sábado, 12 de novembro de 2022

GOVERNO LUCRA COM AS REFORMAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

 

Contas públicas

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo


Com reforma da Previdência, governo economizou mais de R$ 150 bilhões nos últimos três anos.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo/Arquivo

Três anos após ser aprovada, a reforma da Previdência tem gerado um impacto nas contas públicas bastante superior ao projetado inicialmente. Entre 2020 e 2022, a economia de recursos deve chegar a R$ 156,13 bilhões, montante 78,76% superior às estimativas originais para o período, que eram de R$ 87,34 bilhões em valores já corrigidos.

O cálculo é do consultor legislativo para assuntos previdenciários Leonardo Rolim, que foi secretário de Previdência do Ministério da Economia na época da reforma, além de ocupar a presidência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) entre 2020 e 2021.

Para chegar aos números, ele observou as despesas previdenciárias na execução do Orçamento dos últimos anos. Para o ano de 2022, considerou as dotações previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA), uma vez que o exercício ainda não está encerrado.

Os dados foram comparados com a estimativa de despesa previdenciária constante da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020, que foi calculada em abril de 2019. Na ocasião, foram projetados os gastos do regime geral de previdência social (RGPS) para os 50 anos seguintes, e do regime próprio de previdência social (RPPS) para um horizonte de 75 anos.

A previsão considerava uma estimativa de inflação, uma vez que as aposentadorias do regime geral são reajustadas anualmente pelo INPC, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor. Os valores foram então corrigidos pelos indicadores de variação de preço que efetivamente ocorreram, além de excluído, em 2022, o impacto da postergação do pagamento de precatórios. No regime geral, os cálculos apontaram uma economia de R$ 109,47 bilhões em três anos – a projeção inicial era de R$ 61,67 bilhões.

No caso do RPPS, do qual participam os servidores públicos, Rolim isolou nas contas a ausência de reajuste salarial nesses três anos, uma vez que a Lei Complementar 173/2020 congelou as carreiras durante a pandemia do novo coronavírus. Como a maior parte dos aposentados da União têm integralidade de paridade da aposentadoria, o ajuste foi necessário para não superestimar o impacto da reforma nas contas públicas. Com isso, chegou-se ao montante de R$ 46,66 bilhões gastos a menos com o regime do funcionalismo – estimava-se originalmente R$ 25,67 bilhões.

O que levou à economia de mais de R$ 150 bilhões na Previdência
Os R$ 156,13 bilhões de economia, explica o consultor, resultam de um conjunto de atos que estabeleceu a chamada Nova Previdência. O primeiro foi a Medida Provisória (MP) 871/2019, posteriormente convertida na Lei 13.846/2019, que fez uma série de ajustes na legislação com o objetivo de coibir fraudes no sistema previdenciário, além de facilitar o processo de cessação de benefícios com indícios de irregularidades.

O segundo foi a reforma da Previdência propriamente dita, ou seja, a Emenda Constitucional 103/2019, que completa três anos de promulgação neste sábado (12). O texto promoveu, entre outras medidas, a fixação de idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e de 62 anos para mulheres), o cálculo do benefício a partir da média de todos os salários (antes excluía-se as 20% menores contribuições), a elevação das alíquotas de contribuição para quem ganha acima do teto do INSS, e a criação de regras de transição para trabalhadores em atividade.

A terceira foi a Lei 13.876/2019, que restringiu ao mínimo as situações de competência federal delegada para a Justiça Estadual, procedimento que tornava mais demorada a resolução de casos judicializados e, por consequência, exigia o pagamento de mais juros pelo sistema previdenciário.

“Não dá para saber, desse montante, quanto é resultado da emenda constitucional ou da Lei 13.846. Eu diria que basicamente são essas duas, porque a questão da judicialização vai ter um efeito mais a longo prazo”, explica o consultor.

Não entraram no cálculo os efeitos da Lei 13.954/2019, que criou novas regras para a aposentadoria dos militares, porque não havia um estudo que permitisse comparar estimativas de despesas pré e pós reforma – a categoria dispõe de um regime previdenciário próprio, regido pelo Sistema de Proteção Social dos Militares das Forças Armadas.

Quando será necessária uma nova reforma da Previdência, e o que deve ser alterado
Segundo Rolim, na análise sob a ótica da despesa, mantida a tendência, uma nova reforma previdenciária não será necessária antes de meados da próxima década. “Se olhar qualquer regime básico no mundo inteiro, tem déficit. A reforma não reduziu o déficit [em valores absolutos], mas reduziu em porcentual do PIB”, diz.

“Só a partir de meados da década de 2030 é que os efeitos da reforma não serão mais suficientes para se contrapor à demografia, ao envelhecimento acelerado da população”, explica. “Aí precisaremos fazer mais algumas mudanças, mas seriam aspectos bem pontuais, como a questão urbano/rural, homem/mulher e alguma coisa referente à expectativa de vida”, diz.

Há cerca de 20 anos, a expectativa de vida do trabalhador rural era sete anos inferior à do urbano. Hoje, o indicador já está igualado, e a tendência é que daqui a alguns anos a expectativa de vida no campo supere a da cidade, o que exigirá ajustes para evitar a insustentabilidade do sistema.

O mesmo deve ocorrer em relação à diferenciação entre contribuintes do sexo masculino e feminino. “As mulheres vivem mais do que os homens e, hoje, se a gente olha as mulheres abaixo dos 30 anos no mercado de trabalho, as características de taxa de atividade, de formalização e inclusive de salário médio já são idênticas. Quando se consideram todos os homens e mulheres, ainda há diferenças grandes, justamente porque a geração anterior, de pessoas acima de 30 anos, ainda apresenta um descompasso, que é a principal razão para se ter diferença de idade de aposentadoria”, diz Rolim.

Outra discussão que inevitavelmente virá no futuro diz respeito ao aumento da idade mínima de aposentadoria. O projeto original da reforma de 2019 previa um reajuste automático da faixa etária para aposentadoria a partir da elevação da expectativa de vida, mas o dispositivo acabou retirado do texto final.

Rolim ressalta, no entanto, que esse horizonte considera um cenário em que não haja um crescimento exagerado das despesas em relação à receita previdenciária, como um aumento descomunal no valor de referência das aposentadorias. Ele defende, por exemplo que o aumento real do salário mínimo, prometido pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seja vinculado ao crescimento do PIB per capita, e não à variação do PIB isoladamente.

“Quando você coloca o PIB per capita, você está agregando mais ou menos ao crescimento da produtividade. E se você agrega ao salário mínimo o crescimento da produtividade, a tendência é que a receita previdenciária cresça mais ou menos na mesma proporção que cresce a despesa”, diz.

“Já o PIB cheio varia em uma proporção que, dependendo do crescimento populacional, acaba dando uma impressão do aumento da produtividade maior do que de fato ocorreu”, explica.

“Foi o que aconteceu em um momento lá atrás, quando houve aquela política de crescimento do salário mínimo vinculado ao PIB. Ainda tem o fato de que se o PIB fosse negativo, o salário mínimo não tinha a correspondente redução. O nosso salário mínimo era muito baixo, então até fazia algum sentido você ter um crescimento muito acima da produtividade. Agora a gente já está em um nível muito mais próximo, por exemplo, do que os outros países da OCDE”, afirma.


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ELEIÇÕES NOS EUA MAIS EQUILIBRADAS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Kevin McCarthy, atual líder da minoria republicana na Câmara de Representantes dos EUA, discursa em 9 de novembro, dia seguinte ao das eleições que devem dar aos republicanos a maioria na casa legislativa.| Foto: Will Oliver/EFE/EPA

Democratas (incluindo o presidente Joe Biden) e republicanos têm razões tanto para celebrar quanto para lamentar o resultado das eleições de meio de mandato (chamadas midterms) realizadas nesta terça-feira, em que os norte-americanos elegeram toda a Câmara de Representantes e pouco mais de um terço do Senado, além de governadores em 36 dos 50 estados. Como era esperado, o governo Biden deve perder a maioria que tinha na Câmara, mas conseguiu evitar uma vitória avassaladora dos republicanos; o “banho de sangue” – referência à cor vermelha que identifica o Partido Republicano – acabou não ocorrendo.

A oposição republicana de fato assumirá o controle da Câmara, mas sua maioria não terá a dimensão prevista. Os Estados Unidos adotam o sistema distrital puro, em que o país todo é dividido em distritos que elegem os deputados. Muitos deles são território praticamente dado como certo para um ou outro partido, devido à predominância de um determinado perfil étnico, socioeconômico ou cultural-ideológico dos eleitores – predominância às vezes obtida graças a redesenhos que criam distritos com formatos bastante bizarros, no que a cultura política americana chama de gerrymandering. Mas há cerca de uma centena de distritos onde o favoritismo de um partido é menor ou onde o resultado é imprevisível, em uma versão local dos swing states da eleição presidencial. Nesses distritos-chave, os republicanos conseguiram várias vitórias onde a situação já lhes era mais favorável, mas fracassaram na tentativa de reverter a preferência do eleitor em muitos distritos importantes que pendiam para o lado oposto. Com pouco menos de 30 dos 435 distritos ainda realizando a apuração na tarde de sexta-feira, a tendência é de que os republicanos elejam pouco mais de 220 deputados, o que lhes daria uma vantagem apertada de menos de dez cadeiras – para conseguir mais que isso, terão de contar com viradas em distritos onde candidatos democratas lideram a apuração.

Diante de uma economia com problemas, os democratas ofereceram ideologia woke como resposta e saíram derrotados. Mas o eleitor também não abraçou com entusiasmo o retorno puro e simples ao trumpismo que os republicanos ofereceram em muitos estados

No Senado, uma regra particular do estado da Geórgia pode salvar os republicanos, que falharam na missão de conquistar a maioria neste dia 8. Como eles provavelmente tirarão apenas uma cadeira dos democratas (em Nevada, que ainda não encerrou a apuração), mas também perderam para eles uma que estava em seu poder, devem manter os mesmos 50 senadores que detinham até agora, em um empate que beneficia os democratas, pois nesses casos o voto decisivo é da vice-presidente do país, Kamala Harris, que acumula o posto de presidente do Senado. Para sorte dos republicanos, o incumbente democrata Raphael Warnock venceu Herschel Walker na Geórgia, mas não atingiu os 50% de votos necessários para se sagrar vencedor nesta terça, forçando um segundo turno que ocorrerá em dezembro. Se Walker conseguir a virada, os republicanos enfim terão a maioria mínima, de 51 senadores.

O objetivo republicano de dificultar a vida de Biden ao tirar a “carta branca” que o governo tinha para implantar seu programa foi atingido, mas de forma muito mais modesta que o planejado. A nova maioria republicana na Câmara deve bastar para barrar muitos projetos, mas, caso Warnock vença o segundo turno na Geórgia e mantenha o controle democrata no Senado, a oposição precisará seguir contando com a sensatez do democrata Joe Manchin, senador que costuma se opor às pautas mais radicais de seu partido. Cabe ao Senado, por exemplo, analisar nomeações de juízes federais (não apenas os da Suprema Corte), e os republicanos precisarão de ajuda para impedir que Biden torne o Judiciário mais ideologizado.

A derrota democrata já era esperada; até por isso, são os republicanos que terão mais trabalho para entender por que não conseguiram a vitória elástica que se previa. A economia norte-americana passa por grandes dificuldades, com a maior inflação das últimas décadas e ameaças de recessão, graças às políticas expansionistas de Biden. Os democratas não tinham absolutamente nada a oferecer neste campo. A única estratégia de Biden foi tentar fazer das midterms um referendo não sobre seu governo, mas sobre o direito ao aborto, depois da decisão da Suprema Corte que derrubou Roe v. Wade, em junho, devolvendo aos estados o poder de legislar sobre o assunto como bem entenderem. Se é verdade que os temas morais importam bastante, como escrevemos neste espaço dias atrás comentando a eleição brasileira, também é verdade que no caso norte-americano os democratas tentaram transformá-lo no único tema que importava, até para camuflar o desempenho desastroso na economia. Em alguns casos, pode ter funcionado, pois as populações de três estados aprovaram o direito ao aborto em plebiscitos realizados também nesta terça-feira. Mesmo assim, ainda havia motivos suficientes para o eleitor norte-americano rejeitar o partido que ocupa a Casa Branca.

Ao menos parte da explicação repete a eleição presidencial de 2020: o eleitor moderado que rejeitou Donald Trump naquele ano teria feito o mesmo com alguns dos candidatos endossados por ele nestas midterms. O apoio de Trump lhes foi bastante útil nas primárias republicanas, mas não bastou no momento de conquistar o eleitorado geral. Foi o caso dos candidatos ao Senado Mehmet Oz (na Pensilvânia) e Blake Masters (no Arizona). Outra candidata endossada por Trump, Kari Lake, está perdendo a disputa pelo governo do Arizona, embora sua desvantagem esteja abaixo dos 2 pontos porcentuais e ainda haja chance de virada. Nenhum desses dois estados pode ser chamado de “azul”: em 2016, Trump venceu em ambos; quatro anos depois, a vitória foi de Biden, mas por margens mínimas, de 0,3 ponto porcentual no Arizona e 1,17 ponto porcentual na Pensilvânia.

As derrotas de trumpistas em disputas nas quais a vitória estava ao alcance – especialmente naquelas para o Senado, que já poderiam ter garantido a maioria aos republicanos caso o desfecho fosse outro – abrem uma janela de oportunidade para que estrelas republicanas em ascensão desafiem Trump, que ainda é o candidato natural do partido à Casa Branca em 2024. Se daqui a dois anos, nas primárias, o eleitor republicano tiver a mesma percepção que os democratas tiveram em 2020, buscando um candidato que encarne os valores do partido, mas que também seja palatável ao eleitor moderado, os olhares devem se voltar para Ron DeSantis, governador da Flórida que acaba de ser reeleito com 20 pontos de vantagem sobre seu adversário.

Diante da realidade americana de uma economia com problemas, os democratas ofereceram identitarismo e ideologia woke como resposta e saíram derrotados. Mas os republicanos têm de perceber que o eleitor também não abraçou com entusiasmo a resposta que eles ofereceram em muitos estados, a do retorno puro e simples ao trumpismo. O partido que tiver mais inteligência política e agilidade para perceber o recado do eleitor e fazer sua correção de rota sairá na frente na disputa pela presidência em 2024.


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LULA NÃO APROVA O TETO DE GASTOS E A REGRA FISCAL

 

Reação
Gazeta do Povo
Brasília


O presidente eleito Lula durante reunião com parlamentares no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília| Foto: Joédson Alves/EFE

Caciques partidários e economistas influentes que apoiaram a candidatura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram falas dele que repercutiram mal no mercado, na quinta-feira (10). O mercado reagiu negativamente após Lula afirmar em discurso a apoiadores, em Brasília, que as pessoas não deveriam sofrer para garantir “a tal da estabilidade fiscal”, em uma crítica direta ao teto de gastos e às metas de superávit. O futuro presidente chegou a comentar o “nervosismo do mercado” e disse nunca ter visto “um mercado tão sensível como o nosso”.

O fundador e ex-presidente do partido Novo, João Amoêdo, por exemplo, classificou como “ruim e desnecessário” o discurso feito na “largada”. “Lula precisa sair do palanque. Mas ainda é prematuro dizer como será o governo dele. A transição trouxe coisas boas e ruins. Mas o mercado está volátil demais”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Amoêdo teve sua filiação suspensa pela Comissão de Ética do Novo após declarar voto em Lula durante o segundo turno.

O economista Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, foi outro a comentar. Em entrevista a O Estado de S. Paulo, disse que Lula ainda está no “modo campanha”. Na véspera, em evento fechado promovido pelo BTG Pactual, Meirelles disse que o próximo governo Lula tem duas vezes mais chance de se parecer com o governo Dilma Rousseff, marcado pelo desequilíbrio fiscal. “Começou a sinalizar uma direção a Dilma”, teria dito Meirelles, segundo informou o site O Antagonista.

A economista Elena Landau, responsável por ter liderado as privatizações durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e por ter coordenado o programa econômico da senadora Simone Tebet (MDB-MS) nas eleições deste ano, disse que a fala de Lula “desmoraliza a transição”. “É um discurso de PT pelo PT, que ignora os apoios recebidos”, disse ao jornal Valor Econômico.

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse que o discurso “caiu mal”. “Não só para o mercado, mas também entre aqueles que acharam que a frente ampla, que foi essencial para a vitória dele no segundo turno, valeria também para o governo. Lula dava sinais positivos na transição, mas fez um discurso desnecessário. Foi um passo mal dado”, declarou a O Estado de S. Paulo.


Quais os termos da negociação de Lula e aliados para aprovar a PEC fura-teto no Congresso
O ex-senador José Aníbal , ex-presidente nacional do PSDB, afirmou a O Estado de S. Paulo que não é válido o contraponto exposto por Lula entre teto de gastos e as despesas sociais. “É possível trabalhar nas duas frentes”, comentou.

Em entrevista a rádio CBN, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que declarou voto em Lula no segundo turno, disse que as ideias do futuro governo do PT para a área econômica estão se afastando daquilo que ele acredita.

Aliados saem em defesa de Lula e minimizam polêmica
Diante da repercussão negativa das falas de Lula, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, buscou colocar panos quentes na polêmica em postagem no Twitter. “Estão dizendo que o mercado reagiu mal ao discurso de Lula porque enfatizou investimentos na área social em detrimento do equilíbrio fiscal. Não foi o que ele disse. Mas onde estavam quando Bolsonaro fez a gastança pré campanha eleitoral?”, escreveu.

Já o vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição, Geraldo Alckmin (PSB), disse que a responsabilidade fiscal não é incompatível com a questão social.

“Se alguém teve responsabilidade fiscal, foi Lula. Isso não é incompatível com a questão social. O que precisa é a economia crescer, esse é o fator relevante. Essas oscilações do mercado tem inclusive questões externas além da questão local”, comentou.


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ENTREVISTA DE LULA CAUSA REBOLIÇO NEGATIVO NO MERCADO FINANCEIRO


Cristina Graeml – Gazeta do Povo


E a entrevista do Lula, hein? Alguém aí suportou aquela tortura? O mercado financeiro, não. Aliados de renome, também não. Era esperado, não era? Por que fingiram que não sabiam quem era Lula? Por que embarcaram no conto do vigário (com todo respeito ao vigário)?

O que esperar de um governo que, já na transição, provoca rebuliços imediatos a ponto de provocar alta repentina do dólar, queda na bolsa e debandada de apoiadores?

Não se passaram nem duas semanas do 2º turno. Dez dias após as eleições, Lula finalmente apareceu em público, em Brasília, para falar de ações que pretende tomar como presidente eleito. Foi rápido em retomar a era de conchavos e relembrar que a preocupação do PT com a responsabilidade fiscal é zero.

As notícias da decepção de economistas que tinham emprestado sua credibilidade à campanha petista dão conta de que, agora, desistiram de sujar sua biografia. Neste caso é impossível dizer aquela máxima do “antes tarde do que nunca”. A biografia já foi manchada e a sujeira se espalhou pelo país inteiro. Todos sofrerão as consequências.

A entrevista escancara a falta de honestidade e de respeito à coisa pública, além da falta de ética. Ver Lula falando barbaridades diante os microfones da mídia militante é algo estrondoso, uma espécie de teatro de horrores. Não bastassem os absurdos que diz, ainda obriga a população a acompanhar o escárnio em forma de risinhos de Randofe Rodrigues, ao lado.

Em entrevista, Lula escancara a hipocrisia
Caso não tenha visto a íntegra da entrevista, que durou cerca de 15 minutos, nem perca tempo. Vai passar raiva, porque a sequência de frases mostra Lula em estado puro, ou seja, completamente indigesto.

Há os anúncios aterrorizantes para o mercado financeiro e para qualquer um que se preocupe com o dinheiro que sai do seu bolso para sustentar a máquina pública.

Há também mentiras descaradas, omissão e descontextualizadção de fatos, o rancor contra o povo que há dias se manifesta nas ruas, após uma eleição de resultado tão apertado e, até por isso, questionável. E há, claro, as bravatas de sempre.

“Precisamos devolver a normalidade a esse país” e “eu vim aqui dizer que do nosso respeito às instituições” foram algumas das falas de alguém que pensa que a falta de normalidade do país está no Palácio do Planalto e não, no STF ou no TSE. E que finge respeitar as instituições que, no passado, já cooptou ou chamou de “acovardada”.

Lula deixa claro na entrevista que não vê qualquer problema nas ordens tirânicas do censor de toga. Em Brasília, reuniu-se os ministros do STF dando abraços e tapas nas costas. Faltaram só tapinhas no rosto, como aqueles no ministro Benedito Gonçalves na posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE.

Para a imprensa, depois, explicou que a vista foi para “agradecer pela lisura do Poder Judiciário no enfrentamento à violência, à ilegalidade e ao desrespeito democrático que estava sendo praticado nesse país”. Se não estivesse gravado eu teria dificuldades em acreditar que a hipocrisia chegou a esse nível.

Manifestações “sem pé nem cabeça”
Para quem anda pedindo SOS Forças Armadas, o recado foi direto: “sinceramente essas pessoas não tem por que protestar. Essas pessoas deviam dar Graças a Deus por a diferença ter sido menor do que aquilo que nós merecíamos ter de voto. E eu acho que é preciso investigar quem está financiando esses protestos, que não têm pé nem cabeça”, disse Lula.

Será mesmo? 61,43% dos eleitores deram um recado claro nas urnas: não querem Lula “de volta à cena do crime”, conforme palavras de seu vice, Geraldo Alckmin, quando ainda fingia jogar em campo oposto, na campanha de 2018.

Em relatório, divulgado na quarta (9), as Forças Armadas deixaram claro que o sistema eleitoral tem muitas vulnerabilidades e que não é possível descartar a possibilidade de fraudes. Pediram também acesso aos códigos fontes, que o presidente do TSE não liberou para a fiscalização, inviabilizando a averiguação real do sistema.

Lula disse que as urnas são uma conquista do povo brasileiro e causam inveja a muitos países. Mais uma bravata. Esqueceu de mencionar que só Butão e Bangladesh usam sistema igual, ou seja, o mundo não tem a menor inveja das urnas usadas aqui.

Clique no play da imagem que ilustra essa página para acompanhar uma análise aprofundada dessa primeira entrevista de Lula após as eleições do 2º turno. Prepare-se para ouvir acenos ao Centrão, mentiras de que a economia brasileira vai mal e promessas de gastança do dinheiro público como se não houvesse amanhã.

A largada foi péssima. Os manifestantes continuam nas ruas e não é à toa. O mercado financeiro reagiu mal e não foi à toa. Economistas, aliados de última hora, desembarcam da nave antes que ela decole e não à toa.

Atenção Brasil. Toda a vigilância é pouca. Guardem bem o que foi dito nessa entrevista. A desonestidade foi escancarada no horário nobre da TV e essa postura precisará ser relembrada e cobrada quando a conta começar a chegar. Não vamos nos calar.


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GOVERNO LULA IRÁ PROCEDER IGUAL AO GOVERNO DILMA E O CONGRESSO VAI PERMITIR?

 

Por
Deltan Dallagnol


| Foto: Saulo Cruz / Câmara dos Deputados

Lula vai implementar uma visão econômica retrógrada, intervencionista e perdulária, que gera inflação e juros altos? Lula avançará na guerra cultural para liberar aborto, drogas e ideologia de gênero? Haverá mais Mensalão e Petrolão neste novo governo?

Muita gente preocupada com isso tem me abordado para dizer que suas esperanças estão sobre o novo Congresso, que é majoritariamente de centro-direita. Mas o novo Congresso é capaz de frear Lula e o freará nas agendas econômica, de costumes e de combate à corrupção?

Um presidente da República pode muito, mas não pode tudo. Essas pautas dependem em grande medida da atuação do Poder Executivo chefiado por Lula, mas alguns aspectos cruciais delas dependem do Congresso.

Na economia, o orçamento é definido por lei aprovada no Congresso. O presidente não pode furar o teto de gastos orçamentário sem autorização do Congresso, sob pena de correr risco de impeachment. Dependem do Congresso também a criação de novas estatais, a mudança de leis trabalhistas e a realização da reforma tributária.

Na agenda dos costumes, a descriminalização das drogas, mudanças das regras sobre o aborto e a legalização de jogos de azar não são decididas pelo presidente, mas pelo Congresso.

A agenda anticorrupção, por sua vez, depende essencialmente da criação pelo Congresso de um sistema robusto com a prisão em segunda instância, o fim do foro privilegiado, a reconstrução da lei de improbidade e o restabelecimento da competência da justiça federal para casos de corrupção.

Na agenda dos costumes, a descriminalização das drogas, mudanças das regras sobre o aborto e a legalização de jogos de azar não são decididas pelo presidente, mas pelo Congresso

E como o Congresso se comportará nessas matérias? Quanta força Lula tem no novo Congresso e qual o perfil dos parlamentares eleitos?

Lula tem apoio minoritário no Congresso. Na Câmara, apenas 122 dos 513 deputados são de partidos alinhados com Lula, menos de um quarto. São 187 alinhados com Bolsonaro e 204 independentes. Para aprovar leis são necessários 257 deputados em casa cheia e para emendar a Constituição, 308.

No Senado, apenas 12 dos 81 parlamentares são da base lulista, nem 15%. Há 45 independentes e 24 na base bolsonarista. A maioria para mudar as leis, com a casa cheia, é de 41 senadores. Para mudar a Constituição, é preciso 49.

Na primeira gestão lulista o apoio no Congresso também era minoritário, mas hoje o cenário é polarizado e há menor adesão à ideologia petista original. Lula chegou lá muito mais devido à rejeição a Bolsonaro por parte da sociedade do que por apoio social às suas propostas.

As propostas de Lula, aliás, mal foram expostas ou debatidas. Ele chegou a ser acusado de estar pedindo um cheque em branco da população. Além disso, há hoje um engajamento político de direita antes inexistente que conflita com o ideário petista.

Lula chegou lá muito mais devido à rejeição a Bolsonaro por parte da sociedade do que por apoio social às suas propostas

Esse cenário torna mais desafiadora a formação de maiorias para a aprovação de propostas do governo no Congresso, especialmente sobre economia e na agenda de costumes.

Some-se que o Congresso tem hoje poderes que não tinha nos governos anteriores de Lula. Tem exercido seu poder para derrubar vetos presidenciais e para aprovar, rejeitar ou alterar medidas provisórias. Não será fácil impor um ideário como foi antes.

Um instrumento da era lulista para barganhar com congressistas era a concessão de emendas parlamentares individuais, recursos do orçamento que cada deputado ou senador leva para atender a necessidade de uma região. Hoje, tais emendas são impositivas, ou seja, obrigatórias.

Lula provavelmente negociará o apoio de partidos concedendo-lhes as chaves de Ministérios, que serão multiplicados, e de Estatais, além de cargos de menor escalão que são usados como moeda política em detrimento de servidores técnicos.

Lula tende a recorrer também ao orçamento secreto que foi usado com o mesmo propósito de governabilidade pelo governo Bolsonaro, muito embora o primeiro tenha prometido acabar com ele.

Os métodos disponíveis, mesmo quando eram mais amplos e os tempos eram mais favoráveis, não foram suficientes, entretanto, para os governos petistas alcançarem governabilidade.

Os atuais desafios da governabilidade trazem uma sensação de “déjà vu”. Eles foram resolvidos nos governos Lula e Dilma por meio do Mensalão e Petrolão. Há fortes incentivos para sua recorrência.

Se o parlamento for cooptado por meio de subornos, como foi no passado, em que medida poderão sucumbir as pautas liberal e conservadora despeito do perfil do novo Congresso? E quanto o Brasil sofrerá com novos desvios bilionários?

O melhor é evitar que novos esquemas ocorram. E dá para contar com o Congresso para se opor a um novo Mensalão ou Petrolão? É possível criar um forte sistema anticorrupção? Esse tema merece ser tratado em um artigo próprio, em breve.

MANIFESTAÇÕES EM FRENTE AOS QUARTÉIS

 

Por
Bruna Frascolla


Manifestantes protestam em frente a quartel do Exército Brasileiro em São Paulo| Foto: Fernando Bizerra/EFE

Nesse momento de instabilidade, é oportuno assistir ao “Nem tudo se desfaz”, de Josias Teófilo. O documentário é bom para refrescar a memória, pois trata do início das manifestações de direita e chega até o (imaginava-se) o seu ápice, que era a eleição de Bolsonaro. No começo, tudo parecia ser só mais uma manifestação de beautiful people, um quebra-quebra daqueles que jornalista e “imprensa internacional” acham bonito. Até que as ruas passaram a ser ocupadas por outro tipo de manifestante.

Entre os 20 centavos e o “não vai ter copa”, os black blocs e os estudantes profissionais passaram a conviver com uma turma de camisa canarinho. Enquanto os de sempre queimavam a bandeira nacional, os novatos a empunhavam alegremente e usavam a camisa da CBF como meio de expressar o seu nacionalismo.

Muitos tentaram tomar a frente da nova movimentação. Perante a constante expulsão daqueles que tentavam transformar o movimento em algo partidário, despontaram movimentos apartidários que se colocavam como organizadores de manifestações. Dessa época são o Vem Pra Rua e o MBL, surgidos, respectivamente, em outubro e novembro de 2014.

Esses movimentos organizados gozavam de certa aceitação perante a imprensa antipetista. Eram jovens lideranças que renovariam a política do país. Com o tempo, o Vem Pra Rua minguou e o MBL, desde quando se tornou oposição a Bolsonaro, não consegue convencer mais ninguém de que são um movimento político movido por ideais, em vez de mera disputa por poder.

Seja como for, para manter a respeitabilidade, esses movimentos organizados precisavam dar um chega-pra-lá num certo perfil de manifestante: o velho com camisa da CBF que trazia cartazes pedindo intervenção militar e artigo 142, às vezes com uma tradução esquisita para o inglês. Eram piada, serviam para memes, ninguém os levava a sério.

No fim do governo Bolsonaro, as massas continuam mobilizadas e o país continua instável. Mas massas não se aglomeram mais à frente de Bolsonaro. Agora elas se aglomeram defronte dos quartéis e clamam por intervenção militar. E mais: hoje mesmo os chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica assinaram uma inusual nota “à imprensa e às instituições” reafirmando que elas têm esse direito.

Quem era Bolsonaro para o povo?

Dada a mudança do foco das manifestações, convém lembrar a imagem de Bolsonaro pré presidência. Ele era o deputado cuja atuação começou como a de uma espécie de sindicalista dos militares. É claro que, dada a importância nacional da categoria, as atividades de tal “sindicalista” têm uma importância muito maior do que se sua profissão fosse a de padeiro ou professor. Ao cabo, transformou-se num defensor das Forças Armadas durante o governo FHC, que pretendia “enxugar a máquina” para além do prudente. Não custa lembrar, também, que FHC foi por muitos anos um pesquisador subsidiado pela Fundação Ford, que há décadas se empenha em criar tensões raciais no nosso país. Em virtude disso, sua atividade parlamentar era facilmente atrelada ao estatismo, e não era de surpreender que, em questões econômicas, votasse de modo parecido com nacionalistas de esquerda, tais como Aldo Rebelo. Para Bolsonaro se eleger após o estrago de Dilma, só carregando Paulo Guedes para cima e para baixo, garantindo que ele seria o seu “posto Ipiranga”. A promessa despertou muito ceticismo, mas foi cumprida.

A outra atividade “sindical” de Bolsonaro foi a que começou a colocá-lo sob os holofotes foi a defesa dos militares que participaram da repressão aos comunistas durante a ditadura. A própria redemocratização fora puxada por manifestações de rua que jornalista acha bonito, com jovens “idealistas” de cara pintada, pedindo por democracia. Havia então um consenso entre as classes falantes que o regime militar foi horrível e a democracia é um valor em si mesmo. Bolsonaro furava esse consenso com muito espalhafato. Com o tempo, a esquerda, em conjunto com a imprensa, passou a avançar na questão de costumes. Bolsonaro também fez uma oposição estridente e acumulou mais holofotes ainda. Passou de um parlamentar de nicho a um vocalizador da maioria silenciosa no que concerne aos costumes (aí incluída a leniência com os bandidos).

O que Bolsonaro era para as elites?
Recentemente, Silvio Grimaldo escreveu que o establishment não entendeu que Bolsonaro era um agente de estabilização. Concordo com ele neste aspecto. Vamos ao contexto: num cenário de perpétua agitação, Bolsonaro lidera as massas e as mantém apaziguadas. O caso máximo talvez seja o Sete de Setembro, quando Bolsonaro conseguiu a façanha de lotar Brasília numa manifestação contra o STF para… Receber uma cartinha de Temer e pedir desculpas ao Supremo. Antes, dizia-se: o país estava em chamas por causa de Bolsonaro. Hoje, após as eleições, faz mais sentido dizer que o país só não explodiu graças a Bolsonaro, que é como o pito estridente desta panela de pressão. As elites achavam esse pito barulhento demais e resolveram apertá-lo para baixo, silenciando-o. Após as eleições passou a chamar Bolsonaro para apagar incêndio, pedindo a ele que, usando sua palavra e sua autoridade, rogasse aos manifestantes que parassem de obstruir estradas. Surpresa: não funcionou.

As estradas continuaram obstruídas em vários pontos do país após o pedido de Bolsonaro. E os manifestantes agora se dirigem aos quartéis das forças armadas.

Efeitos do presente na avaliação do passado
Se possível, peço que olhe esta imagem que tem circulado na internet. Mostra um velho vestindo camisa da CBF, enrolado na bandeira do Brasil, ostentando uma placa. Até aí, é uma figura idêntica ao dos que pedem intervenção militar desde 2013. O detalhe que fez a imagem circular é que ele tem as duas pernas amputadas (talvez seja diabético) e na placa se lê: “Minhas pernas não me trouxeram mas meu coração me arrastou!”. Mas eu peço que olhe mais ainda. Atrás dele, de verde e amarelo e enrolados em bandeiras do Brasil, há gente jovem.

Esse nicho de manifestantes que começou como escória em 2013 apresentou uma força de vontade e uma fé no Brasil enormes, que deveriam envergonhar qualquer jovem reclamão. Agora, contagiou idades mais novas e, até prova em contrário, se converteu na tendência dominante das manifestações. Porque agora não há mais peias em pedir intervenção militar. Bolsonaro foi preterido; as Forças Armadas, escolhidas.

De todo modo, a idade dos que sempre pediram intervenção militar mostra que a maioria silenciosa não estava de acordo com a versão oficial dos fatos, forjada primeiro pela TV, que romanceava a guerrilha, e depois sacramentada pela Comissão da Verdade. A maioria silenciosa que viveu o governo Médici, por exemplo, se lembrava do período como uma era feliz de pleno emprego, no qual o cidadão de bem não tinha medo de sair na rua. Depois a imprensa e a esquerda vieram ao mesmo tempo com a conversa de que o período militar era horrível e os bandidos são vítimas da sociedade. Agora o STF solta bandido, impede o policial de entrar no morro, e, não contente, vai atrás de cidadãos de bem que exercem o seu direito constitucional de expressar suas opiniões.

Várias pesquisas de opinião mostram as Forças Armadas como uma das instituições, senão a instituição, que mais goza de confiança no país. A classe falante deveria pensar duas vezes antes de tratar o regime militar inequivocamente como a pior época da nossa história recente.

Histeria à direita
Creio que os nervos nunca tenham estado tão aflorados com as manifestações de Bolsonaro quanto com as das Forças Armadas. Elas não se manifestam nunca; resolveram se manifestar agora.

Há poucos dias o Brasil assistiu às lives do argentino, que apresentava anomalias estatísticas. As lives eram transmitidas do estrangeiro e eram apresentadas por um estrangeiro porque o TSE censurava quem considerasse a lisura das urnas. O resumo da apresentação era que urnas antigas apresentavam mais votos para Lula, mesmo em comparação a seções vizinhas de idêntico perfil demográfico. O TSE poderia contra-argumentar, mas censurou a conta do Twitter do economista Marcos Cintra, insuspeito de bolsonarismo, que comentou que esperava respostas do Tribunal. A censura que durara até a eleição tinha vindo para ficar.

Pouco depois, estava para sair o relatório das Forças Armadas, que foram convidadas a auditar as eleições. Aí o povo, que tanto esperava das Forças Armadas, ficou doido. Os youtubers que fizessem as previsões mais sensacionalistas ganhavam mais visualizações e superchats, então espalhou-se a crença de que a intervenção era iminente, faltando apenas o relatório bombástico.

De fato, tal relatório veio: as Forças Armadas denunciaram a obstrução ao seu trabalho de verificação, bem como a impossibilidade de atestar que as eleições foram seguras. Aquilo que era tabu durante a live do argentino foi afirmado por tais autoridades. A imprensa, porém, resolveu deturpar o relatório, afirmando que fraudes não foram encontradas, quando o xis da questão era justamente a impossibilidade de encontrar eventuais fraudes.

Outro fato que levou a uma histeria generalizada na direita é a relação esquizoide que Olavo de Carvalho tinha com as Forças Armadas, transmitiu aos seus pupilos e espalhou pela cultura. Por um lado, segundo Olavo, os militares salvaram o Brasil de uma ameaça real e iminente em 64. Por outro, foram lenientes demais ao censurarem pouco e permitirem que o marxismo avançasse no Brasil com métodos gramscianos. Assim, uns 90% dos olavetes se sentem mais anticomunistas do que “os militares” (todos) pelo mero fato de terem lido Olavo, que é um best-seller. Quando eles não tinham nascido, Heleno trabalhava com Sylvio Frota, que liderava a oposição à abertura. Mas eles sabem muito mais do que Heleno e são mais anticomunistas do que ele. É uma arrogância só comparável à dos próprios comunistas, que se sentem os tais por terem lido uns livrinhos e subscreverem uma série de ideias, sem ter feito nada.

Ao cabo, o estilo estridente tanto de Bolsonaro quanto de Olavo tornou certas pessoas incapazes de atentar ao conteúdo de um relatório e a focar apenas no tom. É possível que acreditem na propaganda comunista, segundo a qual militares são broncos e burros. Porque, ao que parece, o relatório só prestaria se fosse escrito em linguagem agressiva e recomendasse cascudos às autoridades. Na prática, o relatório liberou que se questionasse o sistema, coisa que o TSE tinha, na prática, criminalizado. Mas como não teve showman, live ou anúncio de tanques na rua, os histéricos ficaram puxando os cabelos.

Mais um feito hoje
Ao contrário do que foi noticiado primeiro, o comandante do Exército, e não Bolsonaro, foi quem convocou uma reunião de urgência com os generais. Hoje os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica assinaram uma nota inédita na história da Nova República. Entre outras coisas, reforça que é livre o direito à manifestação pacífica. É pouco? Bom, esta semana a Amazônia tem sido palco de conflitos. No Pará, manifestantes fecham estradas – tipo de manifestação ao qual se opõe a nota. Mas na capital do Acre há manifestações pacíficas na frente do Exército clamando por intervenção. E Alexandre de Moraes mandou a PM acriana acabar com ela.

A nota das Forças Armadas tira a autoridade de Alexandre de Moraes. Coisa que não esteve ao alcance de Bolsonaro, o conciliador.


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MORTES DE GAL COSTA E ROLANDO BOLDRIN

 

Gal e Boldrin

Por
Francisco Escorsim


Gal Costa canta em homenagem a João Gilberto, na TV Globo. A cantora faleceu em 9 de novembro de 2022.| Foto: TV Globo / Renato Rocha Miranda

Há semanas em que o difícil é escolher sobre o que escrever, em outras encontrar sobre o que escrever. Às vezes acontece de um assunto se impor, mais raro perdurar avançando pelos dias, tornando-se desesperador quando permanece por semanas sem fim. É o que tem acontecido, infelizmente.

Das agruras de cronista, nenhuma me é pior do que essa, até porque, do tanto já dito e redito sobre o que não pode ser dito, que mais haveria a falar senão mais do mesmo sobre mais do mesmo? Ou (mais) um lamento pretensiosamente lírico de impotência comungada com o leitor?

E a pensar estava nessa impotência quando veio a notícia do falecimento de Gal Costa. Seria um desses assuntos a se impor? Acompanhando a grande mídia durante o dia, bem que tentaram, mas sem sucesso. A expectativa pela divulgação do relatório das Forças Armadas sobre as eleições era maior, como chuva de prata que cai sem parar, e quando enfim veio a público… amanhã será jamais.

É quase inevitável não enxergar nas mortes de Rolando Boldrin e Gal Costa um símbolo do que estamos a viver

Já desistindo de procurar por outro tema, eis que no fim do dia li nas redes sociais que Rolando Boldrin também havia morrido. Aí o ontem falou mais alto no meu peito humano. Brotaram do coração as memórias de uns tantos domingos da infância, quando acordava cedo e brincava no tapete da sala com os jogos de botões, fazendo grandes finais de Copa com Zico heptacampeão mundial, com a tevê ligada ao fundo. Quando começava a abertura do Som Brasil, com Boldrin cantando aquela moda que eu gostava, eu parava e prestava atenção, sem entender como seria remédio para os meus desenganos, que ainda nem os tinha.

É curioso como alguém pode fazer tanta parte de sua história sem que você conheça muito sobre a pessoa. Rolando Boldrin era daquelas presenças constantes para mim, por causa de sua voz. Eu pouco assistia ao programa, voltava a brincar e a tevê era um barulho de vida a fazer as vezes de torcida de minhas partidas imaginárias. A única voz constante era a dele. Várias vezes, no futuro, não o reconhecia pelo rosto, nem pelo nome, mas bastava ele falar que lá ia eu, como criança, lembrar dos meus botões.

Quando Boldrin já não apresentava mais o programa, havia sido substituído por Lima Duarte, meus botões já sofriam a rivalidade de jogos de futebol “reais”. Acompanhava um amigo nas partidas de futebol de salão do pai dele nos domingos de manhã. Não lembro onde era a quadra, mas recordo bem das árvores em torno, acho que araucárias ou pinheiros. Lembro também do banco traseiro do carro, acho que um Santana, mas principalmente de uma música que quase sempre tocava, não sei se no toca-fitas ou rádio: Um Dia de Domingo, no dueto de Gal Costa com Tim Maia.

Há uma versão desta música somente com Gal cantando, gravada ao vivo. Gosto dos arranjos novos criados, transformando a breguice do original em algo cool, com Gal brincando de imitar Tim, cantando com voz grave um trecho da música. O dedilhar da guitarra me devolve àquelas manhãs de domingo, à espera dos adultos terminarem suas partidas e liberarem a quadra para brincarmos. Uma quadra imensa, com traves de gol de tamanho desproporcional, uma bola pesada demais. Ainda assim, tentávamos. E os chiados dos tênis nas tábuas da quadra faziam parecer que o jogo era para valer. Como a nossa democracia, pensando bem.

É quase inevitável não enxergar nas mortes de Boldrin e Gal um símbolo do que estamos a viver. Porque é fácil identificar Boldrin com a voz do caipira do interior, representante da música regional, daquele Brasil que preferiu Bolsonaro. Ainda que ele não tenha votado, ainda que defendesse outra coisa. Não sei e não faz diferença para isso. Assim como Gal representaria o outro lado, aquela voz que, embora igualmente regional, tornou-se mainstream e, por isso mesmo, recebeu muito mais destaque na grande imprensa do que a morte de Boldrin (o que diz muito da imprensa, nada sobre Boldrin ou Gal).

Mas não importam os lados, o que pensamos, o que representamos, o quão diferentes somos, o quão distantes, apartados, divididos estejamos. A morte nos reúne a todos num vasto Eclesiastes, cuja palavra significa “aquele que reúne”. Ainda que seja a reunião numa lembrança de um tempo em que tudo era um Som Brasil, cabendo ambos, todos, numa manhã de domingo, vendo o sol amanhecer. Hoje, talvez isso não seja mais possível. O jeito é tocar essa vida marvada, fazendo de conta que ainda é cedo.

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BUSCAS POR VOZ VÃO SUPERAR AS ESCRITAS?

 

Por Carol Junqueira e Jonas Marinho – Marketing e Cultura da Simplex

Será que as buscas por voz vão superar as escritas? Se sim, quando isso pode ocorrer? Essas são duas questões que estão postas há pelo menos 10 anos ou, no mínimo, desde que a qualidade dos sistemas de buscas por voz como Google, Siri, Alexa, Cortana, Bixby entre outros atingiu níveis que tornaram seu uso realmente viável.

Se olharmos os números, veremos que as buscas exclusivamente por voz ainda estão num patamar muito baixo, mas seguem com tendência de crescimento, em especial quando realizadas por meio de dispositivos móveis. É o que indica a segunda edição da pesquisa State of Search Brasil, realizada em 2021. O levantamento aponta que os usuários que realizam buscas exclusivamente por voz representam apenas 2% do total de usuários de notebooks e desktops, mas sobem para 5% quando são realizadas por smartphones. Quando considerados os usuários que utilizam tanto voz como escrita em suas buscas, os valores sobem para 32% e 47% respectivamente. E um dado relevante é que esses números cresceram 25% em relação a 2020.

Pode até parecer pouco, mas isso demanda atenção de empresas e profissionais de SEO, pois se trata de uma tendência de mudança no comportamento do usuário, que pode interferir expressivamente nos resultados de buscas. O crescente aumento do uso dos assistentes de voz e, também, dos aplicativos de metaverso, vão contribuir para impulsionar as buscas feitas por voz.

Diante dessas tendências, as chamadas buscas de cauda longa (long tail), que utilizam três ou mais palavras, possuem maior probabilidade de ocorrer, pois é natural que, ao fazermos buscas por voz, utilizarmos frases mais completas ou fazermos isso na forma de perguntas. Nesse cenário, softwares que auxiliem na criação automática e escalável de páginas web, que fazem a correlação dessas palavras, podem ajudar, e muito, a garantir um bom posicionamento nas buscas.

Outro ponto que merece destaque e que vai interferir diretamente no número de impressões é a tendência de aumento nas buscas por meio dos sistemas de assistentes de voz. Isso terá cada vez mais impacto nas métricas.

Diferentemente das pesquisas realizadas diretamente no Google, as consultas feitas via assistente de voz não geram impressões. Vejamos um exemplo: se perguntarmos qual a distância entre São Paulo e Belo Horizonte diretamente à assistente eletrônica, receberemos a resposta, mas ela não vai gerar uma impressão, como seria se utilizássemos um buscador como o Google, por exemplo. Será uma impressão a menos para algum site que aparecia na primeira posição para esse tipo de busca.

Outra métrica que sofrerá alterações é a de volume de tráfego. Há uma tendência que perguntas, como por exemplo sobre a previsão do tempo, migrem cada vez mais para assistentes de voz. São milhares, talvez milhões de buscas que aos poucos deixarão de ser feitas em buscadores, que não vão mais gerar volume de tráfego e nem impressões. Outras perguntas que devem migrar para os assistentes de voz são, por exemplo, sobre as cotações de moedas, fechamento de bolsa de valores ou mesmo a receita de algum prato.

Em um futuro próximo, conforme os assistentes de voz ampliarem as possibilidades de realização de compras, os usuários serão direcionados diretamente para determinados supermercados, lojas parceiras ou ligadas diretamente a esses assistentes. Isso não impactará apenas nas métricas, mas diretamente nas conversões de vendas. Essas são apenas algumas tendências que devemos acompanhar de perto e ficarmos atentos aos impactos que elas poderão trazer para empresas e negócios.

Ao longo dos anos, as equipes de SEO sempre tiveram que enfrentar expressivos desafios e as buscas por voz são apenas mais um que se apresenta para um futuro próximo. Mas, afinal, alguém falou que seria fácil?

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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

REAÇÃO DA BASE DE APOIO DO BOLSONARO AO RELATÓRIO DAS FORÇA ARMADAS

 

Sistema eleitoral

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) e outros senadores governistas pediram à PGR uma investigação sobre as urnas com base no relatório do Ministério da Defesa.| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O Partido Liberal (PL), do presidente Jair Bolsonaro, ainda não definiu se vai usar o relatório de fiscalização do sistema eletrônico de votação elaborado pelas Forças Armadas – que não apontou fraude, mas também não excluiu essa possibilidade – para embasar uma contestação do resultado das eleições. Por ora, a cúpula do partido e Bolsonaro ainda avaliam o diagnóstico apresentado pelo Ministério da Defesa, mas há conversas nos bastidores com militares, o “núcleo duro” do governo e aliados do Congresso para decidir os próximos passos.

Nesta quinta-feira (10), Bolsonaro teria se reunido com os comandantes das Forças Armadas, generais do Alto Comando e o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, de forma presencial e remota, para discutir o relatório e os protestos populares em frente aos quartéis. A informação foi divulgada pelo site O Antagonista.

Segundo afirmam interlocutores do núcleo duro de Bolsonaro à Gazeta do Povo, uma nota conjunta das Forças Armadas será divulgada nesta sexta-feira (11). Ela será assinada pelos comandantes do Exército, general Freire Gomes, da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior.

O teor da nota ainda é desconhecido, mas militares e aliados do governo presumem que as Forças Armadas devem reforçar a defesa do relatório produzido a fim de rechaçar o discurso de críticos, que acusam os militares de terem sofrido influência política de Bolsonaro. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, disse nesta quinta que o chefe do Executivo tem que pedir “desculpas” por ter “usado” os militares para fiscalizar as urnas eletrônicas sem necessidade. A prova disso é que o relatório não apontou fraude nas eleições deste ano.

“Um presidente da República, que é o chefe supremo das Forças Armadas, não tinha o direito de envolver as Forças Armadas a fazer uma comissão para investigar urnas eletrônicas, coisa que é da sociedade civil, dos partidos políticos e do Congresso Nacional”, disse Lula. “O resultado foi humilhante. Eu não sei se o presidente está doente, mas ele tem a obrigação de vir à televisão e pedir desculpas para a sociedade brasileira e pedir desculpas às Forças Armadas, por ter usado as Forças Armadas”, complementou.

O colegiado a qual Lula se refere é a Comissão de Transparência das Eleições (CTE), que foi constituída pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ampliar a fiscalização e transparência do processo eleitoral. Ocorre, porém, que, diferentemente do que o presidente eleito sugere, não houve imposição de Bolsonaro para que as Forças Armadas fossem inseridas no comitê. Elas foram convidadas pelo então presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso.

O convite de Barroso às Forças Armadas foi interpretado pela caserna como uma intenção de ratificação da segurança das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral. À época, o general Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, foi convidado a assumir a direção-geral do TSE, mas desistiu após a contrariedade dos militares às suspeitas das intenções do magistrado. Aliados do presidente não descartam que a nota prevista para sexta enfatize isso.

Que brecha o relatório dos militares deixa para contestações às eleições
A despeito da avaliação de Bolsonaro e do PL sobre contestar ou não o resultado, a base governista no Congresso está convencida que o relatório das Forças Armadas e o ofício assinado pelo ministro da Defesa dão brecha para questionamentos. Um dos pontos diz respeito à possibilidade de “relevante risco à segurança do processo” eleitoral após a “compilação do código-fonte e consequente geração dos programas”.

Os militares sustentam que, dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, não é possível afirmar que “o sistema eletrônico de votação está isento de influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”. Em função disso, as Forças Armadas sugeriram “realizar uma investigação técnica para melhor conhecimento do ocorrido na compilação do código-fonte e de seus possíveis efeitos”.

Os militares também recomendam “promover a análise minuciosa dos códigos binários que efetivamente foram executados nas urnas eletrônicas”. A fim de atender a esses questionamentos, os militares sugeriram ao TSE a criação de uma “comissão específica” composta por “técnicos renomados da sociedade” e por “técnicos representantes das entidades fiscalizadoras”.


Os apontamentos e recomendações foram suficientes para a base aliada de Bolsonaro no Senado acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR). Capitaneados pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), 14 senadores pediram investigação baseado no relatório dos militares. “Diante de um processo eleitoral tão conturbado, dirimir possíveis dúvidas é um dever do Estado”, diz.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) foi outro a se manifestar. Ele critica a nota do TSE que fala em analisar “oportunamente” as sugestões encaminhadas para o aperfeiçoamento do sistema e cobra celeridade. “Em razão das dificuldades que [as Forças Armadas] tiveram para fazer essa investigação para afastar de vez qualquer dúvida em relação ao processo, são sugestões importantes e que não são para serem analisadas oportunamente, é preciso encarar com a urgência que o caso requer”, disse à TV Jovem Pan.

O deputado federal Filipe Barros (PL-PR) fez discurso na tribuna do plenário da Câmara para citar trechos técnicos do relatório que apontam não haver garantias de que o código-fonte examinado pelas entidades fiscalizadoras — inclusive as próprias Forças Armadas, técnicos de partidos e outros especialistas — é o mesmo instalado nas urnas na forma de programas executáveis. “O que vimos no relatório é uma completa falta de sensibilidade e seriedade do TSE”, critica.

O deputado federal General Girão (PL-RN) foi outro a criticar o TSE na tribuna da Câmara. “Quando você vê o relatório pela primeira vez você tem aquele impacto de decepção. Quando lê pela segunda ou terceira vez você vê que, ali, tem duas mensagens fortes. A primeira é que os nossos técnicos não tiveram a autorização do Tribunal Superior Eleitoral de fazerem a conferência do código-fonte das urnas. E a segunda é dizer que, deste jeito, como foi feito, sim, cabem invasões no código-fonte”, diz.

Em coletiva de imprensa na terça-feira (8), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, disse que aguardaria o relatório das Forças Armadas para definir se o partido contestaria ou não o resultado. “Eu acho que, dependendo do que eles apresentarem, nós vamos brigar para o TSE responder para a gente esses questionamentos que possam trazer. Nós fizemos alguns, eu faço alguns diariamente até para alguns amigos do TSE”, declarou.

O que diz o TSE sobre o relatório das Forças Armadas
Em nota publicada pelo TSE na quarta-feira (9), após o recebimento e a divulgação do documento, o ministro Alexandre de Moraes, presidente da Corte Eleitoral, afirmou que o tribunal recebeu o documento “com satisfação”. “Assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, [o Ministério da Defesa] não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”, diz a nota.

O tribunal informou ainda que as “as sugestões encaminhadas para aperfeiçoamento do sistema serão oportunamente analisadas” e finalizou afirmando que “as urnas eletrônicas são motivo de orgulho nacional, e que as Eleições de 2022 comprovam a eficácia, a lisura e a total transparência da apuração e da totalização dos votos”.

A reportagem entrou em contato com o TSE novamente nesta quinta-feira (10) e a assessoria reforçou que o posicionamento é o mesmo que já foi divulgado na quarta. A Corte Eleitoral reforçou que as sugestões “serão oportunamente analisadas”.

O relatório de fiscalização era aguardado com ansiedade, seja por ministros do Supremo Tribunal Federal e do TSE apreensivos com a possibilidade de que fosse usado por Bolsonaro para contestar a eleição de Lula, seja por apoiadores do atual mandatário que têm se reunido em frente aos quartéis, em capitais e várias cidades do país, para pedir uma intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do petista, o que contraria a Constituição Federal, com base em uma suspeita infundada de fraude.

O envio do documento ao tribunal foi antecipado – inicialmente, o plano da Defesa era encaminhar o relatório 30 dias após a análise de toda a fiscalização realizada.

Também nesta quinta, o TSE publicou no site oficial a informação de que organismos internacionais e nacionais atestaram a confiabilidade das eleições brasileiras. “Missões de Observação Eleitoral (MOEs) que acompanharam as Eleições Gerais de 2022 atestaram: o processo eleitoral brasileiro é seguro, confiável, transparente e eficaz, e as urnas eletrônicas são uma fortaleza da democracia”, informa.

Segundo a Corte, mais de 120 observadores internacionais acompanharam a votação e a totalização dos resultados durante os primeiro e segundo turnos após analisar “por meses” a urna eletrônica. “Além dos observadores estrangeiros, oito instituições nacionais presenciaram os trabalhos do processo eleitoral deste ano”, diz o TSE.


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ESTRADAS MAL CONSERVADAS IMPEDEM O ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Caminhoneiro sofre com os gastos de manutenção e gasolina. A PR-280 está com muitos buracos e lombadas. Na imagem, o caminhoneiro Godfrid Carlos Pachtmann, 60 anos. Expedição Paraná 2014.


Rodovias mal conservadas são um dos fatores que ajudam a minar a produtividade nacional.| Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo

Entre as áreas nas quais o governo de Jair Bolsonaro mais se destacou nesses quatro anos está a da infraestrutura. Tarcísio de Freitas pode ser tranquilamente listado como um dos ministros mais bem-sucedidos da equipe de Bolsonaro, e agora terá pela frente o governo do estado de São Paulo, para o qual foi eleito em 30 de outubro. O Ministério da Infraestrutura comandou um programa de concessões e privatizações que só não foi mais amplo devido à desorganização econômica causada pela pandemia de Covid-19; se o petismo não se empenhar em desfazer esse trabalho, teremos boas novidades, especialmente em modais ainda subaproveitados no país, como as ferrovias e a navegação de cabotagem.

No entanto, ainda há muitas razões para preocupação em relação ao principal modal de transporte do país. A nova edição do relatório anual da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) aponta para uma deterioração da malha rodoviária brasileira, inclusive nos trechos já concedidos à iniciativa privada – que, apesar disso, continuam muito superiores em qualidade às rodovias administradas diretamente pelos governos federal ou estaduais. Enquanto 69% da malha concedida é considerada “ótima” ou “boa”, esse porcentual cai para 24,7% no caso das rodovias sob gestão pública; na outra ponta, enquanto apenas 5,2% da extensão concedida é considerada “ruim” ou “péssima”, 30,5% das rodovias administradas pelo governo foram assim classificadas. A avaliação inclui pavimento (desgaste, trincas e buracos na pista, por exemplo), sinalização (como placas e pintura de faixas) e geometria (canteiros centrais ou proteções, faixas adicionais em subidas, acostamento etc.).

Pisar no freio do programa de concessões rodoviárias, agora, é condenar os brasileiros e o setor produtivo a conviver com autênticas “rotas do queijo suíço”

Apenas o mau estado de boa parte das rodovias já seria razão suficiente para alerta: as rodovias classificadas como “ruins” e “péssimas” correspondem a 27,8 mil quilômetros, dos 110,3 mil km avaliados pela CNT. O quadro fica ainda pior quando se percebe que a qualidade das estradas vem caindo. O “ótimo/bom” das rodovias com gestão pública era de 32,5% em 2019; caiu para 28,2% em 2021 (não houve pesquisa em 2020 devido à pandemia) e agora está em 24,7%. No caso das rodovias concedidas, o “ótimo/bom” caiu de 74,2% no ano passado para os atuais 69%. De acordo com a CNT, o país precisaria de R$ 72 bilhões apenas para reconstruir e recuperar estradas com pavimento danificado ou destruído, e mais R$ 22,7 bilhões para manutenção de rodovias desgastadas, para impedir que se deteriorem ainda mais. A título de comparação, todo o orçamento do Ministério da Infraestrutura previsto para 2023 no Projeto de Lei Orçamentária Anual é de R$ 17 bilhões – e apenas uma parte disso vai para as rodovias.

O prejuízo causado por estradas ruins é enorme e amplamente conhecido: o principal está nas vidas perdidas em acidentes causados pela má condição das pistas, aliada ao mau comportamento dos motoristas. Mas também existe impacto econômico e ambiental: segundo a CNT, o custo com acidentes supera há muitos anos o investimento feito nas estradas – em 2022, até agosto, os gastos estimados com acidentes são de R$ 8,3 bilhões, contra R$ 3,9 bilhões investidos nas rodovias. Estradas ruins elevam o consumo de combustível e encarecem o frete, e a CNT estima que 1 bilhão de litros de diesel poderiam ter sido economizados se ônibus e caminhões trafegassem em rodovias boas ou ótimas, em vez de enfrentar pavimentos aos pedaços; os R$ 4,9 bilhões gastos com esse combustível extra teriam servido para a compra de 6 mil caminhões mais novos e menos poluentes, ou para reflorestar 103 mil hectares, pouco menos que toda a área do município de Belém (PA).


O setor de infraestrutura brasileiro se beneficiou, nos últimos quatro anos, de um governo que tinha a convicção sobre o necessário protagonismo da iniciativa privada. O próximo governo, sabe-se, não compartilha dessa crença. As concessões das eras Lula e Dilma Rousseff foram quase que uma imposição da realidade, diante da aproximação de megaeventos e da evidente disparidade entre o investimento necessário e os recursos estatais disponíveis. Mesmo assim, elas ainda traziam o ranço estatista em modelagens ruins, como a dos leilões de aeroportos, felizmente abandonada no governo Michel Temer.

Pisar no freio do programa de concessões rodoviárias, agora, é condenar os brasileiros e o setor produtivo a conviver com autênticas “rotas do queijo suíço”. Os desafios são muitos: a economia mundial segue fragilizada e os trechos ainda por conceder já não são os mais atrativos. Mas o Brasil acumula décadas de experiência em concessões rodoviárias, e tem especialistas capazes de distinguir o que funciona do que não deu certo. Reduzir a dependência brasileira das estradas por meio do incentivo aos outros modais não significa descuidar da malha rodoviária nacional. Mas será preciso abandonar os preconceitos estatistas e usar toda a inteligência necessária para atrair os investidores.

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