo legislativo, junto com o duplipensar e Ministério da Verdade, irá servir para perseguir e até prender opositores. Ou alguém se lembra da mídia atacar Lula quando chamou as “mulheres de grelo duro” entre outras tantas demonstrações de machismo, preconceitos ou no mínimo falta de respeito? Há dezenas de exemplos desse duplo padrão.

Hoje vemos a maior arma sendo aplicada: a Lei 13.260, de 2016, conhecida como antiterrorismo. A lei reformulou o conceito de organização terrorista. Não vou esmiuçar o conteúdo legal, contudo, é interessante observar o que diz o Art. 2º em seu §2º: “O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei” – grifo meu.

Mesmo que parlamentares tenham tentado impedir essa redação, a esquerda insistiu nesse teor a fim de que movimentos de esquerda tradicionalmente violentos como o MST, não fossem alcançados pela lei. Parece que toda a imprensa, com exceção do jornalista Diogo Schelp, ignorou isso. O mínimo que se esperava da mídia era que soubessem dessa lei e não chamassem os manifestantes do dia 8 de terroristas.

Ainda que a lei contemplasse motivação política – o que seria óbvio, pois a maioria dos atentados terroristas são políticos – não caberia chamar os manifestantes de terroristas. Antes que algum progressista mais sensível arranque os cabelos, isso não quer dizer que eles não cometeram crimes, como depredações do patrimônio público, pichação, incêndio, furto, lesão corporal entre outros. Talvez também se enquadrem nas penas previstas na Lei 14.197, mas não terrorismo.

Igualar manifestantes, ainda que vândalos baderneiros, com terroristas é desproporcional, não reflete a realidade, não atinge o objetivo e irá criar mais precedentes para que isso seja utilizado a favor do governo contra seus opositores, seja um governo de direita ou de esquerda. Não irá tardar para que a esquerda faça o mesmo ou pior, como historicamente faz.

Os países e seus cidadãos que já sofreram com o terrorismo, não utilizam a terminologia em vão; da mesma forma que o povo judeu não acusa descabidamente as pessoas de nazistas, pois sabe que a banalização é a forma de ignorarem os reais males que fanáticos são capazes de cometa. Os atos de terror são aqueles capazes de provocar medo generalizado na sociedade, alterando o cotidiano, impedindo direta ou indiretamente a liberdade, desorganizando a sociedade.

Os meios utilizados costumam ser cruéis, como acionamento de explosivos em locais de aglomeração pública, envenenamento da rede de distribuição de água, execuções, sabotagem em sistemas ferroviários, sequestros. Há infindáveis relatos, documentos, reportagens e vídeos de verdadeiros atentados terroristas. Ou já se esqueceram das Torres Gêmeas?


A verdadeira ameaça à democracia liberal
Dias de fúria e o amanhã da democracia: precisamos de novos hábitos democráticos
Aliás, o Brasil passou por isso na década de 60 e 70, e muitos dos terroristas daquela época hoje  possuem hoje lugar de destaque na política e na sociedade, conquistaram até indenizações, por incrível que isso possa parecer. Nos anos 2000, São Paulo também viveu momentos de terror por atos deflagrados pelo Primeiro Comando da Capital. Bombas foram colocadas em fóruns, policiais assassinados, ônibus incendiados, determinado toque de recolher pelos criminosos.

Comparar os acontecimentos do dia 8 de janeiro com atos terroristas como os citados é, no mínimo, um desrespeito com quem foi vítima deles. Qual a capacidade daqueles baderneiros de desorganizar a sociedade? De causar temor ao restante do país? De conseguir qualquer coisa em concreto contra a União? Devem sim ser punidos pelos crimes que cometeram, mas não serem alvos de uma perseguição política que atende a alguns anseios, esses sim, nada democráticos.

Outra observação importante foi a clara inobservância dos direitos civis e penais aos presos. E isso está sendo ignorado. Não houve individualização de conduta nem advogados presentes, e houve até crianças detidas com adultos. Quando uma emissora justificou ser algo que nunca havia ocorrido (mentira) e que isso foi uma exceção necessária, então caracteriza medida de exceção, seria então um Estado de Exceção? Qualquer pessoa minimamente isenta, sabe exatamente qual o cenário que está surgindo, e muito velozmente. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Davidson Abreu é analista de Segurança Pública, bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas, professor, escritor e palestrante. É autor do livro “Tolerância Zero”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/deturpacao-palavras-terrorista-oito-janeiro-brasilia-tres-poderes-vandalismo/
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TEMOS UM PROCESSO REVOLUCIONÁRIO DESDE O ANO 2013

 

Artigo
Não há pacificação no horizonte
Por
Eduardo Matos de Alencar, especial para a Gazeta do Povo


Nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 e 2016, em pelo menos dois momentos o país viu massas que totalizaram quase 3 milhões de pessoas em mais de 100 cidades| Foto: EFE/ Sebastião Moreira

No dia 31 de janeiro de 2023, um homem de identidade ainda não relevada ateou fogo ao próprio corpo no gramado central da Esplanada dos Ministérios. Segundo testemunhas, o ato teria sido praticado em manifestação contra as ações do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos seus pertences, foram encontrados panfletos de cunho político nos pertences do homem, incluindo imagens de Nelson Mandela, Johann Georg Elser e Claus von Stauffenberg, os dois últimos conhecidos por tentar matar Adolf Hitler.

Em mais de um sentido, o caso guarda semelhança com outro fato da história política contemporânea. Mohamed Bouazizi era um jovem tunisiano de 26 anos, que sustentava uma grande família vendendo frutas e legumes na rua. Um dia, saiu de casa com seu carrinho de mão, mas foi abordado por policiais que exigiram propina para liberar sua mercadoria. Diante da recusa, os agentes apreenderam os produtos do jovem e o agrediram. Bouazizi foi até à sede do governo local para tentar reaver seus pertences, mas o governador não aceitou recebe-lo. Então, comprou um latão de gasolina, jogou o combustível sobre si e acendeu um fósforo.

O ato desesperado de Bouzizi ocorreu no dia 17 de dezembro de 2010, desencadeando uma forte onda de protestos no país. Apenas nove dias depois de sua morte, o autocrata militar que presidia a Tunísia fugiu do país. Os protestos logo se se alastraram por vários países do Oriente Médio e do Norte da África. Resultaram em revoluções na Tunísia e no Egito, guerra civil na Líbia e na Síria, afetando a ordem política de mais de uma dezena de nações.

Contudo, as semelhanças entre os dois eventos parecem se esgotar na morte de seus protagonistas. Pouco mais de 10 dias depois do suicídio pirotécnico em Brasília, não se viu um único protesto nas ruas do país. O caso foi pouco comentado pela mídia e sequer se tornou tema de discursos eloquentes no Congresso. Os poucos que puxaram algum debate a respeito do caso, na esquerda ou na direita, não encontraram muita ressonância nas redes sociais.

Em um país que vem sendo abalado há quase uma década por grandes manifestações de rua, fica uma pergunta inevitável: por quê?

A hipótese do fim de um ciclo
O nível de apatia com que o suicídio de Brasília foi recebido avivou ainda mais as esperanças no campo da esquerda de que a eleição de Lula marcaria um fim de ciclo de desordem política no país, iniciado com as Jornadas de Junho de 2013. Passando pela Operação Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff, esse ciclo teria culminado com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Eleito como um símbolo aglutinador de vários antagonismos que se encontravam represados na sociedade, na esteira de uma crise que teria desmoralizado os partidos políticos e as instituições republicanas, o ex-capitão não teria conseguido implementar uma agenda consistente de transformações institucionais, rompendo a lógica do sistema político brasileiro.

Assim, a revolta antissistema que tomou conta da sociedade teria encontrado na resistência ao governo Bolsonaro, principalmente da parte das Cortes, o seu termidor. A eleição de Luís Inácio Lula da Silva em outubro marcaria, então, um retorno progressivo da normalidade política do país, com a retomada das antigas práticas do presidencialismo de coalizão em um processo de reapropriação do Poder pela classe política tradicional em consórcio com grandes veículos de imprensa e as instâncias superiores do Judiciário.  

O caminho natural dessa retomada já vinha se estabelecendo desde o governo Temer, com o enfraquecimento progressivo da Operação Lava Jato e a criação de barreiras institucionais para o avanço de novas investigações contra políticos e empresários poderosos.

Na próxima etapa do processo, seria então natural se esperar que o governo Lula, em conluio com a classe política e as Cortes, conseguisse implementar mecanismos eficazes de controle sobre as redes sociais, que anulassem o seu potencial disruptivo, incidindo diretamente na capacidade de organização de grandes massas urbanas, vistas como um risco perene para a ordem política estabelecida.

Depois, naturalmente, seria só uma questão de colocar os novos mecanismos de controle em operação, para anular agentes sistêmicos com potencial de ascensão política, incluindo o próprio Bolsonaro, que cedo ou tarde se tornaria inelegível ou mesmo condenado em alguns dos processos nos quais consta como denunciado.

Finalmente, o consórcio atualmente no poder teria a função última de inventar uma nova oposição ao petismo, uma nova direita permitida, que fosse até mesmo capaz de se alternar no poder, mas sem qualquer traço de ameaça ao status quo das instituições da Nova República.

2013: o ano que não terminou
Por mais que os sinais de apatia sejam evidentes, o problema com a hipótese de fim de ciclo reside no caráter de acidentalidade com a qual ela interpreta as mudanças ocorridas na sociedade brasileira nos últimos anos.

Entretanto, a crise política brasileira tem raízes mais profundas, que estão fora da imaginação política das elites que se apropriaram do poder nas últimas eleições. Iniciada em 2013, ela rompeu com a Pax Republicana instaurada desde a queda de Fernando Collor de Mello em 1991, expressando a necessidade de mudanças estruturais que a precária aliança que ora reina em Brasília não é capaz de conduzir, pelas suas próprias contradições internas.

Por que 2013? A resposta reside na eclosão das Jornadas de Junho, nas suas causas e consequências, que marcaram o fim do ciclo de estabilidade supracitado. Em menos de um mês, um governo Dilma que surfava em altos índices de popularidade, na casa dos 57% de aprovação, com inflação sob controlada (5,84%), desemprego baixo (4,3%) e perspectiva de crescimento do PIB na casa dos 2,3%, viu-se engolfado numa série de manifestações que levaram milhões de brasileiros para as ruas.

Os protestos iniciados contra o aumento de passagens em São Paulo se transformaram rapidamente numa revolta antissistêmica, sem liderança clara. Essa multidão, organizada a partir das redes sociais, com um padrão de comunicação direta por meio de smartphones e celulares, de repente se revelou portadora de uma dinâmica imprevisível e mesmo fora do controle das autoridades ou de corpos intermediários tradicionais do sistema político, como sindicatos, partidos políticos e organizações não-governamentais.

Tratava-se de uma massa não somente mais rápida, dinâmica e descentralizada do que as anteriores, mas de proporções gigantescas. Somente em 20 de junho, ao menos 1,5 milhão de pessoas, sendo 300 mil delas só no Rio, foram às ruas. Algumas aferições estimam 1 milhão de pessoas somente no RJ e 3 milhões de pessoas no mesmo dia. Entre 353 a 360 cidades assistiram manifestações naquele ano. Em 140 delas, houve protestos diários entre 17 e 29 de junho de 2013. Em São Paulo, ocorreram 1.001 protestos ao longo de 2013 e 714 em 2014.

Os efeitos que os protestos provocaram ultrapassaram a revogação dos aumentos de passagens. Amedrontados pela massa, os congressistas aprovaram o marco legal que possibilitou o início da Operação Lava Jato, já pouco menos de um ano depois. Ainda que fortemente abalada, Dilma Rousseff conseguiu levar a melhor num pleito duríssimo contra Aécio Neves, mas só para ver seu governo derreter sob o efeito consorciado das revelações das Operação Lava Jato, da deterioração econômica do país causada por uma política desastrosa e da eclosão de manifestações gigantescas pelo seu impeachment.

Depois das Jornadas de Junho de 2013, os protestos gigantescos, organizados de maneira descentralizada, pelo uso intensivo das redes sociais e dos smartphones, tornaram-se uma constante da crise política nacional. Nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 e 2016, em pelo menos dois momentos o país viu massas que totalizaram quase 3 milhões de pessoas em mais de 100 cidades. As cenas da Paulista completamente lotada percorreram o mundo. Nas eleições de Bolsonaro, aglomerações urbanas se formaram em diversos rincões do país, com um nível de engajamento de apoiadores do Presidente dissociados de qualquer estrutura partidária ou associativa tradicional jamais visto. Nas manifestações do 7 de setembro de 2021 e depois na mesma data em 2022, contingentes análogos aos grandes eventos anteriores se concentraram na defesa do mandatário e num pedido difuso de radicalização, na maior manifestação de apoio popular que um Presidente da República já recebeu em toda a história nacional, superando até mesmo Getúlio Vargas.

As causas da crise
Existem causas para explicar 2013? O debate sobre causas na filosofia, na história e nas ciências sociais é longo, por vezes enfadonho. Eu tomo a liberdade de usar a expressão aqui no sentido comum daquilo que antecede uma coisa, sem a qual ela dificilmente existiria.

Nesse sentido, podemos pensar em alguns elementos que ajudam a entender 2013 e, portanto, a crise na qual o país se encontra. No plano material, há que se destacar o advento da internet, que chegou ao Brasil nos anos 1980, mas enfrentou grande expansão a partir dos anos 2000, com a banda larga chegando a 133,7 milhões de acessos em 2013.

O número de computadores e smartphones também subiu rapidamente na primeira década do século XXI. Em 2013, quase metade dos domicílios brasileiros já possuíam um computador, cerca de 48% dos brasileiros tinham acesso à internet e algo em torno de 130 milhões de pessoas possuíam um smartphone.

As primeiras redes sociais, por sua vez, chegaram ao Brasil já no final dos anos 1990 com o mIRC,. Em 2005 o Orkut ganhou sua primeira versão em português. Em 2008, seria a vez do Facebook. Sucessivamente, essas plataformas foram se tornando febre para um número de usuários sempre crescente. Em 2013, por exemplo, o Facebook apresentava cerca de 70 milhões de perfis ativos só no Brasil.

Esse contexto tecnológico enseja o advento de uma nova cultura, marcado pela democratização do acesso à informação, pela rapidez do que é disponibilizado, pela horizontalidade do conteúdo disponível e pela difusão de novos agentes produtores de conteúdo para fora da mídia, das universidades e das publicações tradicionais.

Por outro lado, é também uma cultura que estimula o debate e o confronto de opiniões. Ela é diferente, possui um outro tempo, se comparado com uma cultura marcada por jornais, partidos e sindicatos, cujo tempo entre a emissão e a resposta a uma informação era mais longo e mediado, possibilitando o apaziguamento de inúmeros antagonismos, muitos dos quais jamais chegavam a aflorar em público.

As redes sociais alimentam o ego, inflam o orgulho, expõem a estímulos contraditórios pesados de aceitação ou rejeição, provocam a ira, diminuem os espaços de silêncio e estimulam permanentemente a sensibilidade. Elas respondem pelo surgimento de um novo ethos político das massas.

Além disso, o algoritmo permite a formação de redes frouxamente articuladas de interesses em nível nacional e mesmo internacional. As antigas instâncias de mediação perdem sua importância para a formação do caráter e da personalidade dos indivíduos. Essa nova cultura, portanto, é um convite permanente ao faccionismo, à opinião fácil, à revolta, à indignação, à mobilização, à politização permanente da sociedade.

Por isso, o abalo de diferentes ordens políticas na mesma década, todas submetidas a essa nova revolução da informação, ainda mais revolucionária que a invenção da imprensa, do rádio e da televisão. No Brasil, há que se considerar sua associação com um movimento espiritual profundo, que inclui aspectos como a crise da Igreja Católica; a protestantização da sociedade, com toda sua cultura de autonomia, opiniosidade e valorização da prosperidade econômica; a desestruturação de milhões de famílias; e o engessamento de uma cultura hegemônica de esquerda nas universidades, na burocracia estatal e na grande mídia.

Particularidade brasileira

Porém, é fato que muitos outros países não sentiram o impacto de mudanças análogas na sua configuração social. Existem razões particulares para que o colapso tenha sido mais profundo por aqui. Na história das revoluções políticas, eventos de ruptura quase nunca decorrem de situações de privação prolongada. Resultam da revolta social e da anomia provocadas por um período de escassez ou perda de status quo que se segue a uma prosperidade limitada. É o que a economia chama de privação relativa.

A era petista, surfando na abertura do mercado nacional para o mundo globalizado e na estabilização econômica do Plano Real, é marcada pela propaganda em torno daquilo que se defendia como conquistas das políticas sociais e econômicas de Lula e Dilma. Em torno de 36 milhões de pessoas saíram da condição de miseráveis para a de dependentes de programas de transferência de renda. Cerca de 46 milhões ascenderam à chamada Classe C, tendo mais acesso a bens de consumo que foram barateados pela valorização da moeda, redução de impostos e políticas de financiamento de grandes empresas nacionais. O número de matrículas no ensino superior passou de 3,2 milhões em 2002 para mais de 7,1 milhões em 2014. Outros 2,5 milhões foram capacitados em programas de ensino técnico.

Essa geração de brasileiros viveu a promessa de um futuro brilhante, mas que esbarrava em problemas persistentes do cotidiano. As grandes metrópoles apresentavam sinais de colapso na sua infraestrutura de mobilidade urbana, principalmente com o aumento do número de carros em circulação. Nas regiões metropolitanas, quase 20% da população demorava mais de uma hora para ir de casa ao trabalho e vice-versa. Os serviços de saúde permaneciam de péssima qualidade. E a insegurança se apresentava para um entrave real para a prosperidade de milhões de pessoas.

Para completar, verificava-se um descompasso crescente entre a nova “geração de diplomados” e as necessidades do mercado de trabalho, de modo que muitos brasileiros viam seus sonhos de prosperidade se chocar contra a parede quando o diploma almejado não resultava em aumento correspondente de salário ou conquista de uma vaga condizente com sua formação.

Por outro lado, a cooptação do petismo de estruturas intermediárias que poderiam aumentar a capacidade de resposta do governo a essas demandas crescentes criou um gargalo importante de participação na própria juventude identificada pela esquerda. Em pouco tempo, partidos, sindicatos, movimentos sociais e organizações não governamentais passaram a ser vistas como estruturas a serviço do poder central, e não mais instâncias de mediação para a participação política e a canalização de demandas de grupos de pressão da sociedade.

Nas universidades, redações de jornais e demais aparelhos de cultura, a hegemonia do pensamento de esquerda decorrente da apropriação progressiva dessas instituições desde o regime militar, deu lugar a estruturas engessadas, marcadas pelo excesso de formalismo e pela falta de pluralidade, operando na lógica do compadrio e cada vez mais incapazes de apresentar contribuições originais do espírito. A politização crescente afasta os talentos mais inconformados e as almas mais criativas.

Inicialmente uma força capaz de organizar o próprio sentimento de insatisfação que insuflava na sociedade, o petismo vai perdendo contato com suas bases, um movimento que se iniciara já mais de uma década antes, com a desestruturação das chamadas Comunidades Eclesiais de Base (CEB) da Igreja Católica e do associativismo decorrente de sua ação na sociedade. Com a cooptação dos sindicatos e o aparelhamento das instituições produtoras de cultura, o partido se torna progressivamente dissociado dos movimentos mais profundos da sociedade brasileira.

Esse movimento remete a processos distantes, como é o caso da atuação do Papa João Paulo II em relação às CEBs, mas se intensifica durante o governo Lula, que, a partir do Mensalão em 2005, é forçado a se aproximar de maneira mais orgânica dos partidos tradicionais que compunham o sistema político brasileiro, afastando-se da construção do trabalho de base.

Esse sistema político, conhecido na literatura especializada como presidencialismo de coalizão, associa responsabilidades concentradas no Poder Executivo, dispositivos imperiais como as medidas provisórias, com forte dependência em relação ao Legislativo para composição do orçamento, execução de políticas públicas e mesmo nomeação de cargos estratégicos, forçando a formação de supermaiorias parlamentares para garantir a governabilidade.

O problema é que o caráter multipartidário do sistema e as eleições proporcionais facilitam a proliferação de legendas ideologicamente amorfas, por políticos eleitos no mais das vezes na troca de serviços que deveriam ser públicos por favores pessoais aos eleitores na ponta. Assim, para governar, o Presidente eleito é forçado a distribuir cargos, prebendas e fatias inteiras do orçamento a oligarcas regionais sempre muito ciosos de suas prerrogativas, que impõem um sistema hierárquico de vetos conforme as iniciativas prejudiquem este ou aquele interesse, impondo igualmente barreiras para o ingresso de novos membros, de modo a que a coalizão preserve seu poder de barganha.

Esse arranjo tende a atuar como força centrípeta da política, reduzindo-a ao máximo a operações de caráter meramente fisiológico e deslocando todos os antagonismos para negociações fechadas de bastidores, sendo o oposto, portanto, do espírito de revolta, participação popular e antagonismos que aflorou nas Jornadas de Junho de 2013.

Ironicamente, é interessante pensar que essa relação reproduz uma contradição já presente na Constituição de 1988, uma bricolagem que resultou de pressões distintas, sendo ao mesmo tempo a expressão de um Executivo enfraquecido, forçado a barganhar com as forças fisiológicas do Congresso para não ser anulado pelo Parlamento; de vetos das Forças Armadas; de controles impostos pelo chamado Centrão; do corporativismo sindical; e do convite à participação popular e de promessas de satisfação ilimitada da social democracia.

Tampouco se deve deixar de ter em mente que foi o caráter de imobilismo do sistema político em vigor que impediu a tentativa de setores do petismo de darem uma resposta mais radical aos eventos de 2013, barrando uma reforma constituinte e outros projetos de caráter chavista. Em um dos maiores plot twists da história nacional, os elementos mais imobilistas do sistema político nacional operaram como um garantidor da ordem, mas também como um elemento que alienava a esquerda dominante do controle das forças de rebelião que sempre estiveram sob sua égide.

Não se pode ignorar que isso teve grande impacto sobre o potencial de organização política de forças contra hegemônicas da nova direita, que encontraram inicialmente nas redes sociais e na internet canais preferenciais para sua afirmação na sociedade brasileira. Aqui, o trabalho do professor Olavo de Carvalho, como centro de uma verdadeira contrarrevolução cultural, teve importância tremenda principalmente no chamado trabalho do negativo, de quebra da legitimidade das instituições políticas que foram aparelhadas pela esquerda em conluio com as oligarquias do Centrão.

Nem tudo se desfaz
O que representa então 2013 para a história nacional recente? Quais são suas consequências? Em primeiro lugar, as Jornadas de Junho representam uma quebra da blindagem do sistema político brasileiro. As forças que eram antes mantidas sob controle pelo consórcio entre aparelhos de esquerda, grande imprensa e oligarquias políticas do Centrão encontram uma liberdade de expressão e auto-organização que tem na massa, no ajuntamento, a sua maior expressão de força e momentum formativo.

Assim, as lógicas particulares que regiam cada campo ou estrutura social se desfazem. De repente, as manifestações não funcionam mais em relação dialética dentro de um determinado campo, quando uma parte prejudicada se queixa, um intermediário canaliza essa queixa em protesto, o status quo reage, concedendo, subornando ou abafando, e o campo normaliza novamente. 2013 dessetorializa as disputas políticas e pulveriza tudo. Reduz tudo à massa, de certa forma.

Isso precipita uma evasão de cálculos dos atores políticos. O sistema não funciona mais de maneira azeitada como antes. Os inputs não produzem os outputs esperados. Os atores calculam errado suas ações e cometem erros por cima de erros, que só alimentam a crise. Lembremos que a Lava Jato só foi possível pela nova lei de organizações criminosas, que permitiu o instituto da delação premiada, tudo aprovado de maneira açodada no Senado, para dar resposta às Jornadas de Junho de 2013. O mesmo processo pode ser visto agora pelo esforço do STF e da classe política de abafar as redes sociais e controlar o seu impulso por meio da força, da operação de inquéritos ilegais e de uma estrutura de controle que não consegue dar conta do tamanho do problema com que estão lidando.

Essas respostas toscas só aceleram a desintermediação, a perda de legitimidade ou esgotamento das estruturas tradicionais de mediação, junto com o surgimento de formas ainda mais novas de associação. Primeiro, o Facebook parece peça chave para organização. Depois, os influenciadores de Youtube. Então, os grupos de Telegram. Daí começa algo a surgir no Tik Tok, no Rumble. E de repente já não sabemos se haverá muita gente ou não em determinado protesto, ou quando surgirá o próximo ajuntamento. Os centros se deslocam, personagens aparentemente centrais são rapidamente substituídas e deixadas de lado. Novos protestos abrem espaço para o surgimento de novos agentes revolucionários e formas renovadas de organização.

A imprevisibilidade e a incerteza estruturais se fazem sentir. Ninguém sabe mais minimamente como será o dia de amanhã. Não se sabe se haverá outro governo Bolsonaro, como ele será. Ou se o Lula será capaz de governar até o final do mandato. Ou se as massas irão assumir uma forma e uma identidade distinta nas próximas rodadas de manifestação. E muito menos se sabe quando e como o sistema político vai reagir, metendo os pés pelas mãos e gerando ainda mais imprevisibilidade e revolta.

Por isso, o que vemos é um momento de aceleração do tempo. As Jornadas de Junho parecem inaugurar um período em que os acontecimentos se sucedem freneticamente. As instituições vão perdendo progressivamente sua legitimidade. Os partidos políticos, os sindicatos, o Congresso, o STF, a Justiça. E essa perda vem acompanhada também da acomodação e estabilidade que elas permitiam. Há aqui uma equivalência com o tempo messiânico de São Paulo, o tempo em que tudo se ajunta e se precipita. Para usar de uma linguagem cara à teologia política, trata-se de um momento propício, em que novas formas sociais podem surgir, antigas estruturas podem rebentar e novos processos podem se sobrepor, sem acomodação provável no horizonte.

A eleição de Bolsonaro aparece como uma etapa desse processo. Para milhões de pessoas, o ex-presidente representa um símbolo aglutinador de antagonismos reprimidos. O seu governo equilibrava precariamente os interesses de militares, evangélicos, católicos tradicionais, agentes de segurança pública, empresários, liberais, agricultores, olavetes, entre outros elementos desprezados pelas instituições aparelhadas pela esquerda e engessadas pela lógica do sistema política. A resposta que dava a cada um deles nem sempre estava a contento, mas os pequenos avanços mantinham as expectativas de mudança domesticadas, como que a espera de uma resolução pacífica. A sua derrota em 2022, associada ao avanço dos mecanismos de controle sobre as massas urbanas, parecem sinalizar que as portas de mudança foram fechadas para a sociedade.

2013 terá encontrado seu termidor? Isto é, haverá um momento que esse ímpeto disruptivo será domesticado novamente? São perguntas difíceis de responder, mas é importante lembrar que nada se repete de fato na história. As massas que encontraram nos novos canais de mediação um locus para ação revolucionária não vão parar por um empurrão na direção contrária.

Na verdade, a censura tende a tornar agentes políticos mais inteligentes e criativos. Alienar pessoas da participação política sempre foi uma receita para a radicalização. Por isso, a tendência que se tem verificado desde que as Cortes começaram a atuar como agentes de controle político direto é a da adoção de novas formas de organização, pelo simples motivo que as demandas populares permanecem sendo ignoradas.

A apatia das massas atualmente está mais para um momento de refluxo. Após as manifestações desastrosas do último dia 8 de janeiro, parecem se ter chegado ao esgotamento de um modelo de resposta aos estímulos de um líder que fracassou enquanto promessa de mudança. A tendência é que esse caldo se misture e se adense durante algum tempo, para explodir em novas ondas mais à frente.

Eduardo Matos de Alencar é escritor, sociólogo e analista político. Autor do livro “De quem é o comando? — O desafio de governar uma prisão no Brasil”.

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FORTES CHUVAS DEVASTARAM O LITORAL NORTE DE SÃO PAULO

 

Chuva e terreno instável dificultam buscas
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Chuva mais intensa na história do país deixou rastro de destruição por todo o litoral norte de SP| Foto: Divulgação / Defesa Civil de SP

Mais de 600 homens da Polícia Militar, do Exército, Defesa Civil e prefeituras seguem nas buscas por sobreviventes dos deslizamentos que causaram devastação no litoral norte de São Paulo nos últimos três dias. Um total de 40 mortes foram confirmadas, 39 delas na cidade de São Sebastião. Há dezenas de casas soterradas sob a lama e as árvores que desceram das encostas. Cerca de 40 pessoas estão desaparecidas.

O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, coronel Henguel Ricardo Pereira, disse que o tempo instável dificulta as buscas. ” A nossa dificuldade é com o tempo. Contamos muito que a chuva dê uma trégua. Essa é a preocupação. As equipes de busca continuam trabalhando nos pés dos morros, se houver novos deslizamentos, além de comprometer as buscas, há um risco para quem está trabalhando no local. Outra dificuldade é o próprio volume de terra que desceu, que foi altíssimo. É um trabalho demorado, manual, pois os bombeiros têm que cavar até encontrar as pessoas”, disse Pereira em entrevista por telefone ao jornal O Globo.

Em poucas horas choveu na região acima de 600 mm, mais do que o dobro do previsto para o mês inteiro. Foi o maior registro de chuva em tão curto espaço de tempo na história do País, segundo o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden). Em Bertioga o acumulado entre sábado e domingo foi de 682 mm, enquanto São Sebastião registrou 626 mm. O recorde anterior tinha ocorrido no ano passado, em Petrópolis, com 530 mm de chuva em 24 horas, que deixou 241 mortos. Meteorologistas do Inmet avaliaram que houve uma combinação de fatores: o ar quente e úmido vindo da Amazônia encontrou um sistema de baixa pressão no oceano Atlântico, e, assim, a frente “estacionou” sobre a região de São Sebastião.

Governador Tarcísio de Freitas transferiu seu gabinete para a cidade de São Sebastião| Divulgação / Governo de SP

Muitos locais só podem ser acessados por helicóptero
Com as encostas saturadas de água, a paisagem verde das montanhas acabou sendo rasgada em inúmeros pontos pelo barro da terra deslizada, arrastando árvores, casas e carros. A tragédia fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interromper a folga de carnaval, no Sul da Bahia, para visitar de helicóptero a região atingida pelos deslizamentos. Em reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e com o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, Lula destacou o esforço conjunto para reagir à calamidade, o que, segundo ele, era algo que não se via há tempos, numa indireta ao antecessor.

“Essa parceria que nós estamos fazendo aqui é uma fotografia boa para nosso país. Eu não sei de que partido é o prefeito, eu sei de que partido é o Tarcísio, vocês sabem por qual partido eu disputei as eleições. Mas vejam que coisa bonita e simples: nós estamos juntos. Acabou a eleição. Ele [Tarcísio de Freitas] tem a obrigação de cuidar do estado de São Paulo, esse aqui [Felipe Augusto] tem a obrigação de governar a cidade e eu tenho a responsabilidade de governar o país. Se cada um ficar trabalhando sozinho, a nossa capacidade de rendimento é muito menor. E é por isso que precisamos estar juntos, de compartilhar as coisas boas e ruins, porque juntos nós seremos muito mais fortes e São Sebastião será recuperada muito mais rápido”, disse o presidente.

Bombeiros fazem escavações na Barra do Sahy| Reprodução / Polícia Militar de SP

Governo quer reconstrução longe das encostas
Lula anunciou que vai destinar recursos para reconstrução das casas destruídas, mas desde que isso aconteça em áreas seguras, longe das encostas. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que estava no Guarujá durante as chuvas, assegurou que há dinheiro imediato para ações de socorro do governo federal. “Temos R$ 400 milhões para atender o Brasil, lá na frente vamos ter que repor para atender outros municípios e estados. Mas a gente já tem dinheiro”, disse Tebet. A ministra também informou que serão liberados saques do FGTS para as famílias desabrigadas.

O governador de São Paulo disse que as equipes ainda lutavam para dimensionar o tamanho dos estragos. “É um volume de terra tão grande que se deslocou e numa extensão tão grande que a gente levanta até a hipótese de a rodovia ter sido arrastada juto, de a rodovia não existir mais”, afirmou. Ele pediu para os turistas não se arriscarem a tentar voltar para casa, devido aos riscos de novos deslizamentos e a vários trechos ainda interditados. O gabinete do governo paulista foi transferido pra São Sebastião. Além do município, estão sob decreto de calamidade pública as cidades de Ubatuba, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga.

Veja para onde direcionar doações

Os esforços para encontrar sobreviventes e resgatar pessoas ilhadas pela lama mobilizaram mais de uma dúzia de helicópteros. O governo de São Paulo pede que os donativos para os desabrigados sejam entregues nos depósitos do Fundo Social de São Paulo e da Defesa Civil. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse pelas redes sociais que determinou à Receita Federal que identifique bens apreendidos que possam ser úteis para as famílias atingidas: “São mais de R$ 11 milhões em roupas, calçados, itens de cama, mesa, banho, higiene pessoal, material de limpeza e utensílios de cozinha”, disse Haddad.

Veja quadro com orientações da Polícia Militar sobre como encaminhar as doações.

| Reprodução / Polícia Militar


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MILHÕES SÃO GASTOS PELOS PARLAMENTARES PARA A SUA AUTOPROMOÇÃO

 

Por
Lúcio Vaz

O ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, o presidente, durante café da manhã com jornalistas setoristas, no Palácio do Planalto.


o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, gastou muito com autopromoção| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Os deputados federais consumiram R$ 211 milhões em divulgação da atividade parlamentar – ou autopromação – no mandato de 2019 a 2022. Quarenta e cinco deputados gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação no ano passado. Entre eles estão o atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, Paulo Pimenta (PT-RS), e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR). Jéssica Salles (MDB-AC) torrou R$ 453 mil em divulgação (86% da verba) só em 2022.

Jéssica investiu R$ 1,4 milhão em divulgação das suas atividades durante o seu mandato. Nas eleições de 2022, fez 20,5 mil votos e não conseguiu a reeleição, mas ficou como suplente, ficando na 9º posição. Ela gastou R$ 453 mil em divulgação em 2020 – 86% dos R$ 524 mil gastos com a cota para o exercício do mandato – o “Cotão”.

A deputada investiu na produção e distribuição de material de divulgação do seu mandato em rádios e sites do interior do estado. Em alguns casos, foram feitos pagamentos diretos a esses veículos. A partir de junho, a deputada suspendeu os gastos com divulgação, mas gastou R$ 106 mil em outubro e R$ 94 mil em novembro, quando pagou R$ 50 mil pela impressão de 25 mil informativos de divulgação do seu mandato.

A maior despesa custeada com o “Cotão” no ano passado – R$ 546 mil – foi feita pela deputada Joenia Wapichana (REDE-RR), atual presidente da Funai. O seu maior gasto foi com passagem aérea – R$ 128 mil. Ela gastou R$ 115 mil com aluguel de veículos – cerca de R$ 10 mil por mês. Os carros mais utilizados foram o Toyota SW4 e o Amarok.

O deputado Bilac Pinto (União-MG) torrou em divulgação do mandato R$ 360 mil dos R$ 433 mil pagos pelo “Cotão” – 83% do total. Ele pagou R$ 30 mensais para uma empresa que produzia materiais para divulgação das atividades parlamentares do deputado em redes sociais e num website. Não foi reeleito. Marx Beltrão (PP-AL) investiu em divulgação R$ 332 mil dos R$ 462 usados. Foi reeleito.

Nota fiscal registra pagamentos à Rádio Juruá, no interior do Acre. Imagem: Arquivo da Câmara dos DeputadosVEJA TAMBÉM:
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A gastança dos petistas

O deputado Paulo Pimenta, hoje ministro da Comunicação Social, investiu muito em divulgação do seu mandato pelas redes sociais, principalmente no Twitter e no Facebook. Mas, em outubro, retomou uma antiga prática dos parlamentares. Gastou R$ 38,8 mil com a impressão de 50 mil jornais informativos para divulgar o seu mandato parlamentar.

Um dos contratos de Pimenta previa serviço de divulgação “com a finalidade de tirar fotos e fazer vídeos do deputado com prefeitos, vereadores, etc, para o Facebook”. Em outro, a finalidade era tirar fotos do deputado com prefeitos, vereadores e secretários da Região Metropolitana de Porto Alegre. Questionado pelo blog se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato, o ministro respondeu: “O recurso de divulgação de atividade parlamentar só pode ser utilizado para o mandato parlamentar”.

A deputada Gleisi gastou quase a metade da sua cota para o exercício do mandato com divulgação da atividade parlamentar. Foram R$ 244 mil com autopromoção para um total de R$ 446 mil gastos. Entre as suas despesas, estão R$ 45 mil para “publicidade no Facebook”. O blog apurou que, entre os maiores partidos, o PT foi quem utilizou o maior percentual do “Cotão” com divulgação – 26% do total. Oito deputados do PT gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação. Diante desses fatos, o blog perguntou se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato.

A presidente do PT respondeu: “O uso da cota da Câmara dos Deputados para divulgação das atividades dos parlamentares é previsto pelo Ato da Mesa nº 43/2009, que instituiu a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar. O artigo 2ª, inciso XII prevê a divulgação da atividade parlamentar. Diante disso, investimentos com comunicação são prestação de contas do mandato, de emendas destinadas aos municípios e instituições do Estado e de projetos apresentados, sendo legítimos e legalmente ressarcidos pelo Legislativo”.

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“Publicidade é inarredável”, diz Câmara
A Câmara proíbe a divulgação da atividade parlamentar no período de 120 dias anteriores à data das eleições. Mas informa que, de acordo com a Lei 9.504/97, que estabelece normas eleitorais, é possível a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não se mencione a possível candidatura ou se faça pedido de votos ou de apoio eleitoral.

Segundo a Câmara, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adota entendimento que “privilegia o princípio da publicidade”, não incidindo penalidade em caso de veiculação de informativo no qual o parlamentar divulgue suas atividades legislativas nos quatro meses que antecedem às eleições.

O Ato da Mesa da Câmara 20/2012 reduziu de 180 dias para 120 dias anteriores às eleições o prazo em que fica limitada a divulgação do mandato. “Desse modo, simplifica-se sobremaneira a sistemática legislativa que atende às eleições, além de propiciar aos deputados a observação do princípio da publicidade. A vantagem maior dessa alteração é assegurar aos cidadãos contribuintes o conhecimento e acompanhamento de todos os atos públicos praticados pelos deputados. A publicidade de tais atos, conforme o próprio nome atesta, é inarredável ao Parlamento”, registra o Ato 40/2012.

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Quem gastou mais com autopromoção

parlamentar total (R$ mil) divulgação (R$ mil) percentual
Jéssica Sales (MDB-AC) 524 453 86%
Bilac Pinto (União-MG) 433 360 83%
Marx Beltrão (PP-AL) 462 332 72%
Nelson Barbudo (PL-MT) 475 325 68%
Jaqueline Cassol (PP-RO) 532 298 56%
Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) 519 292 56%
Hélio Leite (União-PA) 488 286 59%
Gustavo Fruet (PDT-PR) 464 280 61%
Mara Rocha (MDB-AC) 521 271 52%
Ricardo da Karol (PDT-RJ) 418 269 64%
Pastor Gil (PL-MA) 505 266 53%
Carlos Bezerra (MDB-MT) 298 262 88%
Severino Pessoa (MDB-AL) 481 254 53%
Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB 504 251 50%
Igor Kannário (União-BA) 461 251 54%
Vander Loubet (PT-MS) 482 248 51%
Beto Faro (PT-PA) 493 248 50%
Ruy Carneiro (PSC-PB) 496 246 50%
Eduardo Costa (PSD-PA) 487 246 50%
Chiquinho Brazão (União-RJ) 429 246 57%
Prof Dayane Pimentel (União-BA) 471 244 52%
Glaustin da Fokus (PSC-G) 410 243 59%
Aline Gurgel (Republicanos-AP) 520 243 47%
Haroldo Cathedral (PSD-RO) 360 243 67%
Silvia Cristina (PL-RO) 495 242 49%
João Maia (PL-RN) 506 242 48%
Nicoletti (União-RR) 525 232 44%
Efraim Filho (União-PB) 442 227 51%
Gleisi Hoffmann (PT-PR) 466 223 48%
Julian Lemos (União-PB) 473 223 47%
Paulo Teixeira (PT-SP) 435 219 50%
Josivaldo JP (PSD-MA) 435 218 50%
AJ Albuquerque (PP-CE) 456 218 48%
Paulo Pimenta (PT-RS) 456 218 48%
Hugo Motta (Rep-PB) 487 217 45%
Rubens Pereira Júnior (PT-MA) 495 212 43%
José Nelto (PP-GO) 430 211 49%
Cássio Andrade (PSB-PA) 493 210 43%
Expedito Netto (PSD-RO) 510 208 41%
Luiz Antônio Corrêa (PP-RJ) 415 207 50%
Daniel Almeida (PCdoB-BA) 475 204 43%
Alexandre Padilha (PT-SP) 423 203 48%
Euclydes Pettersen (PSC-MG) 415 203 49%
Jenecias Noronha (PL-CE) 495 203 41%
Coronel Tadeu (PL-SP) 455 201 44%
Maiores gastos totais
parlamentar valor (R$ mil)
Joenia Wapichana (Rede-RR) 550
Jesus Sérgio (PDT-AC) 537
Jaqueline Cassol (PP-RO) 530
Shéridan (PSDB-RR) 528
Jéssica Sales (MDB-AC) 524
Nicoletti (União-RR) 523
Mara Rocha (MDB-AC) 520
José Ricardo PT-AM) 520
Heitor Freire (União-CE) 517
Ottaci Nascimento (Solidariedade-RR) 515
Leo de Brito (PT-AC) 515
Professora Marcivania (PCdoB-AP) 514
Edio Lopes (PL-RR) 514
Aline Gurgel (Republicanos-AP) 513
Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) 513
Expedito Netto (PSD-RO) 509
João Maia (PL-RN) 506
Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB) 501
Fonte: Câmara dos deputados

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EFEITO LULA - STF DECIDE IGNORAR QUEM PAGOU E RECEBEU PROPINA

Efeito Lula

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


| Foto: Divulgação STF

Queria começar esta coluna citando uma reportagem da Folha de São Paulo de ontem, cujo título é “Delação do fim do mundo acumula derrotas no STF sob efeito Lula e trava ações”. O Supremo Tribunal Federal tem bloqueado processos, que usam dados entregues pela Odebrecht, em acordo que impactou o meio político.

Não é a oposição que está contando isso. É a Folha de São Paulo. “O acordo de colaboração que chegou a ser apelidado de ‘delação do fim do mundo’ pelo seu impacto na política nacional agora tem sido gradualmente considerado inválido pelo Supremo, travando uma série de processos na Justiça. A partir de um precedente, que beneficiou o agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ordens do Tribunal têm declarado suspensas ações penais que tiveram como base dados do acordo de leniência da empreiteira Odebrecht.”

Quer dizer, a própria Odebrecht afirmou que pagou propina. Tem lá a lista, tem a contabilidade da propina. Teve muita gente que pegou dinheiro da Petrobras e devolveu. E isso está passando assim. Estamos consagrando aquele dito popular de que o Brasil é o país da impunidade. O Supremo começou a fazer isso por causa de Lula. Ou melhor, por causa de Jair Bolsonaro, por algum tipo de antipatia que se tinha por ele, e aí foi buscar uma solução e a gente está vendo isso. Fica aqui o registro da Folha de São Paulo.

No litoral, tragédia que se repete
O outro registro que eu quero fazer é dessa região do litoral norte de São Paulo, em que há mais de quarenta mortos. Eu vejo isso nos últimos sessenta anos, todos os anos, todo santo ano. Na mesma região, na mesma época, com as mesmas consequências, e isso se repete no ano seguinte. Ninguém aprende.

Só que quem fez alguma coisa foi o governador Carlos Lacerda, quando desabaram os morros no Rio de Janeiro. Se vocês andarem pela cidade, vão ver muita obra de engenharia de concreto segurando morro. E funcionou. Já em Angra dos Reis, Petrópolis, Mangaratiba, Teresópolis, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela… Tudo de novo. E morrendo gente, milhares de desabrigados, os políticos fazendo sempre grandes promessas. Só que se repete. Parece óbvio que, se for proibido erguer edificações em área de risco, de certa forma resolve. As casas não seriam tragadas pela lama. Se for possível segurar a lama, uma vez que não é possível segurar a chuva, de fazer desvio, fazer obras de engenharia, inclusive para proteger as rodovias, identificar todas as áreas de risco… Mas está aí o problema.

Carnaval em casa

O mesmo problema dos acidentes do Carnaval. A ponte que caiu lá no Rio Mampituba, na divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Uma ponte com capacidade pra dezesseis pessoas, segundo os bombeiros, tinha mais de cinquenta. Era uma ponte de pedestre. Tiroteio tem lá em Magé (RJ), violência, a pessoa não vai para o Carnaval para se divertir, brincar, dançar. Vai para brigar. Mas também não é de agora, não. Desde adolescente que vejo briga em Carnaval. E aí as pessoas estão cada vez mais se distanciando do que era uma festa muito popular brasileira. A maior parte das pessoas está ficando em casa. Até gostaria de ver alguma pesquisa de opinião para saber da população brasileira qual o percentual que vai para o Carnaval.


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