domingo, 4 de dezembro de 2022

REVOGAÇO DE LULA NÃO ENCONTRA APOIO NO CONGRESSO

 

Desenhado por equipe de Lula esbarra em negociação com Congresso

História por Beatriz Bulla, Adriana Ferraz e Lauriberto Pompeu • Jornal
Estadão

BRASÍLIA E SÃO PAULO – Debatida antes mesmo da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a lista de revogações de medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro abrange áreas como desarmamento, educação, saúde, ambiente e economia. São regras editadas ao longo dos últimos quatro anos que, a partir de 2023, podem ser anuladas ou substituídas com uma canetada do presidente eleito. A extensão do “revogaço”, porém, dependerá de negociação com o novo Congresso.

Parlamentares de oposição querem ser chamados para tratativas. Em café da manhã na casa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na quarta-feira passada, integrantes da chamada “bancada da bala” disseram que estão atentos à pretendida mudança na política armamentista de Bolsonaro. Eles ameaçam resistir.

A dimensão da base será determinante para diminuir a resistência a um revogaço. Foto: Reprodução/TV Globo© Fornecido por Estadão

“Não será da maneira como Lula acha que vai (ser). Temos um Congresso conservador e não vai prosperar um revogaço”, afirmou o deputado federal eleito Alberto Fraga (PL-DF), político próximo de Bolsonaro que volta à Câmara na próxima legislatura.

O encontro dos deputados com Lira ocorreu horas antes de o presidente da Câmara se reunir com Lula. O petista passou a semana em Brasília em articulações para construir a base do governo. Lula conversa com líderes do MDB, PSD e União Brasil para tentar atraí-los e anunciou apoio à reeleição de Lira, o que abre diálogo também com o PP.

Transição de governo

  • ‘Revogaço’ desenhado por equipe de Lula esbarra em negociação com Congresso© Fornecido por EstadãoEquipe de transição de Lula monta arsenal de propostas para novo governo

A dimensão da base será determinante para diminuir a resistência a um revogaço. A bancada da bala, por exemplo, será composta por 44 deputados em 2023 – dos quais sete deles são do União Brasil. Segundo Fraga, os parlamentares estão abertos a negociar, mas, para isso, Lula não deve “atropelar” o Congresso. “Muita coisa pode ser conversada e certamente o governo vai entender”, disse.

Coordenador do grupo, Capitão Augusto (PL-SP) afirmou que a bancada tem tamanho para paralisar os trabalhos na Câmara. “Se não tivermos a maioria, temos número suficiente para pegar o ‘kit obstrução’ e não deixar tramitar nada, nem nas comissões nem no plenário”, disse ele, que passará o comando da bancada para Fraga no próximo ano.

Revogação será ‘gradual’, diz aliado de Lula

De acordo com o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo de Justiça e segurança Pública da transição, Lula não fará nenhum revogaço sem ouvir quem milita na área. “A revogação será gradual, escalonada no tempo. Há decretos que vão ser revogados de imediato e outros nos cem primeiros dias do governo”, afirmou ele, sobre as propostas relacionadas à política de desarmamento.

A intenção é reverter, em pouco tempo, ao menos os decretos 9.845, 9.846 e 9.847, que flexibilizam a compra e o porte de armas. “Aqueles que têm armas para se defender em propriedades rurais e os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) de verdade não têm motivo para temer”, disse Carvalho.

Revogaço em início de gestão tem um precedente internacional que inspira o futuro governo. Horas depois de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, Joe Biden assinou 17 medidas que alteraram políticas adotadas no governo Donald Trump. “O estrago que Trump fez na democracia americana é o mesmo que Bolsonaro fez (no Brasil)”, afirmou Lula a jornalistas na sexta-feira.

É nesse contexto que o novo governo pretende revogar também 20 medidas de comércio exterior, como informou a Coluna do Estadão. Estão na mira, ainda, atos que estabeleceram protocolos sanitários sem comprovação científica durante a pandemia da covid-19, além de cem decretos e atos normativos relacionados à proteção ambiental, como medidas que impedem a aplicação de multas.

Escolhido para comandar a bancada ruralista a partir do próximo ano, o deputado Pedro Lupion (União Brasil-PR), afirmou, no entanto, que o PT indicou que vai abrir espaço para o diálogo. Segundo ele, as revogações na área de fiscalização ambiental não serão feitas de forma brusca.

“O novo governo tem enviado sinais de que não quer radicalizar”, disse. Ele, no entanto, se queixou que, ao mesmo tempo em que emite essas mensagens, petistas têm agido contra projetos de interesses dos ruralistas no Congresso.

O deputado citou a tentativa da Comissão de Agricultura do Senado de votar o projeto que flexibiliza o uso de agrotóxicos. A análise foi adiada após os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (Cidadania-MA), ambos aliados de Lula, pedirem que o tema seja discutido com o governo eleito.

Lula também tem sido pressionado por entidades da sociedade civil. A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, por exemplo, propõe uma agenda de desenvolvimento sustentável elaborada por mais de 400 colaboradores e pensada para ser colocada em prática nos cem primeiros dias da gestão. Apresentadas aos diversos grupos da equipe da transição, as sugestões estão traduzidas em projetos de lei, decretos e resoluções.

De acordo com o sociólogo Bruno Gomes, que coordenou o grupo de trabalho de mineração da iniciativa, as propostas são resultado de um vasto estudo que não apenas visa a revogação de regras em vigência, mas também alterações. “Não dá para simplesmente revogar, tem de substituir por algo e não deixar nenhum setor sem regras”, disse Gomes.

Apesar da pressão de congressistas e da sociedade civil, o entorno de Lula quer deixar a negociação sobre mudanças normativas para o próximo ano. A avaliação é que a fase atual é de propor a revogação, por parte das equipes técnicas, mas caberá a Lula manejar a execução das sugestões de acordo com condições políticas. “Todos os grupos de transição encaminharam aquilo que acham que é importante para a sociedade, para o setor produtivo, para as dinâmicas de governo”, afirmou a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), do grupo do Meio Ambiente na transição.

Medida não pode gerar insegurança jurídica, afirma professor

O professor Floriano de Azevedo Marques, ex-diretor da Faculdade de Direito da USP, disse que do ponto de vista legal é possível promover revogações respeitando o mesmo status hierárquico da norma que se quer alterar.

“Se a regra foi determinada por meio de um decreto é necessário outro decreto para revogá-la. Se foi por meio de portaria, outra portaria pode modificá-la. Do mesmo modo, uma lei se altera com outra lei”, disse. No último caso, o especialista em direito público afirmou que uma medida provisória tem o poder de sustar os efeitos de uma lei, mas apenas por prazo determinado. Depois, será preciso aval do Congresso.

Marques alertou, porém, que o pretendido revogaço não pode gerar vácuo normativo ou mesmo insegurança jurídica. “Antes de se anular determinada regra é preciso deixar claro o que entrará no lugar, a não ser que a intenção seja somente dar fim a uma liberação, como no caso das armas, ou a um sigilo de dados públicos. Mas, se a ideia é estipular outra situação legal, então será preciso debate público, transparência e tempo.”

CASA BRANCA CONFIRMA A VINDA DE ASSESSOR PARA ENCONTRO COM LULA E BOLSONARO

 

Visita ao Brasil
Agência EFE


Na reunião em Brasília, assessor de política externa do presidente americano deve discutir com Lula visita aos Estados Unidos que deve ocorrer ainda este mês| Foto: EFE/André Borges

BRA300. BRASILIA(BRASIL), 02/12/2022.- El presidente electo de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ofrece una conferencia de prensa hoy, en el Gabinete de transición del Gobierno, en Brasilia (Brasil). EFE/ Andre Borges


Jake Sullivan, principal assessor de política externa do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viajará ao Brasil na próxima segunda-feira (5) para buscar uma aproximação com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e definir a data de uma visita a Washington que pode acontecer ainda este mês.

A Casa Branca já havia informado à EFE nesta semana que Sullivan pretendia ir ao Brasil, mas nesta sexta-feira (2) a assessoria de imprensa revelou que a viagem inclui um encontro com o próprio Lula.

O governo Biden quer se aproximar de Lula antes que tome posse em 1º de janeiro de 2023, com o objetivo de assentar as bases para um bom relacionamento entre os dois líderes, assim como fez o governo do republicano George W. Bush (2001-2009) com o brasileiro na primeira vez que se tornou presidente.

Naquela ocasião, Bush convidou Lula à Casa Branca em dezembro de 2002, pouco antes da posse.

Embora Bush e Lula estivessem em polos opostos do espectro ideológico, construíram um bom relacionamento pessoal que ajudou a melhorar as relações bilaterais.

Lula revelou em entrevista coletiva na sexta-feira que pensa em se encontrar com Biden ainda este mês. A visita deve acontecer entre 12 de dezembro, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizará sua diplomação como próximo presidente, e antes de sua posse, marcada para 1º de janeiro.

Segundo Lula, a data será definida durante a visita a Brasília de Sullivan e outros funcionários de alto escalão do governo americano.

Sullivan também deve se reunir com o secretário especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, e com o senador Jaques Wagner, amigo pessoal de Lula, informou a Casa Branca em comunicado nesta sexta-feira.

Além disso, se reunirá com a equipe do presidente Jair Bolsonaro, mas a Casa Branca não citou um encontro com o próprio governante, grande defensor do ex-presidente Donald Trump (2017-2021), a quem Biden derrotou nas eleições de 2020.

Segundo a Casa Branca, os encontros de Sullivan com autoridades brasileiras serão pautados por quatro temas: combate à mudança climática, segurança alimentar, migração regional e promoção da diplomacia, temas que Washington quer priorizar na relação bilateral.

Os Estados Unidos foram um dos primeiros países a reconhecer a vitória de Lula sobre Bolsonaro em outubro deste ano. Lula e Biden, que já se conhecem de quando o americano era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017), conversaram por telefone um dia após a confirmação da vitória do brasileiro, quando ambos já se comprometeram a trabalhar juntos.


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AUMENTO E CRIAÇÃO DE IMPOSTOS NÃO PAGARÁ A PEC DA TRANSIÇÃO

 

Artigo
Por
Murillo Torelli – Gazeta do Povo

O presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva, acompanhado de seu vice, Geraldo Alckmin e de coordenadores da transição, posam para foto após reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco


Lula e seus aliados costuram o texto da PEC de Transição junto ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Novo governo, novas necessidades de gastos, “PEC da Transição” e gastança. Não existe milagre, junto com novos gastos também surge a necessidade de novos recursos financeiros e econômicos. O governo não produz, não é indústria, não é comércio e não é prestador de serviço, sua receita vêm dos tributos.

Do ponto de vista das receitas, uma das tributações que tem seu debate, antes mesmo das eleições, é a tributação sobre os lucros e dividendos. Na visão do governo eleito (PT), os lucros e dividendos deveriam ser tributados e de maneira similar à renda do trabalho e do capital. Na linguagem popular, o dividendo deveria ser tratado como o salário, sendo tributado na tabela progressiva.

No ano de 2021, as empresas brasileiras distribuíram um pouco mais de 500 bilhões de reais em lucros e dividendos, considerando uma tributação média de 7,5% sobre os lucros distribuídos a arrecadação seria de 37,5 bilhões de reais, com uma taxa de 15% a nova arrecadação ficaria em 75 bilhões de reais e, com uma taxa de 27,5%, seriam arrecadados 137,5 bilhões de reais.

Nem com a taxa máxima do IRPF (27,5%) nos dividendos seria possível arrecadar o valor suficiente para cobrir a necessidade da PEC da gastança, que tem previsão de gastos 200 bilhões de reais anuais. Propostas sociais são importantes e necessárias para o país, mas novo governo, novos gastos, novas tributações sem responsabilidade fiscal e econômica não dá para ter paciência!

A carga tributária no Brasil já é alta, considerando os serviços públicos que temos. Antes de aumentar os tributos e gastos, o novo governo deveria se preocupar em reduzir o tamanho do Estado. Talvez uma reforma administrativa e política sejam mais prioritárias que uma reforma tributária para tributação dos lucros e dividendos.

Murillo Torelli é professor de contabilidade financeira e tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).


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LULA TERÁ MUITOS INIMIGOS E ALIADOS

 


Além do STF: os adversários e aliados que Lula vai encarar em outros tribunais superiores
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Isolda Araújo de Oliveira, de 83 anos, ao deixar o CCBB


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Isolda Araújo de Oliveira, de 83 anos, ao deixar o CCBB| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir seu novo mandato, daqui a 30 dias, encontrará nos tribunais superiores do Poder Judiciário um grande número de ministros que chegaram aos cargos à época das primeiras gestões do petista (2003-2010). Outro número significativo de magistrados foi nomeado para as funções durante o governo de Dilma Rousseff (2011-2016).

Somando os nomeados tanto por Lula quanto por Dilma, os ministros indicados durante os governos do PT estão em maioria no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Superior Tribunal Militar (STM) e no Tribunal Superior do Trabalho (TST), mesmo com o PT fora do poder central há mais de seis anos.

O quadro se repete no Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Judiciário. Dos 11 atuais ministros da Corte, sete foram nomeados por Lula ou Dilma. As exceções são Gilmar Mendes, indicado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Alexandre de Moraes, que foi escolha de Michel Temer (MDB), e os dois ministros há menos tempo no tribunal, ambos selecionados por Jair Bolsonaro (PL): Kássio Nunes Marques e André Mendonça.

A liderança do PT no critério “indicações” tende a ser ampliada nos próximos anos, uma vez que, com a volta ao poder, Lula terá o direito de apontar novos nomes para os tribunais superiores. No STF, serão no mínimo duas vagas abertas no próximo quadriênio, as de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, já que ambos completam 75 anos em 2023. O STJ deverá ter a aposentadoria de quatro ministros, mesmo número de vagas que deve ser aberta no STM. Já no TST, a expectativa é de três vagas abertas.

A idade de 75 anos é o teto permitido para que magistrados continuem ocupando as funções públicas. O patamar foi estabelecido em 2015, quando uma emenda à Constituição modificou o nível antes estabelecido aos 70 anos. A movimentação para criação da emenda foi batizada de “PEC da Bengala” e teve como principal articulador o presidente da Câmara na ocasião, Eduardo Cunha. Rompido com o governo federal, à época comandado por Dilma Rousseff, Cunha conduziu a aprovação da PEC para retardar a aposentadoria de ministros e, assim, tirar de Dilma o poder de nomeação de outros magistrados.

A “PEC da Bengala” acabaria posteriormente sendo criticada por apoiadores do presidente Bolsonaro. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) apresentou em 2019 um projeto para outra emenda à Constituição que anularia os efeitos da emenda de 2015 e devolveria o teto aos 70 anos. A parlamentar justificou a proposta pela necessidade de “romper a estagnação” do Judiciário, mas sua iniciativa permitiria a Bolsonaro apontar mais nomes às Cortes do que realmente foi feito.

O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, mas se encontra paralisado desde novembro do ano passado.


STJ tem ministro nomeado por Lula que se aproximou de Bolsonaro
Autointitulado “tribunal da cidadania”, o STJ tem atualmente 30 ministros em atividade: 15 nomeados por Dilma, 11 escolhidos por Lula e quatro selecionados por FHC.

Na próxima terça-feira (6), tomarão posse os dois primeiros nomes escolhidos por Bolsonaro: Messod Azulay Neto e Paulo Sérgio Domingues. Eles foram apontados para o cargo em agosto, mas a apreciação de seus nomes pelo Senado, parte essencial do processo, foi concluída apenas em novembro.

A demora entre uma etapa e outra motivou sugestões para que o Senado deixasse “na geladeira” as indicações, que permaneceriam em aberto e com isso se abriria uma janela para que as vagas fossem preenchidas por nomes selecionados por Lula. A possibilidade gerou reações de instituições ligadas ao Judiciário e as indicações foram confirmadas.

Mas o cenário do “congelamento” da indicação acabou se confirmando na Defensoria Pública da União (DPU), em que o Senado deixou de deliberar sobre o nome de Daniel Macedo e o novo comandante do cargo será definido por Lula.

A atual presidente do STJ é a ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura, indicada à Corte em 2006 por Lula. Seu antecessor foi Otávio de Noronha, apontado em 2002 por FHC para o posto. Noronha comandou o STJ entre 2018 e 2020 e ao longo do período se aproximou do presidente Bolsonaro, a ponto de ter tido seu nome especulado como futuro integrante do STF. “Eu confesso que a primeira vez que o vi foi um amor à primeira vista. Me simpatizei com Vossa Excelência”, disse Bolsonaro em um discurso em abril de 2020.

Noronha tomou algumas medidas judiciais que agradaram Bolsonaro, como a concessão de habeas corpus ao ex-policial Fabrício Queiroz, amigo do presidente, e a derrubada de decisões que obrigavam o chefe do Executivo a mostrar seus testes de Covid-19.

Outro ministro do STJ que se aproximou de Bolsonaro é Humberto Martins, que também foi cotado para o STF. Martins chegou ao STJ em 2006, também na gestão Lula. O ministro foi publicamente citado como opção para o STF pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente da República. Mas Martins acabou preterido e a “disputa” terminou vencida pelo atual ministro André Mendonça.

Aposentadoria tira do STM ministro que falou em “esticar a corda”
O general Luís Carlos Gomes Mattos foi presidente do STM até julho, quando completou 75 anos e recebeu a aposentadoria compulsória. Ele havia chegado ao tribunal em 2012, durante o governo Dilma.

Apesar da nomeação na gestão da ex-presidente, Mattos adotou posturas rejeitadas pela esquerda. Em 2021, disse que a oposição a Bolsonaro estaria “esticando a corda” e que isso poderia motivar ações “fora da Constituição”. Ele declarou também que o Brasil estaria vivendo um período de crescimento econômico e que Bolsonaro “se elegeu para combater a corrupção”.

Em abril de 2022, Martins disse não ter visto relevância na divulgação de áudios de antigas sessões do STM que comprovariam a ciência, por parte do tribunal, de crimes de tortura cometidos por agentes do governo durante a ditadura militar (1964-1985). Martins afirmou que a veiculação das gravações “não estragou a Páscoa de ninguém” e que faria parte de um intuito de prejudicar a reputação das Forças Armadas.

TCU tem ministro que insinuou golpe militar
Apesar do nome, o Tribunal de Contas da União (TCU) não pertence ao Judiciário e tem a maior parte dos seus ministros selecionada por parte do Congresso Nacional. A Corte costuma, historicamente, ter em sua cúpula políticos de carreira que optaram por deixar as disputas eleitorais. Como exemplo, estão no TCU atualmente os ex-senadores Antonio Anastasia (MG) e Vital do Rego (PB).

Um dos “políticos-ministros” do tribunal é Augusto Nardes (RS), que foi deputado federal por três mandatos e passou seus últimos anos de vida política filiado ao PP. Nardes se tornou notícia nos últimos dias após divulgar um áudio em que insinua a formação de um movimento entre os militares no Brasil que poderia culminar em um golpe de Estado.

A gravação foi feita poucos dias após o segundo turno das eleições presidenciais, cujo resultado é até hoje contestado por apoiadores de Bolsonaro. Após o episódio se tornar público, Nardes disse que é um defensor da democracia e pediu licença do tribunal.


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SENADO MUDA A PEC DA TRANSIÇÃO

 

Quer carimbar destinação de recursos na PEC da Transição

Foto: Dida Sampaio/Estadão

Por Daniel Weterman – Jornal Estadão

Bancada do PSD defende limitar despesa fora do teto a dois anos e mudar texto da PEC para especificar para onde o governo deve enviar os recursos que serão liberados no Orçamento

BRASÍLIA – Após uma semana de negociações, o Senado ainda pressiona o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a entregar mais cargos e verbas em troca da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e discute restringir a destinação dos recursos que entrarão no Orçamento com a aprovação da medida, especificando que áreas deverão ser atendidas pelo novo governo.

A PEC, inicialmente avaliada em R$ 198 bilhões, retira o Bolsa Família do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação. Com isso, ela libera um espaço de R$ 105 bilhões (valor previsto para o programa no ano que vem) no Orçamento de 2023 para novos gastos que ainda não foram detalhadas. De acordo com o texto, a reserva será preenchida com solicitações da equipe de transição. O PSD, partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), passou a cobrar a mudança no texto com a especificação das áreas que serão atendidas.

Como mostrou o Estadãoa equipe de Lula concordou em negociar a destinação dos recursos com parlamentares em troca da aprovação, mas a fatura cobrada no Congresso é maior. Partidos pedem a Lula a nomeação de ministros, a manutenção do orçamento secreto e o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) nas presidências da Câmara e do Senado, respectivamente.

“Queremos que esse dinheiro vá carimbado para não ter desvio de finalidade e esteja especificado na PEC”, afirmou o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), ao Estadão. “O governo tem que se dar por satisfeito se essa PEC for aprovada na atual legislatura. Ele vai demonstrar que teve por parte do parlamento uma tolerância, uma confiança, sem ter tomado posse.”

Senador Nelsinho Trad, líder do PSD no Senado.
Senador Nelsinho Trad, líder do PSD no Senado.  Foto: Eildson Rodrigues/Agência Brasil

A bancada do PSD, que reúne 12 senadores, concordou em apoiar a PEC, mas reduzindo o período de flexibilização do teto de quatro para dois anos. Anteriormente, os integrantes da legenda defendiam um tempo ainda menor, de apenas um ano, mas foram convencidos que o novo governo teria que negociar a aprovação de uma nova proposta já no primeiro semestre de 2023. Líderes de outros partidos, no entanto, ainda cobram a redução.

Por enquanto, a equipe de Lula defende o uso da PEC para abrir o espaço fiscal, deixando a definição do destino das novas despesas para a Lei Orçamentária Anual (LOA). A estratégia, no entanto, é alvo de uma percepção de que o futuro governo quer um “cheque em branco” antes mesmo de tomar posse. Os R$ 105 bilhões passaram a ser alvo dos partidos que querem ministérios do governo. Como mostrou o Estadãolíderes da Câmara e do Senado cobram os cargos para controlar justamente essa verba, se ela realmente for aprovada.

“Quem faz a PEC somos nós. A proposta de carimbar é uma consequência. Sobrou o recurso e a primeira coisa que fazem é perguntar: Vai para onde? Está todo mundo ligado e focado”, disse Nelsinho Trad.

O formato da PEC dependerá das negociações políticas. Nesta semana, Lula esteve em Brasília para articular pessoalmente a proposta. O último encontro foi um jantar com deputados e senadores na quinta-feira, 1.

‘Vai sobrar proposta para o buraco’

O autor da PEC e relator do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), se colocou contra a proposta de carimbar a destinação de recursos no texto da PEC e afirmou que isso será feito na proposta orçamentária. Castro concordou, contudo, em elaborar um relatório detalhado as áreas que o governo Lula quer abastecer com os recursos.

Até o momento, a equipe de transição anunciou algumas prioridades, como o reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo e a recomposição de verbas de programas como o Farmácia Popular e o Minha Casa, Minha Vida. De acordo com cálculos de técnicos do Congresso, porém, R$ 85 bilhões ainda não foram detalhados. Marcelo Castro disse ao Estadão que muitas propostas devem ser apresentadas para preencher o “buraco” da PEC. “O que vai sobrar é proposta para o buraco.”

Nesta sexta-feira, 2, Lula defendeu a aprovação da proposta como foi protocolada no Senado, onde as alterações vão ficar totalmente vinculadas às entregas políticas. Ele quer garantir o apoio fechado do PSD, do MDB e do União Brasil para a PEC, além dos aliados mais próximos, e completar os 49 votos necessários com outros senadores até semana que vem. “Lula está ligando para todo mundo, está conversando mais do que lobisomen e assombração na meia-noite. E isso é bom”, afirmou o senador Jayme Campos (União-MT).

Dois relatores

A equipe de Lula quer pautar a PEC da Transição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na próxima terça-feira, 6. Senadores discutem entregar a proposta a dois relatores: Alexandre Silveira (PSD-MG) na comissão e Davi Alcolumbre (União-AP) no plenário. A divisão é uma tentativa de ampliar o acordo para a aprovação, mas também aumenta a chance de alterações.

Alcolumbre preside a CCJ e assumiu a ponteira da negociação do Senado com o futuro governo. Ele quer ser o relator da PEC, mas enfrenta um impasse porque teria que ceder o comando da comissão para o vice-presidente do colegiado, Lucas Barreto (PSD-AP), durante a votação. Os dois tiveram um rompimento político na campanha eleitoral.

TERRA ARRASADA NO STF

 

O STF diz que os advogados não podem utilizar as regras legais para defender clientes

Por J.R. Guzzo

A pós três anos inteiros de violação maciça do direito de defesa e das prerrogativas legais dos advogados, nos processos tocados em segredo pelo ministro Alexandre de Moraes no seu inquérito criminal para investigar “notícias falsas” e “atos antidemocráticos”, a Ordem dos Advogados do Brasil resolveu, enfim, dizer alguma coisa em nome dos seus associados. Com todo o respeito, perguntou a OAB, será que não daria para o ministro permitir que os advogados defendessem os seus clientes, como determina a lei – a começar por direitos absolutamente elementares, como o acesso aos autos, ou saber do que, precisamente, as pessoas estão sendo acusadas? Para todos os efeitos práticos, a resposta que receberam foi a seguinte: “Vão ver se eu estou na esquina. Não me amolem”.

Foi uma fotografia perfeita, mais uma, da situação de terra arrasada em que se encontram hoje a democracia, os direitos civis e as liberdades públicas neste país. O STF diz, com todas as letras, que os advogados não podem utilizar as regras legais para defender clientes indiciados no inquérito perpétuo, secreto e ilegal de Alexandre de Moraes. É “defesa da democracia”, dizem eles o tempo todo, e para defender “a democracia” o ministro está autorizado a fazer tudo. A resposta de Moraes à OAB é um monumento a essa aberração. Ele apenas afirmou, no português de reprovado no Enem que se vê em quase todos os seus despachos, que não havia do que reclamar. Os direitos de defesa estão sendo observados, alegou – embora seja óbvio, objetivamente, que não estão. Não vai tomar nenhuma providência. Fim de conversa.

O inquérito dos 'atos antidemocráticos' é ilegal na origem.
O inquérito dos ‘atos antidemocráticos’ é ilegal na origem. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

É preciso voltar ao tempo do AI-5, e seus processos secretos na Justiça Militar, para encontrar algo parecido em matéria de agressão às garantias que a lei brasileira dá aos advogados. Talvez seja pior. O inquérito dos “atos antidemocráticos” é ilegal na origem, ao expropriar do Ministério Público o direito, que só ele tem, de iniciar inquéritos criminais – e ao transformar o complexo Moraes-STF em polícia, promotor, vítima e juiz ao mesmo tempo. Em consequência, tudo o que sai dele está contaminado pela ilegalidade. É um clássico da teoria jurídica da “árvore envenenada” – um ato judicial iniciado fora da lei só pode produzir frutos com veneno.

A conduta do STF está envenenada também pela hipocrisia. Ainda há pouco, com o apoio dos “garantistas” (onde estarão eles hoje?), o tribunal exigia a obediência fanática a cada átomo dos direitos dos réus na Lava Jato; por conta disso, praticamente todas as punições foram anuladas – incluindo as de Lula, o que permitiu a sua volta à Presidência da República. Agora é o contrário.

MUITAS VIDAS PERDIDAS NA GUERRA DA UCRÂNIA

 


“Névoa da guerra” encobre número de mortos na Ucrânia

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Pravdyne (Ukraine), 28/11/2022.- Local residents help the police, forensic experts and war crime prosecutors to exhume the remains of six people from a mass grave, at a yard in the village of Pravdyne, outside Kherson, southern Ukraine, 28 November 2022 (issued 29 November 2022). The remains of six people, allegedly killed in April 2022 during the Russian occupation of the village in the Kherson region, were recovered from a mass grave. Russian troops on 24 February entered Ukrainian territory, starting a conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis. (Rusia, Ucrania) EFE/EPA/ROMAN PILIPEY — ATTENTION EDITORS: GRAPHIC CONTENT


Moradores locais ajudam a polícia, peritos forenses e promotores de crimes de guerra a exumar os restos mortais de seis pessoas de uma vala comum, no vilarejo de Pravdyne, na região de Kherson| Foto: EFE/EPA/ROMAN PILIPEY

Quantas vidas foram perdidas na guerra da Ucrânia até agora? É possível que nunca saibamos, devido à própria natureza incerta da guerra. Após quase cinco meses de silêncio sobre baixas, o governo ucraniano apontou um número: entre 10 mil e 13 mil soldados ucranianos morreram, segundo o assessor presidencial Mykhailo Podolyak.

O número parece subestimado. Semanas antes, o Pentágono havia estimado que o número de baixas ucranianas (mortos e feridos) chegaria a 100 mil. As baixas russas chegariam à mesma cifra.

Mas nem mesmo os militares americanos chegaram a fazer distinção dentro dessas 200 mil baixas de quantas pessoas morreram e quantas foram feridas. O senso comum diz que o número de feridos deve ser muito maior que o de mortos.

Também há a estatística diária divulgada pela Ucrânia sobre russos mortos. Na última semana, o número beirava 89 mil. Mas é preciso analisar a cifra com cautela, pois ela é usada por Kyiv dentro de um pacote de propaganda de guerra que visa elevar o moral dos soldados e o esforço de guerra da população civil.

Moscou não tem divulgado estimativas de baixas nem do inimigo nem em suas próprias fileiras. Isso é compreensível dentro da estratégia política russa, que classifica a invasão da Ucrânia como uma “operação militar especial”.

Desde o início dela, em 24 de fevereiro, o Kremlin tenta afastar a guerra do dia a dia da população russa. A ideia é não quebrar uma espécie de acordo tácito, no qual o governo se compromete a entregar estabilidade e prosperidade em troca de uma sociedade que não conteste suas decisões políticas.

Portando, divulgar o número de russos mortos, ou mesmo de ucranianos abatidos, seria admitir a seu público interno que o país está envolvido em uma guerra de grandes proporções – a maior em solo europeu desde a Segunda Guerra.

Além das baixas militares, há também as mortes da população civil ucraniana. O número oficial divulgado pela ONU é de pouco mais de 6,5 mil pessoas. Mas essa cifra é extremamente conservadora. Para se ter ideia, investigações de imagens de satélites identificaram valas coletivas só na região de Mariupol que podem conter mais de 20 mil corpos.

Nunca é demais lembrar que matar a população civil durante um conflito é considerado crime de guerra. A União Europeia está se articulando para criar um tribunal para investigar crimes dessa natureza cometidos pelas tropas russas.

Há ainda os desaparecidos, que não entram nessas estatísticas. As histórias deles estão entre as mais trágicas, pois seus familiares têm de conviver com a incerteza de seu paradeiro.

Nesta última semana, entrevistei a jovem ucraniana Alesya Aulina, que faz parte de um grupo de esposas e mães que não têm notícias de seus familiares. O marido de Alesia, Damir Aulin, era o capitão de uma embarcação da Marinha ucraniana que foi a pique em março. Ele não estava entre os marinheiros resgatados e seu corpo não foi encontrado pelas equipes de resgate. Alesya acha que ele está vivo em uma prisão russa.

“Eu estava no terceiro mês de gravidez. Ele ainda não sabe que já é pai”, me disse a moça aos prantos. “Eu vou criar o meu filho como um homem. Como o pai dele, será um defensor da família e do nosso país”, disse.

Segundo a Comissão Internacional para Pessoas Desaparecidas, uma organização mantida por diversos países, com sede na Holanda, ao menos 15 mil pessoas sumiram desde o início da guerra.

Entre elas estão mortos que nunca tiveram os corpos encontrados, ucranianos forçados a migrar para a Rússia que não conseguiram retornar ou fazer contato com os parentes e combatentes e civis levados para prisões clandestinas russas.

Assim, é provável que o número de mortos na guerra na Ucrânia seja computado somente anos depois do conflito, pelos historiadores, e no formato de estimativa e não de uma cifra comprovada.

O número real deve se perder na “névoa da guerra”. A expressão é de uso comum pelos estudiosos dos conflitos. Ela é inspirada na obra “Da guerra”, do pensador prussiano Carl Von Clausewitz (1780-1831).

Ele classificava a guerra como o “reino da incerteza”, pois a maioria das ações no conflito é envolta em uma névoa de maior ou menos incerteza. Dizia que é nesse ambiente que os combatentes precisam julgar as poucas informações que têm à disposição e tomar as melhores decisões que conseguirem.

O que observo aqui na Ucrânia é que a proporção colossal do conflito – no qual os combatentes nas batalhas são contados às dezenas de milhares – é um dos fatores que mais contribuem para essa incerteza.

Nota sobre o Brasil
Desde 24 de fevereiro, tenho dedicado este espaço da coluna Jogos de Guerra à invasão russa na Ucrânia. Penso tratar-se do conflito mais importante das últimas décadas e seus desdobramentos já estão alterando a geopolítica do mundo e vão ditar o rumo das guerras do futuro.

Contudo, mesmo aqui da Ucrânia, não deixo de acompanhar a realidade brasileira. Na última semana, um comentarista chamado Paulo Figueiredo afirmou que haveria uma divisão política entre direita e esquerda dentro do Alto Comando do Exército. Ele citou nomes de três generais e afirmou que eles estariam impedindo os outros 11 membros do colegiado a intervir no processo eleitoral brasileiro.

Eu venho fazendo a cobertura jornalística dos assuntos do Exército desde 2005, para vários veículos de imprensa. Sempre foi recorrente o pedido de meus editores para “apurar como está o clima no Exército”. Na prática, isso significa tentar saber o que os 14 generais do Alto Comando estão debatendo.

Os jornalistas conseguem ter acesso a alguns desses generais e falar com eles informalmente – já que esses militares não podem se pronunciar oficialmente. Há uma certa rotatividade dos membros do Alto Comando, o que dificulta ainda mais o trabalho dos jornalistas.

Não conheço nenhum colega jornalista que tenha acesso sequer à metade desses generais (me incluo nessa estimativa) e acho improvável que o comentarista que levantou a polêmica tenha. Por isso, ao longo dos anos, aprendi que é possível apurar tendências e levantar assuntos que foram tratados pelo Alto Comando – mas nunca dar uma espécie de placar. Se tentamos fazer isso, acabamos retratando uma visão parcial do todo e podemos prejudicar reputações injustamente.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o general Richard Fernandes Nunes, que tem uma carreira irrepreensível, tanto no setor acadêmico do Exército como no comando de tropas. Ele foi o Secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro durante o período de intervenção em 2018. O comentarista apontou que Nunes atuaria com partidarismo político dentro do Exército. Não tenho dados sobre os demais citados, por isso não comentarei seus casos.

Mas não acredito que haja partidarismo político no Alto Comando. Creio que os generais devem ter discutido, sim, o pedido de intervenção feito por milhares de manifestantes na frente dos quartéis. É possível que tenha havido opiniões favoráveis e contrárias a uma eventual ação da instituição, mas a posição que vale é a do comandante do Exército e a instituição não se envolveu, ao menos até agora.

Escrevo esta nota para recomendar ao leitor de Jogos de Guerra que, independentemente de ser favorável ou contrário ao que pedem os manifestantes na frente dos quartéis, analise com muita cautela os pretensos placares de votos do Alto Comando do Exército. Esse tipo de informação tende a ser um erro de apuração ou uma tentativa de alguma fonte de forçar uma situação.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jogos-de-guerra/nevoa-da-guerra-encobre-numero-de-mortos-na-ucrania/
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CONCENTRE-SE NO QUE VOCÊ MELHOR SABE FAZER E TENHA SUCESSO

 

Paulo Maccedo

Talvez você tenha estranhado o assunto deste texto, então deixe-me contextualizar:

Certa vez o criador da Apple disse: “Concentre-se naquilo que você é bom, delegue todo o resto.”

Foi com esse conceito que ele, Steve Jobs, tornou-se tão grande.

Por sorte, aprendi isso ainda no começo da minha carreira.

Na época, decidi me concentrar no que realmente me considero bom: escrever — enquanto me unia a pessoas que eram melhores em outras áreas.

Resisti à tentação de estudar design, tráfego, programação e desenvolvimento, conquanto o tempo tenha me trazido experiência empírica em tudo isso.

Também parei de sofrer por ter dificuldades com questões relacionadas à gestão, administração e controle financeiro, conquanto também tenha aprendido o suficiente sobre tais assuntos.

Eu sei que um negócio ou profissão muitas vezes exige que façamos várias coisas.

Mas fazer tudo sozinho é uma tentação que deve ser evitada, pelo simples fato de desperdiçarmos muito tempo e energia naquilo que somos medianos, quando poderíamos estar ampliando ainda mais o poder daquilo que fazemos bem.

Entenda, não estou dizendo que as coisas não devam ser feitas quando necessário.

Quando houver necessidade, faça, mas com a seguinte lógica:

“Hoje eu preciso fazer isso, mas um dia irei contratar (ou me unir a) alguém para assumir essa tarefa, a fim de me dedicar aquilo que sei fazer bem.”

Lembro de David Ogilvy, o pai da publicidade moderna, analisando sua própria expertise:

“…minha arrogância é seletiva. Sou miseravelmente medíocre em tudo, exceto em publicidade. Não consigo ler um balanço, não consigo trabalhar num computador, esquiar, velejar, jogar golfe ou pintar. Mas, quando se trata de publicidade, a Advertising Age diz que eu sou “o Rei criativo da publicidade”. Quando a Fortune publicou um artigo a meu respeito e intitulou-o “David Ogilvy é um gênio?”, pedi a meu advogado que a processasse pelo ponto de interrogação.”

Então, sim, é bom ser medíocre em muitas coisas para ser genial em apenas uma.

O mercado valoriza os especialistas acima da média, maspune quem é mais ou menos em vários assuntos.

E se você optar em ser generalista, que a generalidade sirva de apoio à sua maior especialidade. 😉

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sábado, 3 de dezembro de 2022

BOLSONARO ABATIDO E SOB PRESSÃO

 

História por CdB – Correio do Brasil

Por Redação – de Brasília

A imagem levada ao ar pelo canal estatal de TV Brasil, em que generais do Exército batem continência a um presidente sisudo e depressivo, circula pelas redes sociais com o comentário irônico de que há um clima de ‘velório’, “pela expressão catatônica de Bolsonaro”, afirma o jornalista Chico Alves.

Pessoas próximas ao presidente em fim de mandato, Jair Bolsonaro (PL), falam sem reservas sobre seu abatimento profundo. Desde a derrota no segundo turno da eleição, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mandatário tem demonstrado comportamento passivo, sem a energia ou as explosões de fúria que sempre foram características.

Bolsonaro se irrita facilmente com a imprensa e, desde que perdeu a eleição, não fala mais aos repórteres© Fornecido por Correio do Brasil

A imagem levada ao ar pelo canal estatal de TV Brasil, em que generais do Exército batem continência a um presidente sisudo e depressivo, circula pelas redes sociais com o comentário irônico de que há um clima de ‘velório’, “pela expressão catatônica de Bolsonaro”, segundo classifica o jornalista Chico Alves, em sua coluna no portal de notícias UOL.

“Ele acreditava que haveria alguma mudança no quadro político, por conta das manifestações à porta dos quartéis e nas rodovias, mas acho que percebeu que não tem jeito”, opinou à coluna um amigo de Bolsonaro que esteve com ele no último fim de semana, na formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no Rio, e que mantém contato frequente por telefone.

Novo processo

Não bastasse a pilha de processos a que Bolsonaro precisará responder, sem a proteção do cargo, o gabinete de transição do presidente eleito confirmou, nesta manhã, que acionará legalmente o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) após ter detectado indícios de abuso de poder econômico durante as eleições por meio do programa Auxílio Brasil.

Segundo a equipe de Lula, Bolsonaro incluiu 2,5 milhões de pessoas pouco antes da eleição no programa — benefícios que deverão passar por revisão e, se irregulares, serem retirados pelo futuro governo. De acordo com o coordenador de grupos técnicos da transição, o ex-ministro Aloizio Mercadante, a intenção é acionar Bolsonaro em diversas instâncias e órgãos de fiscalização, como Ministério Público, Tribunal de Contas da União e Controladoria-Geral da União.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), uma das coordenadoras do grupo técnico de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, chegou a falar nesta quinta-feira que a questão deve causar a inelegibilidade dos gestores envolvidos.

— (Vamos) chegar a uma relação (de casos), e a denúncia estaremos encaminhado para Ministério Público, CGU, Justiça Eleitoral e para as autoridades cabíveis. O processo pode gerar inclusive inelegibilidade de algumas autoridades públicas se comprovar que elas tinham relação direta ou tinham fim eleitoreiro — adiantou Tebet.

Fraude

Uma das coordenadoras do grupo técnico da transição de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a ex-ministra Tereza Campello, também notou o crescimento anormal na quantidade de beneficiários unipessoais — que residem sozinhos em determinada moradia. A situação pode configurar fraude, caso duas pessoas da mesma família tenham se cadastrado, independentemente uma da outra, com o objetivo de acumular dois benefícios.

Campello mostrou gráficos que indicam que o comportamento do perfil dos beneficiários se manteve constante ao longo do governo Bolsonaro, com exceção de alguns períodos específicos, quando houve aumento dos beneficiários com esse perfil.

Em apenas um mês, no fim do ano passado, 1 milhão de pessoas se cadastraram para receber o Auxílio Brasil como núcleos unipessoais, diz Campello. A situação foi ignorada por eventuais sistemas de controle do Ministério da Cidadania, responsável pelo programa, e se agravou posteriormente.

OBSERVAÇÃO: Enquanto o Presidente Bolsonaro está cheio de processos administrativos dos quais não deve ter culpa nenhuma, temos um Presidente eleito que tinha muitos processos de comportamentos graves e hoje não tem nenhum, todos eles desapareceram através de uma simples canetada.

GOVERNO CORTA O ORÇAMENTO SECRETO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Arthur Lira (PP-AL) assinou ato concedendo aposentadoria ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em razão do período em que o atual chefe do Executivo cumpriu mandato como deputado federal.| Foto: Palácio do Planalto

Cobertor curto ou retaliação política, é o de menos. O presidente Jair Bolsonaro fez a coisa certa ao passar uma tesoura no “orçamento secreto”, como ficaram conhecidas as emendas de relator, ou RP9 no jargão formal do parlamento. Na quarta-feira, 30 de novembro, Bolsonaro assinou um decreto bloqueando a execução de parte dessas emendas e enviou ao Congresso um projeto de lei remanejando recursos do “orçamento secreto” para o pagamento de outras despesas que são de execução obrigatória (ou RP1, na nomenclatura oficial). Essa última intenção, no entanto, pode não prosperar porque será avaliada justamente por aqueles que têm mais interesse na manutenção desse instrumento imoral, que desvirtua a finalidade das emendas parlamentares e sacrifica a isonomia em nome da reabertura de um balcão de negócios entre governo, deputados e senadores.

A bem da verdade, se há gastos de execução obrigatória a realizar até o fim deste ano e que ainda necessitam de recursos, não há alternativa a não ser buscar o dinheiro disponível que estava comprometido nas chamadas “despesas discricionárias”, aquelas que o governo pode ou não executar. Se esse dinheiro é aquele mesmo que havia sido guardado para as emendas de relator, isso é apenas um indicador de como a fome dos parlamentares acabou tomando para si os recursos que deveriam estar alocados em outras rubricas do orçamento. A esse respeito, é preciso lembrar que não existia limite para o “orçamento secreto” até o fim do ano passado; pressionado pelo STF, que determinara maior transparência na alocação das emendas, o Congresso aprovou um projeto de resolução que, entre outros itens, limitava as emendas de relator à soma das emendas individuais e de bancada, o que ainda assim deixava pouco mais de R$ 15 bilhões para as RP9.

O que toda essa discussão deixa evidente são os motivos pelos quais as emendas de relator jamais deveriam existir. O corte é a decisão certa, mesmo se os seus motivos não forem os melhores

Na época, uma declaração do senador Marcelo Castro (MDB-PI), que fora o relator da resolução e hoje é relator do Orçamento de 2023, demonstra bem como o Congresso enxerga o dinheiro do contribuinte, pois o parlamentar insinuou que a sociedade deveria, no fim das contas, ser grata aos deputados e senadores. “O relator do Orçamento deste ano, 2021, fez R$ 30 bilhões de emendas. Fez por quê? Porque quis. Ele poderia ter feito R$ 100 bilhões, não tinha limite. O que é que eu estou fazendo aqui na nossa resolução? (…) Nós estamos fazendo a mais”. Em outras palavras, o que Castro dizia era que o Congresso, se quisesse, poderia ter tomado muito mais dinheiro do contribuinte por meio de um estratagema imoral, mas se contentou em tomar menos, e por isso deveríamos todos respirar aliviados, já que a imoralidade não foi tão grande quanto poderia ter sido…

Se a hipótese do cobertor curto já demonstra o enorme erro embutido nas emendas de relator, cujo objetivo original não tinha relação nenhuma com a forma como elas são usadas hoje, a outra possibilidade expõe outro defeito grave das RP9. Parlamentares que já foram da base do governo acusam Bolsonaro de retaliar politicamente o Congresso – especialmente o Centrão, principal beneficiário do “orçamento secreto” – após a aproximação entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente eleito Lula, e que já resultou na declaração de apoio do PT e de vários outros partidos de esquerda à reeleição de Lira para o biênio 2023-24. “Ninguém vai votar aquela baboseira dele [Bolsonaro] não, o Lira e o [Rodrigo] Pacheco [presidente do Senado] já compuseram com o Lula”, disse à Gazeta do Povo um deputado que se afastou da base aliada.


Que o Centrão fisiológico não tem ideologia é algo que todas as paredes de Brasília sabem. Muitos que até agora se diziam “fechados com Bolsonaro” não pensarão duas vezes antes de “fazer o L” assim que o petista subir a rampa do Planalto – se é que não o estão fazendo desde já – e defender o que antes criticavam. Lira quer seguir dando as cartas na Câmara; o PT precisa de Lira desde já para aprovar a PEC fura-teto, mas também quer construir maioria no Congresso e evitar a repetição de 2015, quando ganhou um inimigo ao bater de frente com Eduardo Cunha, e por isso não se incomoda em apoiar quem agiu como fiel escudeiro de Bolsonaro nos últimos dois anos. Se a mudança do Centrão para a órbita de Lula realmente pesou na decisão do presidente de cortar o “orçamento secreto”, isso apenas evidencia como as emendas de relator, no fim, são também instrumento de barganha política e troca de apoio por recursos que deputados e senadores podem usar como trunfo em suas bases eleitorais.

No fim, o que toda essa discussão deixa evidente são os motivos pelos quais as emendas de relator jamais deveriam existir, ao menos na forma como vêm sendo usadas nos últimos anos. O corte é a decisão certa, mesmo se os seus motivos não forem os melhores. Infelizmente, as perspectivas não são animadoras: o “orçamento secreto” tem tudo para continuar no governo Lula, apesar de ter sido muito criticado pelo petista durante a campanha, e há pressões para transformar sua execução em obrigatória, mostrando como o apetite de parte dos parlamentares pelo suado dinheiro do contribuinte brasileiro não tem fim.


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