sábado, 4 de fevereiro de 2023

ACUSAÇÕES DE MARCOS DO VAL FAZEM A DIREITA AFASTAR DE BOLSONARO

 

Autopreservação
Fortalece discurso da direita que quer se afastar de Bolsonaro

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Suposto envolvimento de Jair Bolsonaro em uma trama para dar um golpe de Estado foi a gota d’água para uma parte da direita brasileira.| Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/EFE

A acusação inicial do senador Marcos do Val (Podemos-ES) de que teria sido coagido por Jair Bolsonaro (PL) a dar um golpe de Estado fortaleceu o discurso de alas da direita e do próprio Partido Liberal de se afastar do ex-chefe do Executivo. O entendimento de alguns é de que a denúncia dá mais argumentos para reorganizar o movimento conservador e viabilizar uma liderança nacional para as eleições de 2026 sem ter Bolsonaro como protagonista.

A ideia de uma direita independente do ex-presidente não passou a ser mais defendida por causa da acusação de Marcos do Val, até por se tratar de um movimento já encabeçado por setores do PL. A acusação feita pelo parlamentar foi encarada como espalhafatosa entre deputados e senadores de direita, sobretudo em razão do próprio senador ter mudado a versão da denúncia inicial e também por ser visto como um político excêntrico entre lideranças.

Fortalecer o movimento de afastamento de Bolsonaro é defendido por alguns como uma forma de autopreservação da direita. O entendimento entre parlamentares conservadores é de que a esquerda e uma parte da imprensa têm usado a acusação de Marcos do Val para manter uma narrativa que associa equivocadamente a direita a atos de vandalismo, como os ocorridos em 8 de janeiro, e a defesas de pautas antidemocráticas. Lideranças conservadoras consideram que essa narrativa também influencia decisões do próprio ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A minuta de um decreto não assinado que autorizaria uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é outro ponto criticado entre parlamentares do PL, PP e Republicanos. Para dirigentes e lideranças, é clara a tentativa de associar Bolsonaro e a direita a uma pretensa defesa de golpe de Estado, algo com a qual eles não concordam.

Por uma fala dita sobre essa minuta em uma entrevista, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, precisou depor à Polícia Federal. A minuta foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, que se encontra preso e é investigado por omissão nos atos de vandalismo do último dia 8.

Como Bolsonaro pode ser apartado do processo de reorganização da direita
Dirigentes, lideranças e parlamentares de PL, PP e Republicanos entendem que não existe uma fórmula simples para se afastar de Bolsonaro, sobretudo em razão de uma ala do Partido Liberal mais próxima ao ex-presidente ser contrária a movimentos abruptos para isolá-lo. O grupo mais fiel entende que ele precisa participar ativamente do processo de reorganização e liderança da direita, ainda que não seja o candidato em 2026.

A ala do PL que se dispõe a uma neutralidade e até a ser base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discorda da ala alinhada a Bolsonaro. Alguns divergem, inclusive, da defesa de Valdemar Costa Neto em empoderar a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e em estimular Bolsonaro a participar do processo de reconstrução da direita no país.

Para esse grupo, seria imprudente e até um cálculo político equivocado entregar o diretório feminino nacional do PL para Michelle e permitir que ela tenha uma participação ativa na legenda. Na última segunda-feira (30), ela esteve no jantar organizado por Valdemar a deputados e senadores do partido e, no dia das eleições das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, esteve presente no Congresso.

A mesma tese defendida na ala do PL mais próxima do governo Lula é respaldada por algumas lideranças do PP e do Republicanos, principalmente no que se refere ao próprio Bolsonaro assumir um protagonismo ou mesmo a liderança no processo de organização da direita até 2026.

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O que dizem lideranças do PL sobre isolar Bolsonaro
Parlamentares da ala conservadora do PL que se dispõe a fazer uma oposição moderada a Lula concordam com a importância de discutir a viabilização de uma direita independente de Bolsonaro. O deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA) entende que o ex-presidente foi uma importante referência para o movimento conservador brasileiro, mas pondera que o momento é de construir outros nomes para conduzir a direita.

“Antes, tínhamos até vergonha de falar [que é conservador]. Bolsonaro nos ajudou muito nesses quatro anos a criar uma expectativa. Hoje, o cara fala, levanta a mão e diz que é contra o aborto. Mas não temos que estar preocupados com Bolsonaro, acho que ele já fez a parte dele e o povo não vai querer continuar nessa briga”, analisa.

O parlamentar entende que uma chapa entre os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), seria forte e representativa no campo conservador. Ele pondera, contudo, que Michelle não deve ser excluída da reconstrução da direita.

“A Michelle vem para ‘flutuar’ nesse campo, a estratégia com ela não é para manter o ‘bolsonarismo’ vivo, é uma estratégia que foi muito bem pensada pelo Valdemar. A Michelle não carrega as broncas do Bolsonaro. Ela é jovem, é mulher, é evangélica, fala bem, se apresenta bem, é simpática”, comenta Passarinho. O deputado entende que o Brasil é um país conservador de centro que não deve permanecer entre os extremos.

O deputado Alberto Fraga (PL-DF) concorda que a reconstrução da direita não depende de Bolsonaro. “Ele já cometeu um grande equívoco quando não valorizou os 58 milhões de votos. Ele deveria ter falado, dito alguma coisa. Se realmente voltar a falar mais com o povo pode ser até que Bolsonaro possa ser de novo o presidente, mas se não mudar o seu jeito de agir, vai ficar complicado”, opina.

Fraga discorda da hipótese de Michelle como candidata à Presidência, a exemplo de como sugeriu Valdemar em entrevista, e considera outros candidatos para liderar a direita. “Temos Ronaldo Caiado [governador de Goiás, do União Brasil], o Romeu Zema, e outros nomes poderão surgir. Mas não acredito em Tarcísio, apareceu agora”, diz.

O deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) concorda com a importância de reorganização da direita após a vinculação a atos de vandalismo e golpe de Estado. “Todas essas confusões que ocorreram desde 8 de janeiro prejudicaram muito a direita, porque acabamos sendo alvos de uma narrativa de boa parte da imprensa e da esquerda de que a direita seja aquilo, e é longe disso”, sustenta.

O parlamentar entende que o trabalho da oposição na Câmara possa ser suficiente para tirar a pecha de que a direita seja radical em sua maioria, mas discorda de um isolamento de Bolsonaro para reorganizá-la. “A questão do bolsonarismo e da direita… elas não se conflitam, a gente tem que somar. A questão do extremo é sempre negativa, temos que tirar a guerra de narrativas que a esquerda tem e fugir disso mostrando um bom trabalho no Congresso. É a nossa principal arma”, afirma.

O que deputados do PL pensam sobre as acusações de Marcos do Val
Sobre o senador Marcos do Val, deputados do PL minimizam a acusação feita. O deputado Alberto Fraga entende que os “vacilos” e o recuo do senador refletem um temor da imprensa e do STF. “O ministro Alexandre de Moraes conseguiu levar o pavor para muitos parlamentares”, disse.

Já o deputado Joaquim Passarinho classifica a denúncia foi uma “lambança”. “Não sei de onde ele tira aquilo do nada, não era um assunto em debate, ninguém estava se perguntando. Ele traz o tema do nada e joga em cima do [ex-] presidente e depois em cima do Daniel [Silveira, ex-deputado]. Falou umas cinco ou seis versões do nada e até agora ninguém entendeu”, disse.

O deputado, que chegou a ser vice-líder do governo na gestão Bolsonaro, acha que a denúncia pode ter sido uma forma que o senador encontrou para justificar um possível voto pela reeleição do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao comando do Senado. “A não ser que tenha votado no Pacheco e apresentado isso como desculpa por estar até há pouco tempo bem à direita. E talvez tenha arrumado desculpa e vai aparecer, se for o caso, as benesses do governo para ele”, comenta Passarinho.

O cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda que a acusação feita por Marcos do Val abre uma brecha e a possibilidade de um cenário de construção da direita sem Bolsonaro. Porém, ele avalia que tudo depende se o senador tem como confirmar ou não uma relação que possa comprometer Moraes.

“Nessa articulação do PL [de isolar Bolsonaro], estão apostando que Marcos do Val está mentindo sobre a existência de alguma mensagem do Alexandre de Moraes e se existiu outros encontros do Marcos do Val com o ministro. Se ele estiver mentindo, o Jair Bolsonaro e aquele pessoal mais à direita do bolsonarismo ficam descartados do processo [político] e aí o PL pode organizar de maneira autônoma uma oposição de direita e extrema-direita ao governo”, diz.

Da mesma forma, Bolsonaro e seus aliados mais fiéis podem sair fortalecidos caso do Val tenha como comprovar uma ligação com Moraes. No entendimento de Baía, configuraria uma estratégia para colocar o magistrado entre suspeitos de prevaricação em relação aos atos de 8 de janeiro, mas apenas em caso de fato novo. “Quando Marcos do Val diz que vai pedir o impedimento jurídico do Alexandre de Moraes ele tem que pedir com base em alguma coisa. E não nas histórias que ele já contou”, analisa.

Nesta sexta-feira (3), o ministro Alexandre de Moraes mandou abrir uma investigação contra Marcos do Val por suposta denunciação caluniosa, entre outros crimes.


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PLATAFORMA RUMBLE A FAVOR DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO DESOBEDECE STF

 

“Imune ao cancelamento”
Mantém no ar canais de alvos do Judiciário
Por
Gabriele Bonat – Gazeta do Povo


Rumble decidiu não atender à ordem de bloqueio do canal do apresentador Monark| Foto: Reprodução

A plataforma de vídeos Rumble, conhecida pelo apreço à liberdade de expressão, segue mantendo no ar canais de influenciadores críticos do Judiciário. Em ao menos um dos casos, a medida contraria decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No dia 11 de janeiro, três dias após o ataque aos prédios dos Três Poderes, o ministro Alexandre de Moraes ordenou o bloqueio das redes sociais do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do podcaster Monark e das influenciadoras Paula Marisa e Bárbara Destefani em diversas plataformas.

Segundo o ministro, a decisão visou “interromper a divulgação de discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”. Os influenciadores, entretanto, negam que tenham endossado os ataques.

Apesar da determinação, o Rumble decidiu manter o canal de Monark, atualmente com 266 mil seguidores, ativo. À reportagem, a assessoria do STF disse que a “plataforma Rumble cumpriu a determinação do ministro Alexandre de Moraes”. Contudo, o perfil não foi bloqueado no Brasil e ainda é possível ter acesso aos vídeos do apresentador.

Ordem de bloqueio ocorreu após post sobre 8 de janeiro
Na decisão com as ordens de bloqueio, Moraes determina que as plataformas de mídias “identifiquem e removam os conteúdos que promovam incitação de atos de invasão e depredação de prédios públicos federais em todo o território nacional”. Também menciona a “interrupção de monetização de perfis e transmissão das mídias sociais” que promovam os atos de invasão dos prédios públicos.

Monark, pouco antes do bloqueio, havia comentado sobre as manifestações do dia 8 de janeiro. “Eu sinto simpatia pelas pessoas que estão protestando, esse nosso estado é uma ditadura nefasta e autoritária, só roubam o povo. Algo deve ser feito, mas nossa classe política se provou covarde e conivente, com isso é normal o povo se sentir sem esperanças e rebelar”, publicou no Twitter no dia seguinte aos protestos. Pouco depois, no mesmo dia da postagem, ele condenou a forma violenta como se desenrolou a manifestação, mas isso não impediu o bloqueio de suas contas.

À Gazeta do Povo, Monark elogiou a postura da plataforma ao negar o bloqueio e disse que teve “todo o suporte deles [Rumble] nessa crise” dos bloqueios determinados pelo ministro. O podcaster, que costuma participar de debates sobre liberdade de expressão, é entusiasta da postura de baixa moderação de conteúdo do Rumble.

“No Brasil, a única plataforma que comprou a briga pela liberdade de expressão é o Rumble. Não existe outra. Queria muito que existisse outra, mas não tem existe. Não existe porque custa caro comprar essa briga”, ressaltou Monark em vídeo na rede social.

De fato, o não atendimento à ordem de Moraes para bloquear a conta do deputado Nikolas Ferreira, no mês passado, custou ao Telegram multa de R$ 1,2 milhão. Os advogados do aplicativo alegaram ao STF que as ordens sobre remoção de conteúdo têm sido feitas com “fundamentação genérica” e de forma “desproporcional”. Além disso, sustentaram que o bloqueio integral de perfis pode representar censura e impedir “um espaço de livre comunicação para discursos legítimos”. Mesmo assim, Moraes alegou que “não há qualquer justificativa” para o descumprimento e aplicou a multa milionária.

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Outros influenciadores que passaram a publicar no Rumble

Monark foi um dos primeiros brasileiros com número expressivo de seguidores que aderiu ao Rumble. Mas com as recentes investidas do Judiciário e das próprias plataformas, que costumam censurar determinados conteúdos, influenciadores principalmente conservadores, mas também à esquerda, passaram a migrar para lá.

O jornalista Paulo Figueiredo, que é investigado em inquérito sigiloso do STF, é um dos que começou a usar o Rumble devido às seguidas ordens de bloqueio de perfis por Moraes. Com quase 90 mil seguidores, o Figueiredo tem vídeos com mais de 300 mil visualizações. O jornalista Allan dos Santos, que teve suas redes sociais suspensas por ordem de Moraes, é outro a usar o Rumble para publicar conteúdos.

Entre os produtores de conteúdo de esquerda presentes na plataforma, o principal é o jornalista norte-americano e co-fundador do The Intercept Glenn Greenwald, que conta com mais de 300 mil seguidores. Recentemente, Glenn publicou um vídeo falando sobre a escalada de censura do ministro Alexandre de Moraes. O jornalista, que virou alvo da esquerda por apontar tais abusos, também enxerga a plataforma como uma das poucas a erguer a bandeira da liberdade de expressão.

“As pessoas ainda não entendem o quanto o tamanho do público de Rumble explodiu. E quanto mais repressivo e censurável o YouTube, do Google, se tornar, mais as plataformas de liberdade de expressão crescerão. Além das vozes políticas, agora há um grande fluxo de criadores da geração Z e da cultura migrando para lá”, disse Greenwald no Twitter.

O escritor Reginaldo Ferreira da Silva, conhecido como Ferréz, é outro influenciador de esquerda que migrou para o Rumble. “Eu estava insatisfeito. A gente fala uma palavra que eles [no YouTube] não gostam e já limitam o alcance dos nossos vídeos. Não pode citar a palavra pedofilia, por exemplo. Não pode falar a palavra chacina. Meu programa era ao vivo, não tinha editor. Os assuntos da periferia são pesados. Tinha problema o tempo todo. Fui desanimando”, disse Ferréz à Folha de S. Paulo.

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“Criamos tecnologias imunes à cultura do cancelamento”, diz Rumble 
A plataforma de vídeos foi criada em 2013 “quando os pequenos criadores de conteúdo foram rapidamente perdendo a prioridade nas plataformas existentes em favor de influenciadores, corporações e grandes marcas”, diz o site oficial do Rumble

Com mais de 70 milhões de usuários em todo o mundo, a plataforma reivindica a missão de proteger uma “internet livre e aberta” e de ser “imune à cultura do cancelamento”. O CEO da empresa, Chris Pavlovski, declarou recentemente que o “Rumble foi pressionado a censurar”, mas que “lutaria até o fim” para que a plataforma permanecesse livre da censura.

E-BOOK 1984
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POLÍTICA ABOMINÁVEL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

 

Por
Deltan Dallagnol – Gazeta do Povo



| Foto: Agência Câmara/Bruno Spada

Era um dia de agradecimento e celebração. Não esperava que o dia em que tomei posse na Câmara como deputado federal acabasse em frustração e indignação.

O dia começou bem. Acordei às seis, corri do hotel até perto da Esplanada dos Ministérios e em seguida, como costumo fazer todas as manhãs, orei e li trechos da Bíblia e de um livro. Contudo, esse dia tinha um significado especial.

Primeiro, era um dia de agradecer: a Deus, pelo privilégio de me permitir dar voz a todos os brasileiros que se indignam com a corrupção e a impunidade; e a todos que me ajudaram a chegar ali, pelo apoio, trabalho, doações e votos.

Era também um dia de celebrar a conquista de um espaço importante para várias causas que defenderemos no Parlamento: justiça, prosperidade, fraternidade, respeito ao direito de pessoas com deficiência e sua inclusão, assim como políticas públicas sobre evidências.

Cheguei meia hora antes da cerimônia, pela manhã, e entrei no plenário da Câmara. Rapidamente, vi Eduardo Cunha – acompanhando sua filha Danielle, eleita pelo Rio de Janeiro. Caminhei um pouco mais e lá estava Aécio Neves, eleito. Em um canto avistei Beto Richa, que também tomava posse como deputado.

Compartilhei da revolta de milhões de brasileiros que acompanham acusados ou condenados por corrupção voltarem à cena dos crimes pelos quais respondem. Eu me lembrei de quando, no auge da Lava Jato, acreditávamos que cenas como essa não mais seriam comuns.

Não vou mentir para vocês: ver com os próprios olhos foi um baque. Ao mesmo tempo em que a impunidade de muitos acusados por corrupção reina, instituições se voltam contra quem combateu a corrupção.

Compartilhei da revolta de milhões de brasileiros que acompanham acusados ou condenados por corrupção voltarem à cena dos crimes pelos quais respondem

Em seguida, viria a votação para a presidência da Câmara e do Senado, em que foram eleitos candidatos alinhados com o governo do PT. Se os brasileiros elegeram tantos congressistas de direita, por que os candidatos de direita foram derrotados?

Além disso, as informações dão conta de que vários congressistas que defenderam pautas de direita nas eleições, inclusive parte significativa do próprio Partido Liberal (PL) de Bolsonaro estão se alinhando com o governo do PT. O que explica isso?

Isso acontece porque a maioria dos parlamentares são eleitos por pessoas que têm a expectativa de que eles levem recursos para as suas cidades ou regiões. A angariação de verbas é recompensada com votos.

Assim, para obter acesso a uma fatia maior do orçamento e ter o poder de indicar pessoas para cargos que permitam gerenciar o orçamento de órgãos públicos, esses parlamentares – de direita, esquerda ou centro – aproximam-se do governo, seja qual governo for.

Em troca de acesso ao orçamento, os congressistas se comprometem a apoiar projetos e pautas do governo, colocando em segundo plano seu conteúdo. À exceção de eventuais pautas que sejam muito caras para seus eleitores, os congressistas votarão com o governo independentemente do que estiver sendo proposto.

Os parlamentares, então, levam os recursos para os municípios cujos prefeitos ou vereadores se comprometam a apoiar sua reeleição, formando uma “base eleitoral”. É o que é chamado de fisiologismo: em Brasília, há um “toma lá-dá cá” entre parlamentares e governo; nas bases eleitorais, há um “toma lá-dá cá” dos parlamentares com os prefeitos, vereadores e eleitores.

E por que grande parte dos parlamentares são fisiologistas? Novamente, porque isso funciona. Isso lhes garante prosperidade política. Afinal, muito eleitores seguem esse critério para votar: ser o candidato da região e ter o compromisso de levar recursos e obras para sua comunidade.

Nesse sistema, os municípios ou regiões ficam disputando entre si qual elegerá seus candidatos e terá a maior fatia do bolo orçamentário e serviços públicos – e os contemplados variarão ao longo do tempo -, colocando em segundo plano o a preparação e o compromisso dos candidatos com reformas estruturais – como tributária, administrativa, política e anticorrupção – que podem fazer o bolo crescer para todos.

As informações dão conta de que vários congressistas que defenderam pautas de direita nas eleições, inclusive parte significativa do próprio Partido Liberal (PL) de Bolsonaro estão se alinhando com o governo do PT

Há, ainda, é claro, uma parte de corruptos que buscam acesso ao orçamento para enriquecer. A literatura registra um número de casos assustador de desvios de recursos manejados por parlamentares. E até mesmo os recursos desviados podem ser usados para alavancar as campanhas eleitorais, facilitando a reeleição desses políticos.

Há, assim, uma seleção natural em que os fisiologistas sobrevivem, fortalecem-se e se multiplicam. O sistema está doente. Cria incentivos perversos. A fome de orçamento se sobrepõe ou anula as duas principais funções do Legislativo: legislar e fiscalizar.

As duas tarefas de ouro do Legislativo ficam em segundo plano – isso quando recebem atenção. A prioridade é levar recursos para as bases eleitorais por meio de emendas ou cargos e, adiciono, despachar pedidos de seus municípios em ministérios, o que é outra forma parecida de fisiologismo.

A mesma população que defende o voto em parlamentares que levem recursos para sua região, depois, reclama quando eles votam em concordância com o governo para aumentar tributos, inflar a dívida pública ou realizar retrocessos no combate à corrupção.

Essa fome de orçamento, então, é um ingrediente essencial para compreender a eleição dos presidentes do Congresso e a ampliação da base do governo petista. Uma coisa, contudo, é saber que isso existe, e outra é ver com os olhos.

E, mais uma vez, confesso, isso dá um baque. Esse fisiologismo que guia acordos políticos se faz e se fez presente e visível desde o primeiro dia da legislatura. E tornará a ficar visível nas futuras votações de interesse do governo.

Há, assim, uma seleção natural em que os fisiologistas sobrevivem, fortalecem-se e se multiplicam. O sistema está doente

Após a eleição do candidato do governo, o novo presidente da Câmara, Arthur Lira, anunciou o fim da sessão e um importante ponto da pauta do dia seguinte: a eleição de um novo ministro do Tribunal de Contas da União, que será indicado pela Câmara.

Trata-se de um dos cargos mais importantes do país, que atua na fiscalização e controle, para prevenir e reprimir desvios de recursos públicos federais. O cargo é vitalício. Por sua relevância, o Decreto Legislativo nº 6, de 1993, prevê requisitos para a indicação, como notório conhecimento especializado, e um procedimento para permitir a sabatina e o debate sobre os candidatos.

No entanto, esse procedimento não foi seguido. Além disso, a eleição do novo ministro apenas um dia após a posse dos Deputados, sem maior debate e envolvimento da sociedade na discussão, é precipitado.

Nessas circunstâncias, fica muito difícil conhecer e examinar, especialmente se você está nos 40% novos Deputados da Casa, quem seria o candidato com perfil mais alinhado para a vaga. Como se pode escolher assim quem ocupará um cargo tão relevante?

No fim do meu primeiro dia como Deputado, saí frustrado e indignado da Câmara. Já havia ouvido falar muito sobre as dificuldades do Congresso, que incluem a convivência com acusados de corrupção protegidos pela impunidade, o fisiologismo sistêmico e o atropelo de procedimentos que afeta decisões cruciais, mas outra coisa é estar ali, vivenciando isso. Dói muito mais.

Notando esses sentimentos que não pude conter, no fim do dia, minha esposa me disse: “não perca essa capacidade de se sentir frustrado e de ficar indignado. É isso que as pessoas esperam de você. É isso que elas sentem. Dê voz a elas. Lute como elas querem que você lute”.

Há um longo caminho para a transformação, mas ele existe na democracia. É isso que vou fazer: lutar, com amor, indignação, fé, trabalho, coragem, estratégia e perseverança. Vou fazer o meu melhor e contar com a sua ajuda. Por vezes nos sentiremos golpeados, mas que isso nos fortaleça.

Lembro de uma cena em que Rocky Balboa diz “Ninguém vai bater tão forte como a vida, mas a questão não é o quão forte você consegue bater. É o quão forte você consegue apanhar e continuar seguindo em frente. É o quanto você consegue aguentar e continuar seguindo em frente.”

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QUE DEUS PROTEJA MARCOS DO VAL DA SUA INSANIDADE

 

Vácuos

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Marcos do Val: polêmica do plano ridículo só serve para preencher os vácuos da nossa alma.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Simone Weil diz que todo pecado é uma tentativa (e uma necessidade) de se preencher um vazio. Um “vácuo na alma”. Impossível ler isso e não imaginar o homem andando por aí com a alma toda furadinha, preenchendo cada um dos espacinhos com uma manifestação do mal. Tudo para saciar essa vontade de ser Todo. O que é só mais uma forma de explicar o pecado original.

Veja o fenômeno sempre fascinante das redes sociais. O que são os milhões e milhões (e milhões) de tuítes trocados diariamente senão tentativas de se preencher um vazio individual e coletivo? A solidão de comentários que parecem implorar atenção. O tédio de quem não consegue parar para admirar a grama crescer. A ira que nasce de uma ideia inatingível de Justiça. A impaciência do “euqueroeuqueroeuquero”. A preguiça de elaborar um raciocínio que vá além do lugar-comum e do insulto. E aí por diante.

Pensei nisso também ao acompanhar, na tarde de ontem (2), todo o imbróglio envolvendo o Senador Marcos do Val. Que, se entendi direito, e duvido que entendi, conversou com o ex-presidente e eterno bicho-papão da esquerda Jair Bolsonaro e com o agora preso político Daniel Silveira sobre um plano ridículo. Tão ridículo que eu vou abrir um parágrafo para tentar contar.

Exagero meu, claro. Nem precisava ter aberto outro parágrafo. Mas de vez em quando eu gosto da firula metalinguística e por isso aqui vai: o plano era fazer com que o ministro Alexandre de Moraes bancasse o vilão de James Bond e confessasse alguns de seus muitos safanões na nossa masoquista Constituição. A confissão seria providencialmente gravada e, depois, usada para se anular a eleição de Lula. Coisa de jênio.

Veja só. As pessoas nem bem estavam recuperadas do furacão Pacheco, que saiu desembestado pelo Senado na noite de quarta (1), destruindo esperanças e as reduzindo a um amontoado de cinismo. E, no entanto, nem 24 horas mais tarde estavam loucas, doidinhas, desesperadas por preencher o vazio aberto pela decepção do dia anterior. Desta vez com o falso escândalo, ou melhor, ESCÂNDALO de mais uma ocasião em que o ex-presidente cogitou a possibilidade de dar um golpe de Estado.

E dá-lhe a soberba de se sentir a única pessoa capaz de entender a realidade. Olha lá a gula de se sentir pertencente ao “lado certo da história”. Tudo isso ao redor da névoa permanente de raiva. Sem falar na preguiça de se dizer impotente diante de tudo isso – tão mais fácil, né? Mais uma vez, vazios preenchidos por pecados. Mais uma vez, as fraquezas são facilmente saciáveis pela onipresente tentação do passarinho azul.

Com bônus! Afinal, cedemos à tentação para nos sentirmos livres, sem jamais cantarmos o pagodinho providencial: o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? Para sentirmos que nossa opinião importa. E, last but not least, not at all, para sentirmos que estamos agindo como heróis de uma batalha épica contra o comunismo, a Nova Ordem Mundial, o imperialismo estadunidense ou os planos megalomaníacos da igualmente megalomaníaca China (não por acaso uma ditadura).

Os eventuais leitores materialistas ateus que me perdoem, mas enquanto for possível eu vou falar: a única coisa que preenche o vazio é Deus. Deus e não política. Deus e não redes sociais. Deus e não esportes. Deus e não série da Netflix. Deus e não vídeo game. Deus e não dinheiro. Deus e não a esperteza do sarcasmo. Deus e não a alegria de estar com a razão. Deus e não o prazer de humilhar o outro. Deus.


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ANITTA É PURA PROPAGANDA

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo


A cantora Anitta em cena de documentário da Netflix| Foto: Divulgação/Netflix

Em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral chamou algumas personalidades para a sua campanha em prol do voto adolescente. Uma dessas pessoas incumbidas de convencer adolescentes de 16 e 17 anos foi Anitta. De todas as objeções lançadas à campanha, não consta que tenha aparecido alguma segundo a qual Anitta não tem nenhuma influência sobre a juventude. Assim, podemos considerar que a influência de Anitta sobre a juventude goza de reconhecimento estatal.

Ainda em janeiro, não muito depois de o presidente Lula tomar posse, aparecem imagens de Anitta fazendo sexo oral no meio da rua, num homem aleatório. A situação seria apenas lastimável caso fosse totalmente inesperada. Se uma cantora como Marília Mendonça fosse flagrada assim, certamente os seus fãs achariam que ela foi dopada, pois jamais faria tal coisa em sã consciência. Por isso, haveria muito pudor em divulgar as imagens, que seriam tratadas como prova de um crime.

No entanto, não há grande surpresa no acontecimento. Pode-se até dizer que foi publicidade: a cena fora gravada pela própria Anitta e é parte do seu novo clipe, ainda inédito.

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Anitta é uma tendência nacional. Há não muito tempo atrás, mostrei o teor da “arte” de alguns artistas jovens que cantaram a “carta em defesa da democracia”. Pincei Anitta, nascida em 1993, Luísa Sonza, nascida em 1998, e BK’, nascido em 1989, e fui ver seus clipes no Youtube. Minha conclusão é que as fêmeas ficam ostentando bunda & riqueza; o macho, poder & riqueza. Dado o histórico musical brasileiro, isso é uma anomalia bem grande, já que desde a Idade Média os nossos antepassados gostam de canções românticas. As canções de “pessoa em situação de chifre” felizmente seguem em alta nas classes baixas, mas seus artistas não são convocados a assinar cartinhas pela democracia, nem têm uma legião de paparazzi atrás de si.

Outra coisa notada nesta coluna é que não há mais campanha contra as drogas. Pode-se questionar a eficácia das campanhas ocorridas até meados dos anos 2000, mas há de se convir que ao menos se tentava convencer a juventude de que drogas são ruins. Hoje, fala-se em “uso seguro”, como se o uso pelos jovens fosse um dado inexorável e um direito inalienável, e não um problema a ser enfrentado mesmo que essa empreitada não encontre um sucesso absoluto. Pois bem: nessas músicas de dinheiro, bunda e poder, a droga é um elemento constante. Drogas são caras, e um jeito de exprimir a própria riqueza é por meio do consumo de drogas caras. Os homens compram para as suas mulheres rotativas, e as mulheres rotativas se gabam dos homens que elas arranjaram por meio dos benefícios materiais (drogas inclusas) que eles lhes proporcionaram.

Podemos dizer que se trata de uma cultura consumista acima de tudo. As drogas escravizam para o consumo por motivos óbvios. O sexo como fim em si mesmo escraviza para o consumo porque os homens precisam estar sempre ricos para comprar as mulheres, e as mulheres precisam sempre estar “bonitas” para atraírem os homens. (As aspas são porque as mulheres são suscetíveis a acreditar em qualquer padrão de beleza inventado por celebridades. Vide a onda de demonizações faciais entre moças jovens ou, antes das redes sociais, a cruzada contra a celulite.) Não há nada de menos consumista que um lar estável com uma mulher dentro de casa cozinhando comida saudável para a família e fazendo as roupas do dia-a-dia. Podemos discutir se esse modelo antiquado é bom para a maioria das mulheres, mas com certeza é ruim para quem precisa de consumidores ávidos.

Tendência ocidental
Num curto espaço de tempo, saiu ainda um clipe novo do cantor inglês Sam Smith. Ele tinha chegado aos píncaros da fama oito anos atrás com uma música meio gospel sobre amor. Agora, após ter se revelado pessoa não-binária e ganhado muitos quilos, o cantor nascido em 1992 lançou o clipe de uma música cujo título significa, em português, “não estou aqui para fazer amigos”. Essa poderia ser uma frase do repertório da minha avó rabugenta – junto com “eu não sou flor que se cheire” –, mas, como se vê pelo clipe e pela letra, é porque “eu preciso de um amante/ […] os trinta quase me pegaram e eu superei as canções de amor”. O clipe é muito produzido e tem até helicóptero. Não se pode dizer que seja apenas um artista decadente querendo atenção; o orçamento não permite essa inferência.

Gordíssimo, Sam Smith usa um espartilho que aumenta as mamas, cujos mamilos estão tapados por rodelas. À sua volta estão, curvados, homens com as bundas empinadas para cima. Muito pouco pano cobre as bundas, deixando um buraco em forma de coração. Poderoso, ele dança e as bundas os seguem enquanto ele canta que precisa de um amante. Até faz o L de lover com a mão.

Os homens, ainda que vestidos de mulher, têm um físico escultural. É de se perguntar se o clipe não é uma apologia da prostituição, já que um gordão em plumas e paetés exercer poder e fascínio sobre um sem número de belos corpos. (Só no final, quiçá por cota, aparece uma gorda entre os bacantes. É a única que está muito vestida, porém.)

Ainda assim, “apologia da prostituição” é uma descrição vaga. Trata-se de algo mais específico: apologia da prostituição como única relação real entre os que fazem sexo. A música abre com os versos “Todo o mundo está procurando por alguém para levar para casa / Eu não sou exceção a essa regra, eu sou uma bênção de corpo para amar”.

O vídeo não tem censura de idade. O Youtube persegue médico que fala de ivermectina, mas esse tipo de coisa é liberado para menores.

Tendência velha
Sam Smith só é novidade por causa do teor gay do vídeo. Normalmente a apologia desse estilo de vida ficava a cargo das mulheres, das divas pop, que sempre têm um corpo de bailarinos esculturais aos seus pés e um total de zero romantismo em suas músicas.

Pop é abreviação de “popular”. O Brasil seguiu uma trajetória diferente dos Estados Unidos. Aqui, a MPB, bem ou mal, foi conservadora quanto à música e às tradições populares. A grande celeuma da guitarra elétrica dividia os artistas da MPB, por mais que eles fossem unidos na política. E se Chico era o artista musicalmente mais conservador da turma (a ponto de ter suas músicas tocadas por Jacob do Bandolim), Caetano, o mais revolucionário, ainda trazia elementos da tradição em sua música (desde os instrumentos e gêneros tradicionais até a execução do Hino do Senhor do Bonfim e de uma nova melodia para a Ave Maria em latim).

Nos EUA, a música popular, que poderia ter seguido as pegadas do prolífico Cole Porter (1891 – 1964) e sua plêiade de intérpretes de todas as cores, de alguma maneira desembocou na Madonna, a “moça materialista”, e em suas imitações cada vez mais pornográficas.

É curioso que Cole Porter e Louis Armstrong não tenham deixado descendentes musicais reconhecíveis. Chico e Caetano podem até concordar com Anitta em matéria de política, mas o que se desenha agora é um apagão cultural similar ao dos EUA. Sai a arte de qualidade, que dialoga com o público, e entra essa propaganda da prostituição como norma da vida.

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TRAZER OS CONCEITOS DE AMIZADE PARA OS NEGÓCIOS

 

Tomás Camargos, sócio-fundador da VIK

Já foi mais do que provado que atualmente no mundo dos negócios é essencial a formação de uma boa rede de contatos. O chamado networking é uma ótima maneira de expandir esses contatos, sendo que, diversas vezes, a melhor maneira de se viver é entre amigos. E por quê não trazer os conceitos da amizade para um negócio? De acordo com uma pesquisa divulgada pela The Adler Group, cerca de 85% das oportunidades de trabalho são preenchidas através de indicações vindas de contatos, provando o valor de conhecer pessoas e manter boas relações com elas no ambiente profissional.

15 dicas para recuperar a autoestima no trabalho

Pandemia, Síndrome de Burnout, desmotivação, infelicidade no ambiente de trabalho, alto índice de depressão, esses foram temas em alta nos últimos meses, mas com algumas medidas é possível reverter esse cenários; especialistas listam dicas

O último ano foi marcado por muitos debates sobre a infelicidade no mercado de trabalho. Um dos temas recorrentes foi a crescente nos casos de Síndrome de Burnout, em pessoas que extrapolavam as horas de trabalho em home office. O transtorno que é causado pelo esgotamento físico e mental, devido a rotina de trabalho exaustiva, é um exemplo de como as empresas precisam se reinventar para não prejudicar os colaboradores e até sua presença no mercado. Outros temas debatidos também foram o aumento do turnover nas empresas, além do estresse e problemas com sono/concentração devido a pandemia.

Em meio às mudanças na vida profissional e pessoal, se adaptar pode se tornar um processo difícil e doloroso e que também pode trazer danos para a autoestima. Para se ter ideia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), em onze países, o Brasil lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia. De acordo com o estudo, o país é o que mais tem casos de ansiedade (63%) e depressão (59%). Números como esses mostram como a saúde mental dos brasileiros foi afetada durante a pandemia.

De acordo com Tomás Camargos, sócio-fundador da VIK – startup que nasceu para ajudar as empresas a melhorarem a saúde de seus colaboradores, implementando um programa que visa transformar a vida das pessoas e o resultado das corporações -, as empresas devem enxergar a saúde como um investimento e não como uma linha de custo para a empresa. “As boas organizações precisam investir no bem-estar dos membros da equipe para evitarem, futuramente, gastarem com doenças causadas pelo sedentarismo e estresse, por exemplo. Isso também permite com que elas diminuam consideravelmente os custos das organizações com plano de saúde, absenteísmo e baixa produtividade. No Brasil. esse movimento vem acontecendo, em que a preocupação com a saúde está cada vez mais consciente e estratégica para as corporações”, revela.

Para a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, sentir-se bem tem sido um desafio para muitas pessoas e colaboradores nessa fase de pandemia. “As frustrações comprometeram até mesmo a autoestima, já que muitas pessoas não conseguiram realizar os projetos que tinham planejado. Esse aumento nos casos de depressão e ansiedade se deram também por conta das mudanças drásticas na rotina, além de todo o medo e incerteza que vieram junto. Às pessoas ficaram com as emoções à flor da pele, o que prejudica o equilíbrio e contribui para a baixa autoestima”, explica.

Abaixo, os especialistas listam 15 dicas para recuperar a autoestima no trabalho. Confira:

1 – Faça amigos no trabalho: ter uma amizade no trabalho torna os colaboradores mais engajados e felizes. Isso é o que diz uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup que revela a importância de ter um melhor amigo no ambiente profissional. “Muitas vezes, com a correria do dia a dia, as empresas deixam de lado o incentivo para que as equipes se conheçam, uma das formas de mudar esse cenário é optar por programas de gamificação que levem engajamento, saúde e socialização entre os colaboradores”, indica Camargos.

Para ele, é possível incentivar essa relação de amizade por meio de atividades físicas. “Durante o programa corporativo de saúde e integração desenvolvido pela VIK, por exemplo, os colaboradores de uma determinada empresa participam de uma competição virtual de atividade física, por meio de um sistema gamificado e suas atividades físicas aparecem em um ranking que funciona como uma rede social saudável. O programa gera um movimento interessante, as pessoas começam a conversar em torno de um assunto prazeroso e, naturalmente, as relações são suavizadas ao longo do período”, explica.

2 – Procure por grupos de Networking: é possível fazer parte de grupos online ou presenciais em uma região. “Além de possibilitar conhecer novas pessoas, todos estão abertos para conversar e melhorar suas habilidades. Nessas reuniões, também é possível treinar a desenvoltura, comportamento e abordagens”, sugere Mara Leme Martins, PhD. Psicóloga e VP BNI Brasil – Business Network Internationa,

3 – Saia da zona de conforto e converse com novas pessoas: quando se trata de networking, é importante falar com as pessoas e pensar em maneiras criativas de construir o seu negócio. “Dedique tempo aos relacionamentos que você já tem. Estenda a mão e pergunte se as pessoas estão bem, se há algo que você pode fazer para ajudá-las”, explica Mara Leme Martins, PhD. Psicóloga e VP BNI Brasil – Business Network International.

4 – Cuidados com sua saúde física e mental: o Brasil é um dos países mais sedentários da América Latina. Segundo uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quase metade dos brasileiros – 47% – não praticam exercícios suficientes para manter o corpo saudável. Outro dado alarmante é sobre a saúde mental da população, já que o país tem o maior índice de prevalência da doença na América Latina. As empresas podem ajudar a transformar os hábitos e a rotina dos funcionários. “É fundamental que os líderes pensem no impacto da saúde no potencial humano e a importância da implementação de programas de saúde/qualidade de vida para os colaboradores. Por isso, devem disponibilizar momentos de lazer, atividades físicas em grupo, meditação e confraternização”, aconselha Camargos.

Além da mudança na prática de atividade física e no sedentarismo, a implementação de programas de humanização afeta outros setores da vida dos colaboradores. “Percebemos as transformações de hábitos nos participantes mais conscientes quando se trata de nutrição, álcool, cigarro, diminuição do estresse e melhora no sono/concentração”, conta Tomás.

5 – Faça terapia: a falta de autoestima pode ser uma ponte para quadros de ansiedade, medos, fobias e até para depressão. “Procurar um profissional pode ser necessário e ajuda no sentido de fazer com que o paciente entre no processo de autoconhecimento, trazendo mais segurança e autonomia para sua vida. Além disso, contribui no controle das emoções, fortalecendo a autoconfiança e autoaceitação. Existem abordagens e técnicas bastante eficazes que podem ser a chave para a melhora do bem-estar emocional da pessoa”, explica Vanessa Gebrim.

6 – Seja agradável: desenvolver a simpatia ajuda a abrir portas no networking. Estar aberto para conversar ou expressar essa vontade ajuda muito no primeiro contato e a quebrar o gelo. “Uma ótima oportunidade para desenvolver esse ponto é participar de alguns grupos ou reuniões de empreendedores”, sugere Mara Leme Martins.

7 – Ouça o que os outros dizem: saber ouvir e compartilhar é fundamental para vencer a timidez. “O ambiente do BNI é norteado pelo compartilhamento de recursos. Esses podem ser de ordem material ou imaterial, como talentos, habilidades, conhecimentos, informações, contatos, saberes, experiências e tantas outras riquezas que todos temos. Colaborar é um movimento natural do ser humano, que tem prazer em se colocar à serviço do todo, ao contrário do que fomos levados a acreditar”, aconselha Mara.

8 – Esteja alinhado com o propósito da empresa em que trabalha: de acordo com uma pesquisa realizada pela Sodexo Benefícios e Incentivos, 53,8% dos brasileiros acreditam que seu propósito de vida está conectado com seu trabalho atual. “Mais do que um salário alto e benefícios, os colaboradores querem se sentir uma parte fundamental da empresa. Hoje, vida pessoal e profissional estão interligadas, somos uma mesma pessoa”, acrescenta Camargos.

As corporações que não se adaptarem vão ser ultrapassadas. “As startups são a prova de como esse cenário mudou, ninguém quer mais passar horas sentado no escritório, sem um momento de interação ou com roupas sociais desconfortáveis. As pessoas procuram qualidade de vida, horários flexíveis e experiências novas”, finaliza Camargos.

9. Se olhe e se entenda: é importante entender que tudo o que a pessoa fizer que, de alguma forma, contribua para que ela se orgulhe de si, a ajudará a fortalecer sua autoestima. “Quando a pessoa está focada em seus aspectos negativos, a insegurança certamente estará presente em sua rotina e relacionamentos. Dentro do processo de autoconhecimento, a pessoa aprende a gerenciar suas emoções e desenvolve sentimentos positivos sobre si e sobre o mundo”, conclui a psicóloga Vanessa Gebrim.

10. Lei da Reciprocidade: é importante ter a visão de que a confiança colaborativa é a moeda mais valiosa nos negócios – nos relacionamentos e na vida. O marketing de referência e indicações nunca foram tão importantes quanto nos dias de hoje, em que as empresas precisam conquistar novos clientes, presencialmente ou remotamente, para não colocar em risco a sua operação.

“Os empreendedores, sendo tímidos ou não, precisam aprender os benefícios da filosofia “Givers Gain”, ou seja, “Se eu lhe ajudar indicando negócios, você vai se interessar em me ajudar também”. “É a Lei da Reciprocidade em ação no mundo dos negócios”, conclui Mara Leme Martins.

11 – Procure uma rede de mulheres empreendedoras: começar algo novo sempre é difícil, mas quando se tem apoio e com quem contar no caminho, as coisas acabam se tornando um pouco mais fáceis. “O Mulheres Aceleradas, por exemplo, é uma comunidade para mulheres que já empreendem e também para as que desejam começar a empreender. Não importa a região em que a empresária está, ela pode fazer parte. A plataforma tem o interesse genuíno em oferecer ajuda a essas mulheres, aproveitando os meus conhecimentos técnicos e experiência na área. O objetivo é fazer com que elas percebam que têm com quem contar e que não precisam trilhar esse caminho cheio de desafios sozinhas”, explica a mentora de negócios e empreendedora Larissa DeLucca, CEO da Negócios Acelerados e fundadora da plataforma Mulheres Aceleradas.

12 – Tenha confiança no seu trabalho: é fato que não se pode negar a realidade do preconceito e machismo contra mulheres e mães no mercado de trabalho atual. “Não deveria ser assim, mas é a realidade, para se destacar a mulher tem que ser tecnicamente muito melhor qualificada do que qualquer homem que exerça a sua mesma função e ainda ter garra para dar conta, com mestria das suas duplas e, às vezes, triplas jornadas de trabalho. Mas na minha visão, o principal é ser uma profissional focada em resultados. Se o resultado final do seu trabalho é acima da média, isso vai ser o seu cartão de visitas”, diz a empreendedora.

13. Não tenha medo de falhar: as outras pessoas, muitas vezes, costumam desencorajar as mulheres a seguirem seus sonhos e montar seu próprio negócio. Mas é preciso contrariá-los, confiar no seu potencial e deixar o medo de lado para seguir em frente. “Quando se começa um negócio novo, é normal ter medo de falhar e, em alguns momentos, de não fazer um bom trabalho. O que não pode acontecer é deixar com que esse medo te paralise. Errar em alguns momentos faz parte da jornada, o mais importante é continuar estudando e aprendendo para não cometer os mesmos erros e ir melhorando nos pontos que costuma ter uma maior dificuldade”, complementa a mentora de negócios e empreendedora Larissa DeLucca.

COMO DEVEM SER OS PARCEIROS NOS NEGÓCIOS

“Parceiros chegam de várias formas. Se juntam por diferentes motivos”.

Eu sei, é clichê, rss. E se a frase fosse minha eu acrescentaria: “O que eles tem em comum é o fato de acreditarem no que nós acreditamos”.

Parceria é a arte de administrar conflitos de interesses e conexões de interesses, visando resultados benéficos para ambas as empresas”.

É por isso que eu costumo comparar parceria com casamento. Quem é casado sabe que administrar conflitos é fundamental para ambos terem resultados nessa aliança.

Assim como no casamento, o parceiro não precisa ser igual a nós, mas tem que ter o nosso ‘jeitão’! Nas parcerias eu defendo que o parceiro precisa ter o DNA de inovação, a inquietude pra sair da zona de conforto e uma preocupação muito grande com o cliente, não apenas no discurso, mas na prática. É claro que no processo de análise do possível parceiro, nós avaliamos o potencial financeiro e de escala da aliança, a estrutura e o tamanho da empresa. Mas, tem um fator humano que não pode ser desconsiderado, já que empresas são, na sua essência, pessoas. É por isso, que normalmente, os parceiros   são empresas formadas por pessoas do bem, pessoas com propósito, que tem tanto o caráter quanto a lealdade de continuar de mãos dadas, mesmo nos momentos mais difíceis. É como um casamento mesmo!

É importante também que os parceiros tenham know how e competências complementares, que potencializem nossas fragilidades e deem mais peso aos nossos pontos fortes. E como eu acredito que o primeiro approach de uma boa parceria acontece no plano humano (onde existe emoção), e não no corporativo, eu gosto muito da histórica da parceria entre Steve Jobs Steve Wozniak. Os dois Steves tornaram-se amigos durante um emprego de verão em 1970. Woz estava ocupado construindo um computador e Jobs viu o potencial para vendê-lo. Em uma entrevista de 2006 ao Seattle Times, Woz, explicou:

“Eu só estava fazendo algo em que era muito bom, e a única coisa que eu era bom acabou por ser a coisa que ia mudar o mundo… Steve (Jobs) pensava muito além. Quando eu projetava coisas boas, às vezes ele dizia: ‘Nós podemos vender isso’. E nós vendíamos mesmo. Ele estava pensando em como criar uma empresa, mas talvez ele estivesse mesmo pensando: ‘Como eu posso mudar o mundo?’”.

Por que essa parceria deu certo? Habilidades e competências complementares.

As habilidades técnicas de Woz juntamente com a visão de Jobs fizeram dos dois a parceria perfeita nos negócios.

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

LULA CONSEGUE ELEGER OS PRESIDENTES DA CÂMARA E DO SENADO

Lula consegue o que queria para presidir Câmara e Senado (e saiba por que ainda assim ele está tenso)

História por Jaqueline Mendes e Paula Cristina • IstoÉ

Tudo ficou igual. Mas pior. O que pode parecer incoerência traduz a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, na quarta-feira (1). Tudo ficou igual porque os rostos vencedores são os mesmos. O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) derrotou Rogério Marino (PL-RN), pelo placar de 49 votos a 32. Na outra Casa, Arthur Lira (PP-AL) fez 464 votos (num total de 513) e atropelou Chico Alencar (PSOL-RJ), com 21 apoios, e Marcelo Van Hattem (Novo-RJ), com 19. Mas nada será como antes porque, apesar do repeteco no comando das duas Casas Legislativas ­— como tanto queria o presidente Lula e sua bancada —, as composições, o equilíbrio de forças e os desafios são muito diferentes dos últimos anos. Este Congresso é muito menos alinhado ao presidente. E a pergunta decisiva é: ter Pacheco e Lira à frente das poderosas presidências bastará para a governabilidade de Lula?

REUTERS/Ueslei Marcelino© REUTERS/Ueslei Marcelino

A resposta mais provável é não. O que deixa a relação tensa desde o primeiro minuto. No dia da votação, deputados já carregavam cartazetes com “Fora, Lula”. O tom adotado entre os bolsonaristas é travar toda e qualquer pauta do governo, no melhor estilo do quanto pior, melhor. O Centrão, mais uma vez opera em compasso de espera, analisando o terreno antes de decidir o próximo passo. Para os petistas e outros aliados do governo, sobrou uma dura realidade: a de que há pouca munição para as batalhas. Traduzindo, o governo precisará decidir qual a agenda de pautas porque sabe que não vencerá a maior parte delas. Isso vai fazer a bomba cair na mão da equipe econômica. E o senso comum diz que o melhor plano é enviar a Reforma Tributária. O tema forçaria parte dos parlamentares autointitulados liberais apoiar a medida.

Uma potencial primeira vitória no Congresso é tida como essencial para a governabilidade, justamente porque não haverá medidas como Orçamento Secreto e, diferentemente dos governos Lula I e II (e Dilma Rousseff é prova viva disso), o Brasil vive hoje em um parlamentarismo no armário. O economista Bruno Carazza, doutor em direito econômico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que a missão do novo governo será complexa, mesmo com a permanência de Pacheco e Lira. “Lula terá de exercitar toda a habilidade política porque a oposição bolsonarista, especialmente no Senado, cresceu muito na última eleição.” Para reverter isso, a solução será, “se solidificar em direção ao centro.”

As eleições de 2022 despejaram Bolsonaro do Palácio do Planalto, mas fortaleceram a direita e a extrema direita no Legislativo. Na Câmara dos Deputados, a maior bancada ficou com o PL, partido do ex-presidente e liderado por Valdemar da Costa Neto, que elegeu 99 deputados. A maior eleição de um partido na história. Os votos da Federação Brasil da Esperança (que soma PT, PC do B e PV) tem 81 cadeiras. A terceira maior bancada será a do União Brasil, com 59 deputados. No Senado, o PL tem 14 nomes, novamente a maior bancada. O segundo maior partido do Senado é o PSD, que terá 11 nomes. União Brasil e MDB terão dez senadores cada, e o PT, nove.

Lula consegue o que queria para presidir Câmara e Senado (e saiba por que ainda assim ele está tenso)© Fornecido por IstoÉ Dinheiro

ORÇAMENTO SECRETO Com essa pluralidade ideológica, os dois novos presidentes do Legislativo precisaram fazer discursos diplomáticos. Pacheco ressaltou o papel de defesa da democracia e defendeu o aprimoramento do diálogo. “O discurso de ódio, da mentira, o discurso golpista que aflige e afasta a democracia deve ser desestimulado, desmentido, combatido por todos nós.” Na mesma linha, Lira abandonou o tom de aliado bolsonarista. “É hora de ver cada um no seu quadrado constitucional, para voltarmos a ver poderes articulando, interagindo, com a clareza exata de onde termina o espaço de um e onde começa o espaço do outro”, afirmou. Os dois discursos, vale lembrar, acontecem em um momento em que ambos os líderes não possuem mais o mesmo poder de barganha com seus pares, visto que o STF considerou inconstitucional o Orçamento Secreto.

Há dois desafios principais. Primeiro porque o bolsonarismo está mais forte e bem representado — em quantidade, o que deve dificultar aprovação de Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) e reformas. Segundo porque o alinhamento do Judiciário com o Executivo exigirá do presidente Lula uma imensa capacidade de articulação para restabelecer a harmonia entre os Poderes e promover a estabilidade econômica com o equilíbrio entre a responsabilidade fiscal e a social. Em resumo, reeleger Pacheco e Lira foi o menor dos desafios.

 

DISTRIBUIÇÃO DE CARGOS JÁ COMEÇOU

 

Poder

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


Deputado Arthur Lira foi reeleito para mais um biênio no comando da Câmara por 464 votos| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Já há consequências na Câmara dos Deputados e no Senado da eleição do dia primeiro. Na Câmara, Arthur Lira, que fez 90% dos votos, emplacou o seu preferido para a vaga no Tribunal de Contas da União, que é um órgão que não é do Judiciário, é do Legislativo, e é preenchido por indicações da Câmara e do Senado. Foi eleito por 239 votos o deputado do Republicanos, de Roraima, Jonathan de Jesus, candidato de Lira, que confirma o seu poder lá dentro.

E a consequência da eleição de Pacheco no Senado é que uma medida provisória do presidente da República, de 2 de janeiro, que extinguiu a Fundação Nacional da Saúde, a Funasa, vai ser revertida. A Funasa agora ela vai ser ressuscitada, graças a um boca a boca de urna, por compromissos para o governo ganhar votos pro Pacheco. Então já temos duas consequências.

Rolo inexplicável

Mas o assunto do dia é essa história do senador do Espírito Santo, do Podemos, que era do Cidadania, o antigo Partido Comunista Brasileiro, o Marcos Do Val, que apoiou Bolsonaro e que agora se meteu num rolo até agora inexplicável. Deu uma entrevista para a revista Veja, anunciou, chamou atenção para essa entrevista, dizendo que era uma bomba envolvendo Bolsonaro.

Bolsonaro teria sugerido que ele desse um golpe, gravasse uma conversa com Alexandre de Moraes para comprometer o ministro etc. e tal. Aí, na quinta-feira, ele dá outra entrevista dizendo que não era nada disso. Ele tinha dito até que iria renunciar ao mandato e agora não vai mais renunciar. Tem de explicar o porquê, tem que saber qual é o objetivo, por que ele fez tudo isso. Parece uma bipolaridade, num dia diz uma coisa, no outro diz outra radicalmente oposta.

Daniel Silveira
Bolsonaro só teria ouvido a conversa e foi o Daniel Silveira que propôs tudo – o mesmo Daniel Silveira que foi preso no primeiro dia sem mandato, por Alexandre de Moraes, porque teria continuado a usar a rede social para ofender o Supremo e a Justiça Eleitoral. Quer dizer, o ofendido é quem prende, incrível, né? Nem na inquisição acontecia isso. E ele também tirou a tornozeleira – tirou mesmo, porque foi indultado pelo presidente da República. Estava condenada a oito anos e nove meses e foi indultado. Enfim, essa é outra discussão. A discussão é essa história do Marcos do Val. Qual o objetivo disso? Ele pretendia o quê?

O Supremo e o papa
Agora o Supremo está com boa fama entre os advogados. O advogado de um padre lá de Blumenau, que foi expulso da Igreja pelo papa, está entrando no Supremo contra o papa, em outras palavras, alegando que não teve direito de defesa. E está entrando no Supremo, ou seja, até os advogados estão achando que o supremo está acima do papa.

Devem ter olhado essas coisas que estão acima da Constituição, afinal, o Supremo transferiu direitos da Constituição, que nem o Congresso pode alterar, para prefeitos e governadores durante a pandemia, o direito de ir vir, de reunião, de trabalho, de culto, tudo isso…

VEJA TAMBÉM:
O lado bom e o ruim da eleição no Senado
Como presidente, Lula deveria ler mais a Constituição
Uma eleição decisiva no Senado

Jatinho mais caro
E mais uma coisa para vocês saberem. Acaba de subir em 17% o combustível dos jatos que nos levam para as festas de carnaval ou da Semana Santa, agora, a passagem também está mais cara. 17% a mais no querosene de aviação.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/os-primeiros-efeitos-da-eleicao-no-congresso/
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GENERAL HELENO DESCONHECE ESSA HISTÓRIA DE GOLPE

Gravações
Relatado por Marcos do Val
Por
Gazeta do Povo


General Augusto Heleno afirmou que o envolvimento do GSI em suposto plano de golpe é mais uma mentira e que jamais tomou conhecimento de qualquer ação nesse sentido.| Foto: Marcos Corrêa/PR

O general Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), negou nesta quinta-feira (2) que tenha tomado conhecimento sobre qualquer suposto plano de golpe relatado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES). “É mais uma mentira qualquer envolvimento do GSI ou da Abin, como instituições, nesse ‘plano’. Eu jamais tomei conhecimento de qualquer ação nesse sentido”, afirmou o ex-ministro em mensagem encaminhada para a Folha de S.Paulo.

Também nesta quinta-feira (2) a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) divulgou uma nota negando qualquer participação do órgão no caso. No comunicado, a Abin diz ter compromisso com a democracia.

“Como já negado pelo próprio senador Marcos do Val em entrevista à imprensa, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) não está absolutamente envolvida em qualquer iniciativa relacionada à possibilidade de gravação de conversas de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A ABIN reafirma seu compromisso com a democracia e o Estado Democrático de Direito e sua direção e corpo de servidores jamais coadunariam com esse tipo de ação”, diz o órgão.

Senador denuncia plano de golpe e depois muda versão

O senador Marcos Marcos do Val afirmou hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) tentaram coagi-lo a dar um golpe de Estado. Ele afirmou que os dois planejavam fazer gravações sem autorização de conversas que pudessem comprometer o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que posteriormente serviriam de argumento para prendê-lo e invalidar o resultado das eleições.

De acordo com o senador, ele seria equipado com equipamentos de escuta ambiental em suas roupas, com o apoio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República – orgão responsável pela segurança do presidente e ao qual é vinculada a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Após a repercussão do caso, o senador mudou sua versão inicial e negou que o ex-presidente Bolsonaro tenha pressionado para que ele participasse da ação. Ele será ouvido pela Polícia Federal.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/heleno-diz-que-jamais-tomou-conhecimento-sobre-plano-de-golpe-relatado-por-marcos-do-val/
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PACHECO VAI LUTAR PELA INDEPENDÊNCIA DO SENADO?

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, cumprimenta Rodrigo Pacheco pela reeleição na presidência do Senado.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Como já ressaltamos, a independência do Congresso é uma condição necessária para que o Legislativo possa atuar da forma como se espera: com liberdade para legislar e analisar projetos em favor do país. Nesse sentido, havíamos pontuado que a melhor escolha para o Senado seria um candidato que refletisse a composição da casa, majoritariamente conservadora, e não um aliado do Executivo. Mas os senadores acabaram escolhendo, na última quarta-feira (1º), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que obteve 49 votos contra 32 recebidos por Rogério Marinho (PL-RN). Eduardo Girão (Podemos-CE) renunciou à sua candidatura pouco antes da votação, declarando apoio a Marinho.

Pacheco era o nome de preferência de Lula – que, inclusive, usou o velho toma-lá-dá-cá para conquistar mais votos para o aliado. Dias antes da eleição, o Planalto passou a negociar cargos do segundo e terceiro escalão do Executivo nos estados, como superintendências e estatais, para quem votasse em Pacheco. Não há dúvida de que Lula cobrará esse apoio num futuro próximo e vai tentar pressionar o Senado a atender suas demandas.

Que Rodrigo Pacheco, escolhido pela maioria dos senadores como presidente do Senado, possa ter a hombridade necessária para desempenhar bem o seu papel.

Ainda assim, como presidente do Senado – e do Congresso Nacional – pela segunda vez, espera-se que Pacheco possa finalmente perceber a gravidade do momento em que vivemos e dos perigos da falta de independência entre os Três Poderes. Uma sinalização positiva nesse sentido foi o discurso de Pacheco pouco antes da votação, ao dizer que “não abre mão” da independência do Legislativo. Mesmo sem citar diretamente o apoio a uma possível CPI para investigar eventuais abusos do Judiciário – algo que julgamos ser fundamental – o senador mineiro também indicou que pode colocar em discussão temas como a fixação de um mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal e regras para decisões monocráticas da Corte. Até então, essas eram pautas defendidas apenas pelos senadores da oposição, como Rogério Marinho.

Pacheco disse “reconhecer reclamações” sobre o Judiciário e que é preciso “cumprir o nosso papel” e exercer “o poder de legislar”. E convidou os senadores a “legislar para colocar limite aos Poderes”. “Se há um problema nos pedidos de vista do STF e aos tribunais superiores, legislemos para isso. Se há um problema de incompetência do STF, legislemos para isso”, afirmou.

Embora sejam apenas palavras, elas dão a entender que ao menos Pacheco reconhece que os excessos na atuação do Judiciário é um tema de interesse dos senadores. Mesmo sendo um aliado de Lula e até do Judiciário – o ministro do STF, Alexandre de Moraes, foi um apoiador informal da candidatura de Pacheco à Presidência do Senado – espera-se que um político com a experiência e atuação equilibrada como Pacheco tenha a sensibilidade necessária para ouvir as demandas da população e dos demais senadores.

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Sabemos que ao presidente do Senado cabe ditar o ritmo de atuação da casa, podendo acelerar a discussão de temas e projetos, atrasá-los ou mesmo engavetá-los. Ainda assim, não se trata de uma atuação isolada: ele é o presidente do Senado e não pode dar-se ao luxo de legislar apenas para si ou seus aliados. Senadores da oposição já adiantaram que vão manter a pressão para que o Senado siga uma posição de independência em relação ao Palácio do Planalto, além de cobrarem que o casa volte a ter protagonismo dentro dos debates do poder Legislativo.

Como o próprio Pacheco disse após ser eleito, não há espaço para que o Senado seja subserviente com a Presidência da República ou com o Supremo Tribunal Federal. “Um Senado que se subjuga ao Executivo é um Senado covarde, e nós não permitiremos que isso aconteça”, afirmou. Que Rodrigo Pacheco, escolhido pela maioria dos senadores como presidente do Senado, possa ter a hombridade necessária para colocar as próprias palavras em prática e desempenhar bem o seu papel, sem colocar os interesses do país em segundo plano, com autonomia, independência e consciência de seu papel.

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