União Brasil, PP e Avante costuram acordo para ditar os rumos no Congresso
Por Rodolfo Costa – Gazeta do Povo Brasília
O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento, o presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do União Brasil, Luciano
Bivar: PP e União estão próximos de formar uma federação partidária|
Foto: Reprodução/YouTube.
O União Brasil, o Partido Progressistas
(PP) e o Avante encaminharam um acordo para se unirem em uma federação
partidária — espécie de união temporária entre partidos que dura um
prazo mínimo de quatro anos. As conversas estão avançadas e, caso se
concretizem, o bloco partidário se consolidaria como o maior do país,
com 115 deputados federais, 15 senadores, sete governadores e o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que está envolvido nas
negociações.
Além de Lira, participam das conversas os presidentes do União Brasil
e do PP, deputado Luciano Bivar (PE) e o senador Ciro Nogueira (PI),
respectivamente. Também estão envolvidos ativamente o vice-presidente e
líder do União na Câmara, Antônio Rueda, e o deputado Elmar Nascimento
(BA). O presidente do Avante, deputado Luís Tibé (MG), é outro engajado
nas discussões.
Em 7 de fevereiro, por exemplo, Bivar e Lira conversaram sobre o tema
em reunião. O presidente da Câmara também manteve conversas com Rueda.
Uma liderança do PP que pediu para não ter o nome revelado disse que há
conversas dia e noite sobre a federação.
O próprio Lira confirmou, no último dia 10, o andamento das
discussões em torno da federação partidária. “São partidos importantes,
com bancadas expressivas. No caso de ocorrer e se efetivar [o acordo],
darão contribuição de equilíbrio também para que o eleitorado, os
estados e a população brasileira possam acompanhar mais facilmente o
desempenho de cada federação”, afirmou ele durante visita ao estado do
Espírito Santo.
A fala de Lira é interpretada por lideranças e dirigentes dos
partidos interessados como uma forma institucional de explicar o que a
federação já representaria de fato. Um dirigente do União Brasil, que
também pediu anonimato, afirmou que o objetivo é ter o controle dentro
do Parlamento e ser o ponto de equilíbrio da condução da
governabilidade.
Federação teria a maior bancada da Câmara e a segunda maior do Senado Com
115 deputados e 15 senadores, a federação teria a maior bancada da
Câmara e a segunda maior do Senado. Para uma liderança do PP, que pediu
anonimato, o bloco partidário representaria uma grande força capaz de
influenciar as propostas orçamentárias anuais dos próximos quatro anos e
representaria um grande poder sobre a negociação de cargos da
administração direta e indireta junto ao governo federal.
Os sete governadores da federação representariam o maior quadro entre
as 27 estados brasileiros e, por consequência, elevariam a influência
de União Brasil, PP e Avante sobre pautas de interesse do governo, como a
reforma tributária. Ou seja, qualquer pauta que discuta ajustes sobre
os entes subnacionais daria ao grupo político poder de barganha e força
necessária para elevar seu capital político.
Federação partidária quer ditar rumos do comando da Câmara e do Senado O
controle da agenda legislativa do Congresso, bem como das discussões
orçamentárias e de parte do próprio Orçamento por emendas parlamentares,
representa apenas uma parte dos objetivos da federação. Outras metas
são manter o controle da Câmara e ter o comando do Senado no próximo
biênio. A federação tem como pano de fundo a eleição da presidência da
Câmara daqui a dois anos. A informação é de uma liderança do União
Brasil que pediu para não ter o nome revelado.
Dirigentes e lideranças com conhecimento das negociações sobre a
federação partidária afirmam que o grupo político constrói um acordo
para que Elmar Nascimento suceda Lira pelo comando da Câmara nas
eleições da Mesa Diretora de 2025. Eleger o líder do União Brasil seria
uma forma de manter o poder sobre a Casa e “dar o troco” no governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na construção de sua equipe ministerial, Lula preteriu a indicação de
Nascimento para o Ministério da Integração e do Desenvolvimento
Regional. O veto irritou Lira e o líder do União Brasil, bem como o
entorno político mais próximo de ambos. Em resposta, o governo retomou
relações com o líder do União Brasil, a ponto do parlamentar ter
sugerido a indicação de apadrinhados próprios e de seu grupo político em
autarquias federais. Exemplos dessas autarquias são a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Uma candidatura de Nascimento à presidência da Câmara com o apoio de
Lira e da bancada da federação partidária traria poder e influência para
ampliar as chances de emplacar o sucessor. Contudo, o movimento poderia
enfrentar resistência do senador Davi Alcolumbre (União-AP) — que visa
uma candidatura à presidência do Senado em 2025.
Federação mira prefeituras e o comando do Palácio do Planalto As
eleições de 2024 e 2026 também entram na conta do cálculo político da
federação, embora dirigentes afirmem que União e PP não precisam fazer
uma federação para as eleições municipais. De toda a forma, é admitido
nos bastidores que a ampliação do comando de prefeituras ajuda a
aumentar a capilarização e a musculatura política para a corrida
presidencial.
Ter o comando da Presidência da República seria a “cereja do bolo”
entre os objetivos da federação partidária, que pode ter seu poder de
articulação amplificado ou não pelo sucesso ao longo dos anos. Na
prática, o desejo do bloco partidário é viabilizar a candidatura mais
competitiva da “terceira via” ou emplacar a candidatura mais forte em um
campo da centro-direita.
Para isso, União e PP fizeram convites para a filiação do governador
do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Outro nome almejado é o do
governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), que foi convidado pelo União.
Por ora, ambos descartam uma saída de seus partidos, mas não fecharam as
portas após as sondagens recebidas nas últimas semanas.
Os dois governadores são cotados por alguns no Congresso e na
política como nomes à Presidência, mas lideranças e dirigentes do PP e
do União ainda os veem como opções para fortalecer alas de ambos os
partidos dentro de um contexto da federação.
Quais são os desafios para a federação partidária do União, PP e Avante? Embora
as conversas estejam avançadas, a federação partidária deve sair apenas
após o carnaval. A meta é lançar o bloco partidário em até três meses,
quando o governo quer evoluir as discussões da reforma tributária. O
objetivo é ampliar o poder e a influência sobre a agenda econômica de
Lula.
Um dirigente do União afirma que as conversas caminham para uma
conclusão em breve, mas sustenta que ainda há resistências sobre a
divisão de espaços e do comando da federação, e também entre as bancadas
estaduais. Como as federações atuam como um único partido, isso implica
na necessidade de se firmar acordos nos estados para definir o comando
dos diretórios estaduais entre os partidos.
No Paraná, por exemplo, existe um temor do União, presidido pelo
deputado Felipe Francischini, perder o comando do diretório para o PP,
comandado pelo deputado Ricardo Barros. O mesmo ocorre na Bahia, onde o
secretário-geral do União e ex-presidente do DEM, ACM Neto, rivaliza por
espaços com o grupo político do ex-deputado Cacá Leão, do PP.
União quer o controle do Rio e de São Paulo, mas PP não concorda Em
São Paulo e no Rio de Janeiro, o União quer ter o controle da
federação, algo que o PP ainda não concorda. Por essas disputas, Ciro
Nogueira tem se mostrado menos otimista. Segundo afirma uma liderança de
seu partido, ele está até descrente quanto à possibilidade de desfecho
das negociações.
Dirigentes do União consideram, porém, que hoje Lira tem mais força e
peso no PP que Nogueira. Isso mantém vivas as conversas e a
possibilidade da federação sair do papel. Como gesto ao presidente do
Progressistas, foi assegurado que ele vai manter o comando do diretório
do Piauí, sua base eleitoral.
Da mesma forma, o diretório de Alagoas ficará nas mãos de Lira. Em
alguns estados há uma pacificação minimamente maior que outros, mas
ninguém vai dar palpites em Alagoas e no Piauí, diz um dirigente do
União. Ele afirmou, anonimamente, que em outros estados será preciso
construir uma convivência.
Fontes do União dizem achar improvável, porém, o partido ficar sem os
diretórios de São Paulo, do Rio e de Pernambuco. Um dirigente do PP diz
que ainda não há nada fechado e que os partidos ainda discutem “acertos
pontuais nos estados”. Primeiro vai ser acertado quem serão os líderes
de diretórios, e depois a conversa será sobre o comando de comissões
permanentes no Congresso.
Expectativa era de que encontro de Haddad com Campos Neto tivesse
discussão sobre a mudança da meta de inflação, o que não aconteceu.|
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
A meta de inflação para 2023 continuará sendo de 3,25%, já que o tema
não foi discutido na breve reunião do Conselho Monetário Nacional
ocorrida na tarde desta quinta-feira. No pequeno colegiado, formado pelo
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; pelo ministro da
Fazenda, Fernando Haddad; e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet,
o governo tinha maioria garantida; tendo a faca e o queijo na mão para
alterar a meta, não o fez. E, se a opção foi por manter a meta no
patamar atual, é hora de acabar de vez com toda a falação dos últimos
tempos, que só serviu para trazer instabilidade, e deixar que cada um
faça o que tem de ser feito para domar a inflação, essa mazela
socioeconômica que precisa ser combatida com vigor, pois prejudica
especialmente o brasileiro mais pobre, aquele que não tem como se
proteger da perda de poder aquisitivo.
E engana-se muito quem pensa que o protagonismo nesta tarefa cabe ao
Banco Central. A autoridade monetária tem feito o seu papel e usado a
única ferramenta de que dispõe para conter a inflação. Mas, se o Copom
elevou o “custo do dinheiro” e o mantém em patamares que Lula considera
altos demais, foi primeiramente porque quem deveria agir para preservar o
“valor do dinheiro” se omitiu – ou, para sermos mais claros, trabalhou
ativamente para desvalorizar a moeda e prejudicar a saúde fiscal do
país. E os responsáveis por essa deterioração são muitos.
O governo tinha maioria no CMN para revisar a meta de inflação. Se
não quis fazê-lo, que agora deixe a falação de lado e comece a trabalhar
para garantir maior saúde fiscal ao país, o que permitirá a queda dos
juros sem descontrole da inflação
A leitura de todos os comunicados e atas do Copom publicados durante o
ciclo de alta da Selic iniciado dois anos atrás, em março de 2021, é
esclarecedora. O comitê estava enganado ao prever que a pressão
inflacionária com que se deparava seria temporária, mas nisso errou na
companhia de praticamente todo o mundo; o BC brasileiro, entretanto,
percebeu o engano antes dos demais e passou a agir para conter a
inflação, a ponto de o IPCA anualizado brasileiro estar menor que os
índices de preços registrados em nações ricas do ocidente. Ao longo de
todo esse tempo, no entanto, o Copom avisou: a inflação brasileira não
dependia apenas de fatores externos, mas especialmente das perspectivas
para a saúde fiscal do país. Eram constantes expressões como “incerteza
em relação ao arcabouço fiscal”. Já uma outra frase que era presença
constante nos textos, “perseverar no processo de reformas e ajustes
necessários na economia brasileira”, sumiu dos comunicados já no segundo
semestre de 2021. Não porque as reformas e ajustes houvessem sido
feitos, mas porque o Copom percebeu que elas não estavam mais na pauta
de Brasília. Sem a ajuda do Executivo e do Legislativo, o Banco Central
assumiu sozinho a missão de domar o dragão.
O ímpeto reformista que marcou o início do governo Bolsonaro e que
nos legou a reforma da Previdência, em 2019, desapareceu depois da
pandemia de Covid-19. O Planalto segurou até onde foi possível o envio
de uma reforma administrativa, com medo de melindrar o funcionalismo.
Pior ainda, Executivo e Legislativo levaram adiante uma série de
medidas, como as PECs dos Precatórios e dos Benefícios, que
desmoralizaram a âncora fiscal brasileira, o teto de gastos. Bolsonaro
foi substituído por Lula, que antes de assumir já colocou o prego final
no caixão do teto de gastos com a PEC fura-teto e, uma vez empossado,
passou a dirigir ataques cada vez mais virulentos ao Banco Central e à
meta de inflação. Reforma administrativa e enxugamento do Estado por
meio de privatizações são algo que podemos descartar pelos próximos
quatro anos.
Se querem inflação e juros mais baixos, Planalto e Congresso
precisam acordar e começar a fazer sua parte. Sem ajuste fiscal e
controle do gasto público, não há outro desfecho possível a não ser uma
deterioração ainda maior das expectativas e da confiança do investidor
na saúde fiscal brasileira. Haddad antecipou para março a apresentação
da nova âncora que substituirá o teto de gastos, o que ajuda a conter a
incerteza – desde, claro que o novo arcabouço efetivamente contribua
para um bom ajuste, em vez de ser um “marco legal da gastança”. Se
Executivo e Legislativo continuarem ignorando as reformas e confiando na
geração espontânea de dinheiro, não poderão reclamar se o Banco Central
seguir disposto a fazer sua parte para conter a inflação.
Manifestação em apoio à Operação Lava Jato, em Curitiba, ocorrida em 2016.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
Ontem
o PT divulgou uma resolução que chama a Lava Jato de quadrilha. Vou
contar a história dessa quadrilha por inteiro. Ela atrapalhou tudo: ela
investigou, condenou e desmanchou o maior esquema de corrupção da
história do Brasil.
A quadrilha errou feio. Foi o primeiro caso de uma quadrilha de
vilões que devolveu 25 bilhões de reais ao povo brasileiro. Isso é um
absurdo. E com quem estava esse dinheiro? Com um grupo de mocinhos
bem-intencionados, do bem, que dizia “bom dia a todes”.
Os mocinhos injustiçados pela quadrilha não fizeram nada de mal. Eles
só amavam demais sítios, triplex, refinarias, navios-sondas, pedágios,
estádios da Copa, joias, bolsas de luxo, malas de dinheiro e contas no
exterior.
Como os mocinhos vitimizados pela Lava Jato pagavam tudo isso? Com o
dinheiro dos “amigos”. Certamente nada era deles. Os recursos vinham de
toda uma população brasileira que vivia num país sem fome, sem miséria e
onde tudo funcionava.
Somos gratos, aliás, a Fernando Haddad por ter esclarecido na última
quarta-feira que entre 2003 e 2010 não havia mais fome no país, nem
criança no sinaleiro. Desmentiu as informações certamente falsas da
Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) de que havia cerca de
11 milhões de brasileiros com fome em 2009. Essa pesquisa só pode ter
sido encomendada pela CIA.
Os mocinhos criminalizados pela Lava Jato pagavam seu luxo com o
dinheiro legítimo que vinha do ouro negro, o petróleo, uma riqueza
inesgotável. Eles apenas se reuniram em um grupo de pessoas que fez
valer para si, de verdade, o slogan “o petróleo é nosso”.
Naquela época, estava tudo bem no reino do Brasil. No final de semana
chovia cerveja, todo mundo comia picanha e era feliz. Até que um dia
policiais, procuradores e juízes inescrupulosos chegaram cheios de suas
leis e acusaram esses pobres inocentes de corrupção.
Os mocinhos injustiçados pela quadrilha não fizeram nada de mal. Eles
só amavam demais sítios, triplex, refinarias, navios-sondas, pedágios,
estádios da Copa, joias, bolsas de luxo, malas de dinheiro e contas no
exterior.
Pior do que isso, os vilões queriam que a lei valesse pra todes! Que
absurde! Essa quadrilha da tal da Lava Jato ainda inventou contas no
exterior com centenas de milhões de dólares e foi prendendo os mocinhos
que antes eram felizes em suas farras de guardanapos.
Foram tempos sombrios. A quadrilha da Lava Jato foi a primeira da
história a roubar de políticos e empreiteiros inocentes para dar ao
Brasil mais de 25 bilhões de reais, destruindo a economia – ou as
economias – que aqueles políticos e empreiteiros tinham feito ao longo
de sua jornada ilibada em honestos contratos públicos.
O PT segue contando e querendo que o Brasil acredite nessa história
para boi dormir – e tem muito do seu gado que acredita. Nesta quinta,
Lula afirmou que o PT “tem que brigar para construir outra narrativa na
sociedade brasileira”. Eles seguem querendo enganar as pessoas e mudar a
verdade.
No palanque da festa de aniversário do PT na segunda-feira estava
José Dirceu como um dos convidados de honra. Condenado no Mensalão e na
Lava Jato, ninguém alega que não há provas de corrupção ou lavagem de
dinheiro contra ele – salvo, talvez, seus advogados -, ainda que a
palavra final sempre caiba à Justiça.
Mesmo assim, saudado pela presidente do partido, foi aplaudido com
entusiasmo. Houve fila para fotos. Ontem, Lula disse que Dirceu é
“agente e militante político da maior qualidade”. E as condenações por
corrupção não importam?
A atitude do PT mostra sua hipocrisia: a luta pela impunidade das
estrelas petistas nunca foi uma questão de inocência ou de direitos
humanos. Foi uma defesa consciente de mecanismos criminosos para
aumentar seu poder e viabilizar seu projeto hegemônico.
Além disso, é evidente que a luta do PT não é pelo Estado de Direito.
As provas de corrupção e enriquecimento pessoal com dinheiro público
não são um problema se o partido foi beneficiado e fortalecido. Na
lógica socialista do PT, vale-tudo.
Ontem, Lula disse que Dirceu é “agente e militante político da maior qualidade”. E as condenações por corrupção não importam?
Do mesmo modo, o PT admite a injeção de bilhões em propinas nas
eleições para fraudar a vontade popular nas urnas, desde que seja em
favor do socialismo. Em vez de mudar o software brasileiro de
“democracia” para “autoritarismo” às claras, o PT hackeou o software
“democracia”, corrompeu-o, para garantir sua perpetuação no poder. De
hacker, aliás, o PT entende bem.
O projeto socialista não é democrático, mas é sofisticado, o que deve
causar maior preocupação. Não é à toa que Lula apoia as ditaduras de
Venezuela e Cuba. O projeto petista é claramente autoritário. Só não vê
quem não quer ver.
Do outro lado, nos processos judiciais contra a corrupção, estiveram
vários homens e mulheres que trabalharam duro para desvendar esquemas de
corrupção que matavam pessoas esperando em filas de hospitais e
roubavam sonhos de crianças sem acesso à educação.
Muitos colegas no Ministério Público e na Polícia, técnicos
concursados, lutaram pela justiça e pelo fim da impunidade. Lutaram para
que o seu dinheiro fosse respeitado. Muitos deles são pais e mães que
lutaram por seus filhos. Estou falando de pessoas de diferentes visões
de mundo e ideologias, unidas por justiça e um país melhor.
Agora, essa equipe de centenas de homens e mulheres da lei é chamada
de quadrilha. Lula, com o megafone de presidente que amplifica sua voz,
seguido de seu partido e aliados em diferentes setores, ataca e humilha
repetidamente quem apenas cumpriu seu dever.
Gostaria de poder dizer que esse delírio do mundo da imaginação do PT
é inofensivo. Contudo, com o governo em suas mãos, o PT trabalha para
transformar sua imaginação conspiratória em crença coletiva.
Para isso, o PT criou um ministério da verdade na Secretaria de
Comunicação e na advocacia pública para ajudá-lo a reescrever a
história. Contudo, não foi só isso. O governo está alterando a lei das
estatais para injetar fortunas nas mídias e influenciá-las.
Antes, Lula falava em regulação da mídia – mencionou isso pelo menos
nove vezes entre sua soltura e o começo de 2022. Como a ideia não
vingou, o PT busca, mais uma vez habilmente, hackear o sistema – desta
vez, o sistema de informação – com o poder político e do dinheiro.
A obsessão em mudar o passado da Lava Jato não é gratuita. Faz parte
da estratégia de lavar o partido da sujeira moral de seus crimes. O PT
tenta apagar o carimbo de quadrilha posto sobre os líderes petistas que
saquearam o Brasil e colocar sobre os investigadores e juízes que
revelaram os crimes.
O partido segue fielmente a lição de Goebbels, marqueteiro nazista,
de que “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade“. Constrói um
novo imaginário de pernas para o ar, ao seu gosto, em que os valores e a
verdade são invertidos. Um mundo em que os bandidos são ovacionados por
seus atos e perseguem os policiais.
JurosBaixosJá: Por que os juros no Brasil devem ser baixados na marra
Por Paulo Polzonoff Jr – Gazeta do Povo.
Uma senhora, seu namorado e a “vela” falam na abertura da 13a
Convenção Mundial de Terraplanismo Econômico.| Foto: Reprodução/ Twitter
A
linha dura e ridícula do PT (digo, mais ridícula) lançou uma campanha
igualmente ridícula pela queda dos juros no Brasil. Como você já deve
ter visto por aí e por aqui, Lula e o PT travam hoje uma guerra com o
Banco Central, presidido pelo neoliberal (oh, heresia!) Roberto Campos
Neto. Os terraplanistas econômicos querem porque querem taxas de juros
menores. Bem pequenininhas mesmo. Talvez até nulas ou negativas. E eu
surpreendente e ironicamente concordo.
Concordo depois de conversar com um economista que, entre risadas e
raquetadas de squash, defendia a educação pela pedra. Ou, no caso do PT,
a educação pela foice e martelo. Dizia o amigo e freguês nas quadras
que o melhor que poderia acontecer ao Brasil neste momento era o PT
(leia-se: Lula) impor uma agenda econômica radical, destruindo a
economia e levando milhões à miséria e à fome. Quanto pior, melhor.
Sim, meu amigo economista é um ser humano deplorável, como você pode
perceber por essas palavras ásperas. Deve ser porque ele está acostumado
a contemplar o mundo por meio de um terminal Bloomberg. Mas você só diz
isso porque não o conhece bem e o está levando a sério demais. Como
todo economista inteligente, meu amigo fala na teoria algo que ele sabe
que já foi tentado na prática. Com consequências desastrosas. No mais,
apesar de ser tecnocrata ele gosta de fazer cócegas na imaginação. Então
vamos lá.
Se o Brasil baixasse a taxa de juros atual, de 13,75%, para, digamos,
2%, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Guilherme Boulos celebrariam – e
só isso já seria causa de preocupação no restante da sociedade. No dia
seguinte, antes mesmo de o mercado tirar as remelas dos olhos, o efeito
seria o de um tsunami, bomba nuclear, terremoto, erupção vulcânica e
ditadura do proletariado, tudo junto e ao mesmo tempo. Quem tem algum
dinheiro investido, por exemplo, seria obrigado a gastá-lo o mais rápido
possível. Parece bom, né? Talvez até divertido, diria alguém já tirando
o cartão de crédito do bolso.
Mas não. Porque o consumo exagerado, sem o devido aumento na
capacidade de produção, faria com que a inflação explodisse em
pouquíssimo tempo. Tudo ficaria absurdamente mais caro. De uma hora para
a outra. Mas aqui a gente já começa a perceber o valor educativo de um
choque como esse. Porque também de uma hora para outra as pessoas
perceberiam que a felicidade consumista prometida pela turma do
#JurosBaixosJá é efêmera.
Com os investidores tirando o dinheiro do Brasil em busca de juros
altos lá afora (talvez na caloteira Argentina, onde os juros chegam a
75% ao ano), não haveria dinheiro para se aumentar a capacidade de
produção – o que, aliás, em alguns setores é um processo demorado. Aí
seria só quebradeira, desemprego, fome, miséria. O combo venezuelano
todo. Ah, já falei do dólar? Pois ele também iria pras cucuias (“para as
cucuias” fica estranho), prejudicando importações essenciais e
praticamente inviabilizando aquele passeio anual para comprar a
muamba-nossa-de-cada-dia em Miami ou Ciudad del Este.
Meu amigo economista também falou que a rolagem da dívida interna
ficaria mais difícil por causa de uma operação do Banco Central chamada
“compromissada”. Mas não entendi. Esse negócio de rolagem da dívida
interna é esotérico demais para mim. No mais, a crônica está terminando
e, já que mencionei a ideia de “educação pela pedra”, não posso deixar
passar a oportunidade de mencionar que se trata do título de um livro (e
um poema) de João Cabral de Melo Neto.
Os versos finais do poema falam do “Sertão”, mas bem podem ser lidos
como se falassem do Brasil e do brasileiro atuais, sobretudo dos
farialimers e dos que trocaram a dignidade pela promessa de mais
picanha. Daqueles que fizeram o “L” acreditando que um notório malandro
seria humilde o bastante para, a essa altura da vida e da história, agir
como o “otário” que faz o certo e aguenta as consequências. Ei-los: “lá
não se aprende a pedra: lá a pedra,/ uma pedra de nascença, entranha a
alma”.
Quem me acompanha aqui nesta
Gazeta já entendeu que a educação no Brasil é de qualidade muito baixa,
e que a tragédia afeta todas as classes sociais. É verdade que os menos
pobres aprendem mais que os mais pobres. Quando comparamos o desempenho
escolar e os níveis socioeconômicos dos alunos das escolas brasileiras
aos dos seus pares asiáticos e europeus (não necessariamente de renda
per capita tão mais alta que a nossa, como os russos), percebe-se que
nossas opções históricas por não educar o nosso povão resultaram também
em um tiro pela culatra para nossa elite.
Aproveitando que o assunto BRICS voltou aos trending topics, pensemos
um pouco, a partir de uma conta de padaria: apenas entre Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul, como você acha que o desempenho
dos alunos de 10%, 5% ou 1% de maior renda em cada um desses países se
compara aos dos brasileiros de mesmo nível social em matemática,
capacidade de se comunicar em inglês e em resiliência para resolver
problemas complexos? Mesmo se considerarmos apenas a Rússia e a África
do Sul, que contam com populações menores que a nossa (Brasil, 210
milhões; Rússia, 143 milhões e África do Sul, 59 milhões), basta 0,5% de
top performers para cada coorte escolar de aproximadamente 1% da
população de cada um desses dois países, e já temos cerca de 10 mil de
pessoas por ano, seja para abocanhar os melhores empregos e
oportunidades pelo mundo, seja para transformar seus próprios países.
Agora, sem conta aproximada, mas olhando os dados do Pisa de 2018
para a China (apenas as quatro maiores metrópoles participantes), que
conta com uma coorte etária de 15 anos de aproximadamente um milhão de
jovens (nessas cidades!), podemos estimar uma “produção” de mais de 470
mil jovens de alta performance, independente da renda, pois são aqueles
que, ao fazerem a prova do Pisa, tiveram desempenho entre os níveis 5 e
6. A Índia não participa do exame.
Quando comparamos o desempenho escolar e os níveis socioeconômicos
dos alunos das escolas brasileiras aos dos seus pares asiáticos e
europeus, percebemos que nossas opções históricas por não educar o nosso
povão resultaram também em um tiro pela culatra para nossa elite.
Basta darmos uma olhada nos nomes mais famosos de médicos, acadêmicos
e de CEOs de grandes empresas multinacionais, e veremos que nosso país é
um grande avestruz em termos de formação de capital humano de alto
desempenho em escala global.
Estrutura e disciplina “Ok”, dirá o leitor, “mas eu gasto uma
fortuna na escola maravilhosa do meu filho e o estou salvando desse
ostracismo profissional.” Ah, é?! Então vejamos alguns critérios para
escolher instituições de ensino que ensinem seus filhos a pensar.
A escola do seu filho tem uma arquitetura super arrojada e parece um
Buddah-Bar mirim, ou a suada mensalidade que você vai pagar é usada para
limitar o número de alunos que um professor supervisiona e instrui?
Muitas escolas ditas de elite “investem” em campi com cara de clube, mas
deixam seus demônios aos montes para cada professor, tornando o
trabalho didático-pedagógico uma tarefa quase impossível. Esqueça as
firulas e foque no número de alunos por turma ou por professor. Isto é
algo que importa, e muito: principalmente se os alunos não forem os
comportadinhos asiáticos, e se os seus pais ameaçarem a direção das
escolas com disputas judiciais a cada bronca que levam.
Esse segundo ponto é particularmente importante porque o ambiente
acadêmico e propício ao estudo já foi largamente descrito na literatura
como sendo essencial ao bom aprendizado. O populacho instintivamente já
sabe disso, e por isso adora a ideia das escolas cívico-militares que a
esquerda menospreza. Mas a elite acha que os pitos e punições são só
para os outros, pois seus filhos “são apenas crianças” e “pensam fora da
caixa”. Se quer que seu filho cresça e apareça no mundo dos adultos,
procure uma escola rígida com disciplina e regras, que sempre devem
valer para todos, inclusive para os mais ricos. Portanto, vejam quem são
as outras famílias que frequentam a escola. Pais durões e carrascos são
ótima companhia. Principalmente no ambiente altamente permissivo de
nosso país.
Atividades extracurriculares Vimos a estrutura sóbria e a
disciplina rígida. Agora vamos às atividades extracurriculares:
esportes, música e teatro são as mais importantes. Não para você se
exibir no Insta, mas para que seu filho aprenda a seguir regras,
persistir nos treinos, nas práticas e nos decorebas, e para que seja
desafiado a dar o seu melhor. A escola não pode tomar a opção pela
mediocridade como caminho, disfarçando com a lorota da inclusão e da
busca pela autoestima. Quanto maior a escola e o contingente de alunos,
maior é o desafio de expor todos os alunos a cada uma dessas atividades
com nível de exigência alto, mas é preciso ficar claro que, embora todos
possam treinar, praticar e atuar, só joga no time, faz apresentações e
performances públicas quem é bom no que faz. Meritocracia e competição
com fair play são muito importantes para desenvolver um adulto saudável.
Alunos que precisam de atenção especial devem recebê-la para que cada
um possa desenvolver seu potencial, mas solidariedade e espírito de bem
comum devem conviver bem com a busca pela auto-superação e
competitividade. Há técnica e ciência para isso, além de escolas
especializadas de variadas atividades onde seus filhos podem aprendem
música, esportes, artes e afins com mais atenção.
Biblioteca e laboratório A biblioteca provavelmente é a parte mais
negligenciada das escolas brasileiras. Seus dirigentes acham que o
bacana é indicar para leitura (sem grandes análises) os livros mais
vendidos nas últimas bienais. Até pode ser divertido que alunos e
professores apresentem resenhas públicas de livros aleatórios, façam
clubes de leitura e outras atividades que complementem o esquema sério
de desenvolvimento estruturado de compreensão de textos complexos e de
formação de cultura que toda escola tem que ter. Entretanto, cada
instituição deverá fazer uma seleção permanente de livros com textos
cada vez mais complexos e desafiantes em termos gramaticais, lexicais e
temáticos para cada ano, sendo a maior parte deles composta por livros
clássicos, que sobreviveram o escrutínio de gerações anteriores.
Idealmente, cada escola deveria ter um acervo permanente com essas obras
gerais em quantidade suficiente para trabalhá-las em conjunto com uma
turma (a qual, também idealmente, jamais poderia ter mais que 20 alunos
no ensino fundamental) e, em menor número, aquelas que não são
usualmente estudadas em conjunto. A partir desse acervo, de critérios
claros, da capacidade de análise literária de seu corpo técnico (a qual,
no meu mundo escolar ideal, deveria ser alta), cada instituição
escolheria a sua bibliografia dentro do contexto local: livros da
cultura ocidental, autores típicos para alguns gêneros textuais, livros
particularmente importantes para mergulhar em outras culturas e obras de
âmbito mais regional ou local. Não sei se é possível encontrar uma
escola assim no Brasil.
Se quer que seu filho cresça e apareça no mundo dos adultos, procure
uma escola rígida com disciplina e regras, que sempre devem valer para
todos, inclusive para os mais ricos.
Os laboratórios também são importantes. Suas experiências práticas
têm a qualidade de fazer os alunos ligarem o abstrato das teorias que
precisam dominar à maneira como elas se materializam na realidade, mesmo
que apenas experimentalmente.
O currículo é o essencial Deixei o essencial para o final e agora
voltamos ao centro do que constitui uma escola eficaz, que meus doutos
leitores já conhecem: currículo, livros didáticos, avaliação e formação
docente. Como esses itens não estão disponíveis no Brasil em qualidade
de padrão internacional, permanece minha sugestão de que a escola forme
uma base de apoio com currículos e materiais importados. Temos que
ensinar o medíocre e as maluquices para os alunos que desejarem possam
se sair bem no ENEM e em outras provas locais, mas se quisermos que
tornem-se adultos não apenas mais competitivos no mercado de trabalho,
mas com maior capacidade de gerir suas vidas e adquirir estabilidade
emocional, é preciso exigir mais de nossas escolas, tentar descobrir
algumas que esteja mais à frente, ou fazer um bom homeschooling – este,
muito mais difícil que se imagina.
A “receita” que os governos dos países bem sucedidos usaram se aplica
tanto a redes de escolas públicas ou privadas, quanto a escolas
isoladas e até mesmo ao ensino em ambiente doméstico. Sem esses quatro
elementos bem desenhados e operacionalizados, não há santo ou mágico que
dê conta de ensinar nem aos cães! Os ingredientes, que devem ser
considerados na ordem em que estão sendo listados e com o propósito
explicitado, são os seguintes: 1) currículo, uma lista organizada e
clara do que deve ser aprendido a cada período letivo; 2) material
didático de alta qualidade que traga várias opções sobre como apresentar
os conceitos e procedimentos ditados pelo currículo aos educandos, além
de exercícios que guiem o processo de aprendizagem de cada um dos
objetivos; 3) avaliações bem feitas que possibilitem a verificação do
aprendizado dos itens do currículo, individualmente, de modo que se
possam identificar dificuldades e apoiar o progresso dos alunos; e 4)
capacidade didática para o educador, o que, genericamente, chamamos de
formação docente – mas que serve para pais e outros tutores, incluindo
os treinadores de cachorrinhos!
Para facilitar, vou ilustrar minha breve explicação sobre currículo
mostrado o que os educadores de Paulofreireland (ler meu artigo
anterior) foram capazes de fazer sob as nossas barbas (praticamente sem
oposição, a não ser da mamãezinha chata que vos escreve). Apresentarei
dois conjuntos de exemplos do que deve aparecer em um currículo,
comparando com pérolas contidas na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). Esse documento normativo, produzido por ONGs desde dentro do
Ministério da Educação a partir de 2012 e homologado já no Governo
Bolsonaro em 2019, foi vendido pela imprensa à nossa sociedade como
sendo um grande avanço educacional e festejado pelos militantes da
esquerda, pois finalmente tornaram obrigatório o ensino (que já era de
cunho) marxista em todas as salas de aula.
Afinal, o que é um currículo? Como já foi dito, é uma lista
hierarquizada, lógica e explícita de objetivos de aprendizagem para um
determinado fim pedagógico. É um texto do tipo injuntivo (guardem a
curiosidade, pois haverá um artigo sobre tipologia de textos), como o
são as receitas e as leis. Ou seja, textos que fazem com que o leitor
aja, ou saiba que deve agir, de determinada forma. Para que isso ocorra,
há uma sistemática a ser seguida: nas receitas, os ingredientes e suas
quantidades são listados primeiro e, depois, de que forma e ordem devem
ser usados. Em um currículo, a unidade normativa mínima que se busca é –
analogamente ao artigo de cada lei – o que se chama no paulofreirês da
BNCC de “habilidades”. Na verdade, são os tais “objetivos de
aprendizagem”, os quais, obviamente, todos os alunos devem aprender. A
sutileza de não os chamar de “objetivos de aprendizagem” é que se tira
do foco a responsabilização sobre o que se espera que cada aluno aprenda
por ir à escola. Portanto, que cada professor lhes deve ensinar, um
parâmetro de “controle social” que os sindicalistas abominam. Esses
objetivos devem, obrigatoriamente: 1) ser organizados em torno de cada
disciplina (pois cada uma conta com cânones, conceitos e princípios
próprios) e 2) ser listados em ordem de complexidade (pois é assim que o
cérebro dos seres humanos aprende: de maneira cumulativa, do mais
simples para o mais complicado).
Vamos aos exemplos. Sim, estão cheio de chatices técnicas, mas sem
que os pais e cidadãos comuns entendam o buraco em que nos metemos,
jamais dele sairemos. Força!
Falhas da BNCC Para a BNCC, nossos alunos só podem ser
considerados como tal a partir da tal “idade da razão”, aos 7 anos. Essa
seria a única explicação lógica para seus formuladores terem deixado
para a pré-escola (4 e 5 anos – etapa obrigatória e custeada pelos
pagadores de impostos) e para o 1º ano do ensino fundamental apenas
arremedos de atividades pedagógicas de cunho lúdico. Enquanto nossos
anjinhos atrasados ficam com os rudimentos do “direito a brincar” que,
na visão dos doutos das ONGs, se opõe ao direito de aprender, seus pares
em países desenvolvidos vão à escola desde pequenos para aproveitar a
janela cerebral de aprendizagem descrita pela Ciência Cognitiva. Vamos
ver?
Em Paulofreireland, as habilidades de compreensão de textos para os
alunos de 1º e de 2º anos (6 e 7 anos de idade) são as seguintes:
“(EF12LP02) Buscar, selecionar e ler, com a mediação do professor
(leitura compartilhada), textos que circulam em meios impressos ou
digitais, de acordo com as necessidades e interesses.
“(EF12LP04) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a
ajuda do professor ou já com certa autonomia, listas, agendas,
calendários, avisos, convites, receitas, instruções de montagem
(digitais ou impressos), dentre outros gêneros do campo da vida
cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do
texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade.
“(EF12LP18) Apreciar poemas e outros textos versificados, observando
rimas, sonoridades, jogos de palavras, reconhecendo seu pertencimento ao
mundo imaginário e sua dimensão de encantamento, jogo e fruição.”
E apenas para os de 2º ano, ou seja, apenas a partir dos 7 anos, os paulofreirenses podem:
“(EF02LP26) Ler e compreender, com certa autonomia, textos literários, de gêneros variados, desenvolvendo o gosto pela leitura.”
Agora vamos ver como é a normativa curricular na terra da finada
Rainha Elizabeth II, onde os alunos entram no 1º ano com 5 anos:
“Os alunos [do 1º ano] devem ser ensinados a:
” – compreender tanto os livros que eles já podem ler com precisão e fluência quanto aqueles que ouvem:
“- baseando-se no que eles já sabem ou em informações de fundo e vocabulário [do texto] fornecidos pelo professor;
“- verificar se o texto faz sentido para eles à medida que leem e corrigir leituras imprecisas;
“- discutir o significado do título e eventos;
“- fazer inferências com base no que está sendo dito e feito;
“- prever o que pode acontecer com base no que foi lido até aquele ponto.”
Percebam as seguintes diferenças de abordagem para a mesma etapa de
escolarização: 1) confunde-se o que os alunos devem fazer (atividades:
buscar, selecionar e ler) com o que devem aprender (compreender); 2) no
documento brasileiro, não se fala em livros, mas em textos, com uma
lista ridícula de exemplos deles (listas, agendas, calendários, avisos,
convites, receitas, instruções de montagem); 3) apreciar não é um verbo
para currículo – sim, eles devem aprender a gostar de ler, mas isso só
se dá a partir da compreensão; 4) observem a relutância em se admitir
que os alunos devem estar lendo com autonomia – e compreensão, óbvio –
mesmo no 2º ano; 5) na Inglaterra, não há problema em dizer que os
alunos devem ser ensinados – já desde os 5 anos; 6) percebam como é bem
mais fácil saber o que vai se passar em sala de aula a partir dos
objetivos propostos na Inglaterra do que no Brasil; 7) os alunos – de 5
anos! – devem aprender a perceber se compreendem o que leem e corrigir a
forma de ler, para treinar a fluência, a qual pressupõe compreensão – é
com a observação da fluência de leitura oral que o professor sabe se o
aluno, pelo menos, entendeu as informações mais básicas explícitas no
texto; 8) os verbos utilizados para descrever os objetivos de
aprendizagem podem ser observados e aferidos pelo professor (ou pais)
para se verificar o aprendizado do aluno a todo momento.
Agora vamos para um exemplo de Matemática na BNCC, comparando
paulofreiristas brasileiros e os reducionistas tecnicistas de Singapura.
Paulofreiristas primeiro. Estas são todas as “habilidades” apresentadas
na BNCC relacionadas ao conceito de fração do 2º ao 4º ano:
“(EF02MA08) Resolver e elaborar problemas envolvendo dobro, metade,
triplo e terça parte, com o suporte de imagens ou material manipulável,
utilizando estratégias pessoais.
“(EF03MA09) Associar o quociente de uma divisão com resto zero de um
número natural por 2, 3, 4, 5 e 10 às ideias de metade, terça, quarta,
quinta e décima partes.
“(EF04MA09) Reconhecer as frações unitárias mais usuais (1/2, 1/3,
1/4, 1/5, 1/10 e 1/100) como unidades de medida menores do que uma
unidade, utilizando a reta numérica como recurso.”
A seguir, os malucos de Singapura, que transformam crianças de 6 anos em robozinhos, coitadinhos.
No 1º ano, os alunos aprendem as quatro operações aritméticas; e no
segundo, já são apresentados à notação de frações e aprendem a somá-las e
subtraí-las. No 4º ano, os alunos trabalham com números mistos, frações
impróprias e frações como parte de um conjunto de objetos – o que é
diferente do bom e velho pedaço de pizza do 2º ano no Brasil. Além de
resolver problemas de até duas etapas com esse tipo de notação antes do
fim da educação elementar.
“2º ano – Sub-eixo: Frações
“1.1 fração como parte de um todo
“1.2 notação e representação de frações
“1.3 comparar e ordenar frações cujos denominadores não excedam 12
“- Frações unitárias e frações iguais
“2.1 Somar e subtrair frações iguais dentro de um mesmo inteiro, com seus denominadores não excedam 12
“3º ano – Subeixo: Frações
“1.1 frações equivalentes
“1.2 expressar uma fração em sua forma mais reduzida
“1.3 comparar e ordenar frações não equivalentes cujos denominadores não excedam 12
“1.4 escrever a fração equivalente de outra, dado o denominador ou numerador
“2.1 somar e subtrair frações equivalentes dentro de um mesmo inteiro com seus denominadores não excedendo 12.”
Percebam a diferença entre os dois currículos. No Brasil, os alunos
não aprendem nada de matemática na educação infantil e se lhes propõe no
2º ano, resolver problemas com os conceitos de “dobro, metade, triplo e
terça parte”, pois eles ainda nem viram a notação de números
fracionários, que só lhes será apresentada no 4º ano. Por isso, devem
fazê-lo com “o suporte de imagens ou material manipulável, utilizando
estratégias pessoais”. Haja estratégia pessoal não apenas para resolver,
mas para formular problemas de fração só com pedacinhos de pizza e
barras de chocolate.
Outra questão (que não se percebe nos exemplos acima) é que os alunos
brasileiros até o 5º ano só trabalham o conjunto de números naturais
(números inteiros e positivos)! Além disso, não podem usar letras na
notação matemática. Portanto, álgebra, nem pensar. Ou seja, nem pensar
em verem números negativos, o que todos seus pares já vêem desde que
começam a escola formal.
Espero que esses exemplos os tenham deixados muito incomodados e
aflitos. É só com a indignação informada que poderemos alterar nosso
futuro educacional, seja para todo o País, seja apenas para nossos
filhos.
Entenda os próximos passos do processo após pedido da Itália
Foto: Alessandro Garofalo/Reuters
Publicidade
Por Ricardo Magatti – Jornal Estadão
Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai decidir se reconhece ou não a
sentença emitida pela Justiça italiana, que condenou o atleta a nove
anos de prisão por estupro cometido em 2013
O governo da Itália pediu a execução da sentençade Robinho no Brasil. Ele e seu amigo Ricardo Falco foram condenados em última instância no país europeu a nove anos de prisão por estupro contra uma jovem albanesa, em uma boate de Milão, no ano de 2013. Na época, o ex-atacante do Santos e da seleção brasileira atuava no Milan. A informação foi divulgada inicialmente pelo portal UOL. Mas Robinho realmente pode ser preso no Brasil?
De acordo com especialistas ouvidos pelo Estadão, é
grande a probabilidade de que o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
reconheça a sentença e seja expedido, então, o mandado de prisão para
que o atleta cumpra a pena no Brasil.
“Dificilmente o STJ não vai reconhecer. Ele só tem que examinar os
aspectos formais. Não há como fugir disso”, opina Maristela Basso,
advogada criminalista e professora livre-docente de Direito
Internacional da Faculdade de Direito da USP.
A execução de sentença estrangeira está prevista na Constituição
Federal. Trata-se de um procedimento comum. Ao STJ, caberá verificar
aspectos formais da sentença, sem reexaminar o caso em si. O órgão
examina se quem proferiu a sentença do país de origem era competente, se
a sentença transitou em julgado, isto é, não há mais recursos, e se a
documentação está traduzida por um tradutor juramento para o português e
consularizada.
“É quase que impossível não reconhecer porque a sentença foi
proferida por juiz competente, porque o MP da Itália tomou cuidado com
toda a documentação e porque não cabe mais nenhum recurso. É impossível
que o STJ não reconheça. É questão de tempo agora”, explica Maristela.
“O que o STJ também faz é adequar a sentença aos termos da execução
penal brasileira e não da Itália. É o que acontece geralmente”, diz o
advogado criminalista Matheus Falivene, mestre e doutor em Direito Penal
pela Universidade de São Paulo (USP).
Quanto tempo leva esse processo?
O STJ pode levar anos para analisar o caso e homologar ou não a
sentença. O tempo do desfecho desse processo depende também da
contestação da defesa do jogador. Robinho, cabe lembrar, continua tendo
direito ao contraditório e pode contestar a decisão também nessa etapa
do caso. “Quando há contestação, esse processo de homologação pode levar
dois anos”, diz Maristela.
“Acredito que não deve demorar tanto porque é um caso de repercussão
nacional. É esperado que o STJ tenha a sensibilidade de fazer a
homologação da sentença estrangeira”, acredita Rafael Paiva, advogado
especialista em Direito Penal.
Robinho pode ser extraditado?
O atleta, que fez sua última partida em julho de 2020 e vive recluso
em sua casa em um condomínio de luxo no Guarujá, não pode ser
extraditado porque a Constituição Federal de 1988 proíbe a extradição de
brasileiros nascidos em território nacional, caso de Robinho, natural
de São Vicente, litoral paulista. O Brasil negou em novembro a
extradição do jogador brasileiro para a Itália.
O artigo 5º, inciso LI da Constituição Federal afirma que “nenhum
brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”.
A extradição é um ato de cooperação internacional que consiste na
entrega de uma pessoa, investigada, processada ou condenada por um ou
mais crimes. O cidadão pode ser solicitado tanto para cooperar com a
investigação ou processo penal a que responde, quanto para cumprimento
de pena já imposta.
Qual o papel do governo brasileiro no caso?
Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça e Segurança Pública do
governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou em janeiro que Robinho
pode cumprir no Brasil a pena pelo crime cometido na Itália. O
Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, foi o
órgão que recebeu a solicitação do governo italiano e que encaminhou a
análise para o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Segundo o ministro, que já foi juiz e professor de direito
constitucional na Universidade Federal do Maranhão, o caso passou pela
pasta que comanda, e a Secretaria Nacional de Justiça, órgão central de
cooperação jurídica de relação internacional, foi a responsável pelo
processamento.
“O Ministério da Justiça faz a intermediação com a autoridade
estrangeira, no caso o governo italiano. Ele recebe o pedido e depois
repassa à autoridade judiciária brasileira. Também faz uma análise
política da questão porque é um ato de soberania. Se a pessoa está no
Brasil ela está submetida aos trâmites do governo brasileiro”, elucida
Falivene.
Reclusão
Aos 38 anos, Robinho não entra em campo para uma partida oficial desde julho de 2020, quando defendia o Istambul Basaksehir,
da Turquia. O jogador chegou a ser anunciado pelo Santos em outubro
daquele ano, mas a contratação foi cancelada após pressão da torcida e
de patrocinadores por causa do processo por estupro a que respondia – à
época, já era condenado em primeira instância. Em sua carreira, ele
também acumula passagens por Real Madrid, Manchester City, Milan e
Atlético-MG, além da seleção brasileira.
Ele é, hoje, aos 39 anos, um ex-jogador, conforme disse ao UOL.
“Não jogo mais”, respondeu, irritado. O anúncio formal do fim de sua
carreira, abreviada em virtude do estupro que cometeu há nove anos, não
foi feito por motivos óbvios. Isolado, mal movimenta as suas redes
sociais, nas quais se define como um “seguidor de Cristo”. Na véspera do
primeiro turno das eleições presidenciais, o atleta ressurgiu para dar
apoio público ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que perdeu o pleito para Luiz Inácio Lula da Silva(PT).
O Estadão entrou em contato com a defesa de Robinho, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Precisa de 2 litros ao dia? Especialistas dão dicas de hidratação
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Por Kátia Arima – Jornal Estadão
Podemos saber da importância da água para o nosso corpo, mas
acabamos por negligenciar esse cuidado básico com a saúde. Veja as dicas
dos especialistas para não deixar o corpo com sede
É simples na teoria, mas difícil na prática: beber alguns goles de
água ao longo do dia pode parecer trivial, mas nem sempre é uma tarefa
cumprida com sucesso. “Percebo que a população brasileira, em geral, não
tem o hábito de cuidar da hidratação regular. Beber água deve fazer parte da rotina saudável de uma pessoa, assim como ter uma boa alimentação e praticar exercícios físicos”, diz Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicasda Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, autor do livro Saúde no Cotidiano – Viver bem é preciso.
Os obstáculos são variados: seja pela correria do cotidiano ou pela
distração nos momentos de lazer, seja pela escolha do tipo de bebida ou
por questões sociais, já que 40% da população mundial não tem acesso
seguro à água potável, podemos ter dificuldade em fornecer líquidos em
volume suficiente para garantir a hidratação do corpo.
Uma pesquisa recente revelou que quem se mantém bem hidratado desenvolve
menos doenças crônicas e vive mais tempo do que aqueles que não
consomem líquidos suficientes. O estudo do National Institutes of
Health, nos Estados Unidos, publicado em janeiro no periódico eBioMedicine,
analisou os níveis séricos de sódio – que aumentam quando a ingestão de
líquidos diminui – e outros indicadores de saúde de 11.255 adultos
coletados em um período de 30 anos.
A pesquisa revelou que aqueles com níveis séricos de sódio no limite
superior da faixa normal eram mais propensos a morrer mais cedo,
desenvolver doenças crônicas e mostrar sinais de envelhecimento
biológico avançado do que aqueles com níveis séricos de sódio nas faixas
médias.
Todo o funcionamento do corpo depende da água, componente mais presente no nosso organismo, por isso uma boa hidratação é
fundamental, explica a nutricionista Lara Natacci, coordenadora da
comissão de comunicação da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição (Sban).
“Reações químicas e metabólicas, regulação da temperatura corporal e
da pressão arterial, lubrificação de articulações, transporte de
nutrientes e substâncias do nosso corpo, entre outros mecanismos vitais,
dependem da água”, diz.
Um dos diversos reflexos de uma má hidratação do corpo é o intestino
preso, já que o corpo absorve a água das fezes. “Duras e secas, as fezes
ficam difíceis de serem eliminadas, o que resulta em prisão de ventre.”
Preciso tomar dois litros de água por dia?
A nutricionista Lara chama atenção para um estudo publicado na revista Science em novembro que derrubou um referencial amplamente disseminado: a meta diária de 2 litros (ou oito copos) de água por dia.
Segundo os pesquisadores envolvidos, esta meta não está respaldada em
comprovações científicas. Eles apontam, no estudo, que o volume
necessário de água deve levar em conta fatores como idade, peso, sexo,
práticas de atividades físicas e condições ambientais locais –
temperatura, altitude, umidade. “Não dá para ter uma recomendação
genérica, é preciso considerar as individualidades de cada um, além do
peso corporal”, reforça Lara.
Na falta de metas claras, então, como saber se meu corpo está bem hidratado? A dica dos especialistas consultados pelo Estadão é
observar a urina, que deve estar de uma cor bem clara, quase
transparente, sem cheiro forte. Caso contrário, é sinal que o rim está
trabalhando para concentrar a urina para evitar a desidratação do corpo.
A sede é um sinal de alerta do corpo – por isso, é melhor se antecipar e
se hidratar antes que ela apareça.
No corre-corre do seu trabalho como cabeleireira, Lia Morii, de 40
anos, tem se esforçado para beber água em maior volume e frequência.
“Ganhei uma garrafa de uma cliente, que me aconselhou a me hidratar
melhor para ter uma boa saúde. Eu evitava beber muita água por ter
preguiça de ter que ir toda hora ao banheiro”, conta.
Lia conta que há 10 anos costumava ter muitas crises de infecção
urinária e recebia orientações dos médicos para beber mais água, por
isso está ciente da importância de se hidratar bem. “Pratico spin bike
três vezes por semana e bebo muita água durante a aula”, diz.
Manter a urina mais diluída ao ingerir mais água ajuda a prevenir
infecções urinárias e cálculos renais, problemas que costumam ser mais
comuns no verão, quando está mais calor, afirma o urologista Wilmar Azal
Neto, coordenador do Ambulatório de Endourologia e Urolitíase do
Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp).
“Pessoas com boa saúde podem se prejudicar tomando pouca água, pois
podem ter uma predisposição genética para formar cálculos. Se ingerir
pouca água pode haver uma supersaturação dos elementos que resultam em
formação de cálculo”, explica.
Quando o rim é saudável, ele costuma dar conta de preservar o líquido
necessário para o corpo, mas há comportamentos e doenças que favorecem a
desidratação e acabam levando mais pessoas aos pronto-socorros nesta
época do ano, segundo o nefrologista Américo Cuvello, coordenador do
Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Consumo exagerado de álcool, vômitos e diarréias causados por
infecção alimentar, perda de água em práticas esportivas levam à
desidratação, que quando grave pode levar à morte. Dor de cabeça,
tontura, boca seca, fraqueza muscular e urina escura são sintomas de
desidratação – se os sintomas forem bem leves, é preciso reidratar aos
poucos; nos casos graves é fundamental procurar ajuda médica.
E não se engane: a cerveja e outras bebidas alcóolicas não ajudam a
hidratar, pelo contrário. “As bebidas alcóolicas inibem a ação do
hormônio antidiurético, o que leva a pessoa a urinar mais. Essa pessoa,
que também vai transpirar no calor, pode perder líquido ao vomitar
porque exagerou na bebida e chega ao pronto-socorro com quadro de
desidratação. Esse tipo de caso é muito comum”, diz Cuvello. Por isso, a
recomendação é sempre alternar o consumo de bebida alcoólica com alguns
goles de água.
O que a prática de atividade física tem a ver com a hidratação do corpo?
Ao praticar atividades físicas, é preciso ter um
maior cuidado com a hidratação, alerta Cuvello. “Em provas de corrida,
por exemplo, é comum ter casos de desidratação”, diz.
Segundo ele, na maioria dos casos é suficiente consumir água para
repor o líquido perdido. As bebidas isotônicas, que servem para repor os
eletrólitos perdidos com o suor, são necessárias apenas para esforços
mais prolongados – embora esse consumo não seja prejudicial à saúde.
O personal trainer Douglas Goulart, de 36 anos, orienta seus alunos a
se hidratarem bem durante a prática de exercícios, geralmente após 30
minutos de treino. “Alguns alunos relatam uma dificuldade para se
hidratar, mas explico que o desempenho deles depende disso”, diz.
No seu cotidiano, Goulart garante o consumo de 2 a 3 litros de água
diários, sem contar outras bebidas que toma como leite, água com gás e
chimarrão. Há 13 anos, resolveu cortar a cerveja. “A diferença para a
saúde física e mental foi positiva.”
Os profissionais de saúde recomendam dar preferência à água se o
objetivo é hidratar o corpo. Para aqueles que não conseguem virar muitos
copos de água, há alguns macetes. “Incrementar a água com limão, folhas
de hortelã, morango ou outro ingrediente natural é válido para
estimular o consumo de água, de preferência sem adição de açúcar”,
recomenda o nutrólogo e endocrinologista Durval Ribas Filho, presidente
da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Essa é a estratégia da produtora de conteúdo Soraia Lopes, de 47 anos, que desde criança teve dificuldade de beber água.
“Me sentia estufada, nunca senti prazer”, conta. Há 6 anos, ela
descobriu as receitas de “água saborizada”. “Dentro de uma jarra, incluo
folhas como hortelã e as frutas que tenho em casa, além de especiarias
como canela e cravo”, diz ela, que prepara a bebida diariamente.
Especialista em produções de “mesa posta”, Soraia diz que a água
saborizada (também chamada de “flavorizada”) sempre faz sucesso entre os
convidados. “A apresentação é bonita, enche os olhos. Atrai as pessoas,
especialmente se incluir uma fruta colorida, como a pitaya vermelha”,
diz.
A beleza da água saborizada também agrada os idosos do Lar Sant’Ana,
afirma a nutricionista Maureen Lemos Gregson, coordenadora de Nutrição
do residencial onde vivem 84 idosos.
“Eles dizem que odeiam tomar água, por isso temos truques para
mantê-los hidratados”, diz. Há 25 anos, a nutricionista prepara
cardápios para idosos – e sabe que o envelhecimento tem reflexos no
paladar, que fica menos sensível, e na percepção de sede. Nos dias mais
quentes, Maureen oferece frutas ricas em água como melancia, uva e
melão, além de sorvete, gelatina, sopas e bebidas variadas como água de
coco, sucos e chás.
“Eles não conseguem tomar volumes grandes de líquido uma só vez, por
isso a cada duas horas recebem um copo de 200 ml. As cuidadoras correm
atrás dos idosos para oferecer líquido enquanto eles estão em atividades
como bingo e cinema”, conta.
Hidratação: diferença pela idade
Crianças e idosos precisam de ajuda na hidratação, alerta o
clínico-geral Arnaldo Lichtenstein. “Após os 60 anos, a pessoa tem menos
percepção de sede”, justifica.
Segundo o médico, idosos e crianças que apresentam irritabilidade
podem estar assim por conta dos sintomas da desidratação – por isso é
preciso garantir a oferta e ingestão de líquidos, especialmente nos dias
de calor.
No seu dia a dia como clínico geral, Lichtenstein confessa que apela
para o “ponto fraco” do paciente para convencê-lo a se hidratar melhor.
“Se percebo que ele é vaidoso, por exemplo, explico que a pele dele vai
ficar enrugada. Para aqueles que já estão doentes, argumento que eles
podem agravar o quadro se ficarem desidratados”, conta.
A hidratação no início da vida exige cuidados específicos. Até os 6
meses de vida, o leite materno é o suficiente para hidratar o seu
organismo, afirma a pediatra Fernanda Luísa Ceragioli, membro do
Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP).
Segundo ela, as fórmulas infantis são preparadas para suprir as
necessidades hidratação da faixa etária, mas é preciso fazer ponderações
de acordo com as condições ambientais. Se está calor, é preciso ofertar
água a mais.
“Os bebês de menos de 6 meses que tomam fórmula podem receber água
para que possam ir se acostumando ao hábito, que deve ser cultivado
desde cedo”, diz a pediatra. Com a introdução alimentar, após os 6
meses, a água deve estar na rotina de todos os bebês. “A uma criança
menor de 1 ano, recomenda-se a ingestão de cerca de 800 ml de água por
dia – ou mais se estiver em lugar quente.”
O perigo da desidratação é maior quando as crianças
perdem muito líquido por conta de vômitos e diarréias causados por
processos virais, diz Fernanda. “A chance de desidratar é grande. Nessas
horas é preciso oferecer soluções com sódio e potássio ou soro caseiro e
procurar a orientação de um médico.”
A pediatra alerta para a “cultura do suco”, que valoriza a bebida
quando na verdade ela deve ser consumida com moderação pelas crianças.
Fernanda explica que, até completar seu primeiro ano de vida, a criança
não deve receber sucos, pois seu corpo ainda não está preparado. Depois
disso, o consumo deve se limitar a 120 a 150 ml por dia. “O suco contém
muita frutose, que em excesso pode favorecer a obesidade e evoluir para
outros problemas como esteatose”, justifica. A recomendação de Fernanda
para as crianças acostumadas ao suco – mesmo que seja natural – é ir
diluindo aos poucos, até que se acostumem a beber água.
Mas não entenda mal: isso não significa que as frutas sejam vilãs da
saúde e da hidratação. Inclusive, a alimentação também importa para a
hidratação: vegetais e frutas contém muita água, que o organismo também
absorve, explica o nutrólogo Ribas Filho, da Abran. “Inclua na dieta
alimentos de baixa densidade energética e alto teor de água como pera,
chuchu”, indica.
Os alimentos ultraprocessados, que passam por muitas alterações no
processo industrial, como salgadinhos de pacote, biscoitos e macarrão
instantâneo, geralmente são pobres em água.
“Os produtos ultraprocessados são feitos para ter longa durabilidade e
a água leva a processos mais rápidos de degradação dos alimentos.
Assim, a presença dela não é desejada em muitos deles. E, ao desidratar
os produtos, esses ficam mais leves, tornando-se mais fáceis de serem
transportados além de ocuparem menor volume para transporte”, explica
Larissa Baraldi, nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas
Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo
(Nupens/USP).
Ela liderou o estudo “Associações entre o consumo de alimentos
ultraprocessados e a ingestão total de água na população dos EUA”, que
concluiu que, quanto maior o consumo de ultraprocessados, menor é o
consumo diário total de água. “Essa redução no consumo pode estar
associada a mudanças no próprio padrão alimentar, em que indivíduos
habituados a alimentos ultraprocessados não tenham hábito de beber água
pura e alimentos fontes de água, consumindo no lugar bebidas adoçadas,
por exemplo”, diz.
Larissa explica porque os refrigerantes não são boas opções para
hidratar o corpo: “Bebidas adoçadas, seja com açúcar ou com adoçantes
artificiais, aumentam o risco de obesidade. As com açúcar são ricas em
calorias líquidas que ‘enganam’ nosso organismo, pois a percepção de
saciedade não é alterada e a pessoa consome a mesma quantidade de
calorias sólidas mesmo tendo já consumido calorias líquidas.” Segundo a
pesquisadora, o consumo regular de produtos ultraprocessados, inclusive
as bebidas, está associado a diversas doenças como diabetes, câncer e
doenças cardiovasculares.
Aos que estão com dificuldade de se hidratar regularmente, a
pesquisadora recomenda construir o hábito. “Organize e pense o seu dia a
dia até que a hidratação esteja incorporada naturalmente na sua rotina.
Lembre-se que a água é um item fundamental de uma alimentação saudável e
equilibrada.”
Hidrate-se com prazer
Veja as dicas dos profissionais da área de saúde para cuidar bem da hidratação do seu corpo.
Se antecipe à sede: sede é um aviso do corpo que sinaliza a
desidratação, mesmo que seja leve. Por isso, não espere sentir sede para
beber água. E, caso você perceba que sua sede é excessiva, procure um
médico, já que este pode ser um sintoma de alguma doença como diabetes.
Carregue a garrafa: levar uma garrafa, squeeze ou outro recipiente
com água para onde quer que você vá é um hábito que pode ajudar na
hidratação.
Observe a urina: após urinar, se a urina estiver clara e sem odor,
beba um copo. Se estiver amarelada, mais escura, beba dois. Urina muito
escura exige atenção, neste caso procure um médico.
Incremente: a água é a melhor opção para hidratar o corpo. Se para
você é difícil ingerir água pura, adicione algum sabor à água com uso de
folhas de hortelã ou cidreira, especiarias como canela ou pedaços de
frutas. Sucos são naturais e saudáveis, mas é melhor não consumi-los em
grande volume. Refrigerantes podem até hidratar, mas não são bebidas
saudáveis.
Atenção aos diuréticos: bebidas ricas em cafeína e bebidas
alcóolicas podem desidratar o corpo. Consuma com moderação e busque
compensar a água perdida, bebendo um copo de água entre os drinks. Se
você consome remédios que favorecem a diurese, siga as recomendações de
hidratação do seu médico.
Na malhação e na folia: em momentos de muita atividade física, é
preciso garantir a hidratação, pois seu corpo está transpirando muito.
Ressaca: a desidratação causada por abusos de bebida alcóolica é uma
das responsáveis pelo mal-estar. Beba muito líquido para ajudar na
recuperação.
Fracione: se você se sente mal ao tomar um copão de água, talvez seja melhor beber volumes menores com frequência maior.
Coma água: inclua na dieta muitas verduras, legumes e frutas. Alimentos in natura geralmente são ricos em água.
Controle outros fatores: no calor, procure usar roupas leves, usar
chapéu e ficar à sombra. Ventiladores e ar condicionado são
refrescantes, mas o ar seco leva a uma maior transpiração e exige um
consumo maior de líquidos para repor o que foi perdido.
Atenção a bebês, crianças e idosos: eles necessitam de atenção
especial. Muitas vezes será preciso lançar mão de artifícios para
convencê-los a beber água e evitar desidratação. Em caso de vômitos ou
diarreias, é preciso repor a água perdida com urgência, pois eles
desidratam mais facilmente.
Como usar a inteligência artificial na estratégia de marketing em 2023
Por Glaucia Hora, gerente de Marketing Digital Sênior da CM.com
Há poucos anos atrás, falar sobre inteligência artificial (IA)
remetia à ideias futuristas, como cenários dominados por robôs e carros
voadores. Todavia, este instrumento já está presente em várias tarefas
do cotidiano atual, mesmo que você ainda não tenha percebido. Por
exemplo, ao utilizar uma plataforma de streaming de filmes e séries,
certamente você já se deparou com recomendações baseadas em seus gostos
pessoais. E adivinhe como isso é possível? Por meio do uso de algoritmos
que têm como base a IA.
Agora, imagine como este recurso pode ser uma excelente ferramenta
para potencializar a experiência do cliente em diversas ramificações da
indústria, inclusive, na otimização da estratégia de Marketing da sua
marca. De acordo com uma pesquisa realizada pela Morning Consult para a
IBM, 41% das empresas brasileiras já utilizam inteligência artificial em
suas operações, sendo que deste total, 30% destina-se à área de
Marketing e Vendas.
Hoje, a IA está presente em diversos tipos de ações de Marketing.
Esta tecnologia é bastante utilizada na segmentação de públicos, feita
com base em dados como idade, gênero, local, interesses e comportamentos
de compra. Quando aliada à uma CDP (Customer Data Platform), ferramenta
que permite a organização de dados dos clientes de várias fontes em um
só lugar, a IA se torna um poderoso instrumento de análise e
identificação de padrões e tendências que são bastante úteis na
otimização das campanhas de Marketing.
A partir da observação dos padrões de comportamento de compra dos
consumidores – o que inclui produtos que já foram adquiridos e produtos
pesquisados em ferramentas de busca –, é possível prever tendências e
criar campanhas hiper personalizadas, que sejam precisamente
direcionadas aos clientes em momentos específicos e ofereçam itens com
maior probabilidade de compra de acordo com as características de cada
um.
Além disso, a utilização da IA permite a criação de conteúdos
relevantes e personalizados para os clientes, baseados em suas
preferências pessoais. Você pode empregar este recurso na produção de
títulos para posts em blogs, publicações nas redes sociais, e-mail
marketing ou recomendações customizadas por meio de algoritmos. Estas
ações irão resultar em mais conversões e aumentar ainda mais a interação
da sua marca com seu público.
E por falar em redes sociais, você pode utilizar a inteligência
artificial na análise de sentimentos dos consumidores em relação à sua
empresa. A partir dela, é possível saber o que as pessoas pensam sobre
você e como estão reagindo às suas campanhas nos canais de comunicação.
Dessa maneira, fica mais fácil entender o que está funcionando ou o que
não está, de maneira a otimizar a alocação de recursos e tomada de
decisões.
Os chatbots alimentados por IA também são uma ótima opção para
modernizar sua estratégia de Marketing. Eles interagem com os clientes
em tempo real, e podem responder perguntas comuns, fornecer suporte, e
promover mais interações que simplificam a jornada de compra. Por meio
da coleta de dados, os chatbots de IA podem melhorar a experiência do
cliente de forma significativa, além de personalizar todo o contato e
gerar mais engajamento, seja no website ou nas redes sociais.
De maneira geral, a IA pode ser utilizada para segmentar diferentes
públicos, prever comportamentos e tendências para recomendações
personalizadas, interagir com clientes de forma significativa e fornecer
dados que geram insights para melhorar sua atuação no mercado.
Entretanto, é importante manter em mente que esta ferramenta deve ser
usada com responsabilidade, ética e uma estratégia bem definida, assim,
você poderá obter os melhores resultados em 2023.
STARTUP VALEON – CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
Olá tudo bem?
Você empresário que já escolheu e ou vai escolher anunciar os seus
produtos e promoções na Startup ValeOn através do nosso site que é uma
Plataforma Comercial Marketplace aqui da região do Vale do Aço em Minas
Gerais, estará reconhecendo e constatando que se trata do melhor veículo
de propaganda e divulgação desenvolvido com o propósito de solucionar e
otimizar o problema de divulgação das empresas daqui da região de
maneira inovadora e disruptiva através da criatividade e estudos
constantes aliados a métodos de trabalho diferenciados dos nossos
serviços e conseguimos desenvolver soluções estratégicas conectadas à
constante evolução do mercado.
Ao entrar no nosso site você empresário e consumidor terá a
oportunidade de verificar que se trata de um projeto de site
diferenciado dos demais, pois, “tem tudo no mesmo lugar” e você poderá
compartilhar além dos conteúdos das empresas, encontrará também:
notícias, músicas e uma compilação excelente das diversas atrações do
turismo da região.
Insistimos que os internautas acessem ao nosso site (https://valedoacoonline.com.br/)
para que as mensagens nele vinculadas alcancem um maior número de
visitantes para compartilharem algum conteúdo que achar conveniente e
interessante para os seus familiares e amigos.
A ValeOn é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar
ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso propósito é
colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn
possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o
seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Nos orgulhamos de tê-los como parceiros esse tempo todo e contamos com o apoio e a presença de vocês também agora em 2021.
O QUE OFERECEMOS E VANTANGENS COMPETITIVAS
Fazemos anúncios de publicidade para vários tipos de Empresas, Serviços e para Profissionais Liberais;
A nossa Plataforma Comercial ValeOn permite total
flexibilidade de anúncios, promoções e de produtos, além de oferecer
serviços de divulgação de Ofertas de Supermercados e de Veículos;
Os resultados são mensurados através de métricas diária/mensal;
O seu negócio estará disponível para milhares de Internautas
através de uma vitrine aberta na principal avenida do mundo, 24 horas
por dia, 7 dias da semana;
A sua empresa fica visível para milhares de pessoas que nem sabiam que ela existe;
Somos altamente comprometidos com os nossos clientes no
atendimento de suas demandas e prazos e inteiramente engajados para
aumentar as suas vendas.
Essa é uma forma de fortalecer nossa comunidade em torno de um
propósito muito forte: despertar as pessoas para serem melhores e
ajudarem a nossa comunidade empresarial para progredir cada vez mais com
um comércio da região fortalecido e pujante.
A introdução da nossa Startup nessa grande empresa, vai
assegurar modelos de negócios com métodos mais atualizados, inovadores e
adaptáveis, características fundamentais em tempos de crise, porque
permite que as empresas se reinventem para continuarem as suas
operações.
8 de Janeiro Oposição mira CPMI do vandalismo em Brasília para alcançar Lula Por Sílvio Ribas – Gazeta do Povo Brasília
Senadora Tereza Cristina (PP-MS), senador Rogerio Marinho (PL-RN)
e senador Ciro Nogueira (PP-PI) estão entre os que assinaram
requerimento de instalação da CPMI do 8 de janeiro| Foto: Jefferson
Rudy/Agência Senado
Um movimento da oposição ganhou força nos
últimos dias para viabilizar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI), associada à Câmara dos Deputados e ao Senado, com o objetivo de
investigar os atos de vandalismo de 8 de janeiro.
O avanço se deve à articulação do governo para impedir a abertura de
uma CPI sobre o assunto no Senado e ao propósito dos oposicionistas de
ampliar a temática e a lista de personagens visados nas investigações,
de modo a alcançar não só os autores do vandalismo, mas também os
possíveis casos de omissão por autoridades federais, já no governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Proposta pelo deputado André Fernandes (PL-CE), a CPMI já conta com
30 assinaturas de senadores, número mínimo necessário, e 120 de
deputados, necessitando mais 51 para protocolar o requerimento.
Nas redes sociais, há forte cobrança de eleitores pelo posicionamento
de seus parlamentares no respectivo estado, com destaque para a
ausência quase absoluta de nomes da esquerda.
Os apoiadores da CPMI entendem que, além da necessidade de punir
culpados, eventuais arbitrariedades da Justiça contra aqueles que não
praticaram vandalismo reforçam a urgência de esclarecer integralmente o
episódio e individualizar culpas.
Em reforço a essa tese, senadores e deputados da oposição visitaram
nesta quarta-feira (15) o presídio da Papuda em Brasília, onde estão 611
homens presos pelos atos de janeiro e já colheram informações.
Os senadores Rogério Marinho (PL-RN), Carlos Portinho (PL-RJ),
Eduardo Girão (Novo-CE) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Mecias de Jesus
(Republicanos-RR), Wellington Fagundes (PL-MT) e Tereza Cristina (PP-MS)
divulgaram uma declaração conjunta após a visita, afirmando que “a alta
ocupação [na penitenciária] reflete na qualidade do fornecimento da
alimentação aos presos e no atendimento de saúde, conforme verificado no
local”.
Para os senadores que visitaram o local, essas pessoas estão com seus
direitos fundamentais ignorados. “Quem cometeu os crimes tem de ser
punido com todo o rigor da lei, qualquer um que seja. Mas que tudo siga o
devido processo legal, o que não está ocorrendo”, afirmou o senador
Eduardo Girão à Gazeta do Povo.
Tereza Cristina também visitou, nesta quinta-feira (16), as 350
mulheres que estão presas na Penitenciária Feminina do Distrito Federal.
Para o senador Girão, a CPMI é o foro ideal e o instrumento mais
eficaz para se apurar os fatos envolvendo o 8 de janeiro, com maior
transparência e exatidão. “Não podemos ignorar evidências já relatadas,
como as de que a Agência de Inteligência (Abin) alertou, com boa
antecedência, 48 órgãos em 16 ministérios sobre o risco iminente de
depredação dos palácios”, observou.
O senador acredita que a comissão pode confirmar ou não se houve uma
omissão do governo e ainda apurar outros desdobramentos do trágico dia.
Neste ponto, ele destaca declarações controversas que levaram a Polícia
Federal a reter o celular do senador Marcos do Val (Podemos-ES).
O deputado José Medeiros (PL-MT), que acompanhou a comitiva de
senadores até a Papuda, disse que “muitas das pessoas detidas foram
detidas mesmo não tendo participado dos atos de vandalismo” e que
deveriam ser consideradas “presos políticos”.
Para o autor da proposta de CPMI, deputado André Fernandes (PL-CE), a
comissão de inquérito tem como missão principal investigar os atos de
ação e omissão ocorridos no último dia 8 de janeiro nas sedes dos três
Poderes da República. Mas ele entende que o governo Lula contribuiu para
as cenas de destruição em Brasília, mencionando advertências feitas em
documento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), dois dias antes.
Base do governo pressiona para frear CPI no Senado Embora a
iniciativa de CPI apresentada pela senadora Soraya Thronicke (União-MS),
ainda em janeiro, já tenha recebido 38 assinaturas, número acima do
mínimo necessário, comenta-se nos bastidores sobre o risco de o governo
domar o perfil de atuação da comissão ou, se for o caso, pressionar a
base para a retirada de assinaturas. A maioria dos nomes que endossam o
pedido já é da base.
Segundo fontes ligadas a quatro senadores, por enquanto, ainda não
foi feito nenhum movimento para esvaziar a lista, mas o governo observa
de perto se a comissão vai prosperar para então agir, com o argumento já
exposto de que ela pode atrapalhar a tramitação de projetos estruturais
na economia, como o marco fiscal e a reforma tributária.
Como recurso, há também a possibilidade de impugnar as assinaturas
feitas ainda em janeiro, durante a legislatura anterior, considerando
que a CPI seria instalada apenas no período legislativo posterior,
iniciado em 1º de fevereiro.
Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o ministro
da Justiça, Flávio Dino, já fizeram declarações públicas condenando a
instalação do colegiado, embora apoiadores no Congresso, como Renan
Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), terem sido os
primeiros a apoiar a ideia, antes da posse de novos parlamentares.
Os opositores da investigação temem que a proposta avance, caso se
estabeleça o mesmo precedente da CPI da Covid no Senado, que foi aberta
em 2021 por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), apesar da
resistência do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Do lado da oposição no Senado, a principal crítica dos líderes em
relação ao requerimento de Soraya está na própria redação, que já define
o episódio como de teor golpista e sugere que os envolvidos possam ser
classificados de terroristas. Há também quem receie por uma condução
partidarizada dos trabalhos, que não abra espaço para enfocar questões
cobradas pelos oposicionistas.