quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

GOVERNOS PETISTAS SÃO MUITO GASTADORES

 

Por
Paulo Uebel – Gazeta do Povo


| Foto: EFE

O governo Lula III já deu sinais de que irá gastar mais: prova disso foi o empenho em aprovar a PEC para gastar bilhões fora do teto de gastos, que no final ficou oficialmente no valor de R$ 145 bilhões e garantia de outros R$ 23 bilhões em investimentos, antes mesmo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vestir a faixa presidencial. E agora? Quando um governante quer (por necessidade ou capricho) incluir novos gastos no orçamento do país, ele se encontra diante de um dilema: cortar outros gastos que já existiam ou aumentar a arrecadação, tirando ainda mais do bolso dos pagadores de impostos e encarecendo o custo de vida da população. O presidente Lula sinaliza, desde o ano passado, antes de tomar posse, que escolheu a segunda opção. Ou seja, você vai pagar essa conta!

E o furo do teto de gastos não vai parar nos R$ 145 bilhões. Na verdade, a PEC fura-teto permite outros gastos, e, por isso, o furo no teto pode chegar ao valor de R$ 215,2 bilhões, o equivalente a 2,4% do PIB (Produto Interno Bruto); de acordo com um novo estudo do Instituto Millenium. O estudo também lembra que, já que os “programas sociais” usados como desculpa para furar o teto não vão acabar em 2023, é provável que os gastos excessivos continuem nos anos subsequentes. A própria PEC tem um dispositivo para que isso aconteça. Por isso, muita gente chama de PEC da Gastança.

Fora o Auxílio Brasil ou Bolsa Família de no mínimo R$ 600, a PEC fura-teto também deixa fora do teto de gastos despesas como a execução de obras e serviços de engenharia custeadas por recursos transferidos dos estados para a União; despesas com projetos custeados com recursos decorrentes de acordos judiciais ou extrajudiciais de desastres ambientais e despesas das Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs), custeadas por receitas próprias, de doações ou de convênios, contratos ou outras fontes, entre entes da Federação ou entidades privadas. A PEC criou vários ralos que vão permitir gastos fora do teto.

No meio de suas aberrações, a PEC não apenas fura o teto de gastos, como também abre margem para que ele seja extinto de vez, “ao definir que o próximo governo encaminhe ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de 2023, um projeto de lei complementar (PLC) para substituí-lo. Esta previsão permitirá que o novo governo transforme todos os gastos ‘temporários’ relativos a 2023 em definitivos, além de criar espaço legal para mais gastos, com uma proposta mais fácil de ser aprovada no Congresso (um PLC) do que uma PEC”, explicam Marcelo Faria, presidente do Instituto Liberal de São Paulo (Ilisp) e Wagner Vargas, cientista de dados especializado em políticas públicas, no estudo publicado pelo Instituto Millenium.

No meio de suas aberrações, a PEC não apenas fura o teto de gastos, como também abre margem para que ele seja extinto de vez

Como mencionado anteriormente, a consequência de tudo isso é óbvia: mais dinheiro tirado do bolso dos pagadores de impostos e mais custos para onerar a vida de todos brasileiros. A princípio, a materialização desses aumentos começam por meio dos tributos sobre combustíveis, que haviam sido reduzidos, mas que agora devem aumentar. Atendendo um pedido do próprio Lula, no final de dezembro, o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ao então ministro da Economia, Paulo Guedes, que não gostaria que o governo de Jair Bolsonaro prorrogasse a suspensão da cobrança do Pis/Cofins sobre os combustíveis (suspensos até 31 de dezembro de 2022). Por pressões da sociedade, em seu primeiro dia de mandato, Lula prorrogou a desoneração sobre os combustíveis, mas por apenas 60 dias. Antes da prorrogação da desoneração, a estimativa era de que a volta da cobrança do imposto federal sobre combustíveis iria garantir aproximadamente R$ 50 bilhões a mais de arrecadação para o Governo em 2023 e nos próximos anos. Daqui a dois meses, quando a cobrança de tributos sobre os combustíveis retornar, toda a sociedade será penalizada.

Lula, sem dúvidas, poderia utilizar outras alternativas para ter recursos para investir em programas sociais, inclusive no longo prazo. A reforma administrativa, por exemplo, que daria fim a privilégios do alto escalão do setor público como licença-prêmio e férias de 60 dias, pode economizar cerca de R$ 330 bilhões (considerando União, estados e municípios) em 10 anos, conforme uma projeção do economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros. Já um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calculou uma economia de R$ 1,751 trilhão em duas décadas considerando apenas a redução de gastos com servidores da União. Entretanto, até agora, Lula não sinalizou interesse algum em negociar a reforma administrativa com o Congresso — e, provavelmente, não o fará, já que sua base de apoio está repleta de sindicalistas inimigos da modernização do setor público e do fim dos privilégios.

Daqui a dois meses, quando a cobrança de tributos sobre os combustíveis retornar, toda a sociedade será penalizada

E, em vez de seguir com as privatizações, que tirariam responsabilidade do Governo com diversos gastos e investimentos com estatais, ainda na época da equipe de transição, Lula deixou claro que iria paralisar todas privatizações que pudesse. Assim que assumiu a Presidência, Lula já revogou o processo de privatização de 8 estatais, incluindo da Petrobras, dos Correios e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Por outro lado, vai aumentar os gastos com publicidade e propaganda das estatais: a mudança na Lei das Estatais aprovada na Câmara dos Deputados em dezembro concedeu a Lula o aval para aumentar os gastos com propagandas estatais em até R$ 20 bilhões. Falta o Senado votar. E, além disso, as torneiras do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) devem voltar a jorrar como na época em que Lula emplacou a política dos campeões nacionais (mais detalhes sobre isso em minha última coluna e também nesta outra anterior), um grande fracasso internacional.

O governo deveria trabalhar para melhorar a qualidade do gasto público, avaliando políticas públicas, cortando desperdícios, combatendo a corrupção, seguindo o programa de transformação digital do governo federal, dando continuidade a simplificação das estruturas organizacionais federais, bem como mantendo a reposição da força de trabalho de forma técnica, e não para contentar demandas sindicais. Infelizmente, essa não é a agenda do PT. Você não vai escutar nada sobre isso nos discursos do Lula. O PT vai seguir a velha cartilha de aumentar gastos, impostos e a inflação.

O aumento dos impostos e da inflação ampliam as desigualdades sociais e geram impacto em todos, principalmente nos mais pobres. É uma contradição que Lula tenha escolhido acabar com o teto de gastos supostamente para investir mais em programas sociais e assim ajudar os mais pobres quando o resultado disso é justamente tirar ainda mais dinheiro do bolso desses cidadãos mais vulneráveis.

Se Lula realmente quisesse reduzir a pobreza no Brasil de forma perene, deveria primeiro enxugar a máquina pública para poder fazer investimentos verdadeiramente inteligentes naqueles que mais precisam: e não apenas no que se refere a programas sociais como o Auxílio Brasil ou o Bolsa Família, mas também abrindo o mercado para que mais empregos e oportunidades sejam ofertados a essas pessoas. Ainda dá tempo de mudar a direção do governo Lula III: será que o presidente irá repensar suas escolhas ou vai querer continuar a velha prática de passar o custo da ineficiência estatal para os cidadãos?

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-uebel/lula-vai-gastar-mais-e-voce-vai-pagar-a-conta/
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BRASILEIROS USAM OS MEIOS DIGITAIS PARA PAGAMENTOS

 

E garantirem o sucesso dos seus negócios em 2023

por Marcus Linhares – Bipp

Especialista em pagamentos defende que oferecer diferentes métodos é essencial na realidade econômica do país

O fim do ano já está se aproximando e os lojistas já se preparam para garantir o sucesso de vendas em 2023. Com um fim de ano movimentado no varejo, por conta de algumas datas sazonais, como: natal e ano novo, os empreendedores já buscam por dicas para entrar o ano na frente.  Com o mercado cada vez mais competitivo, os preços baixos não são mais o único fator que atrai os clientes. É preciso que os negócios também olhem com atenção e carinho a outros detalhes, como por exemplo as formas de cobrar produtos e serviços dos seus clientes, já que a experiência e jornada de compra são importantes para a economia doméstica brasileira, depois de dois anos de restrições.

“Aos poucos, o mercado está se normalizando dentro da realidade econômica do pós-pandemia. É preciso entender as necessidades de cada um. Dá para oferecer soluções em que nenhum dos dois lados saia perdendo, garantindo que os negócios tenham sucesso em suas vendas e os brasileiros consigam fazer compras dentro da sua realidade”, explica Marcus Linhares, CEO da fintech BIPP, plataforma que oferece serviços de pagamento digitais para pequenas e médias empresas.

De acordo com um relatório da Adyen, 41% dos brasileiros utilizam meios digitais como única forma de pagamento na hora das compras, evitando dinheiro ou cartões físicos, esses números só crescem e no próximo ano devem ser ainda maior.. As formas mais comuns são pagamentos por aproximação via cartão, celular ou smartwatch, Pix, QR code, carteiras digitais, WhatsApp Pay e links de pagamento online. Pensando nisso, Linhares separou algumas dicas para facilitar o pagamento em cada espaço e garantir o sucesso de vendas. Confira:

Continue apostando no PIX: Há dois anos, o Pix chegou para se tornar uma das ferramentas mais rápidas e práticas para fazer e receber pagamentos. Com mais de 26 bilhões de transações realizadas, as operações utilizando o meio de pagamento subiram 94%, segundo dados da Febraban. “As pessoas cada vez mais estão pagando por meio da carteira digital e deixando de lado o dinheiro em espécie. Portanto, crie uma chave Pix para seu negócio ou disponibilize uma imagem com o QR Code para garantir a venda”, comenta Linhares.

Links de pagamento podem garantir uma boa experiência ao cliente: Para quem vende pelo WhatsApp ou por outras redes sociais, o link de pagamento é uma alternativa rápida de envio. Ele pode ser encaminhado por mensagem direta nos aplicativos, SMS e e-mail. Os links dão aos clientes o poder de decisão sobre a melhor maneira de pagar por um produto ou serviço.  “Uma das primeiras dicas para fidelizar um cliente é deixar ele à vontade dentro das suas escolhas de compra, e isso cabe na hora do pagamento também. Os links são uma ótima opção para deixar a clientela decidir se deseja pagar por cartão de crédito, débito, Pix ou dinheiro. Essa liberdade garante uma ótima experiência”, explica o especialista.

Não descarte os boletos: Mesmo com a evolução das ferramentas digitais, há quem prefira o dinheiro e os boletos. Esteja preparado para receber meios de pagamento tradicionais. Mais da metade dos brasileiros preferem fazer compras com dinheiro por segurança, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral. “Os boletos são uma ótima opção, já que podem ser pagos em dinheiro em casas lotéricas e bancos”, continua Marcus.

Invista em novas soluções, como pagamento por recorrência: Para os estabelecimentos que oferecem serviços periódicos ou recebem mensalidades, é possível fazer cobranças recorrentes no cartão de crédito. É a mesma ferramenta utilizada por serviços de streaming e assinaturas online, como a Netflix e o Spotify. “Oferecemos aos negócios uma tecnologia própria para que eles insiram o pagamento por recorrência no leque de opções. Esse método não compromete o limite total do cartão de seus clientes, além de diminuir o risco de inadimplência”, explica o CEO da Bipp.

Fique de olho no controle de pagamentos: A gestão dos pagamentos é muito importante, não só para controlar o fluxo de caixa do seu negócio, mas para entender seus clientes, analisar as melhores formas de pagamentos, reduzir custos e aumentar as vendas.

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Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia digital.

Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda mais barato.

Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança, voltando para o original quando for conveniente.

Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e de comentários que a ela recebeu.

A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.

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Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.

Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não estão.

Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.

A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos: computadores, portáteis, tablets e smartphones.

Vantagens do Marketplace Valeon

Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as marcas exporem seus produtos e receberem acessos.

Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual. 

Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente. Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos diferentes.

Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma, proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.

Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em 2020. 

Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua marca.

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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

BRASIL TEM MAIS MINISTÉRIOS QUE A VENEZUELA

 

Novo governo
Por
Gabriel de Arruda Castro, especial para a Gazeta do Povo

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva faz pronunciamento em Brasília


Número alto de ministérios tende a gerar mais custos, tornar o governo burocrático em excesso e reduzir a eficiência da gestão.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Ao planejar Brasília, o urbanista Lúcio Costa imaginou que uma Esplanada dos Ministérios com 19 prédios seria suficiente. Fazia sentido: à época, o governo federal tinha apenas 15 ministros, incluindo um para a Aeronáutica, um para a Marinha e um para o Exército (então chamado Ministério da Guerra). De lá para cá, o Brasil passou a ter um número de ministérios muito maior. Falta espaço na Esplanada. E vai faltar mais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá 37 ministérios. A lista das pastas criadas (ou recriadas) inclui os ministérios dos Portos, dos Povos Originários e da Igualdade Racial.

O Brasil está acima da média global nesse quesito. O país tem mais ministérios que países com nível de desenvolvimento similar, como Argentina (18), Colômbia (18), México (20), África do Sul (27) e até a Venezuela (33), presidida pelo excêntrico ditador Nicolas Maduro. Na verdade, os 37 ministros de Lula colocam o Brasil em primeiro lugar nesse quesito na América Latina. A comparação com países desenvolvidos é ainda mais desfavorável: Lula terá muito mais ministros que os líderes de Estados Unidos (15), Itália(15), França (16), Alemanha (16) e Reino Unido (21).

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Lula, entretanto, ainda não alcançou o recorde estabelecido por Dilma Rousseff: em maio de 2013, ao criar o Ministério da Micro e Pequena Empresa, ela passou a ter um governo com 39 ministros. Em 2015, já pressionada pelos protestos que pediam o seu impeachment e tentando criar uma agenda positiva, a presidente fez uma reforma e eliminou oito pastas.

Custo não é o maior problema
De forma geral, existem dois argumentos contra o número excessivo de ministérios no Brasil. O primeiro é o de que isso necessariamente gera aumento de custos. Cada ministério precisa de uma estrutura mínima que envolve funcionários, um espaço físico e insumos (computadores, carros, cadeiras etc). O próprio salário do ministro, por lei, é superior ao do chefe de uma secretaria, por exemplo. O segundo argumento é o de que o alto número de ministérios torna o governo burocrático em excesso e reduz a eficiência da gestão.

Segundo especialistas, o segundo problema é mais importante que o primeiro.

É razoável supor que mais ministérios implicam mais gasto público. Mas a relação pode não ser linear. Em tese, é possível desmembrar ministérios sem que isso gere um impacto financeiro visível. Da mesma forma, rebaixar um ministério ao status de secretaria, como fez o governo Bolsonaro em diversos casos, não necessariamente reduz os gastos. Se o número de funcionários for o mesmo, provavelmente a estrutura física necessária será idêntica e, assim, a redução de custos causada pela troca de status será próxima de zero. Obviamente, o governo pode cortar o orçamento das pastas por outros motivos (por exemplo, ao reduzir os valores previstos para investimentos). Mas a mudança de categoria não garante a redução de custos.

Redução na eficiência
Já o problema de gestão pode ser ter um impacto mais significativo. A comunicação entre os diferentes órgãos se torna mais lenta do que se eles estivessem sob o mesmo guarda-chuva, no mesmo prédio. As reuniões ministeriais passam a ser mais longas e menos produtivas. Impasses tornam-se mais prováveis, especialmente quando não há uma delimitação clara das atribuições de cada um.

Por exemplo: um governo que tenha ministérios distintos para a Agricultura e a Pesca terá mais dificuldades em colocar de pé um programa que deseje promover a instalação de tanques de criação de peixes em pequenas propriedades rurais. O Ministério da Agricultura, mais antigo, já tem a capilaridade para atingir a população alvo do programa. Mas, por se tratar de um projeto de aquicultura, o programa provavelmente ficaria sob o comando do Ministério da Pesca. Assim, ou a pasta com menos recursos (a da Pesca) pede o apoio da mais rica (a da Agricultura), ou o Ministério da Pesca teria de criar uma estrutura que, em grande medida, já existe no Ministério da Agricultura. De uma forma ou de outra, o resultado não é o mais eficiente.

Demandas sociais x alianças políticas
Segundo estudiosos do tema, o número elevado de ministérios que o Brasil terá no governo Lula pode ser explicado por dois fatores. Um é a pressão de grupos articulados (no caso do governo petista, por exemplo, militantes da causa negra terão uma pasta específica). O outro é a necessidade de garantir apoio no Congresso usando os cargos no Executivo como moeda de troca.

“Em alguns casos existe um aspecto político e simbólico. Já outros ministérios servem para atender às pressões políticas do presidencialismo de coalizão”, diz Ivan Ckagnazaroff, professor de Economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Lula tem feito isto ao entregar cargos a representantes de partidos como MDB e PSD.

Além dos partidos políticos aliados, existe a pressão dos próprios correligionários por cargos que possam lhe render dividendos políticos. Talvez isso explique porque, apesar de sua disposição em fazer um governo mais austero economicamente, Jair Bolsonaro também não conseguiu implementar o que prometeu neste campo. Durante a campanha de 2018, ele afirmou que sua gestão teria “no máximo” 15 ministérios. Depois de receber um governo com 29 ministérios de Michel Temer, ele iniciou o seu mandato com 22. Encerrou com 23 (Bolsonaro recriou a pasta das Comunicações).

Critério de desempenho deve ser transparente
Criar ministérios é um sinal ao eleitorado de que o governo se preocupa com alguns temas em particular e vai tratá-los como prioritários. Em grande parte, a criação de pastas carrega um componente eleitoral. Mas, além dos eleitores, os sinais também podem ser importantes para o mercado financeiro, por exemplo. Um governo que tem quase 40 ministérios passa o recado de que a eficiência administrativa não é sua prioridade. Um presidente liberal, por outro lado, tende a reduzir esse número, mesmo que o impacto financeiro seja reduzido.

Economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni afirma que apenas com parâmetros de desempenhos objetivos, como no setor privado, é possível medir quantos ministérios são necessários. Isso não existe hoje.

“O Brasil poderia começar a apresentar resultado de produtividade por ministério para que pudéssemos avaliar esta questão de uma forma melhor. Nós podemos até chegar à conclusão de que se pode ter 40 ministérios, desde que eles apresentem resultado”, diz ela, que exemplifica: “Primeiro, o governo definiria qual é a meta de cada ministério para o ano. Ao final, o governo apresentaria o percentual da meta que foi atingido”, afirma.

Lentidão na tomada de decisões
O professor Ivan Ckagnazaroff concorda que a criação de ministérios muitas vezes significa a reorganização de estruturas que já existiam anteriormente, sem um salto nos gastos. “Se você vai observar as áreas para as quais os ministérios foram criados, bem ou mal todas elas já existiam – a única que salta aos olhos é a voltada para os Povos Indígenas”, afirma, em referência ao novo governo Lula.

Por outro lado, o professor alerta que, sem uma divisão clara das atribuições, o resultado é a ineficiência do Executivo. “A criação desses ministérios vai demandar uma definição clara de qual é a responsabilidade de cada um e de quais recursos eles vão ter para atuar. Sem isso, a eficiência vai ser extremamente afetada”, ele afirma.

O professor acrescenta que, mesmo que não haja um aumento significativo nos gastos, o tamanho da máquina em si já pode reduzir a agilidade do governo para lidar com as demandas que surgirem. “O tamanho pode tornar os processos decisórios um pouco mais lentos, à medida que algumas decisões, especialmente as mais conflitivas, vão passar pelo presidente – segundo ele mesmo disse”, afirma.

De uma forma ou de outra, o número de ministérios no Brasil não deve se aproximar tão cedo dos 19 planejados por Lúcio Costa. A última vez que isto aconteceu foi há três décadas, no governo Fernando Collor.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/brasil-ultrapassa-venezuela-e-tera-maior-numero-de-ministros-na-america-latina/
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GOVERNO USA CARGOS DO SEGUNDO ESCALÃO PARA DISTRIBUIR PARA ALIADOS

 


Como Lula usa cargos de 2º escalão para atender aliados e ampliar base no Congresso
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

A Primeira-dama Rosângela Lula da Silva e o presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chegam ao Palácio do Itamaraty


Definição dos cargos de segundo escalão do governo Lula vai ocorrer nos próximos dias| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Após os entraves para a composição ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende agora usar os cargos do segundo escalão do governo para tentar reduzir desgastes junto a aliados que não foram contemplados na Esplanada dos Ministérios e ficaram insatisfeitos. Em outra frente, o chefe do Palácio do Planalto também pretende atrair legendas como Cidadania e Podemos numa ofensiva de tentar ampliar a base no Congresso Nacional.

Entre os postos mais cobiçados do segundo escalão, estão o comando da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e do Banco do Nordeste. Mesmo com 37 ministérios, 14 pastas a mais que a gestão do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula não conseguiu contemplar partidos que apoiaram sua candidatura desde o primeiro turno.

Entre as legendas que ficaram de fora, o PV, que está federado com o PT e o PCdoB, foi preterido diante de sua bancada de apenas seis deputados na Câmara. O partido cobiçava pastas como a do Meio Ambiente e da Cultura, mas agora pode ser contemplado com postos em autarquias como o Ibama e o ICMBio.

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Completam a lista de aliados que ficaram de fora do primeiro escalão o Solidariedade, o Avante, o Pros e o Agir. O primeiro, liderado pelo deputado Paulinho da Força (SP), cobiçava o ministério da Previdência, que acabou ficando com Carlos Lupi do PDT.

O Solidariedade não atingiu a cláusula de barreira e negocia uma fusão com o Pros. A expectativa é de que o novo partido seja contemplado com o comando do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Ceagesp, o entreposto de abastecimento de São Paulo que pertence à União.

As negociações para distribuição dos cargos do segundo escalão começaram nesta segunda-feira (2) e são lideradas pela presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Também foram escalados para os encontros com os líderes partidários os líderes do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), e o líder do governo no Senado, senador Jacques Wagner (PT-BA).

“Estamos dando passos na montagem do segundo escalão, o presidente Lula fez questão de convidar duas mulheres para presidente a Caixa e o Banco do Brasil. E vamos continuar dando esses espaços”, disse Padilha.

Lula tenta atrair o Podemos e o Cidadania por meio de cargos do segundo escalão
Além de reduzir os desgastes junto aos partidos aliados, o governo Lula pretende usar os cargos do segundo escalão para atrair legendas como o Podemos e o Cidadania. A estratégia visa ampliar a base do petista no Congresso Nacional de olho na aprovação de matérias no primeiro ano do governo.

No caso do Podemos, a cúpula do PT já vinha buscando atrair o partido desde a composição ministerial, mas as conversas ficaram travadas diante das resistências de lideranças que fazem oposição a Lula. Entre as resistências, o deputado eleito Deltan Dallagnol (PR), e os senadores Alvaro Dias (PR), Eduardo Girão (CE) e Jorge Kajuru (GO).

O Podemos, que elegeu 12 deputados federais nas eleições de 2022, vai incorporar o PSC, que elegeu seis. Com 18 deputados, terá a legenda terá a oitava maior bancada da Câmara, à frente do PSDB e do PDT. Apesar das resistências internas, avaliação de integrantes do PT é de que o partido conta com quadros pragmáticos e que poderiam ser atraídos através dos cargos no segundo escalão.

A mesma estratégia vai ocorrer com o Cidadania, que no segundo turno teve a senadora Eliziane Gama (MA) como uma das principais interlocutoras de Lula com o segmento evangélico. A Executiva do partido chegou a se reunir três dias antes da posse presidencial e aprovou por 16 votos favoráveis dos 21 totais a adesão ao governo petista. Outros cinco integrantes da Executiva restantes não participaram da votação, entre eles, o presidente do partido, Roberto Freire.

Codevasf entra nas negociações para tentar reduzir o racha dentro do União Brasil
Líderes do PT avaliam que, até o momento, os partidos que foram contemplados na composição de governo somam 282 deputados. O número, no entanto, fica abaixo dos 308 necessários para aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), por exemplo. Além disso, existe um racha dentro do União Brasil, que foi contemplado com três pastas, mas não deve garantir os 59 votos dos deputados da próxima legislatura.

Para vencer as resistências da bancada, o União Brasil deve manter, por exemplo, a influência sobre Codevasf, que é responsável por tocar obras nas regiões dos vales dos rios São Francisco e do Parnaíba. Atualmente a estatal é comandada por Marcelo Andrade Andrade Moreira Pinto, apadrinhado do deputado Elmar Nascimento (BA). O parlamentar baiano teve seu nome vetado para o Ministério da Integração Nacional, o que ampliou o racha dentro do partido.

Agora, a expectativa é de que Nascimento mantenha sua indicação na Codevasf como forma de atrair a maioria do União Brasil na Câmara. Haverá, no entanto, uma conversa de Lula com o novo ministro da Integração, Waldez Góes, e com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que liderou as negociações pelo partido.

Aliados do PT e do PSD foram preteridos da escalação do governo Lula 
A composição do primeiro escalão do governo Lula gerou desgastes inclusive dentro de quadros do PT e do PSD de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os dois colégios eleitorais foram decisivos na disputa eleitoral, mas nomes desses estados que estavam cotados para a Esplanada dos Ministérios acabaram preteridos.

No caso do PT, o líder do partido na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), teve o nome especulado para três ministérios e chegou a ser convidado para assumir Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). No entanto, teve seu nome barrado diante da necessidade de Lula de ampliar o espaço para partidos de centro.

“Fui convidado para assumir o MDA, mas como teve um novo arranjo de governabilidade, em que o União Brasil passa a ter três ministros e também o PSD, não foi possível”, afirmou o petista.

Com a reorganização, o MDA acabou ficando com o deputado Paulo Texeira (PT-SP), que estava contado para o Ministérios das Comunicações. A pasta foi entregue na última hora ao União Brasil, que indicou o deputado Juscelino Filho (União-MA) para o posto.

Outro que ficou de fora da Esplanada foi o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que ficaria com a pasta do Turismo. Ele era o nome indicado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), um dos coordenadores da campanha de Lula no estado fluminense no segundo turno. Contudo, a pasta acabou sendo levada pelo União Brasil, com a indicação de Daniela do Waguinho, também do Rio de Janeiro.

“Foi feito um primeiro passo de um governo que começa a ser montado, mas temos vários passos nessa caminhada ainda”, pontuou Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.


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GOVERNO PROÍBE NOVA ABERTURA DE CLUBES DE TIRO

 

Medida de Lula
Pode quebrar clubes de tiro e lojas de armas
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília


Decreto assinado pelo presidente Lula promove série de restrições a CACs.| Foto: Hedeson Alves / Gazeta do Povo / Arquivo

O primeiro dia do governo Lula (PT) já trouxe notícias negativas para quem pretende ter e portar armas no Brasil. Na noite deste domingo (1º), pouco depois da posse, o presidente assinou um decreto para limitar o acesso a armas e munições no país, suspendendo a concessão de novos certificados de registro (CR) a caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).

O decreto também restringe a quantidade de armas e munições que podem ser registradas por uma pessoa e suspende a possibilidade de registrar novos clubes e escolas de tiro. Além disso, o Exército não poderá mais autorizar qualquer tipo de nova aquisição de armas e terá que interromper os processos de aquisição que estavam em andamento.

Para o deputado federal eleito Marcos Pollon (PL-MS), advogado especialista em legislação sobre armas, a mudança poderá levar à falência clubes de tiro e lojas de armas, além de inviabilizar a prática do tiro esportivo. “Sacrificam em torno de 3 milhões de empregos sem ouvir absolutamente ninguém”, diz, em referência ao número de pessoas que trabalham em lojas de armas e clubes de tiros no Brasil hoje. “Não é democrático você começar o ano colocando 3 milhões de pessoas na rua.”

Pollon é pessimista em relação ao que vai acontecer a partir da nova regulamentação do Estatuto do Desarmamento, e afirma que o tempo durante qual o decreto vigorar poderá trazer prejuízos irreparáveis. “O grande problema é que não vai ter depois. São 30 dias para criar o grupo de trabalho, aí esse grupo tem 60 dias prorrogáveis por mais 60 (para elaborar um projeto). Só aí são 150 dias. Aí vai para o Ministério da Justiça, sem prazo. Isso pode representar um ano parado – na melhor das hipóteses, seis meses. Não tem setor que sobreviva parado por seis meses.”

Segundo o deputado eleito, “a situação vai ficar terrivelmente pior do que era em 2018”. Um exemplo disso é que o número de unidades de munição que CACs poderão comprar por ano passará a ser de 600 unidades – o número mais baixo da história, ressalta Pollon.

O decreto também proíbe o transporte de armas com munição e a prática de tiro esportivo por menores de 18 anos, além de reduzir de seis para três o número de armas permitidas para o cidadão comum.

Outra mudança é que todos os equipamentos adquiridos a partir de 2019 deverão ser recadastrados no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal em um prazo de 60 dias. Nesse processo, será exigida a comprovação de “efetiva necessidade” das armas adquiridas.

Quem escreveu o decreto sobre CACs não tem a menor noção do assunto, diz especialista
O decreto publicado no domingo ainda suspende a aquisição de insumos para a recarga de munições por pessoas físicas, o que, segundo Pollon, “inviabiliza o esporte”. “Um treino de IPSC (modalidade de tiro esportivo) usa 700, 800 tiros. Em um treino de tiro ao prato, em cada bateria são 100 disparos. Quem escreveu (o decreto) não tem a menor noção do que estava escrevendo.”

Outra mudança que revela falta de compreensão sobre o assunto, segundo ele, é a proibição do porte de trânsito com arma municiada – isto é, os atiradores não poderão carregar as armas com munição no deslocamento entre o local onde guardam a arma e o local onde a utilizam. Isso pode facilitar ações criminosas para roubar armas, explica Pollon.

“Proibir o porte de trânsito é colocar um alvo nas costas do atirador, porque está obrigando ele a ir para o treino sem uma arma para se defender. Basta o criminoso fazer campana na porta dos clubes. O porte de trânsito é previsto desde 2003, está na lei. Além disso, foi regulamentado em 2017. Não é do Bolsonaro”, comenta.

Outra mudança promovida pelo decreto é que pessoas sem registro de CAC não poderão mais praticar tiro em clubes. Pollon diz que isso não deverá afetar de maneira significativa esses estabelecimentos, já que hoje, normalmente, a grande maioria das pessoas que frequenta os clubes tem registro. “Quem não tem registro vai para fazer algum curso, aprender os fundamentos, conhecer o esporte ou fazer o exame para tirar o CR, que agora está proibido”, afirma.

Para o deputado, outro problema do decreto é sua justificativa: alega-se a necessidade de aumentar a segurança da população, mas, nos últimos anos, mesmo depois dos decretos sobre armas de Bolsonaro, os índices de homicídio caíram drasticamente. “A fundamentação é com base no combate à violência, sendo que os indicadores (do governo anterior) foram os melhores da história (em termos de redução dos homicídios)”, critica.

Para resolver os problemas que o decreto pode trazer, Pollon pretende investir em uma saída legislativa ao mesmo tempo em que recorrerá ao Judiciário. “A partir da posse do Legislativo, em fevereiro, a gente vai ingressar com um projeto de lei para tentar sustar esse decreto. Vamos buscar pelas vias judiciais a manutenção dos direitos, porque isso vai sacrificar um setor inteiro, que, efetivamente, gera emprego e renda”, diz.

O que diziam os decretos de Bolsonaro sobre armas
O decreto de Lula logo no primeiro dia de governo é uma resposta a quatro decretos que, em abril de 2021, Jair Bolsonaro publicou flexibilizando regras para a aquisição, o cadastro, o registro, o porte e a comercialização de armas de fogo e munição no país. Tratam-se dos decretos 10.627, 10.628, 10.629 e 10.630.

Entre as principais mudanças previstas por esses decretos estavam:

O aumento do limite para a compra de armas por parte de civis que tivessem o devido registro e de pessoas com prerrogativa de função.
Retirada de uma série de itens da chamada lista de produtos controlados pelo Exército (PCEs).
A permissão a cidadãos comuns para adquirir até seis armas de fogo de uso permitido – antes, o limite era de quatro unidades.
A permissão para pessoas com prerrogativa de função, como juízes e policiais, para comprar até oito armas de uso restrito.
A possibilidade de porte simultâneo de duas armas de fogo em território nacional para indivíduos ligados às forças armadas e às polícias.
Fim da necessidade de que os CACs apresentassem laudo de capacidade técnica, substituindo-os por um “atestado de habitualidade”, que poderia ser emitido por clubes de tiro.
Aumento do limite de compra de armas pelos CACs: caçadores registrados poderiam comprar até 30 armas, enquanto atiradores, até 60.
Aumento da quantidade de munições que os CACs podem adquirir por ano: de mil para 2 mil.

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GOVERNO ADIA A VOLTA DOS IMPOSTOS SOBRE COMBUSTÍVEIS

 

Medida provisória

Por
Alexandre Garcia


PIS/Cofins da gasolina deve retornar em março.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Ontem eu mencionei aqui a tributação sobre gasolina, diesel e gás, e saiu a medida provisória. A gasolina ainda fica isenta de PIS/Cofins, ou seja, com o mesmo preço, até 28 de fevereiro. Aqui em Brasília já houve posto de combustível que estava botando quase R$ 1 acima do preço, pensando que a cobrança do imposto já estava entrando em vigor. Mas não: fica até o fim de fevereiro sem impostos federais; depois eles voltam, porque o governo está precisando de dinheiro, já que inchou o Estado brasileiro. Agora são 37 ministérios que nós temos de sustentar.

Quanto ao diesel, que é necessário para manter o transporte sem encarecer as mercadorias e para não irritar os motoristas de caminhão – que são bolsonaristas de modo geral –, o governo vai manter até o fim do ano a isenção de PIS/Cofins. A mesma coisa vale para os mais pobres no caso do gás, para não alterar o preço assim no primeiro dia de governo Lula, já que aí o pessoal não vai ter como cozinhar a picanha.

Lula já começou a desfazer o trabalho de Bolsonaro
Eu não sei por que o governo está se metendo agora com garimpeiros. O governo Bolsonaro publicou um decreto que está sendo cancelado agora, e que trata de um programa de apoio ao desenvolvimento artesanal e em pequena escala do garimpo. Isso não é invenção do Bolsonaro; é invenção dos constituintes. A Constituição diz – no artigo 174, parágrafo 3.º – que deve ser organizada a atividade garimpeira em cooperativas, protegendo o meio ambiente para a promoção econômico-social dos garimpeiros. O artigo 20 da Constituição, no item 25, também fala em promover o garimpo associativo. Então, está tudo na Constituição; Bolsonaro tinha de fazer isso, mas agora Lula revoga e eu não entendi o porquê.

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Outra mudança está no Coaf, órgão que controla transferências de dinheiro e ajuda a identificar lavagem de dinheiro, dinheiro ilícito, corrupção, dinheiro voando de um lado para o outro. Quando o Coaf foi para o Banco Central, que é independente, acabou a fofoca sobre vulnerabilidades de chantagem política; andavam atrás de transferência de numerário até de mulher de ministro do Supremo, porque vazava. Mas, agora, querem tirar o Coaf do Banco Central e levar para o Ministério da Fazenda, do Haddad, do PT. Como o Banco Central é independente, isso vai precisar de medida provisória ou lei. Dizem que é urgente, mas vai ter de ser aprovado no novo Congresso e é aí que fica difícil, porque eu duvido que deputados e senadores queiram se tornar vulneráveis à chantagem política por transferência de dinheiro de um banco para outro, ou de pagamentos.

Lula esqueceu um agradecimento, mas o PSol não

Aliás, falando em corrupção, o agora senador Sergio Moro comentou que Lula não usou essa palavra no discurso de posse; que ele devia ter dito algo como “o meu governo não tolerará corrupção”. Alguns estão dizendo que ele não vai receber nada de corrupção, já que no governo anterior isso não aconteceu, e então ele não vai ter de se preocupar com isso. Mas Lula se esqueceu de agradecer por estar recebendo o que não tinha recebido de Fernando Henrique Cardoso: contas públicas em dia, equilíbrio fiscal, endividamento público em queda, inflação menor que a dos Estados Unidos, PIB maior que o da China pela primeira vez na história, reservas externas de US$ 320 bilhões… esqueceu de agradecer, não foi? Uma pena.

Na verdade, quem se encarregou do “agradecimento” foi o PSol, partido que apoiou a eleição de Lula e já entrou no Supremo Tribunal Federal pedindo a prisão e quebra de sigilo telefônico de Bolsonaro. Começou a vingança.


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LULA MENTIU MUITO NO SEU DISCURSO DE POSSE

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: EFE

O governo Lula não esperou 15 minutos para mostrar a sua verdadeira cara – mentiu da primeira à última palavra do discurso de posse, o que deixa claríssimo que o Brasil viverá nos próximos quatro anos, ou sabe lá Deus quantos, sob o comando de uma impostura. Se está mentindo já no dia da posse, por que haveria de dizer a verdade daqui para diante? Não há surpresa nenhuma nisso, é claro. Lula mentiu durante toda a campanha eleitoral; mente, na verdade, há 40 anos, desde que começou sua carreira política. De lá para cá, só houve mudanças para pior. Mente mais, hoje, e está tomando decisões concretas muito mais malignas do que tomou na sua primeira passagem pelo governo – como fica óbvio pelo ministério francamente patológico que escolheu e por suas primeiras ações como presidente da República.

A mentira campeã absoluta da estreia de Lula, acima de qualquer outra, é a absurda afirmação de que recebeu “um país destruído” do seu antecessor – como havia dito em relação à FCH quando recebeu o governo em 2003. Mais uma vez, agora, ele faz a falsificação maciça da realidade para tentar cobrir os desastres que sua irresponsabilidade, incompetência e escolhas de governo estúpidas vão despejar em cima da população. Lula não foi capaz de citar, em todo o seu discurso de posse, um único número ou fato concreto, nem um que fosse, para dar alguma base lógica ao que estava falando. Não poderia, simplesmente, fazer isso. A realidade é o contrário do que Lula afirmou – nunca um presidente brasileiro recebeu o país numa situação materialmente tão boa quanto ele acaba de receber.

Lula mentiu durante toda a campanha eleitoral; mente, na verdade, há 40 anos, desde que começou sua carreira política. De lá para cá, só houve mudanças para pior.

A inflação está por volta de 6% ao ano – menor que a dos Estados Unidos, da Alemanha e de outros sacrários da competência mundial em matéria de gestão econômica. É a primeira vez que isso acontece na história. As empresas estatais, que segundo Lula estão “arruinadas”, deram lucro de 250 bilhões de reais em 2022 – quando ao fim do período Lula-Dilma estavam à beira da falência, arrasadas pela corrupção sem limites e pela inépcia na sua direção. O desemprego é o menor dos últimos oito anos, e isso depois de dois anos com a economia paralisada por conta da Covid. O agronegócio, a principal turbina econômica do Brasil de hoje, bateu mais um recorde de produção e exportações em 2022. As exportações em geral até novembro, última cifra disponível, tinham passado dos 300 bilhões de dólares – e produziram superavit também inédito na balança comercial. As contas públicas estão equilibradas. As reservas internacionais estão acima dos 320 bilhões de dólares.

O que mais Lula poderia querer? Mas o novo presidente é fisicamente incapaz de ser honesto diante de qualquer situação que lhe apareça pela frente – se acha que pode ter alguma vantagem mentindo, ele vai mentir. É o que acaba de fazer, mais uma vez. Ele finge que os números citados acima não existem; seu DNA político não admite que outros seres humanos possam ter feito alguma coisa certa, nem uma, e está convencido, de qualquer forma, de que sempre vai ganhar se mentir automaticamente, sobre tudo o que lhe aparecer pela frente. É o que fez o tempo todo em seu primeiro discurso como presidente do Brasil; é o que vai continuar fazendo. O que esperar de alguém que diz, com cara de indignado, que gastar apenas o que se arrecada é uma “estupidez”? É isso, o governo Lula.


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AMPUTAÇÃO - UM CONTO SOBRE A NOSSA ÉPOCA

 

Um conto sobre a nossa época
Por
Theodore Dalrymple
Tradução de Bruna Frascolla – Gazeta do Povo
City Journal


“Amputação”: ilustração do britânico Thomas Rowland, 1786| Foto: Domínio público

Amos Wilson não era um homem feliz. O que seus pais (na verdade, seu pai) tinham na cabeça quando lhe deram um nome desse? Ele sofreu gozações por causa do nome na infância e nunca se recuperou da zombaria. O menino, afinal de contas, é o pai do homem.

Mas há outra razão séria para a sua infelicidade. Agora, aos quarenta anos, nunca conhecera o que todo homem deseja: realização sexual. Por alguma razão que ele mesmo não conseguia compreender, não encontrava nenhuma satisfação em nenhuma atividade sexual, a menos que se imaginasse amputado. Sabia que, segundo os padrões alheios, isso era algo estranho, bizarro. Mas quem de nós consegue explicar os próprios desejos, ou como e por que surgem?

A fantasia toda está muito bem, é melhor do que coisa nenhuma. Mas não é uma substituta para a realidade. Na meia idade, Amos tinha se cansado de seus fingimentos. Por que deveria ser condenado a uma vida de segunda só por ter, sem culpa nenhuma, desenvolvido um desejo atípico que, se realizado, não causaria dano a ninguém mais? Todo homem tem direito à realização.

É claro que ele não contou a ninguém do seu desejo. Todos no banco em que trabalhava pensaram que ele era um camarada decente, perfeitamente normal, exceto pelo fato de que ele nunca se casara – e nem isso, nos dias de hoje, pode mesmo ser considerado anormal. Hoje os homens não se comprometem mais, porque sempre pode aparecer algo melhor.

Já era tempo de sair do armário, pensou ele. Não queria morrer sem ter vivido. Seu primeiro passo, então, foi contar ao médico. Afinal, amputação é um procedimento médico.

O Dr. Smith era um médico à moda antiga: acreditava que os pacientes tinham o dever de seguir as ordens do médico, pois a maioria de suas ordens fazia bem aos pacientes. Mas as suas maneiras eram abrasivas, e ele dava a impressão de não suportar os tolos (noventa e cinco por cento da população) de bom grado. Era preciso coragem para lhe fazer confidências.

Amos reuniu essa coragem. Ao chegar ao consultório do Dr. Smith, sentiu-se inspecionado de cima a baixo já antes de se sentar. O Dr. Smith o encarava do topo de seus óculos dourados em forma de meia lua, que lhe davam um ar de ceticismo implacável.

– Como posso ajudá-lo? – perguntou.

Ao menos Amos não era um habitué entre os queixosos, tampouco um daqueles pacientes que veem a visita ao médico como o ponto alto da semana. Então havia ao menos uma chance de haver algo errado consigo, o que faria dele parte de uma elite entre os pacientes do Dr. Smith.

– Preciso de ajuda, doutor – disse Amos.

– Que tipo de ajuda?

– Tenho um problema.

O Dr. Smith balançou um pouco em seu assento, uma guindola. Ele não era um homem de abordar as coisas de um jeito sutil.

– Que tipo de problema? – disse – Desembuche.

– Sofro dele há muito tempo –, disse Amos, parecendo sem jeito ou mesmo culpado – Por toda a minha vida, na verdade, ou ao menos desde quando cresci.

O Dr. Smith gastava sete minutos com cada paciente. No máximo, oito.

– Que problema? – perguntou – Não temos o dia inteiro.

E olhou para o relógio de pulso, não para se informar da hora, que ele já sabia pelo relógio de parede à frente que fazia um suave tic-tac, mas para mostrar que estava ocupado.

Estranhamente, a rudeza do Dr. Smith facilitou a vida de Amos. Era agora ou nunca, e isso lhe infundiu a coragem dos desesperados.

– Eu quero tirar a minha perna – disse.

– O quê?

– Eu quero tirar a minha perna.

– Para quê? O que há de errado com sua perna?

– Uma está sobrando. Sempre me senti assim, desde quando me lembro. Não é minha, é alheia.

O Dr. Smith tirou os óculos e os colocou cuidadosamente no topo da mesa. Nunca tinha ouvido nada assim.

– O que você quer dizer com isso? – perguntou. Afinal, duas pernas são o normal, não o objeto de um museu de patologias com gêmeos siameses em garrafas de formol.

– Sinto que deveria ter nascido com uma –, disse Amos. – O fato é que eu não posso fazer sexo adequado com duas pernas; tenho que imaginar o tempo inteiro que só tenho uma.

– Então você quer tirar a sua perna? – disse fraquinho o Dr. Smith.

– Sim, – disse Amos – para eu fazer sexo normal.

– Sexo normal? O que você quer dizer com isso?

– Sexo que me satisfaça do mesmo jeito que satisfaz a todo o mundo. Afinal, é meu direito, e eu não vejo por que todos podem ter e eu não.

Amos estava se exaltando com a sua questão, agora que a trouxera. Começou a ver que fora oprimido por toda a sua vida. Perseguido, mesmo. Sentiu que o Dr. Smith estava no lado dos opressores.

– Quero uma amputação.

O Dr. Smith reconquistou sua confiança e sua certeza. Dava para perceber porque ele pegou os óculos e colocou-os de volta na ponta do nariz.

– Está fora de questão – disse. – Nenhum cirurgião aceitaria cortar fora uma perna perfeitamente saudável.

– Nem se eu pagasse? – perguntou Amos.

– Nem se você pagasse. Ele nunca mais poderia praticar medicina se alguém descobrisse que ele fez uma amputação só por dinheiro.

– Ele não estaria fazendo só por dinheiro – corrigiu Amos. – Ele estaria fazendo para me ajudar.

– Os médicos não estão aqui só para dar aos pacientes o que eles querem, sabia? – disse o Dr Smith. Ele também podia se exaltar com a sua questão: – Temos que fazer o que é certo para os pacientes, e cortar membros perfeitamente saudáveis não é o certo. E se você viesse aqui e pedisse para cortar fora as suas duas pernas?

– Seria ridículo, e, de todo modo, eu não pedi isso.

– E o que você faria depois de sua perna ser cortada fora? Você seria um deficiente, um aleijado.

– As pernas artificiais estão muito boas hoje em dia –, disse Amos. – Há pessoas andando com elas por aí sem que você nem saiba. Eu só tiraria a minha perna quando quisesse fazer sexo.

– E quem iria querer sexo com um perneta, sobretudo quando soubesse que ele amputou a perna de propósito para se excitar?

Amos ficou frio e racional, ao contrário do Dr. Smith.

– O senhor pode se surpreender ao saber que há mulheres por aí que só querem fazer sexo com pernetas. Eu não vejo por que privá-las da sua satisfação também.

– Amputações naturais – disse o Dr. Smith. – É diferente. Cortaram a perna deles por razões estritamente médicas; não para satisfazer perversões sexuais, sejam próprias ou alheias.

Amos ficou horrorizado com a força do preconceito do Dr. Smith. E ele é um homem instruído!

– Meu corpo pertence a mim –, disse Amos, – e é a minha perna. Eu posso fazer o que quiser com ela, e isso não é da conta de ninguém.

– É da conta de todo o mundo quando você pede a alguém para cortá-la.

Amos nunca foi um grande filósofo, mas súbito descobriu que era.

– Médicos fazem um monte de operações por razões não-médicas – disse. – Lifting, por exemplo.

– Isso é para aprimorar, não para mutilar.

– A quem compete dizer o que é aprimoramento? – perguntou Amos. – Só ao paciente. Ele é quem tem que decidir. E eu posso dizer que minha vida seria muito melhor com só uma perna.

O Dr. Smith estava exasperado.

– Amputar a perna é irreversível – disse.

– O lifting também. Tirar apêndice também.

– Isto é para salvar a vida.

– O lifting não é. E eu conheço muita gente que tirou o apêndice cujo apêndice era normal.

– Isso não causa dano. Ninguém precisa de apêndice.

– E eu não preciso da minha perna. Ao contrário! Ela trava o caminho da minha felicidade. Me impede de ter uma vida normal.

– Amputados não têm uma vida normal.

– O que você está dizendo? Que amputados não são normais?

– Vou encerrar esta consulta – disse o Dr. Smith. – Não chega a lugar nenhum. Você não pode cortar a perna fora e não há nada mais a dizer.

Amos se levantou para sair.

– Veremos – disse, com uma dureza adamantina em sua voz.

A caminho de casa, Amos deu um replay na consulta no vídeo de sua mente. Concluiu que, de um ponto de vista estritamente dialético, e tomando em conjunto, ele levou a melhor; mas ganhar uma discussão não é o mesmo que conseguir o que se quer. Ademais, há coisas que ele deveria ter dito e não disse. E se, por exemplo, o Dr. Smith usasse o argumento de que amputados impõem custos aos outros por precisarem de ajustes especiais? Era melhor estar preparado de antemão para a luta vindoura.

Qual era a resposta? Sim, era isso: todos os ajustes necessários aos supostos amputados voluntários deveriam já ter sido feitos, de modo que outro grupo de amputados não fizesse diferença. Ademais, ajustes são feitos para resgatar alpinistas, e quais benefícios os alpinistas trazem à sociedade? Por que só aqueles que querem ter apenas uma perna sofreriam discriminação?

Amos começou a alimentar a raiva ao pensar no assunto. As pessoas são tão pequenas, censórias e intolerantes! Lhe julgam sem nem saber nada sobre você; sem fazer nenhum esforço para imaginar como seria estar no seu lugar. Simplesmente presumem que todo o mundo é ou deveria ser igual a elas. Não querem ninguém diferente.

Mas o que fazer quanto a isso? Amos decidiu testar o Dr. Smith outra vez; dar-lhe uma nova chance. Talvez ele repensasse as coisas que disse e mudasse de atitude, ainda que isso pareça bem improvável.

O Dr. Smith não mudou de ideia. Pelo contrário. Disse que Amos deveria esquecer tudo e cuidar da vida da melhor maneira possível. Não queria mais saber do assunto e sua decisão estava tomada.

Sua teimosia enfureceu Amos, que em geral não se enfurecia rápido.

– Se você não me ajudar, vou tomar minhas providências – disse.

– O que você quer dizer com isso? – perguntou o Dr. Smith.

– Eu vou me amputar – disse Amos. – Tem um médico russo que tirou o próprio apêndice num submarino quando estava debaixo do gelo.

– Não seja ridículo. Era um homem instruído.

– Eu posso aprender.

De fato, ele já tinha comprado alguns livros de anatomia e de cirurgia ortopédica (os órgãos internos não lhe interessavam). Pensou em praticar primeiro com um ou dois cães ou gatos, mas isso era ilegal e aborreceria demais os donos caso descobrissem. Já havia misérias demais no mundo sem precisar aumentá-las.

Leu sobre guerras. Especialmente as do século XIX, quando volta e meia bolas de canhão e projéteis arrancavam braços e pernas de soldados. Muitos sobreviveram, ainda que sem transfusão de sangue e antibióticos.

As esperanças de Amos de prescindir de medidas extremas foram alimentadas brevemente quando, por acaso, lera no jornal sobre um cirurgião disposto a amputar membros para gente como ele (veja só, Dr. Smith, há outros como ele); mas suas esperanças levaram um balde d’água fria ao continuar lendo e ver que o cirurgião sofreu processos disciplinares e ouviu que, se insistisse (ele fizera por dinheiro), ficaria proibido de exercer a medicina.

Não havia nenhuma perspectiva de ajuda oficial, então. Amos teria de arranjar as coisas por conta própria. Decidiu que o melhor método seria o treino; não dá para conseguir uma amputação melhor do que isso.

Provavelmente nem doeria; ao menos, não no início. Não se as histórias dos campos de batalha forem dignas de confiança. Os soldados cujos braços ou pernas foram arrancados amiúde nem percebiam no começo, não até serem tirados do campo. Era só quando os médicos e os outros começavam a peruar que eles começavam a sofrer, e naquela época era fácil controlar a dor. Bastava tomar remédios até a dor passar sozinha.

Mas aí ocorreu a Amos que ele deveria agarrar a oportunidade de fazer algo pelos outros. Não só para si; na verdade, por seu país e pela humanidade como um todo. Percebeu que até então só vinha pensando em si mesmo. Mas é claro que há outros sofrendo igual a ele. Lamentavelmente, o público era ignorante, desinformado, indiferente ou hostil. Havia uma oportunidade de ouro para fazer algo. Pela primeira vez em sua vida, tinha uma chance dessa. Amos começou a pensar em si mesmo como o líder de um movimento, o Herzl dos amputados.

Como começar a campanha? O óbvio seria escrever um artigo para o Clarion, o famoso jornal especializado em consertar os erros e lutar pelos oprimidos, dando voz aos sem vozes. Uma vez por semana, permitia que um completo desconhecido publicasse seus rancores. (Desde que, para serem apaziguados, tais rancores precisassem de uma reforma radical.) O artigo também constaria no site do jornal, que era lido em todo o planeta.

Embora ele nunca tenha escrito nada antes, a paixão fez a caneta de Amos fluir.

“Nos orgulhamos”, escreveu, “da suposta tolerância da nossa sociedade. É verdade que em alguns assuntos somos mais tolerantes do que antes, mas não foi um padrão difícil de alcançar, e ainda há muito por fazer. É hora de quebrarmos o último tabu.”

Amos estava bem contente com isso. Acertou em cheio o tom, pois o jornal estava em busca de novos tabus para quebrar. Deu a eles um senso de propósito.

“Algumas pessoas”, continuou, “entre as quais estou, só podem obter satisfação sexual se tiverem somente uma perna. Não é culpa nossa sermos assim; é um fato da nossa natureza sobre a qual não temos nenhum controle.

“Nascemos assim.”

Amos em seguida ficou filosófico:

“Todos concordam que uma existência sexual realizada é uma precondição da vida boa, sobretudo nos dias de hoje, quando estamos cercados por imagens sexualizadas. Mas isso nos é negado pela ignorância e preconceito, principalmente, mas não só, da classe médica. Não desejamos nem causamos dano aos outros, o que (se fizéssemos) seria a única razão para nossos desejos serem negados de modo justificado. Enquanto todo o mundo recebe assistência pública para ter uma vida plena e satisfatória, nós somos os únicos excluídos, por causa do profundo preconceito que existe contra nós. Somos o objeto da mais nua e crua discriminação. Somos os crioulos do sexo.”

A expressão lhe agradou, ainda que fosse ousada e ele duvidasse de que o Clarion iria admiti-la. Ele não quis usá-la de um jeito racista, claro. Bem o contrário. Mas o uso da palavra em qualquer contexto era tabu. Quando o artigo foi publicado, porém, a palavra foi deixada – após uma longa discussão entre os editores. Só mudaram para “Nos sentimos os crioulos do sexo.”

O artigo teve um impacto imenso. Houve milhares de comentários dos leitores: desde manifestações de apoio (pelo menos um teve coragem de sair do armário) até aqueles que achavam que todos os membros do autor, além de outras partes, deveriam ser amputados sem anestesia. O próprio Amos se viu cercado por pedidos de entrevistas. Tornou-se celebridade da noite pro dia.

As entrevistas eram todas iguais.

– Quando você se deu conta, pela primeira vez, de que queria ser um amputado?

– Você acha que é normal querer ser um amputado?

– Você acha que quantas pessoas são iguais a você?

– Deveria existir amputação por demanda?

A repetição permitiu que Amos refinasse as respostas. Logo ele se sentiu como um toca-fitas se repetindo mais e mais. Disse que a amputação deveria ser feita sempre por um cirurgião qualificado porque, do contrário, as pessoas iriam morrer, seja por suicídio ou por operarem a si mesmas. Isto, por sua vez, as faria recorrer aos trilhos do trem ou a gente sem qualificações.

– Você conhece casos de pessoas que fizeram mesmo isso? – sempre perguntavam. – Se sim, quantos?

Com uma paciência que de modo algum correspondia ao seu real estado de espírito, responderia que era impossível dizer, porque o assunto era um tabu tão grande que nenhuma pesquisa séria havia sido feita. Autoamputações seriam registradas como acidentes, em vez do que elas realmente são.

No entanto, era óbvio para Amos que, após a comoção inicial, o interesse iria se esmaecer. A atenção pública era como uma borboleta que se esvoaçava de flor em flor e dificilmente voltava. Era necessário mais.

Ao menos vinte pessoas com os mesmos interesses de Amos, por assim dizer, o contataram. Decidiram formar uma associação chamada UPE, Unípedes Por Escolha. Isso iria distingui-los dos amputados que sofreram algum acidente ou que tiveram uma gangrena por diabetes e fumo. Por sorte, um dos vinte era um expert em design de sites, e logo havia muito daquilo que ele chamava de tráfego. A maioria dos visitantes do site apenas estava curiosa ou concupiscente, esperando um frisson de nojo ou desdém, uma oportunidade para exercer o seu sarcasmo. Afinal, todos precisam se sentir superiores a alguém, e a maioria dos que visitaram o site pôde dizer a si próprio e aos outros: “Ao menos eu não sou assim!”

Mas cada vez mais havia pesquisas de gente interessada a sério. Escreviam que estavam desesperados e perguntavam se podiam tirar as pernas. O site começou a agir como uma troca de informação. Listavam-se os nomes dos cirurgiões e clínicas no exterior que, mediante pagamento, estavam dispostos a fazer amputações. A isso seguia-se um vívido debate sobre a injustiça disso. Por que só os endinheirados têm direito a amputações? Ademais, havia alertas sobre alguns dos cirurgiões e clínicas do estrangeiro: eles aceitavam o dinheiro, mas podiam ser perigosos. Começaram a aparecer histórias sobre morte por hemorragia e infecção, e até de prisões e detenções em terríveis celas escuras, bem como das propinas necessárias para escapar. Ir para o estrangeiro, então, não era a panaceia que foi mostrada no começo.

Era óbvio para Amos e para aqueles que ele agora chamava de colegas que o único caminho a buscar era um serviço de amputação apropriado em seu próprio país. Teria de ser alheio a interesses comerciais, claro, pois nada seria mais fácil para o lobby anti-amputados do que imputar corrupção aonde quer que o dinheiro mudasse de mãos. O serviço, então, seria feito por adeptos da causa, aqueles que amputassem por convicção. Mas cirurgiões competentes não bastavam; era igualmente importante que as amputações fossem feitas de maneira responsável, não numa fantasia passageira. Portanto era necessário envolver psiquiatras e psicólogos para assegurar que aqueles que quisessem tirar uma perna (ou, menos comum, um braço) fossem mentalmente estáveis, de personalidade normal e totalmente cientes das implicações da operação.

O primeiro problema era encontrar um cirurgião disposto. Isso apesar do fato que havia um número crescente de gente (sete oitavos dela, homens) que manifestava o interesse em ter um membro tirado. Houve uma breve fagulha de esperança quando um cirurgião numa pequena cidade em Gales declarou que estava disposto, mas a esperança logo se extinguiu quando ele foi forçado a se retratar e enviado a um curso de ética médica. No entanto, seu martírio, muito divulgado, se revelou um mal que veio para bem, porque deu ao grupo a oportunidade de divulgar a triste penúria das pessoas iguais a eles. O grupo começou uma petição a favor do cirurgião que foi assinada por mas de mil pessoas; e, ainda que não tenha produzido nenhum efeito tangível nos círculos oficiais, começou a mudar a atitude do público geral, ou daquela parte que falava de assuntos abstratos como direitos. Agora, quando assunto aparecia em jantares festivos (o que acontecia com uma frequência surpreendente), as pessoas começaram a dizer: “Afinal, por que não?”

Mas ainda que Amos tenha ficado contente, e até orgulhoso com o progresso alcançado, ele estava impaciente porque o relógio não tinha parado de bater e ele não se enxergava mais como um jovem. Um eventual triunfo na luta pela liberdade era ótimo, e seria uma coisa boa, mas dificilmente poderia satisfazê-lo pessoalmente. Seu colega mais próximo no movimento, que ele só encontrava pela tela do computador, sugeriu que eles precisavam de um golpe de publicidade.

Qual seria?

Amos e seu colega divisaram um plano. Amos seria o primeiro, mas não o último, a fazer uma autoamputação numa linha de trem. É claro que ela teria de ser perfeitamente planejada, não um ato impulsivo. Ele faria isso na presença do seu colega, que se chamava Sam. A primeira vez em que eles se encontraram em pessoa seria nos trilhos, mas antes se certificaram de que tinham aprendido como estancar o sangramento e aplicar bandagens de pressão. Amos inspecionou as linhas férreas locais à procura de um lugar apropriado para a operação. Teria de ser isolado o bastante para ficar longe de olhos bisbilhoteiros, mas com acesso fácil à ambulância que Sam chamaria imediatamente à aproximação do trem amputador. É claro que Sam iria sumir tão logo a ambulância aparecesse, para evitar qualquer possível imputação de crime. E também teriam de encontrar alguém confiável para filmar direto o evento (de preferência, com qualidade profissional) para postar na internet. Encontraram William, um estudante de estudos de mídia da universidade local, que também expressara o desejo de cortar fora a perna. O filme alertaria o mundo para o ponto aonde pessoas desesperadas podem chegar nas presentes circunstâncias opressivas. Chocaria e informaria ao mesmo tempo.

Não duvidavam do sucesso, mas um único evento não era o bastante. Tinham que manter a pressão: o cadáver da sociedade moribunda precisava de choques repetidos para trazê-lo de volta à vida (se é que estivera mesmo vivo). Planejaram o que chamaram de “eventos futuros”.

O dia da primeira ação chegou. O local escolhido foi uma linha bem próxima a uma estrada, mas escondida por bétulas. Para a infelicidade de Amos, teria de ser uma amputação abaixo do joelho, porque seria muita trapalhada colocar uma de suas coxas nos trilhos, e era aconselhável deitar de modo confortável ao esperar pelo trem.

É claro que eles pesquisaram cuidadosamente os horários do trem. Selecionaram o trem que deveria fazer a cirurgia: um expresso de passageiros que não seria capaz de diminuir menos que oitenta milhas por hora entre o momento que o maquinista avistasse Amos e o alcançasse.

William filmou Amos por poucos minutos deitado no chão com uma perna estendida sobre os trilhos antes da chegada do trem. Amos pareca alegre e fez joinha com o dedo, embora se sentisse um pouco nervoso, é claro. Conseguiria se submeter a isso, ou mudaria de ideia no último momento? Estava determinado, mas nunca se sabe.

O trem se aproximou. Amos podia sentir as vibrações em sua perna quando o trem ainda estava longe. Sam chamou a ambulância de modo que ela chegaria logo depois de a cirurgia ser feita, e deu ao controlador a localização de Amos com coordenadas de GPS, além de detalhar com uma descrição verbal o local onde estava deitado. Sam colocou a mão no ombro de Amos para dar-lhe firmeza. Ele também queria que a ação fosse um sucesso.

Tudo ocorreu conforme o planejado. O trem chegou na hora certa e não foi capaz de parar antes de remover a perna de Amos. William filmou, tomando o cuidado de não colocar nenhuma imagem de Sam aplicando as bandagens em seguida. A intolerância impôs a necessidade de anonimato.

O evento só teria conseguido a atenção do jornal local, e talvez nem isso, se não tivesse sido filmado e postado. Os médicos do hospital local ficaram perplexos com o que Amos fez (um hospital próximo tinha sido outro critério de escolha do local) porque nunca tinham visto um caso igual, tamanhas eram a sua inexperiência e falta de informação. Mas a fama de Amos não se espalhou até o filme da operação ser postado.

Primeiro Amos não sentiu nada: sua exultação conquistou as terminações nervosas. Depois começou a dor, mas ele foi tratado com drogas que o afastavam da realidade e o deixavam como que flutuando numa nuvem. Mas quando ele acordou da operação hospitalar para “limpar” o seu cotoco, como o disse o cirurgião, ele se deleitou ao descobrir que a amputação teve de ser estendida para cima do joelho, o que, é claro, era bem o que ele desejava. Ele tinha isso em muito maior estima do que o tipo abaixo do joelho.

Foi só depois da primeira postagem do vídeo que a fama de Amos se espalhou de verdade. Mas não era fama que Amos, Sam e William buscavam, mas sim aceitação e reforma social. Afinal, o que os outros tinham a ver isso, para imporem juízos morais? Um ser humano era constituído somente pela quantidade de membros? Alguém se recusou a obedecer ao Almirante Nelson porque ele só tinha um braço? É claro que seria diferente se eles estivessem reivindicando amputações para os outros, mas eles não estavam.

A segunda parte do plano foi posta em operação. Um rapaz de dezessete anos se voluntariou para ter a mesma cirurgia feita por um trem em movimento. Infelizmente, não houve esse sucesso e o rapaz sangrou até a morte. Por alguma razão, as bandagens não foram aplicadas direito e a ambulância se atrasou, e foi no atraso que a imprensa nacional focou. “Esse caso ilustra a loucura cruel e criminosa”, disse o editorial do Clarion sobre o assunto, “dos cortes orçamentários que sobrecarregam o serviço das ambulâncias até o ponto de ruptura. O fetiche fiscal mata.”

Mas a morte do rapaz apenas acelerou o próximo estágio do plano, que Amos e Sam chamaram de “amputação em massa”.

O arranjo precisou de cuidados extra porque as autoridades ferroviárias estavam começando a colocar vigilância extra, instalando câmeras às pressas acima e abaixo das linhas. Mas é claro que tudo isso era em vão, porque era impossível cobrir mais do que uma pequena porção da malha, algumas câmeras não funcionavam, e a típica incompetência burocrática às vezes as colocava onde eles nunca pensariam em fazer uma ação – em lugares onde ninguém em sã consciência pensaria em amputar a perna. O plano precisava de um número maior de voluntários para assegurar o sucesso.

O grande dia enfim chegou: o dia que iria mudar a nação. Oito pessoas, só uma delas mulher, deitou seus membros, ou pôs seus membros em linha (literalmente), pela causa do progresso social e da realização sexual. (Só um dos membros era um braço.) Desta vez foi um grande sucesso, com só uma morte, e só porque o hospital local ficou sem ambulâncias. O evento foi um triunfo da determinação e da organização, conduzido no maior segredo, tendo escapado completamente às autoridades. Usaram uma sagaz tática diversionista, enviando um grupo de apoiadores para uma linha não muito distante de onde o evento real ocorreria. Ao anunciarem sua presença, chamaram a atenção da polícia e de outras autoridades para longe do local. Alguns diversionistas foram presos por invasão da propriedade ferroviária, mas esse leve martírio foi um pequeno preço a ser pago pelo sucesso de liberar o golpe teatral.

Dessa vez, o evento foi noticiado nacionalmente e ad nauseam. Membros do Parlamento apareceram na televisão para exigir que doravante os cirurgiões fossem obrigados a cortar fora os membros de quem quisesse ser amputado. Disseram que esse era o único jeito de parar a carnificina. Neurocientistas apareceram na televisão para demonstrar quais partes dos cérebros dos amputados acendiam ou deixavam de acender nas ressonâncias antes e depois de os seus membros serem cortados fora.

Amos, cuja ferida já tinha sarado o bastante e aprendera a manejar suas muletas antes de ficar pronto para as pernas artificiais de última geração, apareceu muitas vezes na televisão, usualmente descrito como a vítima do atual estado de coisas. Mas ainda que concordasse com os membros do Parlamento até onde iam, disse que era preciso mais do que uma reforma na lei. O problema fundamental, disse, era o que ele chamava de quadrimembrismo, a presunção de que seres humanos têm quatro membros e que qualquer desvio do padrão hegemônico era bizarro, anormal ou patológico. Por exemplo: as ilustrações de todos os livros infantis, exceto por A Ilha do Tesouro, só mostravam personagens com quatro membros, isto é, duas pernas e dois braços. Isso doutrinava as crianças com a ideia de que as pessoas com um ou mais membros faltando eram anormais de algum jeito. Ele também sugeriu que doravante a palavra “amputado” não fosse mais usada, já que tinha conotações pejorativas de deficiência. Sugeriu que doravante os amputados fossem conhecidos como membrodiversos. Quanto à inclusão da apotemnofilia e da acrotomofilia em manuais de psicopatologia, ele sugeriu que as páginas fossem arrancadas. A caça às bruxas medieval dos quadrimembristas aos membrodiversos tinha que parar.

O governo passou rápido a lei, sem oposição, obrigando os cirurgiões a amputarem os membros dos adultos com mais de quatorze anos que os quisessem amputados (os pais dos adolescentes de quatorze anos, especificamente, não deveriam ser informados) e doravante estava inscrito no código de ética médica que nenhum médico poderia recusar assistência a tal pessoa para encontrar um cirurgião disposto a fazer a operação, doravante a ser conhecida como correção de membro. Quando a lei passou, milhares de pessoas saíram do armário atrás de uma correção de membro (em geral, pernas) e logo houve tanta gente esperando pela operação que isso se tornou uma desgraça nacional. A solução foi treinar enfermeiras para cortar pernas fora, mas os braços, sendo mais difíceis de cortar, continuaram a cargo de cirurgiões plenos.

Ainda havia muito a ser feito para combater o preconceito, mas Amos gostou de ver que as editoras agora imprimiam livros de Mamãe e Papai (ou só Mamãe) com menos que quatro membros, e alguns com membro nenhum. Em algumas escolas primárias, as crianças estavam tendo um curso contra o quadrimembrismo, e ele tinha esperanças de que esses cursos se tornassem compulsórios por toda parte.

Depois de uma prolongada licença motivada por ansiedade, dois dos três maquinistas cujos trens fizeram as cirurgias iniciais se mataram.

E-BOOK 1984
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FUTEBOL BRASILEIRO DEVE MUITO AO PELÉ

 

Rei do Futebol faleceu na última quinta-feira (29) e não viu o futebol que sonhava nos campos do Brasil

Por Robson Morelli

Pelé morreu sem dever nada ao futebol. Mas o futebol brasileiro ainda deve muito a ele. Pelé morreu aos 82 anos sem ver o futebol com o qual sonhava fora de campo no Brasil. A lei que levou o seu nome libertou os jogadores do passe, uma espécie de corrente que prendia os atletas aos clubes por meio do contrato. Pelé acabou com essa escravidão quando foi ministro dos Esportes do governo FHC. Foi um avanço na lei.

Mas Pelé morreu sem ver o futebol brasileiro rico e promissor. Morreu vendo os clubes, inclusive o seu Santos, passando o chapéu para sobreviver a cada temporada, sem dinheiro e sem rumo.

Algumas pessoas ligadas ao esporte, essas sim, se tornaram ricas e famosas no País, mas não o futebol. Nosso futebol ainda é pobre apesar de ter tido Pelé. Nossos dirigentes, de entidades e times, de federações, fazem vergonha à história do Rei, que movimentou milhares de pessoas em seu velório na Vila Belmiro. Muitos tomaram para si parte do dinheiro do futebol brasileiro. Rendas desapareceram. Cotas altíssimas de TV não foram suficientes para pagar as contas. Valores de venda de jogadores são mentirosos. Dívidas aumentam e o calote corre solto na praça. Pelé morreu sem ter visto o futebol se organizar.

Familiares e amigos de Pelé durante o velório na Vila Belmiro
Familiares e amigos de Pelé durante o velório na Vila Belmiro  Foto: REUTERS/Diego Vara

Atualmente, os atletas, que não são nada perto do Rei, só pensam em dinheiro e em encostar o burro na sombra. Alguns se conformam até com a reserva. Eles dão a mínima para o talento que Deus lhes deu. Jogam futebol não pelas conquistas e pelo prazer de jogar e alegrar multidões, como fez Pelé, mas para pegar o primeiro avião para a Europa e começar a ganhar salários em euros, de modo a abandonar nosso futebol, nossos clubes, nossa gente. Nenhum deles ajuda o futebol brasileiro a crescer.

A própria seleção, com a qual Pelé ganhou três Copas do Mundo, se vale de jogadores ‘desconhecidos’ do público brasileiro. Muitos nem passaram pelos torneios estaduais, regionais e nacionais. Se atuaram no futebol brasileiro, foi por pouco tempo. São os maiores responsáveis por enfraquecer o futebol do País. Sim, porque eles são o futebol. Mas preferem mostrar sua graça em campos distantes. Pelé poderia ter atuado em qualquer lugar do mundo em sua época. Já existia Barcelona, Real Madrid e todos os outros. Mas ele preferiu ficar.

Da mesma forma, os presidentes de clubes brasileiros são os primeiros a aceitar as ofertas milionárias vindas de fora por suas revelações e melhores jogadores. São aliados aos empresários e não seguram mais ninguém porque não há planos para esses atletas.

Todos eles, portanto, dão de ombros ao legado de Pelé, sua história e seu amor a apenas um clube no futebol brasileiro. Pelé nos entregou tudo. Não fosse ele, o Brasil não seria penta. E nós, do futebol, não devolvemos nada ao Rei em vida.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...