terça-feira, 1 de novembro de 2022

CAMINHONEIROS CONTINUAM PARALIZADOS EM PROTESTO COM A DERROTA DE BOLSONARO

Após decisão do STF
PRF diz que 192 ocorrências nas rodovias já foram desfeitas
Por
Gazeta do Povo


STF proibiu bloqueios nas estradas federais. Imagem ilustrativa| Foto: PRF/Divulgação

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que 192 ocorrências nas rodovias federais relacionadas aos protestos já foram desfeitas. O balanço foi divulgado nas redes sociais da corporação por volta das 6 horas desta terça-feira (1) e diz respeito aos bloqueios das estradas e às interdições parciais que já foram desmobilizados. A PRF não detalhou em quais estados foram realizadas essas ações.

Caminhoneiros que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) bloqueiam estradas em vários estados desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República.

O balanço da PRF foi divulgado após o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a liberação das rodovias federais. O julgamento teve início no plenário virtual do STF na madrugada desta terça-feira (1), logo após a determinação de Moraes, em caráter liminar, para que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as Polícias Militares dos estados tomem medidas necessárias “para a imediata desobstrução de todas as vias públicas” bloqueadas “ilicitamente”.

Atos seguem em 22 estados e no DF

Apesar da decisão e do trabalho da PRF, os protestos seguem em 22 estados e no Distrito Federal na manhã desta terça-feira (1). São eles: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, e Tocantins.

De acordo com o balanço, 92 rodovias federais estavam bloqueadas e 144 tinham interdições parciais na manhã desta terça. Os dados também foram divulgados pela PRF por volta das 6 horas.

A Região Sul é a que concentrava a maior parte dos atos nas estradas. A PRF informou que Santa Catarina registrava 39 bloqueios; no Rio Grande do Sul eram 15 bloqueios de rodovias e 15 interdições parciais; e o Paraná tinha 15 bloqueios e 24 interdições parciais.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/prf-diz-que-192-ocorrencias-nas-rodovias-ja-foram-desfeitas-atos-seguem-em-22-estados-e-no-df/
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O BRASIL NESSAS ELEIÇÃO DESPERDIÇA MAIS UMA OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO

 

Eleições

Por
Alexandre Garcia


Lula faz discurso a apoiadores na Avenida Paulista após resultado das eleições.| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação PT

Eu costumava fazer uma palestra chamada “O país das oportunidades perdidas”. Eu contava que meu amigo Osni Branco, lá em Tóquio, me disse: “olha, aqui do outro lado do mundo, a gente percebe que Deus é brasileiro. Porque Deus põe as oportunidades na porta da frente da nossa casa, do nosso Brasil, e nós jogamos fora pela janela dos fundos. E Deus põe de novo, e nós jogamos fora de novo, e põe de novo, e a gente joga fora de novo. Só pode ser brasileiro para insistir tanto em nos dar oportunidades”.

Agora, nessa eleição, perdemos uma grande oportunidade. Nunca o país foi passar de um mandato presidencial para o outro tão “acertadinho”. O desemprego está em queda: já esteve em 14 milhões, está em 8,7%, e chegando a 6% estará perto do pleno emprego. Além do desemprego, a inflação está em queda, menor que a dos Estados Unidos e da Europa. O PIB está em alta, pode crescer mais que o da China. A arrecadação está em alta, embora o governo tenha cancelado muitos impostos. Contas públicas em equilíbrio com o superávit primário, balança comercial com superávit, balanço de pagamentos com superávit. Obras em andamento por toda a parte, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, pontes, condução de água para o Nordeste. E mais: saneamento de estatais que davam prejuízo e agora dão lucro. Ministérios sem a intervenção de partidos políticos, que usavam ministérios e estatais para se abastecer de verbas para fazer campanha política, de desvios, sem propinas, não é?

Então, o novo presidente recebe o país nesse ponto. Qual é a oportunidade? Se o outro candidato fosse reeleito, teria uma Câmara de Deputados 73% favorável, um Senado 67% favorável, a maioria dos governadores favoráveis. Era o ambiente ideal para fazer todas as reformas que ainda faltam e deixar esse país “acertadinho”. Era isso. Mas o povo decidiu diferente. Jogou fora a oportunidade. Foi por uma minoria de 1,8 ponto, mas a maioria decidiu. O novo presidente já fez um discurso dizendo que vai reconstruir tudo, política, economia, gestão pública, relações internacionais, ou seja, vai refazer tudo. Provavelmente como era 14 anos atrás. Então, não sei se terá ambiente favorável no Congresso, que tem a maioria de centro-direita.


Voto útil
Outra oportunidade era a de botar o Supremo nos trilhos. Agora também não dá mais porque, com o novo presidente, se o Senado, que tem maioria para “impichar” ministro do Supremo, afastar três, por exemplo, o novo presidente vai nomear mais três, além dos dois que ele já vai escolher para substituir Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que chegaram à idade limite. Então, foram oportunidades perdidas de tornar o país melhor.

O que estamos vendo pelo discurso do recém-eleito é que ele quer voltar a fazer aquilo que se fazia antigamente. E ficamos nos perguntando “por quê? O que foi que houve?” O próprio Judiciário foi acusado antes de fazer tudo para afastar o PT do poder. Agora, foi acusado de fazer tudo para afastar a direita do poder. O ativismo do Judiciário só trabalha contra o próprio Judiciário. Foi o que identificou o ministro Fux quando assumiu a presidência do Supremo.

Mas vocês hão de perguntar “como é que aconteceu isso?” Bom, uma explicação é que 26 milhões de eleitores não votaram, se abstiveram. Outra é que 21 milhões de eleitores eram meninos no tempo da maior onda de corrupção do país. Uma loucura. Gente presa, gente condenada, discussões no Supremo sobre mensalão, sobre petrolão, propina, dinheiro de ministério para partido político, dinheiro da Petrobras para partido político, malas de dinheiro da Caixa Econômica… Eram meninos e, na hora de votar, parece que não têm memória disso que aconteceu. Então, se alguém quiser uma explicação, está aí. A diferença foi mínima entre um e outro, mas a maioria decidiu e está decidido. Ponto final.


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SOBREVIVÊNCIA DA ESQUERDA SEM O BOLSONARO PARA CULPAR

 

Perdas & ganhos

Por
Paulo Polzonoff Jr.


Petista alegre com a vitória de Lula.| Foto: EFE/ Ettore Chiereguini

Hoje, depois de dormir o sono pesado das consciências tranquilas, abri os olhos remelentos e, por alguns segundos, cogitei a possibilidade de a vitória de Lula para um terceiro mandato ter sido apenas um pesadelo. Não era. Lula, a jararaca, venceu mesmo. E, pelos próximos dias, teremos de engolir o orgulho e contemplar a alegria totalmente despudorada que a esquerda, tadinha, confunde com felicidade.

Como sempre, essa alegria baseada na irracionalidade uma hora vai passar. E trará consigo uma enorme ressaca da qual, infelizmente, todos padeceremos. Afinal, a ideia de um paraíso na Terra vai contra a mais elementar das lógicas. E é justamente isso o que explica a eleição de um ex-presidiário para liderar um país de 200 milhões de habitantes: a crença de que um “bom selvagem” será capaz de transformar o Brasil num paraíso.

Essa ilusão da esquerda, cujas bases morais são ainda mais frágeis do que a nossa finada Constituição, começará a ruir assim que os petistas de todos os matizes perceberem que não têm mais um bode expiatório no Palácio do Planalto. Porque foi esse o papel de Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos. Para a esquerda, todas as mazelas da vida coletiva ou individual tiveram um culpado: Bolsonaro.

Imagine só quando saírem as primeiras estatísticas sobre a morte de LGTVs. Ou os primeiros dados do desmatamento na Amazônia. Ou as primeiras projeções de hiperinflação. Ou os índices de violência, incluindo aí o feminicídio, o genocídio negro e até o gordocídio. Mais: imagine se Alexandre de Moraes, parça de Geraldo Alckmin, tiver mesmo gostado dessa coisa de mandar e desmandar e se recusar a bastar o bastão para o amiguinho?

Supondo que os dados são sejam maquiados e que o ímpeto autoritário dos ministros do STF não seja passageiro (não é), o esquerdista não terá como ignorar a realidade que o cerca: o vizinho morto porque o pivete queria apenas beber uma cervejinha, a “fumaça da Amazônia cobrindo o sol em São Paulo”, a Nutella custando um salário mínimo, o Ministro Supremo decidindo algo contra a cartilha do Partido só para mostrar que pode, a fila dos mendigos para receber uma prato de comida dos “fascistas cristãos”. Etc.

Dificilmente o esquerdista será capaz de olhar para si. Porque na essência da esquerda está a ideia de que todos os problemas do mundo são culpa dos outros. Da mãe ou do pai, do patrão, do guardinha, do “império estadunidense” – sei lá. E, nos últimos quatro anos, o esquerdista brasileiro (Sinistrus brasiliensis) se acostumou a ter na ponta da língua um único culpado para todas as enfermidades da sociedade e até da alma: Bolsonaro.

Tampouco o esquerdista apontará o dedo para o “bom selvagem” de voz rouca e hálito etílico que ele ajudou a entronar pela terceira vez. Primeiro porque lhe falta coragem de ir contra a tchurma. Depois porque é preciso um mínimo de inteligência até mesmo para reconhecer uma burrice.

Seja como for, no dia a dia o esquerdista que hoje tatua a estrela do PT em partes recônditas da anatomia, que anda todo orgulhosão por aí, com a cara feia do “bom selvagem” estampada na camiseta (100% algodão orgânico by MST), e que até até com câimbra no polegar e indicador de tanto fazer o “L”, terá de encontrar outro culpado pela angústia de viver num país menos-do-que-perfeito e pelo desassossego de perceber, lá no fundinho da alma que ele nega ter, que o admirável mundo novo nada tem de admirável.

Como o esquerdista sobreviverá a esse desafio que, muito mais do que político, tem um quê de metafísico? É possível que alguns insistam em apontar o dedo para Bolsonaro, agora rebatizado de “a herança fascista de Bolsonaro”. Mas tenho cá para mim que o problema é mais profundo e, por isso, o esquerdista sobreviverá à nova realidade à base dos placebo preferido dos progressistas: o hedonismo. Que, de mãos dadas com o cinismo e o niilismo, tenta-porque-tenta desposar essa infelicidade maldisfarçada de prazer, alegria e sobretudo orgulho.


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LULA CONVERSA COM A ESQUERDA DA AMÉRICA DO SUL

 

Venezuela
Maduro e Lula concordam em retomar “cooperação”
Por
Gazeta do Povo e Agência EFE


Ato em abril de 2019 em Caracas organizado pelo regime chavista pede a liberdade de Lula, que ainda estava preso em Curitiba| Foto: EFE/Rayner Peña

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, concordaram nesta segunda-feira (31), durante uma conversa por telefone, em retomar a agenda de “cooperação” bilateral, que perdeu força nos últimos seis anos.

Maduro informou, em sua conta no Twitter, que teve uma “boa conversa” com Lula, a quem agradeceu por “sua disposição” de “retomar a agenda de cooperação binacional”.

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou sua saudação e compromisso a todo o povo venezuelano. Estamos dispostos a trabalhar arduamente pelo fortalecimento da América Latina e do Caribe e pelo desenvolvimento econômico e social de nossos povos”, disse o ditador venezuelano em outra mensagem na rede social.

Neste domingo, após a vitória de Lula nas eleições presidenciais no Brasil, o regime venezuelano expressou, por meio de comunicado, sua “melhor disposição e boa vontade para, juntos, fortalecermos os laços de amizade”.

Durante a campanha, o petista havia alegado que o Brasil se beneficiou de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a regimes de esquerda durante os governos do PT, apesar das denúncias de calote – só a Venezuela deixou de pagar R$ 3,45 bilhões.

“Quando você está financiando uma obra, você exporta sua engenharia. Quem começou a fazer o metrô de Caracas foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. Então, primeiro, quando o BNDES empresta dinheiro, é obrigado a contratar uma empresa brasileira. Segundo, os componentes são comprados do Brasil. Então, o que você está fazendo é estar exportando, além de receber o dinheiro de volta”, argumentou, em entrevista no Programa do Ratinho, do SBT.

Quando o apresentador mencionou os calotes sofridos pelo Brasil, Lula respondeu: “Todo mundo paga, você pode ter dificuldade aqui ou ali, mas todo mundo paga”.

Jair Bolsonaro, derrotado por Lula no domingo, reconheceu em 2019 o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, assim como outros 50 países, o que abalou as relações binacionais que já haviam começado a se deteriorar com a chegada de Michel Temer ao poder em 2016.

Relações exteriores
Após reunião com Lula, Fernández diz que petista vai à Argentina antes de posse
Por
Gazeta doPovo


O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou nesta segunda-feira (31) com o presidente da Argentina, Alberto Fernández.| Foto: Ricardo Stuckert/PT.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou nesta segunda-feira (31) com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em um hotel próximo à Avenida Paulista, na região central da capital. Fernández veio ao Brasil para cumprimentar o petista após sua vitória nas urnas no domingo (30). Os dois tiveram uma reunião a portas fechadas, e depois almoçaram juntos.

O presidente argentino publicou um breve vídeo em sua conta no Twitter em que aparece abraçando Lula. “Todo meu amor, admiração e respeito, querido companheiro. Temos um futuro que nos abraça e nos convoca”, escreveu na publicação. Após o encontro, ele fez um pronunciamento divulgado pelas redes sociais da Casa Rosada.

Segundo Fernandéz, Lula o informou que sua primeira viagem como presidente do Brasil será para a Argentina. “Ele me deu a enorme alegria de me contar que sua primeira visita será a Argentina. Me disse também que vai nos visitar antes de assumir e ele sabe que a Argentina é sua casa”, disse aos jornalistas.

“Tive uma enorme alegria ao reencontrar meu querido amigo e presidente eleito do Brasil Lula. Todos conhecem meu vínculo com Lula. O apreço, a mais alta consideração que posso ter por alguém, tenho por ele. A verdade é que não queria estar ausente hoje aqui sabendo dos momentos difíceis pelo qual ele passou”, disse Fernandéz.

“Com Lula, compartilhamos um mesmo objetivo, que é a necessidade de integração da América Latina, a necessidade de que a democracia se consolide em todo o continente, e a necessidade de que os processos eleitorais sejam devidamente respeitados”, acrescentou.

O presidente eleito também comentou o encontro com Fernandéz nas redes sociais. “A nação Argentina é um país irmão e fico feliz de retomarmos a amizade. Vamos reforçar nossa cooperação para um futuro melhor para nossos povos”, disse Lula.

O petista venceu o segundo turno da eleição presidencial com 60,3 milhões de votos (50,9%). O atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentou a reeleição, saiu teve 58,2 milhões de votos (49,1%).


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PREHUIZOS NA FAMOSA EMPRESA HOLANDESA PHILIPS

 

Sabrina Bezerra – StartSe

Empresa holandesa anunciou corte de 4 mil postos de trabalho como uma das medidas para enfrentar uma série crise

O alerta veio no balanço do terceiro trimestre: a Philips registrou prejuízo líquido de € 1,3 bilhão. Os motivos da queda foram por causa da retirada de seus aparelhos de respiração defeituosos do mercado, como também pelos desafios operacionais e de abastecimento (entenda mais adiante).

Como consequência, o grupo holandês vai demitir cerca de 4 mil funcionários em todo o mundo. Segundo a companhia, assim, espera-se economizar cerca de € 300 milhões nos próximos trimestres para enfrentar os desafios da cadeia de suprimentos.

MÁQUINAS COM DEFEITO

O prejuízo bilionário da Philips acontece após sofrer uma derrota judicial: cerca de cinco milhões de aparelhos de respiração — usados principalmente por pessoas que sofrem com apneia do sono — produzidos com defeito tiveram de ser retirados do mercado.

O equipamento, que serviria como melhoria para o sono e a respiração, se tornou um vilão ao descobrir que uma das peças poderia causar danos à saúde dos usuários por causa da liberação de químicos tóxicos. Resultou também na saída do presidente-executivo da empresa Frans van Houten.

Falhas como essa — que podem causar danos para os usuários —, refletem o caixa da empresa, como também a imagem perante à Agenda ESG, importantíssima para as empresas continuarem relevantes na Nova Economia. Falhou com o consumidor, falhou com a agenda.

FOCO NA ÁREA DA SAÚDE

A aposta da Philips (que já foi uma das maiores companhias de eletrônicos do mundo) na área de tecnologia para saúde parecia ser uma boa cartada para conquistar clientes e investidores, já que o mercado de saúde e bem-estar está indo bem. Para você ter uma ideia, segundo a McKinsey, o segmento de bem-estar chega a 1,5 trilhão.

Mas a empresa, fundada em 1891, tem visto seus planos não caminharem na direção almejada — e o recall da máquina de respiração é um dos motivos. O defeito veio à tona ano passado, apenas algumas semanas depois do grupo ter anunciado a venda de seu braço de eletrodomésticos, a divisão de produtos como Airfryer (fritadeira sem óleo), Látego (cafeteira) e Speed Max (aspirador). Ou seja, uma fonte a menos de receita.

Aparelho de respiração da Philips (Foto: reprodução)

OUTROS DESAFIOS

A companhia também enfrenta desafios de “fornecimento, pressões inflacionárias, a situação da Covid-19 na China e a guerra russo-ucraniana”, diz a empresa em comunicado.

Nestes casos — que comprovam os tempos do Mundo BANI —, é preciso buscar formas inovadoras para manter o crescimento e a competitividade no mercado.

A Philips não detalhou como deve fazer isso, mas em comunicado ao mercado disse estar engajada em “melhorar ainda mais suas operações de fornecimento, investir em qualidade, simplificar a maneira de trabalhar e remover a complexidade organizacional, o que deverá resultar em reestruturação adicional e custos associados em 2023”, afirma.

POR QUE IMPORTA?

Algumas lições: por mais que a marca tenha anos de trajetória e seja conhecida no mercado, é preciso estar preparada para o Mundo BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível) e preparar os funcionários para isso. Além disso, é preciso estar atenta à agenda ESG. Hoje, marcas e clientes priorizam marcas que seguem esses pilares. Por fim, em tempos de crise, vale explorar formas de inovar e dominar mercados que prometem movimentar bilhões. Seja com uma nova tecnologia ou nova fonte de receita, por exemplo.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

MOTIVOS DA DERROTA DE BOLSONARO E VITÓRIA DO LULA

 

Cenários e estratégias
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília


Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: Reprodução/Twitter

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República pode ser explicada principalmente pela economia e pela alta rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo dizem que os problemas na economia têm implicações sociais que alimentaram a insatisfação com Bolsonaro. E, embora Lula também tenha alta rejeição devido ao antipetismo e aos escândalos de corrupção nos governos do PT, a do atual presidente acabou sendo maior.

O sociólogo Arilton Freres, diretor do Instituto Opinião, afirma que o segundo turno foi marcado pela disputa de rejeições. Para ele, Bolsonaro enfrentava dificuldades maiores em segmentos específicos, como os jovens e as mulheres. E o ex-presidente Lula acabou se beneficiando.

“Essa eleição de segundo turno foi a batalha de rejeições. Quando Bolsonaro conseguiu sobrepor a pauta ideológica e de costumes ao debate econômico, ele fez com que a rejeição do Lula crescesse. Mas muitas eleitoras e muitos jovens eleitores, que na eleição passada votaram em Bolsonaro pensando que aquelas declarações deles eram passageiras, perceberam uma continuidade do tom agressivo por parte do presidente ao longo do mandato”, diz Freres.

Na avaliação de Lucas Fernandes, cientista político e analista da BMJ Consultoria, Lula conseguiu explorar a rejeição de Bolsonaro. “O Lula conseguiu avanços importantes, mesmo quando as pesquisas do primeiro turno não captaram que o antipetismo ainda estava muito forte na sociedade. O ex-presidente teve um desempenho melhor do que o [Fernando] Haddad em 2018. Mesmo onde ele perdeu, ele perdeu por uma diferença menor e onde ele ganhou, ele conseguiu ampliar a margem”, explica Fernandes.

Economia estava entre as prioridades do eleitor, e isso favorecia Lula
Desde o início do ano, a agenda socioeconômica – como a geração de empregos, a inflação e a insegurança alimentar – eram apontadas como as principais preocupações do eleitorado. Com base nisso, os estrategistas da campanha de Lula sempre tentaram pautar a disputa para essa área, que era desfavorável ao presidente Bolsonaro – e um dos motivos da alta rejeição dele.

Para tentar contornar esse cenário, o governo do presidente Bolsonaro aprovou medidas emergenciais como o aumento do Auxílio Brasil e a redução de impostos sobre os combustíveis. Mas os efeitos foram limitados ao melhorar a situação do eleitor, e a campanha dele apostou em outra agenda. “O presidente Bolsonaro ganhou uma musculatura no final do primeiro turno ao impor o debate ideológico, pois para ele o debate econômico era muito ruim. Ele conseguiu reduzir a rejeição, mas não ao ponto de que a do Lula fosse maior”, afirma Freres.

Na avaliação de Paulo Loiola, estrategista da Baselab Consultoria, Bolsonaro deixou a questão econômica de forma secundária na campanha, apesar de o tema ser a prioridade da população neste ano. “A condução econômica é ponto muito desfavorável a Bolsonaro e ele não conseguiu superar essa barreira. O próprio Auxílio [Brasil] foi uma questão que o Bolsonaro não defendeu no primeiro momento. Depois tentou capitalizar eleitoralmente. Mas não conseguiu”, diz Loiola. Por outro lado, o ex-presidente Lula explorou ao máximo os números econômicos de quando foi presidente – que eram mais positivos do que os atuais.

Para Marcelo Senise, marqueteiro e coordenador político da agência Social Play, a campanha petista conseguiu fazer com que o eleitor relembrasse o governo Lula e abandonasse a “tensão” do governo Bolsonaro. “O ex-presidente Lula apostou em um discurso de pacificação. Isso pega o eleitor que está fora das bolhas ideológicas. Eu acho que eles [da campanha do PT] foram muito felizes em conseguir trazer de volta a memória do eleitorado de como foi o auge do governo Lula – sobretudo na economia, em que tanto os mais pobres quanto os ricos ascenderam economicamente”, diz Senise.

Pauta da corrupção nos governos do PT não se sobrepôs à agenda de Lula 
O presidente Bolsonaro explorou durante a campanha os casos de corrupção dos governos petistas para desgastar Lula, e apostou na pauta ideológica e de costume como estratégia eleitoral. Contudo, na avaliação dos especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, Bolsonaro não conseguiu sobrepor seu discurso ao do petista.

“O Bolsonaro escolheu atacar o Lula pelo caminho da corrupção. Mas diversas pesquisas mostravam que esse tema era secundário para o eleitorado. Diferente de 2018, essa é uma eleição muito mais marcada pelo pragmatismo. E, nisso, o Lula conseguiu ser mais assertivo e dialogar melhor com o eleitorado”, diz Lucas Fernandes, da BMJ Consultoria.

Já para Arilton Freres, do Instituto Opinião, a pauta ideológica e do combate à corrupção, levantadas por Bolsonaro, teriam mais repercussão no eleitorado caso a economia estivesse melhor. Para ele, as medidas econômicas tomadas pelo governo foram tardias. “Em 2018 as eleições foram muito pautadas pela corrupção e a Lava Jato estava muito presente. Neste ano, o eleitor de fora da bolha da esquerda ou da direita estava preocupado com o bolso. Então eu acho que existiu uma certa ‘precificação’ por parte do eleitorado. Todo mundo reconhece esse tipo de problema [corrupção], mas há um sentimento que isso não é restrito ao PT. Então, esse cenário ajudou o Lula”, diz o sociólogo.

Alianças do PT atraíram eleitor de centro
Na avaliação do analista Lucas Fernandes, a aliança de Lula com o ex-tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB) funcionou do mesmo modo que a “carta aos brasileiros” que o petista redigiu em 2002 para atrair os eleitores de centro. Além disso, o apoio de Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também foi determinante para Lula atrair o eleitorado de fora da esquerda.

“Várias sugestões que a Tebet fez foram acatadas pela campanha do PT neste segundo turno. Desde a sugestão de o Lula usar menos vermelho, até levar o debate mais para o centro. Essa participação efetiva contribui para a transferência de votos, pois o eleitor que votou na Tebet no primeiro turno não necessariamente iria votar no Lula no segundo turno sem um engajamento da própria senadora”, explica Fernandes.


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LULA E O BRASIL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Lula faz seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, em São Paulo.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Em um país cuja história política é pródiga em bizarrices, podemos dizer com toda a certeza que nada supera a normalização da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Falamos de alguém que foi condenado por corrupção em dois processos, com um conjunto probatório farto, tendo ambas as condenações confirmadas por unanimidade no tribunal revisor e uma delas, também de forma unânime, mantida no Superior Tribunal de Justiça, atestando a ausência de ilegalidades processuais. E esse alguém só voltou a se tornar um ficha-limpa porque a principal corte do país inventou – e a palavra é essa mesma – um “problema de CEP”, revertendo decisões que ela mesma havia tomado sobre quem deveria julgar Lula; e uma suspeição absurda que anulou todos os atos processuais do então juiz Sergio Moro, garantindo que Lula jamais tivesse de pagar novamente pelos atos que o levaram à prisão em 2018. Por fim, essa pessoa não apenas disputou a Presidência, mas o fez com apoio maciço da sociedade civil organizada e dos formadores de opinião, que ignoraram todo esse passado para tratar Lula como uma opção aceitável – e até desejável – para o Planalto.

Mas Lula será o próximo presidente do Brasil, tendo vencido o segundo turno com quase 51% dos votos válidos, ou 60,3 milhões de votos, apenas 2 milhões a mais (ou 1,8 ponto porcentual de vantagem) que o atual mandatário, Jair Bolsonaro. Em seu primeiro pronunciamento após a confirmação do resultado, Lula ressaltou sua “ressurreição” política e destacou “um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias”, já que sua campanha acabou conquistando o apoio de diversas outras forças políticas. O arco construído por Lula inclui antigos críticos – a começar pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, que enfrentara Lula em 2006 – e antigos criticados, caso de Marina Silva, vítima de uma campanha sórdida do petismo em 2014, e dos economistas responsáveis pelo Plano Real. Muitos deles, é verdade, guiados mais pelo antibolsonarismo que por algum entusiasmo em relação a Lula.

Para que Lula e o PT façam uma boa gestão, terão de renegar tudo o que o partido defende historicamente tanto em termos econômicos quanto sociais

Esta não foi, no entanto, uma eleição marcada pelo equilíbrio que desejaríamos para uma disputa tão acirrada. Não porque tenha havido fraudes ou irregularidades, nem por causa do apoio maciço a Lula na imprensa e na sociedade civil (pois faz parte do jogo democrático que esses setores possam ter e manifestar sua opinião), mas porque a autoridade a quem caberia garantir a igualdade de armas entre os candidatos falhou em sua missão. Independentemente da intenção e das convicções dos ministros do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda que eles estivessem plenamente convencidos de que estavam defendendo a democracia e apenas combatendo a mentira, o fato é que eles introduziram uma distorção grave no pleito com suas decisões. A Constituição foi atropelada com a instituição da censura, incluindo a ainda mais vergonhosa censura prévia; fatos verídicos, mas inconvenientes a respeito de Lula não puderam ser veiculados, enquanto à campanha petista permitia-se praticamente tudo, graças a uma duplicidade de critérios aplicados a cada candidato. O debate não foi livre como deveria ter sido, e esta é uma mancha que não tem como ser removida da história desta eleição.

O que desejar para um Brasil governado por Lula? O que se espera é que o petista faça um bom governo; se ele governar mal, todos os brasileiros sofrerão as consequências, independentemente de quem tenham escolhido, e o Brasil não merece o retorno aos tempos de crise econômica, social e moral vividos até não muito tempo atrás. Mas também é preciso sermos realistas: para que Lula e o PT façam uma boa gestão, terão de renegar tudo o que o partido defende historicamente tanto em termos econômicos quanto sociais. É possível que isso ocorra? Em primeiro lugar, será preciso definir se as alianças costuradas por Lula em sua campanha serão efetivamente levadas em consideração, puxando o próximo governo mais para o centro, ou se serão descartadas, agora que o objetivo principal já foi atingido. Isso será conhecido apenas à medida que a equipe do próximo presidente for divulgada, especialmente em pastas-chave como Economia, Saúde, Educação, Infraestrutura e os ministérios ligados a políticas sociais.


A segunda barragem que pode evitar uma guinada forte à esquerda do novo governo está no Congresso. Certamente o habitual oportunismo político ajudará Lula a construir uma maioria, com partidos que hoje estão na base aliada de Bolsonaro migrando, totalmente ou ao menos em parte, para o apoio ao próximo presidente. Mas, a julgar pelo perfil dos parlamentares eleitos, não é certo que Lula tenha vida fácil no Congresso, especialmente no Senado. E basta uma das casas para frear qualquer loucura socioeconômica ou identitária que o petismo queira implantar e que necessite do aval do Legislativo. É o tipo de cenário que pode levar ou a um maior senso de responsabilidade da parte do governo, que passaria a propor pautas mais razoáveis, ou a um impasse, com a insistência do Planalto na radicalização sendo barrada no Congresso. Mas uma relativa paralisia ainda será muito melhor para a nação que um passe livre para a implantação da pauta econômica e social da esquerda.


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60 MILHÕES DE BRASILEIROS DISSERAM QUERO ISSO DE VOLTA

 

Eleições

Por
Alexandre Garcia


Lula faz seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, em São Paulo.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Muita gente, assim como eu, fica sem entender como é que 60 milhões de eleitores brasileiros disseram “eu prefiro a volta daqueles 14 anos”. Foi o tempo da maior roubalheira que o país já teve. A maior da história. Todos os escândalos, ministros presos, tesoureiros do PT presos. O próprio ex-presidente foi preso. A presidente foi “impichada”. Foi um escândalo atrás do outro.

E isso envolveu estatais, ministérios, empreiteiras pagando propina, tudo. E 60 milhões de brasileiros disseram “eu quero isso de novo”. Não dá para entender. Eu me lembro do Alckmin dizendo que Lula queria voltar à cena do crime, que era a volta dele ao poder. Está aí, Alckmin hoje é o vice-presidente da República a partir do próximo dia 1.º de janeiro.

Não contesto o resultado da eleição. Mas ele mostra que o Brasil está dividido. Foi meio a meio, 51 a 49, praticamente. Mas eu fico sem entender. Por que as pessoas, já tendo conhecido, já sabendo como é um governo do PT, quiseram isso de volta? É difícil de a gente entender. Tem muita gente que diz que as pessoas votam nos candidatos com os quais mais se identificam pelo caráter. Aí é até meio cruel imaginar uma coisa dessas. Mas está aí o resultado. Na democracia cada pessoa vale um voto.

Foi o Nordeste que deu a vitória a Lula
E foi o Nordeste que deu a vitória para o Lula. A diferença no Nordeste foi tão grande que Bolsonaro não conseguiu anular essa diferença em São Paulo, nos estados do Sul, no Rio de Janeiro, no Centro-Oeste. Em Minas Gerais foi praticamente empatado. Antes, estranhamente, Lula havia ganho de Bolsonaro, embora os eleitores mineiros tivessem reeleito Romeu Zema.

Para governador, a grande surpresa foi no Rio Grande do Sul. O PSDB reelegeu Eduardo Leite, que renunciou para ser candidato a presidente da República e disse que não ia ser mais candidato lá, mas convenceu os gaúchos e vai ser de novo governador.

Presidente eleito vai ter oposição muito grande
Como serão esses quatro anos? Em 2 de outubro a centro-direita teve 70% da Câmara dos Deputados e 67% do Senado. É capaz até de fazer mudanças na Constituição, que exigem 60% nas duas casas, e já tem mais que isso.

O novo presidente terá uma oposição muito grande. Sem contar os governadores que foram eleitos e que estão afinados com Bolsonaro. Certamente Bolsonaro será o grande líder da oposição nesses próximos anos. E o novo Senado vai querer saber por que o Supremo Tribunal Federal saiu da Constituição por tantas vezes, assim como o Tribunal Superior Eleitoral.

Poderes estabelecidos pela Constituição são independentes

Não serão anos fáceis. O primeiro ano, acho, vai ser muito conturbado. É o que aparenta. Vamos, enfim, aguardar o que pode acontecer, mas foi um resultado que, de novo, mostra um país dividido. E os brasileiros estão com ânimos exacerbados. A gente tem visto confrontos nas ruas, numa espécie de raiva um do outro.

Não vou discutir vitimismo, ou dizer que Bolsonaro foi massacrado pelo STF, pelo TSE, por grande parte da mídia. Não vou discutir isso. Mas vou discutir outras coisas. Falando com ministros do STF, assim como com ministros aposentados, estão achando tudo muito estranho da forma como foi feito.

Inventaram uma territorialidade lá que nunca foi aplicada na história do Brasil. Exigiram a anulação de um processo porque não foi para o endereço certo. Isso depois de condenações e revisões do processo. O condenado já estava pagando, cumprido pena. Nunca se viu isso na história do Judiciário. Essa territorialidade é aplicada quando se está no início de um processo, quando se descobre isso antes de haver um encaminhamento maior do processo.

Os juízes sabem muito bem disso, os estudantes de Direito também. Mas, enfim, são coisas que têm de ser resolvidas à luz da Constituição, que diz, no seu segundo artigo, que há poderes independentes. Um é o Judiciário, outro é o Legislativo, que de tão importante vem até em primeiro lugar. O Legislativo é o que faz as leis, é o que pode mudar a Constituição, se não for cláusula pétrea. E não o Judiciário. São coisas que precisam ser resolvidas. O Ministério Público precisa voltar a ter o papel que foi deixado de lado. Se não, vamos continuar fora da lei.


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TSE COM A SUA DITADURA ELEGEU O LULA

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: EFE

Após uma eleição sem precedentes na história desse país, com o TSE na função de elemento mais importante do processo, em vez de ser apenas o seu organizador, o ex-presidente Lula foi declarado vencedor pelas autoridades, com cerca de 1% de vantagem; aparentemente a maioria do eleitorado achou que a melhor solução para os problemas do Brasil, neste momento, é colocar na presidência da República um político condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É a primeira vez que uma coisa dessas acontece. É, também, a primeira vez que o alto judiciário deu a si próprio, sem autorização do Congresso ou de qualquer lei em vigor no país, poderes de exceção para mandar do começo ao fim o processo eleitoral. É a primeira vez, enfim, que o TSE tem um candidato – no caso, o candidato que ganhou, justamente ele.

A questão não é definir se Lula, ou Bolsonaro, são bons ou maus para o Brasil, se a eleição foi justa ou se os brasileiros tomaram a decisão mais certa. Eleição não é um concurso para escolher o melhor, nem uma questão de justiça ou um teste de inteligência. Trata-se, exclusivamente, de um sistema para a população adulta dizer quem deve governar o país. Mas aí é que está o problema central com as eleições presidenciais de 2022 – quem tem de escolher é o eleitorado, e não o TSE. Não foi o que aconteceu. Antes mesmo da campanha começar, o complexo STF-TSE decidiu que cabia a ele nomear quem era o melhor para o país; está fazendo isso, na verdade, desde o primeiro dia do atual governo. O presidente Jair Bolsonaro, no seu entender, não poderia ser reeleito, em nenhuma hipótese; isso seria a destruição da “democracia”, e não se pode permitir que a democracia seja destruída, não é mesmo? Para salvar a “democracia”, então, os ministros se sentiram autorizados a violar a Constituição, as leis brasileiras e os direitos dos cidadãos. É esta a história das eleições que acabam de ser decididas. Lula foi eleito, num ambiente de ditadura – uma ditadura do judiciário.

É a primeira vez, enfim, que o TSE tem um candidato – no caso, o candidato que ganhou, justamente ele.

A Gazeta do Povo esteve sob censura, assim como outros órgãos de imprensa. É absolutamente ilegal: em que lei está escrito que o TSE pode exercer poderes de censor? Não pode; ninguém pode. Também não pode manter aberto um inquérito criminal perpétuo para perseguir quem o ministro Alexandre de Moraes decreta que é inimigo da “democracia”. Não pode decidir quase o tempo todo a favor de um candidato, e quase o tempo todo contra o outro. Não pode definir o que é “falso” e o que é “verdade” – e nem proibir a divulgação de fatos verdadeiros contra o candidato da sua preferência, com a alegação de eles levam “a conclusões erradas”. Não pode impedir que as pessoas se manifestem, sem cometer crime algum, pelas redes sociais. Que raio de “eleição livre” é essa, quando a polícia pode invadir a sua casa às 6 horas da manhã por que o ministro Moraes, com base numa notícia de jornal, decidiu perseguir empresários que apoiam o presidente da República? Qual é a liberdade de expressão de uma campanha eleitoral em que é proibido mostrar imagens de eventos notoriamente públicos, como foram as manifestações em favor do presidente no dia Sete de Setembro – ou um vídeo em que um ex-ministro do próprio STF explica, juridicamente, por que Lula não foi absolvido de crime nenhum na justiça brasileira?

Todos esses fatos, e mais dezenas de outros, foram empurrados para debaixo do tapete, sempre com a mesma desculpa cívica – OK, a lei pode não ter sido respeitada nesses casos, mas não se pode ficar falando em lei etc. etc. etc. quando “a democracia” está em jogo – e para a dupla STF-TSE, mais as forças que estão a seu lado, ameaça à democracia é a possibilidade do candidato adversário ganhar a eleição. Nesse caso, a “democracia” tem de ficar acima de qualquer outra consideração; sim, estamos violando a lei e tirando do eleitorado o direito soberano de decidir quem vai presidir o Brasil, mas isso é para o ”bem”, o interesse de “todos” e a felicidade geral da nação. Nunca sai nada de bom desse tipo de coisa.

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LULA PROMETE RECRIAR MINISTÉRIOS

 

Mas diz que não quer governo ‘requentado’

Foto: NELSON ALMEIDA/AFP

Por Vera Rosa – Jornal Estadão

Presidente eleito planeja nomes em ascensão na política, como o de Tebet; acenos ao Centrão são vistos como essenciais

BRASÍLIA – O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai montar uma equipe com mais ministros, mas disse que seu terceiro mandato não será “requentado”. O plano de Lula é chamar nomes em ascensão na política e na economia para integrar o seu ministério. A estratégia não significa, porém, fechar as portas para o Centrão, grupo associado à prática do “toma lá, dá cá”.

A negociação com partidos do bloco que hoje dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro, principalmente com o PP, o PL e o Republicanos, é vista como fundamental para construir acordos no Congresso, que terá maioria conservadora a partir de 2023. Convencido de que não conseguirá acabar com o orçamento secreto tão cedo, o petista tentará um arranjo para que deputados e senadores direcionem os recursos a uma lista de projetos prioritários do governo.

A nova configuração da Esplanada prevê o aumento dos atuais 23 ministérios para 34. Trata-se de uma conta preliminar, que pode sofrer alterações com a criação de secretarias especiais.

A entrada da senadora Simone Tebet (MDB-MS) no primeiro escalão é dada como certa. Ela saiu da disputa presidencial em terceiro lugar e, três dias depois, aderiu à campanha de Lula. A senadora gostaria de comandar a Educação, pasta que sempre foi cobiçada pelo PT. O presidente eleito já disse, porém, que seu partido terá de abrir mão de assentos na Esplanada para a “frente ampla”.

Participação de Simone Tebet é vista como certa no novo governo
Participação de Simone Tebet é vista como certa no novo governo  Foto: Carla Carniel/REUTERS

Lula desmembrará o Ministério da Economia, e a ideia é rebatizá-lo como Fazenda. Com a divisão, serão recriados Planejamento e Gestão, além de Indústria e Comércio. Ex-governador do Maranhão, o senador eleito Flávio Dino (PSB) pode ficar com Justiça, que, se tudo correr como o roteiro previsto, será separada de Segurança Pública.

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O novo governo terá ainda o Ministério dos Povos Originários, e há projetos para refundar Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Cultura, Cidades, Igualdade Racial, Pesca, Direitos Humanos e Mulheres – os dois últimos em outro formato.

Na avaliação de Lula, a equipe econômica deve ser comandada por um político. Foi assim que Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, acabou alçado à Fazenda no primeiro mandato do petista, em 2003, e chegou à Casa Civil sob Dilma Rousseff, em 2011, até cair em desgraça, no rastro de escândalos.

O teto de gastos será revogado e a nova âncora fiscal em estudo prevê a retomada do superávit primário como novo balizador das contas públicas. Desta vez, porém, é provável que a meta seja flexível, combinada com uma “licença” para gastar e cumprir compromissos, como o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600. Pelos cálculos de economistas consultados pelo presidente eleito, o rombo a ser herdado ficará na casa de R$ 400 bilhões.

“É impossível detalhar a nova âncora fiscal sem as contas na mão”, disse o deputado Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde no governo Dilma. “Não temos o diagnóstico definitivo da tragédia de Bolsonaro para o País”, argumentou ele.

Flávio Dino é um dos nomes cotados para o Ministério da Justiça
Flávio Dino é um dos nomes cotados para o Ministério da Justiça Foto: MARCOS CORRÊA/PR

COTADOS

Padilha é um dos nomes cotados para comandar a Economia. Constam ainda da lista, o ex-prefeito Fernando Haddad, que perdeu a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o senador eleito Wellington Dias e o governador da Bahia, Rui Costa, todos do PT. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, presidente do Banco Central na gestão Lula, poderá ocupar outro cargo, ainda não definido. O secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, deve ir para o Tesouro.

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O desenho da Casa Civil está em estudo. Haddad também é lembrado para essa cadeira se a pasta tiver perfil mais técnico, como era quando Dilma foi ministra. Lula ainda não escolheu quem será o articulador político do governo.

Há nomes que o presidente eleito vê como curingas. Além de Haddad, este é o caso de Wellington Dias, que administrou duas vezes o Piauí; do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); da deputada eleita Marina Silva (Rede), ex-ministra do Meio Ambiente; e dos senadores Jaques Wagner (PT) e Randolfe Rodrigues (Rede).

Dois xarás com grafias diferentes também estão no xadrez de Lula: o ex-chanceler Aloysio Nunes, primeiro nome do PSDB a apoiar o petista, e o ex-coordenador do programa de governo Aloizio Mercadante (PT), que foi ministro da Educação, da Ciência e Tecnologia e da Casa Civil na gestão Dilma. Mas o presidente eleito avisou a aliados que, antes de definir posições nesse jogo, precisa pôr a lupa sobre o resultado das eleições nos Estados.

LULA JÁ NÃO GOVERNA. É GOVERNADO PELAS REDES SOCIAIS

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