domingo, 27 de novembro de 2022

RÚSSIA BOMBARDEIA REDES ELÉTRICAS DA UCRÂNIA

 

Guerra na Ucrânia

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo


A cidade portuária de Odesa às escuras: apagões se tornaram rotina em toda a Ucrânia com as chuvas de mísseis russos| Foto: Luis Kawaguti

Desde o dia 10 de outubro, seguidas chuvas de mísseis – ao menos sete – destruíram aproximadamente metade da rede elétrica da Ucrânia e deixaram mais de 10 milhões de pessoas às escuras – incluindo este colunista. Com a aproximação do inverno, que começa em menos de um mês, a falta de energia pode provocar muitas mortes pelo frio.

Na última semana, o Kremlin negou ter bombardeado deliberadamente a estrutura elétrica do país vizinho. Afirmou que os alvos eram estruturas de comando e controle militares.

Mas, na prática, o objetivo aparente de Moscou é sabotar o moral da população civil. Em tese, o povo se voltaria contra o governo e exigiria um acordo de paz com a Rússia – Moscou precisa desesperadamente de uma trégua para reorganizar suas forças e tentar manter ao menos parte do território anexado da Ucrânia.

Mas o que observo em minhas reportagens pelas cidades da frente de batalha sul – Kherson, Mykolaiv – e também na região portuária de Odesa é que o Kremlin tem obtido o resultado oposto: a população está mais resoluta em resistir.

Na recém libertada Kherson, por exemplo, ouvi inúmeras vezes de moradores que a liberdade compensa a falta de luz, água e aquecimento.

Estação ferroviária de Odesa sem luz: apesar das dificuldades e da proximidade do inverno, a população ucraniana resiste. Foto: Luis Kawaguti
Os apagões já são parte do cotidiano dos ucranianos, não só nas cidades próximas da frente de batalha. Em praticamente todos os núcleos urbanos da Ucrânia hoje é comum ter luz, telefone e internet só por algumas horas por dia.

Experimentei isso de forma mais intensa na última terça-feira (22), quando Odesa, a cidade onde estou baseado, sofreu o pior golpe contra sua rede elétrica. O mesmo ocorreu em Lviv, Zhytomyr, na capital Kyiv e em inúmeras regiões da Ucrânia. As quatro centrais nucleares do país foram desconectadas da rede, algo que não ocorria há 40 anos.

Com apagões, população correu aos mercados no meio da noite para comprar água e mantimentos. Foto: Luis Kawaguti
Antes, os blecautes não duravam mais de um dia e apenas alguns bairros ficavam sem luz simultaneamente. Nesta semana, o apagão foi completo e durou três dias. Pessoas correram para supermercados para comprar água e mantimentos, houve falta de gasolina, as comunicações caíram e o trânsito ficou caótico.

O leitor deve ter uma vaga lembrança do que é andar nas ruas à noite tendo que usar lanternas. O Brasil passou pela crise do apagão entre 2001 e 2002. Não é uma experiência agradável.

Em Mykolaiv, testemunhei o que é não ter luz e também não ter água. As redes de abastecimento que levavam água do rio Dnipro para a cidade foram bombardeadas há meses. A água, quando há fornecimento, é salobra e imprópria para o consumo. As pessoas se habituaram a guardá-la em garrafas plásticas, praticamente apenas para higienizar os banheiros.

Fora isso, instalações médicas também estão sendo deliberadamente bombardeadas – foram mais de 700 ataques desde o início da invasão em 24 de fevereiro, segundo a Organização Mundial da Saúde. Estive em algumas que ainda estão funcionando e a falta de médicos e enfermeiros é evidente.

Também entrevistei cidadãos de Kherson que disseram ter visto dezenas de pessoas do lado de fora de hospitais aguardando atendimento – algumas delas estavam gravemente feridas. Eu testemunhei multidões implorando por remédios para ambulâncias militares.

Ou seja, sem dúvida, a vida ficou muito mais difícil. E vai piorar com a queda das temperaturas.

Mas usar ataques aéreos para destruir a infraestrutura civil de um país, infelizmente, não é uma novidade nas guerras. A prática começou já na Primeira Guerra, quando a Alemanha mandou primeiro zepelins e balões carregados de bombas para atacar a Grã-Bretanha e depois aviões biplanos.

Na Segunda Guerra, a estratégia foi intensificada. Prevalecia a ideia de que o poder aéreo e os bombardeios de alvos civis eram uma forma prática e barata de se tentar submeter o inimigo e forçar sua rendição.

Na prática, é possível atacar a população civil de forma direta – bombardeando áreas residenciais – ou indireta, por meio da destruição da infraestrutura elétrica, redes de abastecimento de água e transportes (a Rússia usa as duas formas na Ucrânia).

Tudo isso torna a vida da população mais sofrida, mas não gera revoltas populares nem abala a resistência dos países atacados.

Foi assim nas guerras da Coreia, do Vietnã e na primeira invasão do Iraque: os Estados Unidos bombardearam e destruíram mais de 90% das redes elétricas de seus inimigos. Mas os governos não se renderam por causa disso. Tanto que na segunda guerra do Iraque, a rede elétrica foi deixada quase intacta.

Por outro lado, esse tipo de ataque ajuda a destruir a economia do país inimigo. Vejo o exemplo mais simples: na cidade de Odesa, há centenas de lojas fechadas por causa da falta de luz. Algumas operam com geradores e outras à base de velas. As vendas são registradas à mão em caderninhos, sem os sistemas de computadores hoje tão comuns até aos pequenos negócios.

Mas como um país como a Ucrânia tenta amenizar os efeitos dos ataques à infraestrutura? Vejo duas formas no meu dia a dia: defesas antiaéreas e reparos em uma escala que seria inimaginável em tempos de paz.

A Ucrânia começou a guerra com um sistema de defesa antiaérea baseado em baterias S-300, de projeto soviético. Elas se destinam basicamente à defesa contra aviões bombardeios, mas não são a arma ideal contra mísseis de cruzeiro e pequenos drones.

Por causa disso, os ucranianos desenvolveram um segundo sistema antiaéreo, destinado principalmente a abater os mísseis russos. Ele integra baterias americanas NASSAMS, alemãs IRIS-T e italianas Asperge. Os drones também são contidos com blindados de defesa antiaérea de curta distância e com mísseis portáteis como os americanos Stinger.

Posso testemunhar o quanto são importantes essas baterias para a manutenção da sanidade mental da população. Quando o alerta de ataque aéreo começa a soar na cidade, é reconfortante saber da existência dessas defesas.

Mas é por isso que os ataques nunca são feitos com um ou dois mísseis. Moscou chegou a lançar 90 mísseis de uma só vez, para saturar a capacidade de defesa antiaérea ucraniana. Invariavelmente, alguns mísseis passam pelo escudo.

Por causa disso, a Ucrânia mantém verdadeiros exércitos de técnicos trabalhando ininterruptamente no conserto de cabos elétricos, vias férreas e tubulações de água. Reparos que eram feitos a cada cinco anos, em média, têm que ser realizados todos os dias.

Mas isso não é suficiente. A rede elétrica básica, por exemplo, levaria em torno de cinco semanas para ser reparada se os ataques parassem agora.

Faço aqui uma observação sobre guerra contemporânea destinada aos estrategistas brasileiros: se entrássemos em guerra, nosso país praticamente não teria defesas antiaéreas. Possuímos apenas baterias de defesa de curta distância (que os militares chamam de média distância, uma questão de nomenclatura) para proteger tropas e infraestruturas específicas.

A defesa aérea se baseia praticamente nos caças Gripen, que estão sendo adquiridos aos poucos. E o avião de caça não é a melhor forma de se lidar com mísseis de cruzeiro. Tenho visto aqui os esforços muitas vezes infrutíferos de pilotos ucranianos para tentar abater esses mísseis.

Sobre a capacidade das empresas brasileiras de reparar redes elétricas, prefiro nem comentar, pois o leitor tem sua própria experiência.

Mas, voltando à Ucrânia: como medidas emergenciais, o governo está pedindo para que as pessoas que puderem deixem o país durante os meses de inverno. Para apoiar as que ficarem, foram criados 4 mil pontos de “invencibilidade”, ou seja, prédios públicos onde é possível encontrar aquecimento, água, mantimentos e abrigos contra bombardeios.

Ou seja, a combinação dos ataques à infraestrutura com a chegada do inverno será penosa, se não letal para uma boa parte da população. Mas a Ucrânia não vai se render por causa disso.

Então, por que o presidente Vladimir Putin continua apostando numa estratégia que se mostrou infrutífera em tantas outras guerras do passado?

Uma explicação pode ser a tentativa de criar novas ondas de refugiados para gerar uma pressão migratória maior na Europa. Em tese, isso pode derrubar governos – embora na prática tal tendência não se verifique: os governos da Itália e do Reino Unido foram recentemente substituídos e esses países não deixaram de apoiar a Ucrânia.

Outra resposta possível à pergunta pode ser simples: vingança de um governante autocrata que viu seus planos expansionistas frustrados.

Em ambos os casos, atacar a população civil, direta ou indiretamente, tem um nome: crime de guerra.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jogos-de-guerra/bombardear-redes-eletricas-nunca-surtiu-resultado-mas-moscou-insiste/
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HADDAD SERÁ O NOVO MINISTRO DA FAZENDA

 

É um desses casos de fracasso testado e comprovado

Os brasileiros não foram informados a respeito do que Lula quer fazer com a economia do País

Por J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

O ex-presidente Lula nunca disse aos eleitores o que ele iria fazer em relação à economia do Brasil – não disse nem sequer quem iria ser o seu ministro na área. Para qualquer outro candidato, esse tipo de postura seria denunciado como oportunista e irresponsável; afinal, é um dever elementar de quem pretende presidir o País explicar honestamente quais as decisões que pretende colocar em prática em questões essenciais para a vida da população. Em Lula, é claro, a recusa de assumir compromissos e a opção de esconder propósitos foram elogiadas como mais uma prova de sua “sensibilidade política” – não dizendo nada, ele dá a entender que tudo é possível, e com isso recebe o apoio de gente que espera ações opostas umas das outras. O resultado é que os brasileiros ainda não foram informados, um mês após a eleição, a respeito do que Lula quer fazer com a economia do País.

Fernando Haddad participou do almoço de final de ano da Federação Brasileira de Bancos.
Fernando Haddad participou do almoço de final de ano da Federação Brasileira de Bancos. Foto: Reprodução TV Globo

Fala-se, agora, numa arrumação amarrada com barbante para “dividir” a administração da economia em dois pedaços, cada um querendo coisas diferentes – um pedaço de esquerda, com as mesmas soluções que dão errado há 100 anos, e um pedaço descrito como mais “liberal”. Tem tudo para dar errado, é claro, como sempre acontece com a fabricação de miragens – mesmo porque quem vai mandar de verdade é um dos lados, enquanto o outro vai ficar fingindo o desempenho de um papel de “moderação” que resultará em três vezes zero. No caso da gambiarra que vem sendo cogitada para a “equipe econômica”, tanto faz quem vai ficar no papel de “liberal” – se não vai resolver nada mesmo, podem colocar qualquer um. Já o nome do outro ministro, aquele que decidirá de fato as coisas porque vai estar lá para executar as ordens de Lula, pode fazer diferença, e muita, no seu grau de ruindade.

O nome que a esquerda colocou no ar é uma garantia de falência. Foi um ministro da Educação ruim; foi um prefeito de São Paulo pior ainda. É um desses casos de fracasso testado e comprovado. Vive de intenções, não de resultados. Tem desejos e não um programa de governo. Não quer fazer, objetivamente, nada de bom para o Brasil; só quer experimentar ideias e essas ideias são um curso completo na arte de fazer a coisa errada. É um clássico, em matéria de PT – esse tipo de governante que quer acabar com a pobreza mantendo vivos, na folha de pagamento do Estado, os Correios, o Dataprev e outros bichos da mesma espécie, ou então socando mais gente na máquina estatal, ou criando empresa estatal. São os que acham que a estabilidade financeira torna impossível o progresso social. O resto do que querem é parecido. Não há nenhum risco de dar certo.

NOVO GOVERNO VAI RECRIAR O BOLSA FAMÍLIA

Foto: Alex Silva/Estadão

Por Luiz Guilherme Gerbelli – Jornal Estadão

Distorções no Cadastro Único do atual Auxílio Brasil, notadas pelo TCU e pelo próprio Ministério da Cidadania, acendem o sinal amarelo da equipe de transição: 3 milhões de pessoas correm o risco de perder o benefício no início de 2023

Apenas garantir um valor maior para o novo Bolsa Família – atual Auxílio Brasil – não vai ser suficiente para que o próximo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha uma política bem-sucedida no combate à pobreza. Sem depurar o Cadastro Único e focar no perfil das pessoas atendidas, o programa pode se tornar ineficiente e ter um resultado abaixo do seu potencial. E a equipe de transição do novo governo sabe que será necessário um “pente-fino” nos benefícios, de olho especialmente nas concessões individuais.

A avaliação é que o País passou a enfrentar uma distorção no Cadastro Único. Houve um forte crescimento na quantidade de famílias compostas por apenas um integrante – chamadas de unipessoais – incluídas pelo programa social. Em agosto, cerca de 5,3 milhões estavam nessa condição.

O Ministério da Cidadania já instaurou um procedimento para averiguar o aumento de famílias unipessoais beneficiadas e informou que também faz um “tratamento de todo o público do Cadastro Único” em parceria com a Dataprev.

No caso das famílias unipessoais, a apuração vai ter início para os cadastrados incluídos ou atualizados após novembro de 2021, quando somavam 2,2 milhões. Ou seja, 3 milhões de beneficiários terão de atualizar os dados para evitar o bloqueio do benefício. “Existe uma agenda de qualificação de cadastro. É uma agenda grande e que apresenta um enorme desafio”, diz Vinicius Botelho, ex-secretário de Desenvolvimento Social e Cidadania.

No Cadastro Único, o beneficiário faz uma autodeclaração da renda e composição familiar. No auge da pandemia, a maneira como se deu a inscrição ajudou a provocar uma deterioração da base de dados. Para liberar o Auxílio Emergencial, depois transformado em Auxílio Brasil, o governo Jair Bolsonaro possibilitou a adesão de beneficiários por meio de aplicativo, sem a necessidade de uma grande atuação de agentes dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) para, por exemplo, fazer o mapeamento dos mais pobres e acompanhar o perfil da população inscrita.

Na equipe de transição, a principal preocupação tem sido com a qualidade do cadastro e com a herança que será deixada pela apuração aberta pelo Ministério da Cidadania. “Isso vai impactar o governo, vamos assumir com um processo em que não fomos consultados”, afirma Tereza Campello, uma das coordenadoras da área de assistência social da transição. “Não estou reclamando de o governo ter aberto esses processos, mas deveria ter feito isso antes.”

O novo governo também foi alertado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a distorção. “O governo Lula vai assumir com 1 milhão de pessoas sendo chamadas em janeiro e 2 milhões de pessoas sendo chamadas em fevereiro para comparecer ao Cras ou (os benefícios) vão ser bloqueados”, afirma Campello. “A pessoa não vai receber e o que ela vai fazer? Vai no Cras tentar saber o que aconteceu. Vamos ter o governo assumindo com um monte de fila.”

Critica ao desenho

Além da defasagem do Cadastro Único, outra grande crítica dos analistas é a de que o desenho do atual Auxílio Brasil leva em conta a renda familiar, não a per capita. Ou seja, famílias com dois ou seis integrantes recebem os mesmos R$ 600. “Um bom desenho de programa considera a composição familiar para definir a transferência”, afirma Laura Muller Machado, professora do Insper e ex-secretária de Desenvolvimento Social de São Paulo.

O próximo Bolsa Família deve custar R$ 175 bilhões, conforme prevê a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que retirou o benefício do teto de gastos e manteve o valor de R$ 600, além de criar um adicional de R$ 150 por crianças com até seis anos. Se confirmado, será um montante gasto que vai equivaler a quase cinco vezes o orçamento do programa original, que era de R$ 33 bilhões – em valores corrigidos pela inflação, chega a R$ 41 bilhões.

Novo Bolsa Família deve levar em conta a composição familiar
Novo Bolsa Família deve levar em conta a composição familiar Foto: Agência Senado

“Na atual gestão, houve uma desintermediação da política social”, diz Marcelo Neri, diretor do FGV Social. “Toda a literatura (de combate à pobreza) está baseada na renda per capita, não na do domicílio. No desenho atual do Auxílio Brasil, ele estima que há um desperdício de 55% de dinheiro. “Poderia se fazer mais com os mesmos recursos.”

O formato do novo Bolsa Família, diz Tereza Campello, que atuou como ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome na administração Dilma Rousseff, só deve ficar mais claro no novo governo. “O nosso projeto quer retomar as principais características do Bolsa Família”, afirma. “A primeira é que o desenho levava em conta a composição familiar, e a segunda questão é que o programa considerava fundamental que crianças e gestantes tivessem direito e acesso à educação e à saúde.”

Superação da pobreza

Mais do que resolver a questão de curto prazo da assistência social, o Brasil tem um desafio importante de fazer com que os beneficiários do programa social superem a pobreza de forma definitiva.

No ano passado, 9,5% da população brasileira vivia na situação de extrema pobreza – com uma renda per capita mensal inferior a R$ 193 –, maior patamar desde 2007, quando 10,7% estavam nessa condição, mostram dados compilados pela professora do Insper.

“O desenho de um programa de porta de saída, que vai fazer com que as pessoas alcancem uma autonomia, não está claro”, afirma Laura. “O Brasil Sem Miséria, por exemplo, era um programa bem desenhado, documentado e tinha uma proposta de como incluir produtivamente no mercado de trabalho quem estava na área rural e quem estava na área urbana.”

Não há uma regra para a superação da pobreza. É preciso levar em conta a realidade de cada família e região do País. A solução pode estar em conseguir uma creche para uma mãe solteira que precisa trabalhar ou garantir cursos de profissionalização para um trabalhador desempregado.

“Só transferir renda não é suficiente. São necessárias três coisas. A assistência, claro, é uma delas, e um valor mais alto já resolve boa parte dos problemas, mas não é suficiente”, afirma Naercio Menezes, coordenador da Cátedra Ruth Cardoso e também professor do Insper. “É preciso também ter um sistema de educação e saúde de qualidade.”

 

COMECE UM NOVO NEGÓCIO COM POUCO DINHEIRO

Michael Aboud. Aboud – Empresário, palestrante e autor de best-seller

Dicas para começar um negócio com pouco investimento

Quer abrir um negócio do zero, mas não tem investimento? Muitas pessoas pensam em iniciar um empreendimento seja para completar renda ou ter uma fonte de recursos maior, capaz de fazer mudar de vida. Mas para que essa seja uma ação de sucesso, é preciso que o futuro empresário saiba e acredite que é possível dar esse passo.

 É possível começar com pouco dinheiro?

 Felizmente a resposta é sim! E temos muitos exemplos disso. A Amazon, de Jeff Bezos, partiu de uma pequena revendedora de livros usados, ainda com o nome de “Cadabra”, para se tornar uma das marcas mais valiosas do mundo. No Brasil temos exemplos de empresas como Magazine Luiza, MercadoLivre, Nubank e muitas outras que nasceram pequenas e tornaram-se potências mundiais. Porém, para que isso funcione para você é preciso levar a sério a sua realidade e observar os custos envolvidos.

Para te ajudar, nós consultamos o especialista em alavancagem empresarial Michael Aboud. Aboud é empresário, palestrante e autor de best-seller. Ele nos ajudou com dicas para abrir um negócio de forma planejada e organizada para tirar a sua ideia do papel.

1- Crie soluções

 Um negócio com chances de dar certo é aquele capaz de oferecer algum tipo de solução para o cliente, seja prestando algum tipo de serviço ou oferecendo algum produto interessante, de qualquer maneira está atendendo a uma demanda e portanto criando uma solução. Uma loja de roupas supre a demanda dos clientes que precisam ou querem comprar roupas novas, um hotel supre a necessidade de quem precisa de uma hospedagem temporária e por aí vai.

 Soluções muito simples podem se tornar negócios poderosos, então antes de mais nada avalie qual tipo de solução você pode trazer para alguém e comercialize isso. 

2- Crie um plano de negócios

Um plano de negócios é o primeiro passo quando você decide iniciar um negócio. O processo que à primeira vista parece complicado, fica mais fácil se você pesquisar bastante, ler sobre o assunto, ou utilizar algum tipo de software ou aplicativo.

Planejar significa determinar onde sua empresa quer chegar e quais caminhos tomar para atingir metas e objetivos. Ao planejar metas e estratégias com antecedência, o gestor evita perder dinheiro ao começar o negócio do zero.

3- Conheça seu público

O plano de negócios da empresa está alinhado com o conhecimento do público-alvo que sua marca irá atender. Isso permite que você escolha a melhor forma de começar sua empresa e promover estratégias de mercadologia de acordo com seu público-alvo e perfil do cliente ideal.

Para conhecer seu público-alvo, saia a campo com pesquisas, pessoalmente ou de forma virtual.

Ao pesquisar o cliente ideal o empreendedor deve conhecer a faixa etária pretendida, em que este grupo-alvo está concentrado e quais interesses. Verifique que tipo de solução você pode oferecer aos problemas e demandas do seu cliente. Sua posição no mercado se tornará mais forte e eficiente.

Pode parecer estranho falar em “problemas” do consumidor, mas quando você entra em um boutique está procurando o produto ou serviço que vai resolver suas necessidades. É importante saber o que seu público quer.

4- Planejamento de marketing

Deduz que é muito cedo para planejar suas estratégias de marketing? É hora de repensar essa ideia! O marketing não é apenas promover seus produtos ou serviços após a abertura da empresa. Ele também é responsável por adicionar novos clientes para conhecer o seu negócio e pela maneira como sua empresa será vista.

O objetivo do marketing também é atrair esses potenciais consumidores, os chamados prospects, atraindo-os para saber mais sobre seus produtos e serviços e, portanto, é imprescindível criar uma estratégia de marketing a curto, médio e longo prazo.

5-Aposte no diferencial competitivo e compreenda o mercado

O diferencial competitivo de uma marca é aquilo que a diferencia das concorrentes. O fator competitivo da empresa envolve a noção de valor e preço. Você sabe diferenciá-los?

O preço é aquele número objetivo, indicado na etiqueta, que mostra o quanto o cliente precisa desembolsar por um produto ou serviço. Já o valor tem caráter subjetivo, e depende da percepção do próprio cliente.

O que faz o consumidor pagar mais caro em um produto de uma marca conhecida, mesmo diante de uma opção mais barata e de qualidades semelhantes a do primeiro produto? A resposta é o valor.

Agregar valor deve ser o objetivo da sua organização desde a abertura. Quem quer começar um negócio do zero deve estar disposto a investir em seus diferenciais competitivos para sair na frente em um mercado cada dia mais acirrado.

O atendimento é um diferencial que salta aos olhos do consumidor! Invista na qualificação da sua equipe de colaboradores, incluindo treinamentos constantes. Manter um registro dos clientes também ajuda no processo.

6- Controle os processos

Reunir dados e manter registros de nada adianta se o gestor não os utiliza na sua função. Não deixe de avaliar o desempenho da sua equipe de colaboradores e mensurar o sucesso de cada estratégia aplicada.

Todo processo precisa ser bem gerido e avaliado após seu desempenho. Para otimizar a precisão das análises, o empreendedor que aceita o desafio de começar seu negócio do zero precisa contar com o respaldo da tecnologia.

7- Faça parcerias estratégicas

A sociedade é uma alternativa comum e bastante utilizada. Geralmente, uma pessoa entra com o recurso e outra com a ideia ou a execução do projeto.

Saiba escolher bem seus sócios ou os parceiros do seu negócio. Os envolvidos no projeto devem ter expectativas e objetivos bem alinhados. Definir responsabilidades também é fundamental para evitar problemas no futuro.

8- Defina seus produtos ou serviços

Esse é o momento de desenhar a solução para o problema identificado. Para que uma empresa tenha sucesso, é preciso oferecer aquilo que realmente possa resolver os problemas dos consumidores. Então, pense em como você pode fazer isso e quais são os benefícios do seu produto ou serviço.

Por exemplo, um problema pode ser a dificuldade dos empreendedores em implementar estratégias mais eficientes para enfrentar a crise que alterou o hábito de compra dos consumidores, fazendo com que eles comprem menos. Com isso, uma oportunidade de negócio é oferecer consultorias em marketing para as empresas.

Portanto, neste caso, o nicho de negócios é o marketing digital, em que podem ser ofertados serviços de produção de conteúdo para a web de acordo com o perfil do consumidor online ou a criação de campanhas publicitárias criativas e impactantes.

9- Conheça as questões burocráticas

Muitas pessoas ignoram as questões burocráticas, mas não dá para começar um negócio sem conhecer os aspectos legais que regem o comércio e a publicidade, seja em sua cidade, seja na internet.

Por exemplo, se você for abrir um restaurante é preciso saber quais as licenças obrigatórias da vigilância sanitária, alvará de funcionamento e direitos do consumidor.

10- Honestidade e justiça

Integridade e honestidade são valores muito importantes para o sucesso de um empreendedor. A boa reputação de um empresário ou empresa conta mais do que qualquer tipo de propaganda ou estrutura, portanto é importante agir com honestidade e justiça com todos ao redor para a prosperidade nos negócios.

ESCALANDO NEGÓCIOS DA VALEON

1 – Qual é o seu mercado? Qual é o tamanho dele?

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

2 – Qual problema a sua empresa está tentando resolver? O mercado já expressou a necessidade dessa solução?

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

3 – Quais métodos você usará para o crescimento? O seu mercado está propício para esse tipo de crescimento?

Estratégias para o crescimento da nossa empresa

  1. Investimento na satisfação do cliente. Fidelizar é mais barato do que atrair novos clientes.
  2. Equilíbrio financeiro e rentabilidade. Capital de giro, controle de fluxo de caixa e análises de rentabilidade são termos que devem fazer parte da rotina de uma empresa que tenha o objetivo de crescer.
  3. Desenvolvimento de um planejamento estratégico. Planejar-se estrategicamente é como definir com antecedência um roteiro de viagem ao destino final.
  4. Investimento em marketing. Sem marketing, nem gigantes como a Coca-Cola sobreviveriam em um mercado feroz e competitivo ao extremo.
  5. Recrutamento e gestão de pessoas. Pessoas são sempre o maior patrimônio de uma empresa.

O mercado é um ambiente altamente volátil e competitivo. Para conquistar o sucesso, os gestores precisam estar conectados às demandas de consumo e preparados para respondê-las com eficiência.

Para isso, é essencial que os líderes procurem conhecer (e entender) as preferências do cliente e as tendências em vigor. Em um cenário em que tudo muda o tempo todo, ignorar as movimentações externas é um equívoco geralmente fatal.

Planeje-se, portanto, para reservar um tempo dedicado ao estudo do consumidor e (por que não?) da concorrência. Ao observar as melhores práticas e conhecer quais têm sido os retornos, assim podemos identificar oportunidades para melhorar nossa operação e, assim, desenvolver a bossa empresa.

4 – Quem são seus principais concorrentes e há quanto tempo eles estão no mercado? Quão grandes eles são comparados à sua empresa? Descreva suas marcas.

Nossos concorrentes indiretos costumam ser sites da área, sites de diretório e sites de mídia social. Nós não estamos apenas competindo com outras marcas – estamos competindo com todos os sites que desejam nos desconectar do nosso potencial comprador.

Nosso concorrente maior ainda é a comunicação offline que é formada por meios de comunicação de massa como rádios, propagandas de TV, revistas, outdoors, panfletos e outras mídias impressas e estão no mercado há muito tempo, bem antes da nossa Startup Valeon.

5 – Sua empresa está bem estabelecida? Quais práticas e procedimentos são considerados parte da identidade do setor?

A nossa empresa Startup Valeon é bem estabelecida e concentramos em objetivos financeiros e comerciais de curto prazo, desconsideramos a concorrência recém chegada no mercado até que deixem de ser calouros, e ignoramos as pequenas tendências de mercado até que representem mudanças catastróficas.

“Empresas bem estabelecidas igual à Startp Valeon devemos começar a pensar como disruptores”, diz Paul Earle, professor leitor adjunto de inovação e empreendedorismo na Kellogg School. “Não é uma escolha. Toda a nossa existência está em risco”.

6 – Se você quiser superar seus concorrentes, será necessário escalar o seu negócio?

A escalabilidade é um conceito administrativo usado para identificar as oportunidades de que um negócio aumente o faturamento, sem que precise alavancar seus custos operacionais em igual medida. Ou seja: a arte de fazer mais, com menos!

Então, podemos resumir que um empreendimento escalável é aquele que consegue aumentar sua produtividade, alcance e receita sem aumentar os gastos. Na maioria dos casos, a escalabilidade é atingida por conta de boas redes de relacionamento e decisões gerenciais bem acertadas.

Além disso, vale lembrar que um negócio escalável também passa por uma fase de otimização, que é o conceito focado em enxugar o funcionamento de uma empresa, examinando gastos, cortando desperdícios e eliminando a ociosidade.

Sendo assim, a otimização acaba sendo uma etapa inevitável até a conquista da escalabilidade. Afinal de contas, é disso que se trata esse conceito: atingir o máximo de eficiência, aumentando clientes, vendas, projetos e afins, sem expandir os gastos da operação de maneira expressiva.

Pretendemos escalar o nosso negócio que é o site marketplace da Startup Valeon da seguinte forma:

  • objetivo final em alguma métrica clara, como crescimento percentual em vendas, projetos, clientes e afins;
  • etapas e práticas que serão tomadas ao longo do ano para alcançar a meta;
  • decisões acertadas na contratação de novos colaboradores;
  • gerenciamento de recursos focado em otimização.

 

sábado, 26 de novembro de 2022

LUVA MOSTRA DESCONHECIMENTO DOS EFEITOS NEGATIVOS DO DÉFICIT

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Lula, presidente eleito: relatório do Banco Inter prevê aumento na dívida pública com a PEC fura-teto.| Foto: Sidat Suna/EFE

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, vem dizendo que não faz sentido respeitar o teto de gastos definido em lei nem o equilíbrio das contas públicas enquanto houver pobreza no país. Lula tem afirmado publicamente que o governo deve gastar mais (sem informar qual o limite) a favor das pessoas e famílias pobres, mesmo sem receitas de impostos suficientes para pagar a conta. Por óbvio, Lula está propondo que os gastos e os déficits fiscais sejam pagos com mais dívida do governo ou emissão de moeda. Ao presidente eleito deveria ser perguntado se ele sabe que déficits repetidos por vários anos, pagos com mais dívida ou impressão de dinheiro, têm consequências graves e nocivas à economia, especialmente aos pobres, e completamente alheias às vontades dos governantes.

Cabe ressaltar, por exemplo, que há diferença entre os efeitos de um déficit feito para construir uma obra (uma ferrovia, um hospital ou uma escola) e os efeitos de um déficit feito para aumentar gastos burocráticos ou custeio com a máquina pública. Mas a diferença nesse caso se refere apenas à qualidade do gasto, não aos efeitos do déficit em si, pois as consequências do aumento da dívida pública ou do aumento da moeda circulante usado para pagar os gastos são as mesmas em ambos os casos. Se o governo decidisse gastar mais com programas direcionados aos pobres e pagasse esses novos gastos com recursos diminuídos de outras despesas, de forma a não piorar o saldo das contas, ocorreria apenas mudança no destino dos gastos, sem provocar elevação do déficit e sem a necessidade de o governo fazer mais dívida ou emitir moeda.

A inflação é a forma mais cruel de anular as boas intenções que levam à emissão de dinheiro acima do aumento do produto nacional, com o triste efeito de punir especialmente aqueles que foram usados como justificativa para explodir os gastos: os pobres

Mas não é disso que Lula anda falando. O que ele anda dizendo é que manterá os gastos que já consomem todo o orçamento público e que vai estourar o teto de gastos definido em lei para aumentar as despesas com programas direcionados aos pobres. A intenção pode parecer algo nobre, porém, se fosse possível explodir as contas públicas, gastar mais e mais, e fazer déficits todos os anos sem criar problemas nem destruir a economia, certamente não haveria pobres no mundo. Por um raciocínio simples, é fácil saber que há limites para o endividamento público, pois quem empresta dinheiro ao governo na moeda nacional são pessoas e empresas, por intermediação do sistema bancário ou comprando diretamente títulos do Tesouro Nacional. E isso tem limites claros.

Sem a possibilidade de fazer dívida ilimitada, a persistência de gastos deficitários obriga o governo a fabricar dinheiro (expansão da base monetária, na linguagem dos economistas) destinado a pagar as contas. É nesse ponto que as nobres intenções não impedem consequências desastrosas capazes de espalhar sofrimento a todos, principalmente aos pobres. O que determina o nível de bem-estar social e o padrão de consumo de um povo é o tamanho da produção de todos os bens e serviços comparado com o tamanho da população. Ou seja, é a economia real que define o padrão de vida, e não o quanto de dinheiro existe em circulação em forma de moeda manual e moeda escritural.

O total de moeda em circulação (os meios de pagamentos) representa o total do produto nacional em circulação (o Produto Interno Bruto, PIB), e a relação entre essas duas quantidades (total de moeda dividido pelo total de produto transacionado) dá um quociente que se poderia chamar de “preço nacional médio”. Se houver aumento do total de moeda manual ou escritural em circulação e não houver aumento do PIB transacionado, esse quociente (preço nacional médio) aumentará, ou seja, haverá aquilo que qualquer pessoa conhece como “inflação”.


Tendo sido presidente da República por dois mandatos, Lula já devia ter aprendido os princípios mais elementares da ciência econômica. Por exemplo, ele deveria saber que todo o dinheiro que existe em circulação – nos bolsos e nas contas das pessoas, das empresas e do governo (municípios, estados e União) – é uma espécie de representação de todos os bens e serviços disponíveis no mercado. Se houver criação de dinheiro a partir do nada, seja moeda em notas de papel ou moeda escritural na conta do governo, o país terá mais dinheiro para representar os mesmos bens e serviços, logo, o dinheiro passa a valer menos. Inflação é isso. Os preços aumentam para se adequar à nova situação de mais dinheiro sem mais produto.

A inflação é a forma mais cruel de anular as boas intenções que levam à emissão de dinheiro acima do aumento do produto nacional, com o triste efeito de punir especialmente aqueles que foram usados como justificativa para explodir os gastos: os pobres. Não é preciso dizer que a inflação pune mais severamente os pobres e os assalariados de baixa renda que as classes de renda mais alta, pois a sociedade percebe isso o tempo todo. Ou Lula não sabe essas coisas e pode acabar impondo sofrimento à população, ou ele sabe e mesmo assim fará a nação sofrer por sua demagogia e incompetência. Goste-se ou não do governo que se encerra, o fato é que o Brasil estava se recuperando após três tragédias ao mesmo tempo: a pandemia mundial do coronavírus, a grave seca que durou 18 meses e os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

O governo pode ser tentado a aumentar impostos para sustentar novos gastos, embora Lula não esteja deixando nada claro. Ele segue dizendo que vai revogar o teto de gastos, que é, no fundo, um limite imposto ao déficit público. A hipótese de aumentar tributos é perigosa, pois a carga tributária atual já é muito alta e eventuais novos aumentos acabariam por puxar a economia para baixo. Tudo isso resumido pode redundar em interrupção da recuperação econômica que começou em 2022. Assim, cabe à sociedade ficar vigilante e pressionar o governo para evitar imprudência fiscal e medidas que notoriamente terminam em inflação ou recessão, ou ambas.


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ESPECULAÇÃO SOBRE A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

 

Responsabilidade com a informação
Filipe Figueiredo


Sessão plenária do Conselho de Segurança da ONU em 16 de novembro: governo russo acusou a Ucrânia e a Polônia de tentar provocar um “confronto direto” entre a Rússia e a OTAN ao culpar Moscou pela queda de um míssil em território polonês| Foto: EFE/Eskinder Debebe/ONU

Na semana passada, dia 15 de novembro, dois cidadãos poloneses morreram em seu país quando um míssil caiu na cidade de Przewodów. Em um primeiro momento não se sabia exatamente a origem do projétil e o que aquilo poderia significar. A busca por informação e pelo chamado furo de reportagem, quando a informação é publicada pela primeira vez, foi incessante e, junto com isso, uma chuva de “análises” sensacionalistas. Um desdobramento novo nos últimos dias contribui para a compreensão do que aconteceu semana passada.

Os leitores talvez tenham reparado que o incidente em território polonês sequer havia sido abordado aqui em nosso espaço. Cabe uma breve recapitulação. Por volta de 15h40 do dia 15 de novembro, horário local, dois agricultores poloneses morreram após uma explosão perto da fronteira do país com a Ucrânia. Naquele dia, quase cem mísseis russos foram disparados contra o território ucraniano, no maior bombardeio desde o início da guerra, visando a infraestrutura essencial da Ucrânia, como usinas de energia elétrica.

No momento dos ataques dois cidadãos poloneses, infelizmente, morreram. Muitas pessoas, incluindo jornalistas, acadêmicos e ditos analistas, rapidamente concluíram: “foi um míssil russo”. Daí, pularam para o fato de que a Polônia é um país integrante da OTAN, logo, supostamente seria um “ataque contra a OTAN”. Consequentemente, seria o início da Terceira Guerra Mundial, em um sensacionalismo superficial de dar inveja aos “craques” do sensacionalismo dos programas policiais vespertinos.

Terceira Guerra Mundial

Esse comportamento também ocorreu no Brasil e muita gente repetiu esse processo citado. Em um rede social, o termo “Terceira Guerra Mundial” foi o mais compartilhado naquele dia. Um olhar mais calmo e, justamente, analítico, entretanto, lembraria que havia muito pouco de concreto. Mesmo na noite daquele dia, com a diferença de horário de quatro horas entre Brasil e Polônia, era prudente manter a calma e o ceticismo perante o que havia de concreto.

Naquele momento, era basicamente apenas a imprensa que afirmava que teria sido um míssil russo. O governo Morawiecki convocou seu conselho de segurança nacional e afirmou que poderia ativar o artigo 4 da Carta da OTAN. Poucas pessoas, mesmo em meios especializados, se deram ao trabalho de explicar que esse não é o artigo de defesa coletiva da ameaça, que seria o artigo 5. O artigo 4 apenas prevê consultas dentro dos membros quando uma das partes se sentir ameaçada. Em outras palavras, consultar os EUA.

Naquele momento, a Rússia negava a responsabilidade e afirmava que se tratava de uma provocação ucraniana. Era possível especular que teria sido um míssil russo atingindo um alvo polonês deliberadamente? Era. Seria possível afirmar isso? Não. Poderia ter sido um míssil russo, mas de forma acidental? Também. Finalmente, outra possibilidade seria a Polônia ter sofrido danos colaterais da interceptação de mísseis russos pelos ucranianos.

Semanas antes, um míssil russo atingiu Moldova, felizmente sem vítimas fatais. Ele havia sido disparado contra a Ucrânia, foi atingido pelas defesas ucranianas, ao ponto de alterar sua rota, mas sem destruí-lo. Como mencionamos, a Ucrânia era alvo de pesado bombardeio naquele dia, o que tornava essa hipótese ainda mais plausível. Como resposta aos ataques, os ucranianos contam com diversos sistemas antiaéreos para sua defesa.

Segundo o governo da Ucrânia, dos 96 mísseis disparados pelos russos, 77 teriam sido interceptados. Ou seja, mísseis disparados pelos ucranianos também abundavam nos céus do país. Algumas horas depois, Andrzej Duda, presidente da Polônia, discursou afirmando que uma investigação era necessária, que a defesa civil estava de prontidão, pediu calma para a população e afirmou que provavelmente seria um “incidente isolado”. A loucura da “Terceira Guerra Mundial” começava a perder força.

Diretamente de Bali, onde ocorria o G20, Joe Biden, presidente dos EUA, disse para a imprensa que a trajetória do projétil que atingiu a Polônia não apontava que ele teria vindo de território russo. Algumas horas depois veio a confirmação de que o projétil que matou os dois cidadãos poloneses era ucraniano, justamente um míssil antiaéreo que caiu no país vizinho, em um incidente trágico.

Síndrome de Francisco Ferdinando
Talvez a principal lição desse episódio seja o reforço de algo já mencionado na coluna: evitar dar ouvidos para os que sofrem de Síndrome de Francisco Ferdinando. Infelizmente, em tempos “caça cliques”, acabam ganhando muito alcance. O termo, criado aqui na coluna, se refere aos que veem o início de um conflito mundial em todo e qualquer incidente internacional, parece que até desejam, ignorando as lições da História.

Uma dessas lições é, justamente, que o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em Sarajevo, não foi o estopim imediato, nem a única causa, talvez nem tenha sido a causa principal, do início da Grande Guerra. Foi sim o gatilho de uma crise que durou um mês, entre o assassinato e a primeira declaração de guerra. Uma das várias crises que fazem parte da complexa trama de fatores que, acumuladas por décadas, contribuíram para a eclosão da Grande Guerra, longe de ser apenas o assassinato do arquiduque.

Uma excelente obra recente aborda como essa visão da “síndrome de Francisco Ferdinando” é apenas simbólica, Os Sonâmbulos, de Christopher Clark, em que ele analisa como a Europa caminhou para a guerra no mês que separa o atentado do conflito. Também não podemos esquecer da grande diferença daquele mundo para o de hoje, o risco de um conflito nuclear. Com todo o respeito às vítimas e seus familiares, o mundo não vai correr o risco de uma hecatombe por causa de dois agricultores mortos em um incidente.

O estudo da Guerra Fria permite lembrarmos que dificilmente um míssil desgarrado vai ser o gatilho da Terceira Guerra Mundial. Resta, entretanto, outra questão: de onde veio a suspeita de que teria sido um míssil russo? Começou em uma agência de notícias dos EUA, a Associated Press. No último dia 21, a agência demitiu o repórter responsável, James LaPorta, ex-fuzileiro naval e baseado nos EUA.

Ele teria recebido a informação de uma “fonte anônima” de inteligência e mensagens da comunicação entre o repórter e editores mostram que eles deliberaram por dez minutos antes de decidir publicar a versão sensacionalista dos fatos por uma agência de credibilidade e autoridade. O repórter recebeu desinformação e não checou? Ânsia pelo furo de reportagem? O repórter teria até inventado? No final das contas, o funcionário mais baixo na cadeia alimentar que pagou pelo erro.

Países não iriam à guerra pelo que uma agência de notícias publicou, mas o erro certamente contribuiu para o alarmismo. Curiosamente, o alarmismo disparado por uma agência de grande reputação beneficiou com audiência os veículos e articulistas de qualidade duvidosa, em um círculo vicioso bastante pertinente aos debates atuais sobre o papel da imprensa e sua relação com redes sociais. Algumas coisas, entretanto, não mudam. Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, na esperança de que nos livremos da Síndrome de Francisco Ferdinando.

Guerra espacial
Como a Guerra na Ucrânia se torna espacial e incentiva novos investimentos em satélites por todo o mundo

Por
Mariana Braga – Gazeta do Povo


Lançamento de satélites Starlink em 2020.| Foto: Reprodução/Youtube Nasa

A Guerra na Ucrânia vai muito além de terra, céu e mar. Os conflitos estão no espaço e tendem a acontecer cada vez mais a quilômetros de distância do solo. Além disso, a invasão russa incentivou outros países a investirem ainda mais nesse setor, que está na base das disputas no Leste Europeu.

Os ucranianos só não perderam totalmente a conexão com a internet, por exemplo, devido ao sistema Starlink, da Space X do bilionário Elon Musk, tendo em vista que a quase totalidade da infraestrutura tecnológica do país foi bombardeada.

“Starlink é o único sistema de comunicação que continua a funcionar. Todos os outros estão mortos”, tuitou o bilionário em meados de outubro.

Em termos de defesa, o Starlink permite que as forças ucranianas calculem a trajetória de seus mísseis e geolocalizem seus alvos. Por isso, Musk também publicou que “a Rússia está tentando destruir o Starlink”.

Existe uma diferença substancial entre o sistema da Space X e outros espalhados pelo mundo. Tradicionalmente, satélites de comunicação estavam a mais de 20 mil km de distância, além do alcance dos mísseis. Mas a SpaceX mudou essa ordem. Hoje, a constelação da empresa de Elon Musk evolui em órbita baixa, até 550 km de altura, ou 60 vezes mais baixa que os satélites convencionais. A vantagem é uma latência mais curta (tempo que os dados levam para chegar ao destinatário). A desvantagem é uma exposição maior aos mísseis vindos do solo.

Além de ter o Starlink, a inteligência ucraniana está em contato direto com especialistas de empresas privadas americanas de tecnologia espacial, como a Maxar Technologies, Planet Labs e BlackSky. As imagens permitem identificar o avanço das tropas e do equipamento militar do adversário, bem como registrar os abusos russos.

Em Mariupol, por exemplo, poucas horas após o bombardeio de um teatro que abrigava civis, a Maxar havia publicado instantaneamente uma imagem mostrando que a palavra “crianças” estava escrita no chão em enormes letras brancas, para sinalizar a presença de menores a possíveis pilotos de caça.

Movimentação mundial 

Esse cenário de corrida espacial fez outros países apertarem o passo nos investimentos no setor, que já estavam em crescimento.

Nesta semana, os 22 ministros dos países membros da Agência Espacial Europeia (ESA) se encontraram para definir o orçamento da instituição para os próximos três anos e dividi-lo entre os diferentes programas. Para o período 2023-2025, a ESA pede aos seus membros 18,5 mil milhões de euros, um aumento de 25% em relação ao período 2020-2022.

Um salto nunca visto antes. “É necessário para permanecer na corrida com os americanos e os chineses, cujos meios estão aumentando nesse ritmo”, garantiu o gerente-geral Josef Aschbacher. O desenvolvimento do foguete Ariane 6 é uma das metas para a independência espacial europeia.

Mas não é de hoje que a Europa está de olho nas disputas espaciais. Ainda em 2018, a então ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, denunciou a atividade de um satélite russo que se aproximou muito de um satélite militar franco-italiano para ouvir suas transmissões. A França, então, criou um comando específico em 2019 e inflou seu orçamento em 30% em sua última lei de programação militar, elevando-o para 600 milhões de euros anuais.

Já os chineses dobraram seu orçamento em dez anos para se preparar para uma guerra espacial, elevando os gastos para mais de US$ 3 bilhões.

O Reino Unido, por sua vez, formalizou com o ex-premiê Boris Johnson sua ambição de se tornar um ator espacial “significativo” até a década de 2030.

Quanto à Itália, o país desenvolveu o sistema de observação mais poderoso da Europa com o Cosmo-SkyMed.

E os americanos lançaram em 2019 com Donald Trump um comando espacial militar, o Spacecon, planejando um “exército espacial”. “Somos os melhores do mundo no espaço hoje, mas nosso nível de superioridade está diminuindo”, declarou o general John Raymond, nomeado chefe da Spacecom, na ocasião. “Queremos nos mover rapidamente e ficar à frente.”

Com a invasão russa, a preocupação mundial cresceu. Ainda no início de março, o Ministério das Forças Armadas da França já estava alertando para o perigo de propagação do conflito a dezenas de milhares de quilômetros da Terra. “O que imaginávamos está chegando”, alertou o general Michel Friedling, chefe do Comando Espacial Francês.

“Estamos em constante vigilância e em conexão com nossos parceiros e aliados sobre o que pode acontecer no espaço, que ainda é uma zona cinzenta”, concluiu.

O que está acontecendo e o que pode acontecer 
Em fevereiro, um dia antes da invasão da Ucrânia, milhares de europeus se viram sem conexão de internet. O satélite Viasat tinha sido alvo de um ciberataque, privando o acesso às comunicações por satélite em determinadas zonas da Europa e em particular na Ucrânia. Para o general francês Friedling, esse incidente foi indiscutivelmente causado por um ataque russo.

Ao mesmo tempo, hackers afiliados ao Anonymous (movimento de hackers anônimos) alegaram ter colocado toda a Roscosmos, a agência espacial russa, fora de serviço para que Moscou “perdesse o controle de seus satélites espiões”.

Negando a informação, o diretor da Roscosmos, Dmitry Rogozin, lembrou que “desativar grupos de satélites de qualquer país geralmente constitui um casus belli, ou seja, um motivo para ir à guerra”. Por sua vez, Elon Musk, CEO da SpaceX, disse que era regularmente alvo de tais ataques e teve que gastar recursos significativos para repeli-los.

Mas guerra espacial reserva muitos outros métodos de ataque. “Desde o rompimento de um satélite até sua destruição física, há uma série de ações possíveis”, observou Xavier Pasco, diretor do FRS, ao jornal Le Monde.

“É impossível para a Rússia destruir completamente a rede”, concluiu Paul Wohrer, pesquisador de espaço da Fundação para Pesquisa Estratégica (FRS) ao jornal francês Le Figaro. Ele ainda alertou para o risco, a longo prazo, da “síndrome de Kessler”: a chegada de inúmeros detritos poluindo o espaço. “Seria um desastre ecológico e um grande problema para o uso do espaço nos próximos anos”, alertou o especialista, segundo o qual “a Rússia se exporia a graves consequências internacionais ao assumir tal responsabilidade”.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/como-a-guerra-na-ucrania-se-torna-espacial-e-incentiva-novos-investimentos-em-satelites-por-todo-o-mundo/
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BOLSONARO PARTICIPA DE EVENTO APÓS AS ELEIÇÕES

 

Formatura de cadetes

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Bolsonaro conversa com cadetes da Aman na cerimônia de 2021: presidente participou de todas as formaturas da academia ao longo do seu governo| Foto: Carolina Antunes/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa neste sábado (26) da formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde se graduou, em 1977. Será sua primeira agenda em um evento oficial desde o fim das eleições e a segunda aparição pública desde o rápido discurso no Palácio da Alvorada, quando agradeceu os 58 milhões de votos recebidos e não contestou a derrota nas urnas para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A presença de Bolsonaro na solenidade militar gera expectativa entre apoiadores sobre o que ele poderá vir a falar, embora não haja confirmação se o presidente fará um discurso. A aparição acontece na semana em que seu partido entrou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a anulação dos votos de 279 mil urnas eletrônicas. O pedido foi rejeitado pelo ministro Alexandre de Moraes, que ainda multou a coligação eleitoral de Bolsonaro em R$ 22,9 milhões e provocou um racha na base governista.

Existe a possibilidade de o presidente não quebrar o silêncio que vem mantendo desde a proclamação do resultado do segundo turno, tido como estratégico por interlocutores, apesar de criticado por alguns aliados no Congresso. Até a noite desta sexta-feira (25), segundo interlocutores, Bolsonaro não havia decidido se discursa ou não neste sábado, como fez nas últimas três formaturas de cadetes da Aman.

Bolsonaro teve reuniões e conversou sobre o assunto nesta sexta com aliados e integrantes de seu “núcleo duro” para decidir sobre a conveniência de um discurso, inclusive em Guaratinguetá (SP), onde ele desembarcou por volta das 18h20 e passaria a noite.

De Guaratinguetá, Bolsonaro embarca por volta das 9h10 para Resende (RJ), onde fica a escola de ensino superior do Exército. A cerimônia se inicia às 11h, no pátio Marechal Mascarenhas de Moraes, e deve seguir até o meio-dia. Às 13h30, o presidente embarca para Brasília.

O que motiva Bolsonaro a participar da cerimônia
A participação de Bolsonaro no evento tem motivação institucional. Todo ano a Aman celebra dois eventos, um normalmente em agosto, a entrega de espadins aos cadetes entrantes na academia, e um em novembro ou dezembro, quando é celebrada a formatura dos cadetes. O presidente participou de todas as sete solenidades ao longo do seu governo e cumprirá sua oitava participação neste sábado.

Desde a redemocratização, Bolsonaro é o primeiro presidente a ir em todas as cerimônias da Aman. Segundo os mais próximos, é uma forma de prestigiar os militares. Para aliados da base governista no Congresso, além de institucional, o chefe do Executivo federal tem, dessa vez, também uma motivação política.

Um deles avalia, em condição reservada, que, na possibilidade de assumir a oposição política ao presidente eleito Lula, Bolsonaro precisará contar com o apoio da base militar. “Então, tem que ir nesse evento e não vai nem discursar”, avalia o parlamentar.

Para o aliado, Bolsonaro vai evitar o discurso para não criar uma “celeuma” diante do atual cenário político, em meio às contestações ao resultado eleitoral e os protestos em frente aos quartéis e rodovias. Outro aliado entende que, caso discurse, Bolsonaro poderia transmitir aos opositores e à imprensa uma suposta ideia de incentivar as manifestações.

A fim de evitar algum constrangimento às Forças Armadas, uma parcela da base governista prevê um tom de normalidade e discurso apenas do comandante da Aman, general de brigada João Felipe Dias Alves, que deve exaltar a formação militar.

Na hipótese de Bolsonaro discursar, aliados avaliam que seria um aceno às cobranças feitas por uma parcela da base governista e de apoiadores. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, defende que o presidente interrompa o silêncio.

“Se o presidente Bolsonaro não sair do seu ostracismo como o grande líder desta nação, ele vai entrar para a história da nação como soldado que teve medo de morrer na guerra, como aquela frase que ele sempre diz. Mas só que a morte do soldado é inevitável, e eu falei isso para ele”, diz o aliado.

O coronel da reserva Raul Sturari, presidente do Instituto Sagres — coautor do intitulado “Projeto de Nação”, documento em que militares apresentam propostas para o Brasil até 2035 —, prevê uma solenidade “absolutamente formal” neste sábado. Ele também não aposta em um discurso de Bolsonaro.


De favoritos a azarões, quem são os nomes cotados para os ministérios de Lula

“Vai ser aquela expectativa, com muitos querendo descobrir se tem algo nas entrelinhas. Acho muito difícil que isso aconteça”, diz. “Vai ter toda aquela expectativa, mas não teremos fala política, ninguém dando entrevista, nada”, complementa.

O analista político Alexis Risden, consultor especialista em segurança e defesa nacional da BMJ Consultores Associados, também prevê um evento institucional. “Será sua primeira aparição em público, então deve querer ‘parecer forte’ com as Forças Armadas. Mas será algo normal, outras autoridades do Judiciário e Legislativo vão participar também”, afirma.

Ele acredita, porém, que Bolsonaro possa fazer um discurso. “Eu acredito que ele deva falar, mesmo que só para os participantes da cerimônia, sem imprensa”, comenta.

Quem está convidado e como será o evento de formatura da Aman

O evento celebrará a formatura da turma Bicentenário da Independência. São 395 cadetes, sendo 362 homens e 33 mulheres. Deste total, dez são oriundos de “nações amigas”, sendo que será a primeira vez que um cadete estrangeiro irá se formar. Seu nome é Ghazmin Lucero Surichaqui e ela é do Peru.

Os aspirantes receberão o diploma de bacharel em Ciências Militares. Além de Bolsonaro e de autoridades do Judiciário e do Legislativo, também participarão oficiais-generais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e demais autoridades civis e militares. A cerimônia é marcada pela restituição do espadim, quando, trajados pela última vez com o uniforme azulão, entregarão as réplicas da espada de Caxias à Academia Militar.

E, de uniforme cinza, num segundo momento, receberão a espada de oficial do Exército Brasileiro, símbolo da honra militar. O primeiro lugar da turma receberá das mãos de Bolsonaro a espada de oficial.  Em seguida, madrinhas e padrinhos farão a entrega das espadas aos demais aspirantes.

Além da bandeira nacional, acompanhada dos estandartes do Exército, do corpo de cadetes, das bandeiras históricas do Brasil, adotadas desde o descobrimento, também adentrarão o pátio as bandeiras das “nações amigas”.


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UM CIVIL VAI COMANDAR O MINISTÉRIO DA DEFESA

 

Forças Armadas
Por
Olavo Soares


Desfile de tropas do Exército: Ministério da Defesa foi criado em 1999 e só teve civis na chefia até 2018.| Foto: Exército/divulgação

A decisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de nomear um civil para chefiar o Ministério da Defesa recupera uma tradição iniciada em 1999 e derrubada em 2018, ainda antes de o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) chegar ao poder. Lula já havia dito que a pasta não seria comandada por um militar, decisão que recentemente foi reforçada em declaração pública do ex-ministro Alozio Mercadante, um dos coordenadores da transição governamental. Militares ouvidos pela Gazeta do Povo reagiram de formas distintas à possibilidade de indicação de um civil para comandar o ministério ao qual as Forças Armadas são vinculadas.

O deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), aliado de Bolsonaro e militar do Exército, diz ver com ressalvas a iniciativa. Ele afirma que em princípio não observa problemas em um civil comandar a Defesa. Porém, segundo ele, são poucos os civis com capacitação para chefiar a pasta responsável pelos assuntos militares.

Já outros militares indicam de forma reservada que o assunto, hoje, não figura entre as prioridades da categoria – e, portanto, a nomeação de um civil ou um militar para a titularidade do ministério é vista com indiferença. A abordagem é que, como os militares apoiaram Bolsonaro na eleição e registram muitas ressalvas a Lula, o titular do cargo não faz tanta diferença em um cenário que já consideram adverso.

Ex-ministro da Defesa durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016, Aldo Rebelo diz que não considera “nenhuma surpresa” a decisão da futura gestão lulista de indicar um civil para a pasta. “Nem vislumbro nenhuma dificuldade nesta área para os futuros governantes. Creio que os problemas do Brasil não estão nas Forças Armadas, que são muito mais parte da solução do que dos problemas nacionais”, afirma Rebelo, que é ex-deputado federal e atualmente está filiado ao PDT.

A área da Defesa é uma das que mais tem movimentado os bastidores da transição de Lula. Os nomes da equipe que vai tratar do assunto com o atual governo ainda não foram definidos, ao contrário das demais áreas. Isso ocorre justamente por causa da dificuldade de interlocução do futuro governo com os militares, ainda refratários a uma nova gestão petista.

Por esse motivo, a equipe de Lula passou a procurar nomes que restabeleçam o diálogo institucional com Exército, Marinha e Aeronáutica – o que tem se mostrado difícil. Diante desse cenário, a definição do nome do futuro ministro da Defesa tende a ser uma das últimas decisões de Lula antes de tomar posse, em 1º de janeiro.

Remuneração e orçamento militar são pontos de potencial conflito com Lula
Historicamente, a relação entre os militares e os civis no Ministério da Defesa é marcada por conflitos em torno de demandas por remuneração e outras solicitações orçamentárias que envolvem as Forças Armadas. É isso, segundo os militares que conversaram de modo reservado com a Gazeta do Povo, que é visto como um possível foco de conflitos com a nova gestão – o que ocorreria ainda que o comandante da pasta fosse um militar.

Ainda assim, o novo ministro, mesmo sendo um civil, tende a ser respeitado pelas Forças Armadas. O deputado Chrisóstomo, que é coronel do Exército, diz que os militares são pautados por valores como “hierarquia e disciplina”. “Quando entrou pela primeira vez um civil para comandar o ministério, nós ficamos apreensivos. Mas a gente respeitou, porque hierarquia e disciplina, nós nunca mudamos. Não violamos a regra em hipótese nenhuma.”

Chrisóstomo diz ainda que o fato de o futuro governo ser de esquerda – ideologia rejeitada pela maioria dos militares – não deve ter peso para que parte da categoria não concorde com um civil no ministério. “Quem decide os ocupantes dos ministérios é o presidente da República. Ele que é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Se ele escolher um civil com capacidade, os militares não vão retrucar.”

Criado em 1999, Ministério da Defesa tirou poderes dos militares
O Ministério da Defesa foi criado em 1999, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A pasta reuniu numa só os até então existentes três ministérios militares: do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. E o objetivo da unificação era justamente colocar as Forças Armadas sob comando de um civil. Fazia 14 anos do fim da ditadura (1964-1985), e a existência das três pastas, comandadas por oficiais das Forças Armadas, era vista como um resquício do regime militar.

FHC nomeou um civil, o então senador Élcio Alvares (PFL-ES), para ser o primeiro titular da pasta. E até 2018 somente civis comandaram a Defesa. Desse modo, os militares perderam, de uma vez só, três cargos do alto escalão da administração federal.


Quem rompeu com a tradição foi o ex-presidente Michel Temer (MDB), em seu último ano de mandato, quando o nomeou o general Joaquim Silva e Luna para a chefia do ministério. Temer enfrentava altos índices de impopularidade devido a acusações de corrupção e chegou a correr risco de ser afastado da Presidência. Em meio a esse cenário, ele passou a prestigiar militares e a dar a eles protagonismo em seu governo.

O atual presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve a nomeação de militares para o comando da Defesa. Foram três titulares no mandato: os generais Fernando Azevedo e Silva, Braga Netto e o atual ministro Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Durante o período do comando civil do ministério, houve a nomeação de políticos de carreira para a pasta, tais como o atual senador Jaques Wagner (PT-BA) e os ex-deputados federais Raul Jungmann (sem partido-PE) e Aldo Rebelo. José Alencar, vice-presidente durante os dois mandatos de Lula, também comandou a Defesa.

A relação entre civis e militares no ministério nem sempre se deu de forma harmônica. O primeiro ministro da Defesa de Lula, o diplomata José Viegas Filho, caiu após o Exército divulgar sem seu conhecimento uma nota em que justificava atos de repressão cometidos durante a ditadura militar.

“Embora a nota não tenha sido objeto de consulta ao Ministério da Defesa, e até mesmo por isso, uma vez que o Exército Brasileiro não deve emitir qualquer nota com conteúdo político sem consultar o Ministério, assumo a responsabilidade que me cabe, como dirigente superior das Forças Armadas, e apresento a minha renúncia ao cargo de Ministro da Defesa, que tive a honra de exercer sob a liderança de Vossa Excelência”, escreveu Viegas, na ocasião.

O ex-ministro Aldo Rebelo disse que durante sua gestão na pasta “não houve qualquer tipo de estranhamento pela presença de um civil à frente do Ministério, prevaleceu sempre a dedicação e o espírito público e patriótico no cumprimento das missões emanadas”.


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PEC DA TRANSIÇÃO PREJUDICA A VIDA DAS PESSOAS

 

Por
Deltan Dallagnol – Gazeta do Povo

Foto: Jonas Pereira/Agência Senado


| Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

Lula quer uma PEC de transição que lhe garanta a possibilidade de furar o teto de gastos em 198 bilhões de reais por ano, violando regras básicas de responsabilidade fiscal, sem correr risco de impeachment.

Para colocar a opinião pública a favor da PEC, Lula afirmou há uma semana que o teto de gastos suprime recursos da saúde, educação, ciência, tecnologia e cultura para entregá-los a banqueiros. Para ele, o teto impediria o investimento social.

É mais um engodo de Lula. Toda pessoa responsável por um orçamento familiar ou empresarial entende que precisa, como regra, gastar menos do que ganha. Se gastar mais, vai se endividar com empréstimos e gastos no cartão. Conforme sua dívida cresce, os bancos cobrarão taxas de juros maiores porque o risco de um calote se torna maior.

A cada mês, um valor maior do orçamento doméstico precisará ser separado para pagar os empréstimos, que crescerão com o volume da dívida e a taxa de juros. Se a dívida crescer demais, chegará a um ponto em que se tornará impagável. A família ou empresa se tornará insolvente, quebrará.

É para evitar essa bola de neve de crescimento da dívida do país que foi criada em 2016 a regra do teto de gastos, que estabelece uma limitação para as despesas do governo, que não podem superar aquelas do ano anterior, reajustadas pela inflação.

Toda pessoa responsável por um orçamento familiar ou empresarial entende que precisa, como regra, gastar menos do que ganha. Se gastar mais, vai se endividar com empréstimos e gastos no cartão.

Essa regra de “responsabilidade fiscal”, controle fiscal ou controle de contas foi inserida na Constituição por meio da Emenda 95 e seu descumprimento acarreta crime de responsabilidade do Presidente da República, que pode resultar no seu impeachment.

Por isso, Lula busca autorização do Congresso, por meio de uma nova emenda à Constituição, para realizar despesas acima do teto. Contudo, mesmo que a PEC seja aprovada, permitindo um gasto maior do que a receita, ela não inventa o dinheiro.

O problema, muito mais do que jurídico, é econômico. De onde virão os recursos?

Há três soluções possíveis: o aumento irresponsável da dívida que gera recessão econômica; a impressão de dinheiro que acarreta inflação e pode encontrar óbice na autonomia do Banco Central estabelecida recentemente por lei; e o aumento de uma carga tributária já bastante alta que dependeria do Congresso.

A solução que está nas mãos do presidente é o aumento da dívida, aquela mesma solução já conhecida da família ou empresa que se endivida. Contudo, essa solução não funciona quando as contas não comportam mais endividamento.

O governo toma empréstimos por meio da emissão e venda de títulos da dívida pública, que são comprados por investidores nacionais e estrangeiros, diretamente ou indiretamente quando fazem aplicações em fundos de investimento nos bancos.

O empréstimo será honrado na data e forma estabelecida no título. O governo pode pagar o empréstimo com recursos oriundos dos tributos, ou rolar a dívida emitindo novos títulos da dívida pública.

Se a dívida ficar muito elevada ou houver um descontrole das contas públicas, aumenta a desconfiança dos investidores de que o país não terá condições de honrar a sua dívida. Países que deram calote, como Argentina, Rússia e Grécia, sofreram consequências gravíssimas na economia como perda do poder de compra da moeda, descontrole inflacionário, desvalorização do câmbio, desemprego e diminuição do padrão de vida da população.

O volume da dívida brasileira é hoje de cerca de 77% do PIB, o que é bastante alto em comparação com outros países emergentes. Por conta da PEC da transição de Lula, que promete um impacto de 800 bilhões mais juros ao longo de quatro anos, economistas têm projetado um crescimento da dívida pública de cerca de 10 a 20 pontos até o fim do próximo governo, aproximando-se do valor do próprio PIB.

Países que deram calote, como Argentina, Rússia e Grécia, sofreram consequências gravíssimas na economia como perda do poder de compra da moeda, descontrole inflacionário, desvalorização do câmbio, desemprego e diminuição do padrão de vida da população

O teto de gastos foi criado justamente num contexto de descontrole do aumento da dívida pública, logo após o governo Dilma, para dar confiança de que o país honraria a sua dívida e, assim, favorecer a venda dos títulos e a rolagem da dívida. O teto dá sustentabilidade à dívida e tem previsão de durar 20 anos.

A violação do teto de gastos, fora de circunstâncias extraordinárias, destrói a regra e a confiança de que a dívida será honrada. Com isso, a venda dos títulos só ocorrerá mediante a sua oferta pelo governo com uma taxa de juros maior.

Essa taxa de juros paga pelo governo, atrelada aos mencionados títulos, acaba balizando a taxa de juros de toda a economia. De fato, instituições financeiras só emprestarão para pessoas como eu e você se cobrarem de nós uma taxa de juros maior do que aquela que receberão se comprarem títulos do governo, pois o risco de emprestar ao governo é menor.

Assim, se os juros da dívida pública subirem, também subirão os juros que instituições financeiras cobram de empreendedores, agricultores, industriais e consumidores, desacelerando a atividade econômica, porque ela depende em grande medida de financiamentos.

Além disso, uma alta taxa de juros desestimula o empreendedorismo e a geração de riqueza. Pessoas preferirão comprar títulos públicos que lhes rendam altos juros do que investir em empreendimentos econômicos que exigem tempo e energia e implicam riscos.

Assim, o descontrole fiscal prejudica o crescimento do Brasil, a renda e o emprego. É o que o governo promoverá ao extrapolar o teto de gastos, exatamente o contrário do desenvolvimento econômico e social que afirma buscar.

Some-se que aumentar dívida para financiar despesas ordinárias, como quer o PT, viola a regra de ouro fiscal de que só se aumenta dívida para fazer investimentos, porque eles aumentam a riqueza produzida e a capacidade do país de pagar a dívida feita. Ampliar a dívida sem ampliar a riqueza significa transferir injustamente às gerações futuras o encargo de pagar as contas da geração atual.

A PEC da transição pode trazer um benefício instantâneo, de curto prazo, mas trará prejuízos significativos no médio e longo prazo. Por suas consequências desastrosas, a PEC da transição já foi apelidada de PEC do estouro, da gastança, do apocalipse ou da Argentina. Com ela, Lula descumpre sua promessa de campanha de responsabilidade fiscal.

Ampliar a dívida sem ampliar a riqueza significa transferir injustamente às gerações futuras o encargo de pagar as contas da geração atual

Nesse cenário, é natural que o índice da bolsa de valores caia. Não é uma conspiração do mercado. As ações da bolsa representam o valor das empresas e, num cenário de recessão e perda de renda e emprego, elas crescerão menos, o que as desvaloriza.

Por tudo isso, é enganosa a narrativa de que o teto favorece banqueiros em prejuízo dos brasileiros. É o contrário: investidores rentistas ganham mais quando os juros sobem. Na verdade, o teto protege a saúde das contas que é condição para a prosperidade de todos.

É também mentirosa a alegação de que o teto impediria o gasto social. A responsabilidade fiscal é condição necessária para a social. Além disso, recursos para os investimentos sociais, que são bastante importantes, podem e devem ser obtidos mediante remanejamento e não aumento de despesas.

Dentre os 30 países com maior carga tributária do mundo, o Brasil é o que menos retorna os recursos arrecadados para a população na forma de serviços públicos essenciais. Não se trata de gastar mais, mas de gastar melhor, reduzindo a ineficiência e o desvio do dinheiro público, no que os governos do PT foram pródigos.

Ao tomar conhecimento dos planos de Lula, Henrique Meirelles desejou boa sorte a investidores. Nós brasileiros precisaremos mais do que de boa sorte. Precisamos de uma boa atuação do Congresso para impedir a catástrofe moral e econômica que o governo do PT planeja impor aos brasileiros.


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