quinta-feira, 17 de novembro de 2022

LULA MENTE NA COP27

Cúpula do clima

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


O presidente eleito Lula (PT) discursou nesta quarta-feira (16) durante a Conferência do Clima (COP27) da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece em Sharm el-Sheikh, no Egito.| Foto: Reprodução

O presidente eleito Lula usou uma conferência mundial sobre meio ambiente para fazer um discurso político-eleitoral, quase um comício. Pegou todos aqueles dados da CPI do circo e botou na tribuna internacional. Fez acusações contra o presidente Bolsonaro, acusações absurdas que já foram descartadas, jogadas no lixo pela Procuradoria-Geral da República, conforme expressão da vice-procuradora Lindôra Araújo, que disse não haver nenhum indício de crime, mas Lula repetiu tudo lá na tribuna como se fosse verdade.

Depois, Lula ainda repetiu, como se fosse verdade, que o Brasil tem 33 milhões de famintos, quando tem alimento de sobra. Também atribuiu ao presidente Bolsonaro 14 milhões de desempregados, quando a sabemos que ele recebeu esses 14 milhões lá do fim do governo petista. Foi uma inverdade atrás da outra para fazer um efeito internacional, para montar algum cenário que ele está querendo preparar por aqui, talvez tenha a ver com Bolívia ou Venezuela. Na Bolívia aconteceu algo parecido quando Evo Morales voltou, então vamos ficar prevenidos em relação aos objetivos do Foro de São Paulo.

Transição virou uma multidão de gente

Enquanto isso, o vice eleito Geraldo Alckmin anunciou o fim das nomeações para o governo de transição, o pessoal que pretende fazer um programa de governo, com tudo o que não foi anunciado durante a campanha eleitoral – o eleitor votou sem saber em que votava, só em quem estava votando. E sabia muito bem: Lula governou o país por 14 anos, os oito dele e os seis da presidente Dilma Rousseff.


Os números ruins de mentira e os números bons de verdade
Agora são 158 pessoas nessa transição; era para ser uma equipe e virou quase uma multidão de várias equipes. Os últimos nomes são Marcelo Freixo, André Janones, Randolfe Rodrigues, Marina Silva, Omar Aziz, Marta Suplicy, Manuela D’Ávila. Um nome anunciado saiu da lista: infelizmente, morreu Isabel Salgado, uma das maiores jogadoras de vôlei do Brasil, que foi da seleção brasileira e esteve em Jogos Olímpicos. Faleceu assim, de repente. Com saúde, com atividade física, era treinadora, estava em um excelente hospital, no Sírio-Libanês, tinha 62 anos e preparo físico perfeito. Não deram a causa, e acho que nós temos de achar o ponto comum entre essas pessoas jovens, esportistas, profissionais do esporte, em plena saúde, que de repente apagam.

Imprensa não vai fazer os manifestantes sumirem apenas ignorando-os

Preciso mencionar a nota do general Villas Bôas, eterno comandante do Exército, que mostrou a fibra dos manifestantes. Deve estar observando tudo de perto, em Brasília: sob chuva, gente de todas as idades, nunca vi uma multidão assim. Ele me lembrou uma coisa: a essência da questão, diz ele, está em que o ato de votar deve ser privado, enquanto a apuração deve ser pública e auditável. O general lembrou também a indiferença da grande mídia, esse negacionismo em relação às multidões. A grande mídia acha que, ignorando a multidão, vai fazê-la desaparecer. Tentaram isso na União Soviética e mesmo assim caiu o Muro de Berlim.

O PL está pretendendo, talvez, pedir a anulação do segundo turno. Já concluiu um relatório, feito por uma comissão de superespecialistas, inclusive formados no Instituto Técnico da Aeronáutica (ITA), mostrando que as urnas da geração 2020 estão OK, mas todas as outras, de 2009 a 2015, não. E que não é possível validar os resultados dessas urnas, que são 55% das urnas usadas e têm códigos e programas diferentes das de 2020.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/discurso-lula-cupula-clima-bolsonaro/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

RÚSSIA COMEÇA PERDER A GUERRA NA UCRÂNIA

 

Contraofensiva
Onde sua agressão à Ucrânia começou, há nove anos

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo


Mulher oferece flores a soldado ucraniano na cidade de Kherson, capital regional de onde russos se retiraram na semana passada| Foto: EFE/EPA/OLEG PETRASYUK

Em fevereiro de 2014, a Rússia iniciou sua série de agressões à integridade territorial da Ucrânia, ao ocupar a península da Crimeia, no sul do país.

Essa anexação, assim como a guerra civil deflagrada por separatistas pró-russos no leste no mesmo ano, foi uma resposta à destituição de um governo ucraniano simpático ao Kremlin. Em fevereiro deste ano, a agressão se tornou direta, com a invasão promovida pelo presidente Vladimir Putin à ex-república soviética.

Nos últimos meses, a contraofensiva ucraniana no sul vem dando a esperança de uma virada na guerra. Em outubro, a Rússia sofreu dois golpes importantes, a explosão na ponte da Crimeia e um ataque com drones à sua frota do Mar Negro, que levou a uma suspensão temporária do acordo que tinha assinado com Ucrânia, ONU e Turquia para facilitar a exportação de grãos ucranianos.

Entretanto, o maior revés foi a retirada de tropas russas da cidade de Kherson, na semana passada, até agora o ápice de um movimento de retomada do controle da província por parte da Ucrânia: era a única capital regional que Moscou havia capturado desde o início do conflito deste ano.

“A capacidade da Rússia de sustentar suas forças na margem oeste do rio Dnieper foi colocada sob pressão por ataques ucranianos às suas rotas de reabastecimento”, destacou um relatório da Inteligência Britânica.

“Ao recuar, as forças russas destruíram várias pontes e provavelmente colocaram minas para retardar e atrasar o avanço das forças ucranianas. A perda da margem oeste de Kherson provavelmente impedirá a Rússia de alcançar sua aspiração estratégica de uma ligação terrestre que chegue a Odesa”, acrescentou o comunicado.

Pode haver alguma justiça poética na Rússia estar começando a perder a guerra pelo sul, onde começou a minar a integridade territorial ucraniana há quase nove anos, e o presidente Volodymyr Zelensky destacou em agosto que a Crimeia não foi esquecida.

“Não esqueceremos que a guerra russa contra a Ucrânia começou com a ocupação da Crimeia. Esta guerra russa começou com a Crimeia e deve terminar com a Crimeia – com sua libertação”, garantiu.

Diferenças
Porém, as vitórias em Kherson não significam que Kyiv deve recuperar todas as áreas que perdeu para o Kremlin tão cedo. O analista militar e coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho destacou que a ocupação da Crimeia em 2014 teve uma natureza diferente das outras ações militares da Rússia no sul da Ucrânia neste ano.

A península era cobiçada pela sua posição sobre o Mar Negro, de grande importância para a Rússia pela base aeronaval em Sevastopol e pelo acesso, por meio dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, ao Mediterrâneo – a Rússia tinha dificuldades de chegar aos chamados mares quentes.

“Não há muita relação, então, eles [russos] terem começado pelo sul e a guerra terminar lá. [A invasão] começou pela Crimeia pela importância geoestratégica, lá em 2014. Uma coisa é [a Ucrânia] conquistar [a cidade de] Kherson e talvez até reconquistar toda a província, chegar ao litoral, uma coisa bastante diferente seria uma tentativa de reconquistar a Crimeia”, ressaltou Paulo Filho.

O analista destacou que as tropas da Rússia haviam ultrapassado o rio Dnieper, conquista que é chamada de cabeça de ponte. Porém, é uma posição muito difícil de ser defendida, já que essas tropas precisavam receber toda a logística, de pessoal e suprimentos, pelas pontes sobre o rio, que vinham sendo sistematicamente bombardeadas pelos ucranianos, especialmente a partir do momento em que estes receberam dos Estados Unidos os lançadores múltiplos de foguetes Himars.

“Ficou muito difícil para os russos manterem essa logística, então decidiram recuar para se defenderem do outro lado do rio, onde a defesa deixa mais difícil para os ucranianos atacarem. Agora, a vantagem de colocar o rio entre o defensor e o atacante está com os russos”, afirmou Paulo Filho.

“Foram uma série de reveses para os russos, que mostram uma série de fraquezas, até certo ponto inesperadas, e uma série de êxitos ucranianos, o que aumenta muito o moral da tropa, a disposição para o combate, e dificulta as ideias de celebração da paz nesse momento porque os ucranianos não vão desistir de tentar retomar o máximo de território possível.”

Apesar de Putin estar acuado, Paulo Filho não acredita que a Rússia possa utilizar armas nucleares táticas no sul ucraniano neste momento, por receio de isolamento completo da comunidade internacional. Do lado ucraniano, o especialista destacou que, além de consolidar sua contraofensiva no sul, Kyiv terá um desafio maior: ter êxito também no leste.

“No Donbas, o conflito é mais acirrado. Ele vem desde 2014, com posições defensivas dos dois lados estabelecidas, as tropas dos dois estados rebeldes [Luhansk e Donetsk] são mais experimentadas, conhecem bem o terreno. Eu acho que vai ser uma ofensiva mais difícil para os ucranianos no leste do que no sul, embora em nenhum lugar vá ser fácil”, alertou Paulo Filho.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/russia-comeca-a-perder-a-guerra-pelo-sul-onde-sua-agressao-a-ucrania-comecou-ha-nove-anos/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

MANIFESTANTES QUE PEDEM INTERVENÇÃO MILITAR PODEM SER PROCESSADOS?

O que diz a lei
Entenda os limites dos protestos

Por
Renan Ramalho
Brasília

BRA104. BRASÍLIA (BRASIL), 15/11/2022. – Simpatizantes del presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, protestan en el Cuartel General del Ejército, hoy, en Brasilia (Brasil). Miles de bolsonaristas se concentraron este martes, día de la República, ante los cuarteles de varias ciudades brasileñas para pedir una intervención militar con el propósito de impedir la investidura del presidente electo, Luiz Inácio Lula da Silva. EFE/ Joédson Alves


Manifestantes diante do QG do Exército em Brasília: “Forças Armadas, salvem o Brasil” é um dos bordões mais usados nos atos em frente aos quartéis| Foto: Joédson Alves/EFE

Manifestantes que pedem intervenção das Forças Armadas para reverter o resultado da eleição presidencial podem ser processados? Esta é uma discussão que passou a ser feita, no mundo jurídico, desde que eclodiram os atos populares contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na última terça-feira (15), feriado da Proclamação da República, milhares de pessoas participaram de manifestações em frente a quartéis na maioria das capitais e das grandes cidades do país.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já determinou que as polícias identifiquem os organizadores e financiadores do que chama de “atos antidemocráticos”. As Forças Armadas, por outro lado, defenderam, em nota, os direitos constitucionais à livre manifestação do pensamento e à liberdade de reunião, desde que realizada pacificamente.

Para entender, afinal, quais os limites dessas manifestações, e em que medida seus participantes podem ou não ser punidos, a Gazeta do Povo consultou a legislação aplicável, o atual entendimento jurídico em torno dos direitos envolvidos, e um jurista estudioso do tema.

O direito de realizar manifestações está garantido pelo inciso XVI, do artigo 5º da Constituição, que diz que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.

Qual é a jurisprudência do STF sobre o direito a manifestações
No STF, os julgamentos mais relevantes sobre o tema, no período recente, foram realizados em 2011, quando os ministros consideraram válidas as chamadas marchas da maconha. Na época, discutia-se se eram constitucionais um dispositivo da lei antidrogas que penalizava o ato de  “induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga” e outro do Código Penal que criminalizava o ato de “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”.

Os ministros consideraram que, no caso das marchas da maconha, esses crimes não ocorriam, por entenderem que nessas manifestações, não havia estímulo a um ato criminoso – venda ou consumo de drogas –, mas uma defesa da legalização ou descriminalização dessas condutas.

Na época, firmou-se o entendimento de que o direito de reunir-se para realizar manifestações é um meio para a livre expressão do pensamento. “O direito à livre manifestação do pensamento: núcleo de que se irradiam os direitos de crítica, de protesto, de discordância e de livre circulação de ideias”, diz a ementa do julgamento.

A discussão sobre a legalização das drogas, afirmaram os ministros, “deve ser realizada de forma racional, com respeito entre interlocutores e sem possibilidade legítima de repressão estatal, ainda que as ideias propostas possam ser consideradas, pela maioria, estranhas, insuportáveis, extravagantes, audaciosas ou inaceitáveis”.

Outra compreensão, formalizada na decisão, foi a de que “nenhuma lei, seja ela civil ou penal, pode blindar-se contra a discussão do seu próprio conteúdo”. “Nem mesmo a Constituição está a salvo da ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos e das suas virtudes, desde que sejam obedecidas as condicionantes ao direito constitucional de reunião, tal como a prévia comunicação às autoridades competentes”. Só no estado de defesa e no estado de sítio, o direito de reunião, e, portanto, de realizar manifestações, ficaria limitado.

Marcha da maconha pode; intervenção militar, não
Se o STF considera válido fazer uma manifestação em favor da possibilidade de fazer algo hoje considerado ilegal – venda e uso de drogas ilícitas – estariam os manifestantes que participam dos atos em frente aos quartéis exercendo seu legítimo direito de reunião, sobretudo se considerarmos que os atos são pacíficos e que, agora, não atrapalham o direito de ir e vir?

Para o procurador regional da República Bruno Calabrich, mestre e professor em Direito Penal, depende muito do tipo de manifestação realizada. Para ele, o Código Penal deixa claro que é crime pedir algo como a intervenção das Forças Armadas para impedir a posse de um presidente eleito pelo voto popular. Uma ação militar desse tipo, ainda que não tivesse êxito e fosse uma mera tentativa, estaria enquadrada no artigos 359-L, que define o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e 359-M, que classifica o delito de golpe de Estado.


“Sem data para acabar”: um dia entre os manifestantes acampados no QG do Exército, em Brasília
Ambos foram introduzidos no ano passado no Código Penal para substituir a antiga Lei de Segurança Nacional. O artigo 359-L caracteriza-se por “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais” – a pena é de 4 a 8 anos de prisão, além daquela correspondente à violência do ato. O artigo 359-M, com pena de 4 a 12 anos, é definido pelo ato de “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”.

São crimes que dificilmente seriam cometidos por populares que estão nas ruas, pois é mais provável que fossem executados por militares armados. Ainda assim, os cidadãos comuns poderiam ser responsabilizados por incitar as Forças Armadas a agir assim. Trata-se do crime previsto no parágrafo único do artigo 286, também introduzido na nova lei de crimes contra o Estado Democrático de Direito e que consiste em incitar, publicamente, “animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”. A pena, no entanto, é bem menor: detenção, de três a seis meses, ou multa.

Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo, que não leva efetivamente a pessoa para a prisão – a pena costuma se limitar a pagamento da multa, prestação de serviços à comunidade e limitações que impeçam a pessoa de reincidir. A mesma pena – ou talvez ainda menor – poderia ser aplicada a quem participa dos atos, com base no artigo 29 do CP, que diz que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.

Pedido de intervenção militar é inconstitucional
Calabrich, no entanto, faz várias observações. Em primeiro lugar, ele rebate o argumento de que se é constitucional pedir a legalização da maconha, seria também a intervenção. “É diferente: quando faz marcha do aborto ou da maconha, não está se dizendo para as pessoas fumarem maconha ou praticarem aborto. Os ativistas vão lá para pedir legalização da maconha ou do aborto. Não é ‘pratique um crime, mas legalize’”.

No caso da intervenção, ele entende que é algo impossível de ser legalizado ou constitucionalizado no atual ordenamento jurídico. “Não existe nenhuma possibilidade de uma emenda constitucional para prever que o Exército vai tomar conta do país. Isso é uma impossibilidade absoluta em nossa Constituição. A única chance disso ocorrer seria por meio de uma revolução para abolir a Constituição, abolindo um fundamento de nossa República.”

Por outro lado, ele não entende ser crime quando os manifestantes se limitam a criticar a atuação do STF ou de seus ministros, bem como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a forma como conduziu o processo eleitoral, inclusive em relação às urnas eletrônicas – vários manifestantes estão indignados porque queriam mais transparência do sistema, suspeitam de fraude na votação, entendem que não houve imparcialidade, de modo a favorecer o presidente eleito Lula e prejudicar o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) na disputa.

Mas, ainda que os manifestantes insistam num clamor pela intervenção, não necessariamente todos seriam processados. Por duas razões: uma de razoabilidade jurídica e outra de inviabilidade prática. No primeiro caso, o Ministério Público poderia entender que muitas dessas pessoas estão iludidas ou enganadas ao considerarem que isso é algo lícito, provavelmente por uma compreensão heterodoxa e atualmente considerada equivocada do artigo 142 da Constituição, que diz que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Predomina no Judiciário e na academia o entendimento de que tal dispositivo serve, no limite, para garantir a segurança externa e interna quando todos os outros meios falham. Não seria uma permissão tácita para os militares agirem quando um dos poderes requisita uma intervenção em outro que estaria ameaçando suas competências, como muitos acreditam.

“Existem muitas pessoas que estão lá iludidas com a premissa de que isso é possível. Ou por ignorância, ingenuidade, acreditam que isso é constitucionalmente viável. Não sabem dessa impossibilidade. E aí o MP tem que avaliar: será que elas têm condições de compreender que estão sendo como usadas como massa de manobra. Talvez essas pessoas sejam vítimas e estejam sendo usadas”, diz ele. Nesse caso, seria mais adequado ao Ministério Público denunciar financiadores e organizadores que estão provocando essa agitação com fins políticos ilegítimos – é o caminho já adotado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Por outro lado, ficaria também difícil denunciar caso a investigação conclua que as manifestações não são orquestradas de cima para baixo, de que não há líderes e que toda a estrutura e financiamento vêm de voluntários, pessoas comuns que sinceramente acreditam na causa.

Assim como participantes comuns, alguns ativistas que colaboram voluntariamente com comida, carro de som, faixas, etc, não teriam outros interesses que não o de expressar uma revolta difusa e despropositada. Seria algo a ser esclarecido caso a caso, dentro do processo judicial.

A última dificuldade em processar todos os participantes é de ordem prática. Seria impossível ao MP ajuizar ações contra milhares de pessoas, de uma só vez, com uma enorme sobrecarga a um Judiciário já abarrotado de processos, sobretudo considerando as baixíssimas penas para o crime de incitação. “Não existem pernas dos órgãos para processar. Mas pelo menos devem ser investigados e processados os líderes”, ressalva Calabrich.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/manifestacoes-em-quarteis-quem-participa-pode-ser-processado-entenda/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

A CRIATIVIDADE NÃO SURGE DO NADA E SIM UM ATO FINAL DE UM PROCESSO

 Danielle H. Admoni – Psiquiatra

Celebrado em 17 de novembro, o Dia da Criatividade nos convida ao desafio de ser inusitado 

A criatividade, por definição, é “a originalidade; de quem tem capacidade, inteligência e talento para criar, inventar ou fazer inovações na área em que atua. A capacidade de inventar, de criar, de compor a partir de um propósito”.

“Na realidade, todos somos criativos. A diferença está no quanto cada um exercita e estimula sua mente. Mas, com a rotina atribulada e o consequente estresse diário, fica difícil não ter a mente sempre sobrecarregada. A boa notícia é que há formas de enfrentar o bloqueio criativo e não perder a habilidade de se reinventar”, afirma Claudia Petry, pedagoga e professora no Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville (SC).

E como funciona o processo criativo?

De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); a criatividade é determinada por processos cerebrais complexos que envolvem a interação entre os dois hemisférios cerebrais.

“Foi quebrado o mito de que hemisfério esquerdo é responsável pelo lógico e realista, e que o hemisfério direito, pelo criativo e intuitivo. Praticamente todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo criativo. Aliás, mais do que as áreas cerebrais envolvidas, são importantes os circuitos que conectam essas diversas áreas e a forma como eles interagem para produzir tudo o que constitui a nossa mente”.

Criatividade é mais do que uma epifania

Há quem pense que o ato criativo surge do “nada”, como um momento súbito de inspiração. Não é bem assim. Segundo Claudia Petry, o ato criativo é o resultado final de um processo que se desenvolve desde a elaboração (consciente e inconsciente) até a realização da ideia.

“Uma pessoa altamente criativa é aquela capaz de trazer algo novo ou inusitado, que foge aos padrões habituais já conhecidos. A criatividade depende, em parte, da inteligência, das habilidades e da bagagem cultural da pessoa. No entanto, para aprofundar sua criatividade, o indivíduo precisa ter um objetivo em mente, um desafio, algo que faça alavancar ideias diferenciadas. Na pandemia, por exemplo, muitos foram obrigados a se reinventar, já que a situação anterior foi toda modificada. Nesse momento, ser criativo se tornou praticamente uma imposição para contornar as adversidades que ninguém estava preparado para enfrentar”, pontua a especialista.

 Segundo um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, publicado no site The Conversation, a criatividade envolve uma interação complexa entre o pensamento espontâneo e o pensamento controlado, ou seja, a capacidade de pensar espontaneamente em ideias e avaliá-las deliberadamente para determinar se elas realmente funcionarão.

O desafio de ser inusitado

A estimulação da criatividade começa já na infância, quando se oferece a chance de desenvolver habilidades de modo amplo, diversificado, dando a liberdade de buscar novos interesses e experimentar novas atividades. “Essa abertura a diversas possibilidades permite ter um desenvolvimento criativo mais amplo em comparação a alguém restrito a atividades comuns, limitadas ou repetitivas”, reforça Danielle Admoni.

Para a psiquiatra, desenvolver criatividade depende da ruptura de possíveis padrões rígidos de pensamento já bem estabelecidos, do desenvolvimento do interesse por outros modos de pensar e experimentar, fugindo daquilo que a pessoa já está acostumada.

“Muitas vezes, esse desenvolvimento depende de um acompanhamento psicoterápico, uma vez que, frequentemente, a pessoa não consegue por si mesma fazer essa ruptura, esse movimento de liberdade. A boa notícia é que estar aberto ao novo já é um importante passo para se livrar do lugar comum”, finaliza Danielle Admoni.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

MEMBROS DA LAVA JATO VÃO FAZER OPOSIÇÃO AO NOVO GOVERNO

 

Deltan, Moro e Rosângela
As prioridades da bancada da Lava Jato no Congresso
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília


Deltan Dallagnol em sessão na Câmara dos Deputdos, em 2016.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A eleição de candidatos com histórico de participação na Lava Jato e no combate à corrupção pode trazer o tema novamente aos holofotes no Congresso Nacional a partir de 2023. O deputado federal eleito Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e o senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR), que se consagraram como principais nomes da operação responsável pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), devem atuar de forma conjunta para a defesa de pautas como o fim do foro privilegiado e a detenção de condenados em segunda instância judicial. A deputada federal eleita Rosângela Moro (União Brasil-SP), esposa do ex-juiz, também fará parte da “bancada da Lava Jato”.

Deltan avalia que a atuação do Congresso pode abrir caminhos “para que surjam novas Lava Jatos”. Ele foi o candidato mais votado para a Câmara no Paraná. Moro também teve um triunfo eleitoral de peso, ao superar o veterano Alvaro Dias (Podemos-PR), que buscava o quarto mandato consecutivo no Senado. Já Rosângela obteve 217 mil votos em São Paulo, número maior do que o de nomes como o ex-presidente do PT Rui Falcão e o deputado Capitão Augusto, vice-presidente nacional do PL.

Ex-coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), Dallagnol diz que pode apresentar “mais de 30 projetos de lei” relacionados ao combate à corrupção e outras áreas. “Tenho projetos na área de combate ao crime e à corrupção, segurança jurídica, reforma administrativa, reforma tributária, reforma política e de cuidado com as pessoas, incluindo uma política pública nacional para o autismo.” Ele afirma que vai “estudar qual a melhor estratégia” para emplacar seus projetos, o que pode incluir o endosso a propostas de outros parlamentares que já estejam em tramitação.

Dallagnol avalia que o Brasil passou por “retrocessos recentes impostos pelo Supremo [Tribunal Federal] e pelo Congresso” no combate à corrupção. Segundo ele, as Dez Medidas Contra a Corrupção, conjunto de propostas do Ministério Público apresentadas em 2015, tiveram apreciação tímida por parte do Congresso. Segundo o deputado eleito, algumas dessas proposições são “essenciais”. Ele especifica como exemplos a “criminalização adequada do caixa dois eleitoral e do enriquecimento ilícito do funcionário público”.

A “bancada da Lava Jato” estuda se aproximar de outros parlamentares envolvidos com a temática anticorrupção para emplacar seus projetos. Segundo Deltan Dallagnol, uma estratégia é “engrossar” frentes parlamentares sobre o tema. Uma delas é a Frente Parlamentar Mista Ética Contra a Corrupção (FECC), encabeçada pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP), reeleita em outubro.

A parlamentar confirma que já estabeleceu conversas com o ex-procurador da Lava Jato e diz que conta com ele para reforçar o grupo. Adriana Ventura avalia que discussões sobre o combate à corrupção perderam força no Legislativo, na comparação entre o biênio 2019/2020 e os dias atuais. “O combate à corrupção em 2019 tinha um peso; e foi se perdendo o interesse e o engajamento em torno do assunto. Houve vários retrocessos, e a gente espera que na próxima legislatura isso se reacenda”, diz ela. Segundo a parlamentar, nomes como Dallagnol, Moro e Rosângela podem contribuir, com sua reputação, para o fortalecimento do grupo.

Foco no PT: “não me surpreenderei se surgir um novo megaescândalo”
O futuro deputado Deltan Dallagnol indica que sua atuação como parlamentar deve priorizar denúncias que envolvem o PT, e não as relacionadas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele minimiza a responsabilidade da gestão Bolsonaro nas irregularidades que envolvem o chamado “orçamento secreto”, como ficaram conhecidas as emendas de relator ao Orçamento Federal, caracterizadas pela falta de transparência na sua distribuição e execução. “Até agora não surgiram evidências do envolvimento do governo federal em desvios, mas sim de autoridades locais de prefeituras que receberam os recursos. E os casos vêm recebendo o devido tratamento das autoridades típicas de investigação”, diz.

O ex-procurador também diz que as denúncias de corrupção que envolvem o Ministério da Educação (MEC) “já estão sendo investigadas pela polícia e pelo Ministério Público”, e por isso não apoiaria, em princípio, o estabelecimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tema. As denúncias no MEC vieram à tona durante a gestão do ex-ministro Milton Ribeiro e envolviam pedidos de propina para a liberação de recursos da pauta. O esquema supostamente seria conduzido por pastores que, mesmo sem ter função pública oficializada, falavam em nome do ministério e negociavam verbas diretamente com prefeitos e outros líderes políticos regionais. Ribeiro deixou o MEC em março e chegou a ser preso por causa do denúncias, mas depois foi liberado.

Por outro lado, Dallagnol indica que a atuação da “bancada da Lava Jato” será focada na fiscalização do governo de Lula. “Considerando o histórico do PT de mensalão e petrolão, não me surpreenderei se surgir um novo megaescândalo de corrupção no novo governo.”

Desde que formalizou sua entrada na política, Dallagnol sempre se posicionou contra o PT, e declarou voto em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais. “Farei no Congresso oposição qualificada ao projeto de dominação e perpetuação no poder do PT. Defenderei o cumprimento da lei, políticas públicas com base em evidências e os valores cristãos”, publicou o deputado eleito em suas redes sociais pouco após a vitória de Lula, no último dia 31.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/bancada-da-lava-jato-no-congresso-prioridades/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

MANIFESTAÇÕES DEMOCRÁTICAS ACONTECERAM NESSE DOMINGO EM TODO O BRASIL

 

Manifestações
Por
Gazeta do Povo


Protesto contra a eleição de Lula em Brasília nesta terça-feira (15)| Foto: EFE/ Joédson Alves

O feriado da Proclamação da República foi marcado por protestos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República e contra o que os manifestantes chamam de “ditadura do Judiciário”.

Pelo menos 13 estados registraram atos, sempre nas proximidades de bases militares. Cartazes com os dizeres “SOS Forças Armadas”, “as eleições foram roubadas” e “Supremo é o povo” eram comuns entre os manifestantes, formados em sua grande maioria por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Estes protestos ocorrem desde a noite de 30 de outubro, quando Lula foi anunciado vencedor da eleição presidencial. Em algumas cidades, como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, manifestantes estão acampados em áreas próximas a bases do Exército desde então. Mas o feriado de 15 de novembro fez com que mais pessoas se deslocassem a esses lugares para protestar.

Atos foram registrados em Brasília, São Paulo, Rio, Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Campo Grande, Belém, Manaus e Aracaju. As maiores manifestações ocorreram em Brasília, São Paulo e Rio, com milhares de pessoas.

Na capital federal, eles se reuniram nas proximidades do Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). Caravanas e caminhoneiros de outros cantos do país se dirigiram à capital para participar do protesto na capital federal.

A Secretaria de Segurança Pública do DF, por questões de segurança, restringiu o trânsito na Esplanada dos Ministérios e fechou o acesso à Praça dos Três Poderes.

“O fechamento se deu por razões preventivas de segurança, para evitar circulação de veículos e pessoas no mesmo local, pois com a possibilidade de atos públicos na região central de Brasília, como identificado pelos setores de inteligência das forças de segurança. Após o término do evento e dispersão do público, a reabertura da Esplanada será avaliada”, afirmou a SSP da capital federal.

De tarde uma forte chuva que caiu em Brasília dispersou parte dos manifestantes. Alguns grupos, porém, continuaram no local.

Milhares de pessoas protestaram contra o resultado da eleição presidencial em Brasília no feriadão da Proclamação da República | Foto: EFE/ Joédson Alves
Em São Paulo, os atos ocorreram nos arredores do Comando Militar do Sudeste (CMSE), perto do Parque Ibirapuera. E no Rio de Janeiro, eles se concentraram em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste (CML), responsável pelo Exército Brasileiro no Rio, Minas Gerais e Espírito Santo.

Nesses locais era comum que manifestantes entoassem coros de “Forças Armadas salvem o Brasil” e “Se precisar, a gente acampa, mas o ladrão não sobe a rampa”, além de cantar o hino nacional e o hino à bandeira. As cores predominantes eram o verde e o amarelo. Apesar do clima pacífico, jornalistas da Jovem Pan foram hostilizados em Brasília e tiveram que deixar o ato sob escolta de militares.

General Villas Boas defende protestos

O ex-comandante do Exército, general da reserva Eduardo Villas Boas, publicou nota em suas redes sociais defendendo os protestos contra o resultado das eleições. Na visão dele, os atos são contra “os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral”.

Villas Boas, que até junho era assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Jair Bolsonaro, também criticou “a indiferença da grande imprensa” em relação às manifestações e exaltou “a liderança, o equilíbrio, a serenidade e a autoridade” dos comandantes das Forças Armadas e do ministro da Defesa.

Em Nova York, ministros do STF são hostilizados


Manifestantes tentam parar uma van que transportava o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, enquanto descia a Quinta Avenida em Nova York, EUA, em 14 de novembro de 2022 | Foto: EFE/EPA/JASON SZENES

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial aqueles que compõem atualmente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como Alexandre de Moraes, presidente da corte eleitoral, também são alvo de críticas dos manifestantes que contestam o resultado da eleição presidencial e pedem a apuração pública dos votos.

Na segunda-feira (14), os magistrados foram hostilizados em frente à porta de um hotel em Nova York onde se hospedam para participar do Lide Brazil Conference, evento organizado pelo grupo empresarial do ex-governador de São Paulo João Doria.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram manifestantes hostilizando os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, chamando-os de “ladrão”, “bandido” e outras palavras de baixo calão ao deixarem o hotel. O ministro Ricardo Lewandowski também foi xingado ao sair do local.

Em outros vídeos, no mesmo local, manifestantes vestidos de verde e amarelo e carregando bandeiras do Brasil gritam “SOS Forças Armadas” e “Ei, Xandão, seu lugar é na prisão”, em referência a Moraes. Eles também carregavam cartazes em inglês que pediam o “fim da censura no Brasil”.

O ministro Luís Roberto Barroso, que também foi um dos palestrantes do evento, foi abordado enquanto caminhava pela Times Square. Em um vídeo gravado por ela mesma, uma manifestante diz ao ministro que “o povo brasileiro é maior que a Suprema Corte” e acrescenta: “Cuidado, ein”. Barroso, então, pediu que ela não fosse “grosseira”, se despediu e entrou em uma loja.

Já nesta terça-feira, uma cena semelhante se repetiu. Barroso reagiu a um manifestante que o abordou em Nova York, questionando-o sobre as urnas eletrônicas. “Perdeu, mané. Não amola”, disse Barroso.

A presidente do STF, Rosa Weber, divulgou uma nota de repúdio aos incidentes: “O Supremo Tribunal Federal repudia os ataques sofridos por ministros da Corte, em Nova Iorque. A democracia, fundada no pluralismo de ideias e opiniões, a legitimar o dissenso, mostra-se absolutamente incompatível com atos de intolerância e violência, inclusive moral, contra qualquer cidadão”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/feriado-da-proclamacao-da-republica-marcado-por-atos-contra-eleicao-de-lula/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

ALIADOS FICAM DECEPCIONADOS COM O POPULISMO DE LULA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


O presidente eleito Lula durante reunião com parlamentares no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, quando fez críticas a políticas de ajuste fiscal.| Foto: Joédson Alves/EFE

Não foram necessárias mais que duas semanas após a eleição de Lula à Presidência da República para que apoiadores notórios começassem a reclamar que o eleito estava se afastando das ideias e propostas que eles esperavam do novo presidente. Entre os apoiadores decepcionados estão os ex-presidentes do Banco Central (BC) Armínio Fraga (presidente do BC de março de 1999 a janeiro de 2003, na gestão de Fernando Henrique Cardoso) e Henrique Meirelles (presidente do BC de janeiro de 2003 a janeiro de 2011, na gestão do próprio Lula). Fraga disse que Lula está se afastando das ideias nas quais ele (Fraga) acredita, enquanto Meirelles afirmou que, a julgar pelas declarações públicas de Lula sobre o que ele pretende fazer, o presidente eleito poderá caminhar para repetir a segunda e desastrada gestão de Dilma Rousseff.

Mas não foram somente apoiadores famosos de Lula que se manifestaram num tom decepcionado em face das declarações do novo presidente quanto à gestão da macroeconomia e suas propostas populistas na questão orçamentária. O grande banco internacional Citibank afirmou que o mercado pode ter se enganado em relação a Lula e que o banco está reduzindo a exposição a riscos no Brasil. As declarações dos economistas e do Citibank estão em vários jornais, e já comentamos neste espaço a palestra de Meirelles na última quinta-feira, quando ele fez seus comentários e desejou “boa sorte” aos que o ouviam.

Em resumo, pode-se dizer que Lula entrou no modo “populismo econômico” antes da posse e passou a fazer discursos em favor de medidas econômicas que nem ele próprio teve coragem de adotar em seu primeiro mandato, quando o ministro da Fazenda Antônio Palocci seguiu a política que vinha do governo anterior de FHC. Palocci caiu em 2006, na esteira do escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, e foi substituído por Guido Mantega, que anos mais tarde seria um dos principais arquitetos da “nova matriz econômica” que levou à maior recessão da história do país.

Lula entrou no modo “populismo econômico” antes da posse e passou a fazer discursos em favor de medidas econômicas que nem ele próprio teve coragem de adotar em seu primeiro mandato

Como Lula fez toda a campanha eleitoral sem apresentar um plano econômico, o fato é que ele se sente livre para fazer o que quiser, inclusive para contrariar os economistas mais liberais que lhe deram apoio, entre os quais estão os autores do Plano Real, que o PT criticou no passado e acusou de “neoliberais”. Nesse sentido, vale recordar alguns aspectos do populismo econômico que, além de ser receita desastrosa para a economia, afugenta investidores privados nacionais e estrangeiros, inibe o empreendedorismo, não resolve o problema da pobreza e joga a economia em recessão.

O mal do populismo econômico é que a estrutura basilar de suas políticas e medidas se baseia na ideia de soluções simplistas e milagrosas, desrespeito à responsabilidade fiscal, gastança desenfreada e inchaço da máquina pública, quase sempre terminando em recessão, desemprego e nenhuma solução estrutural para o problema da pobreza. É sempre oportuna a lembrança do economista Nicolás Cachanosky, professor na Metropolitan State University, em Denver (EUA), que escreveu em 2016 um ensaio sobre “as quatro etapas do populismo econômico”, no qual ele traça o percurso que o populismo faz desde a indignação com a pobreza até as consequências nefastas das soluções adotadas.

Estudando a história e pesquisas feitas por outros economistas no passado, Cachanosky elaborou estudos e chegou à conclusão de que os programas populistas trazem forte intervenção estatal na economia, incentivo desordenado ao consumo, excesso de gastos sem provisão orçamentária, déficits públicos, endividamento governamental e descaso com os investimentos de longo prazo, prática grave especialmente em país com precária infraestrutura física, como é o caso do Brasil. O populismo usa sempre uma retórica atraente: a de que é mais importante ajudar os pobres que se preocupar com responsabilidade fiscal e controle dos gastos públicos. Foi exatamente isso que Lula falou recentemente, dizendo de maneira distorcida que não há sentido em o governo controlar gastos enquanto houver alguém pobre.

Cachanosky descreve os quatro estágios percorridos pelo populismo econômico desde seu início até a derrocada final, e usa vários exemplos, incluindo Argentina, Venezuela e o próprio Brasil. A ideia dos quatro estágios universais do populismo não é nova e já havia sido tratada em artigo publicado em 1990 pelos renomados economistas Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards, sob o título Macroeconomic Populism. Resumindo brevemente, no estágio 1 o populista se coloca ao lado dos pobres, apresenta dados dos flagelos sociais e, em nome de sua suposta bondade humana, ele cria programas assistencialistas que atacam os sintomas dos males sem eliminar as causas. Ao fim desse estágio, a máquina pública já está inchada, os déficits públicos cresceram e a inflação já mostrou suas garras.

As medidas populistas começam em congelamento de preços dos produtos das empresas estatais, como energia, combustíveis e transporte público, e avançam sobre o setor privado. Dilma Rousseff usou desse artifício especialmente no caso da Petrobras; aquilo que parecia uma solução a favor dos pobres terminou em desastre econômico e na mais grave recessão da história, ocorrida em 2015 e 2016. No estágio 2, os pobres que supostamente seriam ajudados começam a sofrer com a inflação, a desorganização do sistema de preços, a escassez de produtos e, invariavelmente, recessão e desemprego. Como todo bom populista, o governante elege vários culpados externos – empresários, especuladores, banqueiros etc. –, sem admitir que o mal está nele mesmo e em seu governo. A Argentina é o exemplo atual mais notório desse figurino.

O mal do populismo econômico é que se baseia em soluções simplistas e milagrosas, desrespeito à responsabilidade fiscal, gastança desenfreada e inchaço da máquina pública, quase sempre terminando em recessão, desemprego e nenhuma solução estrutural para a pobreza

No estágio 3, para agravar a recessão e o desemprego, instalam-se no país a inflação e as crises de abastecimento, cujo quadro se deteriora até o ponto de a situação dos pobres voltar a ser pior que antes do populismo iniciar sua trajetória. O caso da Venezuela é um exemplo dramático e desumano: o PIB caiu mais de 50% em menos de uma década e a tragédia humanitária parece não ter fim, mesmo tratando-se do país com a maior reserva de petróleo do mundo. Como aconteceu na Venezuela, o figurino populista segue com a fuga dos investidores internacionais; os bancos estrangeiros negam novos financiamentos, o balanço com o resto do mundo vai a déficit, o dólar explode e também os capitais nacionais começam a deixar o país.

No estágio 4, após o populista aumentar as doses do veneno de sua política governamental, vêm aumento de impostos, o setor privado definha, o país entra numa crise de graves proporções, o governo enfraquecido perde governabilidade e começam as pressões para ser retirado do poder (como ocorreu no impeachment de Dilma Rousseff, em que a mobilização popular foi importante para que o Congresso julgasse os crimes de responsabilidade efetivamente cometidos). O governo seguinte herda uma economia em frangalhos, problemas sociais piorados e o sacrifício de corrigir as distorções derivadas das políticas que, feitas sob o pretexto de ajudar os pobres, lançaram-nos numa pobreza maior.

A melhor ajuda imediata que se pode dar aos pobres está em programas sociais eficientes, focados, com custos baixos de operação, fontes de financiamento dentro de um orçamento geral construído de forma responsável, crescimento do PIB, geração de empregos, educação e treinamento para os pobres com vistas a salvá-los da sina de viverem dependentes de auxílio governamental. A decepção estampada nas declarações de apoiadores de Lula e a suspensão de atividades por investidores em razão das declarações do presidente eleito podem parecer ato isolado e insuficiente para julgamento sobre o que esperar do novo governo, mas o caráter populista e o descaso com as restrições econômicas na voz do novo mandatário antes da posse são preocupantes e, caso se concretizem, muito mal farão ao Brasil.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-decepcao-dos-aliados-e-o-populismo-de-lula/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CUSTO ALTÍSSIMO DAS ELEIÇÕES NO BRASIL

 


TSE gasta milhões com regalias, chegando a pagar mais de R$ 80 mil no mês para um servidor

Por
Bruna Komarchesqui – Gazeta do Povo

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realiza sessão plenária para análise de embargos de declaração em representação, recursos ordinários e recursos especiais eleitorais referentes às Eleições 2018.


Sessão plenária no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão máximo da Justiça Eleitoral brasileira, vai gastar milhões de reais com salários e regalias em 2022. Na contramão de países desenvolvidos, onde não há privilégios e benefícios para juízes, o TSE tem quase R$ 5 milhões em despesas com copeiragem para reuniões, eventos e sessões plenárias em um ano. Outros mais de R$ 4 milhões devem ser gastos com motoristas, aquisição e manutenção de veículos. O órgão também chega a pagar mais de R$ 80 mil a apenas um servidor no mês, entre “diárias”, “ajudas de custo e indenizações”.

Entre os contratos em andamento, disponíveis no “Plano de Contratações Anual – PCA 2022, do Tribunal Superior Eleitoral”, está um de prestação de “serviços de copeiragem (copeira, garçom e encarregado de copeiragem) como apoio essencial às Sessões Plenárias, reuniões, eventos institucionais e outros correlatos às funções do Tribunal”, no valor de R$ 4.829.475,21. Já a compra de água, açúcar, café, detergente e refil de purificadores para funcionamento das copas do TSE em 2022 custará R$ 50 mil ao bolso do brasileiro. Além de todas as ajudas de custo e benefícios, o Tribunal fornece almoço ou jantar “aos Senhores Ministros nos dias em que ocorrem sessões plenárias e administrativas”, com acompanhamento de bebida, o que custa R$ 43 mil no ano.

O TSE também contrata uma empresa que fornece 36 motoristas terceirizados (de acordo com uma lista de colaboradores disponível no site), trabalhando em escala, por R$ 3.141.377,80 ao ano, o que representa um custo médio de R$ 7,2 mil mensais por profissional. Para 2022, o Tribunal destinou quase R$ 804 mil para a aquisição de veículos blindados, com o objetivo de “oferecer o correto equipamento para atender a necessidade a proteção das autoridades, tornando-a mais adequada ao aumento do risco de ações agressivas”.

O serviço de limpeza e higienização dos automóveis oficiais custa perto de R$ 165 mil e as manutenções preventivas e corretivas em torno de R$ 194 mil. A justificativa do gasto é “manter o veículo oficial em perfeitas condições de funcionamento, considerando o serviço a ser executado pela equipe de Segurança Institucional junto aos Ministros do TSE, ou seja, segurança pessoal e acompanhamento dos Ministros”.

Esse tipo de despesa é impensável em alguns países da Europa, como na Suécia, onde se acredita que “luxo pago com o dinheiro do contribuinte é imoral e antiético”. É o que pensa Göran Lambertz, que foi juiz da Suprema Corte sueca entre 2009 e 2017. Entrevistado pela jornalista brasileira Claudia Wallin, para o livro “Um País Sem Excelências e Mordomias” [Geração Editorial, 2014], ele conta que nenhum juiz por lá, o que inclui o presidente do Supremo, tem carro oficial com motorista.

Na época em que atuava na Corte, o próprio Lambertz pedalava quinze minutos todos os dias, de paletó e gravata, até a estação ferroviária, onde amarrava sua bicicleta, pegava um trem e viaja quarenta minutos para o trabalho.

“Não almoço à custa do dinheiro do contribuinte. Todos os juízes pagam por suas próprias refeições. Nenhum de nós tem direito a carro com motorista ou planos de saúde especiais. Temos direito apenas aos serviços públicos de saúde, como qualquer cidadão”, contou o juiz.

Na Alemanha, nada de carros particulares para magistrados também. Os juízes do Tribunal Constitucional são os que têm direito a viajar de graça, mas usando trem. As viagens privadas, no entanto, precisam ser declaradas à Fazenda.

Na França, os salários dos juízes são regulados como servidores públicos e não há debates extensos sobre seus privilégios, uma vez que o salário-base já inclui os benefícios. Embora os magistrados estejam na classe de servidores públicos com melhores salários, há médicos e professores universitários no país que os superam em vencimentos. Um dos poucos auxílios por lá, destinado à compra da primeira toga, cobre cerca de dois terços do valor da vestimenta. A cada dez anos, eles têm direito a um novo auxílio (de menos da metade do valor inicial) para trocar a toga. Por aqui, até mesmo as togas dos juízes são lavadas, secas e passadas com dinheiro público, segundo um dos contratos do TSE em andamento.

No quesito remunerações do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, chamam a atenção casos como o da juíza convocada Clara da Mota Santos Pimenta Alves [auxiliar do ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF)] que recebeu R$ 82.493,93 líquidos do TSE em março de 2022, sendo pouco mais de R$ 4 mil em “jetons e diferenças de subsídios”, R$ 67.358,22 para “ajuda de custo e indenizações” não especificadas e R$ 11.114,81 em diárias. Como a maioria do pagamento foi em benefícios, ela teve um desconto de apenas R$ 346,55 de imposto de renda. A juíza ainda recebeu mais R$ 33.689,11 de remuneração do órgão de origem. Em agosto deste ano, ela recebeu R$ 70.826,63 líquidos do TSE (sendo R$ 67.378,22 em “ajuda de custo e indenizações”) e a mesma remuneração de março do órgão de origem.

Sem especificação do motivo dos benefícios, os gastos do TSE com pessoal ficam envoltos em mistério. “Essa questão dos benefícios é a parte mais difícil de fazer o acompanhamento. Há resoluções do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que determinam como as informações devem ser prestadas, são números. Somente por meio deles, não se consegue entender se o benefício foi apropriado ou não, apenas que houve um volume maior, mas não especificamente o que foi feito”, pondera Juliana Sakai, diretora executiva da Transparência Brasil, organização sem fins lucrativos que atua há mais de duas décadas na luta por transparência, controle social e integridade do poder público.

Diárias e viagens 

Para saber o valor pago pelo TSE a juízes, servidores ativos e inativos, como pensionistas, é preciso fazer uma consulta mês a mês na ferramenta de transparência do órgão. Diárias e passagens aéreas também podem ser consultadas mensalmente, por meio de uma planilha. Em janeiro de 2022, por exemplo, os maiores gastos com diárias foram destinados ao “Programa de Acompanhamento para convidados internacionais para as Eleições da Assembleia da República de Portugal”.

Para este evento, José Gilberto Scandiucci Filho recebeu R$ 38,6 mil em diárias, Leila Correia Mascarenhas Barreto, R$ 25,6 mil, e ao ministro Luís Roberto Barroso foram pagos R$ 44,4 mil em diárias. Na aba de passagens, no entanto, os voos de Leila aparecem como cancelados e não há voos na seção “internacional” marcados para Barroso. Apenas José Gilberto aparece com o status “voado”. A participação de Barroso no acompanhamento das eleições portuguesas foi registrada pela imprensa.

“Você consegue acompanhar pela mídia que ele efetivamente foi, porque é uma autoridade. Mas, para os outros, fica difícil saber. Se a passagem foi cancelada, como se justifica o restante dos gastos? Fica uma questão a ser explicada”, aponta Juliana Sakai.

Embora todo cidadão tenha direito de pedir o detalhamento dessas despesas via Lei de Acesso à Informação, a especialista defende que seria benéfico o Tribunal emitir relatórios acerca de gastos maiores, que chamam a atenção e preocupam o contribuinte. “Se o servidor recebe um montante para viagem ou o recálculo de algum benefício, é importante disponibilizar essas informações. Para fazer o pagamento, eles têm esse cálculo, seria só publicar um relatório mensal que explicasse cada um deles. Não estamos nem falando em irregularidades, mas em como o orçamento está sendo distribuído. Queremos que abram os dados de remuneração e benefícios para entender com o que o governo está gastando”, detalha.

Sakai destaca que o “Judiciário tem um histórico de criar uma série de benefícios para não bater o teto constitucional”. “Provavelmente, esses pagamentos estão dentro da lei. Mas é razoável a gente ter pago isso? Isso incide dentro do teto? Provavelmente, não. E se não, para que servia?”, questiona.

Contratos vão de limpeza a contribuições internacionais 
Segundo as informações da transparência, a limpeza e conservação do TSE (entre pessoal e material de serviço) custa anualmente R$ 6.399.332,24. A mesma empresa que fornece essa mão de obra tem um contrato com o Tribunal para prestar apoio administrativo, cuja justificativa é manter “os serviços nas unidades orgânicas de forma a não interromper ou impactar as atividades em curso, deixando servidores e autoridades livres para praticar as atividades fim de cada unidade”, no valor de R$ 6.536.024,08.

Aqui também o contraste com o exemplo sueco é grande. Sem secretárias ou assistentes particulares, os magistrados da Suécia contam com uma equipe pequena de assistentes, que trabalham em conjunto para todos eles. Segundo mostra o livro de Claudia Wallin, na Suprema Corte, por exemplo, os 16 magistrados contam com 30 profissionais da área do Direito para auxiliar em todos os casos e mais 15 assistentes administrativos, que se dividem para fazer o trabalho necessário.

Outro gasto incluso nas contratações anuais do TSE é uma “Contribuição Internacional (IDEA)”, no valor de R$ 764.563,00, cujo único detalhamento é: “Objeto constante da planilha de contratos (1694976)”. Uma matéria publicada no site do Tribunal em abril de 2016 e atualizada em agosto de 2022 (“TSE celebra adesão do Brasil ao Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral”) explica o objetivo da parceria com o “IDEA”, sem citar questões financeiras: “a experiência brasileira em processos como do voto eletrônico tem grande valia para diversos países e ganhará ainda maior alcance por meio da associação que hoje se inicia. Ao mesmo tempo, o Brasil se beneficiará sobremaneira do diálogo e da cooperação com o Instituto”.

Já a garantia de que decisões, despachos, relatórios, textos do site e outros documentos estejam sempre escritos em português impecável custa R$ 5.366.910,00 por ano aos brasileiros, por meio de um contrato de revisão de textos, que aloca 38 profissionais no TSE (segundo a lista de colaboradores do órgão disponível na transparência).

TSE custa mais de R$ 2 bi no ano 
Somente em 2022, o TSE deve custar R$ 2,45 bilhões ao bolso dos cidadãos brasileiros. Apenas para a gestão do pleito eleitoral deste ano foi previsto o montante de R$ 1,33 bilhão. Os dados são da Lei Orçamentária Anual (LOA). Para o ano passado, em que não houve eleições, o orçamento destinado ao Tribunal pela LOA se manteve na mesma média, com um total de R$ 2,1 bilhões.

De acordo com o Relatório de Gestão 2020 do TSE, naquele ano eleitoral 54% dos recursos do Tribunal foram destinados aos gastos com as eleições municipais, 27% ao custeio de despesas com pessoal e benefícios e 15,5% ao custeio de projetos e atividades do órgão. Os valores informados no documento, no entanto, divergem dos que aparecem na LOA.

“Coube ao TSE o montante autorizado de R$1,4 bilhão, equivalente a 14,4% dos R$9,4 bilhões da JE [Justiça Eleitoral], no exercício de 2020. Desse total, R$379,8 milhões correspondem à dotação para custeio de despesas com pessoal e benefícios, R$756,3 milhões, aos gastos com as eleições municipais e R$215,9 milhões, ao custeio de projetos e atividades do órgão”, afirma o relatório. A Lei Orçamentária de 2020 aponta uma previsão de R$ 2,12 bilhões para o TSE, sendo R$ 1,28 bilhão destinado aos pleitos eleitorais daquele ano.

“Essa disparidade de dados chama a atenção, porque, se estamos olhando os gastos para tentar entender o que o governo está fazendo, e não conseguimos, já existe um problema de comunicação. Se nem a gente [pesquisadores da área e jornalistas] consegue, isso mostra uma deficiência na transparência, na comunicação, porque os dados não batem. Assim, não temos como fazer um controle social efetivo e entender como os recursos estão andando”, analisa Juliana Sakai. Ela recorda que a própria estrutura diferente do TSE, cujos juízes são cedidos de outros tribunais, já torna mais difícil entender os gastos.

Penduricalhos para burlar o teto 

Em setembro do ano passado, a Transparência Brasil publicou um estudo intitulado “Teto decorativo”, mostrando como “graças a benefícios e penduricalhos, remunerações de promotores e juízes da Paraíba superam o teto constitucional”. O documento explica que “os benefícios e os penduricalhos, e não os salários, levam ao descumprimento do limite remuneratório e à oneração da folha de pessoal do sistema de Justiça. Resultam, inclusive, em pagamentos retroativos de até seis dígitos que eventualmente aparecem nas folhas e repercutem negativamente na imprensa”.

No serviço público, os vencimentos costumam ser compostos por uma espécie de salário-base mensal mais benefícios (gratificações permanentes por tempo de serviço, por exercício de cargos de confiança; acréscimos como bônus de Natal; e direitos trabalhistas como férias e décimo terceiro).

“O teto constitucional vale para a soma desses elementos: caso ela seja maior que os atuais R$ 39,2 mil, aplica-se um abatimento (desconto) para que o funcionário público receba dentro do limite estabelecido constitucionalmente. Não são afetados pelo corte direitos trabalhistas, verbas por exercício de magistério e abono de permanência em serviço. Além do salário e dos benefícios, há ainda outra categoria de recebimentos que se convencionou chamar de ‘indenizações’. Pela acepção da palavra, são reembolsos por gastos realizados pelos membros e servidores no exercício da função, como diárias para participar de eventos externos. Esses recebimentos não são submetidos ao teto remuneratório, o que faria sentido caso de fato se limitassem a ressarcir despesas relacionadas ao serviço”, detalha o estudo.

A falta de transparência sobre diárias pagas a membros e servidores dificulta estabelecer um panorama de seu impacto nas remunerações e na violação do teto constitucional. “A título de comparação, os gastos com remunerações de quatro órgãos do sistema de Justiça na Paraíba equivalem a 2% do PIB estadual. Ou seja, a cada R$ 100 reais produzidos em todo o estado, R$ 2 são usados no pagamento de salários, da longa lista de benefícios e de penduricalhos a membros e servidores do MP-PB, do TJ-PB, do TRT-13 e do TRE-PB”, exemplifica a Transparência Brasil.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa do TSE, para comentar o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/tse-gasta-milhoes-com-regalias-chegando-a-pagar-mais-de-r-80-mil-no-mes-para-um-servidor/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

LULA VIAJA AO EGITO EM JATO PARTICULAR DE AMIGO

 

COP27
Por
Alexandre Garcia


Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT)| Foto: EFE/ Joédson Alves

Essa viagem de Lula para o Egito, num avião de matrícula norte-americana para não pagar imposto por aqui, um avião caríssimo, de US$ 54 milhões, de um empresário de plano de saúde aqui do Brasil, conhecido como Júnior da Qualicorp, que já esteve preso, que fez delação premiada, ainda vai dar o que falar. Agora mesmo, um deputado gaúcho, Sanderson, anunciou que está entrando na procuradoria para pedir uma investigação sobre isso. Vocês vão dizer: “ah, mas não é crime!”. Quem disse isso foi o senador eleito Wellington Dias, no Roda Viva, porque perguntaram para ele se não fica muito chato para o PT, que faz essa campanha de esquerda anticapitalista, aceitar presentes de capitalistas, de milionários. Ele respondeu que não, que isso não é crime, e que ofereceram a carona, o que é que tem? Tem sim. Artigo 317 do Código Penal: solicitar ou receber para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Dá de dois a 12 anos de prisão. É considerado um senhor crime, 12 anos de prisão. Essa pena foi estabelecida numa lei de novembro de 2003, quando era presidente da República o Luiz Inácio Lula da Silva. Ele que sancionou essa mudança do Código Penal. A economista Elena Landau, que apoiou Lula no segundo turno, e agora caiu fora, disse que Lula não aprendeu com os erros do passado. E eu lembro então que Lula está fazendo a mesma coisa que fez com o sítio de Atibaia e o triplex de Guarujá – isso coisa que já foi julgada, no julgamento que foi anulado, mas houve julgamento e as provas disseram que ele aceitou lá, e agora aceitou de novo. Fica estranho.

Assim como fica estranho esses ministros que estão lá em Nova Iorque, inclusive alguns com suas mulheres. O senador Eduardo Girão lembra que dois deles, pelo menos, Barroso e Moraes – também Fachin, mas Fachin não está lá – foram convidados três vezes para prestar esclarecimentos ao senadores e não foram ao Senado. Mas, convidados por João doria, foram a Nova Iorque. Com tudo pago, hotel cinco estrelas, almoço, jantar, café da manhã, avião, um avião certamente na melhor classe do avião… então ele também está pedindo esclarecimentos sobre quem pagou essas despesas.

Eu vi lá nessa história um discurso de Bia Kicis, que é minha representante na Câmara Federal; um discurso de julho, da primeira quinzena de julho. Ela denunciando, da tribuna, que o nome da conferência para qual foram convidados ministros do Supremo, nos dias 14 e 15 de novembro, era “A economia do Brasil com o novo governo”. Então ela perguntou, da tribuna: que história é essa de um novo governo? Então eles sabem que vai ter um novo governo e nós não sabemos ainda, porque dependemos da eleição? Resultado: passaram recibo, porque trocaram o nome, tiraram, viram que estava pegando mal e puseram “Brasil, respeito à liberdade e à democracia”. Interessante, isso.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/viagem-de-lula-ao-egito-em-aviao-de-empresario-ainda-vai-dar-o-que-falar/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

NINGUÉM É CAPAZ DE FAZER UM DÉSPOTA MUDAR DE OPINIÃO

 

“Minhas férias”

Por
Paulo Polzonoff Jr.


Depois de ler a crônica “Fora, Alexandre de Moraes!”, ele e os demais ministros do STF botaram a mão na consciência, como se diz.| Foto: EFE

Ai, palavras, ai, palavras
Que estranha potência a vossa!

  • Cecília Meireles

Depois de quinze dias de férias, ele estava em crise. “Para que servem todas as minhas palavras? Quaisquer palavras. Inclusive estas?”, perguntava o autor para o escritório vazio, para a Catota e até para os estranhos na rua. Nunca, never-ever, jamé (sic) um artigo de jornal foi capaz de fazer um déspota mudar de ideia. Nem o J’Accuse. Quanto mais uma crônica! Por que agora seria diferente? E, no entanto, ele perseverou. Vai quê.

Era uma questão até de respeito com o leitor. Afinal, havia pessoas indignadas nas ruas. Pessoas transbordando impotência e medo diante da injustiça e da arrogância. Pessoas tratadas como golpistas e antidemocráticas apenas por questionarem ou discordarem. Pessoas engolindo humilhação atrás de humilhação, escárnio atrás de escárnio, menosprezo atrás de – adivinha! – menosprezo.

“Fora, Alexandre de Moraes!”, escreveu ele. Só por diversão. Só para ter certeza de que ainda podia. Posso, né? E ficou olhando para a tela do computador como se esperasse um aviso do Grande Irmão o alertando para o pecado imperdoável: você está sendo antidemocrático, seu fascista! Como nada disso acontecesse, porém, ele se pôs a escrever. E foi então que o milagre começou a ganhar forma:

Aqui é preciso interromper o fluxo natural da narrativa para dizer que os leitores daquele tempo ficaram boquiabertos com os dois pontos que pairavam auspiciosamente no céu azul de primavera. Afinal, o autor falava em milagre, e não em maldição. O que, pensando bem, até fosse um defeito da crônica-que-mudou tudo. De qualquer modo, os leitores ficaram ali admirando o suspense que não tardou a se dissipar.

Assim que os dois pontos cruzaram o lábaro estrelado, o texto prosseguiu como que por encanto. A lógica impecável, as citações cuidadosamente garimpadas (inclusive a epígrafe), os argumentos lapidados, as contextualizações precisas, as análises abissalmente profundas da psique suprema, as metáforas de causar inveja a Shakespeare e, no fim, aquela exortação ao autossacrifício: fora, Alexandre de Moraes! Tudo havia se encaixado mais-do-que-perfeitamente. “Nasceu uma obra-prima!”, disse, na ocasião, um anjo desses que se empolgam demais e depois ficam com as bochechas vermelhas.

A obra-prima, porém, ainda não era milagre. Porque de nada adiantariam aquelas palavras todas se elas caíssem em ouvidos moucos ou, pior!, fossem sugadas pelo grande redemoinho de indiferença das redes sociais. Por sorte, para quem não acredita, ou pela Graça, para quem crê, eis que a crônica chamou a atenção de um assessor do Supremo. Que tomou o cuidado de imprimir as palavras e colocá-las cuidadosamente sobre a mesa do déspota, com um bilhetinho no qual, com algum esforço (ê letrinha feia, hein!), lia-se: “Quem esse cara pensa que é?! PRENDE ELE, ALEXANDRE!”.

A julgar pelo título, Alexandre de Moraes já estava até assinando o mandado de prisão. Mas lhe chamou a atenção a epígrafe com aquela poetisa que o minissenador Randolfe Rodrigues disse que era boa. E só por isso o déspota começou a ler. E, caramba!, não é que o cronista tinha razão mesmo? Quando percebeu, Alexandre de Moraes estava na última linha – e em prantos. “Data venia, eu só queria salvar a democracia”, repetia entre soluços, numa última e desesperada tentativa de se convencer disso.

Neste ponto os estudiosos divergem e até se pegam no tapa. Eu, que sou o autor desta joça, digo que o milagre estava na epifania de Alexandre de Moraes. Mas agora uns chatos inventaram de dizer que o milagre se estendeu pelos dias seguintes, abrangendo tudo o que entrou para a história com o nome meio cafona de Primavera Brasileira:

(Olha os dois pontos cruzando a abóboda celeste aí de novo, incréu!). Alexandre de Moraes fez circular a crônica entre os demais ministros que, tocados por todas as qualidades literárias aqui já mencionadas, convocaram uma coletiva de imprensa para reconhecer os muitos erros cometidos nos últimos anos, pedir desculpas e, já que estavam ali mesmo, anunciar novas eleições. “Mas dessa vez sem candidato ex-presidiário!”, ressaltou um brincalhão Edson Fachin que, não pude deixar de perceber, até raspou o bigode. “E, daqui para frente, sem censura. Mesmo!”, acrescentou Cármen Lúcia, visivelmente constrangida, tadinha.

Assim a paz se fez no Brasil. É bem verdade que um ou outro petista cínico ainda tentou emplacar a narrativa de que tudo não passava de uma fantasia mequetrefe de um cronista de província voltando de férias. Mas de nada adiantou. No final das contas, prevaleceram não só os argumentos, citações, figuras de linguagem e até um ou outro afago pouco sincero que o autor incluiu no texto para apaziguar a ira suprema; prevaleceu sobretudo a exortação final que, apesar da cara jacobina, tinha um quê mesmo de sábio conselho maternal: fora, Alexandre de Moraes!

LULA PAZ E AMOR FAZ CAÇA ÀS BRUXAS CONTRA A OPOSIÇÃO

  Brasil e Mundo ...