terça-feira, 22 de novembro de 2022

DITADURA DA TOGA ACABOU COM O ESTADO DE DIREITO

 

STF

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


O ministro do STF Alexandre de Moraes.| Foto: EFE/ Joédson Alves

O presidente eleito foi operado neste domingo, no Hospital Sírio-Libanês. Foi uma operação rápida; ele tirou uma placa de uma prévia da corda vocal. Pode ser que a rouquidão dele diminua por causa disso. Eu já fiz essa cirurgia quando tinha uns 26, 27 anos, porque eu lecionava em aula cheia, forçava muito a voz, e isso acabou criando um calo na chamada corda vocal, que na verdade é uma pré. Só que exigiram que eu ficasse no mínimo uma semana sem falar, e estão anunciando que Lula só vai ficar dois dias em repouso.

Brasil vive estado de exceção, diz vice-presidente; cada vez mais brasileiros criticam o STF
Está aqui em Lisboa o vice-presidente da República. Lula passou por aqui na sexta-feira, e agora é a vez do general Hamilton Mourão, senador eleito pelo Rio Grande do Sul. Ele esteve com o presidente da República; nesta terça estará com o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento; na quarta, se encontra com empresários brasileiros, portugueses e com o pessoal da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – como se sabe, tem língua portuguesa na Ásia, na África, na Europa e na América; o Timor-Leste fica mais perto da Oceania, mas é Ásia também. A língua portuguesa é uma das mais faladas do mundo.

Mas por que eu falei do general Mourão? Porque ele tuitou afirmando que o pacto federativo foi violado, que o Brasil está em estado de exceção; isso porque nesta quarta haverá uma reunião para a qual o ministro Alexandre de Moraes convocou comandantes de PMs e chefes de Detrans, que são subordinados aos governadores, provavelmente para tratar da liberação das vias de trânsito, que estão sob a jurisdição deles. Já tem gente, como o comandante da PM do Paraná, que já disse que não vai.


Transição para baixo
Comandantes militares se mostraram como poder moderador ao lado do povo
O ex-corregedor do Tribunal de Justiça da capital do país, desembargador Sebastião Coelho – que pediu aposentadoria precocemente por discordar de Alexandre de Moraes –, disse que mais de 80% dos juízes de primeira e segunda instância não estão de acordo com o que o Supremo está fazendo e que é preciso tomar alguma atitude, já que o Senado não faz nada, pois o Supremo não está cumprindo a Constituição.

Por sua vez, metade das OABs estaduais está exigindo uma posição da OAB nacional, tão calada quanto o Senado, que deveria tomar alguma atitude diante do desrespeito às liberdades de opinião e de manifestação – esta última, inclusive, garantida por uma lei do ano passado, pois, quando foi abolida a Lei de Segurança Nacional, o Congresso aprovou outra lei dizendo expressamente que não é crime a crítica aos poderes constituídos por meio de manifestações, aglomerações, greves etc.

E, por fim, está sendo republicada nas mídias sociais uma decisão de um ministro do Supremo Maurício Correa – que antes disso havia sido ministro da Justiça e presidente da OAB –, publicada no Diário Oficial de 7 de junho de 1996: “ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal. Caso contrário, nega-se o Estado de Direito”. Estado de Direito é uma coisa que já ficou para trás: aquele inquérito que prende todo mundo não respeita o devido processo legal, não ouve o Ministério Público, foi aberto por iniciativa da própria vítima, e o relator, que também é vítima, age como delegado, promotor e juiz. E isso já ocorre há algum tempo, é preciso corrigir.


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STF ESTÁ COPIANDO AS MESMAS MEDIDAS DO AI-5

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF.

O Brasil se acostumou a viver na ilegalidade e não há sinais, até agora, de nenhuma reação efetiva contra isso – declarações de protesto, manifestações na frente dos quartéis, críticas aqui e ali, mas nada que mude o avanço constante do regime de exceção imposto ao país pelo poder judiciário. As autoridades cumprem ordens ilegais. Os poderes Executivo e Legislativo não exercem mais suas obrigações e seus direitos. As instituições pararam de funcionar. É como no tempo do Ato Institucional Nº 5. Ficou determinado pela força, na ocasião, que nenhuma decisão do poder Executivo estava sujeita à apreciação judicial. Na ditadura de hoje nenhuma decisão do ministro Alexandre de Moraes e dos oito colegas que seguem a ele no STF está sujeita a qualquer tipo de recurso – só se pode recorrer a eles mesmos, o que obviamente não adianta nada.

A Constituição Federal e as leis brasileiras em vigor, quaisquer que sejam, são violadas diariamente pelos ministros do STF; as liberdades públicas e os direitos civis dos cidadãos foram eliminadas. Deixou de funcionar, para efeitos práticos, qualquer sistema de controle aos atos do STF; e sem controle de ninguém, os nove ministros que mandam no tribunal estão governando o Brasil de hoje através de um inquérito policial, de ordens pessoais e decretos sem nenhum fundamento legal. O último episódio, numa série que está aí há quatro anos, é o bloqueio das contas bancárias de 43 empresas de transporte, por ordem do ministro Moraes. Não há legalidade alguma nessa decisão – é pura e simples violência.

Na ditadura de hoje nenhuma decisão do ministro Alexandre de Moraes e dos oito colegas que seguem a ele no STF está sujeita a qualquer tipo de recurso

Uma conta bancária não pode ser bloqueada sem um processo previsto em lei, por nenhum juiz brasileiro – nem as contas dos traficantes de droga estão fora desta determinação. A solicitação do bloqueio tem de vir do Ministério Público, obrigatoriamente – como qualquer denúncia criminal. No caso, as contas foram bloqueadas sem processo legal nenhum; foi apenas uma ordem de Alexandre Moraes, mais nada. O Ministério Público não pediu coisa nenhuma; na verdade, sequer foi informado do bloqueio pelo ministro. Em suma: está tudo errado, mas o Banco Central apenas obedece. Está cumprindo uma ordem ilegal, e fica tudo por isso mesmo. As transportadoras não têm a quem apelar – só podem recorrer ao próprio STF, e o STF nega todo e qualquer recurso feito contra as suas decisões.

Tudo isso é aplaudido como uma ação decisiva para combater “atos antidemocráticos”. Essa é a palavra mágica do novo Ato-5; serve como justificativa para todas as decisões ilegais do STF. Serve também, cada vez mais, para designar qualquer manifestação contrária ao novo governo.


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MARXISMO TRANSFORMOU STALIN NUM ASSASSINO CRUEL

Perfil

Por
Tiago Cordeiro – Gazeta do Povo


Joseph Stalin em 1949| Foto: Wikipedia

Ao todo, 408 pessoas cuidavam de Joseph Vissarionovich Stalin em sua residência oficial, no distrito de Kuntsevo, nos arredores de Moscou. Construído em 1933, ampliado em 1943, o imóvel era guardado por 335 seguranças – os demais funcionários zelavam pelos outros serviços, entre manutenção, jardinagem, cozinha e limpeza das roupas e dos cômodos.

Ainda assim, ao sofrer um derrame, no início de março de 1953, ele permaneceu tombado no chão de seu quarto, sobre uma poça de urina. Demorou horas para algum dos funcionários tomar a coragem necessária para abrir a porta.

Trabalhar em torno do grande líder representava uma honra. Era motivo de orgulho, e um trabalho bem remunerado. Mas a rotina consistia a andar sobre uma lâmina afiada. Um deslize, um comentário inapropriado, uma piada que no dia anterior havia feito Stalin sorrir podia ser o suficiente para cair em uma sequência bem conhecida de prisão, humilhação pública, tortura, perseguição à família e uma série de execuções.

Ao longo dos anos, especialmente desde os primeiros acidentes vasculares do líder, em 1945, centenas de médicos foram presos e mortos simplesmente porque seus diagnósticos não representavam o que o paciente queria ouvir. A demora no atendimento a Stalin em 1953, portanto, era compreensível. Pode ter acelerado o fim de sua vida – ele morreria em 5 de março, aos 74 anos.

Em seu círculo mais próximo, pouco se chorou, ainda que o funeral tenha acontecido com todas as honrarias imagináveis. Seja entre os seguranças, cozinheiros e jardineiros, seja entre os possíveis sucessores que haviam sobrevivido a décadas de perseguições e expurgos, não havia muito a se lamentar.

Controlador e cínico, o líder era acostumado a realizar jantares em que incentivava os convidados a fazer brindes repetidas vezes, apenas para observar o comportamento de cada um deles. Não foram poucos os que acordaram de ressaca e com guardas à porta.

Rapidamente, o regime se ajustaria e, na prática, inviabilizaria o surgimento de um novo Stalin – em 1956, o novo líder Nikita Kruschev denunciaria os crimes do antecessor no discurso secreto mais alardeado da história. O exemplo permaneceria, de toda forma, e ecoaria nas práticas de outros líderes responsáveis pelas mortes de milhares de pessoas, de Mao Tsé-Tung a Pol Pot.

Ainda hoje Stalin é louvado, especialmente em sua terra natal, Gori, na Geórgia, onde o Museu Josef Stalin, inaugurado em 1957, fechado em 1989 e reaberto na sequência, até hoje se mantém como atração turística popular. Ali ficou disponível uma réplica do vagão de trem blindado que ele utilizou para circular durante a Segunda Guerra Mundial. E também uma reprodução da cabana que ele habitou nos primeiros quatro anos de vida.

Estudos num seminário 
Nascido em dezembro de 1878 na república da Geórgia, um país de localização estratégica no Cáucaso, entre Rússia, Turquia, Armênia e Azerbaijão, Joseph Vissarionovich nunca se adaptou ao idioma russo. “Quando criança, falava exclusivamente georgiano, a linguagem que utilizava para compor, na juventude, versos e artigos revolucionários. Começou a estudar russo com 9 anos”, descreve o historiador russo Oleg Vitalyevich Khlevniuk, na biografia Stalin: New Biography of a Dictator [Stalin: nova biografia de um ditador, em tradução livre].

“Até o fim da vida, ele pronunciava o idioma russo com um sotaque, identificável também nas expressões idiomáticas que utilizava em seus textos”. O gosto pela palavra escrita, aliás, persistiria ao longo de toda a sua trajetória. Stalin foi um dos primeiros editores do jornal oficial da ditadura comunista, o Pravda, e passou a vida toda dedicando muitas horas à leitura.

Seu nome de nascença, que ele depois ajustaria à cultura russa, era Ioseb Besarionis dze Jughashvili. Filho de um sapateiro que ficou sem emprego e passou a beber muito e espancar a esposa e os filhos, ele não teve uma infância fácil. Os abusos físicos e verbais, somados à situação de pobreza, deixaram marcas no futuro ditador, que sofreu uma série de problemas de saúde na infância, incluindo uma crise de varíola, em 1884, que deixou sequelas visíveis em seu rosto.

Por outro lado, conseguiu uma bolsa no seminário ortodoxo de Tiflis, a capital do país. Na medida em que avançou na adolescência, o menino, que parecia a caminho de se tornar um sacerdote promissor, passou a se influenciar por literatura marxista. Mais de uma vez, ficou confinado no seminário, como punição, até que aderiu formalmente a um grupo marxista conhecido como Mesame Dasi e, em abril de 1899, abandonou os estudos em definitivo.

Como muitos dos futuros líderes da União Soviética comunista, Stalin passou os primeiros 15 anos do século 20 em uma sequência de incidentes envolvendo prisões e períodos de exílio. Em novembro de 1905, como delegado da Geórgia na conferência bolchevique em São Petersburgo, conheceu Vladimir Lenin pela primeira vez.

Os dois se desentenderam logo no primeiro momento: Stalin não concordou com a proposta de apresentar candidatos para o Poder Legislativo. Considerava que participar do processo democrático era perda de tempo.

General incompetente 

No ano seguinte, casou-se com Ekaterine Svanidze. Meses depois, tiveram um filho, Yakov Dzhugashvili. O bebê tinha apenas nove meses quando a mãe faleceu, vítima de tifo – ela tinha saúde precária, mas insistiu em continuar acompanhando o marido em suas viagens para divulgar as propostas de revolução marxista. Criado pela família, sem contato com o pai, Dzhugashvili acabaria por pegar em armas na Segunda Guerra Mundial e morreria em um campo de concentração nazista em 1943, com apenas 36 anos.

Depois de liderar, por anos, um grupo armado especializado em assaltos a banco e sequestros para levantar dinheiro para a causa, entre 1913 e 1917, Stalin manteve-se em exílio na Sibéria. “Quando a revolução socialista finalmente teve início, ele já estava à beira dos quarenta anos”, constata o biógrafo. “Os acontecimentos de 1917 dividiram sua vida em duas.”

Respeitado como líder de primeira hora, Stalin galgou cargos rapidamente. À parte as discordâncias, manteve-se seguidor de Lenin e burocrata dedicado, que não apenas pegava em armas como também tinha disposição para os intermináveis debates sobre política, realizados tanto por escrito como em comitês e assembleias. Em junho de 1918, ele assumiu sua primeira missão de peso: resgatar a economia de Tsaritsyn, atual Volvogrado. “A missão, que era econômica, rapidamente se tornou militar”, afirma Khlevniuk. Afinal, a crise alimentar era causada pelo bloqueio de ferrovias provocado por inimigos dos bolcheviques.

Sem nenhuma experiência no Exército, Stalin iniciou uma operação de grande porte, a fim de desbloquear o acesso a alimentos. “O modelo de atuação seria replicado nas primeiras etapas da guerra civil russa”, relata o biógrafo. Stalin se mostraria incompetente para a função – um problema que se repetiria nos estágios iniciais da Segunda Guerra Mundial. Diante dos questionamentos a seu desempenho, apresentados principalmente por Leon Trotsky, ele reagiria produzindo mentiras. E, principalmente, culpando os soldados e os eliminando em sessões de execuções em massa.

“O modelo teórico que ele criou para si mesmo era cambaleante e não confiável. Extremamente simplista e ineficiente, deu origem a uma série de falhas e contradições”, explica o biógrafo, deixando claro que o apego pela leitura não levou o ditador a criar uma visão de mundo sofisticada. “Ele respondia às demandas reais da vida com dogmatismo ideológico e político. Isolava-se da realidade e só aceitava mudar de posição em último caso.”

Poder inquestionável 
A partir do momento, no início da década de 1920, em que ficou claro que Lenin não viveria por muito tempo, Stalin agiu para consolidar seu poder. Em 1927, instaurou os primeiros planos quinquenais, que consistiam na coletivização da agricultura e no investimento pesado na industrialização do país. O segundo objetivo foi mais bem sucedido do que o primeiro, que resultou na crise de fome que provocou o Holodomor, na Ucrânia, entre 1932 e 1933.

Os questionamentos à liderança frágil de Stalin levaram à morte de seu principal rival, Sergei Kirov, líder do Partido Comunista em Leningrado, alvejado em sua casa em dezembro de 1934. Naquele momento, a trajetória da União Soviética poderia ter sido muito diferente. Mas Stalin reagiu como havia feito em Khlevniuk: com truculência. Tinha início o período conhecido como o Grande Expurgo, que atingiria o auge entre 1937 e 1938. Morreram pelo menos 750 mil pessoas, incluindo as principais lideranças do país, a maior parte comunistas de primeira hora, assim como a maior parte dos generais das forças armadas.

Quando, logo após a Segunda Guerra Mundial, o país enfrentou uma nova crise séria de abastecimento e milhares morreram de fome, já não havia oposição para fazer perguntas. Mesmo com a saúde fragilizada, entre 1945 e 1953 Stalin manteve próximo a si um grupo de líderes, sempre cinco ou seis homens, todos cientes de que poderiam ser mandados para a prisão a qualquer momento, a qualquer pretexto.

Stalin morreria sozinho, incapaz de se mexer. Seus filhos seriam todos perseguidos por seus sucessores. Além do já falecido Dzhugashvili, ele teria mais três filhos reconhecidos – as acusações de estupro são muitas; mulheres eram levadas a seus aposentos e costumavam acordar apenas no dia seguinte, com marcas de sexo forçado.

Um deles foi adotado: Artyom Fyodorovich Sergeyev, filho de um amigo do futuro ditador, que havia morrido em um acidente de trem em 1921. Viveria até 1981. Os outros dois foram resultado do casamento com Nadezhda Sergeyevna Alliluyeva.

A segunda esposa atuou como pesquisadora e engenheira na Academia Industrial do país, até cometer suicídio em 9 de novembro de 1932 – as brigas com o marido, a quem ela acusava de infidelidade constante, eram frequentes. Teve dois filhos, Vasily Stalin, nascido em 1921, e Svetlana Alliluyeva, de 1926.

Vasily também lutou na Segunda Guerra, assim como o meio irmão e Artyom. Mas, depois da morte do pai, passou a ser perseguido e, após nove anos vivendo entre hospitais e prisões, terminaria por falecer em 1962. Já Svetlana, com quem Stalin parecia ter uma relação mais afetuosa, acabaria por fugir para os Estados Unidos, em 1967, onde assumiu o nome de Lana Peters. Ela morreria em 2011.


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PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DE INOVAÇÃO PARA 2023

 

Grupo FCamara

Maior evento de tecnologia e inovação do mundo mostrou tendências que já são realidade e que vão marcar ainda mais em 2023

O Grupo FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação que potencializa a transformação dos negócios, levou mais uma vez a Imagine, sua plataforma de gestão da inovação, para o Web Summit 2022. O evento foi realizado no começo de novembro, em Lisboa, reunindo mais de 70 mil pessoas e as maiores empresas globais de tecnologia. A Imagine é voltada para gerir a inovação interna das empresas, engajando e dando voz aos colaboradores, incentivando a proposição de ideias e o intraempreendedorismo.

Considerado o maior evento de tecnologia e inovação do mundo, o Web Summit trouxe as principais tendências do setor para o próximo ano – algumas delas têm extrema relevância já em 2022. O destaque foi a tecnologia blockchain, que possibilita democratizar a internet, garantir segurança de dados e personalizar a experiência do usuário, entre outros usos.

Segundo Maiara Muraro Martins, Head do Imagine, tecnologia e inovação são setores complementares, e os que mais crescem no mundo. ”Ficamos lisonjeados de participar ao lado de empresas como Apple, Google, LinkedIn, Airbnb e Amazon. O Web Summit trouxe muitas tendências que já são realidade e outras que devem se destacar no próximo ano. Queremos implementá-las cada vez mais”, afirma Maiara.

A especialista listou as três principais tendências discutidas no evento. Confira:

1- Web

Definida como “nova fase” da World Wide Web, ou Web 3.0, tem como premissa democratizar a internet e a economia, além de dar mais controle e transparência ao usuário, utilizando blockchain e inteligência artificial. “A Web3 promete mais privacidade e melhorias no armazenamento de dados, mas o principal fator é o empoderamento, o poder de usar a internet sem um meio, canal ou intermediador”, conta Maiara.

2- NFTs

NFT é a sigla em inglês para non-fungible token (token não fungível, na tradução para o português). São ativos digitais que representam objetos no mundo real. Eles existem para serem utility tokens, chaves que dão acesso a um ativo digital e garantem a propriedade sobre ele. Cada NFT é único e insubstituível, como uma obra de arte – só que  registrada em blockchain.

3- Metaverso

Termo já conhecido e muito abordado em veículos de comunicação de todos os tipos, o metaverso vem para personalizar ainda mais a experiência do cliente, além de otimizar tempo. “Trata-se de uma réplica da realidade, usada por meio da tecnologia e do mundo digital. Também podemos falar em realidade virtual, ou aumentada”, explica Maiara.

O ponto em comum

Tanto o metaverso como as NFTs dependem do blockchain, seja para registro, construção ou negociação, e é através dele que as pessoas podem manusear seus dados do jeito que quiserem. Não há como dissociar o metaverso da Web3. O metaverso já utiliza a tecnologia de criptomoedas, dinheiro virtual inserido no universo dos games, na compra e venda de terrenos e imóveis, na customização de avatares e na oferta de bens e serviços virtuais, por exemplo As transações são autenticadas por meio da blockchain.

“Metaverso e Web3 realmente foram os grandes destaques, seja no palco principal ou nos painéis do evento. O fato é que fundos, aceleradoras, empresas e estúdios acreditam que são movimentos estruturantes e de longo prazo para uma economia que ainda vai se formar”, analisa Muraro. “Outro ponto é que embora tenha muita coisa no mercado, ainda existem muitas discussões sobre como estamos realmente no início dos debates, discutindo experiência do usuário e segurança, dois fatores também muito citados. Ou seja, essas tendências tendem a evoluir muito no próximo ano, e as empresas de tecnologia e inovação precisam se atualizar e andar conforme a carruagem”, pontua a executiva.

Depois dos aprendizados do Web Summit, Maiara Muraro Martins toma o próprio conselho para si e para a Imagine. “Para os próximos anos, é necessário evoluir o roadmap do nosso produto cada vez mais. Afinal, se a Alexa está com evolução de roadmap para se tornar um produto que proporcione uma experiência cada vez mais única, como bem nos disse Rohit Prasad, executivo da Amazon, porque nós não estaríamos?”, conclui.

Sobre o Grupo FCamara

O Grupo FCamara é um ecossistema de tecnologia e inovação que potencializa a transformação dos negócios ao prover desenvolvimento e soluções tecnológicas orientadas aos resultados dos clientes. Tem alta especialização e atua nos principais players do mercado de varejo, saúde, seguros, banking, indústria de transformação, entre outros. Após imersão no Vale do Silício, o grupo fundou sua própria Corporate Venture, que já lançou diversas startups com foco B2B. Saiba mais: www.fcamara.com.br/

O que é marketplace e por que investir nessa plataforma

ÚnicaPropaganda e Moysés Peruhype Carlech

Milhares de internautas utilizam o marketplace diariamente para fazer compras virtuais. Mas muitos ainda desconhecem seu conceito e como ele funciona na compra e venda de produtos.

Afinal, o que é marketplace?

O marketplace é um modelo de negócio online que pode ter seu funcionamento comparado ao de um shopping center.

Ao entrar em um shopping com a intenção de comprar um produto específico, você encontra dezenas de lojas, o que lhe permite pesquisar as opções e os preços disponibilizados por cada uma delas. Além de comprar o que você planejou inicialmente, também é possível consumir outros produtos, de diferentes lojas, marcas e segmentos.

Leve isso ao mundo virtual e você entenderá o conceito de marketplace: um lugar que reúne produtos de diversas lojas, marcas e segmentos. A diferença é que no ambiente virtual é mais fácil buscar produtos, e existe a facilidade de comprar todos eles com um pagamento unificado.

Os principais marketplaces do Brasil

A Amazon foi a primeira a popularizar esse modelo de negócio pelo mundo, e até hoje é a maior referência no assunto

No Brasil, o marketplace teve início em 2012. Quem tornou a plataforma mais conhecida foi a CNova, responsável pelas operações digitais da Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, entre outras lojas.

Hoje, alguns nomes conhecidos no marketplace B2C são: Americanas, Magazine Luiza, Netshoes, Shoptime, Submarino e Walmart. No modelo C2C, estão nomes como Mercado Livre e OLX. Conheça os resultados de algumas dessas e de outras lojas no comércio eletrônico brasileiro.

Aqui no Vale do Aço temos o marketplace da Startup Valeon que é uma Plataforma Comercial de divulgação de Empresas, Serviços e Profissionais Liberais que surgiu para revolucionar o comércio do Vale do Aço através de sua divulgação online.

Como escolher o marketplace ideal para sua loja

Para ingressar em um marketplace, é preciso cadastrar sua loja, definir os produtos que serão vendidos e iniciar a divulgação. Mas é fundamental levar em consideração alguns pontos importantes antes de decidir onde incluir sua marca:

Forma de cobrança: cada marketplace possui seu modelo de comissão sobre as vendas realizadas, que pode variar de 9,5% a 30%. O que determina isso é a menor ou maior visibilidade que o fornecedor atribuirá a seus produtos. Ou seja, o lojista que quer obter mais anúncios para seus produtos e as melhores posições em pesquisas pagará uma comissão maior.

Na Startup Valeon não cobramos comissão e sim uma pequena mensalidade para a divulgação de seus anúncios.

Público-alvo: ao definir onde cadastrar sua loja, é essencial identificar em quais marketplaces o seu público está mais presente.

Garantimos que na Valeon seu público alvo estará presente.

Concorrentes: avalie também quais são as lojas do mesmo segmento que já fazem parte da plataforma e se os seus produtos têm potencial para competir com os ofertados por elas.

Felizmente não temos concorrentes e disponibilizamos para você cliente e consumidores o melhor marketplace que possa existir.

Reputação: para um marketplace obter tráfego e melhorar seus resultados em vendas precisa contar com parceiros que cumpram suas promessas e atendam aos compradores conforme o esperado. Atrasos na entrega, produtos com qualidade inferior à prometida e atendimento ineficiente são fatores que afastam os usuários que costumam comprar naquele ambiente virtual. Ao ingressar em um marketplace, certifique-se de que a sua loja irá contribuir com a boa reputação da plataforma e pesquise as opiniões de compradores referentes às outras lojas já cadastradas.

Temos uma ótima reputação junto ao mercado e consumidores devido a seriedade que conduzimos o nosso negócio.

Vantagens do marketplace

A plataforma da Valeon oferece vantagens para todos os envolvidos no comércio eletrônico. Confira abaixo algumas delas.

Para o consumidor

Encontrar produtos de diversos segmentos e preços competitivos em um único ambiente;

Efetuar o pagamento pelos produtos de diferentes lojistas em uma única transação.

Para o lojista

Ingressar em um comércio eletrônico bem visitado e com credibilidade, o que eleva a visibilidade de seus produtos;

Fazer parte de uma estrutura completa de atendimento e operação de vendas com um menor investimento, considerando que não será necessário pagar um custo fixo básico, como aconteceria no caso de investir na abertura de uma loja física ou online.

Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:

• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;

• Atraímos visualmente mais clientes;

• Somos mais dinâmicos;

• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;

• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;

• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.

• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as suas vendas.

Para o Marketplace

Dispor de uma ampla variedade de produtos em sua vitrine virtual, atraindo ainda mais visitantes;

Conquistar credibilidade ao ser reconhecido como um e-commerce que reúne os produtos que os consumidores buscam, o que contribui até mesmo para fidelizar clientes.

Temos nos dedicado com muito afinco em melhorar e proporcionar aos que visitam o Site uma boa avaliação do nosso canal procurando captar e entender o comportamento dos consumidores o que nos ajuda a incrementar as melhorias e campanhas de marketing que realizamos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

LULA VAI RECONHECER O GOVERNO DE MADURO NA VENEZUELA

 

Venezuela
E como ficam os representantes de Guaidó no Brasil

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo


Lula com Hugo Chávez e Nicolás Maduro, em Manaus, em setembro de 2007: membro da equipe de transição deixou claro na semana passada o que já vinha sendo sinalizado pelo PT| Foto: EFE/Raimundo Valentim

Assim como fizeram países vizinhos onde a esquerda chegou à presidência, o Brasil vai voltar a reconhecer o ditador Nicolás Maduro como presidente da Venezuela assim que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começar seu terceiro mandato.

No início de 2019, os Estados Unidos, a União Europeia e outros países, entre eles o Brasil, já presidido por Jair Bolsonaro (hoje no PL), reconheceram o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, como chefe de Estado.

A Argentina deixou de reconhecer o opositor a Maduro como presidente da Venezuela depois que o peronista Alberto Fernández chegou à Casa Rosada, no final de 2019. Este ano, a Colômbia fez o mesmo depois que Gustavo Petro se tornou o primeiro presidente de esquerda do país. A UE deixou de reconhecer Guaidó no ano passado.

Embora Lula ainda não tenha manifestado explicitamente que reconhecerá Maduro como presidente venezuelano, no domingo passado (13) o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), membro da equipe de transição, anunciou que isso acontecerá no novo governo brasileiro.

Pimenta participou de um ato na Embaixada da Venezuela para lembrar três anos da entrada de diplomatas de Guaidó na representação diplomática do país caribenho em Brasília.

Militantes de esquerda, que falavam em “invasão”, e de direita estiveram no local em 13 de novembro de 2019. Houve tumultos e um vídeo mostrou Pimenta ajudando funcionários de Maduro a arrastar um apoiador de Guaidó para fora da embaixada. Todos os representantes do opositor deixaram o local no mesmo dia.

Pimenta depois apresentou pedido de habeas corpus para que fosse suspensa a expulsão pelo governo brasileiro de 34 diplomatas venezuelanos ligados a Maduro, que resultou em liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.

“Foram três anos de luta, de resistência, para que pudéssemos chegar a essa data, [com] Lula eleito presidente. Em breve, teremos a oportunidade de restabelecer a normalidade das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela”, disse Pimenta na embaixada venezuelana no último domingo.

No ato, no qual o deputado federal foi “homenageado”, foi estendida uma faixa de campanha de Lula em frente a retratos de Hugo Chávez e de Maduro e o jingle “Lula lá” foi executado no sistema de som.

Apoio declarado
A declaração de Pimenta apenas confirmou o que já vinha sendo sinalizado desde a campanha do presidente eleito. Um dia depois da vitória de Lula no segundo turno da eleição presidencial em 30 de outubro, Maduro informou no Twitter que havia tido uma “boa conversa” com o brasileiro e que ambos falaram de “retomar a agenda de cooperação binacional”.

Em entrevista a jornalistas estrangeiros em agosto, Lula defendeu a alternância de poder, inclusive na Venezuela, mas cobrou que os Estados Unidos reconheçam o governo Maduro “porque só tem um jeito de restabelecer a convivência democrática, é não criminalizando as pessoas”. Além disso, criticou o reconhecimento de Guaidó como presidente venezuelano: “Ele era um impostor, está provado que era um impostor”.

Depois, em setembro, em entrevista no Programa do Ratinho, do SBT, o petista alegou que o Brasil se beneficiou de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a regimes de esquerda durante os governos do PT, apesar das denúncias de calote – só a Venezuela deixou de pagar R$ 3,45 bilhões.

“Quando você está financiando uma obra, você exporta sua engenharia. Quem começou a fazer o metrô de Caracas foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. Então, primeiro, quando o BNDES empresta dinheiro, é obrigado a contratar uma empresa brasileira. Segundo, os componentes são comprados do Brasil. Então, o que você está fazendo é estar exportando, além de receber o dinheiro de volta”, argumentou.

Quando o apresentador mencionou os calotes sofridos pelo Brasil, Lula respondeu: “Todo mundo paga, você pode ter dificuldade aqui ou ali, mas todo mundo paga”.

Em 2019, quando Bolsonaro reconheceu Guaidó como o presidente venezuelano, o PT divulgou nota em que criticou a decisão do governo brasileiro.

“Essa decisão agressiva do governo brasileiro demonstra que o nosso país já não tem mais política externa autônoma, tendo-se alinhado acriticamente, e contra seus próprios interesses, à agenda geopolítica belicista e antilatinoamericana de Donad Trump [então presidente americano]”, apontou o comunicado.

Representantes de Guaidó
O reconhecimento de Maduro pelo Brasil deixará em situação incerta os representantes de Guaidó no país. Em entrevista à Gazeta do Povo, María Teresa Belandria, embaixadora do governo Guaidó no Brasil, preferiu não divulgar qual será seu destino e o do ministro-conselheiro Tomás Silva (o restante da representação é composto de voluntários) a partir de 2023, mas adiantou que ambos não voltarão à Venezuela por ora.

“Eu não posso voltar para a Venezuela, todo mundo sabe que eu não posso voltar para o meu país até pelo menos depois das negociações do México”, disse Belandria, em referência às conversas entre a ditadura chavista e a oposição para eleições presidenciais livres no país e abertura política, negociações que estão paralisadas.

No último dia 11, Alberto Fernández, Petro e o presidente da França, Emmanuel Macron, organizaram um encontro em Paris entre representantes do regime e da oposição do país caribenho e falaram da volta das conversas no México, que ainda não têm data para serem retomadas.

Belandria afirmou que ela e Silva só devem voltar à Venezuela “quando tivermos uma data para as eleições”.

“Eu acho que foi bom [o encontro em Paris], porque as pessoas que estão colocando pressão nas costas do Maduro para voltar a negociar são todas amigos deles: os presidentes da Argentina, da Colômbia”, avaliou a embaixadora. “A nossa vontade de negociar sempre existiu, nós nunca saímos da mesa.” (Colaborou Isabella Mayer de Moura)


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APOIADORES DE BOLSONARO CONTINUAM A VIGÍLIA EM FRENTE AOS QUARTÉIS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Apoiadores de Bolsonaro se concentram todos os dias em frente ao quartel do Exército, em Brasília, em protesto contra o resultado da eleição presidencial.| Foto: Renan Ramalho/Gazeta do Povo

Desde o fim da apuração do segundo turno da eleição presidencial de 2022, em que Lula venceu Jair Bolsonaro por uma estreitíssima vantagem, milhares de brasileiros tomaram as ruas. Eles demonstram uma indignação que, se não é tão difusa quanto aquela que motivou as manifestações de 2013, também tem várias motivações e intenções que precisam ser analisadas com muita serenidade, empatia e equilíbrio, algo que tem faltado com frequência a diversos setores da imprensa e da cúpula do Judiciário, que de imediato passaram a qualificar os atos como “antidemocráticos” ou “golpistas”, como se a intenção de uma parte não desprezível da população brasileira tivesse essa conotação.

Os manifestantes que têm se postado diante de quartéis dia após dia, Brasil afora, têm um rol importante de reivindicações, muitas perfeitamente legítimas, mas é inegável, como fica patente pelo próprio local escolhido, que a pauta prioritária é uma interferência das Forças Armadas no processo político, como se coubesse a elas uma intervenção para restaurar a ordem institucional que os manifestantes julgam rompida. Em termos objetivos, pedem algo que caracteriza, sim, uma ruptura do funcionamento constitucional normal dos poderes de Estado, algo que, à luz de uma correta interpretação da nossa Carta Magna, pode ser considerado – objetivamente, volte-se a dizer – um golpe, um atentado à democracia, claramente ilícito. Estariam, portanto, incorrendo em tese na figura penal da incitação à prática de crime. Estariam incitando os militares a atuarem contra legem, a praticar o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (descrito no artigo 359-L do Código Penal) ou de golpe de Estado (artigo 359-M do mesmo Código).

No entanto, muitos que fazem esse pedido julgam-se amparados pela Constituição, em razão de uma determinada interpretação de seu artigo 142 que se popularizou por ter sido avançada por um jurista de inegáveis credenciais democratas, grande prestígio e respeitabilidade. Atuam, portanto, com aquilo que em Direito Penal chamaríamos de “erro de proibição”, um erro quanto ao que a norma legal autoriza ou permite: essas pessoas não querem atuar à revelia da Constituição, não têm um animus de golpe ou de incitação a golpe, não atuam com dolo golpista; querem, na verdade, segundo seu entendimento, ver a Constituição respeitada e cumprida, dirigindo-se à luz do dia à autoridade que poderia, segundo esse mesmo entendimento, atuar para fazer valer a regra legal. Fazem-no pacificamente, sem qualquer agressividade, como cidadãos de bem que querem o melhor para seu país. Apenas se equivocam, portanto, quanto ao sentido de uma norma constitucional. Mesmo quanto ao crime de incitação, que é o tipo penal em que em tese os manifestantes incorreriam, eles atuam na verdade com o que em doutrina se chama “erro de tipo”. O crime de incitação pressupõe, na sua formulação, a consciência de se estar sugerindo a prática de algo se se sabe ser crime. Ora, em suas consciências, não estão pedindo às Forças Armadas que violem a lei penal; ao contrário, estão solicitando, segundo suas consciências, volte-se a dizer, que estas cumpram o que consideram ser um papel que a lei garante aos militares.

O pedido por uma intervenção militar, quando baseado em uma interpretação equivocada do texto constitucional que julga ser legítima tal intervenção, não pode ser considerado incitação ao crime

Observe-se, de qualquer forma, quer se trate de erro de tipo ou de erro de proibição (e o leitor haverá de nos perdoar o tecnicismo, essencial no caso em tela), que se trata de erro de interpretação. Não mais censurável que os inúmeros erros recentes de interpretação incorridos pelos próprios ministros do Supremo Tribunal Federal. Não é difícil dar-se conta, por exemplo, de que o processo eleitoral de 2022 andou muito longe da normalidade que se esperaria para um país que ainda caminha para consolidar sua democracia. Os brasileiros têm todas as razões, por exemplo, para se indignar com o mero fato de Lula ter sido habilitado a participar desta eleição. Como afirmamos na noite de 30 de outubro, “em um país cuja história política é pródiga em bizarrices, podemos dizer com toda a certeza que nada supera a normalização da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República”. Uma pessoa que havia sido condenada em dois processos diferentes, em duas instâncias (com uma das condenações confirmada já na terceira instância), teve sua ficha tornada limpa novamente porque o Supremo simplesmente decidiu, anos depois, que os processos correram na cidade errada (revertendo, aliás, algo que os próprios ministros já haviam definido), anulando as condenações – sem falar de uma suspeição inventada contra o ex-juiz Sergio Moro, que teria tido o mesmo efeito de limpar a ficha de Lula caso o STF não tivesse criado o “erro de CEP”.

Erros de interpretação inaceitáveis também permeiam toda a escalada de agressões às liberdades democráticas e às garantias constitucionais promovida pelo Supremo em seus inquéritos abusivos: o das fake news, o dos “atos antidemocráticos” (já arquivado) e o das “milícias digitais”. A liberdade de expressão foi relativizada, a imunidade parlamentar foi abolida, brasileiros são perseguidos por opiniões que manifestam de forma reservada em grupos privados de aplicativos, perfis em mídias sociais são derrubados ou desmonetizados porque seus donos defendem posições legítimas, mas que batem de frente com supostos “consensos”. E, por fim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu novos motivos para os brasileiros reclamarem, ao desequilibrar a campanha eleitoral em favor do candidato petista com suas decisões que incluíram até mesmo censura prévia, sem falar do tabu criado em torno da lisura das urnas eletrônicas, criminalizando até mesmo questionamentos de ordem técnica. Não são poucos os brasileiros que julgam com toda a sinceridade ter havido irregularidades na votação ou na apuração, especialmente depois que um relatório do Ministério da Defesa não excluiu essa possibilidade, embora também não tenha encontrado provas de fraude.


Ir às ruas por insatisfação contra a eleição de Lula ou para criticar a atuação dos tribunais superiores, em si, nada tem de antidemocrático. E quem o diz é a própria Lei dos Crimes Contra o Estado Democrático de Direito, recentemente aprovada e que incorporou ao Código Penal a importante ressalva segundo a qual “não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”. As manifestações têm sido pacíficas e não têm violado outros direitos dos brasileiros.

O erro que consiste em pedir a intervenção das Forças Armadas, por outro lado, constitui, sim, como já afirmamos, algo objetivamente reprovável, mas sem que se possa falar propriamente, na maior parte dos casos, em atitude criminosa. Uma criminalização generalizada é completamente equivocada. É claro que, se por um lado, não há elementos para responsabilizar judicialmente quem se manifesta pedindo uma intervenção militar na crença de que ela tem amparo constitucional, situação muito diferente é a daqueles que, conhecendo corretamente os limites constitucionais das Forças Armadas, mesmo assim pedem um golpe, cientes de que a ruptura por eles desejada não tem amparo legal. Estes, sim, poderiam responder por incitação, mas para isso seria preciso investigar tais pessoas de forma individualizada, sem as “criminalizações por atacado” que estão marcando as respostas de formadores de opinião e de membros do Judiciário, que se julgam sabedores do que vai na consciência de cada um desses milhares de brasileiros a ponto de classificá-los todos como “golpistas”.

Não é pela repressão judicial ou pela indiferença da mídia que a mobilização desses brasileiros irá recuar. Os pedidos de golpe militar (mesmo daqueles que consideram, equivocadamente, ser essa uma possibilidade com amparo legal) não são razoáveis, mas vários outros motivos da insatisfação popular o são. Já afirmamos em várias ocasiões que não haverá pacificação possível para o Brasil se o Poder Judiciário, especialmente o STF, mantiver sua postura atual, com decisões que agridem o Estado Democrático de Direito. O fim dos inquéritos abusivos e das perseguições infundadas é uma primeira atitude fundamental para o apaziguamento; o mesmo podemos dizer de um maior esforço para oferecer respostas mais claras às dúvidas que ainda persistem a respeito do processo eleitoral. Simplesmente dar as costas a esses brasileiros, rotulando-os de “antidemocráticos”, não resolve o problema – pelo contrário, tenderá a agravar as tensões.


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VIAGEM DOS MINISTROS DO STF FINANCIADOS POR EMPRESÁRIOS É CRIME

 

Relações perigosas

Por
Bruna Komarchesqui


Ministros do STF viajaram a NY com tudo pago pelo Lide, de João Doria; tema da palestra dos magistrados foi “O Brasil e o respeito à liberdade e à democracia”| Foto: Reprodução YouTube


A viagem de cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para Nova York, com todas as despesas pagas pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), do ex-governador de São Paulo João Doria, viola a Lei do Servidor Público, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, os código de ética da Magistratura e dos Servidores do Supremo, além dos princípios de impessoalidade e moralidade da Constituição Federal, na avaliação de juristas ouvidos pela Gazeta do Povo. Durante a viagem aos Estados Unidos, os magistrados brasileiros também participaram de um jantar de luxo pago pelo Banco Master, investigado na Lava Jato sob o antigo nome de Banco Máxima. O proprietário da instituição financeira é o bilionário Daniel Vorcaro, que também foi alvo de um mandado de prisão em 2019 por suspeita de desvio de recursos em fundos de pensão de servidores públicos municipais.

De acordo com o artigo 117 da Lei 8.112/90, “ao servidor é proibido: receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições”. Outro documento disponibilizado pela Comissão de Valores Mobiliários, no site do Governo Federal, recorda as regras sobre recebimento de presentes por funcionários públicos. Segundo o texto, “o Código de Conduta da Alta Administração Federal (CCAAF), proíbe, em seu art. 9°, a aceitação de presente dado por pessoa, empresa ou entidade que tenha interesse em decisão da autoridade ou do órgão a que esta pertença”.

“Considera-se que o presente foi dado em função do cargo sempre que o ofertante: a) estiver sujeito à jurisdição regulatória do órgão a que pertença a autoridade; b) tenha interesse pessoal, profissional ou empresarial em decisão que possa ser tomada pela autoridade em razão do cargo; c) mantenha relação comercial com o órgão a que pertença a autoridade; d) represente interesse de terceiro, como procurador ou preposto, de pessoa, empresas ou entidade compreendida nas hipóteses anteriores”, detalha a orientação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República.

“Certamente essas empresas que figuram nos processos da Lava Jato têm interesse em obter decisões favoráveis em muitos dos processos que estão respondendo perante o STF”, explica o advogado civilista Afonso Oliveira. “Trata-se de uma violação flagrante desta lei, e mais, uma violação dos princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade”, completa.

Isenção comprometida
O advogado e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo Alessandro Chiarottino acrescenta que “há um problema significativo tanto constitucional quanto relativo à Lei Orgânica da Magistratura (Lei Complementar 35/1979), que prescrevem uma conduta de mais discrição do que os ministros vêm observando”. “O juiz deve se manifestar apenas nos autos do processo. Tanto que é desaconselhável eticamente até que ele escreva um texto de doutrina, porque eventualmente pode se comprometer com determinada posição, falando dela de forma acadêmica, seja em congressos ou por escrito, e incorrer em um conflito quando for julgar questões atinentes”, explica.

O jurista defende que, no caso específico do evento em Nova York, há o “problema adicional” da participação de grandes empresas como financiadoras. “A situação está longe do ideal. Amanhã, diante de uma empresa que financia viagens para o comparecimento de magistrados, qual vai ser a isenção deles para julgar casos em que ela esteja envolvida? Isso não quer dizer que ele vai ser guiado por favorecimento, mas não é algo recomendável para o magistrado. O adágio famoso de que ‘a mulher de César não deve apenas ser honesta, mas parecer honesta’ se aplica bem a esse caso”, afirma.

O Código de Ética da Magistratura dispõe, no artigo 17, que “é dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua independência funcional”. Já o Código de Ética dos Servidores do Supremo Tribunal Federal (aprovado pela Resolução 711/2020) aponta que entre as “vedações ao servidor do STF” está “receber benefícios de transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares que atentem contra os princípios elencados neste código”. Alguns dos princípios são “evitar situações conflitantes com suas responsabilidades profissionais e que podem afetar o desempenho de suas funções (…) atentar para que os atos da vida particular não comprometam o exercício de suas atribuições”.

Chiarottino analisa que, a partir de 2002, o Supremo “acabou se enveredando por muita exposição dos ministros”, até por meio do televisionamento das sessões, o que os levou a uma conduta midiática, não compatível com a função. “Eles passaram a ser pessoas públicas demais, dar entrevistas, comparecer a eventos nem sempre acadêmicos, tirar fotos com celebridades. Não que um juiz precise ser uma esfinge, mas uma exposição ao ponto de se confrontar com populares na rua é muito exagerada”, critica.

O advogado acrescenta que o comportamento dos ministros é ainda mais grave em um momento particularmente ruim de tensão institucional no Brasil. “Vi pessoas de esquerda fazendo duras críticas, não tem a ver com ideologia ou posição política. Esse tipo de atitude já não seria ideal em um momento político de céu de brigadeiro, mas, em um momento conturbado como estamos, me pareceu bastante inadequado. Não houve sensibilidade mínima, ainda foram em peso. Só podemos lamentar mais um episódio que não vem a contribuir para a defesa das liberdades e da democracia no Brasil de nenhuma forma”, completa.

Brazil Conference
Os ministros Alexandre de Moraes, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski viajaram para palestrar na Brazil Conference, realizada entre os dias 14 e 15 de novembro. O tema da participação dos ministros foi “O Brasil e o respeito à liberdade e à democracia”. O ministro Antonio Anastasia, do Tribunal de Contas da União (TCU), e o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto também participaram do painel. Já o ex-presidente do Brasil Michel Temer ficou responsável pela abertura do evento.

“Os palestrantes da Brazil Conference viajaram a convite do Lide, que custeou passagens aéreas, hospedagem, alimentação e transfers. E não houve pagamento de cachê a nenhum expositor”, informou a organização, por meio de nota enviada ao jornal Estadão. O evento contou com a participação de mais de 250 empresários, além de representantes de entidades de classe, gestores públicos e privados, e autoridades monetárias. O Lide é a empresa de eventos do Grupo Doria.

O advogado Carlos Alexandre Klomfahs, conhecido por ações públicas contra decisões controversas no meio político, protocolou uma petição no STF, pedindo mais informações sobre as despesas dos ministros na viagem aos EUA. Ele argumenta que o “órgão de cúpula do Poder Judiciário exige observância de ética e transparência”. “Tais participações sem as respectivas prestações de contas podem abrir um precedente perigoso para cumprimento dos deveres institucionais do Supremo Tribunal Federal, violando vários princípios republicanos”, afirma um trecho do documento.

Jantar no Fasano
Na noite do domingo (13), os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski participaram de um “jantar de boas-vindas” aos participantes da conferência, no Fasano New York, na região da 5ª Avenida. Segundo o colunista Rodrigo Rangel, o empresário Daniel Vorcaro – um dos novos “lobos” da Faria Lima – encomendou um banquete para 150 pessoas. O restaurante, que geralmente fecha nas noites de domingo, teria sido aberto exclusivamente para a ocasião.

O cardápio incluía uma entrada de canapés (que custa cerca de R$ 350 por pessoa), uma sequência de quatro pratos (que, no cardápio normal da filial nova-iorquina, sai por R$ 750 por pessoa), além de bebidas alcoólicas e não alcoólicas à vontade. Na carta, há vinhos e espumantes italianos de, pelo menos, R$ 350 a garrafa no Brasil.

A conta do jantar foi paga pelo Banco Master, um dos principais operadores de crédito consignado no país. Antes de ser comprado por Vorcaro, o então Banco Máxima foi citado em investigações da Operação Lava Jato. Seus antigos gestores também foram denunciados por supostos crimes de gestão fraudulenta, divulgação de dados inverídicos em balanços de 2014 a 2016 e prestação de informações falsas ao Banco Central. O objetivo seria maquiar os demonstrativos financeiros para esconder prejuízos e melhorar a captação de recursos no mercado.

O Banco Master não está entre os apoiadores e patrocinadores do evento do Lide. Em nota, a instituição afirmou que “o Banco Master é apoiador de eventos, seminários e congressos realizados por várias entidades empresariais há muitos anos. O apoio a este evento ou aos demais realizados em 2022 não implica ao Banco qualquer conhecimento ou influência sobre o tema abordado ou palestrantes”.

“Infelizmente o nosso STF tem se autodestruído. O que vemos com perplexidade são ministros no exercício de sua função jantando com advogado da parte ré, almoçando com empresários, recebendo ‘favores’. Porque, como diz o velho adágio da economia: nenhum almoço é de graça. Mais cedo ou mais tarde há de se cobrar por aquele favor ou por aquela vantagem obtida. Essas relações não são republicanas, muito pelo contrário, são espúrias e, quando manifestas à luz, devem causar repúdio da sociedade e dos órgãos competentes para regular isso. O único órgão que, segundo a Constituição, tem o poder de julgar os atos do STF seria o Senado Federal, que permanece silente. Até quando?”, questiona Afonso Oliveira.


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BOLSONARO AINDA PERMANECE EM SILÊNCIO APÓS AS ELEIÇÕES

 

Nada a declarar

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Presidente Jair Bolsonaro, acompanhado de vários ministros, fala com a imprensa no Palácio da Alvorada


O presidente Jair Bolsonaro em sua última aparição pública, no dia 10 de novembro. Depois disso, silêncio, silêncio e silêncio.| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Jair Bolsonaro está em silêncio. Exceto por um brevíssimo pronunciamento para debelar uma greve de caminhoneiros potencialmente danosa, o presidente, famoso por suas mitadas no cercadinho do Alvorada e por suas lives às quintas, está quieto e recolhido há longos vinte dias. Naturalmente a misteriosa quietude desperta as mais prosaicas, tresloucadas e às vezes perversas especulações. Afinal de contas, o que explicaria essa opção do tagarela Bolsonaro pelo silêncio?

Antes de registrar alguns dos vários motivos para o silêncio presidencial, deixe-me acrescentar mais um complicador a este cenário estranho. Acontece que Jair Bolsonaro, ao longo de três décadas, fez carreira política e chegou ao cargo máximo da Nação por meio do confronto. E não foi um confronto qualquer. Bolsonaro sempre gostou e foi gostado por seus discursos enérgicos, aparentemente capazes de restaurar a ordem no país, e por sua linguagem simples, de uma simplicidade que muitas vezes ofendia ouvidos mais sensíveis.

Agora, contudo, Jair Bolsonaro opta pelo silêncio. Da mesma forma que, nas últimas semanas de campanha, optou pela mansidão. Opções louváveis num país conflagrado, mas que curiosamente não pacificam nada. Pelo contrário, até aqui o silêncio e a mansidão de Bolsonaro (esta última representada pelo famoso “respeito às quatro linhas”) só têm servido para criar tensão e alimentar a fantasia de milhões de brasileiros que, não sem razão, se sentem injustiçados ou não reconhecem a legitimidades das eleições ou não aceitam se submeter à juristocracia capitaneada por Alexandre de Moraes.

Enquanto isso a esquerda, incapaz de vislumbrar o aspecto humano dos líderes políticos (nem do próprio Lula), tripudia. Mas não apenas pela perversidade que lhe é característica. À esquerda interessa muito provocar Jair Bolsonaro e, dessa forma, tornar real a profecia de golpe que eles repetem desde 2019. Mais do que isso, a esquerda quer a volta do Bolsonaro falador para manter viva a ideia de que passamos os últimos quatro sendo governados por um monstro para lá de indecoroso.

Me dê motivo
Convivem em permanente tensão a Teoria do Silêncio Estratégico, a Teoria do Silêncio Resignado e a Teoria do Silêncio Deprimido. A primeira é a tese preferida dos que acreditam na tal de bala de prata (também chamada de “carta na manga”), numa reviravolta eleitoral ou num golpe ou contragolpe. A segunda, como o próprio nome diz, é a tese dos resignados, para os quais a eleição pode ser ilegítima (e, cá entre nós, é), mas não há nada a fazer. Não dentro das tais quatro linhas. Por fim, a Teoria do Silêncio Deprimido é a melhor explicação tanto para quem tripudia quanto para quem conserva um olhar humano e concreto sobre os envolvidos no abstrato debate político.

Das três, a Teoria do Silêncio Estratégico é a que menos me seduz. Me parece que ela evoca uma sensação de heroísmo e de sacrifício que, embora nobres, parecem não dialogar com a realidade política mais ampla de um Senado omisso e um Judiciário comprometido com o petismo. Sem falar na inação da sociedade civil organizada e na cumplicidade abjeta da imprensa. Em outras palavras, não acredito que o silêncio seja estratégico porque não vejo nenhuma possibilidade de um objetivo revolucionário (ou contrarrevolucionário) prosperar.

A ideia de um silêncio resignado talvez seja a menos popular. Justamente porque “reduz” o herói ou o “mito” à sua dimensão humana. É, ela faz mesmo isso e nos obriga também a nos confrontarmos com uma realidade assustadora: a de que até o atual presidente pode ser esmagado por essa força aparentemente imparável que nasce do conluio entre o Estado e o capital corrompidos. Ao mesmo tempo, o silêncio resignado de Bolsonaro expõe a farsa de uma elite histérica que passou quatro anos dizendo que ele implantaria uma ditadura militar ao Brasil.

Por fim temos a teoria mais incômoda: a de que Jair Bolsonaro, depois da derrota para Lula numa eleição contaminada por todos os tipos de mentiras e trapaças imagináveis, se recolheu ao silêncio porque estaria deprimido. Convenhamos: não é uma possibilidade tão remota assim. Você não ficaria deprimido ao se ver cercado por uma maioria (democraticamente questionável) que prefere o profeta da corrupção, Lula? Você não ficaria deprimido ao contemplar a possibilidade de prisão no curto prazo? Ora, tenhamos compaixão não pelo mito (que é uma invenção da guerra política), e sim pelo homem.

O outro silêncio
Seja lá qual for o motivo do silêncio de Jair Bolsonaro, no momento me preocupa mais o silêncio dos deputados e senadores de alguma forma associados ao conservadorismo, ao antipetismo e ao antiativismo judicial. São eles, entre os quais há muitos “campeões de voto”, que no momento dispõem de um enorme capital político e já poderiam estar enfrentando Lula e seus cúmplices no Senado e no STF. E, no entanto, à exceção do deputado Marcel van Hattem, estão todos quietos.

Onde está a ex-ministra Damares Alves para expor a tragédia progressista representada por alguns nomes da equipe de transição? Cadê também ex-ministra Tereza Cristina para defender veementemente as empresas ligadas ao agronegócio e que tiveram suas contas ilegal e inconstitucionalmente bloqueadas por Alexandre de Moraes? Cadê o ex-ministro Sérgio Moro para atacar duramente as decisões absurdas em série do STF? Ou será que estão todos esperando que a imunidade parlamentar seja respeitada no governo Lula-Alexandre de Moraes?

Mais do que a voz do presidente, cuja sobrevivência política depende hoje de um milagre, gostaria de estar ouvindo a voz daqueles que foram eleitos defendendo pautas direitistas. Nem que seja para ocupar espaço. Nem que seja para fazer oposição antecipada a Rodrigo Pacheco & Cia. Nem que seja para espernear. Nem que seja para dizer o que Bolsonaro talvez não possa dizer. Nem que seja para arriscar e, assim, precipitar um erro fatal de Alexandre de Moraes.

Nem que seja para nos dar um pouco de esperança de que o jogo “dentro das quatro linhas” de alguma forma prevalecerá e resultará na punição dos usurpadores e na restauração de uma ordem verdadeiramente democrática.


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LULA QUER A VOLTA DA INFLAÇÃO

 

Gestão pública

Por
Alexandre Garcia


| Foto: Rodrigo Cunha / Arquivo Tribuna do Paraná

Hoje Valdemar Costa Neto, o presidente do Partido Liberal, partido do presidente Bolsonaro, pretende levar à justiça eleitoral um pedido de informações sobre 250 mil urnas que têm o mesmo número de patrimônio, e que aí é impossível identificar urnas, impossível verificar qualquer anormalidade com elas.

São urnas anteriores à geração de 2020. As de 2020 estão mais ou menos isentas de desconfianças. E essas, ao contrário, estão cheias de desconfianças.

Eu fico me perguntando, não seria muito mais simples acatar a decisão do Congresso Nacional, que derrubou um veto de Dilma e manteve a lei que exigia o comprovante impresso do voto? Eu anotei aqui: 368 votos na Câmara e 50 votos no Senado. Deu 72% do Congresso, 418 congressistas contra 8 ministros do Supremo. E ganharam os 8 ministros do Supremo e derrubaram o comprovante impresso do voto. Contrariando a Constituição no Artigo 37, que o serviço público se caracteriza pela publicidade, ou seja, a apuração tem que ser transparente, o voto é sigiloso. Mas, enfim, vai levar lá e o TSE vai ter que dar uma resposta a isso.

Pelo menos está servindo para a gente marcar muito bem o que está escrito no parágrafo único do primeiro artigo da Constituição, que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido, por meio de seus representantes ou diretamente. Essa é uma grande questão.

PT não dá ouvidos aos criadores do Plano Real
E uma outra questão, o senador Wellington Dias, falando em nome do PT, disse que não tem jeito, que tem que mudar o equilíbrio fiscal. Aquele controle de contas, que é um compromisso de campanha de Lula. Vão pedir que o Congresso Nacional mude a Constituição e acabe com aquela regra de ouro que está mantendo a inflação controlada em 5%. Parece que não adiantou a fala de Pedro Malan, de Edmar Bacha, de economistas do Plano Real, que querem defender o Plano Real, que nos salvou de uma inflação brutal de 5.000% ao ano. E agora estão querendo derrubar os controles. Dá pena.

Outra coisa, o bloqueio de contas correntes feito pelo ministro Moraes, de muitas pessoas físicas e jurídicas do agro, provocou já a reação dos caminhoneiros e do agro como um todo. Pegou por exemplo a Sipal, que, dizem que é uma das maiores operadoras de grãos do mundo. Pegou Rodobens, que é uma empresa de leasing, que não está metida nisso. Caminhões que estão sob o contrato de leasing, estão lá com o nome da Rodobens, que é a dona do patrimônio.

Bloqueio de Moraes parece ficção do Minority Report
O jurista Fábio Tavares Sobreira leu na Jovem Pan um trecho da decisão de Moraes que diz assim: “Bloqueio de contas urgente diante da possibilidade da utilização de recursos para financiar atos antidemocráticos”. Aí o jurista destaca duas coisas. Ninguém pode ser punido pela possibilidade de fazer alguma coisa. Parece aquela ficção, o Minority Report. E a outra coisa, quem decide se é democrático ou antidemocrático? Eu diria que quem decide é a lei. A Lei 1497 do ano passado diz: “Não constitui crime a manifestação crítica aos poderes constitucionais por meio de passeatas, reuniões, greves e aglomerações”. Então, tem coisas que basta a gente ler a lei. A lei é maior do que as pessoas. A Constituição maior ainda.

Uma outra questão. Agora a gente vê aí no noticiário quem pagou aquele jantar grande, de que participaram seis ministros do STF, mais outros convidados em Nova York, no Fasano, foi o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, que já foi investigado na Lava Jato. Por causa disso, o senador Eduardo Girão, do Ceará, está querendo saber o resto. Quem pagou o resto? Quem pagou passagem, quem pagou diária…

Liberdade de opinião e o recado do caminhoneiro

Aí tem uma empresa do Paraná, a Cargo Lift, elevadora de cargas, pediu para ser retirada da premiação que seria nesta semana, do evento da empresa do João Dória, porque ela defende a liberdade de opinião, e participaram desse evento pessoas que são contra a liberdade de opinião.

E por último, eu queria retransmitir um recado de um caminhoneiro, que achei muito interessante. É muito simples: a gente para e a esquerda continua trabalhando, a esquerda produz, a esquerda transporta, a esquerda colhe, a esquerda planta, a esquerda emprega. Mas a gente vai parar. O país está dividido pela metade, né. Eu achei de uma astúcia esse argumento, esse raciocínio, muito bom. Então, minha gente, vamos esperar os acontecimentos. Valdemar Costa Neto hoje entregando no TSE e o TSE ficando com o compromisso de dar uma resposta.


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LULA QUER MEDIAR CONFLITOS INTERNACIONAIS

 

Diplomacia

Por
Diogo Schelp


Lula ao lado do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, durante visita ao Oriente Médio em maio de 2010| Foto: Reuters

Em meio ao intenso noticiário da última semana em torno da transição de governo em Brasília, das negociações para aprovação da PEC Kamikaze II (que vem sendo chamada de PEC da Transição, para estourar mais uma vez o teto de gastos, agora em quase 200 bilhões de reais), dos protestos em frente a quartéis contra o resultado das eleições, do discurso ambiental de Lula na conferência da ONU sobre o clima no Egito e da viagem do presidente eleito para o evento em jatinho “emprestado”, uma informação de bastidor passou quase despercebida, até porque não chega a surpreender, mas que merece nossa atenção. Trata-se da afirmação, feita por Lula na conferência climática em conversa reservada, em separado, com os representantes da China e dos Estados Unidos, de que, com ele na presidência, o Brasil vai voltar a mediar conflitos externo.

É digno de nota que Lula não disse isso a algum governante de país latino-americano ou mesmo a representantes de nações europeias com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, o que já teria certo impacto. Ele tratou logo de dar esse recado aos enviados das duas nações que protagonizam a nova ordem bipolar, ou seja, que disputam o domínio global nos campos econômico, tecnológico, geopolítico e até mesmo militar. É como se um aluno de média estatura que acabou de chegar dissesse aos dois fortões da turma para não se preocupar, por que, se houver, briga, ele vai pacificar tudo no gogó.

Ou em uma conversa em torno de algumas garrafas de cerveja, que é como Lula disse que acabaria com a guerra na Ucrânia. “Teria resolvido aqui, senão na primeira cerveja, na segunda; se não desse na segunda, na terceira; se não desse na terceira, até acabarem as garrafas a gente ia fazer um acordo de paz”, afirmou o então ainda pré-candidato à presidência, em março deste ano.

Foi uma declaração tão desprovida de pé na realidade quanto àquelas em que o presidente Jair Bolsonaro, no início deste ano, se vangloriou de ter evitado uma invasão russa à Ucrânia graças à sua visita a Vladimir Putin, apenas para se ver desmentido dias depois, quando efetivamente começou a guerra.

Mas voltemos a Lula. “É só uma bravata inofensiva”, diriam alguns. “É só uma forma de reforçar a ideia de que a diplomacia brasileira deve primar pela busca pacífica dos conflitos. Ele não acredita de verdade nisso, no poder da conversa de mesa de bar.” Será?

Ora, a gente já viu isso antes. Temos exemplos dos primeiros governos de Lula em que ele buscou ativamente o papel de mediador de conflitos — não apenas na América do Sul, nosso espaço de influência natural, mas mesmo em outros continentes e em conflitos perenes e distantes da nossa realidade.

Em 2008, por exemplo, Lula declarou ter mandado o então chanceler Celso Amorim convocar uma reunião de emergência da ONU para acabar com o conflito árabe-israelense. O motivo pelo qual o Brasil poderia resolver o problema, segundo Lula, era o fato de judeus e árabes viverem em paz e harmonia em nosso território. Apesar no nonsense da lógica lulista, houve quem levasse a sério a intenção do presidente pacificador… mas só dentro do Brasil. E é claro que nada nesse sentido foi para frente.

Mas o ápice da diplomacia ativa e altiva lulopetista que se dizia capaz de mediar conflitos foi a tentativa de resolver o impasse das negociações entre potências europeias e o Irã para conter o programa nuclear persa, que a comunidade internacional corretamente suspeitava ser para fins bélicos. Foi um humilhante tombo do cavalo diplomático no apagar das luzes do governo Lula.

Em maio de 2010, quando os Estados Unidos e a União Europeia se preparavam para impor sanções ao Irã por sua insistência em seguir com o programa de enriquecimento de urânio sem adequada fiscalização da autoridade nuclear internacional, Lula e o governo turco anunciaram a Declaração de Teerã, um acordo costurado com o Irã pelo qual o país governado então por Mahmoud Ahmadinejad se comprometia a entregar 1200 quilos de urânio enriquecido para ser guardado na Turquia, recebendo em troca uma quantidade menor do material enriquecido a 20% para uso civil.

No dia seguinte, o governo americano ligou para o chanceler brasileiro desautorizando o acordo, para suprema humilhação de Lula, com efeitos colaterais para o presidente turco Recep Erdogan, o outro fiador do acordo e que acreditou que o brasileiro estava respaldado pelos americanos. Pois assim garantira Lula a ele e aos interlocutores iranianos.

Em um artigo publicado em janeiro de 2020 em um jornal britânico, Lula e Celso Amorim escreveram que entraram nas negociações com o Irã naquele ano a pedido direto do governo de Barack Obama, dos Estados Unidos.

No entanto, em seu livro “Aposta em Teerã”, de 2014, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, já falecido, explica que Amorim entendeu errado o que os americanos haviam dito em conversas reservadas e em uma carta de Obama a Lula. Com base em entrevistas com negociadores americanos em questões de não-proliferação nuclear, Lampreia diz que o governo Obama sinalizara ao Brasil que via como positivas as iniciativas de conversas com o Irã, mas que isso não significava que tinham “um mandato para substituir as grandes potências no assunto”.

Ou seja, os americanos apreciavam a contribuição de Brasil e Turquia nas conversas, mas em nenhum momento disseram que esses países podiam fechar acordos por conta própria com os iranianos em nome dos Estados Unidos.

O então presidente russo Dmitri Medvedev inclusive deu o toque com antecedência a Lula, ainda em 2009, de que “o jogo já estava jogado” e que as potências ocidentais já tinham decidido impor sanções ao Irã (o que de fato ocorreu em junho e julho do ano seguinte).

Mas Lula, incentivado por seu chanceler, estava cego pela oportunidade de fazer um gesto grandioso na política externa.

Lampreia resumiu com perfeição a crença da diplomacia lulista na sua capacidade de mediar conflitos com as seguintes palavras: “O governo do presidente Lula sempre foi caracterizado por um forte desejo de protagonismo diplomático. No caso do Oriente Médio, demonstrou um excesso de voluntarismo, que se revelou gratuito e inútil. No caso do Irã, fez uma leitura por demais otimista do nosso papel internacional.”

Lula nem mesmo assumiu seu terceiro mandato e já está viajando e anunciando a volta do Brasil capaz de mediar conflitos.

Preparem as pipocas para assistir ao que vem a seguir: talvez um mirabolante enredo para acabar com a guerra na Ucrânia, para espanto de americanos, chineses e europeus?


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