terça-feira, 27 de dezembro de 2022

REAJUSTE GERAL DA ELITE DE BRASÍLIA CUSTARÁ 2,5 BILHÕES

 

Veja impacto por categoria
Custará R$ 2,5 bilhões em 2023

Por
Guilherme Grandi – Gazeta do POvo

Brasilia, Brazil – June 7, 2015: Brazilian National Congress. The building was designed by Oscar Niemeyer in the modern Brazilian style.


Aprovação dos reajustes salariais pelo Congresso abre margem para aumento da remuneração nos estados.| Foto: Bigstock

Os reajustes salariais concedidos para os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário neste fim de ano vão custar cerca de R$ 2,57 bilhões ao Orçamento de 2023, segundo impactos que constam nos sete projetos de lei aprovados no Congresso na semana passada.

A fila de aumentos foi puxada pelo Judiciário, que terá 18% de reajuste até 2025. Com isso, o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o teto da remuneração do serviço público federal, passará dos atuais R$ 39.293,32 para R$ 41.650,92 em 2023, e alcançará a quantia de R$ 46.366,19 em 2025.


Com o aumento do teto do funcionalismo, uma série de outros cargos e carreiras do serviço público também pôde ser beneficiada. Os congressistas aprovaram aumentos para o presidente da República e seu vice, ministros de Estado, senadores e deputados federais, que terão seus salários elevados para R$ 46,3 mil até 2025.

Além dos salários das autoridades dos Três Poderes, foram aprovados reajustes para as carreiras da Defensoria Pública da União (DPU), Ministério Público da União (MPU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e para servidores da Câmara dos Deputados e do Senado. Veja a seguir os valores e porcentuais aprovados em cada categoria:

Presidente, vice-presidente, deputados, senadores e ministros de Estado: R$ 39.239,32 a partir de janeiro de 2023; R$ 41.650,92 a partir de abril de 2023; R$ 44.008,52 a partir de fevereiro de 2024; e R$ 46.366,19 a partir de fevereiro de 2025;
Poder Judiciário, DPU, MPU, TCU, servidores da Câmara e do Senado: 6% a partir de 2023 + 6% a partir de 2024 + 6,13% a partir de 2025.
Foram sete projetos de reajustes aprovados praticamente de uma só vez pelo Congresso na semana passada. A justificativa de cada órgão foi de que os salários estão defasados em 60% desde 2014, no caso dos deputados federais, senadores, presidente, vice e ministros de Estado; e entre 25% e 34,84% desde 2016 para servidores do Judiciário e do Legislativo.

Em todos os projetos de aumento salarial, seus autores afirmam que a Constituição Federal estabelece a revisão periódica de subsídios e vencimentos, de forma a garantir sua irredutibilidade real, e que os aumentos seriam compatíveis com o teto de gastos – norma que limita à inflação o aumento das despesas do governo entre um ano e outro – e com os limites para as despesas de pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Para o ano que vem, os aumentos vão custar ao menos R$ 2,57 bilhões aos cofres públicos. Veja a seguir o impacto dos aumentos concedidos para cada categoria no Orçamento de 2023, segundo consta nos pareceres dos relatores dos projetos:

Poder Judiciário: R$ 1.660.426.583,00
Defensoria Pública da União (DPU): R$ 16.343.800,00
Ministério Público da União (MPU): R$ 243.916.138,23
Tribunal de Contas da União (TCU): R$ 88.100.000,00
Deputados federais: R$ 86.019.836,62
Servidores da Câmara dos Deputados: R$ 275.700.000,00
Senadores: R$ 14.257.054,00
Servidores do Senado: R$ 180.900.000,00
Poder Executivo: R$ 7.121.169,48

Aumentos pressionam orçamento em momento de crise fiscal
Embora os reajustes pedidos pelos três poderes sejam permitidos pela Constituição para se adequarem às perdas inflacionárias, o professor Mário Sérgio Lepre, mestre em ciência política pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), considera que este não era o momento ideal para isso. Principalmente por ter se dado em um momento de crise fiscal em que o próprio governo estava fazendo fortes contingenciamentos orçamentários para fechar as contas de fim de ano e discutindo uma forma de garantir benefícios sociais para o próximo ano.

“A bem da verdade, o Brasil é um país que trabalha numa lógica diferente daquilo que seria um ambiente adequado para o desenvolvimento econômico. É como se eu, funcionário de uma empresa, decretasse que meu salário será de tanto, não tem sentido. Não há preocupação com as contas públicas”, dispara.

O próprio governo reconhece que o orçamento de 2023 terá um déficit de R$ 231,5 bilhões. O valor foi incrementado com a aprovação da PEC fura-teto, de R$ 169 bilhões, que Lepre diz ter sido discutida e aprovada no “afogadilho, em um mês praticamente”.

Na visão de Julian Alexienco Portillo, professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e especialista em escolas de pensamento econômico liberal, isso mostra que o governo federal vai na contramão do que seria correto para equilibrar as contas públicas. Ele sugere que, embora o que se vai gastar com estes reajustes seja muito menor do que o pagamento do Auxílio Brasil (ou Bolsa Família), os deputados e demais cargos que possuem auxílios especiais, começassem cortando custos em vez de aumentá-los.

“Por que não cortam os penduricalhos para somar à remuneração? Mas, não. Eles [deputados e senadores] fazem exatamente o oposto, mantém o que já existe como se fosse um direito adquirido e dizem ‘mas, olha, eu ainda preciso fazer a reposição’”, analisa.

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A questão é que os reajustes dos “subsídios” dos ministros do STF e dos deputados acabam refletindo também nos estados – e, eventualmente, nas prefeituras.

De acordo com a Constituição, os governadores podem ter suas remunerações elevadas ao teto constitucional, e os deputados estaduais a 75% do que ganham seus pares no Congresso.

Como cada estado tem autonomia para definir os salários de seus parlamentares, os valores pagos nas assembleias legislativas variam de uma para a outra. Em média, os 1.059 deputados estaduais e distritais ganham R$ 25,3 mil, ao custo de R$ 26,8 milhões neste ano.

Com o reajuste salarial dos deputados federais aprovado para 2023, os salários dos seus pares estaduais podem chegar a R$ 29,4 mil a partir de janeiro. Se todos os estados aprovarem o reajuste na média permitida pela lei, o impacto será de R$ 31,2 milhões – alguns deles, como o Distrito Federal e o Mato Grosso, deixaram a discussão para a próxima legislatura. E assim sucessivamente em 2024 e 2025, como alguns estados já vêm aprovando, com impactos de R$ 34,9 milhões e R$ 36,8 milhões, respectivamente.

Julian Alexienco lembra, ainda, que estes reajustes abrem precedente para outras carreiras do serviço público. “Começa ali no Judiciário e vai seguindo um efeito cascata, com o juiz regional, com outros servidores, como sempre foi de cima para baixo”, diz.

Ele ressalta que até mesmo as prefeituras e os vereadores devem pleitear reajustes, por também terem suas remunerações atreladas ao teto constitucional, por meio dos salários dos deputados estaduais.

Aumentos seguem os ganhos de arrecadação
Mário Sérgio Lepre vê a aprovação dos reajustes pelo Congresso e o efeito cascata para outras carreiras como um dano à arrecadação das receitas federais, que cresceu ao longo de 2022 e alcançou R$ 2,008 trilhões entre janeiro e novembro, o melhor desempenho arrecadatório desde 1995, segundo a Receita Federal.

Para ele, parte desses ganhos vai sendo anulada com o aumento das despesas, um cenário que ele vê como preocupante daqui para frente. “Tivemos um governo que diminuiu alíquotas de impostos e permitiu à indústria produzir mais pagando menos, aumentando a arrecadação na outra ponta. E agora vamos ver uma série de reajustes e outras benesses que vai comprometer esse bom resultado”, completa.

“Para se pagar qualquer gasto adicional ao orçamento, precisa sair de algum lugar. O governo já vai fechar o ano com déficit, e não é de hoje que o Brasil é deficitário. Como é que se corrige isso? Aumentando os impostos ou contraindo mais dívida, e uma hora essa conta vem”, conclui o professor Portillo.

Os reajustes aprovados na Câmara não foram unânimes entre os congressistas. O partido Novo, por exemplo, votou contra todas as propostas. Na votação simbólica para conceder reajuste para presidente, vice, ministros de Estados, deputados e senadores, o Psol também se posicionou contrário à proposta. Alguns deputados de outros partidos registraram voto contra, como Paulo Martins (PL-PR), Chris Tonietto (PL-RJ) e Diego Garcia (Republicanos-PR) e Carla Dickson (União Brasil-RN).

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NINGUÉM DEFENDE A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

 

Inação

Por
Alexandre Garcia

Manifestação em apoio operação lava jato – integrantes do movimento Juntos Pelo Brasil promoveram uma carreata em apoio a operação lava jato e ao presidente Jair Bolsonaro pelas ruas de Curitiba – Carreata pró lava jato e carreata pró Moro.


Imagem ilustrativa.| Foto: Albari Rosa / Arquivo Gazeta do Povo

Semana passada eu falei da preocupação dos prefeitos com a possibilidade de revogação, entre muitas coisas, já no primeiro dia do novo governo, as escolas cívico-militares, que tanto têm ajudado na segurança, no combate às drogas, levar a calmar a muitos lugares do Brasil. Os jovens que vão pra lá aprendem disciplina, a respeitar as leis, a ter valores e a ficar longe dos traficantes. Hoje eu vou comentar sobre outra preocupação, a Operação Acolhida, lá em Roraima, que eu acho que merecia um Nobel da Paz.

Operação Acolhida merece Nobel da Paz
O projeto acolheu milhares de venezuelanos fugidos da ditadura bolivariana – o que eu acho que é um desrespeito a Simon Bolívar –, mas, enfim, é o pessoal do Foro de São Paulo. Chávez começou com Fidel, com Lula, e Maduro continuando. O que vai acontecer com a Operação Acolhida? Será que vai ser desmontada? Uma operação de direitos humanos, de caridade, de amor ao forasteiro, ao estrangeiro que chega, que está entrando no país. É isso: acolher e achar lugar para toda essa gente como nós temos feito. É uma preocupação muito grande.

Será que Silvio Almeida vai cuidar de quem é preso por crime de opinião?
Vai ter aí o ministro de Direitos Humanos, o Silvio Almeida. Tomara que ele cuide disso e que cuide também de gente que está sendo presa no Brasil, como aconteceu agora. Mais um jornalista e um humorista, por expressar a opinião de um assunto que, se fosse calúnia, injúria ou difamação, seria um assunto de primeira instância, de Código Penal, de Ministério Público avaliar se denuncia ou não, que não requer prisão em flagrante ou prisão imediata, prisão preventiva, seja lá o que for. Mas nós estamos vivendo isso aqui no Brasil, é uma questão de Direitos Humanos.

Tomara que a Operação Acolhida continue. Se ainda houver motivos, decorrido o tempo, para venezuelanos se abrigarem no Brasil, pelas condições aqui do nosso país. Os presos, para quem quiser saber, são o jornalista Oswaldo Eustáquio e o humorista Bismarck, do excelente Canal Hipócritas, por terem criticado o ministro Alexandre de Moraes, terem falado lá de ligações entre ele e Alckmin e mais um advogado. E reclamado na Corte Internacional de Direitos Humanos das prisões arbitrárias e da falta de cumprimento de cláusulas pétreas que estão na Constituição.

Quem jurou defender a Constituição fica só olhando

Eu fico pensando, as pessoas aqui no Brasil que juraram defender a Constituição e que estão só olhando como se fossem espectadores, como se estivessem em outro mundo. Está cheio aí. O presidente da Câmara, presidente do Senado, presidente da República, presidente do Supremo, todo mundo jura cumprir a Constituição e a gente fica esperando que cumpram o juramento, que não possam ser classificados de perjúrios. Essa é uma questão séria.

Para os amigos, tudo
O presidente Lula está em Brasília de novo e vai ter que completar esse gigantesco ministério. Já está havendo muita reclamação de que o PT ficou com a melhor parte da partilha e os outros partidos estão esperando. A preocupação grande do futuro governo é que a eleição de 3 de outubro pôs 73% de centro e direita na Câmara e 67% de centro-direita no Senado.


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LULA MENTE AO FALAR MAL DO GOVERNO

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


O presidente eleito Lula.| Foto: Fernando Bizerra/EFE

O ex-presidente Lula se prepara para começar seu novo governo da maneira como tem se comportado em seus 40 anos de vida política: mentindo. As “agências de checagem”, é claro, continuam fazendo esforços para dizer que Lula não mentiu nisso, ou naquilo, mas não adianta nada – ele não consegue, simplesmente, dizer a verdade, da mesma forma como não é capaz de reconhecer as realidades que não lhe interessam. Mentiu, maciçamente, quando afirmou ao começar o seu primeiro mandato que tinha recebido uma “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso. Era absolutamente falso.

Na verdade, ele recebeu um país com a inflação enfim derrotada pelo Plano Real, após décadas de destruição econômica. O Brasil estava livre dos bancos estaduais, da calamitosa siderurgia estatal e do descontrole dos gastos públicos. Pela primeira vez na história, a população tinha acesso verdadeiro ao telefone, por conta da privatização das empresas de telefonia. A “herança maldita” era apenas uma desculpa prévia, hipócrita e velhaca para os fracassos que a sua administração iria ter.

As contas públicas estão em ordem. Nada disso é propaganda do governo. São os números da vida real. Mas o Sistema Lula-PT, contra todas as evidências materiais, nega a sua existência.

Não deu outra. Ao final da era Lula-Dilma, a economia do Brasil estava em ruínas – a maior recessão de toda a história econômica do país, inflação em alta, desemprego em níveis recorde, empresas quebradas, fuga de investimentos e daí para baixo. Estão fazendo o possível, por tudo o que têm anunciado até agora, para repetir a dose.

Começaram do mesmo jeito – dizendo que vão receber uma “herança perversa” do governo Jair Bolsonaro. Esta segunda mentira, de 2023, é ainda mais agressiva que a primeira, de 2003, pelo que tem de negacionista e de desonestidade em estado integral. A realidade, demonstrada por fatos objetivos e acima de discussão, é que Lula vai receber de Bolsonaro um país na melhor situação econômica que um presidente brasileiro jamais recebeu de seu antecessor.

A inflação vai fechar 2022 por volta de 6% – simplesmente, umas das menores do mundo e abaixo da inflação dos Estados Unidos ou Alemanha, algo que jamais aconteceu na história. O desemprego caiu para seus níveis mais baixos em vinte anos. O crescimento econômico passou dos 2,6% no ano, contra previsões unânimes de recessão por parte dos economistas, banqueiros internacionais e dos FMI da vida.


As exportações e as reservas em divisas fortes estão batendo recordes em 2022. O agronegócio, mais uma vez, tem os seus melhores resultados e consolida o Brasil como um dos mais eficientes competidores do mundo no mercado de alimentos, cada vez mais estratégico. As empresas estatais encerram o ano com lucros de 250 bilhões de reais – o oposto, exatamente, da situação de falência a que foram arrastadas no período Lula-Dilma.

As contas públicas estão em ordem. Nada disso é propaganda do governo. São os números da vida real. Mas o Sistema Lula-PT, contra todas as evidências materiais, nega a sua existência; mente, como fez em relação a FHC, dizendo que Lula vai receber uma segunda herança maldita.

É uma demonstração perfeita do grau de integridade que se pode esperar de Lula e do seu governo.


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DIREITOS HUMANOS PETISTAS NÃO TEM NADA DE DIREITOS HUMANOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Futuro ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida participou de grupo de juristas negros que defende, no Congresso, novas formas de cotas raciais, regras para programas de rádio e televisão, realização da uma “Mega-Sena da Consciência Negra”, entre outras medidas.| Foto:

Durante a campanha petista, pouquíssimas propostas foram apresentadas pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. O que viu foram apenas evocações saudosistas aos mandatos anteriores de Lula e a promessa de que tudo voltaria a ser como antes – mesmo que mais de dez anos tenham se passado desde sua saída da Presidência da República e que o Brasil e o mundo de hoje sejam bem diferentes do que eram então. Agora, prestes a assumir o governo, os petistas mostram estar realmente dispostos a reviver as gestões passadas, especialmente no que elas tiveram de pior. E um dos fantasmas dos mandatos passados que pode ser ressuscitado é a nefasta versão petista do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH).

O PNDH não é invenção petista: existe desde 1996, sendo usado para nortear as ações na área de defesa de direitos humanos em todo o Brasil. As duas primeiras edições do documento continham apenas oito itens, tratando especialmente sobre o cumprimento das garantias constitucionais como os direitos à vida, à igualdade, à segurança, à liberdade e à propriedade, bem como redução da violência, intolerância, discriminação e desigualdades sociais. Entretanto, no primeiro mandato de Lula, a terceira edição do PNDH, publicada em dezembro de 2009, transformou-se em um calhamaço ideológico de mais de 500 propostas, boa parte delas execradas pela sociedade brasileira.

Não é possível permitir que, sob a égide da defesa dos direitos humanos, a esquerda tente, mais uma vez, empurrar goela abaixo da população suas ideias equivocadas.

Para que tenha ideia exata do teor do documento, entre as propostas estavam a descriminalização do aborto; a proibição de símbolos religiosos em locais públicos; a modificação das regras para a reintegração de posse de terras invadidas no país, o que era visto por críticos do programa como possível estímulo a invasões do MST; a criação da Comissão da Verdade, para apurar torturas e desaparecimentos durante a ditadura militar; e uma menção à “desconstrução da heteronormatividade”. O controle da imprensa – outro tema caro aos esquerdistas – também estava presente no PNDH3, com a proposta de se criar um ranking de veículos de comunicação com base na forma como os direitos humanos eram abordados. Veículos que não seguissem a cartilha petista seriam punidos, podendo até, no caso de rádios e televisões, ter sua concessão cassada. A indignação popular foi tamanha que Lula teve de recuar em vários desses pontos.

É evidente que uma eventual reedição do PNDH durante o terceiro mandato de Lula, se não trouxer exatamente as mesmas propostas, deverá conter ideias bem similares. Uma amostra do que está por vir pôde ser vista nas resoluções do Encontro Nacional de Direitos Humanos do PT, realizado em dezembro de 2021. O documento lista 20 pontos fundamentais para nortear o plano de governo de Lula na área de direitos humanos. No rol de sugestões consta, por exemplo, “cessar a guerra às drogas: regular, descriminalizar”; “reverter o encarceramento em massa de pretos e pobres”; “desarmar o país, campanha massiva antiarmas, rever toda legislação bolsonarista”; desmilitarização das polícias; “propaganda massiva de valores democráticos, pluralistas para enfrentar o neofascismo”; a criação de um tribunal para punir os responsáveis pelo “genocídio” durante a pandemia da Covid-19; e a criação de um marco legal dos direitos da população LGBT.

Quando se leva em conta os nomes que integraram a equipe de transição de Lula, também é possível vislumbrar os temas que deverão estar presentes no novo PNDH. A deputada federal petista Maria do Rosário, por exemplo, é uma defensora ferrenha das pautas ligadas ao movimento LGBT, ao feminismo radical e à descriminalização do aborto. Ela criticou a campanha do governo Bolsonaro contra gravidez precoce que, em vez de estimular o sexo e o uso de contraceptivos, apostou na educação da afetividade dos jovens. Ela ainda é autora do projeto de lei sobre o registro de dupla maternidade ou paternidade a casais homoafetivos.

Outro nome que fez parte do grupo de transição e acabou confirmado como o ministro de Direitos Humanos de Lula é o do advogado Silvio Almeida, que defende a existência de “racismo estrutural” no Brasil. O futuro ministro é um dos autores do relatório de juristas apresentado no Congresso Nacional com centenas de propostas para a “construção de um Brasil antirracista”. Entre as ideias do relatório – e que poderão ser incluídas em um eventual PNDH4 – estão a criação de linhas de crédito específicas para pessoas negras; a taxação de fortunas para financiar programas de renda para pessoas negras; o controle direto sobre as produções audiovisuais, que não poderiam “reproduzir racismo pela ausência de representatividade negra profissional”, nem veicular “representação negativa da pessoa negra”, entre outras medidas absurdas.


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Longe de querer defender de fato a dignidade da pessoa humana, sua segurança e direitos fundamentais, o que um eventual PNDH4 lulista deverá fazer é recrudescer o clima de divisão social – a eterna luta de classes esquerdista –, além de tentar abrir brechas para a disseminação das pautas ditas “progressistas”. E quem diz isso é o próprio PT, ao assegurar que “a concepção de direitos humanos de um partido socialista como o PT com certeza difere da concepção liberal de direitos humanos, e, portanto, deve ser entendida como um espaço permanente de disputa de direitos na estratégia anticapitalista e antineoliberal do PT, e abarcar seus componentes estruturantes: socialista, feminista, antirracista, ambientalista, libertário!”

Diante de perspectivas tão sombrias, é bom que a sociedade e nossas lideranças desde já abram os olhos e fiquem atentas aos avanços petistas. Não é possível permitir que, sob a égide da defesa dos direitos humanos, a esquerda tente, mais uma vez, empurrar goela abaixo da população suas ideias equivocadas, que só tentam minar os valores da nossa sociedade e recrudescer o clima de divisão no país.

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RESTAURANTE SOCIALISTA QUE NÃO DEU CERTO

 


Pague quanto quiser: como era o restaurante socialista que deu errado nos EUA
Por
Tiago Cordeiro – Gazeta do Povo


“As pessoas não entenderam quando diziam: ‘não tenho dinheiro’, e nós respondíamos: ‘você não precisa ter’”, explicava Ron Shaich, fundador da Panera Cares| Foto: Reprodução YouTube

No dia 16 de maio de 2010, um domingo, a rede de padarias Panera Bread abriu uma filial diferente em Saint Louis, no Missouri, Estados Unidos. Era um “café comunitário”: as pessoas entravam, se serviam, e não havia preços. Podiam pagar quanto quisessem – ou não pagar nada. Uma caixa perto da saída recebia pagamentos voluntários.

“As pessoas não entenderam quando diziam: ‘não tenho dinheiro’, e nós respondíamos: ‘você não precisa ter’”, explicou Ron Shaich, fundador e, na época, CEO da empresa, durante uma apresentação realizada para um TEDx Talks, logo após a inauguração. Ele relatava, na ocasião, que as doações haviam superado os custos em US$ 5 mil. “Este é um modelo de negócios sustentável: levamos toda a experiência de qualquer filial da Panera, o ambiente, o atendimento, o cardápio. Fizemos do jeito certo”, relatava.

Naquele momento, seis milhões de americanos passavam por alguma das duas mil padarias da rede, espalhadas pelos Estados Unidos e Canadá. Batizada de “Panera Cares” (ou “Panera se importa”), a experiência socialista foi expandida para outros quatro locais: Dearborn, Portland, Chicago e Boston. “Em última análise, este era um teste de humanidade. As pessoas com condições financeiras pagariam? A comunidade valorizaria a proposta”, explicou o CEO na época.

Fracasso retumbante

Em 2019, todas as lojas de comida de graça estavam fechadas, um processo que teve início ainda em 2016. Ao longo de nove anos, as filiais operaram com receita, em média, 60% abaixo dos custos. Poucas pessoas pagavam pela comida – mesmo estudantes universitários que teriam condições de contribuir. Em Portland, eles passaram a ser barrados quando tentavam comer de graça em horário de aula. Há relatos de que clientes que frequentavam o local com frequência e não pagavam, ou pagavam pouco, na saída eram hostilizados abertamente pelos funcionários.

O afluxo de moradores de rua levou os demais frequentadores a reclamar do ambiente, o que resultou na contratação de seguranças. Não foi suficiente, e o público estimulado pela experiência da padaria socialista, que pagava mais do que havia consumido, para contribuir, foi deixando de comer nos locais.

Antes de desistir, a empresa serviu mais de dois milhões de refeições nestas filiais. E resistiu ao prejuízo: hoje mantém suas atividades tradicionais, cobrando pelo alimento que serve. A Receita Federal americana investigou as lojas e concluiu que, mesmo sem cobrar pelos alimentos, as lojas precisavam recolher impostos pelo que produziram, e estavam devendo US$ 7,5 milhões ao fisco.

Quanto a Ron Shaich, vendeu a Panera Bread em 2017, por US$ 7,5 bilhões. Uma experiência semelhante, implementada sem o suporte de uma grande rede lucrativa, deveria ter servido de alerta: em 2003, foi inaugurada uma cozinha comunitária em Salt Lake City, em Utah, pelas mãos da organização sem fins lucrativos One World Everybody Eats. Não havia menu fixo: os alimentos eram produzidos a partir de doações da comunidade, valorizando pratos vegetarianos, orgânicos e veganos. Os princípios eram semelhantes, assim como o resultado: fim das atividades em 2013, após dez anos de prejuízos.

“Pague quanto quiser”
O caso da Panera Bread é apenas um dos exemplos mais conhecidos de uma tendência, conhecida nos Estados Unidos como Pay What You Want (PWYW), Pay What You Can (PWYC) – ou seja, “pague quanto quiser”, “pague quanto puder”.

O conceito é simples: produtos e serviços são oferecidos sem preço determinado, apostando no bom senso e na moral e na ética dos clientes. A indústria que tem utilizado a ideia com mais frequência é a de entretenimento e cultura. Em 2007, por exemplo, a banda Radiohead lançou o álbum In Rainbows para compra em sistema colaborativo, o que incentivou uma série de bandas alternativas a fazer o mesmo.

No papel, parece inovador: empregos são gerados, dinheiro circula, sempre de acordo com as possibilidades de cada pessoa, o que democratizaria o acesso ao mercado e consumo. Mas a prática mostra que não funciona – com a exceção notável da Wikipédia, a enciclopédia colaborativa que, no ano fiscal de 2022, recebeu US$ 20,8 milhões em doações, 13% a mais do que no período anterior.

Na média dos produtos e serviços, porém, o chamado PWYW só funciona quando está atrelado a ações de caridade. Liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, um estudo sobre os resultados desse padrão socialista de distribuição de renda, publicado em 2010 e atualizado em 2012, com base num modelo “pague o quanto quiser” em fotos de uma montanha russa, indicou que, quando os clientes ficam livres para escolher o valor, a contribuição média, que era de US$ 0,92, não cobria os custos. Agora, se informados de que metade do valor pago seria doado a uma instituição de caridade, o valor por foto saltava para US$ 6,50.

Outro estudo, realizado por pesquisadores das Universidades da Califórnia e de Munique, publicado em 2015, apontou mais um aspecto desta proposta: a política de “pague quanto quiser” funciona melhor em mercados de monopólio. Quando a livre concorrência é aplicada, as pessoas, no geral, preferem pagar um preço pré-determinado com transparência.

Em outras palavras, a estratégia só poderia funcionar em mercados sem diversidade nem competitividade. Como lembra o historiador Rainer Zitelman, em entrevista à Gazeta do Povo, “houve dezenas de experimentos socialistas ao redor do mundo nos últimos 100 anos e todos falharam miseravelmente. Sem exceção”. “Albert Einstein disse uma vez que a definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente, mas esperando resultados diferentes”, argumenta.

Ele defende que “a vida das pessoas melhora cada vez que um país fortalece seu livre mercado e introduz mais direitos de propriedade privada”. E completa: “O maior truque que os socialistas adotaram é comparar uma utopia abstrata, um sonho que alguém pensou e escreveu em um livro, à realidade. A realidade sempre acaba em segundo plano. É como comparar seu casamento com a descrição de um caso de amor em um romance. Não é uma comparação justa. É um truque”.


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ACESSOS ÀS LOJAS SÃO FEITOS POR SMARTPHONES

 

Cerca de  24 bilhões de acessos em lojas de e-commerces no Brasil são feitos por smartphone, afirma especialista.

Patrick Marquart

Em bate-papo #TriwiCast32 realizado com Patrick Marquart, o profissional fala sobre a relação entre branding e performance nas empresas, e fala das inovações para o e-commerce com o mobile marketing.

Nesta semana, a TRIWI Consultora especialista em Marketing Digital recebeu, Patrick Marquart o  Head of Enterprise Sales Brazil da UpStream, em seu podcast, o #TRIWICAST. O projeto especial, visa mostrar a realidade de mercado nas áreas de Tecnologia, Inovação, Serviços e Marketing, com um novo formato de conteúdo em suas plataformas digitais, No episódio ​​”Performance, Vendas e Branding”, o host Ricardo Martins  conduziu o convidado em um papo sobre a otimização de investimentos  em todos os setores da empresa.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de se trabalhar performance e branding conjuntamente, o profissional avalia que uma não invalida a outra, e para as empresas é preciso avaliar as fases em que estão e se adaptar.

“O branding eu entendo que ele é longevidade da empresa, da marca, são os seus valores… não é um produto, não é preço, não é desconto, isso é performance. Existe também performance em branding, sim, até porque você consegue medir tudo. Como exemplo o topo de funil que faz parte do branding, de você levar a marca para um maior número de pessoas possível para terem conhecimento de você’. Destaca.

O Head ainda complementa que o produto é muito mais volátil, então as empresas apostam em um modelo de branding que ultrapassa o produto para poderem se distanciar da briga por preço.

“Considero que o branding e performance dentro de uma operação de e-commerce, devem encontrar um equilíbrio, como um balança, que hora podem pender para um lado e hora para outro, mas caminhar de forma harmônica, trazendo resultados positivos”. Avalia.

MERCADO MOBILE

O mobile marketing tem despontado no mercado nacional de forma  expressiva nos últimos anos. Segundo Patrick, um último dado da Conversion  confirma que 74% dos acessos a e-commerces no Brasil, foram feitos através de um smartphone. Patrick ainda assegura que esse número destacado no dado, representa 24 bilhões de acessos a e-commerces.

“O brasileiro gasta em média entre 5 a 9 horas por dia no smartphone, por mês são mais de 30 horas gastos em aplicativos de mensagem, e cerca de 2.600 toques na tela por dia, e o principal motivo para as pessoas comprarem no mobile é ganho de tempo”.  Aponta.

Para as empresas ampliarem os seus contatos com os clientes é preciso estar atentos a todos os canais. Patrick exemplifica o SMS com um dos potenciais facilitadores dessa comunicação para as lojas virtuais.

“Os dados das operadoras mostram que em média 98% das mensagens de SMS são abertas e lidas durante o dia, para as empresas de e-commerce ter um canal que oportuniza um contato seguro com os clientes, que construa um relacionamento confiável e dinâmico produz resultados muito mais expressivos “. Finaliza.

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

PROPOSTA NO SENADO ACABA COM O IMPEACHMENT DO PRESIDENTE

 


Projeto sobre impeachment exclui da lei crimes de Dilma e inclui casos contra Bolsonaro

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília


Rodrigo Pacheco e Ricardo Lewandowski durante entrega do anteprojeto para uma nova lei do impeachment no Senado.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O anteprojeto proposto pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski para revisar a lei do impeachment, caso aprovado no Congresso, não permitirá mais cassar um presidente da República que venha a adotar as “pedaladas fiscais” como as que levaram à perda do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Por outro lado, o anteprojeto cria crimes de responsabilidade com definições que se assemelham a acusações que já foram feitas contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo de seu mandato por opositores.

O texto foi elaborado por uma dezena de juristas reunidos por Lewandowski. A proposta de mudanças na lei do impeachmente foi entregue no último dia 16 ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Pacheco disse que a ideia de fazer uma nova lei partiu de Lewandowski em razão de “lacunas” na lei em vigor, de 1950. O discurso oficial é que uma nova norma deveria ser aprovada para se adequar à Constituição de 1988.

Porém, a maior parte dos advogados, professores e técnicos que esteve na comissão é formada por críticos do processo de impeachment que culminou com a cassação de Dilma. Desde o início dos trabalhos do grupo, no início do ano, já se falava na possibilidade de retirar da lei os crimes de responsabilidade fiscal pelos quais ela foi condenada.

O argumento era de que os casos envolvendo questões fiscais caracterizavam tipos penais muito técnicos, que dificilmente seriam cometidos por um presidente e que poderiam ser atribuídos a subalternos, como o ministro da Fazenda ou o secretário do Tesouro, por exemplo. Esses crimes foram inseridos na lei no ano 2000, no bojo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), criada para promover o controle das contas públicas do país.

A possibilidade de exclusão de crimes fiscais da proposta da nova lei do impeachment se confirmou na versão final do anteprojeto. Os crimes de responsabilidade pelos quais Dilma foi condenada foram excluídos da proposta. Portanto, se o Congresso aprovar o texto, ficará muito mais difícil denunciar um presidente que cometesse os mesmos delitos ou manobras ilegais semelhantes contra a lei orçamentária que foram praticados por Dilma.

A exclusão das regras de responsabilidade fiscal dos casos passíveis de impeachment vem num momento em que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá sinais de que pretende elevar os gastos públicos – o que, para analistas, pode ameaçar a responsabilidade fiscal. Um exemplo disso é a PEC fura-teto.

Críticos do anteprojeto da comissão de Lewandowski afirma que a retirada da questão fiscal dos crimes de responsabilidade é uma blindagem temerária. “Se este projeto for aprovado, penso que um impedimento [impeachment] será impossível”, diz a deputada e professora de direito Janaina Paschoal, autora da denúncia contra Dilma.

No processo de impeachment, Dilma foi condenada pelos crimes de:

“ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal”;
“deixar de promover ou de ordenar na forma da lei, o cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação de crédito realizada com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei”; e
“abrir crédito sem fundamento em lei ou sem as formalidades legais”.

Todos esses tipos foram excluídos do texto proposto por Lewandowski. As pedaladas consistiram em atrasar pagamentos de empréstimos crescentes tomados de bancos públicos para financiar despesas correntes do governo, tudo isso de forma oculta. Com isso, Dilma escondia o rombo nas contas públicas. Segundo a sentença de sua condenação no impeachment, a dívida pública federal foi subdimensionada em R$ 40,2 bilhões em 2014, ano de sua reeleição. Em 2015, o passivo cresceu e chegou a R$ 58,7 bilhões. Esse rombo nas contas públicas foi uma das causas da maior recessão econômica pela qual o país já passou.

Além dos crimes pelos quais Dilma foi condenada, a comissão dos juristas de Lewandowski também excluiu outros seis tipos penais criados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A redação da parte relativa aos crimes contra a lei orçamentária foi simplificada, e prevê seis tipos:

não apresentar os projetos de lei orçamentária no prazo previsto na Constituição ou em lei, ressalvada prévia autorização parlamentar;
não prestar ao Poder Legislativo, no prazo legal, as contas referentes ao exercício anterior;
deixar de entregar aos entes federados, no prazo legal, as receitas tributárias a eles devidas;
não repassar, no prazo legal, os duodécimos destinados aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público e à Defensoria Pública;
não aplicar os recursos constitucionalmente exigidos na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
destinar recurso vinculado a finalidade diversa da fixada na Constituição ou em lei; e
descumprir deliberada ou reiteradamente a legislação orçamentária e de responsabilidade fiscal.

“Realmente o projeto esvazia os crimes de responsabilidade criados com a LRF. Além de perder a especificação trazida pela LRF, os casos ficarão presos na discussão do ‘deliberadamente’ e se foi ou não ‘reiteradamente’”, diz um especialista do Tribunal de Contas da União (TCU) consultado pela reportagem e que pediu para não ser identificado.

Outras mudanças no impeachment poderiam atingir Bolsonaro
Se por um lado o texto do anteprojeto pode ajudar a blindar Lula por uma eventual irresponsabilidade fiscal em seu governo, várias outras mudanças propostas representariam riscos para o presidente Jair Bolsonaro se ele tivesse sido reeleito.

A proposta da comissão de Lewandowski cria crimes de responsabilidade com definições que se assemelham a acusações que já foram feitas contra Bolsonaro ao longo de seu mandato por opositores. Entre eles está o delito de “divulgar, direta ou indiretamente, por qualquer meio, fatos sabidamente inverídicos, com o fim de deslegitimar as instituições democráticas” – tipo penal que poderia enquadrar as frequentes acusações de que Bolsonaro promove “fake news” ao criticar o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus ministros.

Também foi proposta a criação do crime de “deixar de adotar as medidas necessárias para proteger a vida e a saúde da população em situações de calamidade pública”. Acusação semelhante foi feita pela oposição de Bolsonaro de que ele não teria adotado políticas adequadas e necessárias para combater a pandemia de Covid-19.

Caso o anteprojeto seja aprovado no futuro, nenhum desses novos tipos poderia ser imputado a Bolsonaro porque a proposta diz expressamente que uma denúncia não poderá ser recebida “caso o denunciado, por qualquer motivo, tiver deixado definitivamente o cargo”.

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Proposta reduz poder do cidadão e do presidente da Câmara
Além da retirada dos crimes de responsabilidade fiscal, a proposta da comissão de Lewandowski também retira o poder que cada cidadão tinha de denunciar, crimes de responsabilidade, o presidente da República ou outras autoridades, como os ministros do STF, para pedir o impeachment deles.

Atualmente, qualquer cidadão pode apresentar o pedido à Câmara, no caso dos presidentes, ou ao Senado, para solicitar o impeachment de autoridades como ministros do Supremo. Isso acaba no anteprojeto, que prevê como “legitimados” para fazer esse tipo de denúncia apenas partidos que tenham parlamentares no Congresso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entidades de classe e sindicatos existentes há mais de ano.

Denúncias por parte de cidadãos só poderão ser apresentadas se forem juntadas, para cada uma, 1,5 milhão de assinaturas de eleitores. Esse é o mesmo apoio necessário para apresentar ao Congresso um projeto de lei de iniciativa popular – o que corresponde a 1% do eleitorado.

“Uma coisa é apresentar uma denúncia, se lança um abaixo-assinado e se colhem 2 milhões de assinaturas, como nós conseguimos no caso do impeachment de Dilma Rousseff. Outra, completamente diferente, é esse tanto de assinaturas ser requisito para apresentar”, diz Janaina Paschoal. A autenticidade das assinaturas tem de ser verificada, ao contrário das de um abaixo-assinado.

Projetos de iniciativa popular dificilmente tramitam e avançam no Congresso justamente pela dificuldade não apenas em colher as assinaturas, como também em comprovar que são autênticas. Isso aconteceu com a Lei da Ficha Limpa, aprovada em 2010. Apesar de ter recebido 1,6 milhão de assinaturas, para driblar as dificuldades de conferência das assinaturas, a proposta foi “apadrinhada” por parlamentares, que a apresentaram na forma de projeto de lei comum.

Além de reduzir o poder do cidadão comum, o anteprojeto da nova lei do impeachment também diminui o poder do presidente da Câmara. Atualmente, ele decide sozinho se aceita ou não o pedido de impeachment de um presidente e analisa a denúncia pelo tempo que achar necessário.

Pelo anteprojeto, ele terá 30 dias para decidir se aceita ou se arquiva os pedidos – se nada fizer, haverá um “arquivamento tácito”. Se houver arquivamento, caberá recurso para a Mesa Diretora, composta por outros parlamentares de partidos que compõem a cúpula da Câmara. Da decisão da Mesa, ainda caberá recurso ao plenário, formados por todos os deputados.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/projeto-sobre-impeachment-exclui-da-lei-crimes-de-dilma-e-inclui-casos-contra-bolsonaro/
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ESCOLAS CÍVICO-MILITARES QUE DERAM CERTO

 


Mudanças na política federal não devem impedir modelo de escolas cívico-militares

Por
Raquel Derevecki – Gazeta do Povo


Equipe de gestores civis e militares da escola cívico-militar Beatriz Faria Ansay, em Curitiba (PR).| Foto: Sandro Francisco Mira Junior/ Arquivo pessoal

Com melhorias em metas de redução na evasão escolar, combate à violência e crescimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em mais de 73% das escolas de Ensino Fundamental e em quase 50% nas de Ensino Médio, o Paraná é um dos estados que deve continuar investindo no modelo de escolas cívico-militares no Brasil. Desde sua implementação, são 207 instituições do estado aderiram ao modelo. O objetivo é ampliar o projeto, mesmo que o governo federal desestimule essa ação a partir de 2023.

A possibilidade de encerramento do programa tem sido apresentada por integrantes do governo Lula por meio de declarações como a da coordenadora de Educação do Partido dos Trabalhadores (PT), Teresa Leitão. Ela, que participa da alta cúpula do partido para definir diretrizes do plano de governo petista, já afirmou que “o projeto das escolas cívico-militares fracassou” e que o PT não irá bancá-lo, já que parte dos recursos é proveniente do governo federal.

No entanto, o resultado apresentado pelas instituições do Paraná e de outros estados do Brasil – como Goiás – mostram uma realidade bem diferente da apresentada pela coordenadora petista. “Observamos em todas as escolas um grande avanço na participação das famílias, no processo, na presença dos estudantes em sala de aula, no sentimento de pertencimento à instituição e na educação como um todo”, afirma a responsável pelos Colégios Cívico-Militares da Secretaria da Educação paranaense (Seed), Adriana Kampa.

“Mesmo com as dificuldades envolvendo a pandemia de Covid-19, conseguimos crescimento no Ideb em 73% das escolas, pontuando pela primeira vez em diversas instituições que nunca sequer tinham participado do índice”, complementa a educadora.

E o resultado surpreende ainda mais, de acordo com ela, porque só ingressaram no programa instituições de ensino com problemas educacionais graves, já que os critérios para seleção são baixo resultado no Ideb e situação de vulnerabilidade socioeconômica.

“Ou seja, são escolas com dificuldade pedagógica, que apresentam altas taxas de evasão escolar e participação mínima da comunidade”, explica Adriana, citando exemplo de instituições que não atingiam nem 20% de presença dos pais e responsáveis em reuniões trimestrais e que hoje contam com a participação de mais de 70%. “Algumas, inclusive, obtendo a presença de todos os pais”, comemora.

Além disso, cerca de 60% das escolas cívico-militares do estado que pontuaram no Ideb do Ensino Fundamental e Médio atingiram a nota média do estado ou superaram esse resultado — que já é considerado alto e fez com que que o Paraná assumisse a liderança nacional no índice do Ensino Médio e ocupasse o quarto lugar do país no Ensino Fundamental.

Outro fator significativo é que quase 30% das escolas que aderiram ao modelo cívico-militar obtiveram média igual ou superior à meta estipulada para o país no Ensino Fundamental (5,5 pontos) e 10 delas conquistaram notas superiores a 6,0 — valor que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável ao dos países desenvolvidos. As instituições que obtiveram esse padrão ficam nos municípios de Jandaia do Sul, Mandirituba, Rio Negro, Cornélio Procópio, Foz do Iguaçu, Ampére, Ubiratã, Paiçandu, Palmeira e Jaguariaíva.

Militares realizam atividades voluntárias nas escolas, como a direção da banda no Colégio Estadual Cívico-Militar Beatriz Faria Ansay, em Curitiba. Foto: Arquivo Pessoal/ Sandro Francisco Mira Junior


Equipe pedagógica e comunidade comemoram as mudanças
Segundo a Seed, os resultados foram surpreendentes até nas escolas que não atingiram a meta nacional, pois a maioria apresentava índices baixos e conseguiu aumentar seus resultados em mais de 1 ponto percentual. “No nosso caso, por exemplo, deixamos as últimas colocações para subir nosso Ideb do ensino fundamental de 3,1 para 5,3 e ainda pontuar pela primeira vez no ensino médio”, comemora o educador José Carlos Koehler.

Diretor do Colégio Estadual Cívico-Militar Etelvina Cordeiro Ribas, em Curitiba, ele assumiu a direção da escola em 2019, assim que 93% da comunidade optou pelo novo modelo de ensino. “Era uma escola vandalizada, com muitas situações de bullying, depredações, pichações e péssimos índices educacionais”, relata o professor, que encabeçou o projeto de mudança pautado em valores.

“Demos um choque de realidade nos alunos e na comunidade para que soubessem que a escola era outra, principalmente em relação à segurança”, conta. Para isso, câmeras foram instaladas na instituição e cinco militares passaram a frequentar o ambiente a fim de organizar a entrada e saída dos alunos, ligar para os pais quando seus filhos faltavam às aulas e participar da gestão escolar.

“A frequência dos estudantes aumentou, eles passaram a se comprometer com o ensino e com o cuidado pelo patrimônio, e isso fez com que ficássemos entre as escolas de destaque do estado com bons resultados educacionais e fila de espera para matrículas”, comemora o diretor, ao contar que viu a quantidade de alunos subir de 600 para 930 estudantes. “Inclusive, com grande número de meninas, o que antes não ocorria porque os pais tinham medo”.

E a redução na violência dentro e fora da escola também foi percebida por outras instituições como o Colégio Cívico-Militar Professor Colares, de Ponta Grossa. Localizado no bairro Oficinas, ele era conhecido pelas brigas frequentes entre estudantes, desrespeito aos professores e tráfico de drogas. “Tanto que tínhamos apenas 248 estudantes e hoje, como escola cívico-militar, estamos com 802 alunos”, relata o diretor Doulgas Grzebieluka.

Segundo ele, o modelo do Ministério da Educação (MEC) foi implantado na instituição em setembro de 2020 com metas relacionadas ao rendimento escolar, melhoria do ambiente do colégio e valorização dos profissionais e estudantes por meio da ética, do respeito e da honestidade. “A partir disso, professores, pedagogos e militares se empenharam na proposta e os resultados vieram com aumento na frequência escolar, crescimento no Ideb e um ambiente muito melhor”.

Além disso, a última pesquisa realizada pela gestão com estudantes e pais mostrou aceitação do modelo cívico-militar por 97,5% dos entrevistados e o colégio chegou a ser destaque entre as escolas que seguem o modelo do MEC. “Ou seja, nossos índices mostram a melhoria que toda a comunidade escolar teve nesses dois anos”, aponta.

Resultados analisados pelo MEC em todo o Brasil
Ao todo, 195 escolas do Paraná seguem a proposta estadual do modelo cívico-militar, com a presença de militares da reserva do estado, enquanto 12 instituições — como o Colégio Cívico-Militar Professor Colares — integram o modelo proposto pelo governo federal com atuação de profissionais das Forças Armadas. No entanto, os gestores entrevistados pela Gazeta do Povo afirmam que o trabalho dos profissionais é o mesmo, assim como os resultados.

De acordo com o Ministério da Educação, em evento realizado no início deste mês para avaliar o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, uma pesquisa realizada com cerca de 25 mil estudantes, pais e professores que integram esses colégios constatou redução na evasão e no abandono escolar em quase 80%, diminuição da violência física em 82%, da violência verbal em 75% e da depredação patrimonial em 82%.

Segundo informa o portal do Governo Federal, há uma aprovação de 85% da comunidade escolar ao modelo de ensino cívico-militar nos 202 colégios geridos pelo MEC.

Ao todo, essas escolas contam com a participação de 1,5 mil militares atuando como suporte à gestão escolar, que é realizada pelos profissionais de educação. Os militares recebem treinamento específico e trabalham como monitores na organização da entrada e saída dos alunos, controle de faltas, auxílio disciplinar e aulas de civismo.

Com isso, diversos estados também perceberam mudança no ambiente escolar e na qualidade do ensino, com destaque para Goiás, que saltou do 16º lugar no Ideb Nacional do Ensino Médio para a 2ª posição do país por meio de estratégias educacionais como a implantação do modelo cívico-militar.


Escolas cívico-militares: como está o programa pelo Brasil
Novo secretário da educação de São Paulo e ex-secretário do Paraná, Renato Feder é um entusiasta do programa. “As escolas cívico-militares têm a intenção de melhorar a disciplina das escolas, o respeito aos colegas e aos profissionais da educação, o que está sendo atingido”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.

No Paraná, ele diz ter percebido o quanto a presença dos militares nas escolas fez com que os alunos fossem mais pontuais, responsáveis e respeitosos, inclusive levantando para cumprimentar o professor. “Os pais estão satisfeitos e eu estou satisfeito com o projeto”, afirmou.

PT mira fim do programa

Parte dos integrantes do grupo de transição do governo do PT defende que os militares não devem fazer parte do processo pedagógico e que o modelo não continue no país, posição que preocupa quem vê as mudanças positivas no dia a dia das instituições de ensino.

“Não é raro lermos depoimentos de certos deputados falando sobre ‘militarização’ das escolas, ou ‘lugar de militar é no quartel’. Essa visão é muito rasa e denigre a imagem de algo que, provavelmente, não conhecem na prática”, afirma o educador Sandro Francisco Mira Junior, diretor geral do Colégio Estadual Cívico-Militar Beatriz Faria Ansay, uma das escolas de destaque do MEC.

Segundo ele, “não existe extremismo nem ideologias nas escolas cívico-militares e, ao contrário do que falam, há respeito pelas diferenças e pluralidades de toda a comunidade”, garante o gestor, citando ainda que o modelo “só trouxe benefícios e que é muito triste perceber que, mesmo após três anos de sucesso, ainda há visões distorcidas”.

Para a professora Silvane Santos, o que falta é dar oportunidade para conhecer profundamente o programa. “Eu, por exemplo, não me sentia preparada para algo tão diferente e resolvi sair da escola porque não concordava com o novo modelo”, relata a educadora com 27 anos de profissão, que trabalhou no Colégio Beatriz Faria Ansay entre 2011 e 2021.

Ela decidiu sair do colégio assim que ele aderiu ao modelo cívico-militar, mas seguiu acompanhando as mudanças, de longe, por meio de relatos de pais e alunos. “Acabei mudando de ideia porque a comunidade só fazia elogios, e voltei a lecionar aqui em 2022”, conta a profissional, que percebeu pessoalmente a diferença nas turmas. “O professor consegue dar sua aula sem a necessidade de parar o tempo todo por causa da indisciplina e se tornou comum ver os estudantes disputarem quem vai tirar a nota mais alta”.

Além disso, ela conta que atos de vandalismo, que antes eram frequentes, acabaram, ao mesmo tempo em que os alunos passaram a se alimentar de forma organizada no refeitório e a devolver os pratos e talheres no lugar certo. “Sem contar que agora existe mais respeito e um pensa no bem do outro”, completa o estudante Diego Santana Ribeiro, ao relatar um fato que o marcou recentemente: “alguns alunos acharam um celular e divulgaram na frente de todo o colégio para que o dono pudesse buscá-lo”, conta. “Algo que eu não veria antes”.

É por resultados assim que educadores como Mira Junior esperam uma visão diferente do novo governo federal em relação ao programa. “Que analisem os resultados pedagógicos e a transformação trazida para a comunidade”, diz. “Costumo dizer que o que estou vivendo nestes anos de projeto é uma utopia da educação, onde tudo que sonhei e desejei enquanto gestor vem se tornando realidade”, finaliza.

No Paraná, governo sinaliza a manutenção do projeto

Ainda que as ações do novo governo federal em relação às escolas cívico-militares não estejam oficializadas, a responsável pelo programa na Secretaria da Educação paranaense, Adriana Kampa, afirma que o estado seguirá com o modelo nas 195 escolas regidas pela secretaria. Além disso, tentará gerenciar as outras 12 instituições de ensino que seguem o padrão do MEC, caso o governo federal decida encerrar o programa.

“O estado já sinalizou com a certeza do governador que vamos assumir essas escolas. A gente só não sabe ainda como será feito”, adianta Adriana, para quem os resultados são muito positivos e não podem ser negligenciados. “Portanto, nossa expectativa é ampliar ainda mais o programa”, promete.

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O INVERNO PODE SER DECISIVO NA GUERRA DA UCRÂNIA

 


Sem cessar-fogo: como o inverno pode ser decisivo na guerra da Ucrânia

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo

Kherson (Ukraine), 21/12/2022.- A resident passes a destroyed residential building following overnight shelling in Kherson, Ukraine, 21 December 2022. Ukrainian troops entered Kherson on 11 November after the Russian army had withdrawn from the city which they captured in the early stage of the conflict, shortly after Russian troops had entered Ukraine in February 2022. The Ukrainian president accused the Russian army of deliberately destroying critical infrastructure during their withdrawal from the city of Kherson, including electricity and water supplies. (Rusia, Ucrania) EFE/EPA/Maria Senovilla


Mulher em frente a prédio residencial bombardeado em Kherson, no sul da Ucrânia| Foto: EFE/EPA/Maria Senovilla

Chegou o inverno no hemisfério norte, e os meses mais frios do ano podem representar uma etapa decisiva na guerra da Ucrânia, que completou dez meses na véspera de Natal.

Russos e ucranianos já haviam informado que um cessar-fogo durante as festas de fim de ano estava descartado, e a visita do presidente Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos na semana passada deixou claro como Kyiv e Washington consideram crítico este período da guerra, devido à estratégia russa de bombardear a infraestrutura ucraniana (especialmente de energia) e gerar dificuldades para a população civil.

“A Rússia está usando o inverno como arma, congelando as pessoas, deixando-as famintas, isolando-as umas das outras. É o exemplo mais recente das atrocidades ultrajantes que as forças russas estão cometendo contra civis ucranianos inocentes: crianças e suas famílias”, declarou o presidente americano, Joe Biden.

Zelensky disse que a Ucrânia precisa “sobreviver a este inverno”. “Precisamos proteger nosso povo. E precisamos ser muito específicos nessa questão. Esta é uma questão humanitária fundamental para nós agora. É a questão da sobrevivência”, ressaltou.

Ao mesmo tempo em que mantém os ataques à infraestrutura ucraniana, o Kremlin também vem construindo grandes complexos de trincheiras, aparentemente com o objetivo de ganhar tempo no campo de batalha e recrutar, treinar e deslocar mais soldados.

Por seu lado, além de “sobreviver”, como pregou Zelensky, a Ucrânia tem o objetivo de manter sua contraofensiva, cuja maior vitória até o momento é a retomada de Kherson, única capital regional que Moscou havia tomado na guerra iniciada este ano.

Na semana passada, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, anunciou planos para formar 17 novas divisões e um novo corpo de exército, o que sinaliza o recrutamento de mais 350 mil tropas.

O think-tank americano Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês) concordou com uma avaliação da liderança militar ucraniana de que a Rússia poderia estar se preparando para uma grande ofensiva terrestre no inverno, possivelmente contra Kyiv, já que a estratégia de bombardear a infraestrutura energética ucraniana “não está conseguindo coagir a Ucrânia a negociar ou oferecer concessões preventivas”.

O analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho destacou à Gazeta do Povo que as condições de tráfego nas estradas no teatro de operações estão muito ruins atualmente em razão das chuvas.

“Com o inverno começando agora, e o frio se intensificando, a tendência é de as condições de tráfego melhorarem, pelo congelamento da lama. Por outro lado, temperaturas muito baixas dificultam as operações. Pesados os dois fatores, creio que é possível que as operações de movimento voltem em janeiro, de ambos os lados”, relatou o especialista.

“Há que se considerar, também, que esse tempo de relativa estabilidade na frente de combate está proporcionando tempo para os dois lados treinarem seus reservistas, que poderão ser empregados em maior quantidade já no início de 2023”, complementou Gomes Filho, para quem a estratégia russa de bombardear a infraestrutura ucraniana não deve ser suficiente “para forçar Kyiv a negociar, pois os ucranianos já demonstraram bastante resiliência em face das dificuldades impostas pela invasão russa ao seu território”.

Durante a visita de Zelensky, os Estados Unidos confirmaram o primeiro envio à Ucrânia do sistema de defesa aérea Patriot, capaz de derrubar mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos de curto alcance e aeronaves em um teto significativamente mais alto do que os sistemas de defesa aérea fornecidos anteriormente.

Gomes Filho apontou, porém, que embora o sistema Patriot vá “agregar muito valor às defesas antiaéreas ucranianas”, “poucas unidades não serão capazes de proteger o território ucraniano como um todo”. “Não acredito que a Rússia altere sua estratégia em razão do fornecimento do sistema”, apontou o analista.

Outro ponto que pressiona a Ucrânia é a incerteza sobre o fornecimento de gás à Europa ocidental durante o inverno, o que pode levar governos e populações locais a reduzirem seu apoio ao país invadido.

“A intenção da Rússia, ao cortar o fornecimento de gás para a Europa no inverno, é causar transtornos econômicos que levem a opinião pública europeia a pressionar a Ucrânia a negociar a paz o mais rapidamente possível, ou seja, com a Rússia ainda de posse de grande parcela de território ucraniano”, explicou Gomes Filho.

“A dúvida é se a Rússia terá êxito nessa estratégia. Isso vai depender do quanto cada país europeu vai conseguir substituir as importações russas e contornar as dificuldades econômicas.”

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O AGRONEGÓCIO SERÁ PREJUDICADO NO NOVO GOVERNO

 

Entrevista
Um “tiro no pé” do País, a partir de janeiro

Por
Marcos Tosi – Gazeta do Povo

SEMTERRA3 – CURITIBA, 21/07/04 – PARANA – MIL INTEGRANTES DO MOVIMENTO SEM TERRA PARTICIPAM ATE A PROXIMA SEXTA FEIRA DE UM CICLO DE PALESTRAS NA UFPR. NA FOTO INTEGRANTES CONCENTRADOS EM FRENTE A IGREJA CATEDRAL NA PRAÇA TIRADENTES ANTES DE IR PARA ALOJAMENTO PREPARADO NO GINASIO DE ESPORTES DO TARUMA. FOTO: ANIELE NASCIMENTO / GAZETA DO POVO


Integrantes do MST fazem manifestação em Curitiba, em 2004, no primeiro governo de Lula| Foto: Aniele Nascimento / Arquivo Gazeta do Povo

Já se sabe que o primeiro escalão da máquina administrativa do futuro governo Lula começará inchado, com a criação de 14 novos ministérios, totalizando 34 ministros, um acréscimo de mais de 50% em relação às 23 cadeiras do governo Bolsonaro.

A partir de premissas ideológicas que enxergam e fomentam antagonismos num mesmo setor produtivo, o Ministério da Agricultura, por exemplo, será desmembrado em três pastas, com a recriação do Ministério da Pesca e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, além do próprio ministério original. Vem aí, também, os inéditos ministérios da Igualdade Social, das Pequenas e Médias Empresas e dos Povos Originários.

O professor de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, Marcos Fava Neves, conhecido como Doutor Agro, que também leciona na Argentina, nos Estados Unidos e na África do Sul, vê a divisão da pasta da Agricultura em três como “um tiro no pé do próprio País”. Será o governo, já de início, “atrapalhando uma coisa que está dada, que é o desenvolvimento do Brasil puxado pela exportação de comida e bioenergia”.

“Precisamos de um ministério forte, que jogue na Champions League mundial, e não numa divisão interna no Brasil. Você vai a reuniões internacionais com dois ministros da Agricultura? Não é uma coisa adequada, é preciso ter governança”, aponta o engenheiro-agrônomo. Fava Neves conversou com a reportagem da Gazeta do Povo após uma palestra a quatro mil produtores reunidos pela Federação da Agricultura do Paraná (FAEP) num encontro de líderes rurais, em Curitiba. Veja a entrevista.

Marcos Fava Neves tem 75 livros publicados e mais de 200 artigos em periódicos científicos internacionais e nacionais


Atrapalhar o agro é atrapalhar a geração de caixa do País
O governo que vem aí está com esse discurso de antagonismo entre agronegócio e agricultura familiar, entre o agro e o meio ambiente. Decidiu inclusive dividir o Ministério da Agricultura novamente, recriando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Pesca. Vamos ter problemas ideológicos adiante?

Espero que não, porque é um tiro no próprio pé o governo criar qualquer tipo de impedimento para o crescimento do agronegócio. A gente viu que o mercado mundial pede o crescimento do Brasil, tanto em grãos quanto em carne, em bioenergia e produtos prontos. Se atrapalhar isso, é como se você atrapalhasse a própria geração de caixa da sua casa, o faturamento que vai entrar. O setor precisa se mobilizar, primeiro, para mostrar que algumas medidas vão prejudicar o próprio governo em sua capacidade arrecadatória, em sua capacidade de gerar programas sociais e de inclusão. É atrapalhar algo que está dado, que é o desenvolvimento do Brasil puxado pela exportação de comida e bioenergia, que é onde o mundo olha para gente como solução para problemas globais gravíssimos.

Eu nunca vi uma oportunidade tão grande aberta ao Brasil que não pode ser atrapalhada pelo novo governo, que mantém ainda alguns erros, de pessoas que não evoluíram ainda no pensamento. Essa separação da agricultura, ela não existe conceitualmente. Quando você pega o conceito do agro, ele é de pequenos, médios e grandes produtores. O setor antes da porteira ou pós-porteira, em cadeias produtivas integradas que podem sim ser estimuladas pelo Estado. Mas a agricultura, a produção de comida e bioenergia é uma só. Essa tentativa de separação vai criar um problema de governança, de coordenação.

Sou contra a ideia de se criar um segundo ministério, acho que você pode fazer programas interessantes para pequenos produtores, mas eles devem estar dentro do Ministério da Agricultura do Brasil, e não criar um outro espaço. Você vai a reuniões internacionais com dois ministros da agricultura? Não é uma coisa adequada, é preciso ter governança.

Fortalecer os programas sociais, os programas de apoio, de distribuição de renda e de alimentos – tudo pode ser feito dentro do Ministério da Agricultura. Precisamos de um ministério forte, que jogue na champions league mundial, e não numa divisão interna no Brasil.

O agro faz seu papel no combate à fome

Há um discurso que contrapõe o agronegócio à segurança alimentar no país, dizendo que existem 18 milhões de pessoas com algum grau de privação de alimentos, e que não adianta nada o país ser um grande exportador, se não resolver esse problema. Afinal, o agro contribui para diminuir ou aumentar a fome no país?

Na verdade, o agro contribui para diminuição da fome no Brasil. De que forma? Produzindo amplas quantidades, exportando grandes quantidades, colocando no mercado interno grandes quantidades. Com isso ele gera um conjunto muito grande de empregos. Esses empregos recebem salários que contribuem com impostos, e esses salários são gastos, entre outras coisas, na alimentação, na construção civil, na compra de carros, no comércio. E ao gastar nesses setores, você gera novos empregos, novos salários. Enfim, todo o dinheiro gerado pelo agro é usado na movimentação na economia, que gera nova riqueza, novos salários e mais pessoas incluídas no sistema. Essa é a relação do agro, ele diminui a fome ao produzir.

O Brasil exporta bastante, e essa exportação não tem relação nenhuma com as pessoas passando fome no país. Os que passam fome no Brasil é por falta de renda, não por falta de comida. Portanto, o agro cumpre seu papel ao colocar a comida. Se a pessoa tivesse renda, poderia comprar em qualquer local, porque tem arroz, feijão, frutas, tem todos os produtos disponíveis. Não há uma relação da exportação com a fome. O problema da fome deve ser resolvido pela sociedade brasileira, governo e empresas, com programas de distribuição de alimentos. É um problema gravíssimo. Não era para ter fome. Mas a solução é prover renda para as pessoas de uma forma inicial, e depois também prover condições para que elas caminhem com as próprias pernas. Não podemos ter no Brasil uma cultura de dependência permanente do Estado.

Taxação do agro: equívoco que prejudica a competitividade

Recentemente, em Goiás foi aprovada a cobrança de uma “taxa do agro” e no Paraná a proposta foi tirada de pauta, por pressão do setor. A bancada do PT protocolou um projeto para taxar as exportações, justificando que há um abuso na exportação de alimentos. Está na moda tentar taxar o agronegócio?

Isso é um outro grande erro conceitual. Se você taxa a exportação, ou outra ideia que surgiu aí, que é limitar o volume de carne que pode ser exportado, você efetivamente abaixa o preço no mercado interno. Mas, no segundo momento você cria inflação, porque a pessoa que produz vai deixar de produzir porque não ficou mais competitiva. Então, ao fazer isso, no curto prazo você diminui o preço, mas no médio e longo prazo você aumenta o preço. A Argentina é um exemplo disso, porque o incentivo à produção diminui.

O que o Estado precisa entender é que você tem que aumentar o caixa para poder aumentar a despesa. Isso tem que estar casado, se não você gera um desequilíbrio fiscal. Tudo bem, todo mundo quer um monte de programas de inclusão, programas sociais, mas é preciso geração de caixa. E a geração de caixa mais sustentável que existe é o aumento da atividade econômica. São os projetos para inovação, competitividade, logística, e outros que permitem a você galgar mais espaços no mercado e crescer, e, ao crescer, aumentar a arrecadação.

Muitas vezes quem senta na cadeira do setor público tem uma visão mais imediata: eu aumento a arrecadação via aumento de alíquota, via criação de novos impostos. Isso é contrário à competitividade no planeta. No médio prazo, você vai prejudicar a atividade econômica. O que nós precisamos é impulsionar a geração de renda, para daí, crescendo, você ter mais arrecadação. Eu sou contrário ao aumento da carga tributária. O Brasil já tem uma quantidade alta de impostos e o foco do Estado deve ser em aumentar competitividade, para que o país receba investimentos internacionais cada vez maiores e vire realmente uma plataforma produtiva do planeta.

Então, você tem que facilitar a abertura de empresas, facilitar os negócios, reduzir a burocracia, reduzir o peso do Estado. Esse é o receituário para que o setor privado cresça, aumente emprego, a produção e o pagamento de impostos. Eu tenho obsessão por geração de caixa via aumento de competitividade. Acho que esse é o trabalho mais social que existe, porque aí você inclui as pessoas.

Agro tem efeito cascata na arrecadação de impostos
O que dizer do argumento recorrente de que o setor não paga quase impostos?

Isso é um outro grande erro. Você tem que medir para poder falar. Por exemplo, a pecuária arrecada no Brasil 100 bilhões de impostos todos os anos. Quando você pega um produtor que vai expandir a produção de soja, por exemplo, em cima de um hectare de pasto, ele vai gastar 18 mil reais. Parte vai para compra de semente e de fertilizante. E parte vai para a revenda agropecuária, que compra das empresas. Todo esse pessoal emprega gente, paga imposto em cima de salário, paga imposto em cima de circulação de produtos. Então, isso é uma miopia enorme. Se não mede, você fala bobagem. É fácil medir quanto é a contribuição tributária de uma cadeia produtiva. Se pegar a soja, por exemplo, dá para ver quanto cada elo gera de renda, quanto paga de imposto, e o total gerado pela cadeia produtiva. Se você não enxerga direito, não sabe o que é o conceito de agro, e fala uma coisa dessas, você está mentindo em relação aos números.

Fava Neves durante palestra a quatro mil produtores reunidos pela Federação da Agricultura do Paraná, no dia 2 de dezembro, em Pinhais, região de Curitiba

Líderes e movimentos alinhados com o governo eleito dizem que o agro tem uma dívida com o meio ambiente. E o setor diz o contrário, que é guardião do meio ambiente, que tem é crédito. Como entender isso?

O setor tem muito crédito para receber. Porque em 2012 foram separados os ativos produtivos das pessoas, que foi a regra do Código Florestal, e colocaram isso para preservação. Não indenizaram as pessoas, que têm muito a receber.

As atividades de energias renováveis do Brasil, biodiesel, biometano, etanol, quanto elas sequestram hoje de carbono em comparação ao uso dos combustíveis fósseis? Tem uma série de coisas que estão acontecendo, o uso de esterco, o crescimento de pastagens sequestrando carbono. As pessoas que falam não entendem efetivamente essa contribuição. Hoje, você pode dizer que a agricultura do Brasil, considerando os grandes países, é a mais sustentável do planeta, pelos seus indicadores. Pelo uso de energias renováveis e dois terços das terras preservadas. O Brasil precisa só de 250 milhões de hectares para abastecer essa demanda mundial. Os outros 600 milhões podem ficar como estão e preservados.

Então, você jogar o agro contra o meio ambiente é um tiro no próprio pé do Brasil. Por que está falando mal de quem tem os melhores indicadores. Tem problema? Tem. É localizado, pode ser resolvido, que é o desmatamento ilegal. Esse problema nós temos que resolver de forma urgente. Eu costumo dizer que na área ambiental, o Brasil ganha de 10 a 1, mas o gol que passa lá fora é o gol que a gente levou, que é a história do desmatamento ilegal. Isso precisa vir a zero. Porque o próprio nome diz que é ilegal. No Brasil, 50% da nossa produção passa por uma cooperativa. Quer uma coisa mais social do que isso? Contrapor o agro ao meio ambiente é uma estratégia equivocada, se o que se quer é geração de renda e inclusão de pessoas. A gente sabe que boa parte desses problemas são criados por brasileiros também.

Defensivos: querem proibir remédios mais modernos
Alguns projetos de lei estão para serem votados no Congresso, como a lei de modernização dos defensivos, do licenciamento ambiental e do autocontrole da agroindústria (já aprovado pelo Senado). O setor vê como uma modernização, mas o governo eleito discorda e pretende pôr o pé no freio…

Isso é outro equívoco. Você dá a entender às pessoas que aprovar novos defensivos é ruim para o meio ambiente, é ruim para a agricultura e para o Brasil. É a mesma coisa que não ter acesso a novos remédios: não pode lançar remédio novo porque é ruim para a saúde das pessoas. É completamente o contrário. As novas moléculas geradas por essas empresas brasileiras e multinacionais, de empreendedores e de universidades, são mais eficientes e menos tóxicas. É como se fosse um automóvel com motor 1.0 turbo. Vai ser mais econômico do que um automóvel com motor maior, que tinha a mesma potência. Então, essas leis são para modernizar.

E outro aspecto importante, vai ter mais eficiência tudo o que puder ser digitalizado, que puder ser entregue com rapidez, na presença de terceiros e com fiscalização do Estado. Por exemplo, se alguém quer fazer um investimento altíssimo para colocar um pivô num local que existe água, que vai gerar renda e emprego, ainda mais se utilizar isso para produção de hortícolas, leva três ou quatro anos para conseguir a licença. Você está retardando um investimento que vai gerar renda e emprego no Brasil. A visão é o contrário. O Estado tem que ser um poupa-tempo do empreendedor. Ele tem que entender qual é a jornada do cara para empreender, quais as etapas pelas quais ele passa, e entrar facilitando essas etapas. O que a gente observa hoje é o Estado dificultando a jornada do empreendedor no Brasil. Ele tem que sair da frente. Porque o empreendedor empreendendo, o estado se beneficia. Você gera emprego, gera mais impostos naquela atividade, e isso circula pela economia. O Estado precisa ser facilitador da geração de valor e de renda, e não alguém que dificulte.

Agro está para os negócios como Senna para a F1
Apesar de tudo, sua perspectiva é otimista para o agro brasileiro?

É o melhor setor que nós temos. Eu saio do Brasil toda hora para falar do agro. É um setor respeitado. O agro está para os negócios do planeta como o Ayrton Senna para Fórmula 1. É uma coisa impressionante, o respeito que as pessoas têm pelo trabalho que o Brasil faz nessa área. E o  Brasil é resolvedor de problema, porque quando você joga 30 milhões de toneladas de soja a mais no mercado mundial num ano só, olha quanta gente você vai poder trazer para a mesa de comida de novo. Porque o frango, o suíno é uma soja que caminha, um milho que caminha.

A presença do Brasil permite mais segurança alimentar ao planeta. As pessoas que criticam o agro é porque não tem entendimento. Elas não sabem o que é o conceito. Acham que o agro é grande produtor. Daí usam aqueles termos que estão para a moderna agricultura do planeta como o carburador para o automóvel. Latifúndio, agrotóxicos… você já percebe por aí que a pessoa tem uma carga ideológica, ela não está querendo entender efetivamente como funciona. E a nossa chance de inserção no planeta é pela produção de comida para 1,5 bilhão de pessoas, e com isso o Brasil ser cada vez mais respeitado. Quem vai desrespeitar a cozinha da casa, que coloca a comida na mesa?

Esse é o papel que está determinado para nossa sociedade. O único país hoje que consegue produzir de uma forma extremamente sustentável é o Brasil, com a plataforma produtiva que nós temos, com as energias, com o biometano que é um pré-sal que a gente tem ainda para explorar dentro das propriedades. E tem toda a parte fotovoltaica também, para tirar o custo de energia elétrica de granjas e de pomares irrigados. Enfim, é o nosso melhor negócio, é onde a gente vai conseguir promover o emprego e a inserção social, portanto ele não pode ser de forma alguma atrapalhado, tem de ser impulsionado.


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