domingo, 16 de outubro de 2022

HOJE TEREMOS O PRIMEIRO DEBATE ENTRE LULA-BOLSONARO

 

Estratégia eleitoral

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


Jair Bolsonaro durante o debate da TV Band do primeiro turno.| Foto:

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) definiu que ele irá a todos os debates do segundo turno com a estratégia de confrontar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E isso será colocado em prática já neste domingo (16), durante o debate promovido pela TV Band juntamente com um pool de veículos de comunicação, a partir das 20h.

Aliados políticos e coordenadores eleitorais de Bolsonaro dizem que o candidato à reeleição não terá como fugir do embate e vai explorar temas como os escândalos de corrupção nas gestões petistas, a crise econômica no governo de Dilma Rousseff (PT) e pautas de costumes, como o aborto.

Estrategistas de campanha dizem que Bolsonaro também buscará mostrar resultados de seu governo. Mas admitem que mesmo a defesa das realizações da atual gestão deve vir acompanhada de elevações no tom da voz e discursos agressivos para acuar e irritar Lula, sobretudo em possíveis comparações com o governo Dilma.

O deputado federal Coronel Armando (PL-SC), vice-líder do partido na Câmara e ex-vice-líder do governo, entende que essa estratégia é correta. “Bolsonaro tem números para indicar; ele tem condições de apresentar o serviço. O Lula está na expectativa do passado; e o passado dele não dá para desassociar do da Dilma. Ele sempre tenta se desassociar dela. Quando Lula apresentar qualquer coisa, o Bolsonaro vai falar do governo dela, que contamina a situação do PT”, diz o aliado do presidente.

Campanha diz que Bolsonaro está preparado para embates com Lula
Da pauta econômica à de costumes, coordenadores de Bolsonaro indicam que o presidente está preparado para os embates e sabe como dosar as críticas a Lula com a defesa de seu governo.

O próprio presidente deu sinalizações disso em ato de campanha em Balneário Camboriú (SC), na terça-feira (11), ao dizer que questionaria o petista sobre sua relação com o mercado financeiro. “Há poucos dias, um cara [Lula] falou que, ‘se o Bolsonaro ficou feliz que o mercado ficou feliz, comigo o mercado não ficará feliz’. Isso o outro lado falou. Eu gostaria de perguntar a esse outro lado – e será perguntado por ocasião do debate – onde é que não existe mercado que o povo vive feliz? Não existe em lugar nenhum do mundo. Essas pautas econômicas vocês sentem aqui. O desemprego, com uma taxa cada vez menor, um Produto Interno Bruto (PIB) cada vez maior”, disse Bolsonaro.


A fala de Lula a que o presidente se referiu não foi dita há poucos dias, mas em outubro de 2017. Na ocasião, o petista comentou uma entrevista de quando Bolsonaro ainda era pré-candidato à Presidência ao jornal Folha de S. Paulo, ocasião em que se posicionou como liberal. “Eles conversaram com o Bolsonaro e o Bolsonaro agradou o mercado. Eu vou dizer uma coisa, meu filho. Se o Bolsonaro agrada o mercado, nós, do PT, temos que desagradar o mercado, porque nós não combinamos”, disse o ex-presidente em um seminário sobre educação pública promovida pela Fundação Perseu Abramo.

Bons números da economia devem ser destacados no debate
A provável abordagem de Bolsonaro sobre o mercado financeiro é um exemplo de como ele pretende confrontar Lula sem abdicar de falas que enalteçam as realizações de seu governo. A defesa da agenda da liberdade econômica foi uma estratégia traçada junto aos coordenadores eleitorais para desafiar o ex-presidente a se posicionar sobre um tema no qual a campanha julga que o candidato à reeleição pode se sair melhor.

O intuito de Bolsonaro e de seus estrategistas eleitorais é posicionar o governo como defensor de uma agenda econômica que auxiliou a pavimentar a recuperação da economia mesmo após a pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia. Mesmo que parte da recente reação da atividade tenha vindo por injeção de gastos públicos e isenções tributárias, a campanha sustenta que a medidas adotadas ao longo da atual gestão, como a Lei da Liberdade Econômica e as concessões, foram determinantes para atrair investimentos e gerar empregos.

A tentativa de Bolsonaro em induzir Lula a falar sobre o mercado financeiro mostra o intuito de posicionar seu governo como aquele que melhor apresenta aos eleitores uma estabilidade econômica sustentável em confronto à crise econômica provocada pela gestão Dilma. O presidente ocasionalmente citará a crise econômica na Argentina e em outros países da América Latina governador pela esquerda como um “alerta” sobre os riscos que um novo governo do PT poderia representar ao país.

Corrupção e pauta de costumes serão usadas por Bolsonaro para se contrapor a Lula
A mesma lógica de ser propositivo e defender seus valores deve se aplicar aos prováveis embates de Bolsonaro sobre corrupção, as ações de seu governo na área social e também na pauta de costumes.

É provável que o presidente diga que estatais obtiveram lucro em sua gestão e que seu governo teve recursos para concluir obras como a transposição do Rio São Francisco, além de socorrer os mais vulneráveis com programas como os Auxílios Brasil e Emergencial.

Na pauta sobre aborto e legalização das drogas, por exemplo, Bolsonaro deve abordar no debate que seu governo defende a vida desde a concepção e que o índice de homicídios caiu. Ao mesmo tempo, vai acusar Lula de defender o aborto e de ter a preferência de presidiários, como sua campanha diz na propaganda eleitoral na TV.

Em comício em Recife, na quinta-feira (13), Bolsonaro deu mais sinais do que pode falar em debate. “Vocês sabem que, no próximo dia 30, temos um encontro com as urnas. De um lado, um presidente que é pelo livre mercado. Do outro lado, um presidente que é pelo Estado opressor, corrupto. Do lado de cá, tem um presidente que preserva a vida desde a sua concepção”, afirmou. Ele também disse ser contra a legalização das drogas e a ideologia de gênero.

Como Bolsonaro irá reagir a possíveis acusações de Lula no debate
Dentro da preparação de Bolsonaro para os debates, interlocutores da campanha asseguram que ele está pronto para rebater as ofensivas de Lula. Caso seja abordada a relação feita pelo presidente sobre a vitória do petista no Nordeste no primeiro turno ao analfabetismo dos nordestinos, a ideia é falar sobre diferentes entregas de seu governo na região. Também vai dizer que escolheu ministros nordestinos, e que é casado com a primeira-dama Michelle, filha de um nordestino.

Se seu governo for acusado de corrupção no Ministério da Educação, Bolsonaro deve alegar que não há nada comprovado até o momento e que o ex-ministro Milton Ribeiro pediu afastamento e tomou a iniciativa de pedir que a Controladoria-Geral da União (CGU) abrisse investigação sobre o caso.

Se o questionamento for a respeito da compra de imóveis por familiares, Bolsonaro vai negar quaisquer irregularidades e comentar que, na escritura dos bens, consta “moeda corrente” e que isso não significa somente “dinheiro vivo”.

Caso seja confrontado sobre acusações de “rachadinha”, é provável que fale que a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Todas as possíveis acusações que Lula venha a fazer sobre corrupção contra Bolsonaro serão rebatidas com falas sobre escândalos nas gestões petistas.

Bolsonaro também vai rebater Lula caso o petista acuse o presidente de já ter defendido o aborto de um dos seus filhos em uma entrevista. A campanha diz que o candidato à reeleição se colocará como o defensor dos valores cristãos, que nunca foi a favor do aborto e que o trecho da entrevista foi tirado de contexto.

Em caso de ser indagado sobre a condução da pandemia no debate, Bolsonaro deve destacar que as vacinas contra a Covid-19 foram compradas por seu governo e que as ações para mitigar os impactos da doença foram adotadas, como o Auxílio Emergencial. Nesse ponto, é provável que ele volte a repetir ter sido contra a “política do fique em casa, a economia vem depois”. E dirá que a economia está reagindo.

Como é a preparação de Bolsonaro para o debate
Interlocutores da campanha dizem que não há novidades em relação à preparação que já era feita em relação aos debates do primeiro turno. Eles explicam que Bolsonaro não costuma fazer nenhum tipo de treinamento específico. Mas é municiado com informações e dados por seus conselheiros em cada debate.

Pessoas próximas do presidente dizem que ele organiza as próprias ideias, mas sempre escuta aliados e estrategistas com antecedência. Ele costuma conversar com o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (Republicanos) e profissionais de marketing da campanha, além de coordenadores eleitorais, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e seu vice na chapa, general Braga Netto.

O deputado Coronel Armando acredita que Bolsonaro chega preparado para os debates. “Você num nível desses tem que trabalhar até dentro do jogo sujo. É ‘porrada’ mesmo, e eu acho que o presidente vai preparado, até porque ele leva vantagem de estar há quatro anos sendo acuado pela imprensa. Ele já está com casco mais grosso. Por mais que o Lula fale que seja um cara experiente, ele passou muito tempo afastado, não está tarimbado para responder como o Bolsonaro”, diz o deputado.

Deixe sua opinião
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/bolsonaro-vai-para-o-confronto-com-lula-no-primeiro-debate-do-segundo-turno/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

GUERRA NA UCRÂNIA SERÁ UM ESTOPIM PARA UMA GUERRA NUCLEAR?

 

Escalada

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo


Morador de Kyiv observa marca de cratera, já preenchida com terra, em passagem de pedestres debaixo da ponte de vidro, uma das atrações turísticas da capital ucraniana| Foto: Luis Kawaguti

A nova onda de bombardeios feitos pela Rússia na Ucrânia nesta semana me levou de volta à Europa, para continuar a cobertura da guerra no terreno. Após cinco meses escrevendo Jogos de Guerra na segurança da cidade de São Paulo, cruzar a fronteira da Polônia para a Ucrânia na sexta-feira (14) foi uma experiência difícil, que trouxe muito temor.

Muita coisa aconteceu entre setembro e outubro no conflito: os ucranianos libertaram uma vasta área invadida pelos russos no nordeste e no sul do país e tomaram a iniciativa na guerra. O presidente Vladimir Putin decretou “mobilização parcial” e recrutou mais de 220 mil soldados, que já começaram a ser mandados aos poucos para o campo de batalha.

Há uma semana, a ponte que liga a península da Crimeia (sob o controle de Moscou desde 2014) ao território russo foi dinamitada e parcialmente destruída. O Kremlin culpou forças ucranianas e, em retaliação, realizou bombardeios em toda a Ucrânia durante quatro dias seguidos – que deixaram 30 mortos.

O conflito claramente passa por uma escalada de intensidade.

Mas o fator mais inquietante se materializou nas declarações de Putin e de seus assessores: a possibilidade da Rússia usar armas nucleares táticas contra os ucranianos. A OTAN (aliança militar ocidental) respondeu afirmando que, se isso acontecer, lançará um ataque convencional de grandes proporções para varrer as forças russas da Ucrânia.

Foi a primeira vez desde o fim da Guerra Fria que uma potência ameaçou, de fato, lançar mão de armamento nuclear. Os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnã e não usaram armas nucleares. Os russos foram derrotados em sua campanha militar no Afeganistão e não quebraram o chamado “tabu nuclear”.

Como a maior parte dos brasileiros, fiquei chocado com a possibilidade de uma guerra nuclear. Mas a distância de milhares de quilômetros do campo de batalha dava a essa ameaça uma certa impressão de retórica belicista, sem grande possibilidade de se concretizar.

Mas essa perspectiva muda completamente quando se está prestes a cruzar a fronteira da Ucrânia.

A possibilidade de ataques aéreos em qualquer lugar do país sempre existiu nesta guerra e, em muitos momentos, a Rússia não fez distinção entre alvos civis e militares. Posso afirmar isso com certeza, pois em abril estava em um carro de imprensa identificado em inglês e em russo que foi alvo de estilhaços de morteiro na região de Zaporizhzhia. Felizmente, ninguém se feriu na ocasião.

Mas o fato é que enfrentar a possibilidade teórica da aniquilação massiva por meio de uma bomba nuclear tática me provocou uma reação física, a náusea, nos dias que antecederam minha viagem para a Ucrânia. E essa sensação ainda não passou.

Cruzar a fronteira terrestre sempre dá medo. Na primeira vez, em 1º de março deste ano (a guerra havia começado cinco dias antes), entrei na Ucrânia em um trem de refugiados. Ele ia de Lviv até a Polônia levando centenas de ucranianos e depois retornava quase vazio – levando apenas combatentes voluntários e jornalistas.

Na última sexta-feira, peguei um ônibus em Lublin, na Polônia, com destino à capital ucraniana, Kyiv. A viagem começou na madrugada. No ônibus, a maioria dos passageiros eram mulheres e crianças que retornavam para seu país. Desde o início da guerra, os homens foram proibidos de sair. Eles têm que ficar para defender a pátria.

Ou seja, mesmo com a nova onda de ataques, essas pessoas voltavam para casa, para se reunir com familiares. A coragem delas me motivou a entrar no ônibus também. Afinal, é disso que se trata a cobertura jornalística em uma guerra: mostrar o que acontece à população civil, retratar seus sofrimentos e esperanças.

A viagem começou com o ônibus em silêncio quase absoluto – quebrado apenas por música americana que o motorista ouvia baixinho. Uma jovem sentada perto disse que saiu da Ucrânia há alguns meses, mas agora seus parentes disseram que é seguro voltar para Kyiv. Ela viajava só. Como eu, tentava obter informações sobre a situação de segurança em Kyiv por um aplicativo de mensagens no telefone celular. Algumas fileiras de cadeiras para trás, um grupo de senhoras consumia um lanche preparado para aguentar as 14 horas de viagem.

A alguns quilômetros da fronteira, contei mais de 550 caminhões à espera para entrar na Ucrânia. Eles transportavam carros, máquinas agrícolas e possivelmente uma série de bens que a combalida economia ucraniana não é mais capaz de produzir.

O presidente Volodymyr Zelensky disse que, se a guerra acabasse agora, seriam necessários US$ 57 bilhões para reconstruir a Ucrânia. O Fundo Monetário Internacional estima que o país vai precisar receber entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões de ajuda mensal em 2023 para continuar funcionando.

O processo de checagem de passaportes e malas, tanto do lado polonês como do lado ucraniano da fronteira, levou cerca de quatro horas, mas transcorreu normalmente.

No meio da madrugada, as barricadas ucranianas começaram a aparecer na rodovia na medida em que o ônibus se deslocava. Todas elas cobertas por redes de camuflagem já batidas pelo tempo – que agora se assemelham a farrapos. Os soldados se aqueciam em fogueiras acesas dentro de latões de diesel. No termômetro do ônibus, 7ºC do lado de fora.

Na entrada de Zhytomyr, ao sul de Kyiv, as tropas ucranianas posicionaram canhões antitanque nas barricadas.

Ao amanhecer, os campos ucranianos ficaram cobertos por uma forte névoa. Para um jornalista interessado em assuntos de guerra, é impossível não pensar no seu maior teórico, o prussiano Carl Von Clausewitz. Em uma interpretação livre, ele falava que numa guerra mesmo as coisas mais simples são difíceis de se realizar. E essas dificuldades vão se acumulando e gerando cada vez mais atrito.

Assim, até as coisas mais simples, como se deslocar pela cidade, comprar mantimentos e trabalhar, têm que ser bem planejadas. Em caso de ataque aéreo, é preciso estar perto de um abrigo ou bunker. Nos últimos meses, muitas pessoas às vezes ignoravam as sirenes de ataque, mas isso mudou com os bombardeios desta semana.

Já a névoa – formada pela pólvora no campo de batalha – era a referência de Clausewitz à guerra ser o terreno da incerteza.

Apesar da neblina ter se dissipado com a chegada do sol da sexta-feira, a incerteza sobre o futuro do país permanece nos corações ucranianos. Não é possível dizer se haverá ataque nuclear, se as tropas russas vão avançar sobre mais terreno ucraniano ou se a paz ainda está ao alcance.

Já em Kyiv, notei que muitas barricadas e postos de controle haviam sido retirados das ruas em comparação à última vez que estive aqui, em maio. Cruzamentos antes interrompidos por redes de trincheiras agora dão lugar a um grande fluxo de veículos, como em qualquer grande cidade.

Na capital, os cidadãos não parecem mais temer uma invasão com blindados e tropas. A ameaça vem do céu, na forma de mísseis de cruzeiro e drones suicidas. A OTAN promete agora novas e modernas defesas antiaéreas, como o Íris-T, um sistema de baterias antiaéreas alemão de longo alcance, que promete proteger as cidades dos mísseis russos.

Mas por si só tais sistemas não resolvem o problema – pois devem acabar saturados pela quantidade de foguetes e drones disparados pela Rússia ao mesmo tempo. A OTAN diz então que enviará “jammers” ao campo de batalha, aparelhos que inutilizam os drones com ondas eletromagnéticas.

Ao chegar a Kyiv, fui à ponte de vidro, uma das principais atrações turísticas da capital. Ela conecta o parque de Khreshchaty com a colina de São Volodymyr. Ela foi alvo de um dos 75 mísseis disparados pelo Kremlin contra a Ucrânia na segunda-feira (10) – quando os ataques foram mais intensos.

Um míssil errou a estrutura da ponte e destruiu uma passagem de pedestres abaixo dela. Quando cheguei, vi que a cratera do míssil já estava cheia de terra e uma mureta havia sido restaurada. Mas marcas de fuligem ainda estavam presentes na ponte.

A estudante Anita Nikivorolova, que foi com um grupo de amigos ver como ficou a ponte, explicou o sentimento dos ucranianos. “Essa ponte foi construída com o aço de Azovstal”, disse, em referência à siderúrgica que por três meses foi o bastião da resistência ucraniana em Mariupol.

“É importante ela estar de pé. Eu acho isso muito simbólico, porque mostra que o povo ucraniano é resistente como o aço desta ponte”, disse.

Comecei a entender então que a coragem que esse povo demonstrou no começo da guerra não se arrefeceu, nem mesmo após tantas ameaças nucleares e chuvas de mísseis.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jogos-de-guerra/de-volta-a-ucrania-sob-o-terror-nuclear/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O POVO BRASILEIRO PREFERE OS MÉTODOS DA DIREITA

 

A direita desperta
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília


Dezenas de milhões de brasileiros deixaram de lado o receio de manifestar visões políticas de direita.| Foto: Peter de Vink/Pexels.com

Até pouco tempo atrás no Brasil, intelectuais que defendiam publicamente valores conservadores tendiam a ser condenados ao ostracismo; discursos pró-vida e pró-família eram raros no Congresso; sociais-democratas eram chamados de “neoliberais”; defensores de um liberalismo autêntico não tinham voz em decisões sobre a economia do país; e os cidadãos de direita, receosos de manifestar sua opinião, eram sub-representados nas casas legislativas. Este período da história política nacional acabou.

O aumento expressivo no número de parlamentares direitistas eleitos em 2022 – quatro anos depois do pleito de 2018, que já tinha mudado a cara da Câmara e do Senado – mostra que o crescimento da direita no Brasil não é uma onda passageira, mas um fenômeno sólido. O conservadorismo se tornou uma alternativa política real. É possível que muitos dos congressistas eleitos na carona da nova direita abandonem o barco nos próximos anos – como já ocorreu na legislatura atual –, mas é inegável que visões de mundo silenciadas na opinião pública e na política por algumas décadas estão ganhando rapidamente espaço e representatividade.

E a nova composição do Congresso é somente a ponta do iceberg daquilo que ocorre na sociedade brasileira. O engajamento de grande parte da população em torno de um conjunto de valores de direita tem ficado evidente, por exemplo, em megamanifestações que levam milhões às ruas do Brasil, como a ocorrida no último dia 7 de setembro. Nas redes sociais e em alguns meios de comunicação, nunca houve defesa tão explícita e frequente de visões conservadoras.

Os canais de direita têm sucesso estrondoso no YouTube, a ponto de o sistema de recomendações da plataforma ter despertado preocupação na cúpula do Judiciário e em veículos de comunicação de esquerda. E são cada vez mais comuns as iniciativas de empresas de mídia, associações e ONGs com valores abertamente direitistas.

Nas igrejas cristãs, um movimento pela defesa de costumes e valores tradicionais ganha força. Pastores evangélicos, sacerdotes católicos e leigos com influência no mundo digital tornam acessíveis algumas ideias basilares da civilização ocidental que tendiam a ser sufocadas no ecossistema de comunicação anterior às redes sociais. O efeito no cenário político é evidente: os fiéis procuram candidatos que respaldem bandeiras condizentes com aspectos de sua fé.

Nos próximos dias, a Gazeta do Povo publica uma série de reportagens sobre o despertar da direita no Brasil. Neste primeiro artigo, explicamos como o fenômeno está sendo gestado há praticamente duas décadas e por que ele é mais do que uma onda momentânea.

Como a nova direita rompeu a espiral do silêncio no Brasil
Uma conjunção de fatores fez a nova direita brotar no Brasil, e há diferentes visões sobre que personagens e acontecimentos teriam sido mais importantes para isso; mas, qualquer que seja a opinião sobre a relevância de cada elemento na gestação do fenômeno, há dois fatores que não podem faltar na equação: as redes sociais e Olavo de Carvalho (1947-2022).

É responsabilidade de Olavo a introdução a intelectuais brasileiros de diversos autores consagrados do conservadorismo e de uma nova visão do próprio marxismo. O filósofo também foi eficaz em incentivar seus seguidores a romper a “espiral do silêncio”, isto é, a tendência das pessoas a não manifestarem sua opinião quando arriscam entrar em conflito com o pensamento aparentemente dominante. (O próprio conceito de espiral do silêncio, formulado pela cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann (1916-2010), foi popularizado no Brasil por Olavo de Carvalho.)

No começo dos anos 2000, com os meios tradicionais de comunicação de massa dominados pelo esquerdismo, a internet foi o caminho para romper a espiral do silêncio no Brasil. Uma pequena contracultura de direita surgiu nos porões da internet, seja em textos publicados na própria página oficial de Olavo de Carvalho, seja em revistas digitais e agregadores de blogs daquela época, como Wunderblogs, O Indivíduo e Digestivo Cultural, que reuniam um grupo de escritores talentosos com viés “conservador nos costumes e liberal na economia”. O politicamente incorreto era uma marca estilística de grande parte desses blogueiros.

O advento das redes sociais ajudou a disseminar ramos dessa pequena contracultura na sociedade. Para Eduardo Matos de Alencar, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a internet permitiu a criação de uma “esfera pública alternativa”, expandindo, no Brasil, a “Janela de Overton” – isto é, a gama de posições políticas toleradas dentro da opinião pública.

“Durante algumas décadas, no Brasil, o debate público foi monopolizado pela esquerda. Em certo sentido, era direita aquilo que a esquerda classificava como tal, ou aquela posição que estava menos à esquerda do que aquilo que as personalidades mais importantes colocavam como centro da agenda esquerdista. Na janela da opinião pública que vai do totalmente aceitável, passando pelo inaceitável com reservas, até o totalmente inaceitável, a esquerda tinha monopólio e colocava o parâmetro do que seria uma direita permitida ou não. Quem não tinha determinada posição, quem saía do espectro do aceitável, era tachado como fascista, defensor de ditadura etc., o que gerava certo clima de medo e apreensão de cair nesse tipo de rótulo. Eram rótulos confirmados pelos ambientes intelectuais, reforçados pela mídia e intensificados pelas redes de opinião dominantes. Com as redes sociais, você criou a possibilidade de instituir uma nova esfera pública. O que você teve, no Brasil, foi o nascimento de uma esfera pública alternativa”, explica.

Como a esfera pública alternativa se massificou e consolidou a nova direita
As manifestações de junho de 2013 e, um pouco mais tarde, o apoio à Operação Lava Jato ajudaram a massificar essa esfera pública paralela. A aversão ao petismo foi se consolidando em grande parte da população, mas nenhuma das alternativas ao PT convencia como oposição.

“Aquilo que antes se chamava de direita não tinha grandes diferenças em relação ao petismo, principalmente na pauta de princípios ligados a questões sociais, e também ao papel do Estado na economia. Esse fato foi reconhecido pelo próprio Fernando Henrique Cardoso quando o Bolsonaro assumiu. Ele declarou que o PSDB não tinha grandes diferenças ideológicas com relação ao PT. E agora a gente vê agora um tucano tradicional, o Alckmin, migrando para o PSB e se tornando o vice do Lula”, comenta o sociólogo Lucas Azambuja, professor do Ibmec-BH.

O fenômeno Jair Bolsonaro surge justamente diante dessa lacuna. Em 2014, ao ser reeleito deputado federal, ele triplicou sua votação em relação às eleições de 2010, recebendo mais de 460 mil votos. Seu estilo politicamente incorreto e sua ênfase nas pautas de costumes divergia do caráter insípido dos políticos que se ofereciam como oposição ao petismo até então. Durante a legislatura 2015-2018, Bolsonaro colecionou polêmicas e aparições na TV.

“A partir de todas as mobilizações que culminaram no impeachment da Dilma, formou-se um eleitorado não identificado com a esquerda ou com aquele espectro de centro-esquerda formado principalmente pelo PSDB. Começou a haver uma autoidentificação de direita na população, e o Bolsonaro soube captar a preferência do eleitorado, que se identificou com a postura e o discurso dele”, diz Azambuja.

A nova direita não é, no entanto, uma mera onda política liderada por Bolsonaro e pelos novos congressistas eleitos. O fenômeno político é relevante, mas é somente a manifestação mais superficial de uma mudança cultural em curso.

As redes sociais ajudaram milhões de pessoas a saltar a barreira do esquerdismo dominante nos meios de comunicação e ter acesso a ideias conservadoras nos perfis de fenômenos como Ítalo Marsili, Ícaro de Carvalho, padre Paulo Ricardo, André Valadão, Bárbara Destefani (do canal Te Atualizei) e Bernardo Küster. O que antes eram ideias restritas a blogs de nicho voltados a intelectuais direitistas se disseminou a milhões de brasileiros em um estilo mais popular.

Também são cada vez mais comuns e bem-sucedidas as empresas de mídia que sustentam convicções como a defesa da vida, o valor da família e a liberdade econômica – caso de meios jornalísticos como a própria Gazeta do Povo, a Jovem Pan e a Revista Oeste, ou de plataformas como a Brasil Paralelo. Há cerca de dez anos, opiniões de direita minguavam nos grandes meios de comunicação, e o fenômeno dos influenciadores de direita com milhões de seguidores era impensável.

A nova direita ainda depara, no entanto, com algumas barreiras importantes, que dificultam colocá-la em pé de igualdade com a esquerda no campo da opinião pública. Uma delas é a falta de um partido autenticamente direitista, baseado em convicções, e não na conveniência política do apoio ao presidente Jair Bolsonaro, como foi o caso do PSL e é, hoje, o do PL.

Outra barreira – a mais importante e resistente delas, aliás – é a hegemonia esquerdista dentro das universidades, especialmente no que se refere ao campo das humanidades. “É um ambiente muito fechado em si mesmo. É muito difícil, hoje, ainda mais depois do governo Bolsonaro, algum doutor declaradamente de direita passar em um concurso para lecionar em uma universidade pública, por exemplo”, diz Alencar. “A direita precisa criar espaços, criar instituições. Talvez uma das formas para facilitar isso, do ponto de vista institucional, seja o governo ser mais liberal em relação à possibilidade de criar cursos”, complementa.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/dominio-no-congresso-e-so-a-ponta-do-crescente-iceberg-da-direita-no-brasil/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

A CHINA NÃO É A MESMA PODEROSAMENTE NA ECONOMIA

 

Por
Marcos Tosi – Gazeta do Povo


| Foto: Pixabay

A época das vacas gordas nas trocas comerciais entre Brasil e China pode estar ameaçada pelos números do PIB do gigante asiático. A previsão do Banco Mundial é de que a China cresça apenas 2,8% neste ano, contra média de 7% entre 2016 e 2020 e acima de 10% entre os anos 90 e o início dos anos 2.000. Estima-se que até 2049 o crescimento do PIB chinês deverá ficar entre 2,7% e 4,2% ao ano. Reportagem desta Gazeta do Povo mostrou que pela primeira vez desde 1980 o PIB brasileiro pode crescer mais do que o PIB chinês.

Sintomático da nova realidade, pela primeira vez o plano quinquenal de desenvolvimento da China, o 14º, referente ao período entre 2021 e 2025, não fala em percentual de crescimento do PIB. “A China que crescia a taxas de dois dígitos não existe mais. O país tem um problema demográfico instalado, com a população predominantemente masculina e taxa de natalidade extremamente baixa. Em segundo lugar, a economia chinesa tem alta dependência do governo para crescer. A taxa de investimento do governo chinês era em média de 40% do PIB. A média de qualquer governo no mundo é de 15%, quando muito 20%. Sabíamos que a economia chinesa ia ter que aterrissar uma hora, a pergunta-chave era quando isso iria acontecer”, sublinha José Carlos de Lima Júnior, especialista em negócios com a China da consultoria Markestrat.

Desde 2009, quando desbancou a posição centenária dos Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil, a China quebrou recorde após recorde nas trocas comerciais com o parceiro sul-americano. O Brasil exporta hoje sessenta vezes mais para a China do que em 2001, quando o país asiático entrou para a Organização Mundial do Comércio (OMC).

De menos de US$ 1,08 bilhão por ano, a conta de pagamento dos chineses chegou em 2021 a US$ 60,1 bilhões, representando mais de 30% de tudo o que é exportado pelo Brasil. No agronegócio, a participação é ainda maior. Sozinha, a China é destino de quase 40% das exportações brasileiras do setor e, em contrapartida, de tudo o que eles compram de alimentos, 20% vêm do Brasil, seu maior fornecedor.

Brasil e China, um casamento histórico e geográfico
“É como se fosse um casamento obrigatório, sem muito direito de escolha. Um casamento que se deu pela história, pelo fato de o Brasil ter feito uma revolução agrícola nos anos 70 e, na mesma época, a China fez uma revolução manufatureira. E foi também um casamento pela geografia, porque eles não têm recurso natural, então, precisam comprar certos produtos”, aponta Marcos Jank, professor de Agronegócio Global do Insper que viveu os últimos quatro anos na Ásia, apoiando a expansão da BRF no continente.

Além de comprar pesadamente, a China também investe forte no Brasil. A China Global Investment Tracker estima que o Brasil, com US$ 46,4 bilhões, foi o país que mais recebeu investimentos chineses no mundo em 2021, 13,6% do total. Na contramão, os investimentos do país asiático nos Estados Unidos caíram 27% e, na Austrália, 70%. De tudo o que os chineses investiram na América do Sul, 48% ficaram no Brasil, seguido pelo Peru (19%), Chile (12%) e Argentina 8%).

Principais destinos dos investimentos chineses no mundo em 2021

Fonte: CGIT. Mais infográficos

É preciso, contudo, ficar de olho nas diretrizes de Pequim. Na “teoria da circulação dual”, as autoridades chinesas pretendem dar atenção especial à circulação interna de bens e serviços, com ênfase na necessidade de autossuficiência em vários setores e reforço das capacidades tecnológicas internas. A circulação externa, contudo, segue estratégica, com ampliação de presença de capital chinês em outros países e conclusão de acordos comerciais, como o da Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP), assinado com 14 economias asiáticas, incluindo o Japão e a Coreia do sul.

Chineses compram do Brasil quase o triplo dos americanos
O cenário ganha relevância devido à sinodependência da economia brasileira. Em 2021, as trocas comerciais com os chineses representaram 67% do superávit da balança, de US$ 61,2 bilhões, que foi um recorde histórico. Os chineses gastam praticamente o triplo em compras do Brasil do que os americanos, que estão em segundo lugar (US$ 84,4 bilhões contra US$ 29,5 bilhões em 2021). Atualmente, quase 70% da soja brasileira tem como destino a China. Os chineses também levam 52% dos embarques de carne bovina, 48% das exportações de carne suína e 15% do frango.

Tanta dependência pode criar situações tensas, como a vivida há um ano no mercado de carne vermelha. Os chineses ficaram quase dois meses sem comprar o produto brasileiro, após casos suspeitos de “mal da vaca louca”. A questão sanitária teria sido uma desculpa para mandar um recado diplomático, de que a China não é dependente do alimento brasileiro e não tolera ataques como os feitos pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que, entre outras coisas, chamou o coronavírus de “comunavírus”.

“Não é muito inteligente ficar chutando seu cliente. A gente tem que negociar sim, duramente, tem que abrir mercado, fazer as coisas baseadas em ciência, conhecimento, previsibilidade, confiança e transparência. Mas a verdade é que se não fosse a China, o agro brasileiro não teria feito o que fez nos últimos vinte anos”, pondera Jank.

Nos últimos quatro anos, Marcos Jank representou diversas entidades exportadoras do agronegócio brasileiro no continente asiático| Divulgação
Hora de diversificar clientes e diminuir sinodependência
Apesar da “inevitabilidade” do casamento sino-brasileiro, Jank entende que o momento exige iniciativas, tanto do setor público como do privado, para diversificar e agregar valor às exportações para a China e, ao mesmo tempo, diminuir a dependência do país em relação a um único parceiro asiático. E muitas das oportunidades estão naquela mesma região. Algo que já está nos radares do planejamento do governo federal desde 2018, conforme o documento Estratégia de Desenvolvimento Econômico e Social (Endes 2020-2031), que afirma que “o deslocamento do eixo dinâmico da economia global para o leste, prenunciando o que se convencionou chamar de ‘século asiático’ é um fenômeno histórico que o Brasil não pode ignorar. (…) Por conta disso, o Brasil persegue o estreitamento dos laços políticos e econômico-comerciais com os países asiáticos, e também com os países africanos e do Oriente Médio. ”.

As oportunidades estão em países como a Indonésia, com 273 milhões de consumidores, Tailândia, Filipinas, Vietnam e a Índia, que com seus 1,38 bilhão de habitantes, é um caso à parte. As exportações anuais para a Índia, US$ 2,15 bilhões em 2021, ainda são uma pequena fração do montante enviado à China. “A Índia é outro país superpopuloso, com grande potencial de mercado, ainda fechado e que não compra quase nada da gente. Precisamos buscar esses mercados”, afirma Jank.

Lima Júnior também vê potencial nos outros países asiáticos. Nenhum vai substituir o protagonismo da China, mas a balança pode ficar um pouco mais equilibrada. “A Índia com certeza vai ocupar um lugar de destaque na importação de alimentos. Dificilmente ela vai passar por uma revolução agrícola como o Brasil passou, apesar de ter área agricultável. A própria lógica das castas acaba limitando o acesso à terra, ao crescimento do indiano dentro da sociedade, enquanto empresário”, salienta o consultor.

Desafio de se vender, e não apenas “ser comprado”
O desafio ao agro brasileiro, assim, é cada vez ser menos “comprado”, passando ativamente a “se vender” lá fora. Essa mudança de chave já começa a ocorrer, na medida em que as novas gerações vão assumindo a gestão das propriedades. “Eles estão mais preocupados não só em ter um sistema de produção muito mais amigável, em relação ao meio ambiente e à sociedade, mas também em ter um produto que seja bem remunerado. E estão procurando outros mercados, saindo um pouco dessa postura de ser quase sempre demandado, de produzir e ter certeza que a China vem e compra”, argumenta Lima Júnior.

Em outra frente, é preciso ter políticas de Estado bem definidas. “Qual é o horizonte que a gente quer para o agro? É ser produtor de alimentos ou vamos industrializar? Acho que a função do governo é criar uma estrutura jurídica e institucional, que o país decida o que quer ser daqui a 100 anos e crie o ambiente de negócios necessário para o setor privado investir”, salienta o consultor da Markestrat. Essas políticas de Estado deveriam trazer mais previsibilidade e confiança. Ele cita o RenovaBio, criado em 2017 para diminuir o consumo de combustíveis fósseis e fomentar os biocombustíveis. “Em questão de um mês da aprovação, o governo já queria fazer um monte de emendas e penduricalhos”, observa.

| Rafael Cautella / Divulgação Markestrat
Outro exemplo de mudança de regras no meio do jogo está no que aconteceu com a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Nos anos 70 e 80 o governo incentivou os produtores do Sul do país a subirem o mapa e desenvolver o estado de Roraima. “Mas no início dos anos 2.000 o STF entendeu que a área fosse demarcada como reserva indígena, fazendo desaparecer, da noite para o dia, a maior produção de arroz do Brasil que se desenvolveu em Roraima. Os produtores que foram para lá desenvolver uma área, por chamada do governo, por oportunidade criada, se tornaram ocupadores. Essa instabilidade jurídica joga contra o agro”, enfatiza Lima Júnior.

Forte urbanização garante nível elevado de consumo na China

Estudo do Centro Empresarial Brasil-China (CEBC) aponta que o gigante asiático se encontra à porta da nova economia baseada em conhecimento, após ter se tornado a segunda economia mundial (a primeira em poder de paridade de compra), alcançar status de país de renda média alta (PIB per capita de US$ 10 mil), chegar a uma taxa de urbanização de 59% e ver o setor de serviços ultrapassar a indústria na proporção do PIB.

“A China tem hoje não somente a maior população de idosos do mundo, mas também é a sociedade que passa por um dos mais rápidos processos de envelhecimento. Há, contudo, tendências em curso que podem mitigar o problema do envelhecimento: a adoção da inteligência artificial poderá substituir 280 milhões de trabalhadores; a urbanização, partindo de 59% em 2018 para 80% em 2049, pode garantir crescimento contínuo do consumo, já que a renda per capita nas cidades é o dobro daquela nas áreas rurais”, diz trecho do estudo do CEBC, assinado pela economista Tatiana Rosito, que foi ministra-conselheira e encarregada de negócios na Embaixada do Brasil em Pequim, e representante da Petrobras na China.

Na análise da economista, tão importante quanto o que o Brasil pode exportar para a China, é o que importa ou pode importar, e como construir canais estáveis e eficientes para absorver novas tecnologias em que a China oferece liderança crescente. “A China desponta cada vez menos como competidora e ameaça e cada vez mais como referência e oportunidade, inclusive de como a ação governamental concertada pode estimular a transformação estrutural e a diversificação econômica”, aponta Rosito.

Diversificar exportações depende do Brasil

O aumento da renda do consumidor chinês, e a sofisticação de seus hábitos, abre oportunidades para produtos com maior valor agregado do Brasil. Mas isso não deve ocorrer sem esforço e estratégia assertiva. “Não será por decisão do governo chinês ou das operadoras econômicas chinesas que nós diversificaremos as nossas exportações, isso depende de nós. São muitas as oportunidades, mas não são laranjas maduras na beira da estrada. Nós temos que fazer um esforço”, afirmou o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet de Mesquista, durante a última conferência anual do CEBC.

A conferência concluiu que os setores de agronegócio e as commodities minerais e energéticas, em que o Brasil tradicionalmente compete com grande eficiência, continuarão a ter um grande mercado na China. No entanto, a “servicificação” da economia chinesa deverá criar oportunidades para outros países em desenvolvimento. Documento do FMI, de três anos atrás, já previa este cenário: “Se a China for capaz de começar a próxima fase de transformação estrutural, de um país industrial para pós-industrial, uma economia baseada em serviços modernos, sem cair na armadilha da renda média, isso permitirá que outros países menores preencham o espaço deixado na manufatura. O processo poderá se beneficiar se outros países, como o Brasil, forem capazes de se livrar da armadilha da renda média em que caíram”. *Armadilha da renda média é a estagnação de um país num nível intermediário de desenvolvimento.

30 anos de parceria estratégica com a China
Em 2023 se comemorarão os 30 anos da parceria estratégica Brasil-China, estabelecida em 1993 durante visita ao Brasil do então secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin. Para Tatiana Rosito, a fraca presença comercial e de investimentos brasileiros na China e no seu entorno é um fator de preocupação. Além disso, em artigo publicado na revista Interesse Nacional, a economista avalia que a intenção chinesa de aumentar a autossuficiência e a segurança alimentar e energética “deveria servir de incentivo para a negociação de acordos comerciais e regulatórios bilaterais que consolidem e ampliem os mercados conquistados, evitando retrocessos”.

Assim, o Brasil precisa se esforçar para não ser apenas um fornecedor, mas alcançar reconhecimento de suas marcas, da qualidade e sustentabilidade de seus produtos diante dos afluentes consumidores chineses e asiáticos. “No momento em que a China volta todas as suas energias para a inovação tecnológica com o objetivo de alcançar segurança e liderança em setores-chaves – em alguns dos quais o Brasil tem relevância global, como em alimentos, novas energias e florestas –, é importante dinamizar a parceria e ampliar trocas e contatos. Uma estratégia para a Ásia é tão importante quanto uma estratégia para a China. O Brasil já tem portas importantes na região, não somente bilaterais, mas também com a Asean e através dos Brics. No ano em que a parceria estratégica Brasil-China completará 30 anos, caberá ao governo eleito no Brasil avaliar mudanças e continuidades na definição do interesse nacional”, conclui Rosito.

No curto prazo, as crises geopolíticas no Leste Europeu e na Ásia, devido à Guerra da Ucrânia e os problemas da China com Taiwan, acabaram criando oportunidades para o Brasil. Em 2023, os chineses devem aumentar as compras de milho brasileiro e americano, por exemplo, já que os tradicionais fornecedores, Ucrânia e Rússia, estão se digladiando. O milho importado será necessário dentro do programa de substituição das criações suínas de fundo de quintal – dizimadas pela peste suína africana – por granjas modernas. “Granja moderna usa milho e soja, não usa restos de cozinha na alimentação”, aponta Marcos Jank.

O especialista em Ásia resume o cenário: “Para onde vai hoje o investimento no mundo? Tenho certeza que o pessoal está muito mais cauteloso com Rússia, com Leste Europeu e com a China. Se a gente se mostrar bastante confiável, e no agro somos bastante confiáveis, podermos sair desse processo com grandes oportunidades”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/anos-dourados-da-parceria-brasil-china-estao-terminando-ou-vem-mais/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O PT SÓ PENSA EM FAZER EXPURGO DOS SEUS INIMIGOS

 

Autoritarismo

Por
Leonardo Coutinho – Gazeta do Povo


José Dirceu citou Polônia e Hungria ao falar da possibilidade de reeleição de Bolsonaro, mas não considera que ditaduras de esquerda sejam regimes autoritários| Foto: EFE/Joédson Alves

Em sua aparição mais recente nas redes sociais, o petista José Dirceu usou países com clara erosão democrática para se referir ao risco de Jair Bolsonaro ser reeleito e com os “superpoderes” de uma maioria no Congresso. Para Dirceu, que já foi presidente do PT, ministro de Estado e foi condenado como chefe da quadrilha do Mensalão, Bolsonaro pode repetir o que foi feito na Polônia e Hungria, onde os governantes tomam medidas cada vez mais autocráticas. A lista de Dirceu é curtinha, só inclui os dois países do Leste Europeu, por se tratar de “ditaduras de direita”.

A decisão não pode ser enquadrada como esquecimento ou oportunismo. O líder petista não considera como autocráticos regimes ditatoriais que perseguem, prendem e matam em nome da revolução socialista ou do comunismo. Cuba? China? Venezuela? Nicarágua? Coreia do Norte? Não há necessidade alguma de estender mais a lista de países que contam com a solidariedade petista, pois, afinal, “são resistência”, como muitas vezes são tratados militantes e documentos oficiais dos partidos provenientes do mesmo meio de cultura onde se reproduzem legendas e ideias como as do PT.

Dirceu cita um terceiro país, mas com ressalvas. Para ele, o presidente turco Recep Erdogan não pode ser colocado no mesmo balaio do húngaro Viktor Orbán ou do polonês Mateusz Morawiecki. Para Dirceu, Erdogan “fez o que tinha que fazer” depois de um golpe militar. Expurgou quem tinha que expurgar.

Como se vê no vídeo, a palavra expurgo causou excitação. “Essa palavra expurgo, eu gosto. Eu gosto”, disse o apresentador. “Eu sei, por isso já atenuei”, emendou Dirceu.

Não se pode inferir se a celebração do expurgo se refere ao passado distante, quanto Stálin (que é a referência ideológica da turma) liderou um processo de perseguição política, ideológica e cultural que resultou na morte de pelo menos 750 mil pessoas. Muitas delas companheiros revolucionários que concordavam com os rumos impostos pelo ditador, artistas, militares (entre os quais alguns generais, almirantes e mais de uma centena de comandantes).

Tampouco pode-se afirmar que se referiam aos expurgos como os comandados por Fidel Castro, que mandou para o paredão o seu maior general e alguns de alguns de seus amigos revolucionários, para limpar a imagem de que o regime fazia uso do tráfico de cocaína como fonte de receita e estratégia militar. O narcotraficante Fidel matou seus comparsas para proteger a própria biografia.

Também não dá para saber se estão celebrando os expurgos recentes que o amigão Daniel Ortega tem promovido em seu país. Além de perseguir padres, bispos, jornalistas e opositores, o ditador não poupa sequer ex-companheiros revolucionários que se atreveram a questionar seus atos de violência e perseguição política.

Fica mais sombrio ainda pensar que eles podem estar falando deles mesmos. De como eles lidaram, lidam ou lidarão com companheiros incômodos.

Por fim, não se pode excluir uma visão de futuro. Um projeto, ao que parece, irá passar bem longe das fileiras petistas. A referência ao processo turco dá as pistas. Dirceu e sua turma acham que, num eventual terceiro mandato de Lula, o expurgo é o caminho para se sedimentar no poder. Alguns poderão entender como vingança. Outros, como revanche. Mas, ao final, será um expurgo. Apenas um expurgo.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/leonardo-coutinho/os-petistas-stalinistas-e-uma-de-suas-paixoes-expurgo-de-amigos-incomodos-e-de-adversarios/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

PROBLEMAS DE GESTÃO NO TSE

 

J.R. Guzo – Jornal Estadão

A questão, desde o começo, foi proibir a divulgação de notícias que Lula não quer que ninguém publique

O cidadão brasileiro precisaria ter passado os últimos tempos vivendo fora do sistema solar para não se ver soterrado, 24 horas por dia, pela neurose em modo extremo do Supremo Tribunal Federal no seu combate de vida e morte contra as fake news. O fenômeno foi apresentado como o mais importante para a humanidade em geral desde a separação dos continentes – algo tão imenso que o STF abandonou o idioma oficial do Brasil em troca do inglês para falar do assunto, embora existam no português as palavras “notícia” e “falsa”, perfeitamente adequadas para descrever uma fake news. Desde o primeiro minuto, o conceito de que a autoridade pública estaria autorizada a definir quais são as notícias falsas, e quais são as verdadeiras, e a partir daí proibir ou permitir a sua publicação, tem funcionado como uma das aberrações mais malignas que já se inventaram contra a Constituição Federal e contra a liberdade. Agora ficou pior. Comprova-se que nunca houve a intenção honesta de limitar a circulação de informação falsa nenhuma. A questão, desde o começo, foi proibir a divulgação de notícias verdadeiras – ou, mais exatamente, as notícias que Lula e o PT não querem que ninguém publique.

O ministro Alexandre de Moraes considera que o País enfrenta ‘segunda geração’ de fake news nas eleições deste ano.
O ministro Alexandre de Moraes considera que o País enfrenta ‘segunda geração’ de fake news nas eleições deste ano. Foto: Wilton Junior/Estadão

É o que diz em despacho oficial o TSE, repartição pública que obedece ao Supremo, manda nas eleições e não existe em nenhuma democracia séria do mundo. O diário Gazeta do Povo, mais uma vez, e a produtora Brasil Paralelo, foram proibidos de divulgar notícias sobre o longo caso de amor político entre Lula e o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, ou os pontos de contato entre o ex-presidente e a corrupção. Por quê? O idílio de Lula com Ortega está provado em fotos, vídeos, declarações gravadas e até em notas oficiais do PT. E no caso da corrupção: quer dizer que não houve ligação pública entre Lula e a ladroagem? E a Lava Jato? E as confissões dos corruptos? E a devolução de dinheiro roubado? E as suas condenações na Justiça brasileira pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro? Bem, tudo isso é verdade, diz o TSE. Mas não pode ser publicado porque é “desordem informacional”.

Que diabo seria isso – “desordem informacional”? É uma invenção que não existe, e nunca existiu, em nenhuma doutrina jurídica do mundo. Segundo o ministro Alexandre de Moraes, trata-se de mais uma ameaça mortal para a democracia – “informações verdadeiras com conclusão falsa”, diz ele, e isso aí também precisa ser censurado. É uma barbaridade. Como o ministro e seus colegas dão a si próprios o direito de decretar que essa ou aquela conclusão é “falsa”? Que lei em vigor no Brasil lhes permite definir o que é a verdade? Desordem é isso.

PIX É O MEIO DE PAGAMENTO MAIS ACEITO PELAS EMPRESAS

 

Foto: Leo Souza/Estadão

Por Lucas Agrela – Jornal Estadão

Meio de pagamento já é aceito em 3 a cada 4 lojas virtuais do Brasil e traz duas vantagens ao vendedor: elimina a ‘quebra’ de vendas comum nos boletos e garante dinheiro na hora

Pix chegou ao mercado em 2020 como uma opção que daria fim às transferências bancárias por DOC e TED, facilitando os pagamentos entre pessoas. Com isso, as opções de envio de recursos, que antes garantiam receitas com tarifas aos bancos, viram sua importância cair bastante. Agora, o Pix pode fazer outras vítima, desta vez no e-commerce: o pagamento em boleto.

Segundo dados do Banco Central (BC), o Pix cresce consistentemente nos pagamentos entre pessoas e empresas, como as varejistas. Em setembro de 2022, o número de transações desse tipo era de 430 milhões, ante 130 milhões no mesmo período no ano passado – um salto de 225%.

O valor das transações cresceu menos, indicando maior participação de compras de pequeno valor. Ainda assim, o total quase dobrou em 12 meses e foi de R$ 48,9 bilhões para R$ 91,7 bilhões. No acumulado do ano, até setembro, o valor pago por Pix entre pessoas e empresas chega a R$ 680 bilhões e pode atingir R$ 1 trilhão até dezembro.

Por que o Pix é atrativo para o varejo

Para as varejistas, o Pix não só tem potencial para reduzir e até substituir integralmente o boleto, como também pode aumentar o número de vendas no comércio eletrônico e diminuir o abandono de compras. Os pagamentos com boletos bancários não são realizados em 50% das vezes, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Além disso, a falta de flexibilidade nos pagamentos pode levar a um carrinho abandonado. Segundo relatório da empresa de pagamentos Adyen, 52% dos consumidores brasileiros dizem que desistiram de fazer uma compra porque não podiam pagar do jeito que queriam.

Pix funciona para pagamentos por QR code ou com código; BC prepara iniciador de pagamentos integrado a contas bancárias
Pix funciona para pagamentos por QR code ou com código; BC prepara iniciador de pagamentos integrado a contas bancárias Foto: Leo Souza/Estadão

O uso do Pix como meio de pagamento tem benefícios tanto para o consumidor quanto para as empresas. O processo de aprovação de compras é imediato, como acontece no cartão de crédito e geralmente há desconto no pagamento à vista. O crédito chega às companhias instantaneamente e com menos taxas.

Segundo dados do Estudo de Pagamentos GMattos, apenas dois anos após o lançamento, o Pix já divide o segundo lugar nas formas de pagamento, ao lado dos boletos. A aceitação do Pix tem potencial para chegar a 92% nos próximos anos, prevê a consultoria. Em janeiro de 2021, o Pix apresentava 16,9% de aceitação entre os comércios virtuais do Brasil; em julho deste ano, o índice alcançou 76,3%.

Tirando espaço do boleto

No Mercado Livre, a adoção do Pix teve expansão em torno de 130% e causou uma redução de 33% no uso de boleto no segundo trimestre deste ano, ante igual período no ano passado. Na plataforma, lojas oficiais de marcas como Samsung, Nike e Hering já aceitam pagamentos via Pix.

Com 30 milhões de usuários ativos e 10 milhões de vendedores, o Mercado Pago, banco digital do mesmo grupo da varejista argentina, fornece sistema de pagamento para lojas físicas e digitais. Hoje, o serviço já tem um quarto de todas as transações feitas via Pix. Além de diversas lojas online, a empresa faz os pagamentos via Pix das farmácias da rede Pague Menos e das lojas físicas da C&A.

Daniel Davanço, líder de pagamentos para empresas do Mercado Pago no Brasil, avalia que as vendas dos lojistas que aceitam Pix subiram de 20% a 25% mais do que as daquelas que ainda não tinham o Pix como meio de pagamento neste ano. “A conversão do Pix hoje é de acima de 75%. O mundo online abraçou o Pix de forma muito rápida, porque melhora a experiência para todos os lados”, diz.

Gigantes dos eletrodomésticos: aposta no Pix

Varejistas como a Via (ex-Via Varejo) já oferecem pagamentos com Pix desde o ano passado, inclusive nas lojas físicas de Casas Bahia e Ponto. Recentemente, a companhia passou a usar o Pix também para facilitar os acertos em casos de renegociação de dívidas.

Já o Magazine Luiza oferece pagamentos via Pix em seu site e aplicativo, mas também investe em uma alternativa a ele. A empresa criou, dentro da Fintech Magalu, sistema de pagamentos que promete ser mais veloz e prático do que o Pix porque não requer que o consumidor acesse aplicativo de banco ou copie e cole códigos de barras.

O boleto ainda vai continuar a coexistir, mas com cada vez menos uso. Muitas empresas incentivam a migração do boleto para o Pix.”

Lorain Pazzetto, líder de open finance do Grupo FCamara

As transferências são feitas por meio do Iniciador de Transação de Pagamento, modalidade oferecida pelo Banco Central que permite a integração dos sites e aplicativos de empresas de varejo com os sistemas bancários, dentro do conceito de “open finance”. O método de pagamento foi implementado inicialmente no site KaBuM, que vende eletrônicos e foi comprado pelo Magazine Luiza em 2021 por cerca de R$ 3,5 bilhões.

Para Robson Dantas, líder da operação do Fintech Magalu, o fato de o iniciador de pagamentos ser mais simples do que o Pix pode reduzir ainda mais a desistência de compras. “A experiência facilita muito a vida do usuário, mas essa ferramenta ainda tem um caminho a percorrer até chegar ao ponto que estamos com o Pix. No fim deste ano, devemos ver uma consolidação do uso do Pix”, afirma. O Mercado Pago e outras grandes varejistas do País também já fazem testes com o iniciador de pagamentos.

O Pix domina a economia como um todo

O uso do Pix para pagamentos extrapola o comércio eletrônico. De acordo com estudo da consultoria Capco, feito com 2 mil pessoas via internet, o Pix é usado por 94% das pessoas entrevistadas, principalmente para pagamento de compras online (67%), pagamento de prestadores de serviço (66%), em cafés e lanchonetes (60%) e em supermercados (43%).

O boleto bancário ainda deve ter uma sobrevida, mas pode virar uma opção de nicho. “O boleto ainda vai continuar a coexistir, mas com cada vez menos uso. Muitas empresas incentivam a migração do boleto para o Pix. O varejo vai se sentir mais confortável em restringir o boleto”, afirma Lorain Pazzetto, líder de open finance da empresa de tecnologia para varejo Grupo FCamara.

Além de reduzir a desistência de compras, o Pix deve ser estimulado por ter menores taxas para as varejistas do que outros meios de pagamento. “Tirar 0,1% do valor de uma venda para um varejista pode significar ganhos milionários”, diz Pazzetto.

E as parcelas?

Quando chegar a todas as instituições financeiras, o Pix parcelado permitirá aumentar os valores das transações entre pessoas e empresas – hoje, essa fatia de mercado ainda é dominada pelo cartão de crédito. Segundo dados do BC, o gasto médio de janeiro a setembro de 2022 em transações entre pessoas e negócios foi de R$ 264.

Algumas empresas já permitem o Pix parcelado via cartão de crédito, como é o caso do RecargaPay. Desse modo, quem recebe tem acesso ao dinheiro na hora, enquanto o consumidor paga o valor a prestação. Entre setembro de 2021 e setembro deste ano, o uso do Pix com cartão entre seus clientes triplicou, segundo a empresa.

Caso o cliente queira realizar um pagamento com Pix para aproveitar uma promoção em uma loja que oferece descontos nos pagamentos à vista, por exemplo, é possível selecionar o pagamento com o Pix e parcelar a compra no RecargaPay. Ainda que haja juros na transação, esse é um caso de uso comum entre os clientes da empresa.

EMPRESAS FECHAM DEVIDO À MÁ GESTÃO

 

Jonathas Freitas

Especialista fala dos principais motivos pelo fechamento de empresas

Você sabia que mais de 65% das empresas fecham logo de início por problemas de gestão? Isso é o que revela uma pesquisa recente do Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

De acordo com o mesmo levantamento, no Brasil existem mais de 18 mil empresas ativas sendo que destas, 29% normalmente quebram em 1 ano, 42% quebram em 2 anos, enquanto 56% quebram em 5 anos. “A falta de capital e de clientes, a inadimplência e a falta de planejamento e gestão são um dos maiores motivos para uma empresa falir logo de início. Esses índices poderiam ser bem menores com um bom gerenciamento e aconselhamento”, explica o empresário Jonathas Freitas,  investidor anjo que está no mercado há 18 anos e já participou da fundação de mais de 40 startups de tecnologia que se tornaram reconhecidas nacional e internacionalmente.

Ao contrário do que muitos pensam, o trabalho de um investidor anjo pode ir muito além de um simples aporte financeiro. Nos dias de hoje, o smart money ou o know-how podem ser ainda mais valorizados que as quantias monetárias. A explicação é fácil: o investidor, além de aportar dinheiro, pode compartilhar todo o seu conhecimento em gestão e administração de negócios, seus erros e acertos do passado para que a empresa cresça com mais saúde e não venha a quebrar. Mas, para isso, é preciso que os sócios estejam dispostos: “A educação dos sócios é um pilar muito importante para o sucesso do negócio. Como investidores, acreditamos mais no empreendedor e no seu potencial. É ele que faz a diferença”, completa o especialista.

Crescimento versus falência

Quando os níveis de mortalidade das empresas são comparados com os índices de outros países, eles são equivalentes. Então eles são normais, você pode se questionar. Podem até ser, mas só em partes. O que realmente preocupa é a questão de que a grande maioria das empresas que sobrevivem aos cinco anos, permanece muito tempo sem taxas de crescimento. “Os negócios sobrevivem, mas não são alavancados. O que um investidor valoriza é a capacidade de tração do negócio e consequentemente, o payback”, diz Freitas.

E de fato, um investimento, seja ele anjo ou não, é uma das melhores formas de obter o melhor dos dois mundos: aporte financeiro e intelectual, já que, historicamente, o Brasil é um país que oferece poucos atrativos quando o assunto é acesso a crédito. Para se ter uma ideia, mesmo com a taxa Selic a 5,8%, a taxa de cartão de crédito no país pode chegar a 300% ao ano. Isso sem falar da parte intelectual: são poucos os empresários dispostos a compartilharem seus erros e acertos com novos empreendedores.

“Melhor que diminuir as complexidades, é preciso entendê-las. Seja na parte jurídica, contábil ou tecnológica, por exemplo, o empresário precisa compreender o que se passa no seu negócio. Só assim, ele consegue ajustar e gerenciar, caso seja necessário. Não é preciso entender tudo a fundo, mas compreender é essencial para uma boa gestão”, finaliza o empresário, que também completa que o investimento não é uma atividade filantrópica:  “O retorno para o investidor de um aporte nesse modelo costuma ser bem maior que o capital investido ou qualquer outro ativo do mercado, mas para isso, o empreendimento precisa prosperar”, diz Freitas.

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 173.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 2.850.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

Temos a plena certeza que o site da Startup Valeon, por ser inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da região capaz de alavancar as suas vendas.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

sábado, 15 de outubro de 2022

O BRASIL TEM UMA INFLAÇÃO MENOR DO QUE MUITOS PAÍSES DESENVOLVIDOS

 

Alta nos preços

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt (Alemanha): inflação deve continuar elevada na área do euro, levando a novas altas nas taxas de juro.| Foto: Sascha Steinbach/EFE/EPA

Não é só no crescimento do PIB que a economia brasileira deve ter um bom desempenho em comparação com as principais economias do mundo ao fim do ano. Outro indicador com bons resultados é a inflação. O ponto médio das projeções do último relatório Focus, divulgado na última segunda-feira (10), sinaliza para um IPCA de 5,7% neste ano. Enquanto isso, grandes economias da Europa, como Alemanha e Reino Unido, estão com a inflação na casa dos dois dígitos.

Uma série de fatores favoreceu a queda da inflação em 12 meses, que baixou do pico de 12,13% em abril para 7,17% em setembro:

corte nas alíquotas do ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transporte público, e desoneração de tributos federais sobre combustíveis;
redução no preço dos combustíveis nas refinarias; e
menor pressão dos preços de produtos industrializados, devido à normalização das cadeias produtivas.
A grande dúvida, segundo economistas do Bradesco, se dá no ritmo de queda, já que os cenários doméstico e internacional seguem bastante incertos. A projeção para o próximo ano é de uma inflação um pouco menor que a esperada para 2022, mas ainda acima da meta do Banco Central.


Com preços na mira dos candidatos, o que esperar após três deflações seguidas
A situação no resto do mundo
A inflação ainda está elevada em outras importantes economias mundiais. Analistas da XP destacam, em relatório, que por anos os países desenvolvidos da Europa e os Estados Unidos tinham um “problema” de baixíssimas taxas de inflação, abaixo de suas metas, e, como consequência, baixas taxas de juro.

“No caso da Europa, bancos centrais da região recorreram a uma ferramenta pouco ortodoxa para estimular o crescimento e inflação: taxas de juros negativas. Recentemente, o cenário mudou, e as autoridades monetárias começaram a abandonar essa política para lidar com o problema oposto: preços subindo muito acima das metas”, dizem os analistas Rafael Nobre, Jennie Li e Pietra Guerra.

Os problemas na Europa começaram em 2021, quando a reabertura da economia começou a pressionar as cadeias de suprimentos. Os preços da energia começaram a aumentar devido à demanda elevada e à recuperação da economia. O consumo foi 1,4% maior do que em 2019, segundo a BP Statistical.

“Esta dinâmica de maior demanda em comparação com uma produção ainda reduzida das commodities energéticas começou a servir de vento de cauda para a alta das mesmas e a interferir na alta de custos da União Europeia”, informa o relatório da XP.


O mercado toma partido: quem são os economistas e empresários que apoiam Lula e Bolsonaro
Como os números da economia nas próximas semanas podem influenciar o segundo turno
O cenário piorou em fevereiro, com a invasão russa na Ucrânia, que provocou forte alta no preço das commodities e complicou o fornecimento de energia – 40% do gás natural que abastece a Europa é proveniente da Rússia. Do início do ano até setembro, o gás ficou 115% mais caro e o petróleo, 22%.

Nobre, Li e Guerra destacam que, agora, a Europa se encontra em uma situação energética delicada: de um lado colocou boa parte de sua matriz energética nas mãos da Rússia; do outro, apostou agressivamente na transição para energias limpas, desligando parte de suas usinas termelétricas e nucleares.

“Atualmente, a população sofre com um forte aumento nas contas de eletricidade, indústrias estão paralisando operações e a forte alta dos preços corrói o poder aquisitivo da população local”, escrevem os analistas da XP. A estimativa da Eurostat, órgão oficial de estatísticas da União Europeia, é de que o preço da energia tenha aumentado 40,8% em um ano, em média.

Outro grupo de despesas que está pesando no bolso dos europeus é alimentação, bebidas alcóolicas e fumo. Juntos, eles tiveram uma alta de 11,8%, puxada pela comida não processada.

Uma prévia estima que a inflação anual na área do euro possa ter chegado a 10% em setembro. As maiores altas estão nos países bálticos – Estônia (24,2%), Letônia (22,4%) e Lituânia (22,5%). Mas a principal economia da região, a Alemanha, também está com inflação em dois dígitos, de 10,9% na prévia acumulada em 12 meses até setembro.

Além desses problemas, o Banco Central Europeu (BCE) está frente a um dilema: adotar uma política contracionista e colocar a economia em uma recessão ou favorecer o crescimento econômico, em detrimento da estabilidade dos preços.

Os analistas da XP observam que o BCE está cada vez mais inclinado para uma política mais contracionista, causando um risco ainda maior para os ativos locais.

Situação um pouco menos complicada vivem os Estados Unidos, onde o pico da inflação já ficou para trás, segundo analistas. Segundo o US Bureau of Labor Statistics, a inflação atingiu 8,3% nos 12 meses encerrados em agosto.

Energia e alimentação continuam pressionando os índices de preços, com alta anual de 23,8% e 11,4%, respectivamente. É a maior inflação para a comida desde maio de 1979.

A tendência é de que os juros na economia americana continuem subindo nos próximos meses, para tentar combater a inflação. A mediana para a taxa dos Fed Funds (referência para as taxas nos EUA) subiu do intervalo entre 3,25% e 3,5% para 4,25% e 4,5% em dezembro. Para o fim de 2023, o ponto médio das projeções passou de 3,75%/4% para 4,5%/4,75%.

“A alta das projeções de juros se dá apesar de fortes revisões para baixo nas projeções para o crescimento do PIB e a elevação moderada das projeções de desemprego e inflação [nos EUA]”, escreve o economista Constantin Jancsó, do Bradesco, em relatório.

As expectativas para a inflação em 2023
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avalia que com a mudança no ciclo econômico e o aperto na política monetária surtindo efeito, o pico da inflação deve ter acontecido no terceiro trimestre, tendendo a cair ao longo deste trimestre e de 2023 na maioria dos países do G-20. Entretanto, a alta nos preços permanecerá acima das metas dos bancos centrais no próximo ano.

“Os Estados Unidos, que começaram o aperto monetário mais cedo do que a área do euro ou o Reino Unido, devem registram um maior progresso em levar a inflação para mais perto da meta, que é de 2% ao ano”, informa a OCDE.

A entidade reconhece que a recente elevação nos custos da energia e com a alta de juros começando mais tardiamente do que nos Estados Unidos, a inflação permanecerá elevada em boa parte da Europa.

Entre as principais economias emergentes, o cenário é distinto. A inflação se encontra em níveis baixos e estáveis na China. Para o Brasil e o México, a expectativa é que diminuam as pressões à medida que surtam efeito as altas nos juros. Na Argentina e na Turquia, as projeções da OCDE indicam para uma inflação ainda elevada em 2023, porém menor do que em 2022.

E-BOOK 1984
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/inflacao-menor-brasil-paises-desenvolvidos-2022/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O BRASIL VIVE UMA DESORDEM JUDICIAL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Alexandre de Moraes deu o voto decisivo pela censura de vídeo da Brasil Paralelo sobre escândalos de corrupção sob o governo Lula.| Foto: LR Moreira/Secom/TSE

A Justiça Eleitoral acaba de criar mais uma categoria de informação que justifica censura e outras ações desproporcionais, mas que não está descrita em nenhuma lei eleitoral ou penal. Depois da “propaganda eleitoral negativa antecipada” e das fake news, agora temos também a “desordem informacional”. O conceito foi inaugurado durante julgamento no plenário do Tribunal Superior Eleitoral que ordenou a remoção de um vídeo da produtora Brasil Paralelo publicado no Twitter. Considerando o resultado do julgamento e os argumentos apresentados, poderíamos definir “desordem informacional” – e a definição é nossa, pois é improvável que os autores da expressão a entendam assim – como uma série de informações cuja veracidade é incontestável, mas que levam a conclusões indesejadas.

Pois é justamente disso que se trata. No vídeo agora censurado, e que nem é produção recente (é datado de cinco anos atrás), a Brasil Paralelo reuniu reportagens jornalísticas sobre escândalos de corrupção ocorridos durante a passagem de Lula pelo Planalto, como o mensalão, os dólares na cueca e a máfia dos sanguessugas – que teve como desdobramento o escândalo do dossiê falso contra o tucano José Serra, que disputava o governo paulista em 2006 contra o petista Aloizio Mercadante. Tudo completamente verdadeiro, sem fakes, a ponto de o ministro Paulo de Tarso Sanseverino ter negado o pedido de remoção feito pelos advogados do PT. “Embora o vídeo revele conteúdo negativo em relação a partido político e candidato da coligação representante, inegável a natureza artística e informativa do material publicado […] A publicidade não transmite, como alegado, informação gravemente descontextualizada ou suportada por fatos sabidamente inverídicos”, afirmou o ministro ao negar liminar, posição que reafirmou no julgamento em plenário – uma postura digna de nota, já que foi o mesmo Sanseverino quem ordenou censura a dezenas de tweets (inclusive desta Gazeta do Povo) sobre o igualmente verdadeiro apoio de Lula ao ditador Daniel Ortega, da Nicarágua.

Se os tribunais superiores já haviam perdido completamente o senso de proporção no alegado combate às fake news, agora as news já não precisam nem ser fake para que sejam banidas

Coube aos integrantes do TSE oriundos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a missão de formar maioria contra o relator quando já se contavam mais dois votos contrários à censura. “Estamos diante de fenômeno novo, que vai além das fake news. O cidadão comum não está preparado para receber esse tipo de desordem informacional”, afirmou Ricardo Lewandowski, em tom paternalista, sendo seguido por Cármen Lúcia e Benedito Gonçalves (aquele que proibira o uso das imagens do Sete de Setembro por Jair Bolsonaro).

O desempate caberia ao presidente da corte, Alexandre de Moraes. Quem prevaleceria? O Alexandre de Moraes que dissera, em sua posse, que “a livre circulação de ideias, de pensamentos, de opiniões, de críticas, essa livre circulação visa a fortalecer o Estado Democrático de Direito e a democratização do debate no ambiente eleitoral, de modo que a intervenção da Justiça Eleitoral deve ser mínima”? Ou aquele que, mesmo admitindo não haver provas contra a chapa vencedora em 2018, garantiu que “sabemos o que ocorreu. Sabemos o que vem ocorrendo e não vamos permitir que isso ocorra”, e que “as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia no Brasil”? Para a surpresa de ninguém, mais uma vez o discurso de posse ficou no esquecimento. Ao falar de modalidades de desinformação, Moraes disse que “a primeira é a manipulação, como no caso em concreto. Você junta várias informações verdadeiras e aí traz uma conclusão falsa”, selando o resultado que consagrava a censura.

VEJA TAMBÉM:
PT pede mais censura e eleva ataque às liberdades de expressão e de imprensa (editorial de 13 de outubro de 2022)
O monstro da censura se alastra (editorial de 6 de outubro de 2022)
O apoio de Lula a Ortega, o novo tabu eleitoral (editorial de 5 de outubro de 2022)
Na novilíngua eleitoral, censura é “defesa da democracia” (editorial de 21 de setembro de 2022)
O TSE e as imagens do Sete de Setembro (editorial de 15 de setembro de 2022)
Lula, a mordaça e a mentira (editorial de 16 de maio de 2022)
Que “conclusão falsa” é essa, impossível saber. Os advogados do petista alegam que a “desinformação” estaria no fato de Lula não ter sido investigado nem acusado nos escândalos citados no vídeo – mas a Brasil Paralelo também não afirma isso. E Lula não disputa a Presidência como representante única e exclusivamente de si mesmo; ele o faz na qualidade de candidato do Partido dos Trabalhadores, e a legenda, sim, foi a protagonista inegável dos escândalos. O PT defendeu, exaltou e segue exaltando como “guerreiros do povo brasileiro” aqueles que efetivamente foram acusados e condenados. Não há falsidade nem descontextualização alguma em lembrar o brasileiro de que é este partido que retornaria ao poder com Lula caso ele vença o segundo turno.

O que o TSE acaba de decidir é que até mesmo informações verdadeiras podem ser censuradas se guiarem o eleitor – este ser que não sabe raciocinar por conta própria, a julgar pelas palavras de Lewandowski – a tirar conclusões negativas a respeito de algo ou alguém. É como se um quebra-cabeça, ao se juntar as peças, resultasse em uma imagem final desagradável, e por isso devesse ter sua venda proibida ou ter os contornos de suas peças alterados para que não se encaixem mais umas nas outras e não permitam formar cena alguma. Se os tribunais superiores já haviam perdido completamente o senso de proporção no alegado combate às fake news, agora as news já não precisam nem ser fake para que sejam banidas. Tudo, claro, em nome da “democracia”…

ESPECIAL
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/tse-censura-brasil-paralelo-desordem-informacional/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.