Manifestação no bairro do Ibirapuera, em São Paulo, nesta quarta (2)| Foto: Polícia Militar de São Paulo
O artigo 5º da Constituição é o que estabelece os direitos e
garantias individuais. E lá, no inciso IV, diz que é livre a expressão
do pensamento. Ou seja, você pode dizer o que quiser desde que você se
revele, vedado o anonimato. É livre você expressar o que pensa.
Estou dizendo isso porque estão chamando de baderneiros e arruaceiros
os manifestantes que têm ido para frente dos quartéis. Estão
incomodados, como diz o The New York Times, com o modo como a Justiça
Eleitoral tratou a campanha, censurando um lado mais e o outro menos.
Desequilibrando a balança, quando a lei eleitoral é feita para dar
igualdade de oportunidade para os dois lados. E mais a politização, o
ativismo, que todo mundo viu.
É livre a pessoa dizer o que quer. Uma coisa é o dizer – e isso está
sendo muito censurado –, o fazer é diferente. É o caso de um advogado
que trate de uma acusação de ameaça, por exemplo. Ameaça de boca, sem
que se demonstre que há um potencial de realizar a ameaça, não é
considerada na Justiça. Isso não é ameaça, faz parte de um bate-boca.
A pessoa pode pedir seja lá o que for. Agora, se esta pessoa estiver
perturbando a ordem, alterando a normalidade democrática… Mas, pelo que a
gente está vendo até agora, pedem uma coisa e os quarteis estão lá
fechados e mudos. Tudo bem, quer se manifestar, pode, mas as coisas
serão feitas em obediência à Constituição. O problema é que um lado
obedece a Constituição e o outro não. Mas o que é preciso fazer é não
desobedecer a Constituição o lado que vinha obedecendo.
Se manter com a Constituição é se manter com a razão, essa é a
verdade. Por exemplo: bloqueio de estrada, está infringindo o direito de
ir e vir, do inciso XV do Artigo 5.º. Violaram esse artigo na pandemia –
o Supremo deixou os prefeitos e governadores bloquear, se achassem que
deveriam. Mas a Constituição diz que só pode alterar esse direito em
tempo de guerra. Em tempo de paz, não.
O ministro da Justiça já fez um apelo. O primeiro veio do presidente
da República para desbloquear a estrada, de não alterar o direito de ir e
vir. Agora, o direito de manifestação é óbvio. O interessante é quando o
MST bloqueia estrada, daí dizem que é movimento social.
São coisas que a gente está considerando num dia como hoje, em que a
gente tem bloqueios em 16 estados e tem manifestações diante de
quartéis. Um dia depois que o Supremo confirmou uma decisão do ministro
Barroso de rever decisões judiciais de quando a propriedade é invadida. O
ministro sugere, e o Supremo já aprovou isso, que se revise a
reintegração de posse – que é quando vem um oficial de justiça e manda
os invasores saírem da propriedade. Mas o mesmo artigo 5.º da
Constituição põe em sua cabeça, na mesma linha, o direito de
propriedade, direto à vida, direito de liberdade. Tudo na mesma linha.
É importante que a gente lembre disto: a Constituição é maior que as
pessoas. A Constituição está acima das pessoas. Vamos respeitar a
Constituição.
Por dentro do submarino russo K-329, que carrega a “Arma do Apocalipse”
Por Mariana Braga – Gazeta do Povo
O submarino K-329 Belgorod.| Foto: Marinha Russa
O radar
da OTAN está atento às possíveis movimentações do submarino nuclear
russo K-329 Belgorod, portador do super torpedo conhecido como a “Arma
do Apocalipse”. A imensa estrutura carrega o Poseidon, um projétil capaz
de viajar até 10 mil km debaixo d’água e depois explodir perto da costa
para causar um tsunami radioativo, com ondas de cerca de 80 metros de
altura.
A aliança militar emitiu um comunicado aos países membros no começo
do mês passado, tratando sobre os riscos do uso dessa estratégia por
parte dos russos, diante da escalada da guerra na Ucrânia e as ameaças
ao Ocidente. De acordo com o jornal italiano La Reppubblica, fontes
extraoficiais denunciam que o submarino foi lançado em julho e estaria
submerso nas águas do Ártico após seu possível envolvimento na sabotagem
dos gasodutos Nord Stream.
A tecnologia é uma das prioridades do programa de desenvolvimento de
armas de nova geração aprovado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e
que foi apresentado com grande alarde em 2018. O mandatário garantiu,
repetidas vezes, que esse armamento é “incomparável”.
Por dentro da “arma do apocalipse”
Fonte: Naval News Mais infográficos
O Belgorod tem 184 metros de comprimento e 15 metros de largura e
pode viajar a cerca de 60 km por hora debaixo d’água. Estima-se que ele
pode seguir até quatro meses sem ter que voltar à superfície. Já o
projétil Poseidon tem 24 metros e capacidade para transportar uma ogiva
nuclear de cerca de dois megatons.
“É como se fosse um drone subaquático, porque você pode guiá-lo
remotamente”, explicou Nelson Ricardo Fernandes da Silva, analista de
riscos da ARP Consulting. “Ele tem o dobro da velocidade de um submarino
normal, por isso é difícil de ser detectado. O que ele carrega de ogiva
é mais de cem vezes a bomba de Hiroshima”, descreveu.
Fernandes ainda relatou que o armamento possui em sua fórmula o
cobalto, que aumenta a contaminação nuclear. “Então não haveria apenas
um problema de destruição física [se utilizado], haveria um problema de
contaminação durante anos, inviabilizando a pesca e a vida das pessoas”,
alertou.
O desenvolvimento dessa poderosa estrutura fez parte dos projetos
militares russos desde que os Estados Unidos abandonaram o tratado de
desarmamento nuclear com o país. Desde então, os russos focam na criação
de mísseis hipersônicos, para furar as defesas americanas, e na
produção desses torpedos.
A Rússia tem uma das maiores frotas submarinas do mundo. O analista
detalhou que, com submarinos, ela consegue levar o armamento nuclear
para próximo de onde quer atacar com mais facilidade. “Esse torpedo foi
criado porque a Rússia não acreditava que conseguiria ser muito efetiva
de outra forma no ataque nuclear”, apontou.
Há anos, o especialista em armamentos H.I. Sutton também estuda o
Poseidon e o compara com outros tipo de armamento, além de apontar para
formas de se defender desse tipo de ameaça. “É um tipo de arma
completamente nova que forçará as marinhas ocidentais a mudarem seu
planejamento e desenvolverem novas contramedidas”, destacou Sutton ao La
Reppubblica.
Apesar dos alertas da OTAN, o especialista descreveu, no ano passado,
na Naval News, que a ameaça da “Arma do Apocalipse” não deve ser
imediata, porque “levará alguns anos para ser implantada”. “Pode levar
vários anos até que ela esteja realmente operacional”, avaliou.
Morte de cientistas que entendem sobre o Poseidon
A “Arma do Apocalipse” é tão importante para a Rússia que alguns
cientistas que falaram sobre ela foram presos e, possivelmente, até
mortos por isso. No começo do mês passado, mais um cientista russo
acusado de traição morreu, aumentando as suspeitas em relação ao governo
de Vladimir Putin e à repressão russa. Valery Mitko era especialista em
hidroacústica e foi denunciado pelo Kremlin por supostamente revelar
segredos de Estado à China, que podem tratar do submarino nuclear.
Mitko morreu aos 81 anos em São Petersburgo enquanto cumpria prisão
domiciliar. Ele é o terceiro especialista russo a morrer nos últimos
dois anos após ser acusado ou condenado por alta traição em conexão com a
tecnologia de armas hipersônicas, conforme publicou no Twitter o
advogado do cientista, Pervyi Otdel.
Valery Mitko é o terceiro especialista russo a morrer nos últimos
dois anos após ser acusado ou condenado por alta traição em conexão com a
tecnologia de armas hipersônicas. Foto: Divulgação/Academia de Ciências
do Ártico| Divulgação/ Academia de Ciências do Ártico
Mitko foi acusado em 2020 de “entregar materiais, que
supostamente continham informações classificadas como ultrassecretas,
aos serviços especiais da China durante uma visita àquele país”,
conforme destacou na época o Kremlin. A traição ao Estado é punida, na
Rússia, com até 20 anos de prisão. Mitko estava em prisão domiciliar
havia mais de dois anos e compareceria ao tribunal ainda neste ano.
O cientista estava entre vários acadêmicos russos idosos que foram
presos por supostamente cooperar com estados estrangeiros nos últimos
anos. Críticos do Kremlin chamam essa onda de repressão de
uma “manifestação da crescente paranoia do Estado”.
A rede de advogados e ativistas que o defendiam destacou que o
cientista havia sido hospitalizado com frequência nos dois anos e meio
que passou em prisão domiciliar. “Ele foi trazido de volta em uma maca
apenas alguns dias antes [de morrer], sem condições de andar ou sentar,
muito menos cuidar de sua esposa acamada”, publicou o advogado Pervyi
Otdel.
“O professor Valery Mitko se tornou mais um cientista torturado pelo sistema repressivo da Rússia”, concluiu o advogado.
Domínio no Congresso é só a ponta do crescente iceberg da direita no Brasil Por Leonardo Desideri – Gazeta do Povo Brasília
Dezenas de milhões de brasileiros deixaram de lado o receio de
manifestar visões políticas de direita.| Foto: Peter de Vink/Pexels.com
Até
pouco tempo atrás no Brasil, intelectuais que defendiam publicamente
valores conservadores tendiam a ser condenados ao ostracismo; discursos
pró-vida e pró-família eram raros no Congresso; sociais-democratas eram
chamados de “neoliberais”; defensores de um liberalismo autêntico não
tinham voz em decisões sobre a economia do país; e os cidadãos de
direita, receosos de manifestar sua opinião, eram sub-representados nas
casas legislativas. Este período da história política nacional acabou.
O aumento expressivo no número de parlamentares direitistas eleitos
em 2022 – quatro anos depois do pleito de 2018, que já tinha mudado a
cara da Câmara e do Senado – mostra que o crescimento da direita no
Brasil não é uma onda passageira, mas um fenômeno sólido. O
conservadorismo se tornou uma alternativa política real. É possível que
muitos dos congressistas eleitos na carona da nova direita abandonem o
barco nos próximos anos – como já ocorreu na legislatura atual –, mas é
inegável que visões de mundo silenciadas na opinião pública e na
política por algumas décadas estão ganhando rapidamente espaço e
representatividade.
E a nova composição do Congresso é somente a ponta do iceberg daquilo
que ocorre na sociedade brasileira. O engajamento de grande parte da
população em torno de um conjunto de valores de direita tem ficado
evidente, por exemplo, em megamanifestações que levam milhões às ruas do
Brasil, como a ocorrida no último dia 7 de setembro. Nas redes sociais e
em alguns meios de comunicação, nunca houve defesa tão explícita e
frequente de visões conservadoras.
Os canais de direita têm sucesso estrondoso no YouTube, a ponto de o
sistema de recomendações da plataforma ter despertado preocupação na
cúpula do Judiciário e em veículos de comunicação de esquerda. E são
cada vez mais comuns as iniciativas de empresas de mídia, associações e
ONGs com valores abertamente direitistas.
Nas igrejas cristãs, um movimento pela defesa de costumes e valores
tradicionais ganha força. Pastores evangélicos, sacerdotes católicos e
leigos com influência no mundo digital tornam acessíveis algumas ideias
basilares da civilização ocidental que tendiam a ser sufocadas no
ecossistema de comunicação anterior às redes sociais. O efeito no
cenário político é evidente: os fiéis procuram candidatos que respaldem
bandeiras condizentes com aspectos de sua fé.
Nos próximos dias, a Gazeta do Povo publica uma série de reportagens
sobre o despertar da direita no Brasil. Neste primeiro artigo,
explicamos como o fenômeno está sendo gestado há praticamente duas
décadas e por que ele é mais do que uma onda momentânea.
Como a nova direita rompeu a espiral do silêncio no Brasil Uma
conjunção de fatores fez a nova direita brotar no Brasil, e há
diferentes visões sobre que personagens e acontecimentos teriam sido
mais importantes para isso; mas, qualquer que seja a opinião sobre a
relevância de cada elemento na gestação do fenômeno, há dois fatores que
não podem faltar na equação: as redes sociais e Olavo de Carvalho
(1947-2022).
É responsabilidade de Olavo a introdução a intelectuais brasileiros
de diversos autores consagrados do conservadorismo e de uma nova visão
do próprio marxismo. O filósofo também foi eficaz em incentivar seus
seguidores a romper a “espiral do silêncio”, isto é, a tendência das
pessoas a não manifestarem sua opinião quando arriscam entrar em
conflito com o pensamento aparentemente dominante. (O próprio conceito
de espiral do silêncio, formulado pela cientista política alemã
Elisabeth Noelle-Neumann (1916-2010), foi popularizado no Brasil por
Olavo de Carvalho.)
No começo dos anos 2000, com os meios tradicionais de comunicação de
massa dominados pelo esquerdismo, a internet foi o caminho para romper a
espiral do silêncio no Brasil. Uma pequena contracultura de direita
surgiu nos porões da internet, seja em textos publicados na própria
página oficial de Olavo de Carvalho, seja em revistas digitais e
agregadores de blogs daquela época, como Wunderblogs, O Indivíduo e
Digestivo Cultural, que reuniam um grupo de escritores talentosos com
viés “conservador nos costumes e liberal na economia”. O politicamente
incorreto era uma marca estilística de grande parte desses blogueiros.
O advento das redes sociais ajudou a disseminar ramos dessa pequena
contracultura na sociedade. Para Eduardo Matos de Alencar, doutor em
Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a internet
permitiu a criação de uma “esfera pública alternativa”, expandindo, no
Brasil, a “Janela de Overton” – isto é, a gama de posições políticas
toleradas dentro da opinião pública.
“Durante algumas décadas, no Brasil, o debate público foi
monopolizado pela esquerda. Em certo sentido, era direita aquilo que a
esquerda classificava como tal, ou aquela posição que estava menos à
esquerda do que aquilo que as personalidades mais importantes colocavam
como centro da agenda esquerdista. Na janela da opinião pública que vai
do totalmente aceitável, passando pelo inaceitável com reservas, até o
totalmente inaceitável, a esquerda tinha monopólio e colocava o
parâmetro do que seria uma direita permitida ou não. Quem não tinha
determinada posição, quem saía do espectro do aceitável, era tachado
como fascista, defensor de ditadura etc., o que gerava certo clima de
medo e apreensão de cair nesse tipo de rótulo. Eram rótulos confirmados
pelos ambientes intelectuais, reforçados pela mídia e intensificados
pelas redes de opinião dominantes. Com as redes sociais, você criou a
possibilidade de instituir uma nova esfera pública. O que você teve, no
Brasil, foi o nascimento de uma esfera pública alternativa”, explica.
Como a esfera pública alternativa se massificou e consolidou a nova direita As
manifestações de junho de 2013 e, um pouco mais tarde, o apoio à
Operação Lava Jato ajudaram a massificar essa esfera pública paralela. A
aversão ao petismo foi se consolidando em grande parte da população,
mas nenhuma das alternativas ao PT convencia como oposição.
“Aquilo que antes se chamava de direita não tinha grandes diferenças
em relação ao petismo, principalmente na pauta de princípios ligados a
questões sociais, e também ao papel do Estado na economia. Esse fato foi
reconhecido pelo próprio Fernando Henrique Cardoso quando o Bolsonaro
assumiu. Ele declarou que o PSDB não tinha grandes diferenças
ideológicas com relação ao PT. E a gente vê agora um tucano tradicional,
o Alckmin, migrando para o PSB e se tornando o vice do Lula”, comenta o
sociólogo Lucas Azambuja, professor do Ibmec-BH.
O fenômeno Jair Bolsonaro surge justamente diante dessa lacuna. Em
2014, ao ser reeleito deputado federal, ele triplicou sua votação em
relação às eleições de 2010, recebendo mais de 460 mil votos. Seu estilo
politicamente incorreto e sua ênfase nas pautas de costumes divergia do
caráter insípido dos políticos que se ofereciam como oposição ao
petismo até então. Durante a legislatura 2015-2018, Bolsonaro colecionou
polêmicas e aparições na TV.
“A partir de todas as mobilizações que culminaram no impeachment da
Dilma, formou-se um eleitorado não identificado com a esquerda ou com
aquele espectro de centro-esquerda formado principalmente pelo PSDB.
Começou a haver uma autoidentificação de direita na população, e o
Bolsonaro soube captar a preferência do eleitorado, que se identificou
com a postura e o discurso dele”, diz Azambuja.
A nova direita não é, no entanto, uma mera onda política liderada por
Bolsonaro e pelos novos congressistas eleitos. O fenômeno político é
relevante, mas é somente a manifestação mais superficial de uma mudança
cultural em curso.
As redes sociais ajudaram milhões de pessoas a saltar a barreira do
esquerdismo dominante nos meios de comunicação e ter acesso a ideias
conservadoras nos perfis de fenômenos como Ítalo Marsili, Ícaro de
Carvalho, padre Paulo Ricardo, André Valadão, Bárbara Destefani (do
canal Te Atualizei) e Bernardo Küster. O que antes eram ideias restritas
a blogs de nicho voltados a intelectuais direitistas se disseminou a
milhões de brasileiros em um estilo mais popular.
Também são cada vez mais comuns e bem-sucedidas as empresas de mídia
que sustentam convicções como a defesa da vida, o valor da família e a
liberdade econômica – caso de meios jornalísticos como a própria Gazeta
do Povo, a Jovem Pan e a Revista Oeste, ou de plataformas como a Brasil
Paralelo. Há cerca de dez anos, opiniões de direita minguavam nos
grandes meios de comunicação, e o fenômeno dos influenciadores de
direita com milhões de seguidores era impensável.
A nova direita ainda depara, no entanto, com algumas barreiras
importantes, que dificultam colocá-la em pé de igualdade com a esquerda
no campo da opinião pública. Uma delas é a falta de um partido
autenticamente direitista, baseado em convicções, e não na conveniência
política do apoio ao presidente Jair Bolsonaro, como foi o caso do PSL e
é, hoje, o do PL.
Outra barreira – a mais importante e resistente delas, aliás – é a
hegemonia esquerdista dentro das universidades, especialmente no que se
refere ao campo das humanidades. “É um ambiente muito fechado em si
mesmo. É muito difícil, hoje, ainda mais depois do governo Bolsonaro,
algum doutor declaradamente de direita passar em um concurso para
lecionar em uma universidade pública, por exemplo”, diz Alencar. “A
direita precisa criar espaços, criar instituições. Talvez uma das formas
para facilitar isso, do ponto de vista institucional, seja o governo
ser mais liberal em relação à possibilidade de criar cursos”,
complementa.
Mara Lemes Martins – BNI Brasil – Business Network International
Empresas precisam ser geridas por um profissional capacitado para
enfrentar todos os desafios do mundo do empreendedorismo; especialista
explica
Com a chegada do mundo digital e um mundo pós pandemia, empreender
tem sido uma grande opção para as pessoas. Porém, manter um negócio em
pé, requer muitos desafios no dia a dia e nem sempre é tão fácil como
parece – mesmo com as oportunidades das redes sociais e da internet em
geral. Para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento realizado
pelo Serviço Brasileiro de Apoio a estes negócios (Sebrae), cerca de 23%
das micro e pequenas empresas fecham as portas antes de completar cinco
anos de atividade no Brasil.
Mas quais características um empreendedor deve ter ou desenvolver
para manter o seu negócio em evidência por anos e anos? Abaixo, a
Vice-Presidente da BNI Brasil – Business Network International – a maior
e mais bem-sucedida organização de networking de negócios do mundo,
Mara Lemes Martins, lista 10 competências necessárias. Confira:
1- Liderança: essa é a característica principal de
um empreendedor, afinal, como abrir um negócio se você não tem espírito
de liderança? Essa característica é essencial, já que provavelmente você
terá uma equipe. “Saber gerenciar pessoas e negócios não é uma tarefa
fácil, e um empreendedor deve ter esse dom de natureza, ou então fazer
cursos para desenvolver essa característica. Um bom negócio sempre tem
uma boa liderança por trás”, explica a especialista.
2- Humanização: é necessário entender e compreender o
que o colaborador está passando na vida pessoal e profissional. Isso
porque, as duas precisam estar alinhadas com o mesmo propósito. Além
disso, ele precisa saber que está lidando com pessoas e não com objetos.
“Pessoas felizes produzem mais, de acordo com uma pesquisa realizada
pela Sodexo Benefícios e Incentivos, 53,8% dos brasileiros acreditam que
seu propósito de vida está conectado com seu trabalho atual. A
responsabilidade de um líder é engajar e engajar o seu colaborador a não
desmotivar”, explica Mara.
3- Espírito de equipe: de acordo com uma pesquisa
divulgada pela The Adler Group, cerca de 85% das oportunidades de
trabalho são preenchidas através de indicações vindas de contatos,
provando o valor de desenvolver um trabalho em equipe adequado.
Por isso, assim como saber liderar e ter ideais de humanização, um
gestor também deve ter espírito de equipe e saber delegar funções.
“Existem pessoas que sabem realizar todo o trabalho e preferem
concentrar tudo em suas mãos, porém é necessário investir em
colaboradores, com funções específicas, para que eles ajudem no
desenvolvimento de atividades e melhorem os resultados da empresa. Cada
um pode agregar de alguma forma para que a corporação cresça”, salienta.
4- Autogestão: essa soft skill não é apenas
importante para o empreendedor, mas também para o colaborador que queira
crescer dentro de uma empresa. “Saber controlar a sua própria gestão é
uma habilidade não técnica mega necessária nos dias atuais, ainda mais
pensando no mundo digital, onde cada vez mais as pessoas estão
trabalhando home office. Um empreendedor necessita ter essa
característica e ainda apostar em pessoas que também tenham – pensando
no bem-estar e desenvolvimento da corporação”, comenta Mara.
5- Resiliência: o que mais existe no mundo do
empreendedorismo são problemas, e eles aparecem em todo momento. “Por
isso, é preciso ter resiliência para poder tomar as decisões com calma,
sem impulsividade e não prejudicar a empresa. Saber agir sobre a pressão
de um problema é de extrema importância para o perfil empreendedor”,
diz Mara Leme.
6- Planejamento: saber incluir prazos e definir bem
as suas atividades, bem como as atividades da equipe, é uma
característica de extrema importância para aqueles que desejam abrir um
negócio. “Desenvolver as tarefas de forma objetiva faz com que se torne
possível gerar resultados mensuráveis, criando um controle maior sobre o
seu projeto”, diz Mara.
7- Sede de conhecimento: existe uma forte opinião
hoje em dia que não é mais necessário estudo para empreender. E com a
chegada da internet, ganhar dinheiro online realmente se tornou uma
opção para muitos jovens. Mas é preciso lembrar que as pessoas podem
tirar tudo de você, menos o conhecimento. “Por isso, ter vontade de
estudar, investir em cursos é sempre importante para seu crescimento e
também o da sua empresa. Aprender nunca é demais”, complementa Mara.
8- Inovação: além de pensar em cursos para melhorar o
autoconhecimento, o empreendedor também deve ter uma mente inovadora,
ou seja, estar sempre pensando em ideias e melhorias para a corporação.
“E isso vale também para ideias que melhorem a estrutura física da
empresa, ou até em medidas para beneficiar um colaborador”, salienta.
9- Autoconfiança: essa soft skill é necessária para o
empreendedor saber que é capaz de enfrentar qualquer dilema que vier em
sua jornada empreendedora. “Quanto mais confiante, se torna cada vez
mais possível racionalizar as tomadas de decisões. Se você é inseguro,
se afunda nos problemas e triplica os gargalos de uma corporação”,
explica Leme.
10- Comprometimento: o empreendedor precisa cumprir
com uma agenda de tarefas, ele, geralmente, tem muitas responsabilidades
em suas mãos, e tudo isso requer um comprometimento sério com todos os
afazeres. “Além disso, ele deve servir como um exemplo para quem
trabalha no local”, finaliza Mara.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar
ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o
consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita
que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu
consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a
oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de
divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma
Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa
livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua
empresa seja oficializada.
A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando
para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as
melhores marcas do varejo e um mix de opções.
O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o
cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de
compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.
Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que
pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa
plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é
muito abaixo do valor praticado pelo mercado.
Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:
Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional.
Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar.
Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.
Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?
Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
Depois da eleição A batalha que resta a aliados de Lula e Bolsonaro no Congresso Por Olavo Soares – Gazeta do Povo Brasília
AME5330.
SAO PAULO (BRASIL), 28/10/2022.- Fotografía de archivo fechada el 16 de
octubre de 2022, que muestra al ex mandatario progresista Luiz Inácio
Lula da Silva (i) y al ultra derechista Jair Bolsonaro (d) mientras
participan en el primer debate presidencial de cara a la segunda vuelta
de las elecciones presidenciales de Brasil, en la sede de televisión
Bandeirantes en São Paulo (Brasil). Muchos brasileños irán este domingo a
las urnas con desgana para escoger entre la “falta de escrúpulos” del
presidente Jair Bolsonaro y la sombra de “corrupción” que arropa al
exmandatario Luiz Inácio Lula da Silva, favorito en las encuestas. EFE/
Sebastião Moreira ARCHIVO
Lula quer mudar proposta de Orçamento para 2023 enviada pelo
governo Bolsonaro para acelerar implantação de promessas de campanha.|
Foto: Sebastião Moreira /EFE
Acabada a eleição, o novo motivo de
conflito entre apoiadores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) e do governo Jair Bolsonaro (PL) deve ser a aprovação do Orçamento
federal para 2023 no Congresso Nacional. A discussão em torno do
projeto é vista como essencial por ser o ponto de partida para
implantação de ações que Lula prometeu ao longo da campanha eleitoral e
que estão em seu plano de governo. Além disso, pode abrir caminho para
que o Congresso reveja as emendas de relator, o chamado “orçamento
secreto”, cuja extinção foi também prometida por Lula.
Entre apoiadores e adversários do presidente eleito, o entendimento é
o de que o Congresso não deverá acelerar a análise de outros projetos
até o fim do ano – especialmente em relação a pautas mais controversas.
O término do ano representa não apenas a virada no calendário, mas a
proximidade do fim dos mandatos atuais dos deputados federais e de um
terço dos senadores. Grande parte dos futuros congressistas tem mais
proximidade ideológica com Bolsonaro, o que pode representar
dificuldades para Lula.
“Nós temos que ajustar o orçamento para as demandas que foram
apresentadas na campanha eleitoral, como o Auxílio Brasil e o reajuste
do salário mínimo”, disse o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP).
“Neste ano teremos só o Orçamento e mais nada. Não há como discutirmos
outras coisas”, declarou o também deputado federal Coronel Tadeu
(PL-SP).
O Auxílio Brasil foi criado pelo governo Bolsonaro em substituição ao
Bolsa Família, principal marca social das gestões petistas. Lula
planeja reativar o Bolsa Família, aos moldes do que era executado em seu
governo. O valor mensal do benefício está em R$ 600. O projeto de
orçamento enviado pelo governo ao Congresso para o próximo ano, porém,
prevê somente R$ 405 para o auxílio.
Já o reajuste do salário mínimo é outro ponto tratado como prioridade
por Lula. Ao longo da campanha, o petista prometeu que ampliaria o
valor nominal do salário mínimo em patamares superiores ao do reajuste
pela inflação.
Lula planeja, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, escalar o
ex-governador e senador eleito Wellington Dias (PT-PI) para negociar com
o Congresso termos da montagem do Orçamento de 2023. Ele tem uma
reunião agendada para quinta-feira (3) com o relator do Orçamento,
senador Marcelo Castro (MDB-PI).
O emedebista foi o presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e é
visto como um parlamentar que detém sintonia com as propostas do PT.
“Ele é alinhado com o Lula, pode fazer um relatório que tenha sintonia
com as prioridades do futuro governo”, acrescentou Zarattini.
Na volta ao Planalto, Lula enfrentará Congresso hostil, mas apto a negociações Como fica o “orçamento secreto” A
hipótese que a peça orçamentária de 2023 traga o fim do “orçamento
secreto” foi levantada pelo deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA). “Existe um
debate para se acabar com a emenda de relator. Como isso alcançou
grandes proporções, pode ser um tema que envolva uma discussão mais
acesa dentro do Congresso”, disse.
As emendas de relator são um mecanismo criado pelo Congresso em 2019,
com início de validade em 2020. O sistema permite que o relator do
Orçamento envie recursos relativos a emendas de parlamentares de modo
pouco transparente – não há critérios formais sobre quais emendas serão
atendidas e nem sobre qual valor deve ser destinado.
O assunto foi um dos mais debatidos durante a campanha eleitoral, com
adversários do presidente Bolsonaro o responsabilizando pelo sistema. O
chefe do Executivo, porém, alega que a criação do mecanismo é de
autoria unilateral do Congresso.
Congresso tende a deixar temas controversos para depois A
somatória de fatores como a necessidade de definir o Orçamento de 2023 e
o encerramento da legislatura torna pouco provável que o Congresso
discuta, ainda no ano atual, temas que o governo Bolsonaro definiu em
fevereiro como prioritários.
A relação engloba pautas controversas como a liberação da mineração
em terras indígenas e o marco temporal, também referente aos territórios
dos indígenas. Os dois tópicos são caros ao governo Bolsonaro e à
bancada de direita, e são rejeitados pela atual oposição.
Zarattini avalia que o governo pode arriscar a pauta de propostas que
tendem a ter vida muito mais difícil após a posse de Lula no Palácio do
Planalto. Ainda assim, ele não vê possibilidade de aprovação deste tipo
de iniciativa.
Jerry lembra que discussões mais recentes encampadas pelos atuais
governistas começam a se enfraquecer no Congresso. Ele cita como exemplo
os projetos de lei que criminalizam os responsáveis por pesquisas
eleitorais e a tentativa de se criar uma CPI para investigar os
institutos que produzem os levantamentos. A discussão sobre o tema
esteve mais acirrada após a conclusão do primeiro turno, quando grande
parte dos levantamentos apontou uma margem pró-Lula superior à que foi
realmente identificada.
Caminhoneiros bloqueiam a rodovia BR-158, em Santana do Livramento (RS).| Foto: Marcelo Pinto/A Platéia/Fotos Públicas
Quando grupos pouco afeitos ao respeito às liberdades, à lei e à
ordem se acham no direito de fazer o que bem entenderem, o resultado é a
escalada das tensões e a potencial convulsão social em um país que
precisa desesperadamente de pacificação após um período eleitoral
conturbado. É o caso dos bloqueios realizados por caminhoneiros
apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que continuam ocorrendo em 20
estados e no Distrito Federal, interrompendo o trânsito em rodovias e em
acessos a aeroportos como o de Guarulhos (SP), apesar da ordem judicial
para a liberação das estradas e das ações da Polícia Rodoviária Federal
para restabelecer o fluxo viário.
Os caminhoneiros começaram a bloquear as rodovias no dia seguinte à
vitória de Lula no segundo turno da eleição presidencial, sem uma
coordenação definida – mesmo líderes da greve de 2018 demonstraram sua
contrariedade com o protesto e afirmaram não ter ligação com ele – e sem
uma pauta concreta, ou factível. Alguns grupos chegaram a afirmar que
só liberariam as rodovias em caso de golpe militar, eufemisticamente
chamado de “intervenção”, baseando-se em uma interpretação completamente
equivocada do artigo 142 da Constituição.
Nem mesmo as reivindicações consideradas mais nobres ou justas podem servir de pretexto para a violação da liberdade alheia
A frustração com a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula é
compreensível. Milhões de brasileiros têm consciência do que o retorno
do petismo ao poder representa em termos de degradação institucional,
socioeconômica e moral, e esta Gazeta do Povo repetidamente mostrou a
seus leitores os enormes riscos de uma volta de Lula ao Planalto. Mas
também temos dito repetidamente que nada, nem mesmo as reivindicações
consideradas mais nobres ou justas, pode servir de pretexto para a
violação da liberdade alheia. Afirmamo-lo na greve dos caminhoneiros de
2018 e nos bloqueios de 2021, mas também quando a esquerda invadiu
escolas e universidades e quis impedir o funcionamento normal das
instituições ao tentar forçar a entrada em edifícios governamentais e
invadir plenários legislativos. Especialmente contraditório é que um
grupo político-ideológico que, nos últimos tempos, proclamou a defesa de
liberdades como a de expressão e de imprensa agora se proponha a abater
a liberdade alheia de ir e vir, ainda por cima provocando o risco de
desabastecimento. O direito de manifestação é legítimo, mas fazê-lo
atropelando o direito alheio é a antítese da democracia.
Ainda mais absurda, entretanto, é a pretensão do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto de se organizar para desbloquear rodovias por
conta própria. O MTST não faz parte das forças de segurança e, caso
concretize essa intenção de se comportar como milícia paramilitar,
merecerá da parte dos legítimos detentores da força – as polícias e, se
necessário, as Forças Armadas – a mesma repressão devida aos
caminhoneiros que resistirem à ordem judicial de liberação das estradas.
Dado todo o histórico do movimento de Guilherme Boulos e de seu “irmão”
rural, o MST, parece difícil que a intenção dos sem-teto seja a
promover qualquer pacificação que seja, já que se trata de grupos que
vivem da radicalização.
Convicções da Gazeta: Cultura democrática Se os inimigos da
democracia de ambos os lados do espectro político encontram espaço para
agir, eles o fazem também graças ao silêncio daqueles que poderiam agir
para acalmar os ânimos. O Brasil democrático repudia tanto os bloqueios
dos caminhoneiros quanto o delírio paramilitar dos sem-teto, mas precisa
da palavra firme do atual presidente e do presidente eleito – até a
tarde de terça, Bolsonaro manteve um silêncio inexplicável em vez de
reconhecer logo o resultado das urnas e garantir uma transição
civilizada, por mais contrariado que esteja em relação ao desfecho deste
segundo turno. Quando falou, Bolsonaro não condenou abertamente o
movimento dos caminhoneiros, mas de fato o desautorizou ao afirmar que
não se pode violar o direito de ir e vir. Menos mal: quem se orgulha de
jogar nas “quatro linhas” da Constituição não tem como promover, nem
endossar (ativamente ou com o silêncio) aventuras inconsequentes como as
que estão sendo promovidas nas rodovias brasileiras.
Paris
(France), 26/10/2022.- French President Emmanuel Macron (L) welcomes
Chancellor of Germany Olaf Scholz (R) at Elysee Palace before their work
lunch in Paris, France, 26 October 2022. (Francia, Alemania)
EFE/EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
Presidente francês, Emmanuel Macron, e chanceler alemão, Olaf
Scholz, em Paris, em 26 de outubro de 2022.| Foto: EFE/EPA/CHRISTOPHE
PETIT TESSON
A invasão russa à Ucrânia e as medidas que os
europeus tomaram para apoiá-la tornam a Europa, e em especial a União
Europeia, a maior prejudicada pelo conflito. Em uma nova busca por uma
soberania do bloco desde 2017, liderada principalmente pela França e
pela Alemanha, os países do Velho Continente de fato precisaram reduzir a
dependência de outros Estados, sobretudo da Rússia. No entanto, o
movimento foi acelerado, em caráter de urgência, e os europeus se
atropelaram. Quem ganha com isso são Estados Unidos e China.
Restabelecer a autossuficiência europeia é uma das metas declaradas
do presidente francês, Emmanuel Macron, desde sua primeira campanha
presidencial. Essa prioridade é compartilhada pelo chanceler alemão,
Olaf Scholz, conforme declarou em Praga no final de agosto.
“A soberania europeia significa essencialmente que nos tornamos mais
autossuficientes em todas as áreas, que assumimos maior responsabilidade
por nossa própria segurança, que estamos ainda mais unidos na defesa de
nossos valores e nossos interesses no mundo”, disse Scholz.
Os dois principais motores europeus, no entanto, estão cada vez mais
distantes desde o início da guerra. A dupla que costuma comandar a
economia e a indústria do continente está tomando rumos diferentes,
esfarelando essa unidade europeia tão desejada.
A Alemanha decidiu investir 100 bilhões de euros (519,49 bilhões de
reais) para modernizar o exército do país, uma iniciativa que não cabe
no orçamento francês e que, pelo mesmo motivo, não pode ser replicada
nos outros membros dos Vinte e Sete.
Os países da Europa Central, Báltica e Nórdica acusam a Alemanha e a
França de terem subestimado a ameaça russa e estão recorrendo aos
Estados Unidos para garantir sua segurança, anunciando que a União
Europeia não se basta para proteger os países do continente.
“Naturalmente, a guerra causa um descrédito em relação às
organizações internacionais como fomentadoras da paz social”, analisa
Viviane Knoerr, coordenadora de pós-graduação do Unicuritiba e
pós-doutora em Direito pela Universidade de Coimbra.
Nesse cenário, os Estados Unidos e a OTAN ganham mais força no Velho
Continente, com a adesão, por exemplo, da Finlândia e da Suécia.
Crise energética Enquanto a maioria dos países europeus, a
começar pela França, criaram medidas rigorosas para reduzir o consumo de
energia em meio à crise de abastecimento gerada pela guerra, o país
comandado por Scholz manteve em certa medida o consumo, desembolsando
200 bilhões de euros (1,3 trilhão de reais) em ajuda a residências e
empresas enfraquecidas pela disparada dos preços da energia.
Apesar de passar a importar gás de outros países, reduzindo a
dependência da Rússia, a Europa ainda não se reorganizou na distribuição
de combustível que chega aos portos. Com a proximidade do inverno, a
oferta de energia e os preços ainda vão continuar abalando o bloco.
Algumas saídas encontradas pelos líderes europeus envolvem a
construção de meios para transporte de gás. Seriam alternativas de médio
prazo, mas iriam na contramão da agenda de diminuição do consumo de
combustíveis fósseis, que já perdeu força desde o início da guerra. A
Agência de Energia Europeia prevê que haja, neste ano, um crescimento de
7% no uso desse tipo de energia, por exemplo.
A Alemanha, que, ao contrário da França, fugiu da energia nuclear nas
últimas décadas para cumprir com seu projeto ambientalista, precisou
regredir ainda mais recorrendo à abertura de antigas usinas de carvão.
Recentemente, em uma medida tomada isoladamente pela Espanha e por
Portugal, mas com autorização da UE, os países ibéricos criaram um
complexo sistema de dissociação dos preços do gás e das tarifas de
eletricidade dos de outras formas de energia.
Outros Estados-Membros do bloco solicitaram a Comissão a realizar um
estudo de impacto dessa “exceção ibérica” para uma possível aplicação em
outros pontos do continente.
Esse modelo, no entanto, já apresentou problemas e fragilizou
relações europeias: a Espanha aumentou consideravelmente as exportações
para a França (só em julho, foi um crescimento de 80%), saturando as
relações entre os países. Enquanto os espanhóis pagam uma indenização a
empresas de gás locais para produzir eletricidade, os franceses
aproveitam os baixos preços tabelados do país vizinho para comprar essa
eletricidade espanhola.
Crise industrial De acordo com a União Europeia dos Metais, a
produção de alumínio e zinco caiu pela metade no bloco em 2022. Esse
fenômeno acontece em um momento em que a transição energética vai
absorver grandes quantidades desses metais, agora considerados
estratégicos.
O ministro da Indústria da França, Roland Lescure, visitou a fábrica
de alumínio de Dunquerque, no norte da França, que consome o equivalente
ao que é consumido em toda a cidade de Marselha em eletricidade. Ele
apontou que a fatura da empresa aumentou, neste ano, de 200 milhões de
euros (mais de 1 bilhão de reais) para 600 milhões de euros (cerca de 3
bilhões de reais), segundo Philippe Escande, editorialista econômico do
Le Monde. A produção dessa fábrica já foi reduzida em mais de 20%.
Já a BASF, principal grupo químico da Alemanha, anunciou que reduzirá
seus custos na Europa “o mais rápido possível e permanentemente”.
Isso quer dizer que os produtos químicos europeus, presos entre
regulamentações rígidas e preços estratosféricos de energia, não têm
mais muito futuro no continente.
A BASF decidiu investir no sul da China, na cidade de Zhanjiang.
Serão investidos 10 bilhões de dólares na nova sede (mais de 51 bilhões
de reais).
Isolamento Durante uma reunião no final do mês de outubro em
Bruxelas, Macron disse, em entrevista coletiva, que “não é bom” para a
Europa que a Alemanha “se isole” e fez uma reunião com Scholz para
tentar aproximar as abordagens dos países no controle de preços de gás e
eletricidade.
“Estou há mais de cinco anos tentando propor, avançar e construir a
unidade”, destacou o presidente francês. “Espero que possamos realmente
encontrar meios de convergência”, concluiu Macron.
Segundo o cientista político Ivan Krastev, no entanto, esse movimento
de isolamento, não só da Alemanha, é inevitável. Em entrevista ao
diplomata Michel Duclos, referindo-se à onda de refugiados, ao Brexit, à
pandemia de Covid-19 e à guerra, Krastev ressalta que essas
“turbulências” levantaram “fortes correntes nacionalistas entre os
estados membros da União Europeia”.
O cientista aponta que a Polônia, a Itália e a Suécia, que elegeram
novos nomes menos “eurocêntricos” para o poder se distanciam cada vez
mais da unidade do bloco.
Fora da UE, Reino Unido também enfrenta crise
O Reino Unido vive o pior cenário econômico dos últimos 50 anos. Ao
mesmo tempo, o contexto político gera instabilidade e dificulta a
recuperação britânica. O isolamento devido ao Brexit – a saída da União
Europeia – com falta de caminhoneiros e outros profissionais devido ao
fechamento de portas a trabalhadores imigrantes, junto com as
consequências da pandemia e, principalmente, da guerra levaram à
renúncia de Boris Johnson, ao comando relâmpago de Liz Truss e a
consequente nomeação de Rishi Sunak, que recebe uma bomba econômica para
administrar.
Autoridades do serviço nacional de saúde (NHS, na sigla em inglês)
alertaram para o risco de empobrecimento da população e de uma crise
humanitária. De acordo com a End Fuel Poverty Coalition, cerca de 10,5
milhões de famílias entrarão em “nível de pobreza” até o começo do ano
que vem no Reino Unido. O governo britânico define como “pobreza” quando
a renda familiar anual é inferior a 60% da média salarial do país, que
foi de 31 mil libras anuais (cerca de 187 mil reais) em 2021, segundo
estatísticas oficiais.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que os britânicos terão o
menor crescimento entre os sete países mais ricos em 2023. No bolso dos
mais de 67 milhões de habitantes, a situação já está pesando. Cortes de
gastos e mudança no estilo de vida se tornaram realidade da maioria das
famílias e devem atingir mais de 20% delas no começo do ano que vem.
AME357.
BRASILIA (BRASIL), 01/11/2022.- El presidente brasileño, Jair
Bolsonaro, se pronunció hoy sobre los resultados de los comicios del
pasado domingo, pero sin aludir a la victoria de Luiz Inácio Lula da
Silva, y aseguró que “seguirá siendo fiel a la Constitución”. EFE/
Jo?dson Alves
Cercado por ministros, presidente Jair Bolsonaro agradeceu os 58
milhões de votos recebidos no segundo turno da eleição.| Foto: Joédson
Alves/EFE
O presidente Jair Bolsonaro (PL) interrompeu um
silêncio de mais de 40 horas após término do resultado das eleições e se
pronunciou às 16h37 desta terça-feira (1º). Em um rápido discurso no
Palácio da Alvorada, ele não contestou a derrota nas urnas e tampouco
parabenizou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Disse,
porém, que continuará “cumprindo todos os mandamentos da nossa
Constituição”, no que foi entendido como uma aceitação do resultado
eleitoral.
Logo após a fala, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse aos
jornalistas que o governo irá cumprir a lei de transição, reforçando o
reconhecimento de Bolsonaro sobre a vitória de Lula.
Em um discurso lido, Bolsonaro agradeceu os 58 milhões de brasileiros
que votaram nele no segundo turno e procurou desmobilizar os apoiadores
que, desde domingo (30), obstruem rodovias no país. Segundo ele, os
“atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de
injustiça de como se deu o processo eleitoral”.
“As manifestações pacíficas sempre serão bem vindas, mas os nossos
métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a
população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e
cerceamento do direito de ir e vir”, declarou.
O presidente disse, ainda, que a direita surgiu “de verdade” no país e
que os deputados e senadores eleitos e reeleitos nas eleições deste ano
evidenciam isso.
“Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos
valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças
pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela
ordem e pelo progresso”, afirmou.
Bolsonaro destacou, ainda, que seu governo enfrentou “todo o sistema”
e superou uma pandemia e as consequências da guerra na Ucrânia. Também
alegou sempre ter defendido a Constituição e respeitado a democracia.
“Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus
acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição.
Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais.
Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos
os mandamentos da nossa Constituição”, disse.
No encerramento do pronunciamento, Bolsonaro diz ser uma honra ser o
“líder de milhões de brasileiros” que, como ele, “defendem a liberdade
econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e
as cores verde e amarela” da bandeira brasileira.
Assista ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro
Discurso objetivou garantir capital político do presidente O
pronunciamento de Bolsonaro veio após muitas reuniões e definições de
estratégia a respeito de como se posicionar sobre o resultado das
eleições. O presidente, seu núcleo político, ministros e auxiliares
trabalharam desde domingo o texto do discurso a ser redigido e como se
pronunciar ao país, sobretudo aos eleitores, a fim de manter seu capital
político.
A adesão de manifestantes e o fechamento de rodovias subiu a pressão
política sobre Bolsonaro para concluir um pronunciamento que pudesse ser
bem aceito pela sua base eleitoral mais “raiz”. Não à toa que, em seu
discurso, o presidente condena a forma como os brasileiros conduzem as
manifestações, mas sugere que elas são justificáveis, como “fruto de
indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo
eleitoral”.
Sem objetivamente pedir a desmobilização da população nas rodovias
brasileiras e reconhecer o resultado, o término do silêncio e o
pronunciamento cumprem a estratégia do governo de se estruturar
politicamente a fim de se manter como uma liderança política forte. Há
aliados de Bolsonaro que defendem que ele volte como candidato em 2026,
já que os 58 milhões de votos que recebeu agora o credenciam para isso.
Leia o discurso na íntegra “Quero começar agradecendo os 58
milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro.
Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de
injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações
pacíficas sempre serão bem vindas, mas os nossos métodos não podem ser
os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de
propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e
vir.
A direita surgiu, de verdade, em nosso país. Nossa robusta
representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus,
pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil.
Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo
progresso.
Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as
consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e,
ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro
linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e
as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão,
continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição.
É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu,
defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de
opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira.
Muito obrigado!”
AME357.
BRASILIA (BRASIL), 01/11/2022.- El presidente brasileño, Jair
Bolsonaro, se pronunció hoy sobre los resultados de los comicios del
pasado domingo, pero sin aludir a la victoria de Luiz Inácio Lula da
Silva, y aseguró que “seguirá siendo fiel a la Constitución”. EFE/
Jo?dson Alves
Cercado por ministros, presidente Jair Bolsonaro agradeceu os 58
milhões de votos recebidos no segundo turno da eleição.| Foto: Joédson
Alves/EFE
O presidente Bolsonaro quebrou o silêncio. As pessoas perguntam: por
que o silêncio? Porque se ele falasse qualquer coisa, no momento em que
caminhoneiros estavam bloqueando estradas e pessoas estavam se dirigindo
a quartéis, diriam que foi ele quem estimulou; então, ele não abriu a
boca. Agora estão reclamando que ele não reconheceu a derrota. Se
fizesse isso, ele endossaria um processo que ainda não sabemos se está
sendo examinado ou não, avalizaria um resultado. Então, ele simplesmente
não falou sobre o assunto, apenas agradeceu os votos.
O presidente também recomendou aos que estão fazendo manifestações
que respeitem o direito de ir e vir de todos, inclusive das cargas; que
não façam como o outro lado, que bloqueia e pronto, e ainda diz que não
pode sair porque são “movimentos sociais”. Aliás, eu acho estranho,
ilógico, que caminhoneiros bloqueiem estradas, prejudicando exatamente
os estados em que Bolsonaro ganhou. Tampouco faz sentido prejudicar os
eleitores, as pessoas. Há muitas outras formas de se manifestar
pacificamente.
Diz a Constituição no artigo 1.º que “todo o poder emana do povo, que
o exerce por seus representantes ou diretamente”. Está na Constituição
também que é livre a expressão e a manifestação. E os brasileiros estão
se manifestando; Bolsonaro só pediu que não restrinjam o direito de ir e
vir. Isso quem fez foi o Supremo, que não podia mexer na Constituição,
mas mexeu – e não só mexeu, como transferiu para prefeitos e
governadores o direito de retirar a liberdade de ir e vir em tempos de
paz, por mais que isso seja intocável, cláusula pétrea da Constituição.
O presidente mostrou que o conceito de liberdade, as liberdades,
todas elas, a econômica, a individual, o respeito aos valores da pátria e
a direita em si, saíram fortalecidos destes quatro anos. A direita tem
maioria no Congresso Nacional e Bolsonaro vai trabalhar dentro do seu
partido, o Partido Liberal, já pensando nas próximas eleições
municipais.
O vice-presidente Hamilton Mourão ofereceu a residência oficial
da vice-presidência para o vice eleito, Geraldo Alckmin, que vai que
coordenar a transição. Antes de começar o discurso, o presidente
virou-se para o ministro Ciro Nogueira, que vai trabalhar com Alckmin, e
disse “vão sentir saudade da gente aqui” – o microfone captou essa
profecia.
Agronegócio brasileiro continua garantindo ótimos números
O agro brasileiro continua brilhando. O IBGE disse que a colheita
será de 362 milhões de toneladas. Só o milho, na segunda safra, teve um
crescimento de 35%; só caiu a Região Sul, em 15%. As outras regiões
subiram cerca de 10%, inclusive o Nordeste.
Na balança comercial, caíram as exportações do minério de ferro, mas
subiram as de grãos, que garantiram quase US$ 4 bilhões de superávit em
outubro – as exportações foram de US$ 27 bilhões e as importações, de
US$ 23 bilhões. Só neste ano temos superávit de mais de US$ 51 bilhões. O
que é isso? É sinal da pujança, da vitalidade do agro e da economia
brasileira, um país pujante que Bolsonaro vai legar a Lula.
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: Reprodução/Twitter
Após
um segundo turno acirrado, os brasileiros já sabem quem governará o
país nos próximos 4 anos: o petista Luiz Inácio Lula da Silva, o
ex-presidente que protagonizou os escândalos de corrupção do Mensalão e
do Petrolão. E há pontos que o governo eleito precisa ter em sua agenda
para o Brasil avançar e a nossa população ter um presente e um futuro
melhor. Lula está se vendendo como um presidente da conciliação e do
avanço da nação, da coalizão, supostamente longe do radicalismo da
esquerda que dominou os governos do PT. Será que ele está disposto a
fazer as reformas que o Brasil precisa? Veja quais são os desafios do
próximo governo.
A primeira agenda fundamental seria uma ampla reforma administrativa,
para melhorar a qualidade dos serviços públicos e cortar custos
excessivos do funcionalismo. O presidente Jair Bolsonaro até tentou
fazer uma reforma administrativa, o projeto foi enviado ao Congresso em
2020, porém, ainda não foi seriamente avaliado pelos parlamentares. Por
que a reforma administrativa é fundamental? Entre 74 países, o Brasil é o
sétimo país do mundo que mais gasta com funcionalismo. Praticamente 13%
do nosso PIB (Produto Interno Bruto) é utilizado para pagar os salários
dos servidores, considerando o pessoal ativo dos municípios, Estados e
União. Isso é muito superior a média da União Européia, de 9,9%, e dos
EUA, 9,5% do PIB.
Um trabalhador do setor privado ganha 96% menos que o mesmo
profissional no funcionalismo federal, e 36% menos que um servidor
estadual. Além disso, privilégios do setor público resultam em
supersalários: as remunerações acima do teto do funcionalismo. Por
exemplo, no ano passado, mais de quatro mil magistrados receberam acima
do teto, segundo dados do próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Quase 200 deles tiveram remunerações médias superiores a R$ 100.000,00
por mês. A proposta atual da reforma administrativa acaba com vários
penduricalhos que se transformam em salários acima do teto, e precisa
incluir a elite do funcionalismo, como juízes e promotores. Por isso, a
reforma precisa ser ampla, geral e incluir todo o funcionalismo para
garantir o fim dos privilégios, especialmente entre aqueles que mais os
desfrutam.
Entre 74 países, o Brasil é o sétimo país do mundo que mais gasta com
funcionalismo. Praticamente 13% do nosso PIB (Produto Interno Bruto) é
utilizado para pagar os salários dos servidores, considerando o pessoal
ativo dos municípios, Estados e União
O texto atual da reforma administrativa também traz um modelo mais
inteligente de contratação para o serviço público, com a possibilidade
de fazer contratos com data de início e fim. Por que isso é importante? É
preciso dar fim à obsolescência de função no setor público. No Brasil,
R$ 8,2 bilhões são gastos anualmente com funcionários em cargos extintos
ou em fase de extinção, como os datilógrafos e os ascensoristas
(pilotos de elevador). Dei mais detalhes sobre a necessidade da reforma
administrativa nesta coluna. O problema é que Lula sempre inchou a
máquina pública, sem muito critério, e criou privilégios. Será que ele
terá a responsabilidade e a coragem de fazer a reforma administrativa
que o Brasil tanto precisa em vez de atender aos interesses dos
sindicatos? Infelizmente, eu não acredito.
Também precisamos acabar com o manicômio tributário no Brasil. Por
isso, a reforma tributária é essencial. E essa necessidade não é nova:
tem pelo menos três décadas. “Em 1995, quando o termo custo Brasil foi
debatido pela primeira vez, em um seminário da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), o cipoal tributário já era considerado o grande vilão
do setor produtivo”, diz o Portal da Indústria. De lá pra cá, a carga
tributária brasileira, além de se tornar ainda mais complexa, cresceu de
27% do PIB para 33,9% em 2021, porcentagem que também é a maior em 12
anos. Para se ter ideia, as empresas brasileiras gastam, em média, 38%
mais de seus lucros para pagar impostos que as empresas dos países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
segundo um estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC).
Ainda segundo o estudo, o custo Brasil consome, todo ano, cerca de R$
1,5 trilhão das empresas. O custo Brasil é a diferença entre o custo de
se produzir no Brasil em comparação a outros países, levando em conta
os encargos e burocracias que os empreendedores enfrentam. De acordo com
um estudo elaborado pela Fiesp/Ciesp, o custo Brasil encarece em até
25,4% os produtos brasileiros. O estudo comparou o Brasil a outros 15
países, que foram seus principais parceiros comerciais entre 2008 e
2019: China, Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Coreia, Japão, Itália,
França, México, Índia, Espanha, Reino Unido, Suíça, Chile e Canadá.
Nossa carga tributária é maior que as de 12 deles.
As empresas brasileiras gastam 2.354,6 horas por ano para pagar
impostos, 11,3 vezes mais que a média nos países parceiros. O
empreendedor brasileiro, além de se preocupar com a eficiência econômica
de seu negócio, também vive sufocado com a corda tributária em seu
pescoço. A reforma tributária deveria simplificar e modernizar a
cobrança e o pagamento de impostos, aumentar a competitividade das
empresas e acabar com a discricionariedade nas classificações.
O custo Brasil é a diferença entre o custo de se produzir no Brasil
em comparação a outros países, levando em conta os encargos e
burocracias que os empreendedores enfrentam
Um sistema tributário eficiente, que favorece a competitividade das
empresas em vez de sufocá-las, resulta em mais crescimento econômico —
que, por sua vez, traz mais ofertas de emprego e aumento de renda da
população. O sistema tributário brasileiro precisa reduzir o número de
tributos e, de preferência, apontar para uma redução de carga, seguindo
uma redução de custo da máquina pública alcançada com uma sonhada
reforma administrativa.
Lula prometeu fazer uma reforma tributária, mas não deu muitos
detalhes a respeito: o que se sabe é que, além da simplificação de
impostos, ele pretende adotar um modelo progressivo para reduzir a
tributação do consumo e aumentar os impostos cobrados dos mais ricos.
“Eu acho que chegou a hora”, disse ele sobre taxar grandes fortunas.
Como se a tributação sobre os empreendedores já não fosse alta… “Os
ricos não são tolos; eles não irão sustentar os pesados gastos públicos
da sociedade. Na prática, eles contratarão advogados para ajudá-los a
ocultar sua riqueza do governo. Se isso não der certo, eles se mudarão
para outro país”, explica o economista Felipe Lungov em texto para o
Instituto Mises Brasil.
Com o governo Bolsonaro, o Brasil se tornou o sétimo país em
maturidade de governo digital entre 198 países do ranking do Banco
Mundial, e o primeiro das Américas, na frente até mesmo dos Estados
Unidos. Com a plataforma Gov.Br, o governo passou a ofertar acesso
digital de mais de 4 mil serviços públicos para os brasileiros (84% do
total de 4,8 mil serviços oferecidos atualmente pelo Governo Federal), e
hoje 130 milhões de usuários já desfrutam deles. Além de facilitar a
vida do cidadão, isso também significa menos desperdício de recursos dos
pagadores de impostos. A equipe de Bolsonaro deixou a mesa posta. Lula
tem a faca e o queijo na mão para continuar com a agenda de
transformação digital do setor público e de desburocratização, ampliando
iniciativas para Estados e Municípios. Não há desculpa para que ele não
faça isso, basta querer.
O próximo ponto é extremamente sensível para os petistas: se Lula
quiser que o Brasil continue avançando, ele também deve dar seguimento à
agenda de privatizações, concessões e de parcerias público-privadas
(PPPs). Em vez de acumular rombos, o governo Bolsonaro, felizmente,
arrecadou R$ 304,2 bilhões com as privatizações até julho deste ano. O
montante é utilizado para reduzir a dívida pública brasileira, além de
reduzir o espaço para corrupção e uso político da máquina pública.
A privatização mais importante de todas foi a da Eletrobras, maior
empresa de energia da América Latina, que rendeu R$ 67 bilhões. Além de
reduzir custos desnecessários para os brasileiros, a privatização da
Eletrobras traz mais eficiência e investimentos para o setor elétrico.
Porém, Lula quer reestatizar a Eletrobras. Coerente com o seu passado e
de seu partido, já que eles adoram submeter as estatais aos seus
caprichos. Em 2012, a então presidente petista Dilma Rousseff fez a
MP579 para baixar na canetada 20% do preço da tarifa de energia. A
medida contribuiu com o efeito reverso: entre 2013 e 2021, as tarifas de
energia sofreram aumento de 100,6%, e a MP de Dilma foi uma das grandes
responsáveis.
Além disso, o setor elétrico teve R$ 228 bilhões de prejuízo entre
2000 e 2015 devido a corrupção, ineficiência na gestão da Eletrobras e
também por interferências políticas ruins — a maior parte desses
prejuízos durante os governos de Lula e Dilma. Só na Eletrobras, o custo
da irresponsabilidade foi de R$ 186 bilhões. Mais detalhes sobre a
Eletrobras nesta coluna. Os petistas também usaram as estatais no
esquema de corrupção do Petrolão e na política fracassada de campeões
nacionais. Precisamos, como sociedade, pressionar o governo Lula e os
parlamentares pela continuação das privatizações. O Brasil não pode
retroceder aos escândalos de corrupção e aos rombos nas estatais. Assim,
embora não tenha espaço para reestatizar a Eletrobrás, será mais uma
promessa não cumprida, acho que as pautas de desestatização não
avançarão em nível federal. Felizmente, estados como Rio Grande do Sul,
São Paulo e Minas Gerais devem avançar nessa frente.
Os petistas também usaram as estatais no esquema de corrupção do
Petrolão e na política fracassada de campeões nacionais. Precisamos,
como sociedade, pressionar o governo Lula e os parlamentares pela
continuação das privatizações
Outra necessidade do Brasil é desestatizar os serviços de saúde e
educação. O foco dos serviços públicos deveria ser trazer mais
eficiência e qualidade para os seus usuários, e não agradar sindicatos e
funcionários públicos. Alunos e pacientes deveriam ser tratados como
clientes que devem ser agradados e bem tratados. Lula fez um pouco disso
com o Prouni (Programa Universidade para Todos), criado por seu então
ministro da educação Fernando Haddad em 2005. O ProUni concede bolsas de
estudos (integrais e parciais) para estudantes pobres em universidades
privadas. As instituições de ensino que participam do programa ficam
isentas de vários impostos. É muito mais econômico do que abrir mais
vagas nas universidades públicas ou construir novas instituições de
ensino. Mas isso precisa ser ampliado para a educação básica, maior
desafio do Brasil.
Os vales de educação (vouchers) devem ser usados para ampliar o
acesso de crianças à educação básica de qualidade. Com os vouchers, uma
família de baixa renda poderia matricular seu filho na escola de sua
preferência (podendo ela ser privada, comunitária ou religiosa). Além de
ser mais econômico que abrir novas escolas, uma criança pobre teria a
mesma oportunidade de educação que uma criança de classe média ou alta,
diminuindo também a desigualdade educacional. Se não quiser criar o vale
educação, pelo menos, poderia ampliar o uso de creches e escolas
conveniadas, com gestão privada, mas custeadas com recursos públicos.
Não podemos perder mais uma geração de crianças com educação infantil de
má qualidade.
Na saúde, temos um ótimo exemplo de PPP que é o Proadi/SUS, criado em
2009. Ele envolve seis hospitais de referência, incluindo os
prestigiados Hospital Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês, de São
Paulo. Essa PPP é custeada por isenções fiscais: os hospitais parceiros
descontam seus gastos dos impostos que deveriam pagar. Entre 2009 e
2020, mais de 700 projetos foram executados, somando investimentos que
giram em torno de R$ 7,5 bilhões. Ganha o pagador de impostos: afinal,
quem não gostaria de ser tratado no melhor hospital do país? Se Lula é o
presidente que se importa com os mais pobres, ele deveria trabalhar
para expandir iniciativas como essas.
O Brasil também precisa dar seguimento aos marcos regulatórios para
melhorar a produtividade e a competitividade das empresas e a qualidade
dos serviços. Um exemplo disso é o Marco Legal do Saneamento, que fará
com que mais de 90% da população tenha tratamento de água e esgoto até
2033, contando com a competição das empresas privadas. E o Marco do Gás
Natural, que abriu o mercado de gás natural para a iniciativa privada,
antes dominado pela Petrobras.
O Brasil precisa também fortalecer a economia verde e explorar os
diferenciais competitivos da Amazônia. Entre as boas alternativas, estão
as concessões florestais. Uma concessão florestal é um tipo de parceria
entre o setor público e o setor privado em que as empresas exploram
áreas das florestas públicas de modo sustentável. As florestas seguem
como propriedades do governo, mas com gestão privada. É uma forma de
gerar empregos e renda na Amazônia sem provocar desmatamento. Outra boa
alternativa é emitir créditos de carbono em florestas públicas.
Hoje, a Lei de Concessões Florestais não permite a emissão de
créditos de carbono em florestas públicas por meio da iniciativa
privada. A atividade está reservada ao Governo, que não faz a emissão
por falta de recursos. As empresas privadas deveriam ter a permissão
para emitir créditos de carbono das florestas públicas, repartindo a
receita com o governo. O Brasil pode emitir 22% dos créditos de carbono
que o planeta precisa, e ganhar até US$ 100 bilhões em receitas até
2030, segundo a ICC Brasil (International Chamber of Commerce). Será que
poderíamos contar com o apoio de Lula para isso? Infelizmente, nessas
horas, a visão limitada de muitos petistas pode impedir esses avanços.
Por último, mas não menos importante, o Brasil precisa seguir a
agenda de inclusão do Brasil no mapa de comércio exterior global e
concluir todos os passos necessários para ingressar definitivamente na
OCDE. Este ano, finalmente tivemos a formalização do processo de adesão
do Brasil à organização. O Brasil já cumpriu 108 dos 230 requisitos para
entrar na OCDE. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), o PIB brasileiro pode ter incremento de 0,4% ao ano com a
adesão à OCDE. A adesão à OCDE é um como um selo de qualidade para
negócios e investimentos. Será que o presidente eleito terá interesse em
continuar aderindo às melhores práticas internacionais para o Brasil
entrar na OCDE definitivamente? Nesse ponto, também, o cenário não é tão
promissor. Lula vai preferir seguir o modelo do Mercosul ou dos BRICS,
com países com maior alinhamento ideológico com as pautas de esquerida.
O Brasil está em sua fase de modernização, crescimento econômico e
avanços institucionais e de mercado trazidos pelos governos de Michel
Temer e Jair Bolsonaro. Para seguir com os avanços, Lula só precisa dar
continuidade ao que está dando certo. Deixar de lado as amarras das
políticas petistas e dos sindicatos. Até agora Lula não sinalizou isso.
Ele escondeu seu plano de governo na campanha eleitoral e, no dia
seguinte à sua eleição, a mídia noticiou que ele pretende ter 40% mais
ministérios para acomodar aliados. Aparentemente, será mais do mesmo, se
depender dele. Enquanto sociedade civil, devemos pressionar o
presidente eleito a fazer o que o Brasil precisa. Afinal, quase metade
da população escolheu a continuidade dos avanços. Assim, Lula, como
democrata que diz ser, deveria incorporar parte das propostas do atual
governo ao seu programa. Seria um exemplo de maturidade política e
respeito ao eleitor. Desejo sucesso ao novo governo. Precisamos avançar,
jamais retroceder!