domingo, 12 de fevereiro de 2023

STF ANULA AS SUAS PRÓPRIAS DECISÕES

Editorial
Por
Gazeta do Povo

fachada STF


Sede do STF em Brasília.| Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF/Arquivo

Enquanto no mundo fictício de Lula, movido a preconceitos do século 19, o empresário brasileiro é um explorador indolente que lucra sem mover um dedo, no mundo real o Supremo Tribunal Federal acaba de aumentar as costumeiras dificuldades de quem empreende no Brasil, colocando na guilhotina o pescoço de inúmeros contribuintes, inclusive empreendedores que geram emprego e renda. Por unanimidade, a corte decidiu – por mais absurdo que isso possa parecer – que o respeito à coisa julgada, um princípio básico do direito, não vale mais no Brasil, ao menos em matéria tributária, e subitamente transformou a União em credora de dezenas de bilhões de reais, embora o custo real seja muito maior: o fim da segurança jurídica no país para empresários que pagam regularmente seus impostos.

Isso porque os ministros, em julgamento encerrado no último dia 8, resolveram que decisões judiciais definitivas não são mais definitivas quando se trata do não pagamento de impostos. Ainda que um processo na Justiça a respeito de determinada cobrança tenha sido vencido pelos contribuintes, com trânsito em julgado – ou seja, sem mais nenhuma possibilidade de recurso –, esse resultado pode ser revertido se o Supremo assim o desejar ao analisar ações como ADIs ou recursos extraordinários com repercussão geral, na chamada “quebra de decisões”. Como se não bastasse, os ministros ainda decidiram, por 6 a 5, que não haveria modulação, ou seja, contribuintes ficam sujeitos a cobranças retroativas (inclusive com correção e multa), referentes a impostos que deixaram de pagar no passado não porque tivessem alguma intenção de sonegar, mas simplesmente porque a cobrança havia sido abolida pelo Judiciário, inclusive com o trânsito em julgado, conferindo a tais contribuintes a segurança (que o STF transformou em pura ilusão) de que aqueles valores não seriam mais exigidos pela Receita Federal.

Se aquilo que a própria Justiça já disse ser definitivo, por meio do trânsito em julgado, não mais o é, o contribuinte brasileiro está no escuro e não pode dar nada como certo

Que no Brasil até o passado é incerto, para citar a famosa frase atribuída a Pedro Malan, já se sabia inclusive graças ao Supremo e seu trabalho de demolição da Operação Lava Jato. Mas a decisão do dia 8 eleva a incerteza a um novo patamar. “Impressiona que o STF, guardião da Constituição, tenha relegado a um segundo plano a coisa julgada”, disse o ministro Luiz Fux ao criticar a não modulação – por mais que sua crítica se aplicasse muito bem ao próprio instituto da “quebra de decisões”, que Fux apoiou, justamente deixando em segundo plano a coisa julgada. Com isso, o STF resolve da pior maneira possível um problema que ele mesmo criou quando, depois de ter proferido várias decisões com trânsito em julgado isentando empresas da cobrança da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), mudou de entendimento, manteve a cobrança para outras empresas e por fim, em 2007, julgou uma ADI e definiu que a cobrança era constitucional.

Alguém haverá de argumentar que o real problema está na ausência de modulação, sujeitando contribuintes à cobrança retroativa de tributos que a Justiça havia considerado indevidos, mas que a “quebra de decisões” em si apenas estaria restaurando a isonomia, pois não seria justo que contribuintes individuais seguissem isentos de pagar um tributo que o Supremo houvesse considerado constitucional, desde que a retomada da cobrança se referisse apenas ao período posterior à “quebra”. A questão, no entanto, é mais profunda e diz respeito à deterioração completa da segurança jurídica no país. Se aquilo que a própria Justiça já disse ser definitivo, por meio do trânsito em julgado, não mais o é, o contribuinte brasileiro está no escuro e não pode dar nada como certo.

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“Temos de ter em mente as consequências jurídicas das nossas decisões, o abalo que se cria ao risco Brasil”, acrescentou Fux – novamente, acertando ao criticar a não modulação, mas ignorando que a própria “quebra” já traz suficientes consequências jurídicas. Na mais benigna das hipóteses, há um desestímulo a que contribuintes busquem na Justiça seus direitos caso considerem estar sendo indevidamente tributados; na pior das hipóteses, teremos paralisia econômica, com o desestímulo ao empreendedorismo e ao investimento, já que empresas terão até mesmo de criar uma reserva para arcar com futuras cobranças caso decisões que lhes foram favoráveis sejam revertidas, deixando parado um dinheiro que poderia estar movimentando a economia e criando empregos. É um custo alto demais para os estimados R$ 50 bilhões (por enquanto) pelos quais a Receita Federal já está salivando.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/stf-respeito-a-coisa-julgada-quebra-de-decisoes-impostos/
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FATOR LULA IMPEDE DOLAR MAIS BARATO

 

Taxa de Câmbio
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Estudo da XP aponta que há fundamentos para o real se valorizar em relação ao dólar, mas “ruídos” locais – como as declarações e iniciativas de Lula – jogam contra.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Um estudo divulgado no começo do mês pela XP Investimentos aponta que, considerando fatores estruturais e cíclicos, a taxa de câmbio brasileira poderia estar entre R$ 4,50 e R$ 4,85. Ou seja, os fundamentos econômicos permitiriam uma valorização do real em relação ao dólar, hoje cotado acima de R$ 5,20. A questão é se a política econômica do governo federal vai permitir esse movimento. Por enquanto, o “fator Lula” não tem deixado o dólar ficar mais barato.

Um exemplo recente ilustra como as falas e iniciativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pesam sobre as cotações. No dia 2, movida por fatores internos e externos, a taxa de câmbio caiu abaixo de R$ 5 pela primeira vez em oito meses. Durante o dia, chegou a ser negociada por R$ 4,94, encerrando a sessão com uma cotação média (Ptax) de R$ 4,99, segundo o Banco Central.

Porém, na noite do dia 2 a RedeTV exibiu uma entrevista com Lula em que, entre outras coisas, o petista voltou a atacar a política monetária do Banco Central, chamando o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, de “esse cidadão” e prometendo reavaliar a autonomia do BC. Resultado: no dia seguinte, a cotação média do dólar saltou para R$ 5,10. A situação piorou ao longo da última semana, com dólar chegando a R$ 5,25 na média das transações de sexta-feira (10).

O economista Samuel Pessôa, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e sócio do Julius Baer Family Office (JBFO), também defende que o câmbio poderia estar bem mais barato – algo próximo de R$ 4,80, segundo ele. Em artigo na “Folha de S. Paulo”, Pessôa aponta que os discursos de Lula e a piora fiscal com a emenda constitucional que ampliou o teto de gastos – originada da PEC fura-teto – têm um custo de R$ 0,25 por dólar na taxa de câmbio.

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O economista Rodolfo Margato, autor do levantamento da XP, aponta que há um desalinhamento cambial no Brasil, citando a diferença entre o câmbio corrente e aquele definido pelos fundamentos econômicos.

O problema é motivado pela deterioração das perspectivas fiscais e ruídos no ambiente doméstico, como os reiterados ataques de Lula à política monetária, às metas de inflação e à autonomia do Banco Central.

Esses ruídos domésticos contrabalançam a melhoria de fatores externos, como o enfraquecimento global do dólar e a elevação dos preços das commodities, por causa da reabertura econômica da China.

Levantamento da corretora mostra que em três meses – entre o início de novembro e de fevereiro – as moedas dos principais países emergentes apresentaram valorização frente ao dólar americano. As exceções são o peso argentino, o rublo russo e a lira turca. O real teve uma pequena valorização de 1,5% no período.

Margato aponta que há espaço para o fortalecimento da moeda brasileira ao longo de 2023. Mas há uma série de fatores que podem influenciar nessa direção. “Isso depende, em grande medida, de uma menor percepção de riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal. E o ano deve ser marcado por discussões difíceis em termos de política econômica, com várias idas e vindas”, diz.

Projeções de economistas, porém, mostram que há grande ceticismo sobre a possibilidade de o dólar rumar para níveis mais baixos. Segundo o último boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira (6), a mediana das expectativas aponta para dólar em R$ 5,25 ao fim deste ano e R$ 5,30 em dezembro de 2024.

Dólar perde força desde setembro, mas movimento pode ser revertido
Desde o último trimestre do ano passado, a moeda norte-americana enfrenta um gradual enfraquecimento. “A taxa de juros subiu bastante por lá”, diz o economista e sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira.

O indicador DXY, que mede a força do dólar frente a seis moedas fortes, perdeu 9% de seu valor desde o fim de setembro, indicam dados da plataforma de investimentos Investing.com.

A desvalorização foi motivada pela possibilidade de o encerramento do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos estar mais próximo do que se imagina. O mercado trabalha com a possibilidade de a última alta acontecer em março. A inflação na maior economia global está vindo abaixo das expectativas há quatro meses.

Parte das perdas do dólar, porém, foi revertida nos últimos dias. Os dados do mercado de trabalho norte-americano referentes a janeiro vieram bem mais fortes que o esperado, com a criação de 517 mil empregos não agrícolas. A expectativa era de 189 mil. O resultado foi lido como um sinal de que a economia dos EUA ainda está aquecida e pode exigir mais juros para manter a inflação sob controle.

Margato aponta que a divulgação desses dados nos Estados Unidos criou uma série de dúvidas do mercado. “Será que os juros vão subir depois de março? Será que vai ter espaço para que aconteça uma queda ainda em 2023?. Essas são questões que estão sendo feitas agora pelos agentes econômicos”, diz.

Outro fator que pode contribuir para reverter esse quadro de desvalorização do dólar, segundo o superintendente de tesouraria comercial do banco Daycoval, Marcelo Sanches, é o posicionamento de lideranças regionais do Fed (Federal Reserve, o BC americano).

Eles destacaram que, diante da piora no cenário externo, é plausível considerar uma taxa de juro acima de 6% ao ano nos Estados Unidos. Atualmente, está na faixa entre 4,50% e 4,75%.

O mercado também está de olho em uma possível recessão branda nas principais economias globais, como os Estados Unidos e a zona do Euro.

A inflação está dando sinais de trégua nas economias ligadas à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os preços fecharam 2022 com alta de 9,4%, abaixo do pico de 10,8% em 12 meses registrado em outubro e também o menor nível desde abril. Na área do euro, a prévia da inflação anualizada é de 8,5% em janeiro, segundo a EuroStat.

São taxas ainda muito elevadas, porém. Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, há muito trabalho pela frente na Europa. “Eles começaram tardiamente a aumentar a taxa de juro”, diz.

Outro fator externo também ajuda a explicar a perda de valor do dólar nos últimos meses, aponta a economista Cristiane Quartaroli, do banco Ourinvest. Trata-se do fortalecimento da economia chinesa, que favorece as economias emergentes, muito dependentes do gigante asiático no fluxo comercial. Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) sinalizam para um crescimento de 5,2% do PIB chinês neste ano, contra os 3% registrados em 2022, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China.

Tensões geopolíticas também estariam por trás do enfraquecimento da moeda americana, ressalta Meira. Entre elas estão a guerra na Ucrânia, as tensões entre China e Taiwan e os problemas energéticos na Europa.

Tensões domésticas impedem valorização mais forte do real sobre o dólar
Margato aponta que, apesar do cenário externo mais favorável, a taxa de câmbio brasileira apresentou muita volatilidade e desempenho inferior ao dos pares emergentes nas últimas semanas. A maior valorização nos últimos três meses foi do forint húngaro, seguido pelo bath tailandês e o won sul-coreano.

A questão é que há muito ruído em Brasília, dizem analistas ouvidos pela Gazeta do Povo. “A deterioração das perspectivas fiscais e questões políticas no ambiente doméstico contrabalançaram a melhoria de fatores externos”, explica o economista da XP.

“Há espaço para o fortalecimento do real ao longo de 2023. No entanto, isso depende, em grande medida, de uma menor percepção de riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal. E o ano deve ser marcado por discussões difíceis em termos de política econômica, com várias idas e vindas”, destaca Margato.

Metas de inflação podem afetar rumos da política econômica e do dólar
Uma discussão que preocupa é em relação à condução da política monetária e à fixação de metas de inflação por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN). Lula tem criticado com frequência o Banco Central e questionado a manutenção dos juros em 13,75% ao ano. “Mas há um viés de manutenção prolongada dos juros”, destaca o executivo do Daycoval.

Segundo a Bloomberg, a equipe econômica do governo estaria considerando uma revisão antecipada das metas de inflação, para aliviar as tensões entre o governo Lula e o Banco Central. O tema pode ser discutido na primeira reunião do CMN neste ano, marcada para a próxima quinta-feira (16). O colegiado é formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC.

Sanches aponta que flexibilizar a meta pode dar a impressão tolerância com uma inflação mais alta. As metas até 2025 já foram fixadas pelo CMN. Elas são de 3,25% em 2023 (podendo oscilar entre 1,75% e 4,75%) e de 3% em 2024 e 2025 (com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%). A definição para 2026 deve ser tomada em junho.

O mercado já trabalha com cenários de revisão das metas. “Um ajuste de 0,25 ponto percentual seria, dos males, o menor. As perdas registradas nos últimos dias pelo mercado financeiro seriam devolvidas rapidamente”, diz Sanches.

Um cenário pior seria se houvesse uma mudança de um ponto percentual nas metas. O principal impacto, segundo ele, seria um juro real menor, o que diminuiria a atratividade do Brasil frente a outras economias emergentes. “O fluxo de capitais diminuiria”, afirma.

Outro impacto seria o encarecimento dos juros de captação para os investidores brasileiros. Ele aponta que isso poderia tornar mais caras as obras de infraestrutura. E, também, tornaria mais difícil o acesso ao crédito para as empresas privadas, o que poderia se refletir em mais inflação, já que os custos aumentariam.

Outro ruído é a discussão sobre a independência do Banco Central, constantemente criticada por Lula. A lei de autonomia do BC entrou em vigor em 2021, com o apoio do governo de Jair Bolsonaro (PL), e encontra respaldo em lideranças políticas como os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e da Câmara, Arthur Lira (PP).

Quartaroli, do banco Ourinvest, aponta que, no momento, o Brasil não apresenta um bom pano de fundo no cenário político e institucional: “Além do quadro fiscal que preocupa, é preciso que a questão política e institucional forneça uma história boa. Sem isso, o risco-país permanecerá elevado.”

Antes da pandemia, em 2019, o risco-país do Brasil – medido pelo Credit Default Swaps (CDS) de 5 anos, derivativo que é uma espécie de seguro contra calotes – estava em torno de 100 pontos. Atualmente está em 214 pontos, mas chegou a picos de 311 pontos, em setembro, durante a campanha eleitoral.

Questão fiscal é fator relevante na cotação do dólar

A questão fiscal é um fator relevante, destaca Serra, da Toro Investimentos. A PEC fura-teto liberou quase R$ 200 bilhões em gastos adicionais, além dos limites originais do teto de gastos, o que injeta mais dinheiro na economia e amplia o déficit público.

Um papel relevante, segundo Meira, da Valor Investimentos, será dado pelas discussões da reforma tributária. Segundo ele, essas conversas e a menor ou maior efetivação das propostas mostrarão o poder de negociação do governo federal.

O economista da XP avalia que a apresentação de um arcabouço fiscal crível e avanços na reforma tributária podem ser catalisadores para o fortalecimento do real. Por outro lado, incertezas elevadas sobre a condução da política econômica, envolvendo diretrizes fiscais e monetárias, podem ampliar a diferença entre as taxas de câmbio atual e de “equilíbrio”.

“O que vier vai ser relevante para dar credibilidade para os investidores. Até agora, tudo está uma incógnita”, destaca Sanches.

Outro ponto de interrogação é em relação à política parafiscal, que envolve, por exemplo, a injeção de mais crédito pelos bancos públicos ou o andamento de programas como o Minha Casa, Minha Vida. “Isto gera mais pressão do lado fiscal”, diz o analista da Toro.

“Evidências empíricas mostram que o real pode ficar descolado dos fundamentos econômicos por bastante tempo”, alerta Margato.


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JUIZ E SERVIDORES SÃO OBRIGADOS A VOLTAR AO TRABALHO PRESENCIAL

 

CNJ alerta para fóruns esvaziados

Foto: CNJ

Por Luiz Vassallo e Davi Medeiros – Jornal Estadão

Conselho Nacional de Justiça determina restabelecimento do cotidiano de trabalho pré-pandemia até a próxima quinta-feira; servidores reclamam de prejuízos à ‘rotina’

Quase três anos após o início da pandemia da covid-19, magistrados e servidores do Poder Judiciário resistem à volta das atividades presenciais, enquanto há varas e tribunais esvaziados pelo País. Advogados não encontram juízes e denunciam processos paralisados, além de longa espera por uma audiência.

Associações e sindicatos se insurgiram contra uma ordem de retorno aos postos de trabalho imposta pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Servidores reclamam de prejuízos à “rotina” e ao “ambiente familiar” daqueles que moram fora das comarcas e usam como argumento, inclusive, a “vida organizada no exterior”.

A decisão contestada é do CNJ, de 17 de novembro de 2022. Sob o comando da ministra Rosa Weber, os conselheiros derrubaram resoluções de 2020, do ex-presidente Dias Toffoli, que permitiram o adiamento de atos processuais e o teletrabalho. A nova resolução determina o prazo de 60 dias para o estabelecimento da rotina pré-pandemia, que se esgota na quinta-feira.

O colegiado também mudou uma resolução de 2016 sobre o teletrabalho de servidores e impôs que a modalidade seja limitada a 30% dos quadros das varas e Cortes. Ficou decidido ainda que seria criado um grupo de trabalho, com quadros do CNJ e juízes, para implementar a volta ao presencial e monitorar o avanço das atividades presenciais.

Sob o comando da ministra Rosa Weber, a CNJ determinou que juízes deveriam retomar a rotina em até 60 dias; prazo se esgota na quinta-feira, 16.
Sob o comando da ministra Rosa Weber, a CNJ determinou que juízes deveriam retomar a rotina em até 60 dias; prazo se esgota na quinta-feira, 16. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Relator dos casos que levaram à edição da resolução, o conselheiro Luiz Philippe de Melo Filho, que é ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), afirmou que “o retorno da magistratura aos seus respectivos locais de trabalho é imperativo inegociável neste momento em que toda a sociedade brasileira já voltou à situação de normalidade”. Segundo ele, as antigas resoluções dão ensejo a “inúmeras interpretações díspares que prejudicam severamente a vida do jurisdicionado brasileiro” – que, no caso, é o cidadão.

“O retorno da magistratura aos seus respectivos locais de trabalho é imperativo inegociável neste momento em que toda a sociedade brasileira já voltou à situação de normalidade”

Luiz Philippe de Melo Filho, ministro do TST

Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas), que reúne as principais entidades das categorias, acionou o CNJ, no entanto, com pedido para a prorrogação do prazo. A Frentas alega que a adaptação ao presencial “demandará tempo” e ainda afirma que “exigirá a nomeação de novos magistrados, promotores de Justiça e defensores públicos”.

Entidades ligadas aos servidores também se rebelaram. A Federação Nacional dos Servidores do Judiciário (Fenajud) diz que “será afetada toda a vida de servidores e magistrados de todo o Poder Judiciário que eventualmente estejam em teletrabalho”. Para a Fenajud, haverá “prejuízos irreparáveis na alteração de sua rotina, seu ambiente familiar, já que alguns residem em localidade distante da comarca de lotação”.

Já o Sindicato dos Servidores da 7.ª Região da Justiça do Trabalho (Sindissétima) argumenta que a resolução inspira “sensação de injustiça e inconformismo”: “E a vida organizada dos servidores que estão em outros Estados ou no exterior? Como alguém poderia adivinhar que o CNJ iria impor, sem que exista nenhum problema real de atendimento ao público, funcionamento das unidades ou produtividade, uma restrição dessa natureza?”

‘Abandono’

Apesar das queixas, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pressiona pelo trabalho presencial. A entidade foi aos autos para endossar a decisão do CNJ. Melo Filho negou todos os pleitos das associações e dos sindicatos.

O presidente da OAB, Beto Simonetti; a Ordem também pressiona pelo trabalho presencial.
O presidente da OAB, Beto Simonetti; a Ordem também pressiona pelo trabalho presencial. Foto: Eugênio Novaes/CFOABonterri

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“A OAB entende que a adoção de novas tecnologias para agilizar os atos processuais é benéfica desde que amplie o acesso da população à Justiça, não seja um impeditivo. Por isso, a escolha sobre o modelo das audiências, se presencial ou virtual, deve ser feita pelo jurisdicionado de forma a atender a realidade e a possibilidade de cada um”, afirmou o presidente nacional da entidade, Beto Simonetti.

“A OAB entende que a adoção de novas tecnologias para agilizar os atos processuais é benéfica desde que amplie o acesso da população à Justiça, não seja um impeditivo”

Beto Simonetti, presidente nacional da OAB

No acompanhamento do retorno aos tribunais, o CNJ tem recebido denúncias ou mesmo constatado em correições a ausência de juízes em fóruns, o que prejudica a população. Durante inspeção no Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA), na última semana, o corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, que é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), invocou o “senso de responsabilidade da magistratura”.

“Temos notícia de que, em muitos Estados, o que estava acontecendo era uma situação de quase abandono, principalmente no interior”, disse o corregedor. Salomão pediu ainda a atenção das corregedorias ao retorno presencial.

“Em muitos Estados o que estava acontecendo era uma situação de quase abandono, principalmente no interior”

Luis Felipe Salomão, coordenador de Justiça

Inspeções

No fim de outubro de 2022, oito juízes e 34 servidores ligados à Corregedora Nacional de Justiça fizeram uma inspeção nos edifícios do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que fica a apenas nove minutos da sede do CNJ, em Brasília, e encontram os prédios esvaziados de servidores e magistrados. De outros Estados, denúncias de advogados também chegaram ao órgão.

Até o momento, foram sete procedimentos para apuração, mas nem todos vão virar processos, porque a averiguação é preliminar e parte deles tinha aval de regras específicas de cada tribunal para ficarem fora do local de trabalho. No entanto, a situação evidencia a redução da estrutura judicial, sobretudo em cidades pequenas e pobres.

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Felipe Salomão, invocou o 'senso de responsabilidade da magistratura' para retomar o trabalho presencial.
O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Felipe Salomão, invocou o ‘senso de responsabilidade da magistratura’ para retomar o trabalho presencial. Foto: Gabriela Biló/Estadão – 3/9/2020

No caso do DF, a Corregedoria recomendou à Corte, por exemplo, a abertura de uma sindicância para investigar a conduta de uma juíza que também se utilizava do teletrabalho. Segundo a corregedoria, ela estava adiando por meses a realização de audiências com réus presos – que têm prioridade. O restante do TJDFT também vem sendo acompanhado de perto.

Em Igarapava (SP), os juízes Joaquim Augusto Simões Freitas Pedro Henrique Bicalho Carvalho, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), foram denunciados à Corregedoria pela OAB local. A presidente da entidade na região, Nilva Maria Pimentel, relatou ao CNJ que os magistrados não moram lá e nem “sequer comparecem ao fórum para solucionar os casos urgentes”. Segundo ela, há processos parados há cinco meses. Salomão mandou a Corte apurar a conduta dos magistrados.

Casos como esses serão averiguados nos próximos meses pelo CNJ, que abriu um canal de denúncias e vem recebendo queixas. O TJ-SP informou que a Corregedoria acompanhou o trabalho dos magistrados de Igarapava e “detectou que, apesar do elevado número de feitos distribuídos, há produtividade elevada, o que tem permitido a redução do acervo da comarca”. O tribunal disse também que os magistrados têm autorização para residirem fora da comarca. Procurado para responder em nome de seus magistrados, o TJDFT não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.

Diálogo

As associações de representação de magistrados e os sindicatos de servidores afirmam que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não promoveu o debate necessário ao determinar o retorno das atividades presenciais. As entidades alegam, ainda, que o teletrabalho propiciou aumento do número de decisões, ao dispensar reunir todas as partes em um mesmo fórum e na mesma data.

Ao Estadão, o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Frederico Mendes Júnior, afirmou ser favorável à manutenção do trabalho a distância e disse que ele proporcionou “ganhos de produtividade e economia aos cofres públicos, além da ampliação do acesso à Justiça”. “

“Para se ter uma ideia, o total de decisões proferidas pelo Judiciário cresceu 16% em 2021 e cerca de 9% em 2022, durante o período de isolamento social, quando o teletrabalho foi a regra”, afirmou.

No processo que levou à resolução do CNJ, de 17 de novembro de 2022, a Frentas afirma que “cumpre ressaltar, também, que, ante o início do período de recesso e férias forenses, não se teve tempo hábil para oitiva dos representantes da sociedade civil, especialmente daqueles ligados ao sistema de justiça”. “Tampouco houve tempo para a realização dos estudos e análises pertinentes”, argumenta.

‘Unilateral’

Já a Fenajud alega que a medida foi tomada de “forma unilateral”. O Sindicato dos Servidores da 7.ª Região da Justiça do Trabalho (Sindissétima), por sua vez, afirma que, “apesar de demonstrar uma preocupação legítima com o bom funcionamento da atividade jurisdicional”, a decisão, “pelo fato de não ter debatido adequadamente a questão com os servidores e suas entidades representativas, acabou adotando um caminho equivocado”. Segundo a entidade, a medida “trará, na verdade, prejuízos severos ao bom funcionamento da Justiça e à vida dos servidores”.

ECONOMIA BRASILEIRA CRESCEU MAIS QUE A CHINA EM 2022

 

Dados do Banco Mundial mostram que Paulo Guedes estava certo

Economia brasileira cresceu mais que a China em 2022, sepultando previsões indignadas de economistas de esquerda

Por J.R. Guzzo

Saíram, afinal, os dados oficiais do Banco Mundial para o desempenho da economia em 2022 e lá está: o Brasil cresceu mais que a China, pela primeira vez em 42 anos. O ex-ministro Paulo Guedes já havia dito exatamente isso, em suas estimativas sobre a performance da economia brasileira no ano passado; foi sepultado por uma avalanche de reações indignadas por parte dos economistas de esquerda, analistas de grandes bancos e mais do mesmo, todos convencidos de que o Brasil não iria crescer nada, ou algo assim. Não só erraram na previsão; previram o contrário do que aconteceu. É claro que nenhum deles fará qualquer esforço sério para entender o que houve, e isso garante que a qualidade das suas análises continuará a mesma de sempre. Fazer o que? O mundo das previsões econômicas é assim mesmo. A vida continua.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia no Planalto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia no Planalto Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Vale a pena registrar, em todo caso, que os números do Banco Mundial colocam mais um prego no caixão em que está enterrada eterna desculpa de Lula quando assume a presidência da República – a de que recebeu uma “herança maldita” do seu antecessor. Em todas as vezes que disse isso, a realidade dos fatos era precisamente a oposta. Na verdade, Lula recebeu um país muito bem arrumado do ponto de vista econômico, levando-se em conta as circunstâncias mundiais e o efeito devastador que dois anos de covid e de “fique em casa” tiveram no sistema de produção do Brasil. A inflação, abaixo de 6% ao ano, é menor que a da Europa e dos Estados Unidos. A taxa de desemprego, em 2022, recuou para cerca de 8% – o melhor índice desde 2014. As reservas internacionais estão acima de 320 bilhões de dólares. As exportações bateram mais um recorde. Os índices de miséria, segundo o mesmo Banco Mundial, são os menores em vinte anos. As empresas estatais, que segundo Lula estão “destruídas”, lucraram mais de 250 bilhões de reais no ano passado. (Quem levou a Petrobras à beira da falência foram os governos de Lula e Dilma.) Vem, agora, a confirmação do crescimento econômico – 3,1% em 2022, um dos mais altos do mundo num momento ruim para todos.

“Herança maldita”? Onde? Herança maldita, na vida real, foi a que os governos do PT deixaram para Michel Temer em 2016 – uma economia em ruínas, com a maior recessão que este país já teve em sua história. Temer, denunciado como “golpista” por Lula, simplesmente reconstruiu o Brasil destruído por Lula e Dilma; fez o contrário, precisamente, do é acusado de ter feito. Os números reais, de qualquer maneira, não vão desaparecer só porque Lula inventa uma situação que não existe. Ficarão aí para sempre – e logo mais, queira ele ou não queira, começarão a ser comparados com os números do seu governo. A população brasileira terá, então, a oportunidade de ver com os seus próprios olhos o que o novo presidente tem a apresentar no mundo das realidades.

BOLSONARO VOLTA E DIZ QUE MISSÃO NÃO ACABOU

 

Em igreja na Flórida, Bolsonaro anuncia volta ao Brasil e diz que “missão não acabou”

Foto: Reprodução

Por Tacio Lorran

11/02/2023 | 22h34Atualização: 12/02/2023 | 00h02

Ex-presidente não manifesta solidariedade ao povo yanomami, mas diz que terra indígena é alvo de ‘muitos interesses’

BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro participou na noite deste sábado, 11, de evento na igreja evangélica Church of All Nations (Igreja de Todas as Nações) em Boca Raton, na Flórida, Estados Unidos. Em seu discurso, o ex-mandatário afirmou que a sua “missão não acabou” e que pretende voltar ao Brasil “nas próximas semanas”. Sem manifestar solidariedade ao povo yanomami, ele disse que a terra indígena é alvo de “muitos interesses” por conta de riquezas naturais que existem sob ela em Roraima.

“É uma satisfação muito grande a forma como vocês têm me tratado, em qualquer lugar desse mundo. Isso não tem preço. Ainda mais para quem, pelo menos diante do TSE, não conseguiu ser reeleito”, disse Bolsonaro, ao ouvir vaias da plateia contra o Tribunal Superior Eleitoral. “Todos nós temos uma missão aqui na Terra. E a minha missão ainda não acabou”, prosseguiu.

Jair Bolsonaro discursa em igreja na Flórida.
Jair Bolsonaro discursa em igreja na Flórida. Foto: Reprodução

Bolsonaro também falou que quer colaborar com a direita brasileira. “No momento não temos uma liderança da direita nacional. Temos regional. Esse pessoal vai crescendo. Nós vamos nos fortalecer. Nós voltaremos. A nossa vocação é ser mais que extensão, na verdade, uma grande nação. Olha o que Israel não tem, e veja o que eles são. Olha o que nós temos, e o que nós não somos”, disse.

O ex-presidente também ressaltou “riquezas imensuráveis” que, segundo ele, existem debaixo da Terra Indígena Yanomami. A crise humanitária na região se agravou durante o governo Bolsonaro, criticado por conivência com o garimpo e com o desmatamento em Roraima.

”Estou aqui em um país que eu sempre admirei, os Estados Unidos. Um país que tem apenas 1 milhão de km² a mais que o nosso Brasil. Mas se fizermos a comparação do Brasil até mesmo com a Rússia, ninguém tem o que nós temos. No Estado de Roraima, lá tem uma tabela periódica debaixo da terra. E essa questão Yanomami… Agora, a intenção não era atender a esses, porque ali está misturado: 40% da terra Yanomami é do Brasil, 60%, da Venezuela. Uma região ourífera, de riquezas imensuráveis”, afirmou o político, sem deixar claro quem devia ser atendido ou não.

“Se não tivesse riqueza lá, não seria demarcado como terra indígena. Os interesses são muitos. Não há interesse em ajudar a população. Eles são exatamente iguais a nós. Têm o mesmo sentimento, o mesmo destino. E são o povo mais pobre no solo mais rico do mundo”, completou.

O ex-presidente viajou aos Estados Unidos no penúltimo dia de seu mandato, após a derrota inédita ao tentar se reeleger em 2022. Bolsonaro, porém, pretende voltar ao Brasil e se posicionar como o principal líder da direita e da oposição a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo no exterior, ele atuou na disputa pela Presidência do Senado, no início deste mês, em favor de seu ex-ministro, o senador Rogério Marinho (PL), mas não obteve sucesso. O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi reeleito com 49 votos favoráveis, de um total de 81.

Antes de começar a discursar, Bolsonaro foi aplaudido e chamado de “mito” pelos participantes. E chorou. “Não interessa o que vem acontecer comigo aqui ou no Brasil. Ou da forma se porventura algo acontecer. A nossa geração já faz parte da história do Brasil. O Brasil esquecido, roubado, saqueado e desrespeitado. Conseguimos ao longo de quatro anos, juntos, mostrar e despertar no coração do povo brasileiro os seus reais sentimentos”, prosseguiu Bolsonaro, em seu discurso na igreja.

O ex-presidente disparou críticas ao atual governo e pontuou feitos de seu mandato. “Compare os meus ministros com os atuais ministros. Muitos não são ministros, são réus. A conta, todos vão pagar. Até quem fez aquele L de ladrão”, provocou.

Alegou também não ter errado nenhuma das observações que fez durante a pandemia do novo coronavírus – apesar de ter recomendado tratamentos considerados ineficazes contra a covid-19 e ter desestimulado a vacinação.

CUSTO DA ENERGIA ELÉTRICA É ALTO DEVIDO ENCARGOS E TRIBUTOS

Foto: Divulgação/ Abradee

Por Abradee – Jornal Estadão

Conheça como é composta a conta de luz e as causas do alto custo dos valores praticados no Brasil


Empresas e pessoas físicas têm a mesma sensação sobre o custo da energia elétrica: está alto demais. Mas por que isso acontece? O primeiro passo para avaliar esse quadro é entender como a conta de energia é composta: Geração (31%), Transmissão (8%) e Distribuição (23%), cada um desses com um agente responsável, além dos encargos e tributos que resultam nos demais 38%. “Nos últimos anos, as maiores elevações têm ocorrido nos custos de Geração e nos encargos e tributos”, avalia Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

Entenda a composição das tarifas da conta de energia

Abradee tem buscado um setor elétrico que beneficie a todos os consumidores brasileiros de forma justa, equilibrada e transparente
Abradee tem buscado um setor elétrico que beneficie a todos os consumidores brasileiros de forma justa, equilibrada e transparente Foto: Divulgação/ Abradee

O aumento dos custos de Geração para os consumidores do mercado regulado decorre de diferentes fatores. Um deles é o chamado “lastro térmico”, causado por contratos mais caros, que ajudam a assegurar a sustentação do sistema elétrico – é o caso, por exemplo, das termelétricas. Esses custos são cobertos apenas pelo mercado regulado – ou seja, pelos consumidores das distribuidoras, que também têm bancado as bandeiras tarifárias.

Outro fator é a sobrecontratação involuntária das distribuidoras de energia, decorrente do crescimento da Geração Distribuída (especialmente por meio das placas solares fotovoltaicas) e do aumento da migração de consumidores para o mercado livre de energia. “Os consumidores que aderem a essas opções acabam deixando para os demais os custos das contratações e lastros já firmados pelas distribuidoras nos leilões regulados, em que são obrigadas a contratar um volume de energia”, explica Madureira. A lógica é a mesma de qualquer tipo de condomínio: quanto menos pagantes, maior a parcela de cada um.

Os custos vêm, dessa forma, sendo pressionados pelo atual modelo dos leilões regulados. Quando as distribuidoras se veem obrigadas a comprar fontes de energia que não necessariamente são as mais competitivas naquele momento, e por prazos muito longos, isso traz inevitáveis implicações financeiras para os consumidores.

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Elevação da tarifa por comparativo dos componentes

Maiores elevações têm ocorrido nos custos de Geração e nos encargos e tributos
Maiores elevações têm ocorrido nos custos de Geração e nos encargos e tributos Foto: Divulgação/ Abradee

Soma-se a todos esses fatores o aumento da parcela de encargos setoriais e tributos. Um exemplo é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que saltou de R$ 6 bilhões para R$ 32 bilhões no período entre 2010 e 2022. Trata-se de um fundo para financiar políticas públicas – e que abriga, por exemplo, a Tarifa Social a consumidores de baixa renda e subsídios a produtores rurais e às energias renováveis.

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Em 2022, o reajuste da CDE foi de 34,2% em relação ao ano anterior. Entre as principais causas desse aumento tão significativo, estão os descontos de distribuição e transmissão às fontes incentivadas, a ampliação da Tarifa Social, os subsídios ao carvão mineral e o aumento da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que ajuda a amortizar os custos elevados da energia de sistemas isolados, como na Região Norte.

“Uma parcela desses subsídios e outros incentivos já completam 50 anos de existência. Incentivos que se perpetuam por tanto tempo certamente precisam ser reavaliados”, diz Madureira. Para o presidente da Abradee, independentemente do mérito sobre a permanência ou não de cada um desses subsídios, o custo deveria ficar a cargo do Tesouro Nacional, como política pública de Estado, e não embutido nas contas de luz dos consumidores regulados.

Qual o caminho para a redução das tarifas no Brasil?

A Abradee considera que o tratamento diferenciado para determinadas modalidades de consumidores tem causado uma balança desigual, que gera transferência de renda de consumidores de menor renda para os de maior renda. Por isso, a instituição defende que os custos sejam divididos por todos os mercados de forma isonômica. “Temos buscado, ao longo dos anos, um setor elétrico que beneficie a todos os consumidores brasileiros de forma justa, equilibrada e transparente”, observa Madureira.

Para Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores, formada por instituições que defendem os interesses dos consumidores de energia elétrica, do clima e da sociedade em geral, “o Brasil tem totais condições de ter uma conta de energia elétrica das mais baratas do mundo”. Ele reforça que o custo se mantém alto por ser em grande parte formado por encargos e tributos. “A redução dos custos deverá vir da intensificação da instalação das fontes mais baratas, garantida a segurança do sistema elétrico, da eliminação dos encargos, mantendo-se os subsídios sociais, mas sob a responsabilidade do Tesouro e revendo-se os tributos no âmbito de uma reforma tributária”, avalia Barata.

Para Rosimeire Cecília da Costa, presidente da Associação Nacional de Conselhos de Consumidores de Energia Elétrica (Conacen), o caminho também está na desoneração da tarifa de energia elétrica. “Nossa missão, como representantes dos consumidores, é levar essa bandeira ao Congresso Nacional.” Ela ressalta que poucos consumidores têm a noção de que grande parte dos valores pagos na fatura diz respeito a impostos e encargos do Setor Elétrico Brasileiro. “Sem esses componentes, a conta não seria alta, considerando-se a complexidade da entrega de energia a mais de 99,7% da população brasileira num território tão vasto como o nosso.”

 

APRENDER MAIS RÁPIDO E MELHOR PODE FAZER TODA A DIFERENÇA

 

Livia Ciacci – Neurocientista do SUPERA

Em uma sociedade com informações novas a todo instante, aprender mais rápido e melhor pode fazer toda a diferença. O primeiro passo para entender os mecanismos de aprendizagem no cérebro é entender que memória e aprendizagem são conceitos distintos e complementares, ou seja: memorizar não significa exatamente aprender.

Você aprende algo novo quando é capaz de responder a um determinado estímulo a partir de experiências anteriores (memórias).

A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci, explica que ainda é comum falar sobre os estilos de aprendizagem na área da educação uma teoria de David Kolb no início dos anos 70 e diz que cada um teria uma forma de aprendizagem mais eficaz de acordo com o uso dos sentidos.

“Na neurociência, cada vez mais verificamos evidências de que a organização do cérebro integra informações provenientes de todos os canais sensoriais, de forma cooperativa, para então criar uma visão da realidade. Assim, as experiências multissensoriais potencializam as percepções, facilitando os processos de consolidação e recuperação das memórias”, explicou.

Como isso acontece no cérebro?

O processamento multicanais (usando visão, audição, motricidade, etc.) permite a distribuição da carga cognitiva, melhorando a memória a curto-prazo e sua posterior consolidação em memória de longo-prazo.

Pensar dessa forma faz mais sentido, porque o cérebro evoluiu sempre em ambientes multissensoriais, lidando e recebendo estímulos por todos os sentidos ao mesmo tempo. “Nesta lógica, priorizar ou escolher apenas um jeito de receber informação não é muito produtivo, como se eu estivesse utilizando um aparelho 220V em uma tomada de 110V”, alertou Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA, Ginástica para o Cérebro.

Mas é claro que focar no aprendizado com todos os sentidos exige mais atenção, e não cair na tentação de sempre buscar conteúdo do mesmo jeito. Será que você está acomodado preferindo sempre um mesmo canal sensorial?

Faça o teste e descubra o canal sensorial que precisa ser estimulado:

Primeiro passo da aprendizagem – Receber a nova informação:

1 – Prefiro presentes:

a.                  bonito   b) sonoro  c) útil

2 – Memorizo mais quando:

a.                  lendo   b) ouvindo  c) fazendo

3 – Na maioria das vezes estou:

a.                  observando b) ouvindo  c) movendo

4 – Ao comprar, procuro:

a.                  observar o produto  b) ouvir o vendedor c) experimentar/testar

5 – Quando em excesso, me irrito com:

a.                  claridade  b) barulho   c) aglomeração

6 – Em um filme, fico mais atento a:

a.                  cenários   b) músicas  c) interpretação

7 – Me animo mais quando:

a.                  me mostram   b) me falam  c) me convidam

Se suas respostas foram:

Maioria letra A: Você foca mais atenção ao captar informações pelo visual. Tente alternar a atenção percebendo também os sons e trabalhando o tato por meio do movimento.

Maioria letra B: Você foca mais atenção ao captar informações pela audição. Tente alternar a atenção percebendo também o visual, cores e trabalhando o tato por meio do movimento.

Maioria letra C: Você é mais cinestésico e foca no movimento. Se trata de um estilo que já integra várias informações corporais, apenas procure incluir mais dados visuais e auditivos.

Segundo passo da aprendizagem – significado – emoção e repetição

O cérebro não registra informações soltas, ele precisa ligá-las a algo que já é conhecido. O conhecimento nunca é “empurrado” para o cérebro, só o que “faz sentido” será sugado pelo cérebro. Neste sentido, o aprendizado depende de três fatores citados pela Neurocientista Suzana Herculano-Houzel:

Repetição: é o fator que provocará as mudanças sinápticas nas células neuronais que então irão implementar a nova maneira de agir e pensar. Quando esquecemos algo aprendido é porque não repetimos e usamos o suficiente para o cérebro entender que aquilo é relevante!

Retorno negativo: fator que informa quando se erra e é preciso tentar de novo de outro jeito.

Retorno positivo: fator que sinaliza quando se fez a coisa certa que deve ser repetida.

O que nos levará a continuar tentando apesar dos erros naturais do aprendizado são o retorno positivo e a expectativa de acertar da próxima vez. Por isso o incentivo dos educadores é tão importante!

 PROPÓSITOS DA VALEON – “ValeOn É TOP”

ValeOn é uma Startup Marketplace que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa.

Encontre Produtos, Profissionais e Serviços em toda a região do Vale do Aço

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sábado, 11 de fevereiro de 2023

LULA NÃO PERDE A OPORTUNIDADE PARA ATACAR O BOLSONARO

Encontro com Biden
Nos EUA, Lula ataca Bolsonaro e fala em obrigar países a acatar decisões globais sobre clima
Por
Wesley Oliveira, Luis Kawaguti e Luciana Rosa, especial para a Gazeta do Povo
Brasília e Washington D.C.

Washington (United States), 10/02/2023.- US President Joe Biden (R) during a meeting with Brazil’s president Luiz Inacio Lula da Silva in the Oval Office of the White House in Washington, DC, USA, 10 February 2023. Biden is hosting Lula in a show of support for Brazilian democracy, shaken last month by a right-wing insurrection akin to the invasion of the US Capitol in 2021. (Brasil, Estados Unidos) EFE/EPA/ANDREW HARRER / POOL


Lula e Biden durante encontro nos EUA em 10 de fevereiro| Foto: EFE/EPA/ANDREW HARRER / POOL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou o encontro com o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, para subir o tom contra o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Além disso, cobrou a criação de um movimento para obrigar que os demais países, o Congresso e empresários cumpram as decisões de organismos globais relacionadas ao combate à mudança climática. Essa sugestão contraria o texto da Constituição brasileira e também se contrapõe às normas destinadas a manter pacíficas as relações internacionais.

Ao final da reunião, Lula disse acreditar que o governo norte-americano vai participar no Fundo Amazônia, criado para financiar ações de preservação e uso sustentável da região.

O petista disse em uma entrevista coletiva após a conversa com Biden que o Brasil volta ao cenário mundial “utilizando sua potência política”.

O presidente americano havia concordado com as falas de Lula sobre defesa da democracia e necessidade de combate à mudança climática. Mas não demonstrou publicamente apoio a diversas propostas do brasileiro, como a de criar um Clube da Paz para acabar com a guerra na Ucrânia ou um fundo mundial para ajudar países que têm grandes florestas, como Brasil, Equador, Venezuela e Guiana.

Bolsonaro é acusado por Lula de isolar o Brasil
Durante a abertura da reunião, que aconteceu no salão Oval da Casa Branca, dedicado aos encontros de autoridades, Lula afirmou que o Brasil “se isolou” nos últimos quatro anos e acusou o governo anterior de promover o garimpo na Amazônia.

“O Brasil ficou quatros anos se marginalizando. Tínhamos um presidente que não gostava de manter relação com nenhum país. O mundo dele começava e terminava com fake news. Ele me parece que menospreza relações internacionais”, disse Lula, sem citar nominalmente Bolsonaro. Neste momento, a fala do petista foi interrompida com uma risada e uma frase de Biden. “Parece familiar”, declarou o presidente dos EUA, em referência indireta ao ex-presidente americano Donald Trump.

Bolsonaro se alinhou politicamente com Trump no início de seu mandato. Mas, quando o americano perdeu a reeleição, o Brasil retomou a prática de não alinhamento político automático que rendeu à nação o apelido de país pêndulo entre analistas internacionais.

Sobre a preservação ambiental, Lula acusou o governo do seu antecessor de incentivar o garimpo e o desmatamento na Amazônia. “Nos últimos anos, a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política e humana porque tivermos um presidente que mandava desmatar, mandava o garimpo entrar nas terras indígenas, e mandava garimpar nas florestas que nós demarcamos na Amazônia”, completou o presidente brasileiro.

Lula pediu o apoio de Biden para que haja uma discussão para obrigar os países a acatar decisões globais sobre clima. “É preciso que a gente estabeleça uma nova conversa para construir uma governança mundial mais forte. Porque a questão climática, se não tiver uma governança global forte que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, se nós não tivermos, não vai dar certo”, disse Lula.

“Eu não sei qual é o foro. Não sei se é na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa nós temos que fazer, para que a gente obrigue os países, o nosso Congresso, os nossos empresários, a acatar as decisões que nós tomamos a níveis globais”, completou o petista.

Fala de Lula contraria Constituição do Brasil e normas internacionais

A fala de Lula de que grupos de países e organismos multilaterais deveriam poder obrigar outras nações, o Congresso Nacional e os empresários a acatar decisões globais sobre o clima vão contra o que determina o artigo 84 da Constituição brasileira. O texto constitucional diz que os tratados, convenções e atos internacionais celebrados pelo presidente da República devem ser sujeitos ao referendo do Congresso Nacional. Por isso, obrigar o Congresso a acatar decisões internacionais não é, até o momento, um instrumento reconhecido no Brasil.

Mas, há uma brecha na lei para que o Congresso não seja consultado. Porém, em geral esse mecanismo é usado em decisões de menor impacto, como a celebração de memorandos bilaterais de cooperação. Acordos de grande importância costumam ser negociados durante longos períodos por diplomatas e representantes dos poderes antes de sua assinatura pela autoridade do Executivo com seu par internacional.

Além disso, não há nenhuma norma no direito internacional que obrigue um país a se submeter automaticamente a decisões de grupos de nações. Grandes potências ou blocos de países em geral usam a diplomacia para atingir seus objetivos políticos. Quando uma nação contraria os interesses desses atores, eles podem se coordenar para usar recursos como sanções econômicas, embargos e, em última instância, operações militares – que podem ser consideradas legítimas ou não pela comunidade internacional.

Lula deu apenas uma pista sobre como deseja que esse processo seja feito: “Uma coisa muito importante que eu acho que precisa acontecer é que eu acho que a gente tem que ter uma governança global com mais autoridade. Que outros países possam participar do Conselho de Segurança [da ONU] para que algumas decisões de ordem climática sejam tomadas a nível internacional”.

O Conselho de Segurança da ONU pode adotar resoluções contra países, definir embargos e determinar operações militares legítimas. A hipótese de se deliberar no órgão sobre sanções e até sobre o uso da força para resolver questões de mudança climática chegou ser proposta pela Irlanda e pelo Níger em 2021, mas foi vetada.

Lula “acha” que os EUA vão entrar para o Fundo Amazônia
Havia a expectativa de que Lula anunciasse ao lado de Joe Biden a entrada oficial dos Estados Unidos como financiador do Fundo Amazônia. Ao final do encontro, no entanto, o presidente brasileiro afirmou apenas que “acha” que o governo norte-americano vai fazer aportes ao fundo de preservação.

“Não só acho que vão, como é necessário que participem, porque veja: o Brasil não quer transformar a Amazônia em um santuário da humanidade, mas também o Brasil não quer abrir mão de que a Amazônia é um território do qual o Brasil é soberano”, completou o presidente.

Lula disse que não conversou especificamente sobre o Fundo Amazônia com Biden. Mas disse que discutiu a necessidade de países ricos financiarem ações de preservação do meio ambiente em países em desenvolvimento.

O Fundo Amazônia foi criado em 2009 com uma doação inicial da Noruega para ajudar a combater o desmatamento e estimular o desenvolvimento sustentável no Brasil. O fundo, no entanto, foi congelado por Bolsonaro em 2019, depois que os países doadores rejeitaram mudanças no modelo de gestão dos recursos.

O fundo foi retomado pelo governo Lula e, até o momento, outros países como Noruega, França e Alemanha também já deram sinalizações de aportes. O Palácio do Planalto estima que poderá captar cerca de US$ 30 bilhões de governos estrangeiros e fundos privados.

Para o analista Nelson Ricardo Fernandes Silva, da consultoria ARP Risk, a ampliação de aportes financeiros ao Fundo Amazônia por parte de países estrangeiros pode implicar em riscos à soberania do Brasil sobre a floresta amazônica. De acordo com ele, isso pode se dar pela falta de uma política de Estado do governo brasileiro em relação às pautas ambientais e de preservação.

“O grande problema é que o Brasil não tem uma política clara sobre a Amazônia. Quando você não tem um objetivo claro, você acaba seguindo os objetivos de alguém. Como o Brasil não tem uma definição clara de política de Estado, você anda ao sabor do vento da opinião pública internacional. O que não é a melhor opção”, argumentou Fernandes Silva.

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Lula e Biden alinham discurso em defesa da democracia 
Ainda durante a sua fala, Lula agradeceu o apoio de Biden após o resultado das eleições do Brasil em 2022. Já o presidente dos Estados Unidos afirmou que a democracia em ambos os países foi testada nos últimos anos.

“A democracia foi testada em nossos dois países. Nossas agendas mútuas soam muito semelhantes. Afirme o apoio inabalável dos EUA à democracia”, disse Biden.

O norte-americano lembrou que os dois países são as duas maiores democracias do hemisfério ocidental. “Nós somos as duas maiores democracias do hemisfério. Brasil e Estados Unidos estão juntos rejeitando a violência política e defendendo os valores das nossas instituições democráticas”, disse Biden.

Na mesma linha, Lula afirmou que os dois países precisam trabalhar juntos para que episódio como o de vandalismo em Brasília e a invasão ao Capitólio não voltem a se repetir. Temos alguns problemas para trabalhar juntos. A primeira coisa é nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio e que nunca mais haja o que aconteceu no Brasil.

Lula comparou Bolsonaro a Trump em entrevista nos EUA
Pela manhã, Lula concedeu entrevista de cerca de meia hora para a jornalista britânico-iraniana Christiane Amanpour, da CNN. Entre outros pontos, Lula afirmou que Bolsonaro é uma “cópia fiel do ex-presidente americano Donald Trump” e não tem “chance nenhuma” de voltar à Presidência da República. “O Brasil aos poucos vai se encontrando e a democracia vai prevalecer”, declarou.

Na mesma entrevista, Lula negou que pretende pedir a extradição de Bolsonaro na conversa com Biden. “Um dia ele terá que voltar ao Brasil e enfrentar os processos a que responde. Não vou falar com Biden sobre extradição do Bolsonaro, isso depende dos tribunais, e quero que ele seja considerado inocente até que seja provado o contrário, o que não aconteceu comigo. Só falo com Biden sobre isso se ele falar”, disse o petista.

Encontro de Lula com a esquerda radical dos EUA

Antes da reunião com Biden, Lula teve agenda com integrantes da esquerda radical dos Estados Unidos. O presidente brasileiro se encontrou com parlamentares do Partido Democrata, entre eles Bernie Sanders, Alexandria Ocásio-Cortéz, Pramila Jayapal, Sheila Jackson Lee, Brad Sherman, além de dois assessores. A reunião durou cerca de uma hora.

Sanders é um dos signatários da carta apresentada ao Senado americano pelo senador Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, que pede a extradição do ex-presidente Bolsonaro. A carta, encampada por nove senadores, veio a público no começo deste mês. Ela relaciona Bolsonaro aos atos de vandalismo contra os prédios dos Três Poderes de 08 de janeiro, em Brasília. Não houve, porém, nenhuma menção oficial ou pedido de saída de Bolsonaro do território americano.

Também presente no encontro com Lula estava Alexandria Ocasio-Cortez. A parlamentar, que integra a ala mais radical do Partido Democrata, foi detida no ano passado ao participar de um protesto a favor do aborto em frente à Suprema Corte dos Estados Unidos.

Lula foi questionado em entrevista se pretendia legalizar o procedimento no Brasil. Ele disse que esse é um assunto para o Congresso Nacional.

“AOC”, como é conhecida, também defendeu a extradição de Bolsonaro dos EUA após os atos de vandalismo em Brasília. “Os Estados Unidos devem deixar de dar guarida a Bolsonaro”, disse a deputada em uma rede social.

No final do encontro, Sanders falou à imprensa que um dos temas conversados com Lula na manhã de sexta, em Washington D.C., foi “a necessidade de fortalecer os fundamentos democráticos não apenas no Brasil, não apenas nos Estados Unidos, mas ao redor de todo o mundo”.

Na visão do político americano, a ameaça massiva do que chamou de “extrema direita autoritária”, na qual incluiu Trump e Bolsonaro, “tenta minar a democracia”.

Questionado sobre a questão das fake news, o senador democrata disse que essa é uma grande questão tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos.

Sanders também falou sobre a Amazônia e fez críticas a Bolsonaro. “Ao contrário de seu antecessor”, […] “Lula entende a enorme ameaça que as mudanças climáticas representam para o nosso planeta. Discutimos ideias de como aumentar a cooperação internacional para preservar o meio ambiente para as gerações futuras. É imperativo que os Estados Unidos trabalhem com o Brasil e outros países para proteger a Amazônia”, enfatizou o senador.

“O futuro da Amazônia vai determinar se vamos conseguir salvar o planeta ou não. E os EUA têm de fazer tudo o que puder para acabar com o desmatamento e proteger a Amazônia”, afirmou.

O parlamentar democrata também disse aos jornalistas que é preciso que as “economias da América Latina e dos EUA trabalhem para trabalhadores, não apenas para bilionários do 1% [mais ricos].”

Antes de se dirigir para a Casa Branca, Lula conversou ainda com representantes do Sindicato da Federação Americana dos Trabalhadores e Congresso de Organizações Industriais.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/nos-eua-lula-ataca-bolsonaro-e-fala-em-obrigar-paises-a-acatar-decisoes-globais-sobre-clima/
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LULA QUER TOLERÂNCIA COM A INFLAÇÃO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Para Lula, a atual meta de inflação é muito baixa e leva o Banco Central a elevar demais os juros.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

A inflação de janeiro de 2023 teve uma leve desaceleração em comparação com o mês anterior, e o acumulado dos últimos 12 meses manteve-se estável, segundo os números divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira, dia 9. O IPCA de janeiro foi de 0,53%, contra 0,62% de dezembro do ano passado, e o acumulado anual caiu apenas 0,02 ponto porcentual, passando de 5,79% para 5,77%, um centésimo abaixo da projeção registrada pelo Banco Central em seu Boletim Focus da última segunda-feira. No entanto, a tendência entre os agentes do mercado financeiro ouvidos no Focus é de alta – apenas quatro meses atrás, eles previam um IPCA de 5,36% para este ano – e, a julgar pelas primeiras sinalizações do governo, para Lula o verdadeiro problema do Brasil não é a inflação, mas o fato de a autoridade monetária estar empenhada em trazê-la para níveis realmente aceitáveis.

A meta de inflação atual para 2023 é de 3,25%, com 1,5 ponto porcentual de tolerância para cima ou para baixo – ou seja, o IPCA acumulado em 12 meses teria de cair para 4,75% para estar dentro daquilo que o Conselho Monetário Nacional consideraria aceitável. Mas Lula já deixou claro que não gosta de uma meta de inflação baixa. “[Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central] quer chegar à inflação padrão europeu? Não. Nós temos que chegar à inflação padrão Brasil”, afirmou o presidente em entrevista à RedeTV, em 2 de fevereiro, acrescentando que consideraria “de bom tamanho” uma inflação de 4% ou até 4,5% ao ano. “Padrão Brasil”, curiosamente, foi a mesma expressão usada em 2014 por Dilma Rousseff como contraposição ao “padrão Fifa” de excelência nos estádios da Copa do Mundo – na ocasião, a então presidente se referia a aeroportos que, segundo ela, não precisavam de “padrão Fifa”, bastando um “padrão Brasil” que, na verdade, era de insuficiência e precariedade.

Ao criticar a meta de inflação e demonstrar mais tolerância com a alta dos preços, Lula passa uma mensagem desastrosa para o país

É verdade que, com uma meta de inflação mais baixa, a autoridade monetária pode se ver forçada a lançar mão de uma política mais contracionista, elevando mais os juros, o que por sua vez inibe o crescimento econômico – esta é a raiz do argumento lulista. Mas ele precisa ser rebatido, e o ponto de partida para isso está em duas perguntas: faz sentido perseguir metas mais baixas de inflação? E elas são factíveis em um país como o Brasil? Quanto à primeira pergunta, é evidente que, se a inflação corrói o poder de compra dos cidadãos e ainda funciona como um aumento disfarçado de impostos (o que acabou de ficar escancarado na discussão sobre o reajuste da tabela do Imposto de Renda), inflação baixa é ótima notícia, especialmente para os mais pobres, que não conseguem economizar e investir para se proteger da desvalorização da moeda.

E um patamar de 3% de inflação anual é perfeitamente condizente com o perfil de economias emergentes. O Brasil não precisa necessariamente de uma demanda fraca motivada por crise econômica, como ocorrera em 2017 (quando o IPCA foi de 2,95%), para trazer sua inflação para baixo. Sem grandes choques externos de oferta ou demanda que bagunçassem preços internacionais com reflexos no Brasil, bastaria levar a sério as âncoras fiscais, realizar as reformas macroeconômicas e controlar o gasto público, fortalecendo a moeda e elevando a credibilidade do país junto ao investidor. Mas o “padrão Brasil” é outro: é a gastança desenfreada, é o manicômio tributário, são as reformas descartadas ou feitas pela metade, é o desprezo pela responsabilidade fiscal. Nestas condições, é mesmo muito mais difícil controlar a inflação; os juros altos brasileiros são, em boa medida, consequência da política fiscal expansionista do governo.

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Mas, então, o que fazer? Continuar perseguindo metas mais baixas, insistindo na necessidade do ajuste e das reformas, como o Copom vem repetindo em suas atas e comunicados, ou simplesmente elevar a meta porque o país parece incapaz de fazer o básico que tem de ser feito? O bom senso recomenda a primeira opção, mas Lula escolheu a segunda, como um aluno medíocre que não quer estudar para conquistar o 10 e pede que a nota de aprovação baixe para 5 para não ter de se esforçar muito. Sua mensagem de tolerância para com a inflação, no entanto, é desastrosa para o país. A experiência mundial (não apenas brasileira) mostra que é muito mais difícil escapar de uma espiral inflacionária que de uma recessão – aliás, muitas recessões têm origem em inflação fora de controle. Aceitar mais inflação é convidar o dragão para se instalar novamente no meio da sala, e ele nunca recusa a oferta.

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INVEJA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS A UM DEPUTADO ATUANTE

 

Depois de apenas dois dias já anunciaram pedido para me cassar

Por
Deltan Dallagnol – Gazeta do Povo


| Foto: Divulgação/MPRJ

Devo entrar no livro dos recordes como deputado cuja cassação foi pedida mais rapidamente na história do Congresso brasileiro. Tomei posse na quarta passada, dia 1º, e dois dias depois o diretório do Rio de Janeiro do União Brasil anunciou que pediria minha cassação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

E por qual razão? O meu crime foi eu ter feito meu trabalho. No exercício da atividade parlamentar de fiscalização do governo – atividade central do Poder Legislativo ao lado de legislar – pedi a investigação da ministra do Turismo, na última sexta-feira, diante dos indícios do possível desvio de mais de um milhão de reais de dinheiro público por meio de gráficas fantasmas, sediadas em frigorífico e coworking e em nome de assessor do seu marido na prefeitura de Belford Roxo.

Faz tempo que descobri que o trabalho contra a corrupção gera retaliações, mas o pedido de cassação é surpreendente por três razões. Primeiro, todo cidadão brasileiro tem o direito de pedir a investigação de possíveis crimes para os órgãos competentes. Segundo, parlamentares têm a prerrogativa da imunidade sobre suas palavras justamente para que possam fazer seu trabalho de fiscalização sem riscos de retaliação. Atentar contra essa prerrogativa chega a ser crime de responsabilidade da Lei do Impeachment.

Agora, a terceira e maior razão para surpresa é a inversão de valores. O partido pediu a apuração da conduta e a cassação em relação a mim, por ter requerido a investigação, e não em relação à ministra, que também é deputada e sobre quem recaem indícios do cometimento de possíveis, mas graves, crimes de desvio de dinheiro público.

Em razão do meu pedido, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou um procedimento para a adoção das providências cabíveis. A investigação de possíveis abusos pela instituição competente, que ainda não havia sido acionada, é imprescindível para promover a ética, proteger o patrimônio público, fortalecer os partidos e a democracia.

Eu fiz muito mais na minha primeira semana como parlamentar. No dia seguinte à posse, protocolei uma emenda a uma medida provisória do governo Lula, com o objetivo de impedir que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) fosse transferido do Banco Central para o Ministério da Fazenda e passasse a estar sujeito a interferências político-partidárias. O PT alegava que não interferia em instituições e investigações, mas é exatamente isso que quer ter condições para fazer agora.

A investigação de possíveis abusos pela instituição competente, que ainda não havia sido acionada, é imprescindível para promover a ética, proteger o patrimônio público, fortalecer os partidos e a democracia

O COAF é responsável por identificar indícios lavagem de dinheiro em transações bancárias e informá-los à Polícia e ao Ministério Público para investigação. Uma das providências que pedi que fosse adotada na investigação da ministra do Turismo foi exatamente a coleta de indícios de lavagem junto ao órgão. Como o COAF poderia contribuir para a investigação da ministra com isenção se estivesse sujeito à ingerência política de outro ministro do mesmo governo, Haddad?

Já nesta semana, na segunda-feira, expedi um ofício para o Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que fosse retomado o julgamento de habeas corpus que suspendeu provisoriamente a condenação criminal do ministro da Integração Waldez Góes, por desvio de dinheiro, emitida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Góes foi condenado a seis anos e nove meses de reclusão por peculato, cabendo-lhe ressarcir os cofres públicos em mais de R$ 6 milhões de reais.

O julgamento do habeas corpus que suspendeu a condenação do ministro de Lula começou em abril de 2021, mas foi interrompido por pedido de vista. Com a recente alteração do regimento interno do STF em dezembro do ano passado, pedidos de vista não podem demorar mais de 90 dias. Sendo a mudança de uma regra processual, passa a valer imediatamente. Confirmando-se a condenação do Ministro, pediremos seu afastamento, se necessário acionando a Justiça.

Mantendo o ritmo, na terça-feira, junto com outros oito deputados da oposição que se somaram na ação, pedimos à Controladoria-Geral da União (CGU) que avaliasse possível conflito de interesses que impediria ou recomendaria cautelas na posse do ex-Senador Jean Paul Prates como presidente da Petrobras.

Como amplamente noticiado, o ex-senador tem ligação com empresas que atuam no setor de óleo, gás e petróleo. A lei das estatais, que surgiu como reação àquilo que a Lava Jato revelou, proíbe que a presidência da Petrobras – a mais estratégica estatal brasileira com valor de mercado superior a R$ 400 bilhões – seja ocupada por alguém com conflitos de interesses.

Na quarta, novamente com nosso grupo de oposição, pedimos à CGU e ao Tribunal de Contas da União (TCU) a apuração de possível ilegalidade na compra pelo governo de 11 móveis de luxo num valor que ultrapassou R$ 379 mil – que corresponde a R$ 34 mil por móvel em média –, sem licitação e sem transparência.

Compras do governo são feitas em regra mediante licitação para garantir o melhor preço, mas neste caso não foi feita. Não se sabe que móveis foram comprados e em que lugares foram alocados. Faltou a transparência necessária para avaliar se existiria algum tipo de emergência ou calamidade pública que justificaria a realização de tais compras sem licitação. Só o que se sabe é que foram comprados em lojas de grife, ao tempo em que a lei de licitações proíbe a aquisição de bens de luxo.

Por fim, ontem, ao mesmo tempo em que Sergio Cabral era solto, anunciamos um pedido para a instalação da uma comissão especial para discutir, votar e aprovar a Proposta de Emenda Constitucional que prevê o restabelecimento da prisão em segunda instância no país. Sem ela, a regra será a impunidade não só de Sergio Cabral, mas todos os corruptos no Brasil.

Minhas ações todas vieram depois das decepções e angústias do primeiro dia no Congresso, que relatei no meu último artigo. Normalmente, frustrações decorrem de um descompasso entre as expectativas e a realidade. Contudo, cheguei ao Congresso com expectativas baixas, então, por que a minha aflição? Demorei três dias para entender.

Se eu lhe falar que, pisando no seu pé, vai doer, esse conhecimento está muito longe de equivaler à dor da experiência de ter o seu pé pisado. Se eu contar a vocês que há crianças famintas em certos lugares do Brasil, você pode se entristecer e se indignar. Contudo, se você for lá e observar com os seus próprios olhos, o nível do seu sofrimento e indignação será muito maior. A experiência vai impactar e transformar você.

Como minha esposa me pediu naquele dia, não perderei minha capacidade de me sentir frustrado e indignado. Não vim a Brasília para ser transformado pelo sistema, mas para contribuir para a sua transformação. Vou lutar honrosamente. É isso que esperam todos que votaram em mim e todos os que também oram, torcem e apoiam o meu trabalho, acreditando em mim. Se muitas pessoas se sentem tristes e indignadas, mas sem voz, eu serei a voz da sua indignação no Congresso Nacional.

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ORAÇÃO PROFÉTICA DE UM PASTOR DOS EUA

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