quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

DÍVIDAS DO SETOR ELÉTRICO SERÃO REPASSADAS PARA O CONSUMIDOR

 

Sanar problemas da conta de luz requer liderança do governo, comedimento do Congresso, sensatez das associações setoriais e um pacto para cessar relação de abuso com o consumidor

Por Notas & Informações – Jornal Estadão

O gabinete de transição do governo eleito anunciou que o custo das medidas adotadas durante a gestão Jair Bolsonaro relacionadas ao setor elétrico devem atingir R$ 500 bilhões, rombo que deverá pressionar a conta de luz nos próximos anos. Parte desse ônus se deve ao plano para evitar um racionamento de energia e a um leilão realizado no ano passado para contratar usinas de forma emergencial a um preço elevado. Porém, a maior parte do prejuízo se deve a razões bem menos republicanas. Mais de R$ 420 bilhões se devem a emendas inusitadas e que foram incluídas na medida provisória que permitiu a privatização da Eletrobras, cuja aprovação pelo Congresso passou por intensa negociação com o governo.

Entre essas propostas, conhecidas no ambiente legislativo como jabutis, está a obrigação de contratação de termoelétricas em locais onde não há nem reservas de gás nem gasodutos, quase sempre no interior do País. Para viabilizá-las, seria necessário construir gasodutos para levar o insumo aos locais das usinas e linhas de transmissão para escoar a eletricidade de volta até os centros de consumo. Outra emenda criou uma reserva de mercado para pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), garantindo a elas que sejam selecionadas em licitações mesmo que os preços da energia sejam mais altos que os de fontes concorrentes.

Não é preciso ser um especialista no setor elétrico para perceber a falta de racionalidade dessas escolhas. O que fez com que elas fossem defendidas pelo Legislativo com tanto afinco, portanto, não foi a busca do mérito, da eficiência ou do interesse público, mas a facilidade com que o custo dessas medidas seria repassado ao consumidor. E essa dinâmica, é preciso reconhecer, foi exacerbada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, mas não foi criada por ele.

Suas raízes remontam a outra medida provisória, que tinha como objetivo reduzir as tarifas e criar uma bandeira eleitoral para a então presidente Dilma Rousseff, em 2012. A proposta não se sustentou no médio prazo, exigindo aportes bilionários do Tesouro e um reajuste de 50% em 2015, mas inaugurou uma lógica perversa que tem vigorado há anos: de uma só vez, a União se livrou das despesas com políticas públicas que tinha de arcar no Orçamento e repassou os custos dos subsídios que sustentavam o setor elétrico para as contas de luz.

Sob Bolsonaro, o Ministério de Minas e Energia cedeu seu espaço cativo como formulador de políticas públicas, e o Legislativo ganhou cada vez mais protagonismo ante o Executivo. Em vez de apresentar suas demandas ao governo, cada segmento passou a submetê-las diretamente aos parlamentares, prática que se mostrou bastante eficiente para assegurar a parte que lhe cabia no latifúndio dos subsídios. Para não melindrar deputados e senadores, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), abdicou de seu papel regulador e chegou a recusar-se a calcular o impacto de medidas discutidas no Congresso. O resultado é que o consumidor paga uma fatura cada vez mais cara sem nem saber o que e a quem, de fato, está financiando.

Para diminuir parcialmente esse potencial rombo de alcance bilionário, a equipe de transição do governo eleito recomendou a rescisão do contrato de algumas usinas e a reversão das leis que obrigam à compra de energia mais cara. São medidas importantes, mas paliativas. O cerne do problema da conta de luz é outro, e resolvê-lo requer liderança do Executivo, comedimento do Legislativo, sensatez das quase 40 associações setoriais e um pacto para encerrar uma longa relação de abuso com o consumidor.

Nada indica, no entanto, uma reversão dessa dinâmica. A Câmara, por exemplo, acaba de aprovar a extensão do prazo para que donos de painéis solares obtenham subsídios e deixem de pagar taxas para conectar as estruturas à rede, sem qualquer resistência de parlamentares da base do governo atual ou do governo eleito. Enquanto as equipes de Bolsonaro e de Lula tentavam jogar o legado da herança maldita uma para a outra, o consumidor, mais uma vez, foi deixado no escuro.

LUDIBRIADOS COM AS PROMESSAS DE LULA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Terceira colocada no primeiro turno, Simone Tebet declarou apoio à candidatura de Lula no segundo turno e agora quer ser ministra do Desenvolvimento Social.| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Mesmo promovendo o espetáculo do crescimento da Esplanada dos Ministérios, ampliando de 23 para 37 (ao menos na conta mais recente) o número de pastas de primeiro escalão, Lula continua com dificuldade para fechar seu gabinete. Apenas alguns ministros tiveram seu nome anunciado, enquanto outras pastas seguem sem dono definido – algumas delas bastante importantes, como Saúde e Desenvolvimento Social. Entre as razões que estão travando a definição dos ministros está o insaciável apetite do partido de Lula: o PT considera que, tendo sido o vencedor do pleito de outubro, tem prioridade sobre tudo; aos demais cabem as sobras, a não ser no caso de camaradas ideológicos de longa data.

O caso do Ministério do Desenvolvimento Social é emblemático. É a pasta desejada pela senadora em fim de mandato Simone Tebet (MDB-MS), que, depois de derrotada no primeiro turno da eleição presidencial, entrou com força na campanha lulista. O presidente eleito segue fazendo acenos públicos à senadora, mas, nos bastidores, lideranças petistas trabalham para que o ministério não seja entregue a Tebet por uma razão muito simples: quem comandar o Desenvolvimento Social terá nas mãos o Bolsa Família, e o petismo teme que isso catapulte a emedebista, fazendo dela um nome viável para 2026. Na Educação, o petismo torpedeou o nome de Izolda Cela, professora e governadora do Ceará, também em fim de mandato, para abrir caminho ao ex-governador e senador eleito (também pelo Ceará) Camilo Santana, que pertence ao PT – Izolda Cela está sem partido, depois de deixar o PDT em 2022.

O PT entendeu tudo; quem não entendeu nada foi quem “fez o L” esperando que Lula governasse com responsabilidade fiscal, que o petismo não tentasse avançar sobre as estatais, ou que o partido fosse entregar com desprendimento cargos importantes

Cada um desses episódios, aos quais se acrescentam as escolhas de petistas para os principais cargos da equipe econômica e ofensivas parlamentares como a mudança na Lei das Estatais, tem sido invariavelmente seguido por análises cujo Leitmotiv pode ser resumido na frase “o PT não entendeu que…”. Por esse raciocínio, o PT “não entendeu” que Bolsonaro foi derrotado não por Lula, mas por toda uma frente ampla que se uniu contra o “autoritarismo” ou o “fascismo”; o PT “não entendeu” que o país precisa de responsabilidade fiscal para crescer de forma sustentável; o PT “não entendeu” que as estatais precisam de regras claras de governança; e assim sucessivamente.

Ora, o PT está apenas sendo o PT e fazendo o que sempre fez. O PT entendeu tudo; quem não entendeu nada foi quem “fez o L” esperando que Lula governasse com responsabilidade fiscal, que o petismo não tentasse avançar sobre as estatais, que o partido fosse entregar com alegria e desprendimento, a partidos ou políticos com os quais a afinidade é meramente de ocasião, cargos importantes com acesso a fatias gordas do Orçamento. Essas pessoas – sejam políticos com mandato, líderes partidários, economistas influentes ou formadores de opinião – não entenderam que não passaram de inocentes úteis cuja serventia terminou às 18 horas de 30 de outubro de 2022; daquele momento em diante, tornaram-se fardos a tolerar em nome da tal “governabilidade”. Considerando que o PT está na vida pública do Brasil há 40 anos, e governou por quase 14 dos últimos 20 anos, ninguém pode se dizer exatamente surpreso com nada disso. Muito provavelmente, boa parte dos que “fizeram o L” não entendeu porque não quis entender.


Simone Tebet pode até conseguir, no fim das contas, o ministério que deseja – e ela vem dizendo a interlocutores que não se contentará com uma pasta “decorativa”. Mas, ainda que seu nome seja confirmado, é certo que o PT seguirá cobiçando o posto e articulará nos bastidores para derrubá-la na primeira oportunidade. Se (ou quando) isso ocorrer, será uma lição dura para todos aqueles que, seja por conveniência, seja por aversão (justificada ou não) a Jair Bolsonaro, abraçaram Lula e o PT apesar de todo o seu histórico: eles poderão continuar a fazer o “L”, mas desta vez de “ludibriados”.

EMPRESAS ESTATAIS PERDEM VALOR COM LULA NO GOVERNO

 


Estatais perdem R$ 130,2 bilhões em valor de mercado após eleição de Lula

Por
Guilherme Grandi – Gazeta do Povo


Entre as estatais, a Petrobras perdeu quase um terço do valor desde a eleição de Lula.| Foto: André Coelho/EFE

As três maiores estatais brasileiras com ações negociadas na bolsa de valores (B3) perderam R$ 130,2 bilhões em valor de mercado desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. Entre o último dia de campanha, em 28 de outubro, e esta terça-feira (20), as ações da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Seguridade despencaram entre 11,96% e 26,86% no período, com destaque para as preferenciais da petrolífera, principalmente após rumores de que um político pode ser indicado para o comando da empresa.

A Petrobras entrou no foco do mercado quando, na última semana, nomes petistas como o ex-ministro Aloísio Mercadante e o senador Jean Paul Prates (RN) começaram a ser cotados para presidir a estatal. Em apenas um dia, as ações da petrolífera despencaram 9,8%, com uma perda de R$ 30 bilhões. Depois, Mercadante acabou confirmado para presidir o BNDES, mas o estrago já estava feito.

A alteração da Lei das Estatais que abriria espaço para a nomeação de políticos para os mais altos cargos de direção chegou a ser aprovada pela Câmara dos Deputados, mas parou no Senado e foi adiada para 2023. O atraso acalmou os ânimos dos investidores por enquanto, mas o risco de uma mudança ainda ronda o mercado e levanta dúvida sobre o tamanho da interferência do novo governo sobre essas companhias.

Veja abaixo quanto as estatais brasileiras com ações negociadas na bolsa já perderam em valor de mercado desde a eleição de Lula:

Petrobras (PETR3 e PETR4)
Valor de mercado em 28 de outubro: R$ 448,7 bilhões.
Valor de mercado em 20 de dezembro: R$ 335,2 bilhões, queda de 25,3%.

Banco do Brasil (BBAS3)
Valor de mercado em 28 de outubro: R$ 111,2 bilhões.
Valor de mercado em 20 de dezembro: R$ 96,8 bilhões, queda de 12,93%.

Caixa Seguridade (CXSE3)
Valor de mercado em 28 de outubro: R$ 26,3 bilhões.
Valor de mercado em 20 de dezembro: R$ 24 bilhões, queda de 8,88%.

Exceção a elas é a BB Seguridade (BBSE3), subsidiária do Banco do Brasil, que acumulou ganhos de R$ 6,6 bilhões no período por ter títulos atrelados à taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano e com previsão de voltar a cair apenas a partir do fim de 2023.

Nas outras companhias, a desvalorização foi provocada pelo receio que os investidores têm de que se repitam escândalos ocorridos no passado com o envolvimento de estatais, em casos como mensalão e petrolão. Para agentes do mercado financeiro, as sucessivas declarações dadas pelo futuro governo contra a Lei das Estatais começaram a ecoar logo após o resultado do segundo turno.

“O PT deixou bem claro que dentro das alavancas para estimular a economia vai utilizar principalmente o BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras. E essa última acaba sendo o grande destaque entre todas, em que até mesmo um governo mais liberal como o de Bolsonaro interveio nos preços dos combustíveis. De um governo PT a gente espera tudo o que Bolsonaro fez e um pouco mais”, explica Victor Inoue, líder da WIT Invest assessoria de investimentos.

O economista ressalta esse “um pouco mais” como uma possível mudança na política de desinvestimento da petrolífera, que se tornou uma grande pagadora de dividendos após se desfazer de negócios que não eram sua especialidade para focar naquilo que dá mais lucro – extração de petróleo.

Mas o temor não fica restrito à Petrobras. Hugo Queiroz, diretor da área de mercado de capitais da consultoria TC, lembra que outras políticas implantadas nos governos anteriores também não foram bem sucedidas e provocaram prejuízos.

“O Banco do Brasil é a mesma coisa, com a concessão de linhas de crédito muito ruins, com baixo spread e alto risco de inadimplência. Um bom exemplo foi aquela linha criada no governo Dilma Rousseff para a compra de móveis e eletrodomésticos, que teve um alto calote na Caixa”, lembra.

Outro fantasma do passado foi a política das “campeãs nacionais”, em que o BNDES despejou R$ 18 bilhões em alguns poucos grupos privados para que pudessem concorrer no mercado internacional. Esse incentivo desenvolvimentista se mostrou um insucesso e foi abandonado em 2013. Em paralelo, o banco de fomento recebeu R$ 440 bilhões do Tesouro para financiar a juros baixos empresas, estados, municípios e pessoas físicas, dinheiro que terminará de devolver em 2023.

Muitos interesses políticos e poucos cargos disponíveis no alto escalão

Adriano Gianturco, cientista político e coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec, lembra que as estatais brasileiras eram usadas até 2016, quando a legislação mais restritiva foi aprovada, como mais um órgão público para distribuir cargos a aliados políticos.

Para ele, só a sinalização de querer se mudar a Lei das Estatais já é motivo suficiente para o mercado deixar de lado a confiança. “Historicamente, o normal nas estatais sempre foi o de um cabide de emprego, para alocar os ajudantes do presidente e aqueles que o apoiaram durante a eleição, e para desviar dinheiro legalmente e ilegalmente. Tivemos um breve momento de exceção a isso, mas, no médio prazo, sempre volta ao normal histórico de sempre”, afirma o Gianturco, autor do livro “A Ciência da Política”.

Ele acredita que nem mesmo o fato de as estatais terem sócios privados afasta o risco de uso indevido, até porque o governo – que normalmente é o sócio-controlador – tem mecanismos para “comprar o apoio”. Um deles é a concessão de empréstimos vultuosos com juros subsidiados do BNDES.

Inoue, da WIT Invest, considera um grande problema a indicação de políticos mais alinhados aos interesses do presidente da vez que aos do mercado. Estatais com uma gestão mais técnica que política, observa ele, acabam revertendo mais lucros para o governo, acionista majoritário que tem nos dividendos uma fatia importante do orçamento da União.

Como os investimentos acabam consumindo parte desses dividendos, escolhas erradas podem acabar afetando o negócio como um todo, levando a prejuízos não apenas dos sócios privados, mas do próprio governo, explica Queiroz, da TC.

“Um bom exemplo é a gente pegar o planejamento estratégico da Petrobras antes e pós-governo [Michel] Temer. Vejo que o novo governo pode querer atuar em investimentos que não fazem sentido nenhum pra companhia hoje por questões de margem baixa, risco alto de crescimento da alavancagem e endividamento. Antes do Temer, se investiu em refino, que tem uma rentabilidade muito baixa, em termelétricas, em outros negócios altamente arriscados que demandam muito capital e, dependendo da volatilidade do mercado de petróleo, do risco de quebra por conta da alta intensidade de capital e de dívida”, diz.

E há, ainda, outro fator que o economista da WIT Invest vê com preocupação: a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de outra alteração na Lei das Estatais, para aumentar de 0,5% para 2% da receita bruta o montante que estatais podem gastar com publicidade, “o que equivale apenas na Petrobras a algo entre R$ 8 bilhões e R$ 11 bilhões por ano nos próximos quatro anos”.

O projeto de lei, agora no Senado, traz de volta a memória do escândalo do mensalão, que utilizava exatamente o orçamento de publicidade dos Correios para desviar verbas usadas para pagamento de propina para a cooptação de partidos e políticos. Anos depois, a Operação Lava Jato descobriu o uso de verba de publicidade do BB no petrolão.

“O mercado vê tanto o que aconteceu no passado como a expectativa futura. Essa memória já existia antes [da eleição], mas talvez havia uma expectativa diferente, de que [o novo governo Lula] seria algo como um governo Bolsonaro [mantendo a política de mercado] com mais gastos sociais, mas está se revelando bem diferente. Mais do que um governo Lula 3, está parecendo mais um Dilma 3”, arremata Adriano Gianturco ressaltando que a frustração veio mais rápido do que se esperava.


Expectativa de “Dilma 3” enquanto não há planos concretos para cada estatal
Duas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), que tornou inconstitucional o “orçamento secreto” e permitiu a retirada do Bolsa Família do teto de gastos, significaram uma vitória para Lula antes mesmo da posse, e uma derrota do Cetrão na negociação por cargos nas estatais e ministérios no novo governo.

Para os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, mesmo sem a necessidade de se lotear cargos nas companhias, o mercado ainda vai continuar olhando com cautela os movimentos de Lula nas indicações às diretorias. A desconfiança ainda vai provocar muitas oscilações, e as perdas acumuladas até agora só poderão ser revertidas quando o governo apresentar efetivamente as novas políticas das estatais, quando os indicados tomarem posse.

“No caso específico da Petrobras, esperamos uma política massiva de investimentos, com mais compras de refinarias, a exploração do petróleo em águas profundas e a transição da matriz energética de energia limpa [muito ressaltado por Lula durante a campanha], o que vai ser bom para o caixa. O grande medo do mercado é que toda vez que a companhia tenta fazer alguma coisa que não seja extrair petróleo do pré-sal, ela faz investimentos de uma forma muito ruim, com perspectiva de retorno negativa muitas vezes”, afirma Inoue.

No Banco do Brasil e na Caixa, o mercado espera um crescimento na concessão de crédito direcionado em diversas modalidades, mas principalmente pelo “Minha Casa Minha Vida”. E ainda um reforço de empréstimos do BNDES, que Lula sinalizou ao longo da campanha eleitoral.

Apesar das sinalizações do novo governo, Queiroz acredita que as reformas promovidas nos últimos seis anos foram suficientes para gerar um ambiente pró-mercado muito mais vantajoso, e que a equipe econômica de Lula está enfim sendo bem formada de modo a entender que muita coisa mudou.

“Tivemos muitas reformas que geraram foco em investimento e também tiraram o foco do consumo e de pilares específicos como commodities. A gente saiu de um crescimento conjuntural para um estrutural de cinco a dez anos, que não depende de ciclos econômicos brasileiros ou globais específicos. Ele puxa o crescimento sozinho nesse intervalo e, além disso, tira os efeitos de ciclicalidade das commodities, gerando uma recorrência de crescimento. O ambiente de negócios ficou muito melhor nos últimos seis anos, e a sociedade produtiva não vai aceitar retroceder”, completa.

No cenário mais geral do mercado, Inoue vê um esforço grande do PT em aprovar a reforma tributária logo nos primeiros seis meses, por conta da nomeação de Bernard Appy para o cargo de secretário especial no Ministério da Fazenda. O economista acredita que o partido possa usar a reforma para equilibrar as contas públicas, “mesmo que isso imponha um aumento significativo na carga tributária”.

Ele vê, ainda, a possível volta das conversas para a taxação de dividendos, que afeta diretamente a bolsa de valores. E, ainda, o mercado segue em dúvida se essa taxação pode afetar também outros ativos, como fundos imobiliários, títulos de renda fixa isentos, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRI e CRA), entre outros.


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FIM DO ORÇAMENTO SECRETO E REAJUSTES PARA TODOS

 

Negociação

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

BIE – Fachada do Palácio do Congresso Nacional, a sede das duas Casas do Poder Legislativo brasileiro, durante o amanhecer do dia. As cúpulas abrigam os plenários da Câmara dos Deputados (côncava) e do Senado Federal (convexa), enquanto que nas duas torres – as mais altas de Brasília, com 100 metros – funcionam as áreas administrativas e técnicas que dão suporte ao trabalho legislativo diário das duas instituições. Obra do arquiteto Oscar Niemeyer. Foto: Pedro França/Agência Senado


Fachada do Congresso Nacional, a sede do Poder Legislativo federal.| Foto: Pedro França/Agência Senado

Quem saiu perdendo nesse jogo todo, com o Supremo sendo Supremo? Perderam o presidente da Câmara, o presidente do Senado e o presidente da República. O presidente da República está perdendo um instrumento básico para cooptar votos no Congresso, que é a liberação de emendas. Agora vai ter de ser na saliva mesmo, oferecendo ministérios, só que mesmo 37 ou 38 ministérios não serão suficientes. A Câmara que está entrando aí tem mais de 70% de centro e direita; o Senado terá mais de 60% de centro e direita, então vai ser complicado. A esquerda raiz não vai gostar, porque Lula vai ter de ceder para a centro-direita e o Centrão.

Alvorada ou Torto?
Lula levou Janja para conhecer a Residência do Torto – que não é Granja do Torto, essa é um parque de exposições que fica ao lado –, uma residência da Presidência da República, muito aprazível. João Figueiredo morava lá e dizia que morar no Alvorada é como morar dentro de uma vitrine. Se Janja gostar do Torto, é capaz de eles ficarem lá.

Ainda faltam muitos nomes para o primeiro escalão do governo
O prazo está encurtando para Lula decidir seu ministério, está muito complicado. Para a Petrobras, ele disse que não traria ninguém dos antigos, mas está entre Dilma e a presidente da Agência Nacional de Petróleo do tempo de Dilma. A Comunicação Social deve voltar a ser ministério… é o Ministério da Propaganda, porque o governo está precisando de propaganda. Simone Tebet não deve estar gostando, porque não vai levar o ministério que ela queria, o do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, que vai ficar com o ex-governador do Piauí Wellington Dias.

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Gilmar Mendes mandou Carla Zambelli entregar a pistola e perder o porte de arma depois que ela apontou a pistola para um homem com quem ela estava batendo boca numa rua de São Paulo. Isso foi proposta da Procuradoria-Geral da República, que propôs também ao Supremo arquivar uma acusação de partidos pequenos – PSol, PcdoB, Rede e PV –, do PSD e até do PT, que não é partido pequeno, contra Bolsonaro por incitação à violência. Dias Toffoli, relator do inquérito, disse que, se a PGR não viu crime, então só resta arquivar, porque o autor da ação é a PGR. O ministro deu o bom exemplo, porque Alexandre de Moraes vem passando por cima dessas coisas.

Enquanto isso, Ricardo Lewandowski deixou Rodrigo Pacheco com cara de bobo, tirou foto com ele, fez promessas para o presidente do Senado, ou foi Pacheco quem achou que estava conquistando o ministro… e no fim Lewandowski foi o voto de desempate, que selou o 6 a 5 pelo fim das emendas de relator. Pois Lewandowski aproveitou e trancou uma ação da Lava Jato em que Geraldo Alckmin é investigado por propina de R$ 11 milhões da Odebrecht. Ele justificou a decisão alegando nulidade de provas.

Nome é destino
Tenho de contar para vocês um caso lá de Cabo de Santo Agostinho (PE). O prefeito foi preso e afastado da prefeitura por um desvio de quase R$ 100 milhões da previdência municipal. Dias Toffoli devolveu o mandato, mas a Câmara de Vereadores não aprovou as contas dele, e por isso a Justiça Eleitoral não aceitou sua candidatura agora em 2022 – mas já era tarde, porque seu nome já estava nas urnas eletrônicas. Houve a votação, e agora esse ex-prefeito pediu a Lewandowski que seus votos fossem contados. Lewandowski mandou contar, o ex-prefeito recebeu 35 mil votos e está eleito deputado estadual. Quanta sorte, não? Mas também, com esse nome… sabem como se chama esse ex-prefeito? Lula Cabral!

Câmara aprova reajustes de salário para presidente, parlamentares, ministros e servidores
Por
Gazeta do Povo

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária. Ordem do dia. Plenário vota, em 1° turno, a reforma da Previdência (PEC 6/2019). À mesa, presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), conduz sessão. Tribuna: senador Lasier Martins (Podemos-RS). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado


O aumento para presidente da República será escalonado em quatro percentuais. O primeiro deles de 16,37% será válido a partir de 1º de janeiro.| Foto: Marcos Oliveira/Senado Federal do Brasil

Dias antes do recesso parlamentar, a Câmara dos Deputados aprovou durante sessão desta terça-feira (20) reajustes de salário para presidente da República, deputados, senadores, ministros e servidores da Casa. A medida acontece em meio às negociações para aprovação da PEC fura-teto.

Uma das propostas aprovadas pela Câmara prevê um aumento nos subsídio dos membros do Congresso Nacional, do presidente e vice-presidente da República e dos ministros de Estado. O texto será agora enviado ao Senado.

O aumento para presidente da República será escalonado em quatro percentuais. O primeiro deles de 16,37% será válido a partir de 1º de janeiro e iguala o subsídio atual (R$ 33.763,00) ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), atualmente em R$ 39.293,32. Já a partir de 1º de abril de 2023 os valores aumentam para R$ 41.650,92 (6%), passando para R$ 44.008,52 em 1º de fevereiro de 2024 (5,66%) e para R$ 46.366,19 a partir de 1º de fevereiro de 2025 (5,36%). O reajuste total, nos quatro anos, chega a 37,32%.

Pela proposta, os parlamentares que recebem atualmente um salário de R$ 33,7 mil, e a cúpula do Executivo, que têm salário de R$ 30,9 mil mensais, deverão receber um aumento escalonado, chegando a R$ 46,4 mil em fevereiro de 2025.

Segundo informações da Agência Câmara, o impacto orçamentário previsto por cada órgão são os seguintes: Câmara dos Deputados: R$ 86 milhões em 2023, R$ 18,8 milhões (2024), R$ 19,1 milhões (2025) e R$ 20,2 milhões (2026). Para o Senado, o impacto será de R$ 14,3 milhões em 2023, R$ 3 milhões (2024), R$ 2,5 milhões (2025) e R$ 3,5 milhões (2026). Já para o Executivo o custo calculado será de R$ 7,1 milhões (2023), R$ 1,2 milhão (2024), R$ 1,2 milhão (2025) e R$ 1,3 milhão (2026).

A Câmara aprovou ainda um reajuste acumulado de 18% para os servidores da Casa. A matéria também segue para o Senado. Os reajustes são de 6% em fevereiro de 2023, 6% em fevereiro de 2024 e 6,13% em fevereiro de 2025. De acordo com a Câmara, o impacto orçamentário previsto é de R$ 275,7 milhões em 2023, R$ 154,4 milhões em 2024, R$ 190,7 milhões em 2025 e R$ 198,3 milhões no exercício de 2026.

Por último, também foi aprovada a mesma porcentagem escalonada para o reajuste aos servidores do Senado. A proposta segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL), pois já passou pelos senadores. O impacto orçamentário previsto pelo Senado é de R$ 180,9 milhões em 2023, R$ 262,5 milhões em 2024, R$ 335,8 milhões em 2025 e R$ 477,0 milhões no exercício de 2026.


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CADÊ O GOLPE?

Rindo de nervoso

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Uma onça bebendo água. É só isso mesmo. Não tem mensagem subliminar nenhuma. Juro que é só uma onça bebendo água MESMO.| Foto: Reprodução/ Twitter

Finalmente chegou o dia 21 de dezembro. Eu não via a hora. Tanto é assim que hoje acordei um pouquinho mais cedo que o de costume. Não fosse o tempo nublado, teria visto o sol surgir por entre as montanhas da Serra do Mar. É sempre um momento emocionante. Um milagre para o qual, de tanto acontecer, as pessoas nem dão mais bola. Mas eu dizia que tinha acordado – uma semiverdade. Fui para a janela, cantei de galo pra despertar os vizinhos e fiquei à espera de uma coluna de tanques. Ou pelo menos um rasantezinho de um daqueles caças que o Lula comprou.

Nada.

É que, não sei se você estava sabendo, mas hoje, dia 21 de dezembro de 2022, era para acontecer um golpe. Ou contragolpe, como queiram. Um evento grandioso, militar ou civil, que poria fim à inegável ditadura de Alexandre de Moraes & Cia., impediria o ladrão (não disse qual!) de subir a rampa e, de quebra, manteria o presidente Jair Bolsonaro no poder. Um evento que eu chamaria de Redentora 2.0. Que tal?

Faz tempo que a notícia, ou melhor, a expectativa pelo Dia B corre à boca nem-tão-miúda-assim em todos os grupos de WhatsApp e Telegram. A julgar pelos “ATENÇÃO!!!!” e “URGENTE!!!”, devia ser o segredo menos bem guardado da história. Ainda assim, resolvi dar trela e acordar uns cinco minutinhos antes do normal. Vai quê.

Vai que todo mundo realmente é mais bem informado do que eu. Vai que todo mundo sabe de alguma coisa que precisa ser mantida em segredo. Vai que todo mundo acha que está mantendo essa coisa em segredo ao dizer que “alguma coisa vai acontecer no dia 21, mas não espalhe”. Vai que todo mundo tem mesmo um primo que é tio do cunhado da filha da sobrinha da vizinha da empregada do coach de um general de cinco estrelas que garantiu: do dia 21 não passa!

Curiosamente, não me passa pela cabeça o vai-que mais importante: vai que eu entendi tudo errado!

Quatro coisas
Que seja. O fato é que, até agora (6h01, de acordo com meu Patek Philippe Gondolo imaginário), nadica de nada. Neca de pitibiriba. Só um mendigo começou a assobiar na rua. Por um instante achei que fosse “Marcha Soldado”. Mas é que ainda não tinha tomado café. Ops! Ouvi um estouro. Será tiro de canhão? Que nada! Só um motoqueiro com o escapamento furado. Digo, o escapamento da moto, não do motoqueiro. É que ainda não terminei de beber o café.

Na esperança de que a revolução seja televisionada, como me prometeu algum teórico da comunicação na faculdade, ligo o aparelho. Netflix, Amazon Prime, Star+. Droga, esqueci que não tenho como assistir à TV aberta. Bom, é para isso que serve o YouTube, né? Trinta segundos depois, porém, estou me contorcendo de rir com Ryan Stiles, Colin Mochrie e Wayne Brady em “Whose Line Is It Anyway?” Daqueles antigos, com o Drew Carrey. Ah, quanto ao golpe… nada ainda. (Agora acho que o mendigo está assobiando Gershwin. Será possível?).

Eis então que não são nem seis e meia de uma manhã nublada de quarta-feira e já me ocorrem quatro coisas. O que é bem raro. A esta hora do dia, no geral se me ocorre apenas uma coisinha me dou por satisfeito. Mas o fato é que, talvez por causa do café que finalmente corre em minhas veias, me ocorrem não uma nem duas, e sim quatro coisas. E a primeira delas é que a crônica está chegando ao fim. Faltam só mais dois ou três parágrafos curtos, no máximo.

Em segundo lugar, me ocorre que talvez o golpe aconteça ao longo do dia. Depois da siesta, talvez. É que tenho essa visão meio romântica das revoluções e por isso tendo a pensar em alguma imagem ironicamente poética tipo “a alvorada da liberdade em raios fúlgidos”. Desculpe. Ingenuidade minha pensar que um golpe fosse acontecer antes da super final do campeonato de biriba no 22o Batalhão de Infantaria. Portanto, se você estiver lendo esta crônica pela manhã, digamos que ainda reste uma pontinha de expectativa. (Quase escrevi “esperança”).

Em terceiro lugar, me ocorre que talvez eu, avoado que sou, tenha errado a data. Talvez o Dia B seja amanhã (22), para combinar com o Solstício de Verão. Ou no dia 23, para coincidir com algum evento histórico obscuro, como a Batalha de Magdhaba. Em quarto e último lugar, me ocorre que talvez eu tenha dado com a língua nos dentes. E que, por causa desta crônica, a Redentora 2.0 teve de ser adiada. Indefinidamente ou por 72 horas, o que acontecer primeiro.


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EMPRESAS FACILITAM A COMPRA DO CLIENTE COM TECNOLOGIA

 

Gustavo Pisani  -Diretor de  Diretor de Estratégia do Varejo no Grupo FCamara

 Especialista comenta desafios da digitalização do varejo e importância de empresas adaptarem seus negócios para se manterem competitivas nas datas comemorativas

O varejo sofreu grandes transformações nos últimos dois anos, motivadas pelas inovações tecnológicas, mas também por novos hábitos de consumo de uma sociedade cada vez mais digital. Em 2021, o e-commerce brasileiro bateu recorde de faturamento – mais de R$ 180 bilhões, segundo a Ebit/Nielsen – e foi quando mais de 12 milhões de brasileiros tiveram a experiência de comprar online pela primeira vez. Com isso, a expectativa para 2022 ficou cada vez maior. No Natal do ano passado, de acordo com o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), o e-commerce teve um desempenho 38,6% superior ao registrado no Natal de 2020. O mesmo índice ICVA apurou crescimento de 21% do E-commerce no Brasil e 5,4% em lojas físicas na última Black Friday que registrou crescimento de 6,9% em comparação com o ano passado. Existe uma adesão cada vez maior ao comércio eletrônico e às experiências omnichannel, que integram canais físicos e digitais de relacionamento e de vendas. Inclusive, não adaptar seus negócios para oferecer essas experiências gera o risco de dar espaço para os concorrentes crescerem.

“O consumidor busca na compra online uma experiência semelhante à de uma compra física, porém ainda melhor. Ele quer o mesmo poder de escolha, bom atendimento, possibilidade de troca e devolução, ter com quem tirar dúvidas, mas com a vantagem de ter experiências diferenciadas e facilitadas, graças aos recursos que a tecnologia proporciona. Aqueles que ainda optam pelo varejo físico, também buscam experiências melhoradas pela integração de canais físicos e digitais. É importante avaliar todas as etapas da jornada do cliente e identificar estratégias de digitalização e otimização para cada processo e para os diferentes perfis de consumidores”, comenta Gustavo Pisani, diretor de  Diretor de Estratégia do Varejo no Grupo FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação que potencializa a transformação dos negócios.

Nesse contexto, Pisani defende que a omnicanalidade é essencial e possibilita oferecer uma jornada mais conveniente a cada tipo de público. Segundo dados da All Social Miner, em parceria com a Opinion Box, 60% dos brasileiros passaram a consumir de forma híbrida após a pandemia, transitando entre canais físicos e digitais. O consumidor pode começar sua busca pela internet, comprar pelo WhatsApp e optar por retirar o produto em uma loja física, por exemplo. Outro pode ver um produto pessoalmente no varejo físico, mas preferir continuar sua jornada de compra no ambiente online. Seja qual for o caminho trilhado, a interação com esse consumidor precisa ocorrer de maneira natural e fluida.

“Essa é a grande proposta do omnichannel, integrar os canais para que eles funcionem em sintonia e conforme as preferências de cada consumidor. O cliente quer autonomia e precisa sentir sua jornada transcorrer com facilidade, de maneira agradável. E os negócios precisam estar preparados para essa flexibilidade. Seja qual for o canal escolhido pelo cliente para fazer sua pesquisa, sua compra ou resolver sua troca ou devolução, ele espera encontrar um padrão de atendimento e a mesma praticidade. A personalização é outra palavra-chave, pois é necessário que as experiências na jornada e estratégias estejam em sintonia com o perfil do seu público. Não adianta ter diversas iniciativas sem conhecer o seu consumidor. Para recomendação de produto, por exemplo, precisa ser algo que combina com o comportamento de consumo da pessoa. É isso que trará o tão falado encantamento. E hoje, para se sobressair no mercado, não basta vender, é preciso encantar”, ressalta Pisani.

Desafios e benefícios

Promover a digitalização dos negócios é desafiador, especialmente para empresas mais tradicionais e com uma cultura conservadora. Por isso, Pisani ressalta que essa adaptação começa de dentro para fora, ou seja, tem início com uma mudança de mentalidade dos líderes e gestores, que devem disseminar esse mindset para seus colaboradores e capacitá-los para as novas exigências.

“Algumas empresas já nasceram nessa realidade digital e, portanto, têm mais facilidade de adaptação. Outras, historicamente mais consolidadas, podem ser um pouco resistentes. E essa transformação cultural também é importante. Ao longo do processo, os benefícios da digitalização aparecem com clareza e isso também vai derrubando as resistências”, aponta o diretor.

Além da maior satisfação e fidelização dos consumidores, o executivo destaca que a digitalização fortalece a reputação da marca, traz maior competitividade, otimiza processos e abre novas possibilidades de negócio.

“Nosso propósito em apoiar os grandes varejistas no seu processo de digitalização, gera sem dúvidas, impacto de crescimento e novas oportunidades. O varejo hoje gira em torno da experiência do consumidor e quem compra, quer a melhor experiência. Portanto, não há como se manter competitivo estando fora do mundo digital. Diversas ferramentas e soluções disponíveis facilitam esse processo. Contar com parceiros de expertise também traz mais segurança e assertividade nessa adaptação e consequentemente melhores resultados”, finaliza.

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 190.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 4.000.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

Temos a plena certeza que o site da Startup Valeon, por ser inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da região capaz de alavancar as suas vendas.

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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

LULA NÃO VAI CONSEGUIR TUDO O QUE QUER DA CÂMARA FEDERAL

 


Como revés do orçamento secreto e aval para MP impactam as negociações da PEC fura-teto
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
e

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Aliados do PT dizem que negociação entre Lula e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, pela PEC vão mudar após as decisões do Judiciário| Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados


As negociações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a Câmara dos Deputados para aprovação da PEC fura-teto foram impactadas nesta segunda-feira (19) por duas decisões oriundas do Supremo Tribunal Federal (STF).

A primeira, do ministro Gilmar Mendes, permite que os recursos destinados ao pagamento de benefícios sociais fiquem fora do teto de gastos, excluindo, em tese, a necessidade de aprovação da PEC e praticamente concedendo uma “licença para gastar”. O texto vinha sendo negociado pela transição de Lula como forma de garantir o pagamento de R$ 600 para o Bolsa Família a partir do ano que vem.

Já a segunda decisão é o fim do julgamento no STF que acabou por declarar inconstitucional o orçamento secreto, como ficaram conhecidas as emendas de relator, que virou um instrumento de chantagem política do Congresso junto ao poder Executivo.

A avaliação entre integrantes do PT é de que ambas as decisões reduzem o poder de “barganha” do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nas discussões para aprovar a PEC. A proposta já foi aprovada pelo Senado, mas está travada na Câmara há pelo menos duas semanas.

Apesar dos reveses, Lira afirmou que o texto será analisado pelos deputados nesta terça-feira (20). “A Câmara continuará trabalhando pela estabilidade do pais. A votação da PEC nesta terça-feira está mantida”, afirmou nesta segunda.

Como forma de pressionar o governo eleito, Lira tentava condicionar a aprovação da PEC à indicação de aliados para cargos no Executivo. No balcão de negociações, o presidente da Câmara defendia a indicação de um aliado para o Ministério da Saúde em troca do suposto apoio de 150 votos de deputados do Centrão para a PEC fura-teto. Os dois se reuniram no último domingo (18) em busca de um acordo para aprovação da matéria.

Aliados de Lula sinalizam, no entanto, que a decisão de Gilmar Mendes e a conclusão do julgamento no STF mudam a correlação de forças entre o governo eleito e o Congresso. Apesar disso, membros da transição indicam que a aprovação da PEC seria a melhor alternativa, pois a solução seria por meio da política.

“O plano A, B e C é a aprovação da PEC”, resumiu o futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa. “A negociação permanece porque é importante para o país apostar na boa política, na negociação e na institucionalidade para a gente dar robustez para a política econômica que vai ser anunciada e que vai aplacar os ânimos e mostrar que o Brasil vai estar no rumo certo a partir de 1º de janeiro”, disse o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também garantiu que o governo eleito continua buscando a aprovação da PEC. “Queremos a PEC do Bolsa Família, ela é importante, porque traz outras soluções e privilegia a política, o parlamento, para a saída de problemas. Mas se a Câmara não der conta de votar, a decisão do ministro Gilmar não deixará o povo pobre na mão”, escreveu nas redes sociais.

Negociações da Câmara podem desidratar texto da PEC fura-teto de Lula
Após as derrotas no Judiciário, Arthur Lira se reuniu com lideranças partidárias na tarde desta segunda para reavaliar o cenário e discutir alternativas ao orçamento secreto. Uma saída estudada para viabilizar o pagamento das emendas de relator em 2023 seria ampliar o montante destinado para as emendas individuais e de bancadas.

A peça orçamentária do ano que vem prevê, até o momento, R$ 19,4 bilhões para o orçamento secreto, R$ 11,7 bilhões para emendas individuais e R$ 7,7 bilhões para emendas de bancada. O relator do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse nesta segunda que os recursos que estavam reservados para o orçamento secreto serão redistribuídos para o atendimento de emendas de bancada e emendas de comissão.

“Eu não posso, por iniciativa própria, colocar onde eu quiser. Eu só posso alocar esse recurso onde houver emenda. Onde houver solicitação. Então, o que remanesce hoje são emendas de bancadas e emendas de comissão. Como as emendas de comissão são de caráter geral, nacional, nós vamos dar preferência ao atendimento às emendas de comissão. Nós vamos pegar esses R$ 19,4 bi e distribuir pelas emendas de comissão do Congresso Nacional, tanto da Câmara quanto do Senado”, afirmou o senador.

Já sobre a votação da PEC, a avaliação de parlamentares em torno do presidente da Câmara é de que o texto pode sofrer algumas alterações, até por retaliação às decisões do STF. Lira disse a aliados desconfiar de uma suposta interferência de Lula no voto decisivo do ministro Ricardo Lewandowski que declarou a inconstitucionalidade do orçamento secreto.


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A avaliação dos congressistas é de que a reação pode ser por meio da supressão de trechos da PEC que foi aprovada pelo Senado. Com isso, a proposta não precisa passar por uma nova votação dos senadores. Entre os pontos que os deputados estariam dispostos a mudar seria o tempo de vigência da proposta, que passaria de dois para apenas um ano. Esse ponto contaria com apoio, inclusive de deputados do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

Os parlamentares questionam ainda o valor de R$ 145 bilhões e pleiteiam a redução para R$ 100 bilhões e até R$ 80 bilhões. Além do PL, essas demandas foram apresentadas ainda por parlamentares do PP, de Lira, e do Republicanos, siglas que compõem a base de Bolsonaro no Congresso.

“Arthur [Lira] está trabalhando junto com todos nós da liderança para passar a PEC. Talvez com algumas pequenas readequações, mas está tudo sob controle”, afirmou o deputado Darci de Matos, vice-líder da Maioria na Câmara.

Medida provisória vira alternativa à PEC fura-teto dentro da transição
Apesar das sinalizações do PT em manter as negociações para a aprovação da PEC fura-teto na Câmara, líderes do partido não descartam a possibilidade de uma medida provisória (MP) para garantir o pagamento dos R$ 600 para o Bolsa Família no ano que vem. Na avaliação dos integrantes da transição, Lula está livre de pressões e das negociações que envolvam cargos em ministérios.

Antes da decisão de Gilmar Mendes, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Bruno Dantas, já havia sinalizado que uma eventual edição de MP por parte de Lula poderia ter respaldo da Corte. De acordo com Dantas, o TCU tem “inúmeros” precedentes de que é possível abrir crédito extra por meio de medida provisória.

Mesmo sinalizando a aprovação da PEC como “plano A” do governo de transição, Haddad disse que a decisão do ministro do STF dá “conforto” para os beneficiários do Bolsa Família e mostra que eles não ficarão desamparados em razão de eventual “desentendimento no Congresso Nacional”.

“É muito importante dar o conforto para as famílias de que não haverá nenhum tipo de prejuízo do programa mais exitoso criado pelo presidente Lula, de transferência de renda. Dá conforto para as famílias. É muito importante, mas vamos perseverar no caminho da institucionalidade e da boa política”, avaliou.

Diferentemente da PEC, a medida provisória tem força de lei assim que publicada no Diário Oficial da União. Embora precise de posterior aprovação do Congresso para se tornar lei em definitivo, a MP exige menos votos que PECs para serem aprovadas. Com isso, o governo Lula precisaria fazer as negociações para aprovação apenas no próximo ano, quando o novo Congresso já terá tomado posse.

Os aliados de Lula, no entanto, avaliam que a decisão do ministro do STF ainda deixa dúvidas sobre a possibilidade de o governo eleito garantir outras promessas para o Bolsa Família. Além dos R$ 600, o petista pretende garantir um adicional de R$ 150 para cada criança de até 6 anos beneficiária do programa. Há uma expectativa de que o partido Rede Sustentabilidade, autor da ação, apresente um recurso ao STF pedindo a Gilmar Mendes que esclareça pontos da decisão.

Arthur Lira, no entanto, avalia ser “desnecessária” a edição de uma medida provisória diante das negociações com Lula para aprovar a PEC fura-teto. “Eu acho que é absolutamente desnecessário [a medida provisória]. Os diálogos estão sendo francos. A nossa vontade está explícita em ajudar, sem abandonar aliados antigos e acrescentando os novos aliados na construção de um teto que seja melhor para o Brasil”, disse o presidente da Câmara em entrevista à Globo News.


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STF ADMINISTRA O ORÇAMENTO E AUMENTA AS DESPESAS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


O ministro Gilmar Mendes durante sessão do STF.| Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Independentemente do governo que entra ou do governo que sai, é certo em Brasília que partidos nanicos, incapazes de conquistar uma parcela decente do voto popular para ter representatividade relevante no Congresso, seguirão buscando o Supremo Tribunal Federal para conquistar na canetada o que não conseguem pela via legislativa. E é igualmente certo que continuará havendo ministros dispostos a atender tais pedidos, fazendo-se de legisladores e atropelando os quase 600 parlamentares eleitos pelo povo, definindo políticas públicas, de questões sanitárias a política migratória, passando, evidentemente, pelo orçamento. É o que acaba de acontecer com uma liminar concedida por Gilmar Mendes na noite deste domingo, dia 18.

A PEC fura-teto, que havia passado pelo Senado com bastante folga, não está recebendo o mesmo tratamento na Câmara dos Deputados, onde Arthur Lira (PP-PE) está criando as dificuldades para vender as facilidades. Antes a resistência se desse pelo teor da proposta, que exige um cheque acima do razoável por um período também acima do razoável; no entanto, os motivos que empacam a tramitação são bem mais rasteiros, como a luta por cargos no futuro governo Lula e o destino – agora definido – do orçamento secreto. Percebendo que a PEC corria risco, a Rede Sustentabilidade fez o que sabe fazer de melhor: no fim da semana passada, pediu ao Supremo que simplesmente retirasse o Auxílio Brasil (ou Bolsa Família, como voltará a ser chamado) do teto de gastos, o que o Gilmar Mendes atendeu, dando a Lula um enorme presente de Natal antecipado.

O Judiciário volta a tomar para si as competências de outros poderes e o faz de forma bastante grotesca, ignorando preceitos básicos da economia em nome da necessidade (real, não o negamos) de garantir renda aos brasileiros mais vulneráveis

Agora, o dinheiro para o Bolsa Família pode brotar por meio de medida provisória – uma solução que o petismo chegou a considerar, mas que hesitava em colocar em prática por não ter segurança jurídica sobre essa possibilidade –, mesmo que a PEC fura-teto acabe naufragando, embora o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, prometam insistir na aprovação do texto. E, para permitir que Lula pague o Bolsa Família de R$ 600, Gilmar Mendes absolutizou o artigo 6.º da Constituição, segundo o qual “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”, e cujo parágrafo único determina que “todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária”.

O detalhe está no fato de que a “legislação fiscal e orçamentária” agora já não precisa mais ser observada; basta a vontade de um ministro do Supremo para que ela se torne praticamente nula. O teto de gastos pode até não ser “um fim em si mesmo”, como argumentou Gilmar Mendes, mas é não apenas lei: é norma constitucional, cuja finalidade é trazer racionalidade ao gasto público, criando o clima de confiança que incentiva investimentos que trazem emprego e renda ao brasileiro. Se quisesse levar a sério a “legislação fiscal e orçamentária”, Mendes teria ordenado que o Congresso encontrasse meios de bancar o benefício dentro do atual arcabouço fiscal, cortando outros gastos – e mesmo assim ele já estaria extrapolando suas funções, pois não cabe ao Judiciário elaborar o Orçamento da União. No entanto, ao simplesmente tirar o Bolsa Família do teto, o ministro demonstrou que a legislação fiscal de nada vale para ele.


Com isso, fica aberta uma caixa de Pandora do gasto público. E se o governo concluir que R$ 600 de Bolsa Família não bastam para o “mínimo existencial da população em situação de vulnerabilidade social”, e que é preciso pagar mais? Ou, então, por que parar no Bolsa Família, se há outros benefícios que se encaixam no caput do artigo 6.º? A própria Rede já anunciou que entrará com embargos de declaração para saber se a carta branca de Gilmar Mendes se aplicará apenas ao Bolsa Família, ou se pode ser ampliada a outros programas sociais. É por isso que, embora na ponta do lápis a liminar possa até resultar em um aumento menor no gasto em 2023 – além do dinheiro já previsto, seriam necessários cerca de R$ 80 bilhões para viabilizar o Bolsa Família de R$ 600, enquanto a PEC fura-teto liberaria cerca de R$ 150 bilhões –, o real perigo está no precedente que ela abre.

O Judiciário, ao novamente agir como o “tapetão” onde grupos políticos sem voto parlamentar buscam fazer valer suas vontades, volta a tomar para si as competências de outros poderes e o faz de forma bastante grotesca, ignorando preceitos básicos da economia em nome da necessidade (real, não o negamos) de garantir renda aos brasileiros mais vulneráveis. A liminar de Gilmar Mendes, se confirmada pelo plenário, abre caminho para uma gastança ilimitada, desde que com “finalidade social”, sem respeito algum pelas normas fiscais, com todos os resultados amplamente conhecidos de qualquer brasileiro que tenha memória da recessão recente e saiba ligar alguns pontos.


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GOVERNO BOLSONARO REDUZIU A BUROCRACIA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

 

O que falta fazer

Por
Guilherme Grandi – Gazeta do Povo


Brasil tem menor burocracia para micro e pequena empresa dentre 11 países da América Latina, diz estudo.| Foto: Bigstock

Embora o Brasil ainda seja considerado um dos países mais burocráticos do mundo na gestão de negócios, principalmente por conta da confusa legislação tributária alterada constantemente e sem uniformidade no território nacional, o tempo gasto por micro e pequenas empresas para lidar com obrigações é um dos menores do continente.

É o que revela a segunda edição do estudo “Índice de Burocracia na América Latina” (veja o trabalho completo aqui), levantamento desenvolvido pela consultoria Atlas Network em parceria com a FIU Adam Smith Center for Economic Freedom e demais instituições de 11 países – entre eles o Brasil.

De acordo com o levantamento, que apenas atualizou alguns dos dados do primeiro estudo de 2021 e ampliou a comparação com mais países da região, as micro e pequenas empresas do país consomem uma média de 180 horas ao ano para gerir questões trabalhistas, operacionais e de legislações setoriais, seguido por Costa Rica (297 horas) e Equador (395 horas).

Embora o Brasil já esteja bem colocado em diminuir a burocracia para se fazer negócios, ainda há muito o que avançar na comparação com as grandes economias do mundo. O estudo levou em consideração questões como pagamentos de salários, obrigações tributárias, regulações específicas sobre cada atividade, entre outros.

Lucas Berlanza, presidente do Instituto Liberal e parceiro da Atlas Network na pesquisa dos dados brasileiros, explica que as medidas de desburocratização e digitalização que vêm sendo implementadas principalmente desde o governo de Michel Temer (MDB) ajudaram o país a dar um salto na facilidade de se gerir as obrigações.

“[O estudo] deixou claro como o Brasil está em vantagem na comparação com os outros principais países da região, mas ainda longe das grandes economias do mundo. Ainda temos muito o que melhorar, principalmente na questão tributária, e em replicar estes mesmos procedimentos para as grandes empresas do país, que efetivamente geram empregos e riquezas mas que não foram beneficiadas por essas reformas”, analisa.

Do outro lado da fronteira, nosso maior parceiro comercial no continente, a Argentina, ocupa a penúltima posição entre os países mais burocráticos do continente, com uma média de 900 horas gastas ao ano para cumprir as obrigações trabalhistas, operacionais e setoriais. A situação é mais crítica no setor industrial.

Os argentinos só não perdem para a Venezuela, última colocada no ranking, com 1.062 horas ao ano, em média, perdidas apenas com burocracias. O estudo revela uma carga burocrática ainda maior sobre o setor de serviços formais e informais (1.139 horas ao ano), afetando diretamente as famílias.

No Brasil, o setor de serviços representa em torno de 70% do PIB (o Produto Interno Bruto, soma de todos os produtos e serviços gerados pelo país) e é formado em grande parte por micro e pequenas empresas que empregam mais da metade da população em idade laboral. O que reforça a importância de se ter um bom ambiente de negócios, o menos burocrático possível, para gerar riquezas.

“A questão é o tamanho do Estado mesmo, que é o desenho de sociedade e de instituição. A Venezuela, por exemplo, tem um desenho institucional custoso em termos de hora. A Argentina também, são duas nações pouco modernizadas na gestão pública. Elas consomem muito mais horas para se fazer todos os processos, diferentemente do Brasil e do Chile, que são dois Estados que buscaram modernizar e facilitar a gestão pública”, analisa Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Economia da Escola de Negócios da ESPM e doutora em economia de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

No Brasil, micro e pequenas empresas de serviços gastam, em média, 168 horas anuais com obrigações, o menor tempo da América Latina. No Chile, são 259 horas ao ano e, na Costa Rica, 287 horas. Nas três nações, esse tempo é gasto majoritariamente com as operações tributárias, que poderiam ser simplificadas. É um problema comum a toda a região, segundo Brad Lips, CEO do Atlas Network. Segundo ele, embora os países tenham buscado melhorar o ambiente de negócios nesse setor tão importante para a geração de riquezas, o tamanho do Estado é um empecilho a ser resolvido.

“Burocracia excessiva é um empecilho ao crescimento econômico, e também incentiva pessoas a direcionar suas energias empreendedoras não à empresa, mas ao desafio de navegar por um labirinto de códigos regulatórios e escritórios do governo. O recurso gasto com advogados e consultores, e muitas vezes em subornos, poderia ser usado para criar serviços produtivos e bens essenciais”, disse.

E isso, explica Carlos Díaz-Rosillo, diretor e fundador do Adam Smith Center for Economic Freedom, que participou da elaboração do estudo, leva “milhões de empresários à informalidade, agindo fora da lei e, consequentemente, fora do radar dos controles necessários e longe de possíveis ferramentas para a implementação de políticas públicas eficazes”.

O que torna o Brasil um país menos burocrático para as micro e pequenas empresas
O estudo elaborado pelo Atlas Network fez uma análise não apenas da legislação brasileira sobre as micro e pequenas empresas, mas do próprio desempenho de dez delas nos três setores produtivos – produção agropecuária e extrativista; indústria; e serviços formais e informais.

Para isso, segundo o Instituto Liberal, foi escolhida uma empresa de cada setor produtivo nos estados onde está a maior quantidade de empresas abertas, para que fosse analisado seu desempenho. Entre elas, empresas de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Elas foram beneficiadas pela eliminação de 45 procedimentos obrigatórios e quatro mil regulamentos de gestão trabalhista e operacional nas três esferas de poder da administração pública (federal, estadual e municipal). Com isso, quase que a totalidade deles se tornou digital nos últimos anos, com a adoção de um regime simplificado de gestão, como o Simples Nacional, o sistema eSocial, as facilidades do eGov, entre outras.

Por conta disso, levantamento do Banco Mundial apontou o Brasil como o sétimo país mais maduro do mundo em digitalização de procedimentos públicos, de 198 economias. Projeções do governo indicam que, até 2025, R$ 38 bilhões podem ser economizados com a redução da burocracia e das despesas com atendimento presencial, aponta o estudo.

No entanto, mesmo com os procedimentos de desburocratização e facilitação, nem todas as micro e pequenas empresas foram beneficiadas. Para se ter uma ideia, empresa do setor de serviços gasta com as obrigações trabalhistas (62 horas), pouco menos da metade do tempo de uma do agronegócio ou ao extrativismo (130 horas). Na gestão operacional, ocorre o oposto – mais uma vez, o emaranhado tributário é o grande responsável por essa diferença.

Cristina Helena, da ESPM, explica que isso se dá pela própria organização – ou a falta dela – entre as empresas para pleitear soluções e subsídios do poder público. Enquanto que o setor de serviços tem uma alta carga tributária e questões trabalhistas para dar conta, o agronegócio conseguiu se articular melhor junto ao poder público.

“A categorização das empresas do setor primário [agricultura, pecuária e extrativismo] é mais simplificada do que no terciário [serviços formais e informais], isso em si já é um facilitador no número de horas de gestão, principalmente na questão tributária. Fora que o setor agrícola é melhor organizado e tem uma agenda com o Congresso, um grupo que sempre batalhou muito para se fazer entender e conseguir que o Estado atenda as especificidades do setor”, analisa.

Simples Nacional é benéfico, mas só até certo ponto
O instrumento tido como o mais benéfico para a gestão das empresas – o regime tributário Simples nacional – também tem seus poréns. Mencionado pelo estudo do Atlas Network como um dos diferenciais para o desempenho dos micro e pequenos negócios brasileiros, o regime acaba desincentivando o crescimento delas a partir de um certo momento.

Hadler Favarin Martines, membro do comitê tributário e empresarial do Instituto de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR) e sócio da consultoria PwC, explica que as empresas, depois que amadurecem, desistem de fazer novos investimentos ou aumentar as vendas para não precisarem sair do Simples. Isso porque a saída do regime especial representa um salto na tributação – de 19% para alíquotas que podem chegar a 34% – e ainda traz um emaranhado burocrático de obrigações.

“Tanto nas pequenas empresas como nas grandes, quanto maior o faturamento, maior a carga tributária. E, ao passar do limite do Simples nacional, de R$ 4,8 milhões ao ano, o empresário já muda automaticamente de regime. O que é uma ajuda para quem está começando se torna uma barreira depois. É algo que precisaria ser transitório para se iniciar o negócio e depois passar a outro regime de tributação”, diz.

Ele ainda lembra que a carga tributária do Simples, que começa em 4%, incide sobre o faturamento total da empresa, não importa se ela teve lucro ou prejuízo. “Toda empresa começa deficitária, ou seja, o empresário já inicia o negócio pagando a mesma quantidade de imposto de quem lucra. Isso, inclusive, foi uma forte crítica durante a pandemia”, completa o executivo.

Cada estado cobra um imposto diferente

Soma-se às dificuldades enfrentadas pelos empresários a diferença tributária entre os estados do país, com alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), taxas e contribuições que variam entre onde o bem é produzido, onde é vendido e de quem é a atribuição de arrecadação.

Lucas Berlanza lembra que a própria Lei da Liberdade Econômica (13.874/19), aprovada no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), precisou ser analisada por cada estado brasileiro antes de entrar em vigor, com diferenças entre um e outro. Como, por exemplo, a dispensa de alvarás e licenças, a simplificação dos procedimentos, entre outras medidas.

Um estudo recente do Ministério da Economia apontou que o conjunto de medidas previsto pela lei foi adotado na íntegra em apenas em 156 municípios de 19 estados brasileiros. Nos âmbito dos estados, foi adotado integralmente por Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

“Então há também a lentidão para certas legislações sejam aplicadas nacionalmente, o que acaba impactando diretamente na vivência prática de cada um desses estados”, diz.

O que é reforçado pelo estudo do Atlas Newtork, que afirma que “apesar de o sistema tributário brasileiro ser, em geral, o mais complexo e o quarto mais pesado do mundo, as obrigações dependem da atividade, do setor e da região onde a empresa está localizada”. “Por isso, alguns tipos de empresas têm dificuldade de prosperar e há regiões mais desenvolvidas que outras. É por essa complexidade que o Brasil ocupa a posição 124 no ranking do Doing Business”, afirma o instituto.

O ranking elaborado pelo Banco Mundial deixou de ser feito há dois anos, mas o Ministério da Economia afirma que o Brasil teria subido para a 65.ª posição se o levantamento ainda existisse, após as iniciativas tomadas para a modernização do ambiente de negócios. Em 2020, o país ocupava a 124.ª posição de um total de 190 (veja aqui o último relatório publicado).

Foco no social e no digital para melhorar a gestão
Uma das principais dificuldades vividas não apenas pelas micro e pequenas empresas brasileiras, mas também pelas grandes, é o alto custo trabalhista. Segundo o estudo do Atlas Network, os empresários precisam lidar com uma legislação que, além de onerosa tanto para o empregador como para o empregado, também requer muitas horas de operação.

“A administração do emprego requer 27 procedimentos, começando pelo recrutamento, pagamento de salários e contribuições sociais, como o sistema de aposentadoria e seguro-desemprego, o que sobrecarrega o empregado e o empregador. No Brasil ainda é obrigatório que ambos contribuam para a previdência pública, mesmo que o empregado prefira contribuir para a previdência privada”, registra o levantamento.

O setor primário, do agronegócio e extrativismo, apresenta a maior demanda de tempo para cumprimento dos procedimentos de administração do trabalho (130 horas), superando o setor secundário (indústria) em mais de 50% (85 horas). No setor terciário, são 62 horas.

Todos os trâmites relacionados à gestão trabalhista aumentam os prazos de cálculo e pagamento necessários, tanto para contratação quanto para demissão de funcionários, tornando o trabalho muito mais complexo e oneroso para todos os tipos de empresas brasileiras.

“As empresas do setor terciário foram beneficiadas principalmente com o avanço da digitalização dos procedimentos e a criação de soluções digitais de gestão. Temos muitas startups voltadas para este setor, como gestão de pessoas, de estoque, etc”, explica Cristina Helena, da ESPM, sobre a vantagem que as empresas do setor de serviços ganham frente aos outros.

No entanto, apesar do tamanho robusto das obrigações trabalhistas, a professora acredita que é algo necessário em uma sociedade tão desigual como a brasileira. Para ela, é preciso se ter um equilíbrio entre as políticas de geração de emprego e renda com a produtividade e a competitividade, e tal debate deve ser feito hoje para se pensar no futuro.

A professora afirma que o Brasil tem outras questões ainda mais importantes, como a necessidade da reforma tributária – um consenso entre especialistas e o mercado –, a melhor capacitação dos trabalhadores, a ampliação da infraestrutura de tecnologia, e um sistema judiciário que seja menos burocrático e mais ágil.

“A questão tributária, principalmente, ainda atrapalha todas as modalidades de empresas. É um desafio que precisa ser enfrentado, com uma reforma que simplifique algumas dessas taxas federais”, afirma Berlanza, do Instituto Liberal.

Martines, do Ibef-PR, que acredita que o ideal mesmo é ter apenas um regime tributário mais uniforme e equilibrado, “reduzindo o imposto de renda como um todo, mas com todas as empresas pagando”.

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LULA CORRE CONTRA O TEMPO PARA MONTAR O MINISTÉRIO E A PEC FURA TETO

 

Transição

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva,conversa com os presidentes da Câmara, Arthur Lira e do Senado, Rodrigo Pacheco, durante cerimônia de diplomação no TSE



Presidente eleito Lula tem negociado com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para aprovar a PEC fura-teto.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Na segunda-feira o presidente do Senado – e, por consequência, presidente do Congresso – convocou deputados e senadores para o ato da posse de Lula no plenário da Câmara, no dia 1.º de janeiro, às 15 horas. Então, Lula tem apenas 12 dias para escolher seu ministério. São 37 ministros e ainda faltam uns 30, sinal de que está muito difícil contentar a todos os envolvidos. Todo mundo quer uma parte na partilha, e o PT não quer ceder muito, não.

Além disso, Lula vai acabar tendo de negociar com Centrão e já tem outra contagem regressiva correndo: ele só tem esta semana para conseguir aprovar a PEC da gastança, que vai a votação nesta terça-feira na Câmara dos Deputados. Como se trata de emenda constitucional, são necessários 308 votos – 60% de 513 deputados – em dois turnos.

Supremo atropela o Congresso duas vezes em poucas horas
Mas Gilmar Mendes, votando sozinho, teve uma força maior que 594 deputados e senadores que já podem ser dispensados, porque o Supremo está fazendo a legislação. Na noite de domingo, Gilmar Mendes decidiu que ele também tem um furador de teto e que o governo pode gastar R$ 145 bilhões no Bolsa Família. Gilmar já disse que é para avisar o relator que ele pode botar no orçamento esses R$ 145 bilhões, que ninguém sabe de onde virão: de impressão de dinheiro, que causa inflação direta; ou da emissão de crédito, que causa dívida pública e faz subir a inflação e os juros. É isso, ou teremos mais carga tributária, vamos pagar mais imposto para sustentar tudo isso.


O “soltador” Gilmar Mendes joga a pá de cal sobre a Lava Jato
Está difícil para Lula honrar todas as promessas de cargos que fez para aliados
O novo superpoder do Supremo: afastar prefeitos


Aliás, nem sei por que estamos está sustentando o Congresso; o Judiciário está substituindo o Legislativo; são 30 mil pessoas no Congresso, o Supremo está fazendo as leis e o Congresso fica calado. Lembro do tempo em que Antônio Carlos Magalhães ou Jarbas Passarinho presidiam o Congresso. Não aconteceria o que acontece com o Supremo de hoje. O STF daquela época não fazia isso: quando vinha algum pedido de partido político pequeno, que não tinha voto no plenário, sobre questões internas, legislativas, o Supremo simplesmente mandava para o arquivo e dizia que não era assunto dele; que resolvessem no plenário da Câmara ou do Senado. Agora não: a Rede, de Randolfe Rodrigues, foi lá, pediu e Gilmar atendeu.

E poucas horas depois o Legislativo foi atropelado de novo no caso das emendas de relator, que são uma questão interna, um hábito de anos, de negociações entre Executivo e Legislativo. O Supremo disse que isso é inconstitucional. Agora Câmara e Senado estão sem saber o que fazer; fizeram resoluções para substituir uma decisão do Supremo, mas não adiantou. O voto decisivo foi de Ricardo Lewandowski, que seguiu a relatora Rosa Weber. O pedido veio do PSol, do Partido Verde, do PSB e do Cidadania, que é o novo nome do Partido Comunista Brasileiro.

Apartamento de luxo será a nova “prisão” de Sérgio Cabral
E, em mais uma cortesia do Supremo, lamentamos a sobrevivência da impunidade no Brasil. Consolidou-se nesta segunda-feira, quando a 13.ª Vara Federal de Curitiba, aquela que havia sido do ex-juiz Sérgio Moro, foi obrigada a emitir o alvará de soltura para Sérgio Cabral, para quem 425 anos de condenação passaram rápido, passaram em seis anos. Também por decisão do Supremo. Ele vai ficar em prisão domiciliar, em seu belo apartamento. Lembro de quando Paulo Maluf recebeu prisão domiciliar e ficou em seu palacete, no bairro dos Jardins, em São Paulo. A impunidade sobrevive neste país.


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